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TEXTO E DISCURSO

P ROF . MARCOS A NTONIO


C OS TA
2022.2

O Funcionalismo
nos Estudos da
Linguagem
A VISÃO FUNCIONALISTA DA LINGUAGEM NO SÉCULO XX

Estruturalismo Americano ➔ Distribucionalismo (Leonard


Bloomfield)
Estruturalismo Europeu ➔ Círculo Linguístico de Praga
(Funcionalismo)

Forma / Função

Saussure deixou de fora dos estudos linguísticos os aspectos relacionados à


função, a partir do momento em que propôs a distinção entre langue e
parole, fazendo da primeira o objeto de estudo da linguística. Essa estratégia
teórica retirou do âmbito dos estudos linguísticos o interesse por possíveis
influências sofridas pela estrutura gramatical das línguas,
provenientes de aspectos pragmático-discursivos.
O que caracterizou as análises do Círculo
Linguístico de Praga foi a adoção de uma
concepção segundo a qual a língua deve
ser entendida como um sistema
funcional, no sentido de que é utilizada
para um determinado fim.

Funções da Linguagem
Roman Jakobson
Polo formalista - no qual a
análise dá ênfase à forma
linguística, ficando sua função
num plano secundário.

Polo funcionalista - no qual a


função que a forma linguística
desempenha no ato comunicativo
tem papel predominante.
FORMALISMO → Caracteriza-se, em termos gerais, pela tendência de
analisar a língua como um objeto autônomo, cuja estrutura independe de seu
uso em situações comunicativas reais. Nesse sentido, a língua é vista como um
sistema autônomo e seus estudos focalizarão, especialmente, a fonética,
fonologia, morfologia e sintaxe; isto é, priorizam-se as características internas
da língua, seus constituintes e as relações entre eles. Portanto, a língua é
observada nas relações entre suas partes e princípios que orientem sua
organização, gerando explicações que partem da própria estrutura.

FUNCIONALISMO ➔ Descreve a língua, principalmente, como um


instrumento de interação social e remete ao estudo do significado e do uso da
linguagem durante as interações comunicativas. Dessa forma, o estudo do
sistema linguístico está subordinado ao uso da língua, cuja forma se adapta
às funções que exerce. A estrutura linguística, portanto, é considerada
motivada pelo contexto, pela situação comunicativa.
Para os funcionalistas, a perspectiva formalista de descrever e explicar
as relações gramaticais independentemente das propriedades
semânticas ou pragmáticas apresenta-se muito pouco fecunda, uma vez
que a função de transmitir significado seria tão determinante, afetando
tão profundamente a gramática, que não faria sentido explicitar a
forma sem recorrer à sua função.
→ A língua desempenha funções que são externas ao sistema
linguístico em si.

→As funções externas influenciam a organização interna do


sistema linguístico.
→A FUNÇÃO INFLUENCIA A FORMA.
→A sintaxe é uma estrutura em constante mutação em
consequência das particularidades do discurso, ao qual se
molda.
Vinculação entre Discurso e Gramática → A sintaxe tem a
forma que tem em razão das estratégias de organização da
informação empregadas pelos falantes no momento da
interação discursiva.
Para um funcionalista, a lâmina do machado tem a forma que tem
porque está destinada à tarefa de cortar madeira: a lâmina em forma de
cunha secciona e separa as fibras de madeira. Um formalista, por outro
lado vai dizer que a função da lâmina do machado é que é determinada
por sua forma: é justamente por ter a forma de cunha que o machado
serve para cortar a madeira.
A abordagem funcionalista procura explicar as regularidades
observadas no uso interativo da língua analisando as condições discursivas
em que se verifica esse uso. Ao lado da descrição sintática, cabe investigar
as circunstâncias discursivas que envolvem as estruturas linguísticas, seus
contextos específicos de uso. Segundo a hipótese funcionalista, a estrutura
gramatical depende do uso que se faz da língua, ou seja, a estrutura é
motivada pela situação comunicativa.
Antes de tudo....
O papel da sintaxe no modelo da Teoria Gerativa.

