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COPYRIGHT © 2023 VITÓRIA MENDES

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É proibida a reprodução total ou parcial desta obra de qualquer forma ou em
quaisquer meios de comunicação sem a autorização da autora. A violação
aos direitos autorais é crime disposto na Lei 9.610/98 e punido pelo art.
184 do Código Penal.
Esta obra é fictícia. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com a realidade é
mera coincidência.

CAPA: Hórus Editorial (@horuseditorial)


REVISÃO: Camille Gomes (@k.millereditorial) | Stephany Cardozo
Gomes (@sterevisa)
LEITURA CRÍTICA: Ana Ferreira (@ferreirareads)
ILUSTRAÇÕES: Tacyla Priscila (@tacylapriscila)
Sumário
Sinopse
Notas e Avisos
Playlist
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Epílogo
Agradecimentos
Até mais...
CHEFE X ASSISTENTE – SLOW BURN – SÓ UMA CAMA –
ELE SE APAIXONA PRIMEIRO

E se o sapatinho de cristal da Cinderela se tornasse uma pulseira?


Há quatro anos, Hunter era apenas um universitário com um futuro
brilhante no basquete, que ajudava uma garota que passava mal durante
uma festa. Mesmo ela indo embora sem se despedir no outro dia, ele nunca
a esqueceu, e no momento em que finalmente a reencontra, não vê qualquer
outra alternativa a não ser contratá-la como sua assistente.
Georgia jamais imaginou que após quatro anos lutando para
conseguir seu diploma em Administração, iria acabar se tornando a
assistente pessoal de um atleta renomado da maior liga de basquete do
mundo, mas é isso que acontece, e ela coloca a culpa na noite em que
perdeu a sua pulseira da sorte, pois desde então, sua vida começou a dar
errado.
Em meio à convivência de chefe e assistente, o mundo explosivo da
NBA é pequeno para todas as coincidências que o destino aprontou com
eles ao longo dos anos, e com a química existente entre eles, fica cada dia
mais difícil conseguir resistir ao desejo que um tem pelo outro.
O que Georgia não desconfia, é que seu amuleto da sorte agora
pertence a Hunter, seu mais novo chefe, que nunca a esqueceu.
Até quando Hunter esconderá de Georgia que a conhece e que nunca
esqueceu a noite em que cuidou dela?
Olá, tudo bem? Como de costume, peço que não pule as notas, por
favorzinho!
Primeiramente gostaria de te agradecer por entre tantos livros acabar
escolhendo ler Estrelas Alinhadas, pois se você já é meu leitor vai estranhar
o fato de que aqui não tem depressão nem coisas para baixo (riso de
desespero aqui). E se esse é o seu primeiro contato com minha escrita, seja
muito bem-vindo.
Estrelas Alinhadas surgiu durante uma madrugada onde eu não sabia
o que fazer com meu próximo lançamento, visto que ele é um dramalhão,
assim como os outros livros, e acabei rindo e me divertindo com o romance
de Georgia e Hunter, então sim, você está prestes a embarcar em uma
comédia romântica, onde tem uma mocinha desastrada que se considera
azarada, e uma estrela do basquete que se considera o cara mais sortudo do
mundo.
E eu posso provar que se trata de um Comfort book, quando assumo
que o maior gatilho do mundo é Hunter Blakely ser um homem fictício,
porém, não custa nada sonhar e pensar que ele realmente existe, não é
mesmo?!
Brincadeiras à parte, te juro que aqui vocês não precisaram dar o
meu nome aos terapeutas de vocês (mas quem sabe no próximo lançamento
sim, em), então segue a lista da gatilhos, que são eles: agressão física,
menção ao uso de drogas ilícitas, consumo de bebidas alcóolicas, cenas de
sexo explicitas, uso de palavras de baixo calão. Mesmo não tendo algo de
procedência grave, esse livro ainda é recomendado para maiores de dezoito
anos.
No mais é isso, caso queira conversar sobre a leitura a minha dm e o
grupo de leitores está aberto para que você possar surtar à vontade.
Desejo uma boa leitura.
Com amor, Vit <3
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Para você que acha que é azarado o suficiente e nasceu com o cu
virado para o sol. Um dia ele irá virar para a lua.
Olhe para as estrelas
Olhe como elas brilham para você
E para tudo o que você faz

YELLOW | COLDPLAY
Ela se curva à minha frente, com a sua cabeça na mesma altura do
meu pau, e no momento em que ela abre a boca, sinto meu estômago
embrulhar.
O cheiro de vômito é forte, e por sorte, tudo o que ela coloca para
fora é líquido.
— Você está bem? — decido perguntar, ao me curvar e colocar o
seu cabelo para trás, a fim de não sujá-lo.
A garota tenta falar, porém ela embola todas as palavras, e eu não
consigo entender nada. Segurando os cachos castanhos, desvio meu corpo
da sua frente, deixando que ela vomite outra vez. Não é novidade alguma eu
ajudar alguém que passou do ponto na bebida, mas nunca aconteceu desse
alguém parar na minha frente e vomitar aos meus pés.
Eu poderia vomitar junto com ela, entretanto preferi optar por ajudá-
la.
— Por que não arranjamos um banheiro para a senhorita? —
pergunto quando ela finalmente para de expelir tudo o que há dentro do seu
corpo minúsculo.
Olhando para cima — quer dizer, para mim —, ela precisa curvar
sua cabeça para trás, uma vez que parece ter pelo menos quarenta
centímetros de diferença entre nós. Seus olhos castanhos brilham assim que
ela me observa, e um sorriso tímido toma conta da sua boca. Ela abre a boca
para falar, mas logo volta a se curvar, apoiando a sua mão em mim, e eu
noto os pingentes de estrelas pendurados na sua pulseira.
Vomitando outra vez...
— Ok, Estrelinha. Já entendi que você prefere vomitar aos meus pés
— murmuro, pegando o seu cabelo novamente.
Era para essa noite ser divertida, afinal, acabamos de ganhar a final
do torneio de basquete da NCAA, e não querendo me gabar quanto a isso,
só que eu fui considerado o melhor jogador de 95% de todos os jogos que
participei, e isso, claro, começou a gerar interesse em inúmeros times da
NBA. Como Lakers, Bucks e o time dos meus sonhos, pelo qual venho
trabalhando desde criança, para um dia me tornar ao menos reserva deles: o
Brooklyn Nets.
Dizer que eu sou fã deles é um eufemismo, desde os meus cinco
anos de idade, eu almejo fazer parte do Nets, e quando aos quatorze eu
comecei, além dos treinos, também a ganhar altura, fui acreditando que um
dia seria possível. Hoje, com meus dois metros e um centímetro, e tendo a
informação em primeira mão que o olheiro está interessado em me draftar,
eu deveria estar comemorando o feito, contudo, estou ajudando uma total
estranha a colocar até seu cérebro para fora.
— Acho que acabei. — Ouço a sua voz doce falar, no instante em
que ela realmente termina de vomitar.
Ela tenta ficar de pé novamente, sem minha ajuda, porém parece ser
um trabalho árduo para uma pessoa tão pequena e bêbada.
— Eu te ajudo — digo ao pegá-la nos braços. Ela encosta a cabeça
no meu peito e suspira. — Vou te levar para o meu quarto, e você vai me
dizer com quem você está, para eu procurar seus responsáveis — informo, e
ela assente.
— Parece que você está falando com uma criança perdida, assim —
ela murmura enquanto começamos a passar por algumas pessoas.
— Olha só! Ela, além de vomitar, é atrevida — brinco.
A garota solta um suspiro, em provável reprovação, e eu sou
obrigado a virar o rosto, devido ao cheiro de álcool presente em seu hálito.
Entrando na casa, que por sinal está lotada, cruzo por alguns
universitários que abrem espaço para eu passar e subo as escadas. Durante
todo o percurso do jardim até o primeiro andar, onde fica o meu quarto,
ninguém reconhece a garota ou apenas não prestaram atenção em um cara
como eu, levando uma garota nos braços para o andar de cima.
Prefiro pensar que a primeira opção é a mais viável, nesse caso. Não
que eu leve várias garotas para o meu quarto, mas quando isso acontece, eu
nunca as levo nos braços.
Ao entrar no quarto, a coloco na minha cama e à medida que eu
retiro seus sapatos, ela começa a desvairar, lutando para prestar atenção nos
meus movimentos.
— Macio — se refere ao colchão ao passo que passa as mãos nele.
— E grande. — Ela arregala os olhos ao olhar para a dimensão do mesmo.
Após retirar seu segundo sapato, fico de pé e coloco as mãos no
quadril, encarando-a.
— Então, com quem você está?
— Alto, muito alto. — Me observa dos joelhos à cabeça.
— Não sei se isso foi um elogio — digo, franzindo o cenho. — Mas
obrigado, agora... com quem você está? — pergunto novamente.
— Com sono. — Ela boceja, colocando a mão sobre a boca e
fechando os olhos. Desse modo, ela, a garota até então sem nome,
simplesmente se vira de lado, acomoda o travesseiro sob sua cabeça e fecha
os olhos.
Se eu fosse um cara raivoso, com certeza estaria puto agora, só que
muito pelo contrário, estou conseguindo me divertir com situação. Por quê?
Não sei, entretanto, é engraçado, pela primeira vez, trazer alguém para o
meu quarto que não seja para outra coisa, e ela ainda se virar e dormir.
Não que eu seja um cafajeste, no entanto na minha vida não há
espaço para relacionamentos, portanto, todas que já passaram por essa
porta, nunca ficaram mais do que uma noite, e muitas vezes, nem mesmo
dormiram. E a baixinha de cabelos cacheados, apenas se virou e está prestes
a roncar.
Por isso, com um sorriso no rosto, caminho até a lateral da cama, me
sento ao lado do seu corpo bêbado e sonolento, e tiro um cacho da frente do
seu rosto, passando-o para trás.
— Você precisa me dizer com quem está, para que eu possa te
ajudar, Estrelinha — insisto. — Ou ao menos me emprestar seu celular,
para que eu possa entrar em contato com alguma amiga sua.
— Quebrei meu celular na cabeça do meu namorado. — Ela abre os
olhos, e uma lágrima desce pelo seu rosto.
Definitivamente, eu não sou bom com choro. Em razão disso,
engulo em seco ao ver que seus olhos estão prestes a transbordarem em
lágrimas.
— Deve ter doído pra caralho a cabeça dele — tento descontrair,
mas não tem muito efeito quando ela volta a falar.
— Meu chifre doeu mais. — Ela leva a mão ao rosto, a fim de secar
as lágrimas, porém elas continuam a descer.
— Você estava aqui com ele? — pergunto, e ela nega com a cabeça.
— Você quer que eu faça algo por você? Eu faço! — digo de prontidão,
buscando cessar seu choro.
— Me abraça — murmura.
— Ein?!
— Você é grande, eu preciso que alguém grande me abrace.
Coçando a garganta, olho para ela, indeciso sobre o que devo fazer,
afinal, eu a trouxe para o meu quarto para que nenhum bêbado nojento
trombasse com ela lá fora e a fizesse algum mal, porque claro, pelo seu
estado vulnerável, isso poderia muito bem acontecer.
