Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 4
2
6.1 A vertente foucaultiana ............................................................... 20
8.2.1 Enunciativo................................................................................... 33
8.2.3 Narrativo....................................................................................... 34
3
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
4
2 INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS TEÓRICOS DA ANÁLISE DO DISCURSO:
ORIGEM E NOÇÕES PRELIMINARES. A CONSTITUIÇÃO DA ANÁLISE DO
DISCURSO
6
de 1960, na França. No entanto, como é próprio da teoria a pluralidade de objetos,
hoje é possível encontrar análises de diferentes materialidades e gêneros textuais,
de notícias a slogans publicitários, passando por filmes, imagens, músicas...
7
Do mesmo modo, o discurso poderá ser conceituado de maneiras
diferentes, a depender do autor estudado. Veja os seguintes exemplos:
3 DISCURSO E IDEOLOGIA
8
Chauí (2004) explica essa visão invertida da realidade a partir da divisão do
trabalho entre manual e intelectual: essa divisão é responsável pela manutenção
dos indivíduos nos lugares que ocupam socialmente. Assim, é trazida a noção de
alienação: uma vez que as pessoas não se percebem como produtoras da
sociedade, as configurações sociais são percebidas como prontas, estabilizadas,
dadas de antemão – e não construídas.
9
3.2.1 Aparelhos Ideológicos de Estado: a manutenção da Ideologia
10
Figura 01 - Esquema
O que Pêcheux propôs é que essa sequência verbal emitida por A para B
seja chamada de discurso. Mas essa proposta não é apenas uma substituição dos
termos, mas também dos conceitos. Para Pêcheux, esse discurso é um efeito de
sentidos entre lugares sociais determinados pela estrutura social. E esse efeito de
sentidos não está isento da Ideologia, que vai garantir que algumas palavras tenham
um sentido “evidente” a depender do lugar social de que se fala.
Você pode pensar, por exemplo, na palavra “protesto”. Será que o sentido
que ela mobiliza é o mesmo para todos os sujeitos que a utilizam? Será que ela tem
o mesmo sentido para o policial que está contendo o protesto, para as pessoas que
estão organizando o protesto, para o jornalista que está noticiando o protesto?
Você percebe como a Ideologia, do modo como foi proposta por Marx, na
Análise do Discurso, vai repercutir na leitura do texto? Assim, quando você se
depara com um texto, além de suas características sintáticas e enunciativas, você
está frente a uma materialidade que veicula um discurso. Esse discurso, por sua
vez, está determinado pela Ideologia, sem a qual não seria possível produzir
sentido.
Desse modo, você pode assumir que tudo que você lê, escreve, interpreta,
pensa e enuncia está inserido numa formação ideológica. Essa formação
ideológica, segundo Haroche, Pêcheux e Henry (2007, p. 26), é “um conjunto
complexo de atitudes e de representações que não são nem ‘individuais’ e nem
‘universais’, mas que se relacionam mais ou menos diretamente a posições de
classes em conflito umas em relação às outras”. Isso quer dizer que o sujeito não é
11
autônomo nem original diante da Ideologia; por outro lado, a Ideologia não é uma
entidade homogênea que se repete da mesma forma em todos os lugares.
A principal dificuldade no estudo da Ideologia é que, ao contrário de
algumas noções que podem ser observadas de fora, é impossível para o sujeito se
situar externamente à Ideologia. Você pode pensar na Ideologia como um tracejado
que cerceia as nossas ações no mundo: quando pensamos sobre Ideologia, já
estamos interpelados por ela. Reconhecer a Ideologia não nos isenta de seus
efeitos.
4 GÊNEROS DO DISCURSO
12
pensar a história da sociedade em paralelo à história da linguagem. Os gêneros do
discurso são um reflexo das mudanças na vida social.
13
Todo enunciado é individual, e por isso pode refletir a individualidade
do falante. No entanto, nem todo gênero permitirá que essa
individualidade se marque da mesma forma. Bakhtin afirma que os
gêneros dos discursos que menos propiciam o reflexo da
individualidade são aqueles que requerem uma forma padronizada,
como os documentos oficiais, por exemplo.
14
vai determinar tanto a composição quanto o estilo do enunciado.
Bakhtin destaca que cada gênero do discurso tem a sua concepção
típica de destinatário, que o determina como gênero. Espera-se
sempre do destinatário uma ativa compreensão responsiva, ou seja,
que ele não apenas compreenda, mas que responda ao enunciado
com outros enunciados.
15
do discurso (numa relação de compreensão responsiva) que converte a oração em
um enunciado pleno.
Para o autor, “só o contato da língua com a realidade, o qual se dá no
enunciado, gera a centelha da expressão: esta não existe nem no sistema da língua
nem na realidade objetiva existente fora de nós” (BAKHTIN, 2010, p. 292). Ou seja,
também na teoria bakhtiniana, as palavras não têm um valor por si mesmas, mas o
adquirem quando mobilizadas por um enunciado, e este está sempre ligado a um
certo gênero do discurso.
16
como sujeito do seu discurso. É por essas peculiaridades que Benveniste afirma
que a condição do homem na linguagem é única, sem paralelo.