SINTAXE: o Sistema Computacional da Linguagem Humana

➔ O componente da linguagem que


mais vem ocupando a atenção da
linguística gerativa nos últimos 50 anos.
➔ Componente central da cognição
linguística humana.
➔ Alimenta os sistemas fonológico e
semântico com representações
linguísticas.
➔ Fração de nossa cognição que lida
como sintagmas e frases.
➔ Descobrir como é a natureza da
sintaxe em nossas mentes é um dos
principais empreendimentos da
linguística gerativa.
O texto que é considerado o pioneiro Em 1979, Talmy Givón,
no desenvolvimento das ideias da influenciado pelas descobertas
escola funcionalista norte-americana de Sankoff, publica From
foi The origins of syntax in discourse: discourse to syntax: grammar as
a case study of Tok Pisin relatives, a processing strategy, texto
publicado por Gillian Sankoff e programático da linguística
Penelope Brown em 1976. Neste funcional, explicitamente anti
trabalho, as autoras fornecem gerativista, que afirma que a
evidências das motivações discursivas sintaxe existe para desempenhar
geradoras da sintaxe da oração uma certa função, e é esta
relativa do Tok Pisin, língua de origem função que determina a sua
pidgin de Papua-Nova Guiné, ilha ao maneira de ser.
Norte da Austrália.
1. What’s that? (dêitico).

O que é isso?

2. He said that: it’s beatiful! (catáfora).

Ele disse isso / assim: é bonito!

3. He said that it’s beatiful! (pronome relativo).

Ele disse que é bonito


O tok pisin é uma língua
crioula de base inglesa
utilizada por milhões de
pessoas na Papua Nova
Guiné. É uma língua
relativamente nova, em
pleno processo de
estruturação. No campo das
línguas crioulas, é uma das
mais bem documentadas,
especialmente em relação a
sua história e
desenvolvimento.
Iconicidade / Arbitrariedade

Estruturalismo
➔ O caráter arbitrário do signo: não existe relação natural
entre a “imagem acústica” do signo (o significante) e aquilo
que ele evoca conceptualmente (o significado)

Funcionalismo
➔ Iconicidade: correlação natural entre forma e função,
entre código linguístico (expressão) e seu conteúdo.
É com Bollinger (1977) que o
isomorfismo linguístico revela sua
face radical, quando postula que a
condição natural da língua é preservar
uma forma para um sentido e um
sentido para uma forma. Estudos sobre
os processos de variação e mudança
linguísticas, ao constatar a existência Dwight Bolinger
1907-1992
de duas ou mais formas alternativas de
dizer "a mesma coisa", levaram à
reformulação dessa versão forte.
Encontramos correlação entre uma forma e várias funções, ou entre uma
função e várias formas. O uso do sufixo –inho ilustra o primeiro caso.
Essa forma, que originalmente indica tamanho diminuto, como em
criancinha, desenvolveu-se para marcar afetividade, como em paizinho,
pejoratividade, como em gentinha, ou ainda um valor de superlativo,
como em devagarzinho.

Por outro lado, a função de impessoalização do agente da ação verbal


pode ser codificada, em português, por vários recursos: verbo na 3a
pessoa do plural (Construíram uma ponte na cidade), partícula se
apassivadora (Construiu-se uma ponte na cidade), voz passiva (Uma
ponte foi construída na cidade), pronome indefinido (Alguém construiu
uma ponte na cidade), pronome de 3a pessoa do plural sem referente
explícito (Eles construíram uma ponte na cidade), entre outros.
O Princípio de ICONICIDADE:
a correlação entre forma e função

Três Subprincípios

a) Subprincípio da quantidade: informação/ forma.

b) Subprincípio da ordenação linear: informação/


lugar na cadeia sintagmática.

c) Subprincípio da integração: conteúdos cognitivos/


integração na codificação.
Segundo o subprincípio da quantidade, quanto maior a
quantidade de informação (maior relevância), maior a quantidade
de forma, de tal modo que a estrutura de uma construção
gramatical indica a estrutura do conceito que ela expressa: aquilo
que é mais simples e esperado se expressa com o mecanismo
morfológico e gramatical menos complexo.