— Afasta pro lado — peço, e ela faz, um pouco mais lentamente do
que qualquer pessoa sóbria, mas faz.
Retirando minha jaqueta e ficando descalço, me deito ao seu lado
um pouco sem jeito. Contudo, logo que encosto minha cabeça no
travesseiro, seu braço transpassa por cima da minha barriga e sua cabeça
cola no meu ombro, com isso, eu tento encaixar o meu corpo para que fique
confortável para nós dois.
Quando finalmente consigo, levo as pontas dos dedos aos seus
cabelos e faço carinho.
A garota, que antes estava bêbada, agora se encontra frágil, seu
corpo treme contra o meu enquanto ficamos calados. O único som que
preenche o quarto, além das batidas das músicas lá fora, é o som do seu
choro, que vai se acalmando aos poucos.
Continuo abraçado a ela por cerca de mais vinte minutos, franzindo
o cenho e me perguntando o que estou fazendo, ao passo que continuo a
acariciar seus fios, até que em certo momento consigo quebrar o silêncio
entre nós dois e voltar a perguntar:
— Nós precisamos avisar a pessoa que veio com você, onde você
está, para não preocupar ninguém. Como é o nome dela? Para que eu possa
descer e procurar.
A resposta que eu recebo é uma lufada de ar, seguida de um ronco.
Ótimo, ela está dormindo!
Minha cama está sendo preenchida por mim e uma garota bêbada
que acabara de levar um chifre do seu namorado, o qual ela quebrou o
celular na cabeça. Eu deveria estar comemorando a minha vitória no jogo
de hoje, mas estou aqui, abraçado a ela, fazendo cafuné na sua cabeça e me
sinto mais completo do que se estivesse lá embaixo, me embebedando e
atrás de uma transa qualquer.
Não sei se isso é ironia do destino ou o alinhamento das estrelas ou
qualquer baboseira que explique como a vida funciona. No entanto, tudo
vira pó quando na manhã seguinte, eu acordo de bruços, encontrando como
companhia na minha cama, apenas uma pulseira de prata com vários
pingentes de estrelas.
Pegando-a, analiso e sorrio de canto.
— E nem seu nome eu sei, Estrelinha — digo, sentindo no fundo da
minha alma, que essa garota ficará marcada na minha vida para sempre.
Existe um ditado onde diz que pessoas com sorte nasceram com a
bunda virada para a lua, então é por isso que eu sempre digo que eu nasci
com a bunda virada para o sol.
Quero dizer, em um dado momento da minha vida, eu fui uma
pessoa com sorte. Até o dia em que meu namorado do ensino médio decidiu
transar com a minha colega de quarto enquanto me visitava, e eu quebrei
meu celular na cabeça dele, decidi ir à uma festa sozinha, tomei um grande
porre e ainda acordei na manhã seguinte, na cama de um total estranho.
No segundo em que vi um homem enorme deitado ao meu lado,
primeiro me certifiquei de que estava com minhas roupas intactas, assim
como as dele, e me levantei apressadamente, pegando meus sapatos e dando
o fora daquele quarto.
Por sorte, nunca mais o vi. Mas também se o visse, jamais o
reconheceria, uma vez que nem mesmo me lembro do seu rosto, apenas
tenho a vaga lembrança de pedir para ele me abraçar. Fora isso, minha
mente está totalmente em branco quanto aos acontecimentos daquela noite.
Entretanto, eu sou obrigada a lembrar daquela noite, porque foi nela,
que também perdi a minha pulseira da sorte. Eu a ganhei de uma cliente
antiga do meu pai quando tinha apenas nove anos, ela me disse que um dia
aquela pulseira me traria sorte, e eu nunca mais a tirei do pulso, a não ser no
dia em que a perdi e me tornei uma azarada.
Pode parecer bobeira uma mulher de vinte e quatro anos,
superestimar a sorte em uma pulseira que perdeu há quatro, mas é verdade.
Pois, dois dias depois, descobri que minha bolsa em Yale havia sido
suspensa e fui obrigada a voltar para Nova Iorque de mãos atadas, tendo
que trabalhar no café do meu pai até conseguir um empréstimo para
retornar à New Haven, o que nunca aconteceu. Então, tive que me contentar
em terminar o curso de Administração na Brooklyn College, o que estava
bom, porém não era nenhuma faculdade da Ivy League[1], na qual lutei tanto
para entrar.
Talvez isso não defina azar, no entanto se vestir e se preparar para a
entrevista de um emprego, verificar o tempo no celular antes de sair de casa,
para ter certeza de que fará sol, e no instante em que sai da estação de
metrô, uma nuvem preta e carregada simplesmente despeja água sobre
você, bom... isso com certeza, é definição de azar.
Porém, como eu já vivo os últimos quatro anos preparada para
situações como essa, o guarda-chuva é um grande parceiro meu, e fazendo
chuva ou sol, ele está do meu lado. Contudo, ele se torna um péssimo aliado
quando uma SUV preta freia bruscamente em cima de uma grande poça de
água, me molhando inteira.
Trincando os dentes ao perceber o estrago que acaba de ser feito na
minha roupa — que passou por duas lavagens e foi engomada cinco vezes
seguidas durante todo o dia de ontem, para que eu estivesse, no mínimo,
apresentável durante a minha primeira entrevista séria de emprego —, eu
vejo um homem alto e forte, usando um moletom de capuz preto, abandonar
o carro e entregar as chaves ao manobrista, entrando no prédio empresarial.
Olho do carro de luxo para a minha roupa enlameada e um
pensamento de vingança se forma na minha cabeça. Impulsiva? talvez.
Entretanto, eu não posso deixar um riquinho babaca me foder inteira e não
dizer boas verdades na cara dele.
Ou no carro dele...
É por isso que eu sigo o carro, que está sendo conduzido pelo
manobrista, até o estacionamento, que fica no subsolo da lateral do prédio.
Meus saltos tilintam sobre o concreto enquanto faço minha pequena corrida.
Preciso me esconder atrás de uma BMW e depois de uma Mercedes,
para que ninguém me veja. Assim que finalmente a Ranger Rover preta é
deixada pelo manobrista, e o vejo saindo do estacionamento, é que eu me
permito me aproximar do mesmo.
Abro minha bolsa, retirando as chaves da minha casa e as ergo,
pensando se realmente devo fazer isso.
— Esse carro deve custar uma fortuna — divago ao olhar para a
lataria preta, tão bem polida que chega a refletir minha aparência
desajeitada perfeitamente.
É exatamente por ver o meu estado através do capô do carro, que eu
dou de ombros e ajo como uma criança imatura.
Ao finalizar a escrita, que me leva alguns minutos, pois eu precisei
usar toda a minha força para arranhar o alumínio, guardo minhas chaves
novamente na bolsa, mas não resisto em deixar mais uma gracinha para o
grandão que me sujou inteira log que vejo o batom vermelho, que diz durar
quarenta e oito horas, dando bobeira.
É com ele que escrevo “CUZÃO”, em maiúsculo, na janela do
motorista.
— Vai se foder! — Mostro o dedo do meio para o meu reflexo
estampado na janela do carro, mostrando a minha cara de arrependimento.
Porque não basta ser azarada, impulsiva e ter grandes tendências
depreciativas quando se trata de vinganças, eu ainda tenho que me
arrepender todas as vezes em que apronto uma dessas.
Me arrependi quando quebrei o celular na cabeça do Bryce, mesmo
ele tendo me dado um chifre e tanto; me arrependi também de todas as
vezes em que coloquei mais água do que café ao servir a cobra da mãe dele
nas inúmeras vezes em que ela foi tentar fazer com que eu reatasse com o
filho traidor dela ao longo dos anos; e claro, me arrependi agora, ao
arranhar o carro de um total desconhecido.
É por isso que preciso sempre me mandar ir se foder. Porque o
mundo e as pessoas já me fodem demais, então se eu não sou fodida por
mim mesma, que se foda.
Saindo do elevador no décimo quarto andar, eu sei que estou
atrasada para a entrevista, pois assim que saí do estacionamento e entrei no
prédio, fui direto para o banheiro que fica na recepção do térreo e me despi,
tentando secar a minha roupa encharcada, no secador de mão do banheiro.
O que me gerou uma roupa seca, porém, amassada.
Também tentei dar um jeito nos meus cachos, que foram
prejudicados pela poça de água e um idiota que não sabe dirigir, mas não
tive um efeito muito eficaz quando todo o cabelo decidiu ficar cheio de
frizz.
A recepcionista do escritório de assessoria de vários artistas e
atletas, Morgan Advisory, estreita os olhos ao olhar o meu estado, e com o
melhor sorriso que eu posso dar, apesar do meu mau humor evidente devido
ao acidente de mais cedo, tento ser o mais meiga que eu consigo.
— Bom dia, me chamo Georgia Walton e vim para entrevista de
emprego com o senhor Chad Morgan — cito um dos sócios da empresa.
A recepcionista sorri para mim, forçada, porém sorri, enquanto me
pede para aguardar um momento.
— As entrevistas estão acontecendo em ordem de chegada, senhora
Walton, como a sua chegada aconteceu por último, a senhora também será a
última — a loira de cabelos lisos e perfeitamente penteados, informa. — A
vaga é para assistente pessoal de um dos nossos assessorados. A senhora
deve preencher esse formulário, com todas as informações, corretamente.
— Ela me entrega um papel. — E também precisa preencher este outro
formulário, onde a senhora concorda em não divulgar nada do que
acontecerá durante a entrevista, inclusive o nome do assessorado para qual
a senhora está concorrendo à vaga.
Comunica ao segurar outro papel e me entregar.
— Nossa! — Bufo uma risada. — Parece até que eu vou trabalhar
com o presidente da América. — Sorrio, só que ele logo se desfaz quando a
recepcionista me lança um olhar questionador. — Tudo bem... Cindy —
digo ao ler o nome no seu crachá. — Muito obrigada, já vou preencher.
Me viro, entretanto logo me volto para ela.
— Você teria uma caneta? — inquiro, e ela estende uma para mim.
— E onde acontece a entrevista?
— Primeiro, a senhora precisa preencher os papéis, logo em seguida
irei lhe orientar sobre o restante.
Levo a mão até a testa, fazendo um gesto de continência, no entanto
não recebo qualquer reação de Cindy. Quando estou longe dela, sussurro
para que apenas eu possa escutar.
— Chata. — Porém, uma tosse próxima a mim, me tira do
raciocínio, e noto que Cindy escutou o que não deveria. — Oi. — Sorrio
sem jeito ao acenar para ela.
Após me sentar em uma das cadeiras da recepção, trago ambos os
formulários para o meu colo e preencho-os.
Talvez eu estivesse apenas brincando quando falei que parecia que
iria trabalhar para o presidente dos Estados Unidos, contudo vejo que tudo é
muito sério, quando eles perguntam até se eu já fiz alguma cirurgia de risco
ou tenho licença de porte de armas, o que obviamente eu respondo que não.
