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(http://compulsivacronica.blogspot.com/2008/01/missa-da-sexta-feira.

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Estudando no colégio toda primeira sexta-feira do mês éramos levadas em bandos por uma irmã até a capela
do colégio para assistir a uma missa. Devíamos todas confessar e comungar, disso dependia a salvação de
nossas pobres almas católicas, e portando deveríamos ir para o colégio em jejum.
A missa era mais comprida que as demais, pelo que me lembro, e ficávamos mais de uma hora e meia num
senta-levanta-ajoelha e cantando hinos, recitando ladainhas, com o estômago rangendo e esfregando nas
costelas de tanta fome.
A certa altura já ansiávamos por botar alguma coisa na boca, nem que fosse uma hóstia, transubstanciada no
corpo de Cristo. Qualquer coisa servia, e já que estávamos ali pra isso mesmo...
Pois que nessa manhã em particular já nos preparávamos para nos enfileirarmos, contritas e de cabeça baixa
rumo ao altar para aplacar um pouco a fome de nosso corpo e de nossa alma (segundo as irmãs) com a hóstia
duplamente bendita, quando a Elisa foi escorregando, escorregando e estatelou-se no chão. Caiu como um
saco de batatas, com um estrondo que ecoou na capela silenciosa.
Um momento de paralisia e terror e logo duas freiras correram a acudi-la, mas qual, ela nem se mexia. Aquilo
era novidade e nos entreolhamos por entre as rendas dos véus, mas logo uma freira nos fez sinal que nos
apressássemos a entrar na fila da comunhão e cuidássemos de nossa alma, deixando que elas se
encarregassem do corpo da colega que literalmente jazia no chão frio de piso encerado.
Como sempre acontecia em ocasiões como essa a Elisa foi levada para casa pelos pais e nós ficamos ardendo
de curiosidade à espera de notícias. Que vieram apenas dois dias depois, quando ela finalmente foi liberada
para voltar às aulas.
O tombo sensacional ocorrera porque ela estava em jejum, desmaiara de fome. Mas isso não tirou para nós o
brilho da ocasião. Em nossos momentos de folga imitávamos o tombo colossal. Em casa eu tentava cair
durinha como ela, mas infelizmente nunca consegui dominar perfeitamente essa arte de cair como um pedaço
de pau estatelando-me no chão.
Algumas colegas aperfeiçoaram essa arte e seguiram praticando-a, com mais ou menos talento teatral, ora
momentos antes de provas para as quais não haviam estudado, ora em situações delicadas ou difíceis. Seja
como for, dali pra frente nossa classe ganhou um colorido especial com as alunas especializadas nessa fina
maneira de "sair de cena", para desespero das freiras e gáudio das colegas presentes, que só não aplaudiam
para não avacalhar com a performance.
Tudo seguia assim sempre igual, vez por outra com uma de nossas talentosas aspirantes a atrizes
esborrachando-se no chão, quando nossa querida diretora veio certa manhã substituir uma professora
durante uma prova. Poucos minutos antes de iniciar-se o pavoroso evento ouvimos um ruidoso baque e vimos
nossa colega Tânia esborrachar-se no piso, como vez por outra vinha acontecendo.
A freira aproximou-se dela que jazia, imóvel. Nem um músculo se mexia, quase não respirava. A freira a
cutucou com o pé, abaixou-se e tomou-lhe o pulso e depois, dirigindo-se a uma das semi-internas, pediu em
alto e bom som:
- Corra até a lavanderia e peça à irmã Teresa uma brasa. Quando a pessoa desmaia não há nada melhor do
que encostar-lhe uma brasa ao umbigo para que acorde.
Ficou provado que a medicação era de fato eficiente, pois não houve nem necessidade de sua aplicação,
bastando apenas mencioná-la que a aluna voltou a si imediatamente. O remédio foi de fato tão eficiente que a
cura foi completa e total, espantosa mesmo. Nunca mais ninguém sofreu desmaios em nossa classe.
Faça um resumo da história, contando-a com suas próprias palavras:
Marque falso (F) ou verdadeiro (V) de acordo com o texto que acabou de ler:
A história passa-se em um colégio católico. ( )
O acidente durante a missa de sexta-feira inspirou as alunas que queriam escapar das suas
responsabilidades. ( )
Ninguém suspeitou das causas da misteriosa doença. ( )
Algumas alunas conseguiam melhor do que outras ao simular um desmaio. ( )
O primeiro desmaio foi ocasionado porque a aluna estava doente. ( )