Os alunos de Linguística III do curso de Letras da UFRN


participaram do Congresso sobre Ferdinand de Saussure. Eles
aproveitaram o evento para resolver várias dúvidas ainda pendentes
sobre a obra do autor. Por isso mesmo, Ø expressaram o desejo de que
o Congresso novamente acontecesse nos próximos anos.
O subprincípio da integração prevê que os conteúdos que
estão mais próximos cognitivamente também estarão mais
integrados no nível da codificação – o que está mentalmente
junto, coloca-se sintaticamente junto.

➔ Ficou provado, sem sombra de dúvida, todas as ameaças.

➔ Nesse mesmo lugar teve início as discussões.

➔ Foi descartada, vez por todas, todas as esperanças de retorno

ao cargo ocupado.
1) A expectativa, assim, é que a agenda a ser desenvolvida sobre as perspectivas da
Linguística do século XXI, deixem de lado a ideia a polarização que tem
predominado já há muito.
2) Nos dois exemplos anteriores é notório a relação da estrutura da língua e do mundo.
3) É a partir disso, na Linguística do século XXI, com a entrada da segunda geração
experiencial, que vai ser trabalhado os processos cognitivos de forma integrada.
4) Sabe-se que para um estudo apropriado acerca de algo é necessário pesquisas e
opiniões divergentes ou a favor, contribuindo para a evolução do que está sendo
colocado em pauta.
5) Durante o século XX, houve diversos estudos acerca da linguagem que
revolucionaram a maneira de estudar a área e que contribuíram enormemente,
apesar de abandonado alguns aspectos, para a atual percepção desse estudo na
modernidade.
6) ... já que o primeiro movimento pautado pelas ideias de Chomsky acreditava que a
explicação para a semelhança entre as línguas advinham de algo relacionado ao
biológico.
7) Dessa maneira, esse conjunto de fatores trabalham juntos para que um sentido seja
entregue pelo interlocutor e se transforme em ação no mundo.
O subprincípio da ordenação linear diz que a informação
mais importante tende a ocupar o primeiro lugar da cadeia
sintática, de modo que a ordem dos elementos no enunciado
revela a sua ordem de importância para o falante.

➔ Pedro estudou o conteúdo de Linguística durante todo o dia;


➔ O conteúdo de Linguística, Pedro estudou durante todo o dia;
➔ Durante todo o dia, Pedro estudou o conteúdo de Linguística.
O PRINCÍPIO DE MARCAÇÃO
* Estruturas Marcadas e Não-Marcadas
* Três critérios de distinção
⚫ Complexidade Estrutural: a estrutura marcada tende a
ser mais complexa (ou maior) que a estrutura não-marcada
correspondente.

⚫ Distribuição de Frequência: a estrutura marcada tende a


ser menos frequente do que a estrutura não-marcada
correspondente.

⚫ Complexidade Cognitiva: a estrutura marcada tende a


ser cognitivamente mais complexa do que a estrutura não-
marcada correspondente. Incluem-se, aqui, fatores como
esforço mental, demanda de atenção e tempo de
processamento.
Os alunos leram os textos

Os alunos NÃO leram os textos

➔ Como afirmar algo é cognitivamente


mais simples e esperado, portanto mais
frequente na interação verbal, isto se
reflete também na estrutura linguística,
representando a forma não-marcada.

➔ A negação, ao contrário, por ser mais


complexa em termos cognitivos e
menos esperada, é também menos
frequente e estruturalmente maior (tem,
no mínimo, um morfema a mais que a
afirmativa), constituindo-se no caso marcado.
Os textos foram lidos pelos alunos

Os alunos leram os textos

 Estrutura (forma linguística)

Frequência de uso

 Cognição (esforço mental, demanda de

atenção e tempo de processamento)


Gramaticalização
Trata-se de um processo que manifesta o aspecto não-estático da
gramática, demonstrando que as línguas estão em constante mudança em
consequência da incessante criação de novas expressões e de novos arranjos
na ordenação vocabular. A compreensão é a de que, do ponto de vista de
sua evolução, a gramática está num contínuo fazer-se. É sob esse aspecto
que se deve a Hopper (1987) a noção de “gramática emergente”, no
sentido de que a gramática de uma língua natural nunca está completa.