— Se eles estivessem tão preocupados com a segurança do cliente
deles, não deveriam anunciar vagas de emprego na internet — murmuro ao
entregar os papéis à Cindy, que me ignora completamente, e eu reviro os
olhos em resposta.
— Tudo certo, senhora Walton. Agora a senhora entra na segunda
porta à esquerda e aguarda ser chamada, o que provavelmente não
precisará, uma vez que é a última. — Sorri irônica para mim, e eu devolvo
da mesma forma.
Caminhando até a porta que ela indicou, falo em alto e bom som, na
intenção de fazê-la escutar:
— Chata e amarga.
Cindy me olha, afiada, e eu lanço um sorrisinho para ela.
Ao entrar no hall de espera do escritório, onde há uma placa com o
nome de Chad Morgan, há mais três mulheres sentadas, que variam entre
trinta e quarenta anos, esperando. Observo a decoração do lugar, que é toda
em tons de preto. O piso trata-se de um mármore de ônix, enquanto as
paredes são revestidas com madeiras de carvalho preto, a não ser pela
principal, que é inteiramente de vidro, mostrando a vista de toda Manhattan
do lado de dentro do ambiente escuro.
A nuvem preta fora embora, e agora o sol toma conta de toda Nova
Iorque, o que me faz sorrir com ironia.
Sentando-me em uma das poltronas disponíveis no local, noto que
as mulheres leem algo em seus iPads ao passo que eu respiro fundo,
tentando me concentrar no fato de que muito provavelmente, não serei
aceita nesse emprego, uma vez que todas estão muito bem penteadas, e o
meu cabelo está totalmente armado.
Os terninhos que elas vestem estão passados, e o meu está
amassado. Uma, usa um scarpin, que provavelmente fora engraxado ainda
hoje pela manhã, enquanto eu uso uma bota e meias, que na minha opinião,
é bem mais confortável.
Sem contar os anos de experiência que elas aparentam ter.
Eu sabia que deveria ter desistido no segundo em que recebi um jato
de água suja na minha cara, mas não poderia voltar ao café do meu pai, sem
dizer que eu tentei. Porque como ele sempre me diz:
— É melhor fracassar sabendo que você fez, do que viver
perguntando “e se eu tivesse feito?”.
Por isso não desisti.
E também porque eu estou formada há dois anos, e o máximo que
usei o meu diploma em Administração, foi para fazer o caixa do café
enquanto servia torta de espinafre e banoffee.
As mulheres entram e saem do escritório, e eu conto de cabeça
quanto tempo cada uma passou lá dentro. A primeira, foi cerca de uma
hora; já a segunda, ficou por quarenta minutos; e a última, eu parei de
verificar o ponteiro do meu relógio de pulso no instante em que passou de
uma hora e quinze minutos, e decidi me levantar, porque minha barriga
começou a roncar.
Indo até um aparador disposto no hall, pego um biscoito e começo a
comê-lo à medida que me sirvo de café.
— Georgia Walton. — A voz grossa e alta me assusta, fazendo com
que eu cuspa os farelos de bolacha e acabe derramando café quente na
minha mão.
— Merda, merda, merda... — murmuro repetidas vezes, sentindo a
ardência tomar conta da minha pele, justo na mesma mão que trabalhou
arduamente para riscar um carro.
— Você está bem? — a voz grossa pergunta, hesitante.
Então eu me viro, pondo um sorriso no rosto, na esperança de que
ao menos ele, seja o suficiente para disfarçar todo o desastre que eu sou.
— Sim, eu estou... — As palavras morrem na minha boca quando
encontro um homem de cerca de três metros, ou mais.
Preciso erguer minha cabeça para cima, para encontrar seu rosto, e
um arrepio sobe na minha pele assim que encontro sua barba por fazer, a
pele alva levemente bronzeada e os cabelos loiros escuros, penteados para
cima.
Ao passo que eu fico impressionada com o seu tamanho, ele fica
pálido ao me olhar.
Talvez o meu sorriso não seja o bastante.
— Você... — Ele hesita, coçando a garganta. — Você se chama
Georgia?
— Sim — digo, segurando minha mão recém-queimada com força.
— Desculpa, é que... — Ele parece apreensivo, até mesmo com
vergonha, pois seu pomo-de-adão sobe e desce três vezes.
Então ele me olha de baixo para cima e nega com a cabeça. Eu não
entendo a sua reação, ainda mais quando ele expõe um sorriso, mostrando
seus dentes brancos. Ele é lindo.
A forma como ele me encara, faz um arrepio súbito subir por minha
coluna e voltar pelo mesmo caminho, deixando minhas pernas fracas. Além
do desconforto que ele me causa, fazendo com que todo o meu rosto
esquente, em pura vergonha, e minhas bochechas ardam à medida que seus
olhos grudam em mim, o que parece uma total surpresa para ele, eu tenho a
sensação de estar vivendo algo como um déjà vu.
Ou sei lá o quê.
— A gente se conhece de algum lugar? — indago, sentindo o clima
entre nós dois ficar cada vez mais desconfortável.
— Não — é o que ele responde, ainda com os olhos grudados em
meu rosto.
O que mais eu poderia responder, quando a garota que vomitou aos
meus pés há quatro anos e obviamente não se lembra de mim, me pergunta
se a gente se conhece, além de um grande não?
Outro não, com certeza!
É claro que ela não lembraria de mim, ela estava bêbada demais e
ainda me usou como um corpo quente para abraçar enquanto chorava por
um chifre que havia levado. Eu ainda passei quase dois meses a procurando
por todo o campus, para devolver sua pulseira, porém nunca a encontrei.
Deve ser por conta disso que eu nunca consegui esquecer o seu rosto
meigo, que ao longo de quatro longos anos, eu posso dizer com firmeza que
não mudou absolutamente nada. E mesmo nunca tendo entregado a
pulseira, eu ainda hoje a mantenho comigo e sempre que abro a gaveta da
minha escrivaninha no quarto, ela está lá.
Isso, torna um trabalho difícil esquecer aquela noite e também a
Georgia, antes nomeada por mim de Estrelinha.
— Não, nós não nos conhecemos — reafirmo a resposta à sua
pergunta, após coçar a garganta. — É que...
— Olha, senhor Morgan, eu posso estar um pouco amarrotada no
momento, mas a culpa não é minha — ela se apressa a dizer, me
interrompendo e apontando para a roupa, que só agora noto que está toda
amassada. — Um idiota estacionou o carro depressa em cima de uma poça
de água enorme quando eu estava chegando para a entrevista. Então, ou
comparecia aqui suja ou amassada, mas desde já, peço desculpas.
Ela fala tudo apressadamente e só para ao notar que eu estou
sorrindo com o seu jeito inusitado de se expressar. Porque, da mesma forma
que ela fala muito, também manipula muito as mãos enquanto fala, além de
apontar demais.
Nem mesmo parece a garota que mal conseguia ficar de pé, anos
atrás.
— Sua roupa não tem problema algum, Georgia, acredite — digo ao
conduzi-la para dentro do escritório de Chad, meu empresário e agente. —
E eu não sou o senhor Morgan, ele é. — Aponto para o homem negro
vestido em um terno Armani de três peças e sapatos italianos, sentado em
uma cadeira de couro branca com o celular no ouvido, que lança um sorriso
de canto para nós dois e levanta o dedo, pedindo um momento.
Georgia leva seus olhos até Chad e solta um assobio.
— Ele sim, se veste como um empresário — ela tenta sussurrar, só
que sai alto demais.
O que me faz rir, pela sua maneira discretamente indiscreta de agir.
— Dessa forma, você me faz acreditar que eu me visto mal,
Estrelinha. — Ela arregala os olhos ao notar que eu escutei.
Não que meus Jordan sejam sinônimo de que eu me vista mal ou a
calça de moletom acompanhada da blusa de algodão que eu uso. Havia
chegado aqui mais cedo, usando um moletom preto com o símbolo do Nets,
meu time, contudo o retirei quando a segunda entrevista passou de meia
hora.
— Em minha defesa, eu vim do primeiro treino do dia, direto para
cá, mas eu também consigo me vestir como um tubarão de Wall Street[2]. —
Pisco para ela, e ela abaixa a cabeça, desajeitada. — Sente-se, por favor. —
Aponto para uma das cadeiras, em frente à mesa de Chad.
Quando ela o faz, ao invés de me sentar no sofá no canto do
escritório, como fiz durante todas as outras entrevistas, escutando Morgan
conversar sobre contas, privacidade e vários assuntos chatos com mulheres
de meia idade, e vez ou outra soltando um longo bocejo, decido sentar na
outra cadeira, logo ao lado de Georgia, que passa as mãos por sua saia, a
fim de alinhá-la, acredito eu.
O que também me faz levar meus olhos à parte despida das suas
pernas magras, entretanto, torneadas.
Ela mantém seu olhar focado na parede atrás de Chad, onde ele
mantém bolas de basquete, futebol, beisebol, vôlei e até mesmo discos de
hóquei, todos autografados por seus agenciados. E não é porque eu faço
parte deles, porém eu sei que apenas uma bola assinada por mim, hoje, vale
no mínimo, oito mil dólares no ebay.
É o que eu sempre digo, se um dia ninguém mais fechar contrato
com ele, Chad Morgan ficará rico apenas leiloando seus bens autografados.
— Vejo que você já conheceu o Hunter. — Chad olha para Georgia
ao desligar a ligação e colocar o celular em cima da sua mesa.
Georgia olha para mim e se volta, sorrindo para o meu empresário.
— Sim. — Concorda com a cabeça.
— Me chamo Chad Morgan, sou o empresário do Hunter, uma das
grandes estrelas da NBA atualmente, e de mais algumas pessoas famosas. É
um prazer te conhecer, senhorita Walton — ele se apresenta com seu sorriso
ensaiado, assim como fez ao longo da manhã, sendo carismático e logo
depois se tornando um tubarão, quando começar a fazer perguntas com seu
olhar desafiador para a pobre mulher sentada ao meu lado.
— O prazer é todo meu, senhor Morgan. — Georgia devolve o
mesmo tipo de sorriso.
— Seu currículo, por favor — Chad pede, agora com a cara dura e
intimidante.
Georgia se apressa para abrir a sua bolsa, porém ao invés de apenas
tirar a pasta que contém o currículo, ela acaba espalhando alguns dos seus
pertences no chão do escritório no momento em que ela é aberta. Noto
Chad fazer uma careta pelo jeito desastrado com que a garota age, mas
pouco me importo com a carranca dele e a ajudo a juntar suas coisas,
entregando-lhe um batom e um molho de chaves.
Ela me lança um sorrisinho, seguido de um agradecimento
sussurrado, e entrega seu currículo a Chad, que o analisa com o cenho
franzido e uma sobrancelha levantada. Enquanto Georgia o encara
apreensiva, eu noto uma veia pulsar em seu supercílio, provavelmente
indicando que esteja nervosa.
