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Fundamentos dos Estudos Linguísticos

Prof. Marcos Antonio Costa


2021.1

Estruturalismo
O legado de Ferdinand de Saussure
O Curso de linguística Geral é uma obra póstuma publicada
em 1916. Não se trata de um livro escrito por Ferdinand de
Saussure, mas, na verdade, uma obra editada após sua morte
por Charles Bally e Albert Sechehaye, com base em anotações
feitas ao longo de cursos oferecidos pelo linguista na
Universidade de Genebra entre os anos 1907, 1908-1909 e
1910-1911.

O Curso foi inicialmente publicado pela editora Payot de Paris


e trata-se de um marco inaugural da fase estruturalista dos
estudos da linguagem. Nele, Saussure traz as famosas
DICOTOMIAS e elege a língua (caracterizada como um
sistema de signos), em oposição à fala (parte individual da
linguagem), como objeto central da Linguística. Também
introduz os conceitos diacronia – estudo da história da língua –
e sincronia – estado da língua.

No início do século XX, a Linguística ainda não tinha


conquistado sua autonomia enquanto ciência. Os estudos da
linguagem eram tarefas de outras áreas do conhecimento,
como a lógica, a filosofia, a filologia, a retórica, entre outras.
Introdução
CAPÍTULO I
VISÃO GERAL DA HISTÓRIA DA
LINGUÍSTICA
A ciência que se constituiu em torno dos fatos da língua
passou por três fases sucessivas antes de reconhecer seu
verdadeiro e único objeto: Gramática, Filologia
e Gramática Comparada.

A Linguística indo-europeia, que teve


o mérito incontestável de abrir um campo novo
e fecundo, não chegou a constituir
a verdadeira ciência da Linguística. Jamais
se preocupou em determinar a natureza do
Ferdinand de Saussure
seu objeto de estudo. Ora, sem essa 1857 - 1913

operação elementar, uma ciência é incapaz de


estabelecer um método para si própria.
CAPÍTULO II
MATÉRIA E TAREFA DA LINGUÍSTICA

A tarefa da Linguística será:

a)fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder abranger, o que


quer dizer: fazer a história das famílias de línguas e reconstituir, na medida do
possível, as línguas-mães de cada família;

b)procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e universal, em


todas as línguas e deduzir as leis gerais às quais se possam referir todos os
fenômenos peculiares da história;

c) delimitar-se e definir-se a si própria.


CAPÍTULO III
OBJETO DE LINGUÍSTICA

➔ Qual é o objeto, ao mesmo tempo integral e concreto,


da Linguística?

• A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível


conceber um sem o outro.
• A cada instante, a linguagem implica ao mesmo tempo um
sistema
estabelecido e uma evolução.

Sempre encontramos o dilema: ou nos aplicamos a um lado apenas de


cada problema e nos arriscamos a não perceber as dualidades assinaladas
acima, ou, se estudarmos a linguagem sob vários aspectos ao mesmo tempo, o
objeto da Linguística nos aparecerá como um aglomerado confuso
de coisas heteróclitas, sem liame entre si. Quando se procede assim, abre-
se a porta a várias ciências: Psicologia, Antropologia, Gramática normativa,
Filologia etc., que separamos claramente da Linguística.
Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; o cavaleiro
de diferentes domínios, ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, ela
pertence além disso ao domínio individual e ao domínio social; não se deixa
classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir
sua unidade.

Há, segundo nos parece, uma solução para todas essas dificuldades: é
necessário colocar-se primeiramente no terreno da língua e tomá-
la como norma de todas as outras manifestações da linguagem. De fato,
entre tantas dualidades, somente a língua parece suscetível duma
definição autônoma e fornece um ponto de apoio satisfatório para o espírito.
Mas o que é a língua?

Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é somente uma


parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo
tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um
convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o
conjunto de
exercício dessa faculdade nos
indivíduos.

Para atribuir à língua o primeiro lugar no estudo da linguagem, pode-


se, enfim, fazer valer o argumento de que a faculdade - natural ou não
- de articular palavras não se exerce senão com ajuda
de instrumento criado e fornecido pela coletividade; não é,
então, ilusório dizer que é a língua que faz a unidade da
linguagem.
Linguagem ➔ Língua / Fala

Língua
Fala
➔ Parte social da
linguagem ➔ Ato individual
de utilização da
➔ Forma um
sistema
língua
➔ Depende da
➔ Sistema de
signos vontade do
indivíduo
➔ É
➔ Impulso
homogênea
expressivo
➔ Um tesouro
➔ É
depositado
pela prática heterogênea
da fala ➔ Ato subjetivo
É com Saussure que a LÍNGUA se torna
objeto da Linguística, outorgando-lhe
um caráter cientifico.

