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Fichamento

POSSENTI, Sírio. Teoria do discurso: um caso de ruptura. In: MUSSALIM, Fernanda.


Introdução à Línguística. [...]

Possenti inicia o seu texto falando sobre o processo de ruptura na busca de


conhecimento, ação que se faz na Ciência. Ele especifica que “ruptura significa
instaurar uma problemática nova”

A noção de acontecimento para Possenti -

“Em Papel da Memória, Pêcheux conceitua de fato o acontecimento discursivo e


o coloca como ruptura da memória que seria eternizada através do interdiscurso, da
estrutura vertical. O acontecimento discursivo nasce do choque da atualidade com a
memória que não produz repetição, mas sim re-significação. A tentativa da memória em
manter uma regularização das séries enunciativas, ou seja, em formar uma lei da série
do legível, uma lei que coloca um enunciado na fronteiro do outro e define a
possibilidade de sua prática, pode sempre ruir quando encara um acontecimento
discursivo[3” (FONTE https://colunastortas.com.br/acontecimento-discursivo/)

“Pode-se compreender que o acontecimento discursivo provoca uma nova


possibilidade para o enunciado produzir outros significados, entretanto, ele não apaga os
significados anteriores. Ele instaura uma relação tensa com a memória que tenta
adequá-lo na ordem da repetibilidade e com o discurso novo, que precisa re-significá-
lo[5]

[...] Rassi mostra como a frase infeliz do policial Michael Sanguinetti sobre os
casos de estupro na Universidade de Toronto, em janeiro de 2011, foi mote para a re-
significação da palavra “vadia”. Sanguinetti declarou que “as mulheres deveriam evitar
se vestir como vadias para não serem vítimas”, imputando a culpa pelo estupro às
próprias mulheres estupradas. Após isso, o termo “vadia” foi apropriado pelo
movimento feminista e utilizado em protestos, tendo como marco a Marcha das Vadias,
que teve sua primeira edição no dia 03 de abril de 2011, em Toronto.”
A Marcha das vadias não representa apenas um acontecimento
histórico, mas principalmente um acontecimento discursivo: o
nome “vadias” foi posto em cheque para conquistar um novo
significado, transformando-se assim numa palavra de ordem do
movimento feminista.[8] (CITAÇÃO DA AUTORA)

O segundo exemplo do acontecimento discursivo pode ser retirado do artigo de


Indursky: a análise do enunciado “Lula lá”, utilizado nas campanhas de Lula, mostra o
sentido de inatingibilidade exprimido pelo “lá”. Este “lá” é o local até então nunca
alcançado. Derrotado nas eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998, foi somente com
o acontecimento histórico de sua eleição em 2002 que o enunciado tomou outra
significação.

Os exemplos de Indursky e Rassi foram centrais para entender a ligação entre o


acontecimento histórico e o acontecimento discursivo. O primeiro é a chamada
produção do segundo, que não acontece sem o suporte material da realidade. Para
entender as mudanças discursivas e as rupturas na memória, é necessário o uso do
conceito de acontecimento discursivo que funciona como norte para identificar as
derivas possíveis de sentido num enunciado determinado ou numa série enunciativa.”

“Com essa concepção de acontecimento discursivo, Possenti tenta romper, por


um lado, com um modo de fazer história que procura em tudo um sentido ou que
procura pela reiteração do mesmo sentido e processos de sua produção e, por outro, com
a relação discursoenunciação como evento singular. Não se trata de pensar o novo,
enquanto instauração de uma singularidade, mas como afirma Michel Foucault “no
acontecimento da sua volta” (2002, p. 26).” (BARONAS)
“Entretanto, se mobilizarmos a primeira charge que analisamos, a noção
pecheutiana de acontecimento discursivo não dá conta de explicar, pois o que está sendo
rememorado não é da ordem de um acontecimento discursivo fundamental ou um pré-
construído como foi o “Grito do Ipiranga – Independência ou Morte” para os brasileiros
e sim da ordem de um saber discursivo, um já-dito: discursos que circulam no cotidiano
sobre pessoas que para alcançarem seus objetivos realizam pactos com o demônio e que
Alckmim e Lula no fundo são a mesma coisa, pois são governados pelo mercado. Trata-
se, na verdade, de saberes que o sujeito mobiliza que circulam no imaginário social
brasileiro, historicamente construídos e, não de um acontecimento discursivo
fundamental que é retomado. A proposta de Possenti (2009), pelo menos, nas duas
charges, brevemente analisadas, seja mais pertinente do que os postulados pecheutianos
para dar conta de objetos “menos nobres” e de temporalidades curtas. Antes de concluir
favoravelmente à pertinência desse deslocamento proposto por Possenti (2009) acerca
do acontecimento discursivo e das suas relações com a memória e o esquecimento,
cremos ser necessário verificar como os especialistas em comunicação visual, sobretudo
em humor gráfico, compreendem o seu trabalho.

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