17
discurso é visto como uma luta, uma batalha, e não como um reflexo ou expressão
de algo.
E como o sujeito se relaciona com ele? A constituição dos sujeitos se dá
justamente nesses jogos constantes entre o desejo de “ter” a verdade e o poder de
afirmá-la (FISCHER, 2013).
Pense, por exemplo, no enunciado “É preciso escovar os dentes após cada
refeição”. Você pode escutar isso de um dentista e dificilmente vai contestá-lo,
afinal, a profissão dele confere ao seu discurso a legitimidade sobre alguns
discursos, reproduzidos e aceitos como verdades. Mas e se esse mesmo enunciado
vier de um paciente diagnosticado com Transtorno Obsessivo Compulsivo, que
escova os dentes quinze vezes por dia? E se vier de um representante de uma
marca de produtos para higiene bucal?
É a isso que Foucault se refere quando afirma que o sujeito, em sua teoria,
não é uma pessoa, mas uma posição que alguém assume diante de um certo
discurso. E discurso, aqui, diz respeito ao conjunto de enunciados de determinado
campo de saber (FISCHER, 2013). Falar de sujeito do discurso significa multiplicar
o sujeito, pensá-lo em suas possibilidades.
Fischer (2013, p. 133) apresenta as seguintes perguntas para complexificar
o tema do sujeito numa concepção foucaultiana:
“Quem fala neste texto? E de que lugar fala? De que autoridade se investe
alguém para falar aqui e não em outro espaço? Quem pode falar sobre isto? Quais
as regras segundo as quais a alguém é permitido afirmar isto ou aquilo, neste ou
naquele lugar?”
E como essas posições não são fixas, o sujeito não deve ser pensado como
unidade, mas, sim, como dispersão. O sujeito não ocupará sempre a mesma
posição frente ao mesmo discurso, e, para demonstrar isso, Fischer (2013) dá o
exemplo da sala de aula. Em sala de aula, se assume que o professor ocupe o lugar
de quem decide, de quem explica, de quem define, mas sua posição está sempre
correndo o risco de ser desestabilizada pelo aluno, que pode contestá- -lo ou
desacreditá-lo.
18
5.2.2 Sujeito e discurso para Pêcheux
19
A desidentificação acontece quando o sujeito se desloca de uma
Formação Discursiva a outra, deixando de se identificar com os
saberes da antiga para se identificar com os da nova.
20
Isso tem a ver com a noção de discurso proposta por Foucault. Para o autor,
os objetos seriam construídos sistematicamente pelos discursos que se fazem a
respeito deles. É por isso que os discursos são tomados como monumentos,
construídos pela história. A leitura arqueológica desses elementos consiste na
delimitação das regras de formação dos objetos, das modalidades enunciativas, dos
conceitos, dos termos e das teorias. O objetivo dessa delimitação é estabelecer o
tipo de positividade que caracteriza esses elementos (FERREIRA; TRAVERSINI,
2013).
Nesse sentido, a análise de discurso pela vertente foucaultiana poderia ser
resumida como uma análise de como o poder se exerce nos discursos e pelos
discursos, através de uma mecânica que controla a produção desses discursos, que
restringe sua circulação e que institui as disciplinas que os veiculam (PERUCCHI,
2008). Deve buscar as regularidades que existem por trás da dispersão dos
elementos, identificando nessas regularidades o resultado do processo da formação
discursiva (GIACOMONI; VARGAS, 2010).
21
Desse modo, a análise elaborada dentro dessa vertente deve ultrapassar a
superfície linguística e remeter os enunciados às suas condições de produção. Uma
noção importante para a análise é a de formação discursiva. Ela explica como as
palavras e expressões, que não têm um sentido em si, a priori, criam sentido e
podem significar diferentemente, a depender da formação discursiva na qual o
sujeito está inscrito. Considerando um sujeito interpelado pela ideologia, as noções
de intenção e de controle do sentido são refutadas, pois não cabe ao sujeito
escolher o que vai dizer – seu dizer já é determinado pela sua inscrição numa
formação discursiva. Além disso, a vertente pecheutiana de análise do discurso
também convoca saberes do campo da psicanálise, trazendo o papel do
inconsciente para a constituição do sujeito, o que reforça a inexistência de um
controle consciente e voluntário do discurso.
22
análise do corpus. Ela não procura o sentido real por trás do texto nem um projeto
de verdade, mas, sim, elucidar como certos sentidos foram estruturados na relação
entre ideologia, linguística e inconsciente.
23
se a rede de práticas constitui um problema, identifica-se possíveis maneiras para
superar os obstáculos e se reflete criticamente sobre a análise.
Também na Análise Crítica do Discurso a ideologia é uma questão
relevante, principalmente quando pensada em relação às hegemonias presentes na
prática social (OLIVEIRA; CARVALHO, 2013). A ideologia, na perspectiva de
Fairclough, aparece como plural, como significações/construções da sociedade que
contribuem para a produção, a reprodução ou a transformação das relações de
dominação (FAIRCLOUGH, 2008 apud OLIVEIRA; CARVALHO, 2013).