Algo que eu aprendi, além de estatísticas no basquete, foi como ler
as pessoas, seus movimentos e também a forma como suas faces muitas
vezes não condizem com o que querem passar. Por exemplo: Georgia, nesse
momento, tenta se mostrar confiante, no entanto sua perna não para de
balançar em nervosismo, e sua veia saltada acima do olho, evidencia seu
estresse.
— Então você começou seus estudos em Yale e foi transferida para
a Brooklyn College, é isso?! — Chad indaga uma pergunta retórica, ao
largar os papéis na mesa.
— Sim — Georgia assente. — Meus planos sempre foram começar
e terminar em Yale, porém acabei perdendo minha bolsa ainda no segundo
ano, e conseguir um empréstimo para continuar em uma Ivy League estava
fora de cogitação. Mas a Brooklyn também tem renome — ela fala um
pouco mais baixo.
Talvez isso explique o porquê eu nunca consegui encontrá-la no
campus.
— Seu currículo em questão escolar, realmente é muito bom —
analisa Chad. —Contudo, você não tem experiência no mercado. O que me
garante que você não irá vazar quaisquer informações sobre meu
assessorado?
Georgia solta um sorrisinho em contrapartida e responde, afiada:
— Um acordo de confidencialidade juntamente de uma multa de
milhões de dólares seriam o suficiente, senhor.
Chad solta uma leve lufada de ar, o que me faz cobrir a boca para
ele não ver o sorrisinho que eu dou. Entretanto, é em vão, porque ele
estreita o olhar para mim.
— Sua experiência profissional, até hoje, foi apenas servir café,
senhorita Walton.
A veia acima da sobrancelha dela salta, como se tivesse acabado de
ouvir um insulto.
— E muito bem, diga-se de passagem. — Sorri falsamente para ele.
— Mas não é o meu café que me torna uma boa candidata para a vaga, e
sim, a minha responsabilidade, porque depois de tudo o aconteceu hoje pela
manhã antes de eu chegar aqui, eu poderia apenas ter desistido dessa
entrevista ou então quando vi as senhoras de idade sentadas no hall de
espera, mostrando claramente que todas tinham mais experiência de
mercado do que eu. Mas eu garanto a você, senhor Morgan, que em algum
momento da vida, todas elas não tiveram experiência, assim como eu, e
assim como o senhor também. Hoje o senhor atende a quantos atletas?
Dez?! Vinte?! Mas houve um dia, que assim como eu, o senhor foi atrás do
seu primeiro, isso é uma certeza.
Chad encosta-se na sua cadeira, analisando a resposta de Georgia e
cruzando as mãos sobre sua barriga.
— Ela tem razão, me lembro até hoje quando eu ainda estava na
faculdade, e você implorava para me agenciar. — Olho para Georgia,
soltando-lhe uma piscadela, e de volta para Chad, que limpa a garganta ao
coçá-la.
Ele faz mais algumas perguntas desafiadoras e sem sentido à
Georgia, como o que ela faria se encontrasse uma camisinha minha exposta
ou então escutasse uma discussão minha dentro de casa. Ela, por sua vez,
responde dizendo que não chegaria perto do preservativo, uma vez que é
nojento, e que no caso de ouvir qualquer conversa minha, ela não tem nada
a ver. Georgia faz o uso do atrevimento e sagacidade na medida certa, o que
me faz, além de ficar curioso pela mulher, ficar encantado pela forma com a
qual, mesmo com o nervosismo evidente, ela não abaixa a cabeça.
— Muito obrigado por comparecer, senhorita Walton. Entraremos
em contato em breve — Chad se despede dela, e quando ela se levanta, eu a
acompanho.
— Eu te levo até a porta — ofereço.
— Obrigada — ela sussurra, dessa vez realmente baixo, para que
apenas eu possa ouvir, assim que abro a porta, dando passagem para a
mesma. — Não querendo me aproveitar de você, mas quais as minhas
chances de preencher essa vaga, além de zero? — ela pergunta no mesmo
tom de voz, com o cenho franzido.
Pendendo minha cabeça para o lado, estreito os olhos, observando-a,
e em seguida dou um sorriso de canto, antes de lhe responder.
— Com certeza, mais do que as chatonas que vieram antes de você,
Georgia. — Ela sorri para mim, agora genuinamente.
E caramba! Ela é bem mais linda sorrindo pessoalmente, do que foi
por tanto tempo em minhas lembranças.
Georgia me agradece novamente e dá as costas, se despedindo.
Ao fechar a porta do escritório, eu nem o espero jogar o currículo
dela no lixo, como fez com o restante das candidatas, corro até ele e tomo
os papéis das suas mãos, erguendo-os para o alto.
— Ela está contratada — anuncio.
— Nem fodendo, Hunter.
— Pensei que você me chamou até aqui para que eu pudesse
escolher minha assistente pessoal — reflito.
Chad decidiu que era hora de eu ter uma assistente pessoal, pois ele
estava cansado de ter que ir até meu apartamento quase todos os dias em
que eu dormia demais e acabava chegando atrasado a um treino ou então a
um evento, entrevista e afins. A gota d’água para ele, foi saber que eu não
havia pagado minha conta de energia.
No entanto, em minha total defesa, a culpa não é inteiramente
minha, mas sim dos meus horários malucos, treino pela manhã, treino à
tarde, treino à noite, jogos fora de casa, anúncios de patrocinadores, tirar
fotos para alguma caixa de cereal, propagandas de xampu anticaspa. Isso
tudo toma o meu tempo, e eu acabo esquecendo coisas essenciais.
— Sim, eu quis você aqui para isso, já que a pessoa irá trabalhar
diretamente com você. Mas essa garota, que sequer posso ver como uma
mulher, de tão jovem que aparenta ser, é um total desastre, Hunter.
— Ela é legal — digo, analisando o seu currículo, que realmente
não é o mais brilhante de todos quando falamos de alguém que passou por
Yale.
— A roupa dela estava toda amarrotada. — Ele tenta me convencer
do contrário.
— Ela precisa apenas de uma oportunidade.
— Espero que você não esteja querendo contratá-la apenas para
entrar nela — observa meu agente. — Ou você acha que eu não vi a forma
que você olhava para ela ou como secou as pernas dela? Eu posso ser gay,
Hunter, mas eu sei quando alguém deseja uma mulher.
Engulo em seco ao ouvir suas palavras e rapidamente nego com a
cabeça.
— Não quero entrar em ninguém, Chad, apenas me identifiquei com
ela. Como você mesmo disse, ela irá trabalhar diretamente comigo, então eu
prefiro alguém que eu me identifico, do que uma pessoa ranzinza como a
Cindy.
Chad faz uma careta, pois assim como todas as pessoas que
conhecem a loira recepcionista, ele também não a suporta.
— Certo! — Levanta as mãos para o alto, em forma de rendição. —
Ela será contratada, mas se acontecer qualquer merda pela falta de
experiência dela, é problema seu, você que se vire com a mídia.
— Uhum — murmuro, rindo. — Como se nós dois não
soubéssemos que se eu for notícia ruim no TMZ, você não será o primeiro a
querer processa-los. — Chad franze o nariz para mim em uma careta, e eu
levanto os papéis que havia roubado de sua mão. — Não precisa ligar para
ela, vou visitar minha Nona após o treino e faço questão de contar à
Georgia.
Por coincidência do destino ou não, vendo o currículo de Georgia,
notei que ela mora a cinco quadras de distância da minha avó e também que
sua casa fica em cima de um dos melhores cafés do Brooklyn, que eu
costumava frequentar quando era mais novo e menos famoso.
Chad concorda, negando com a cabeça, e eu me despeço dele.
Saindo do seu escritório, pego as chaves do meu carro com a Cindy, já que
antes havia pedido a ela para solicitar as chaves a algum manobrista. Eu
havia chegado atrasado, então estacionei o carro de qualquer jeito e pedi
para que estacionassem na garagem.
Pego o elevador enquanto envio uma mensagem para a Nona,
avisando que irei levar torta à tarde para comermos, e desço até o subsolo.
— Só pode estar de sacanagem com a minha cara — divago no
momento em que encontro o meu carro, passando a mão por cima do capô.
Eu comprei o carro tem apenas três meses, e alguém o arranhou com
alguma chave, ou algo do tipo, escrevendo: “arrogante, idiota, babaca”.
Isso já me deixa com raiva o suficiente, mas encontrar na janela do
motorista um grande “CUZÃO” escrito, faz a minha pele esquentar em
raiva.
É claro que a minha entrevista foi horrível, não tinha como ela ter
sido boa.
Chad deixou claro a todo momento que ele não iria me contratar,
desde o jeito como ele me olhou até as perguntas idiotas sobre o que eu iria
fazer com uma camisinha usada do cliente dele, isso é nojento, no mínimo.
O lado bom da entrevista, na realidade, foi a maneira como Hunter levou
tudo na leveza.
E eu não posso dizer que o camisa 11 do Brooklyn Nets é apenas um
gato. Ele é o gato. Alto, ombros largos e fortes, cabelo loiro escuro, e olhos
com uma cor enigmática, ora verdes, ora azuis, mas lindos de toda forma.
Além do belo sorriso que ele estampa no rosto de um deus grego.
Foi impossível não dar um google nele no instante em que entrei no
metrô. Ele é a estrela do Nets, estudou em Yale no mesmo ano que eu, o que
é uma coincidência enorme. Se eu fosse um pouco mais ligada a esportes,
talvez eu teria o reconhecido assim que o vi, pena que não entendo sequer o
que significa um rebote ou cesta de três pontos, que tanto falam nos artigos
que encontrei sobre Hunter Blakely.
Ele foi draftado pela NBA no mesmo ano em que se formou,
fechando contrato com seu time dos sonhos e do coração. O cara ganha, por
ano, apenas por ser uma grande estrela do basquete, algo em torno de
cinquenta milhões de dólares, isso sem contar os patrocínios de marcas,
anúncios e tudo mais.
Ou seja... rico para a porra. Esse, com certeza nasceu com a bunda
virada para a lua e cheio de talento.
E claro, com tanto carisma, beleza e dinheiro, o que não falta para
Hunter são mulheres, sempre visto com uma diferente nos Instagrams de
fofoca. Basta jogar no google o nome dele mais namorada, e imediatamente
aparecem várias fotos dele com diversas mulheres. Porém, a manchete que
me chamou real atenção foi a que ele disse que a sua única prioridade no
momento é conseguir o anel dos campeões na NBA.
— Sabe, eu queria ter um objetivo na vida, assim como ele —
comento com April enquanto ela tira uma torta salgada de queijo do forno.
— O objetivo do cara nada mais é do que transar com quantas
conseguir — a esposa do meu pai responde.
April tem os cabelos acobreados e olhos verdes, com um corpo
curvilíneo. Ela é considerada uma midsize, devido ao seu quadril avantajado
e pernas e braços grossos, assim como seus seios grandes. April e meu pai
se conheceram quando ela começou a cozinhar para o café, há mais de dez
anos. No entanto, o casamento só veio a acontecer há poucos anos, pois,
meu pai tinha receio de casar com uma mulher dez anos mais nova.