As outras alunas presentes continuaram o que estavam a fazer após o desmaio da colega na igreja. ( )
Os desmaios eram simulados em momentos que não eram importantes para as alunas. ( )
Uma freira desconfiou dos desmaios e pôs fim a eles simulando um tratamento ( )
Fazer corresponder as palavras em destaque com as definições ou sinónimos seguintes:
Tocar com algo – tempo livre - esmagar – atirar-se ao chão- apaziguar – rebaixar -pôr
Marque falso (F) ou verdadeiro (V) de acordo com o texto que acabou de ler:
1. A história se passa em um colégio católico. ( )
2. O acidente durante a missa de sexta-feira inspirou as alunas que queriam escapar de suas responsabilidades.
( )
3. Ninguém suspeitou das causas da misteriosa doença. ( )
4. Algumas alunas saiam-se melhor que outras ao simular um desmaio. ( )
5. O primeiro desmaio foi ocasionado porque a aluna estava doente. ( )
6. As outras alunas presentes continuaram o que estavam fazendo após o desmaio da colega na igreja. ( )
7. Os desmaios eram simulados em momentos que não eram importantes para as alunas. ( )
8. Uma freira desconfiou dos desmaios e pôs fim a eles simulando um tratamento ( )
Responda as perguntas sobre o texto:
1. Por que as alunas tinham que ir para o colégio em jejum na primeira sexta-feira do mês?
2. De acordo com a descrição, a missa dessa sexta-feira era apreciada pela autora do texto? Justifique
3. O terceiro parágrafo é desrespeitoso em sua opinião? Por quê?
4. O que aconteceu de diferente nessa missa em particular?
5. As alunas puderam ver o que acontecia com a colega desmaiada? Por quê (não)?
6. Enquanto as alunas iam comungar – cuidando de suas almas – de que se encarregavam as freiras?
7. Qual foi a causa do desmaio?
8. As alunas gostaram do que ocorreu? O que a autora sugere quando diz “mas isto não tirou o brilho da ocasião”?
9. O que as alunas começaram a fazer depois desse dia? Quando o faziam?
10. Por que você acha que as alunas começaram a simular desmaios? Você acha que era uma boa ideia? Por quê?
11. As outras alunas gostavam quando isso ocorria? Cite um trecho do texto para justificar sua resposta.
12. O que aconteceu no dia em que a diretora substituía uma professora durante uma prova?
13. A diretora tomou alguma providência para certificar-se da veracidade do desmaio? Qual?
14. Como a diretora lidou com a situação?
15. Qual foi o resultado da ideia da diretora?
16. Você acha que a diretora foi esperta? Por quê?
17. De acordo com a autora do texto, a medicação foi eficiente porque “ não houve nem necessidade de sua
aplicação, bastando apenas mencioná-la que a aluna voltou a si imediatamente ”. Você acha que a medicação era
boa mesmo? Por quê? Qual era a medicação?
18. Você acha que a medicação recomendada pela freira surtiria efeito em qualquer caso de desmaio? Por que a
autora julga o remédio eficiente? Você concorda com ela? Por quê?
Numere as definições das palavras usadas no texto de acordo com seu significado:
(1) avacalhar referir-se a.
(2) colossal atuação, desempenho.
(3) contrita júbilo, alegria.
(4) estatelar-se de dimensões extraordinárias.
(5) gáudio convertido ou transformado em outra substância.
(6) mencionar mortificado, arrependido, triste.
(7) performance desmoralizar.
(8) transubstanciada cair estendido no solo por efeito de queda.
Marque com um (x) as expressões que julgar irônicas:
1) ...salvação de nossas pobres almas católicas... ( )
2) ...ficávamos mais de uma hora e meia num senta-levanta-ajoelha... ( )
3) ...a hóstia duplamente bendita... ( )
4) ...nos entreolhamos por entre as rendas dos véus... ( )
5) ...caiu como um saco de batatas... ( )
6) ...deixando que elas se encarregassem do corpo de nossa colega... ( )
7) ...mas isso não tirou para nós o brilho da ocasião... ( )
8) ...que só não aplaudiam para não avacalhar com a performance... ( )
9) ...quando nossa querida diretora veio certa manhã... ( )
10) ...o remédio foi tão eficiente que a cura foi completa e total... ( )

Expressão escrita: Viver na sociedade supõe seguir uma série de normas que às vezes contornamos com
fingimentos como o da história. Na nossa sociedade em que a liberdade de expressão é muito importante
seguimos utilizando esses processos de fingir e ironizar situações ou já não é preciso?

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