Centrando-me no papel de Saussure, ele mesmo um linguista


que se formou nos estudos históricos sobre a língua, interessa-me
ressaltar a ideia de totalidade atribuída à língua como objeto de
estudo da linguística. Essa totalidade sistêmica, como produto da
ordem atribuída aos fatos da língua, permitiu imaginar um
objeto autônomo e homogêneo, fato que foi determinante não
só para a existência da linguística como ciência no século XX, mas
também – no caso de alguns dos seguidores de Saussure – para a
sua presumida independência como disciplina científica.

CORRÊA, Manoel Luiz Gonçalves. Linguagem e comunicação social: visões da


linguística moderna. São Paulo: Parábola, 2002, p.24
➔ A língua é um sistema = um conjunto de unidades que
obedecem
a CERTOS PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO, constituindo um
coerente.
todo

É preciso observar mais detalhadamente


como esse sistema se estrutura ➔
estruturalismo.

O ESTRUTURALISMO,
portanto, compreende que a língua,
uma vez formada por elementos
coesos, inter- relacionados, que
funcionam a partir de um conjunto
de regras, constitui uma
organização, um sistema, uma
A língua é um sistema articulado, uma

estrutura em que, tal como no


xadrez, ovalor de jogo de cada peça
não mas é éinstituído
determinado por sua materialidade,
a partir das regras do jogo.

➔ A língua é forma (estrutura), e


não substância (a matéria a partir da qual
ela se manifesta) ➔ a substância não
determina de modo algum as regras do
jogo linguístico, que são independentes
do suporte físico – som, movimento
labial, gestos, etc. – em que se realizam.
É necessária, entretanto, a análise da
substância para que possamos Os alunos leram os textos
formular hipóteses acerca do sistema a
ela relacionado. Um sistema que não
apresenta qualquer manifestação
material, que não seja SUBSTÂNCIA
expresso por algum tipo de
substância, não desperta qualquer
interesse científico, uma vez que não
pode ser investigado.
SN +
SV
SISTEMA
artigo + nome verbo + SN
Estudo Imanente da Língua

A linguística tem por único


e
verdadeiro objeto a
língua

considerada em si mesma e por


mesma
si (parte final do Curso
de
Linguística Geral).

Ou seja ➔ toda preocupação extralinguística precisa


ser abandonada, uma vez que a estrutura da língua
deve ser descrita apenas a partir de suas relações
internas.
➔ Uma vez compreendido que a língua representa um
conjunto de elementos solidários, uma estrutura, cabe-nos
conhecer a natureza desses elementos.

➔ Saussure afirma que a língua é um


sistema de signos. O signo é, portanto,
a unidade constituinte do sistema linguístico.

O signo é formado, por sua vez, de duas


partes absolutamente inseparáveis, sendo
impossível conceber uma sem a outra, como
acontece com as duas faces de uma folha de
papel: um significante (imagem acústica) e um
significado (conceito).
O Signo para Saussure

De acordo com a proposta saussureana, a língua é uma realidade psíquica, um tesouro (sistema
gramatical) depositado virtualmente no cérebro de um conjunto de indivíduos pertencentes a uma
mesma comunidade linguística.

➔ Sendo assim, as faces que compõem o signo são ambas psíquicas.


O significante, portanto, não pode ser confundido com o som material, algo
puramente físico, mas dever ser identificado com a impressão psíquica desse som.
O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas
um conceito e uma imagem acústica. Esta não é o som
material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som, a
representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos, tal
imagem é sensorial e, se chegamos a chamá-la ‘material’ , é somente nesse
sentido, e por oposição ao outro termo da associação, o conceito,
geralmente mais abstrato.
O caráter psíquico de nossas imagens acústicas aparece claramente
quando observamos nossa própria linguagem. Sem movermos os lábios nem
a língua, podemos falar conosco ou recitar mentalmente um poema.
[...] O signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces,
que pode ser representada pela figura:
RB

._ 1 ·:\lfE :' IJ

Para Sa :s re, a aig D _ uís.ica é formado pe


·u r l i o do sen:ida e da imegem
acüs :ca"'.
o O u o · ut éf ;...· · 1 • d u ·· ···Li o ·,., o
concaito ír'aeia, é murna quesentevao
t:'S :)reo e rr enta l, e a que e
chsm e de irmegem a :/ .ica na.o e o sam mate · I,
e
pu ente . , m ;;; a mr- e : : . o . lquic:a
deSi. .• s
signif ic ad o

signo significante
A Arbitrariedade do Signo Linguístico

Afirmar que o signo linguístico é arbitrário significa reconhecer que não existe
uma relação necessária, natural, entre a sua imagem acústica (seu significante) e o
sentido a que ela nos remete (seu significado).