— Quem quer transar com quem? — minha mãe, Ayla, questiona ao
colocar a cabeça para dentro da cozinha.
— O Hunter — respondo.
— O gostosão para quem você fez a entrevista hoje? — minha mãe
indaga ao tirar um pedaço da massa podre da torta que acaba de sair do
forno, se queimando logo em seguida, o que faz com que April dê um tapa
na sua mão.
— Mãe — repreendo-a. — Não é porque eu cheguei aqui contando
para quem eu fiz a entrevista, que você pode sair falando por aí. Eu assinei
um acordo de confidencialidade, esqueceu?
— Então por que você chegou aqui exclamando o nome dele? — Eu
mostro o dedo do meio para a mulher de quem eu herdei todos os traços
possíveis, desde o formato da boca até os cachos embaraçados.
Digamos que eu fui criada por pais totalmente disfuncionais.
Minha mãe conheceu Jared, meu pai, durante a Residência Médica,
e tiveram apenas um caso, nada sério, o que resultou em uma gravidez, na
qual meu irmão veio ao mundo. Quando meu irmão tinha apenas dois
meses, eles pensaram: “por que não transar novamente?”, e foi assim que eu
vim ao mundo. Agora, vinte e quatro anos depois, eles são pais separados
que moram praticamente debaixo do mesmo teto. Juntos, eles compraram
um armazém enorme no Brooklyn, quando ambos desistiram da Medicina,
e dividiram os três andares. No térreo, fica o Happie, o café administrado
pelo meu pai; no segundo, o apartamento da minha mãe, que agora é uma
hipster que vive da sua arte — literalmente, a mulher confecciona brincos,
pulseiras e afins, e sai vendendo nas ruas de Nova Iorque. Ela vive sozinha
e muitas noites acaba na companhia de um homem ou mulher qualquer —;
e no terceiro andar, o apartamento do meu pai, que agora vive com a April.
Luca, meu irmão, e eu, fomos criados em duas casas e em um lar, ao
mesmo tempo. E eu não trocaria minha família funcionalmente disfuncional
por nada no mundo.
— Não falei o nome dele em momento algum, vocês que me viram
mexendo no celular e automaticamente juntaram dois mais dois —
respondo.
O que não deixa de ser mentira, pois no segundo em que entrei no
café, e me perguntaram como foi a entrevista, eu disse que foi uma merda.
Então meu pai me viu tacando vários likes no Instagram do Hunter, e claro,
ele como fã, logo descobriu que minha entrevista havia sido feita com o
atleta.
— Ainda bem que a entrevista foi ruim, já imaginou você
trabalhando ao lado daquela perdição de homem todos os dias? Eu com
certeza, abriria minhas pernas no primeiro “oi” dele — April diz em meio
ao riso, e eu respondo com uma careta.
— Mas eu queria tanto aquele emprego, eu prometeria nunca abrir
minhas pernas para ele, se fosse o caso — reflito.
Porque sim, Hunter Blakely é claramente um homem para quem
qualquer mulher faria questão de abrir as pernas.
— Então, se eu fosse você, começaria a mantê-las bem fechadas,
porque ele está aqui — meu pai anuncia, se juntando a nós na cozinha, e me
fazendo pular da bancada de inox na qual eu estava sentada.
— Você está falando sério? — pergunto, incrédula, ao homem de
pele bronzeada e olhos verdes que me colocou no mundo.
Entretanto, a resposta não vem dele, e sim do meu irmão, que
também entra na cozinha e fala:
— Sim, e ele é alto pra cacete, imagina o tamanho do pau dele —
Luca dá um assovio audível, e a primeira a correr para o lado de fora da
cozinha, indo em direção ao salão onde ficam os clientes, é minha mãe.
Ela dá uma olhada e depois retorna para a cozinha quando eu
começo a andar rumo ao salão, para ter a certeza de que meu pai e irmão
não estão brincando comigo. Tenho a convicção de que eles estão falando
sério, assim que minha mãe fala em alto e bom som:
— Com certeza o pau dele é enorme!
Arregalo os olhos logo que passo pela porta e dou de cara com
Hunter em frente ao caixa da Happie. Ele me encara com seus olhos, agora
verdes, brilhantes e sorrindo para mim, dou um meio sorriso em troca e me
aproximo.
— Acho que tinha alguém falando do meu pau por aí.
— É apenas a minha mãe, ela acha que está sussurrando quando na
realidade está gritando — informo, ao apontar com o polegar, indicando a
porta da cozinha logo atrás de mim. — Uma hora dessas você se acostuma.
— Vejo que você tem a quem puxar então — Hunter fala em tom de
brincadeira, e meu rosto esquenta em vergonha.
— Realmente, eu faço muito isso também — sussurro, mas não o
suficiente, e ele ri. — Então, em que posso ajudá-lo?
Hunter se curva sobre o balcão de tortas, analisando-as. Em seguida,
se levanta e aponta para a torta de noz pecan.
— Primeiramente, eu gostaria de duas fatias da de noz pecan, por
favor — ele pede ao colocar as mãos dentro dos bolsos do seu moletom
com a logo do Nets.
Sirvo as fatias de torta na embalagem para a viagem, fazendo o
registro no caixa e entregando-as a Hunter.
— São dezoito dólares, mais alguma coisa? — Mordo o lábio
inferior.
Suas sobrancelhas se erguem, e meus olhos os sondam no instante
em que ele tira uma nota de cinquenta dólares de dentro do bolso do
moletom, juntamente com um maço de papel, e diz:
— Apenas uma caneta, para você assinar o contrato para ser minha
assistente pessoal. — Sua boca se curva em um sorriso enquanto eu,
permaneço estática.
Como assim?! Isso é impossível de estar acontecendo, eu fui
péssima na entrevista, eu parecia um trapo, eu respondi com atrevimento
todas as perguntas feitas por Chad e ainda deixei cair as coisas da bolsa
logo no início. Se eu fosse empresária de um jogador de sucesso, eu jamais
contrataria uma pessoa como eu para ser a assistente pessoal dele.
— Você está brincando comigo, não é? — indago, incrédula. — Eu
sou um completo desastre. — Solto um riso frouxo, que logo morre em
meus lábios, no instante em que ele me mostra o contrato, onde realmente
há o meu nome.
— É claro que você não precisa assiná-lo agora — ele diz quando eu
o pego de suas mãos, o toque das nossas peles faz com que os pelos do meu
braço se ericem em um arrepio. — Tem algumas cláusulas que eu
aconselharia você a analisa-las antes, mas sim, Georgia, você foi a
escolhida para ser a minha assistente pessoal.
— Nem fodendo. — Nego com a cabeça assim que leio o que vem
em seguida: “A contratada deverá ter disponibilidade para acompanhar o
contratante em viagens de trabalho dentro e fora do país, estando com o seu
passaporte em dia.”
— Algo de errado? — Hunter questiona, preocupado.
— É sério que você tem um avião particular para viagens para
exterior?! Puta merda.
— Pois é. — Hunter dá de ombros, como se isso não fosse nada
demais, só que isso é a porra de um jatinho particular, ao passo que eu mal
tenho dinheiro para ir de táxi do Brooklyn à Manhattan.
Faço uma careta para ele, franzindo o nariz.
— Por que não me ligaram para que assinasse o contrato no
escritório?
— Minha avó mora a algumas quadras daqui, e pensei “por que
não?!”
— E por que vocês quiseram contratar logo eu? — pergunto, ainda
centrada no contrato.
Já li tanto ao longo da vida, que aprendi a fazer leitura dinâmica. Por
isso, mesmo mantendo a conversa com Hunter, ainda estou ligada nas
cláusulas contratuais.
— Digamos que eu gostei de você — sua confissão me faz despertar
da leitura. Eu semicerro os olhos, o encarando, já Hunter mantém uma cara
de paisagem para mim.
— E digamos que eu gostei desse salário — digo, apontando para o
valor de oitenta mil anual descrito.
Pegando uma caneta do caixa, eu assino e rubrico o contrato em
todos os pontos solicitados. Ao final, um grande sorriso está estampado em
meu rosto.
— Talvez você tenha gostado de mim, mas eu sei que o Chad me
odiou — digo, entregando-o os papéis, que ele segura com a mesma mão
que carrega a sacola com as tortas, já que com a outra, ele aponta para a
porta atrás de mim, e vejo que toda a minha família está observando a
interação entre nós dois. — Meu pai é um grande fã seu, já o restante, são
apenas curiosos.
— Acredito que eu tive sorte em chegar aqui e não estar muito
cheio, caso contrário, eu não conseguiria essas tortas e nem que você
assinasse isso aqui. — Ele ergue a sacola e o contrato.
— Chame de sorte, eu chamo de Starbucks na outra esquina — digo
ao oferecer o seu troco, que Hunter logo dispensa. — Te acompanho até o
carro — me ofereço, saindo de trás do balcão.
Como não tem ninguém no café, além de nós dois e minha família
na cozinha, as coisas realmente se tornam mais fáceis. Ao sair do café, noto
que a outra esquina está lotada. O Starbucks é bom, não posso negar. Antes,
a Happie vivia tão lotado quanto a franquia do outro lado da rua, contudo,
quando eles se instalaram ali, as coisas ficaram um pouco feias para a
minha família. Meus pais já tiveram que hipotecar o prédio, nos últimos
anos, três vezes para conseguirem manter os negócios e nossas casas, por
isso também que minhas várias tentativas de empréstimos estudantis não
deram muito certo.
— Nos vemos amanhã, Georgia — Hunter anuncia, se posicionando
ao lado da Ranger Rover preta, a mesma que eu arranhei. Meus olhos
saltam para fora tão logo vejo o insulto escrito com batom na janela fumê
do carro.
— Provavelmente algum fã que não gostou do jogo do último final
de semana. —Ele aponta.
Provavelmente sua mais nova assistente pessoal, que não gostou
quando você parou o carro de qualquer jeito e a sujou inteira, penso em
responder, porém me contenho.
— É — digo em um sorriso fingido. — Provavelmente...
— Agora tenho que ir — Hunter anuncia ao ajustar o capuz sobre a
cabeça, para que ninguém na rua o reconheça, acredito eu.
Me despeço dele, acenando com a mão e com um sorriso, o ar ainda
retesado em meus pulmões, só me permitindo voltar a respirar quando ele
acelera com o carro pelas ruas do Brooklyn, fazendo voar algumas folhas
secas do outono que está prestes a acabar. Se Hunter descobrir que eu fui a
responsável por vandalizar o seu carro, eu estou fodida, muito fodida
mesmo.
Entrando novamente no café, solto um grande suspiro e digo, para a
minha família que agora está atrás do balcão:
— E foi assim que Georgia Walton queimou a bunda no sol mais
uma vez.
Chad: Ainda acho que isso foi uma má ideia.
É a primeira mensagem que há no meu celular no momento em que
acordo. Ele havia me enviado no início da noite passada, um vídeo da
segurança do prédio onde se encontra o seu escritório.