Considerando as ideologias imbricadas com as práticas discursivas, é levantada a
questão do perigo da naturalização do discurso: ela levaria as pessoas a
reproduzirem ideologias que são nocivas para elas mesmas ou para outras
pessoas. Uma vez naturalizado, o discurso atinge o status de senso comum, o que
estabiliza os sentidos e cerceia os questionamentos.
24
Discurso, é constituído pelas práticas sociais ao mesmo tempo que
as constitui.
O exemplo de análise dentro da vertente pecheutiana que você vai ver foi
desenvolvido por Indursky (1995), no artigo A construção metafórica do povo
brasileiro. Ao analisar o item lexical povo no funcionamento do discurso presidencial
da República Militar Brasileira (1964-1984), a autora mobiliza principalmente as
noções de efeito de sentido, efeito metafórico e transparência de sentido. No recorte
apresentado aqui, você vai ver como o efeito de sentido de povo pode variar nas
diferentes sequências discursivas.
“As análises mostraram-me que em lugar de um sentido único e estável,
havia cinco diferentes efeitos de sentido – que chamo de níveis referenciais – dos
quais decorre a referência de povo nesse discurso.” (INDURSKY, 1995, p. 147). A
autora designa esses diferentes níveis referenciais como POVO1, POVO2, POVO3
e POVO4, conforme o seguinte quadro:
25
Quadro 01 – NÍVEIS DE REFERENCIAS
O exemplo de análise dentro da vertente foucaultiana que você vai ver foi
desenvolvido por Mauricio dos Santos Ferreira e Clarice Salete Traversini no artigo
A Análise Foucaultiana do Discurso como Ferramenta Metodológica de Pesquisa.
Ao analisar um dos cadernos de empregos de um jornal, os autores mobilizam
26
principalmente a noção de procedimentos de subjetivação e interdição discursiva,
considerando como os objetos são construídos pelo próprio discurso.
27
Os autores salientam da análise a pertinência de estratégias midiáticas e
digitais como maquinarias de subjetivação, encontrando na análise desses objetos
indícios da construção de um perfil profissional, na ordem discursiva
contemporânea, baseado na flexibilidade. A análise é demonstrativa da perspectiva
foucaultiana de discurso enquanto construtor dos objetos de que fala e ferramenta
de poder a que nem todos têm acesso.
A análise que você vai ver como exemplo de análise crítica foi apresentada
pelo próprio Fairclough (2012), no artigo Análise crítica do discurso como método
em pesquisa social científica. Abordando a temática das representações de
mudança na economia global, o autor propõe uma análise que obedeça às etapas
preestabelecidas da Análise Crítica do Discurso. O material selecionado para
análise é o texto Prefácio, escrito pelo primeiro-ministro britânico Tony Blair, em
1998, para o Ministério do Comércio e Indústria, sobre competitividade do
Departamento de Indústria e Comércio.
A análise apresentada por Fairclough é representativa do tipo de análise
feita por essa vertente porque se refere frequentemente aos problemas sociais,
valendo-se de outros textos, além daquele que está em análise, e mobilizando
conhecimentos da ordem social que não necessariamente estejam expressos nos
textos analisados.
28
Quadro 02 – Etapas e Análise
29
Fonte: SAGAH (2020).
30
discurso seria “o conjunto dos procedimentos de colocação em cena do ato de
comunicação, que correspondem a algumas finalidades (descrever, narrar,
argumentar…)”.
Assim, o estudo dos modos de organização dos discursos deve distinguir
as operações linguageiras postas em funcionamento em cada um dos níveis de
competência:
31
Figura 03 - O Ato de Linguagem e seus Sujeitos (reprodução).
Circuito interno
TUd: sujeito fabricado pelo EU comunicante (EUc), é visto como um
destinatário ideal, adequado ao seu ato de enunciação; concretizado
pelo TUi, que nem sempre corresponde à idealização.
EUe: imagem do enunciador criada pelo sujeito produtor da fala,
subentendido na sua intencionalidade como produtor.
32
Desse modo, você pode pensar que, para Charaudeau, o ato de linguagem
inclui como protagonistas sempre protagonistas reais e imaginários, a partir dos
quais o autor compreende a situação de comunicação.
8.2.1 Enunciativo
33
Comportamento delocutivo: apaga o locutor e caracteriza-se por
ser impessoal.
8.2.2 Descritivo
8.2.3 Narrativo
34
8.2.4 Argumentativo
35
8.3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
36
FOUCAULT, M. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France,
pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 11. ed. São Paulo: Edições Loyola,
2004.
37
PÊCHEUX, M. Análise automática do discurso (AAD-69). Tradução de Eni
Pulcinelli Orlandi. In: GADET, F.; HAK, T. (Orgs.). Por uma análise automática do
discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 4. ed. Campinas: Editora da
Unicamp, 2010.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. 28. ed. São Paulo: Cultrix, 2012.
38
SILVA, J. O. Charaudeau. In: OLIVEIRA, L. A. (org.). Estudos do discurso:
perspectivas teóricas. São Paulo: Parábola Editorial, 2013. p. 235-260
39