Isso significa dizer que o signo


linguístico não é motivado,
e sim cultural, convencional,
já que resulta do acordo
implícito realizado entre os
membros de uma determinada
comunidade. Trata-se,
portanto, de uma
convenção.
O ESTRUTURALISMO

SINCRONIA / DIACRONIA

➔ Respectivamente:

Um estado de língua;
Uma fase de evolução.
Século XIX ➔ Diacronia / Método Histórico-Comparativo

➔ O estudo diacrônico (através do tempo) busca estabelecer uma


comparação
entre dois momentos da evolução histórica de uma determinada língua.
Século XX ➔ Sincronia / Método Descritivo

➔ O estudo sincrônico de uma língua tem como finalidade a descrição de


um determinado estado da língua em um determinado momento no tempo.
Descrição Sincrônica

Diacronia
Relações Sintagmáticas e Relações
Paradigmáticas

Como ocorre a organização dos elementos constituintes da


estrutura linguística?

01) Devemos entender como sintagmáticas as relações entre dois ou mais termos que
estão presentes (antecedentes ou subsequentes) em um mesmo contexto sintático
(sintagmático) ➔ Quando combinamos duas ou mais unidades linguísticas,
estamos compondo sintagmas:

re-avaliar os bons livros comprei um novo computador

os textos a próxima avaliação de linguística


1
* Marcelo varanda na o leu livro

Marcelo leu o livro na varanda


02) Devemos entender como paradigmáticas as relações entre um termo que
está presente em um determinado contexto sintático com outros que estão ausentes,
mas que com o termo presente mantêm algum tipo de relação.

Livro O livro
Meu livro
Livreiro
Este livro
Livraria
Aquele
livro
eixo da s e l ao
(paradigma)

Joao é culpado
eixo da combinaao
(sintagma)
inocente.
!
O Paradigma se refere às possibilidades de escolhas
encontradas em uma dada língua, um
determinado sistema.
O sintagma, por sua vez, diz respeito ao caráter
linear, temporal, da produção sonora, e mesmo escrita.
O eixo paradigmático se refere, então, às relações
de
seleção entre os termos de um sistema
linguístico, enquanto que o eixo sintagmático se refere
às relações de combinação desses termos.
As Dicotomias de Ferdinand de
Saussure

➔Língua X Fala
➔Sincronia X Diacronia
➔Forma X Substância
➔ Significado X Significante
➔ Relações Sintagmáticas X Relações
Paradigmáticas
Leonard Bloomfield é considerado o
fundador da linguística estrutural norte-
americana. Nasceu em Chicago e se
formou como bacharel na Universidade de
Harvard no ano de 1906, recebendo o
doutorado na Universidade de Chicago em
1909. 1887-1949

O objetivo da teoria formulada por Bloomfield é a elaboração de


um sistema de conceitos aplicáveis à descrição sincrônica de
qualquer língua.
Frase..............................o aluno comprou um livro

Sintagmas............... .......o aluno / comprou um livro

Palavras..........................o / aluno / comprou / um / livro

Morfemas........................o / alun/o / compr/ou / um / livr/o

Fonemas.........................o / a/l/u/n/o / k/õ/p/r/o/u / ũ / l/i/v/r/o


Pressupostos do Distribucionalismo

a) cada língua apresenta uma estrutura específica;

b) essa estruturação é evidenciada a partir de três níveis - o fonológico,

o morfológico e o sintático - que constituem uma hierarquia, com

o fonológico na base e o sintático no topo;

c) cada nível é constituído por unidades do nível imediatamente inferior:

as construções são sequencias de palavras, as palavras sequencias

de morfemas e os morfemas sequencias de fonemas;


d) a descrição de uma língua deve começar pelas unidades mais

simples, prosseguindo, então, à descrição das unidades cada

vez mais complexas;

e) cada unidade é definida em função de sua posição estrutural –

de acordo com os elementos que a precedem e que a

seguem na construção;

f) na descrição, é necessária absoluta objetividade, o que


exclui o

estudo da semântica do escopo da linguística.


De acordo com a concepção da linguística distribucional,
para que possamos estudar uma língua, faz-se necessário:

a) a constituição de um corpus, isto é, a reunião de um conjunto, o mais


variado possível, de enunciados efetivamente emitidos por usuários de uma
determinada língua em uma determinada época;
b) a elaboração de um inventário, a partir desse corpus, que permita
determinar as unidades elementares em cada nível de
análise, assim como as classes que agrupam tais unidades;
c) a verificação das leis de combinação de elementos de diferentes classes;
d) a exclusão de qualquer indagação sobre o significado dos enunciados
que compõem o corpus.
A linguística tem por único e verdadeiro objeto

a língua considerada em si mesma e por si

mesma (parte final do Curso de Linguística

Geral).

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