As imagens da garagem mostravam uma Georgia bastante esperta,
se escondendo atrás de alguns pilares e carros, confesso que aquilo me fez
rir, entretanto meu sorriso logo murchou quando a vi se aproximar do meu
carro, riscando-o logo em seguida. Chad me aconselhou a demiti-la de
imediato, segundo ele, ela é uma fã psicopata, enquanto eu, discordo disso.
Disse a ele que iria confrontá-la quando ela chegasse hoje, para o primeiro
dia de trabalho.
Para falar a verdade, eu acredito que tudo não passou de um mal-
entendido, porque o vídeo rodando na minha mente, durante toda a noite, e
a ideia estupida do meu assessor de dizer que ela é uma fã, não condizem
com o rosto surpreso dela quando viu os riscos no meu carro ontem.
A não ser que ela seja uma atriz e tanto, o que eu também não
acredito que seja verdade.
Abrindo a gaveta da escrivaninha, pego a pulseira com os pingentes
de estrelas, tocando-a. Me lembro da noite em que a ajudei e dormi
abraçado com ela, penso que talvez ela se lembre daquela noite e penso
também em entregar o que lhe pertence, mas decido que não é a hora assim
que escuto a campainha tocar.
Vestindo apenas uma bermuda moletom, saio do quarto e desço as
escadas do apartamento rapidamente. Ontem, também pedi para Cindy
enviar as informações necessárias, como endereço e código do elevador,
para que Georgia viesse trabalhar hoje, então meu coração acelera em pura
ânsia para encontrá-la.
Que porra é essa que tá acontecendo comigo?, penso ao franzir a
testa e andar calmamente pela sala, indo em direção à porta.
Um sorriso que eu mal tenho tempo para processar surge em meus
lábios no segundo em que me encontro com Georgia, que esconde os
cabelos em um gorro e usa um casaco vermelho, estendendo uma bandeja
com dois cafés.
— Bom dia, Chefinho — cumprimenta, animada. — Não sei como
você prefere seu café, por isso trouxe um com açúcar e outro sem.
— Sem açúcar — digo, e ela me dá o copo. Logo tomo um gole, e
meus sentidos são despertados pela cafeína.
— Ótimo, porque eu prefiro com — diz, ao pegar o outro café e
tomar um gole.
Dou espaço para que ela entre no apartamento e fecho a porta em
seguida. Os olhos de Georgia sobressaltam quando ela entra, dando de cara
com a vista de alguns prédios do Upper East Side e também com a visão
privilegiada do Central Park. Apesar do inverno estar chegando na Costa
Leste, a vista das “paredes” de vidro do apartamento torna qualquer clima
de Nova Iorque bonito, até mesmo hoje, que está nublado, ameaçando
chover a qualquer momento.
— Uau! — exclama, encantada. — A vista daqui é linda — diz,
retirando o copo da frente do seu rosto.
— Quer conhecer o restante do apartamento? — ofereço, e de
prontidão, Georgia assente.
O sorriso que eu dei desde o instante em que ela chegou, ainda não
abandonou o meu rosto, e eu me pergunto como uma pessoa que eu mal
conheço, me faz bem e me traz extrema paz desde a primeira vez em que
tive contato com ela?
Portanto não, eu não acredito que ela seja uma fã psicopata, muito
menos uma boa atriz, como imaginei. Ela é a apenas a Georgia, uma garota
que um dia caiu nos meus pés, igual uma estrela cadente, em quem passei
anos pensando sem saber o seu nome, de quem guardo uma pulseira desde
então e de quem tenho uma curiosidade enorme para saber um pouco mais
sobre.
— Como já deu para perceber, aqui é a sala de estar — aponto para
fora — e ali é o deck, onde ficam uma hidromassagem, área gourmet e
afins. — Ela olha de relance e me segue pelo corredor. — Aqui ficam a
cozinha e a área de serviço.
— Eu vou precisar fazer sua comida? — pergunta, ao olhar para o
cooktop no meio da ilha de mármore.
— Não, no máximo as compras, eu tenho uma personal chef que faz
as minhas comidas de acordo com a minha dieta — informo e tomo mais
um gole do café.
— Isso explica o corpo em forma — ela divaga, novamente como se
aquilo fosse um sussurro, arregalando os olhos quando percebe que não foi,
pois eu dou um sorrisinho de canto para ela. — Desculpa, não foi isso que
eu quis dizer — se apressa em explicar. — Quer dizer, até foi, porque você
tem um corpo e tanto, mas não poderia ser diferente quando se é um atleta
de alto nível, então é óbvio que sua barriga vai ter vários go...
— Eu entendi, Estrelinha — interrompo-a.
Georgia franze o nariz, e sinto meu rosto queimar, agora quem está
com vergonha pelo apelido que a dei quando ela vomitou em mim, sou eu,
porém não vou tentar me explicar, como ela fizera há pouco.
— Enfim — tento mudar de assunto ao limpar a garganta e coçar a
nuca. — Acredito que após me acompanhar no treino hoje, as compras
serão a sua primeira tarefa.
Dou outro gole no café e coloco o copo sobre a bancada, pegando
uma camiseta, que havia deixado em uma das cadeiras em algum outro dia,
passando-a pela cabeça e a vestindo. Eu não havia percebido que Georgia
havia notado que eu estava sem camisa, até seu comentário.
Voltando para o corredor, acompanhado de Georgia, passo por uma
porta dupla.
— Aqui fica a sala de jantar e recepção, caso precise receber
algumas pessoas, e acredite, é difícil precisar usar. Ali — aponto para uma
porta discreta, que está aberta —, fica a segunda cozinha.
— Segunda cozinha? — inquere ao juntar as sobrancelhas.
— Industrial — explico. — Utilizada apenas quando tem algum
evento e algum buffet precisa usá-la.
— Chique — assobia.
— Nem me fala.
Voltando para o corredor, entramos no elevador que fica dentro do
apartamento.
— Chique pra cacete — ela exclama, com os olhos iluminados.
— Esse elevador serve apenas para três andares — explico. — São
eles: garagem, segundo e primeiro andar.
— No caso, estamos indo para a garagem?
— Não.
— Mas estamos descendo — analisa.
— Primeiro andar — digo, tão logo as portas se abrem. — Aqui fica
uma academia personalizada e...
— Uma quadra de basquete — completa.
— Isso. Malhar mesmo, eu faço aqui. E quando preciso de paz fora
da arena e dos companheiros de time, aqui é o meu canto secreto — conto.
— Você é uma das poucas pessoas que sabe isso, Georgia, sinta-se
privilegiada.
— Ah, Chefinho, eu me sinto privilegiada desde que assinei um
contrato com salário de oitenta mil por ano — diz, terminando de tomar seu
café, e eu sorrio para ela.
Mal sabe ela, que Chad queria que o salário dela fosse bem mais
baixo, devido à inexperiência. Segundo ele, seria mais fácil no momento em
que a demitíssemos, porém eu fui contra e disse que ela merecia bem mais,
ele não concordou, óbvio. Contudo, digitou no contrato mesmo assim.
Pegamos o elevador novamente, voltando para o andar principal e
seguimos para a escada.
— Por que o elevador não vem para esse andar?
— Me fiz essa mesma pergunta ao compra-lo, há dois anos —
respondo. — Aqui ficam os quartos e escritório.
Apresento todos os quartos de hóspedes, que são três no total e
todos do mesmo jeito, e depois seguimos para o principal.
— E aqui fica o meu quarto. — Assim que entramos, aciono a
abertura das persianas através do tablet.
— Cala a boca! — Seus olhos brilham ao verem a vista do quarto,
que é a mesma da sala. — Como você consegue dormir todas as noites aqui
sem dar um tapão na sua cara pra ter certeza que não é um sonho?
Eu rio com sua pergunta.
— Nas primeiras semanas, eu me beliscava todos os dias — digo em
meio à risada.
— É verdade que você vem do Brooklyn? — pergunta ela.
— Sim, fui criado lá desde os meus oito anos, foi mais ou menos
nessa idade que me apaixonei pelo basquete — conto. — Somos apenas eu
e a Nona, foi a partir dali que comecei a ir para acampamentos de basquete
e tudo o mais, ganhei uma bolsa em Yale para jogar pelo Bruins. Você
estudou lá, não foi?
Tento sonda-la, a fim de ver se ela solta algo, como: saber da minha
existência desde a faculdade ou qualquer coisa do tipo.
— Os dois primeiros anos apenas — responde. — Mas eu era
bolsista, então trabalhava na biblioteca após as aulas, e à noite era babá da
filha de uma das minhas professoras na época, por isso eu nunca me envolvi
com esportes ou festas.
Ela parece pensar por um segundo e aponta para cima.
— Aliás, até fui para uma festa uma vez, sozinha, após levar um
grande chifre, mas não lembro nada daquela noite — diz ao fazer uma
careta.
— Uma grande ressaca no outro dia?!
— Moral e física, mas logo passou, quando descobri que perdi
minha bolsa. — Dá de ombros, apontando para a porta do closet. — Vi no
contrato que não fico responsável pela limpeza em si, apenas por suas
roupas ou estou maluca?
Ela muda de assunto rapidamente, logo, não consigo perguntar
outras coisas.
— Isso, com meus horários malucos, eu esqueço de colocar as
roupas para lavar e sou péssimo em organização. Passei os últimos dois
anos no escuro sobre isso — confesso. — Espero que você possa me ajudar.
— Vou dar meu máximo — Georgia afirma em um sorriso, e eu
acredito.
Saímos do quarto e seguimos para o escritório, lá eu mostro a ela
tudo o que ela vai precisar para trabalhar, que é basicamente um tablet,
celular e computador, onde vai verificar e-mails, pagar contas, organizar
agenda, funcionários e tudo o que for necessário. Dou a ela também todas
as senhas, incluindo das contas que ela vai precisar usar e do cartão de
crédito, e a chave de um dos carros, para que possa se locomover quando
necessário.
— Não vai me alertar sobre o uso indevido das senhas ou do
dinheiro? — pergunta, irônica.
— Não se preocupa, o Chad já está responsável por isso — brinco.
— Tenho certeza disso, ele me odeia. — Seus olhos disparam para
mim, em uma afirmativa.
— Ele odeia todo mundo — respondo. — Agora vou tomar banho,
para sairmos para o treino com a equipe, pode esperar lá na sala ou preparar
as coisas para irmos — digo, e ela concorda.
De volta ao meu quarto, sabendo que ela terá fácil acesso a ele, opto
por trancar a gaveta da escrivaninha e guardar a chave. Assim como decidi
que não vou confrontá-la agora sobre o que ela fez com o carro, também
não acho que é a hora de devolver sua pulseira, dizer quem sou eu e que nos
conhecemos na noite em que ela diz não lembrar de nada.
Mesmo acreditando nela, prefiro aguardar um pouco mais.
Após tomar um banho rápido, visto minha roupa de treino,
colocando um moletom do time por cima, e pego minha bolsa. Desço as
escadas e me encontro com Georgia, já com seu material de trabalho para
hoje em mãos, no entanto o que mais me surpreende, é que agora ela está
sem o gorro e sem o casaco.