Essa contínua regularidade ocorre quando as estratégias discursivas


empregadas pelo falante numa situação comunicativa perdem a
eventualidade criativa do discurso e passam a ser regidas por
restrições gramaticais (do discurso para a gramática).
De morfema de futuro a verbo
auxiliar

No caso da estrutura atual, “ir + infinitivo” já se verificam alterações


semânticas. O verbo “ir” como verbo pleno significa originalmente
“deslocar-se no espaço”. Na construção em análise, houve uma
extensão semântica de “movimento no espaço” para “movimento no
tempo” e o verbo “ir” passa a funcionar nessa construção como um
verbo meramente auxiliar de tempo futuro.

Vou fechar a porta / vou estudar / vou ir


Alguns outros casos
➔ a gramaticalização de gente (nome) > a gente (pronome).

➔ o nome mente (a mente humana) para o sufixo –mente


formador de advérbios (isso é humanamente impossível).

➔ Mal→ advérbio modal (ele falou mal de mim) → conjunção


temporal (Mal você saiu, ele chegou).

➔ Onde (espaço / tempo)

➔ Chomsky resgatou o pensamento dos filósofos do século XVII,


onde a linguagem deveria ser tratada como uma ordem cerebral,
mental.
1. Veja isso! (dêitico).

2.Eu não sei matemática: isso vai me atrapalhar no

exame. (anáfora).

3. Caiu, por isso se machucou (conjunção conclusiva)


De acordo com Givón, a linguagem humana teria evoluído do modo
pragmático para o sintático e, por isso mesmo, a sintaxe teria origem
a partir do discurso. O modo pragmático de comunicação humana seria,
ontogenética e filogeneticamente, anterior ao modo sintático.

Talmy Givón: 22 de junho de 1936 /


PIDGINS E
CRIOULOS
PIDGIN

Nenhuma ordenação “gramatical” consistente pode ser


mostrada em um pidgin, e pouco ou nenhum uso de morfologia
gramatical. A taxa de articulação é dolorosamente lenta e vacilante, com
muitas pausas. As cláusulas verbais são pequenas, normalmente exibindo
uma proporção de um-para-um de substantivos para verbos.
Enquanto a estrutura sujeito-predicado é virtualmente indeterminada, a
estrutura tópico-comentário é transparente. Virtualmente não se pode
encontrar subordinação sintática, e as cláusulas verbais são frouxamente
concatenadas, geralmente separadas por pausas consideráveis. Em outras
palavras, a fala pidgin exibe quase um caso extremo do modo
pragmático de comunicação.
CRIOULO

Em contraste, o crioulo apresenta um modo sintático muito parecido


com o das línguas “normais”, com todas as características descritas
acima para esse modo de comunicação. A quantidade de variação na
fala crioula é muito menor do que no pidgin e ela possui o leque total
de sinais gramaticais usados na sintaxe das línguas naturais, tais como
ordenação rígida, morfologia gramatical, entonação, encaixamento e
várias restrições. Nessa perspectiva, entende-se que é a partir do
pidgin – representando, essencialmente, o modo pragmático de
comunicação – que o crioulo, por sua vez, desenvolve as
características do modo sintático.
O crioulo cabo-verdiano ou língua cabo-verdiana é uma língua
originária do Arquipélago de Cabo Verde. É uma língua crioula,
de base lexical portuguesa. É a língua materna de quase todos os
cabo-verdianos, e é ainda usada como segunda língua por
descendentes de cabo-verdianos em outras partes do mundo.
Modo Pragmático / Modo Sintático
Parece bastante claro que o modo pragmático de comunicação humana é
ontogenética e filogeneticamente anterior e, em termos de comprovação
translinguística, mais universal do que o modo sintático. No nível sintático,
as línguas tendem a divergir enormemente. No nível pragmático, elas
tendem a ser surpreendentemente semelhantes.
A sintaxe existe, então? Sim e não. Existe como um modo de
comunicação linguística e tem propriedades estruturais altamente
específicas. Por outro lado, a sintaxe não pode ser entendida nem
explicada sem referência tanto à sua evolução a partir do discurso, quanto
aos parâmetros e princípios comunicativos que governam seu surgimento
a partir do modo pragmático e seu uso seletivo ao longo da escala de
registro da comunicação humana.

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