Vestindo um suéter branco de mangas longas, uma legging preta e
tênis, o que me admira mais, não é a sua roupa confortável e sim, os cabelos
lisos, talvez deva ser por isso que sinto uma linha se formar no meu cenho,
em pura confusão.
— Algum problema? — Georgia indaga, ao notar minha presença.
— Eu juro que não fiz nada de errado — diz, levantando as mãos em
rendição.
Nego com a cabeça, em resposta e lhe dou um sorriso.
— Nada de errado, apenas fiquei surpreso com o que fez no cabelo.
— Aponto.
— Está feio? — pergunta e passa os dedos pelos fios.
Dou de ombros.
— Apenas acho que prefiro ele cacheado — respondo. — Vamos lá,
Estrelinha? — chamo, indo em direção ao elevador.
— Sim, Chefinho. — Ela me segue.
— Precisa mesmo me chamar de Chefinho? — pergunto, quando as
portas se fecham.
— Precisa mesmo me chamar de Estrelinha? — devolve ela.
— Touché.
Ao chegarmos na garagem, Georgia solta uma risada incrédula.
— Você não cansa de ser rico?! — pergunta retoricamente,
apontando para os cinco carros ali.
— Ainda estou me acostumando com isso — respondo ao entrar na
Porsche, e ela nega com a cabeça, rindo e entrando no carro também.
Bufo uma risada, dando partida no carro, e seguimos para o
Barclays Center, arena do Nets, atravessando a ponte que liga os distritos de
Manhattan e Brooklyn.
— Eu acho isso uma besteira — confessa Hunter, quando chegamos
à arena —, mas o Chad insistiu em fazer as fotos do treino, porque ele não
quer ser um dependente do fotógrafo do time. Tem certeza de que você
consegue fazer isso? — pergunta ao juntar as sobrancelhas.
— Com certeza — minto, assentindo várias vezes.
É claro que eu não sei mexer em uma Canon com várias letras e
números, wi-fi, bluetooth e uma lente maior do que minha cabeça, o
máximo que eu sei na hora de tirar uma foto, é ajustar a luz na câmera do
iPhone.
— Tá bem, vou apenas me trocar e já venho para a quadra, você
pode ficar à vontade na arquibancada — ele diz, e eu continuo balançando a
cabeça em afirmação.
Já há alguns jogadores em quadra, então aproveito o instante em que
Hunter se vai e pesquiso no Youtube como funciona a câmera. Mexo em
alguns botões, a fim de configurar o foco e a iluminação, e aponto para
alguns jogadores, testando a imagem.
Me apavoro no momento em que a imagem trava na tela da câmera,
tento acessar a pasta do drive, encontrando fotos do telão, dos jogadores,
técnico e até mesmo do homem que encera o piso da quadra, e acredite,
todas estão totalmente desfocadas.
Reinicio a câmera e volto no vídeo do Youtube, trago a câmera para
o meu rosto, finalmente conseguindo tirar o desfoque da imagem, contudo,
tudo parece estar focado demais, até mesmo a cintura masculina à minha
frente.
Espera?!
Tem um pau praticamente cobrindo a lente da câmera. Afastando-a
do meu rosto, vejo que na realidade o pau em questão está a cerca de dez
passos de distância. Ele veste um uniforme branco do Nets, e o número oito
estampa seu peito, sua pele é negra, seu rosto quadrado está coberto por
uma barba por fazer, e o cabelo em corte militar.
Ele parece ter a mesma altura de Hunter, entretanto é mais magro.
Lindo na mesma proporção também.
— Dificuldade para ajustar a imagem? — pergunta, apontando para
a câmera com o queixo.
— Mais ou menos — admito a contragosto. — Não sei onde estava
com a cabeça quando disse que sabia mexer em um treco desses.
— É fácil. — Ele ri. — Vem cá, eu te ajudo.
Levantando-me da cadeira, ando em sua direção, levando a câmera
comigo.
— Qual a sua dificuldade?
— O foco — digo ao franzir o nariz.
Ele me mostra como ajustar o foco, que na realidade é bem mais
fácil do que mostrava no tutorial que eu assisti antes. Também me dá dicas
de como ajustar a iluminação, porém eu mesma faço dessa vez.
— Agora tira uma foto minha — ele pede.
Se afastando de mim, o número oito do Nets faz uma pequena
corrida, e eu consigo tirar uma foto sua em movimento. Em seguida, ele põe
as mãos no quadril, manda um beijo e dá um pulo alto.
Consigo capturar todas as suas poses enquanto rio delas, ele retorna
e pergunta:
— Sou um bom modelo?
— Excelente, para falar a verdade — digo, mostrando as fotos que
tirei dele.
— Viu só? Eu disse que era fácil. — Ouço o orgulho na sua voz à
medida que vê as imagens. — Ela já está conectada ao drive?
— Eu acho que sim — respondo, pois até pouco tempo, estava.
— Ótimo, por que não me passa elas depois?
Antes que eu possa respondê-lo, somos interrompidos por Hunter,
que se aproxima de nós lançando uma bola contra o peito do homem ainda
sem nome.
— Vejo que já conheceu o Ezra — comenta Hunter.
— Ele estava me ajudando com a câmera — sinto a necessidade de
explicar.
— Ela é uma ótima fotógrafa — Ezra diz, com um sorriso no rosto,
e eu acompanho.
— Assistente pessoal também — Hunter rebate. — E você não está
autorizado a dar em cima dela.
— Ele não estava dando em cima de mim — me apresso em dizer.
Primeiro, porque tenho medo de Hunter pensar que estou com
segundas intenções, ainda mais no meu primeiro dia de trabalho, e também
porque eu gostei de Ezra o suficiente, para defendê-lo.
— Ah, ele estava sim.
— Eu estava sim — os dois dizem em uníssono.
— Não estava não. — Olho confusa para Ezra.
— Eu estava prestes a te dar meu número...
— Georgia — completo.
— Belo nome. — Ele sorri de canto.
— Não. — Hunter aponta para o peito dele, com a cara fechada.
Alguém chama por Ezra, ele olha para trás e depois corre, mas não
deixa de gritar quando se afasta:
— Foi um prazer te conhecer, Georgia.
Eu aceno para ele em despedida e depois levo meus olhos de volta a
Hunter, que está rindo de cabeça baixa.
— Realmente eu não sabia que ele estava dando em cima de mim,
desculpa.
— Não tem problema — responde, ao dar de ombros. — Ele, além
de ser uma estrela da NBA, também é meu melhor amigo, então eu o
conheço bem para saber que ele é do tipo pega e não se apega.
— Igual a você? — apenas sai.
Rapidamente levo a mão à boca, tampando-a, na intenção de me
calar, só que já era, eu já falei, não tem desculpa para isso, a não ser a
minha impulsividade de merda.
— Ouch — Hunter assobia.
— Desculpa — tento me retratar —, não quis dizer isso. Apenas dei
uma pesquisada em você de ontem para hoje, e meio que vi fotos suas com
algumas mulheres.
— Você quis dizer várias, não? — inquere, levantando a
sobrancelha, e eu respondo com um sorriso triste. — Realmente, eu nunca
fui visto com a mesma companhia mais de uma vez, então eu entendo o seu
comentário.
— Sério?! — indago, surpresa.
— Sim, mas o que mais me chamou atenção, na realidade, no seu
comentário, foi o fato de você ter pesquisado sobre mim — diz ao soltar
uma piscadela, e assim como seu amigo, se afasta.
Não consigo entender a fundo seu comentário, no entanto ele fica
rondando na minha cabeça durante todo o treino, que dura cerca de duas
horas, entre passes e roubos de bola, tentativas de arremessos, e todas as
vezes em que Hunter fez uma cesta de três pontos.
Ele se move na quadra, dominando-a, todo o time age de acordo
com seus passes e seus movimentos, desde o mais agressivo ao mais sutil.
Hunter Blakely simplesmente rouba a cena quando pega a bola laranja e
corre com ela pela quadra.
Mesmo não entendendo nada do esporte, é mágico assisti-lo em
ação. Embora seja apenas um treino, Hunter leva tudo tão a sério, que é
impossível alguém roubar o brilho dele.
Fotografo ele a todo momento e um sorriso estampa meu rosto todas
as vezes em que confiro as fotos, um sorriso ainda maior se curva em meus
lábios no segundo em que o flagro sorrindo para mim com as mãos nos
quadris, um pingo de suor desce por sua têmpora, e seu peito arfa
pesadamente o ar, o que o torna ainda mais atraente. Capturo o exato
instante e faço o post da foto no story do seu perfil, que agora tenho acesso,
e em cerca de minutos já tem mais de vinte mil visualizações.
Como eu disse, ele é uma estrela, e é incrível vê-lo brilhar com tanta
luz ao seu redor.

Após o treino, voltamos para o apartamento do Hunter, ele disse que


precisava assistir a alguns jogos antigos e que entraria em reunião com
Chad e algum patrocinador após isso. Enquanto eu organizava alguns dos
seus e-mails, dei algumas curtidas nos tweets em que ele foi mencionado e
também respondi alguns fãs no Instagram.
Incrível como até dado momento, eu pensava que eram as próprias
celebridades as responsáveis pelas suas redes sociais, mas na realidade,
levando em consideração que estou trabalhando há apenas cinco horas para
uma estrela da NBA, é possível ver o quão a vida dele é atolada de coisas
para fazer. Se para ele é pesado, imagina para uma Kardashian.
Agora, estou entrando na garagem do seu prédio, pois quando
finalizei todos os e-mails, havia uma mensagem da sua chef com o cardápio
que ela irá preparar para a semana, consequentemente verifiquei sua
despensa, e não havia metade dos alimentos solicitados, por isso estou
voltando do mercado.
— Como está o primeiro dia de trabalho? — saúda Zoe alegremente
ao atender a chamada de vídeo que faço no instante em que estaciono o
carro.
— É mais fácil do que eu pensava — confesso. — O mais difícil
mesmo, está sendo lidar com a mentira de que eu fui a responsável por
destruir o carro dele.
— Em sua defesa, ele te sujou inteira.
— Mas em defesa dele, ele é famoso e provavelmente estava com
pressa, com a agenda lotada e não queria ser reconhecido.
Minha melhor amiga faz uma careta, conheço Zoe desde a infância,
infelizmente ela é a irmã do meu ex idiota que me meteu um chifre, porém
não é por seu irmão ser um tremendo idiota, que deixamos a nossa amizade
de lado. Zoe também é dois anos mais nova e está no último ano da
faculdade em Boston, onde tem uma bolsa de Patinação Artística, então
todas as nossas conversas são através de videochamadas e mensagens. Na
noite passada, eu contei a ela sobre o emprego, afinal, ele não é um segredo,
mas a vida pessoal de Hunter, sim.
— Entre a sua razão e a dele, eu fico do lado da sua.
— Bom, a minha razão, agora, se tornou culpa. — Gemo em
frustração. — Ele é tão legal, você não tem noção do quanto.
— A única coisa que tenho noção, é que ele é gato.
Eu rio, porque ela tem razão.
— Como é passar horas ao lado de um grande gostoso e saber que
nunca irá transar com ele?
— Zoe! — repreendo-a em um grito.
— Vai dizer que você não sente nenhum arrepio perto dele?
— Não — estremeço ao responder, e Zoe franze o cenho, duvidando
da minha resposta. — Quer dizer, até sinto. Mas não posso, sou uma
subordinada dele há poucas horas, então não posso nem pensar nele como
algo a mais, preciso desse trabalho e desse dinheiro.
— As coisas ainda estão ruins no café? — inquere melancólica, e eu
respondo apenas com um aceno de cabeça.
— Enfim, já escolheu a sua roupa para o encontro de hoje?
— Sim, espera um pouco.
Ouço-a se levantar da cama, e em seguida ela apoia o celular em
algo, se afastando. Zoe se despe e passa por cima da sua cabeça um vestido
rosa, que logo se ajusta em seu corpo.
Minha melhor amiga é gorda, não fofinha, não forte, gorda. Ela
odeia quando alguém tenta chamá-la de outra forma e se revolta com isso,
uma vez que tem a língua muito afiada. Dizem que os opostos se atraem,
porém Zoe é definitivamente a minha metade da laranja. Ela solta os
cabelos pretos em um corte chanel e calça uma bota que vai até o seu
joelho.
— Gostou? — pergunta.
— A roupa é linda, e você ficou muito gostosa, mas já não está frio
em Massachusetts?!
— Nada de neve ainda, mas frio, sim. Vou usar um casacão por
cima, não se preocupa — diz ela.
Minha preocupação é palpável, uma vez que ela tem asma e sempre
piora com as mudanças de tempo.
— Tudo bem, se cuida direitinho, tá?! Agora preciso ir. Te amo!
— Te amo — responde, antes de soltarmos um beijinho no ar e
desligarmos a ligação.
Pego o elevador e disco o código, para que possa subir de volta ao
apartamento. Noto que tudo está em completo silêncio, então sigo para a
cozinha, fico descalça e sinto o piso quente sob meus pés.
— Chique — penso em voz alta, dando de ombros.
Em seguida, guardo todos os mantimentos no armário e lavo os
legumes e verduras para armazená-los na geladeira.
Antes de sair para o mercado, pedi à April para me enviar a receita
de alguma torta salgada, portanto começo a preparar a massa folhada e
depois faço o recheio de espinafre com queijo ricota. Finalizo a montagem
com um pouco de tomilho e alecrim, o que dá todo um toque especial à
receita, além, claro, do cheiro que se espalha pela cozinha.
No entanto, acredito que não apenas por esse cômodo, como
também pelo restante do apartamento, pois no instante em que tiro a forma
do forno e coloco a torta sobre a ilha da cozinha, eu salto em um susto, ao
ouvir a voz grossa e rouca de Hunter logo atrás de mim.
— Então o cheiro bom é isso aqui. — Ele está literalmente colado
nas minhas costas, pois assim que deixo meu corpo ereto, eu o sinto.
Ele é grande e muito poderoso, não posso evitar o arrepio que sobe
do início da minha coluna até a nuca, fazendo com que todos os meus pelos
se ericem e o maldito do meu centro palpite.
A primeira coisa que me vem à mente é o pensamento pervertido
que Zoe colocou na minha mente há pouco, ao perguntar como é estar perto
dele e saber que nunca irei transar com ele.
E a resposta é, que é difícil para caramba, mais difícil ainda com a
fragrância dele chegando em mim, uma mistura frenética de almíscar e
sândalo, com um pequeno toque de lavanda.
Sinto a veia da minha sobrancelha sobressaltar, em total estresse.
Fecho meus olhos com força, focando apenas no único motivo para eu estar
aqui, que é o mais óbvio de todos. Eu preciso desse emprego.
Eu preciso desse dinheiro.
E se eu quero transar, que eu baixe a porcaria do Tinder no meu
celular outra vez. Sempre deu certo, por que não daria agora?
— É torta de quê?
Por que simplesmente a porcaria do meu chefe é um homem
simpático, bonito, cheiroso, e porra... gostoso pra caralho? Constatei isso
desde que o vi pela primeira vez e quis tomar um pedaço assim que o vi
sem camisa, quando cheguei essa manhã.
O trabalho é fácil. É para ser um trabalho fácil, mas se torna difícil
quando me viro para Hunter, e ele está com um olhar curioso, cabelos loiros
escuros molhados e olhos claros famintos.
— Espinafre com queijo. — Minha voz sai aos frangalhos. Engulo
em seco, fecho os olhos novamente, focando no meu único objetivo e
repito. — Espinafre com queijo — respondo, fitando-o.
— Massa folhada?! — pergunta ao olhar de mim para a torta atrás
de mim.
Seguro a borda da ilha com as mãos, me apoiando nela para ter a
certeza de que não vou cair.
— Sim — confirmo.
— Uma das minhas preferidas — Hunter diz em um sorriso, se
afastando de mim, o que eu agradeço mentalmente. Felizmente, dessa vez,
eu realmente não abri minha boca. — Então, como foi o primeiro dia de
trabalho?
Ótimo, voltamos à etapa chefe e assistente.
— Muito bom, tranquilo — reflito.
— Tirando o fato de que você mentiu para mim — ele diz e tira dois
pratos do armário, me encarando em seguida.
Minhas pernas fraquejam, e logo me passa na cabeça que ele sabe
que fui eu a responsável por destruir seu carro.
— Você disse que sabia manipular a câmera — explica. — O Ezra
me disse que você estava confusa com as configurações.
— Eu não queria perder meu emprego no primeiro dia, por isso
omiti, até pesquisei no Youtube — confesso. — Mas aquilo foi um fracasso,
e no final, seu amigo me ajudou.
Hunter se movimenta pela cozinha, pegando uma espátula e
talhares, para se servir de torta. Eu presto atenção em todos os seus
movimentos, inclusive, não deixo de notar o volume em calção.
— Grande ou pequeno?
— O quê?! — Me assusto com sua pergunta.
— Seu pedaço de torta.
— Ah, pequeno.
Ele me serve e depois coloca quase metade da torta no seu prato,
nos sentamos em banquetas ao lado da ilha e comemos, enquanto
conversamos. Ele elogia a foto que eu tirei dele e publiquei, e também diz
que Chad ficou feliz com a forma como respondi alguns de seus fãs e
organizei os e-mails.
Comento com ele sobre a sua agenda do dia seguinte, que é
basicamente treino, treino, mais um treino, e no início da noite, entrevista
em um podcast, ao passo que eu vou ficar responsável por organizar seu
closet e pagar algumas contas, e claro, voltar às redes sociais. A nossa
conversa faz eu esquecer o arrepio súbito e o desejo que senti por ele.
Na realidade, eu acabo pensando que talvez a presença dele afete
diretamente a falta de sexo na minha vida, afinal, já faz meses que tive
qualquer relação, então é óbvio que um homem que não é da minha família,
com uma voz rouca sobre mim, irá me deixar atiçada, porém apenas isso.
Após o meu término com Bryce eu me centrei em outras coisas,
como trabalhar e ao mesmo tempo conseguir me formar, também aproveitei
para curtir um pouco mais da minha própria companhia, como ir ao cinema
sozinha, ou passar a experimentar novas culinárias, foi a partir daí que eu
comecei a ser tão fanática pela comida mediterrânea.
Mas ainda assim conheci novas pessoas, tive alguns encontros ao
longo dos anos, porém nada além do casual, contudo, o último encontro que
tive faz mais de três meses, então ver um homem gostoso como Hunter,
porque me desculpa, ele é o que é e não há como negar, me causa sim
desejo, mas nada que um match em algum aplicativo de namoro não
resolva.
Calçando novamente meus sapatos e pegando minhas coisas, me
despeço de Hunter.
— Até amanhã, Chefinho.
— Até amanhã, Estrelinha. — Faço uma careta para ele, devido ao
apelido, e ele ri.
Vou embora, já ansiosa para que chegue o outro dia. Olha que esse
foi só o meu primeiro dia de trabalho, e eu já me sinto bem com essa nova
fase da minha vida, imagina só como será o restante.
Minha vida mudou nas últimas duas semanas, devo ser sincero. No
entanto, mudou para melhor, claro.
Ter uma assistente pessoal é melhor do que eu poderia imaginar, e a
Georgia sendo essa pessoa, torna tudo ainda melhor. Às vezes eu sinto um
pouco de culpa por não dizer a ela que já a conhecia, contudo, sempre sinto
que não é o momento certo para isso.
Embora minha agenda seja bastante apertada, e eu não a veja tanto
quanto eu desejo, ainda assim consigo passar alguns minutos dos meus dias
com ela e acabei descobrindo várias coisas sobre a mesma. Como, por
exemplo, o seu fanatismo por Coldplay, desde então, sempre que estamos
no carro, faço questão de colocar para tocar.
Outra coisa que também descobri, é que ela odeia quando alguém dá
um susto nela, por isso estou escondido atrás da porta do escritório,
enquanto ela sobe as escadas, cantarolando.
— Nobody said it was easy. Oh, it's such a shame for us to part...
No instante em que vejo o primeiro pé dela, a chamo em um tom
mais alto:
— Ei, Estrelinha.
Georgia dá um pulo, colocando a mão no coração, na tentativa
regular a respiração falhada.
— Filho da mãe — grita em resposta. — Cara, eu odeio isso. Você
me paga, Hunter Blakely — diz ao trincar os dentes.
E eu realmente vou pagar, acredito nisso, apenas não sei quando. A
partir do seu terceiro dia de trabalho, começamos a trocar sustos. Em
qualquer momento do dia, um se esconde pelo apartamento para dar um
susto no outro, e assim seguimos.
— Não tenho dúvidas disso — respondo. — Já terminou tudo hoje?
— Ainda não. — Ela faz uma careta. — O Chad pediu para que eu
escolhesse uma boa foto sua para algum banner, mas tá difícil.
— Saí lindo em todas?! — questiono ao me encostar na mesa, e ela
dá a volta, sentando de frente para o computador.
— Pelo contrário. — Vira a tela para mim. — Olha essa bunda,
muito murcha. — Ela começa a passar as fotos. — O sorriso nessa então,
muito torto, braço fino, cabelo oleoso, uma espinha enorme no meio da
testa.
— Ok, entendi. Sou um homem cheio de defeitos — digo ao fechar
a tela do computador. — Apenas escolhe qualquer uma e manda para ele,
ele nem mesmo vai ver.
— Você que pensa, o Chad presta atenção em tudo o que eu faço
ainda, ele parece doido para me demitir.
— Pena que não vai — digo de imediato.
O pensamento vaga em minha mente sobre o meu carro, só que logo
o calo, me forçando a esquecê-lo.
— Se você continuar aplicando toda essa confiança em mim, eu vou
acabar acreditando que realmente sou boa no meu trabalho.
— Mas você é. — Georgia vinca as sobrancelhas, me olhando
desconfiada. — Você deixou minhas cuecas brancas, rosas? Deixou. Mas
isso não significa que você seja ruim.
— Justo, sou péssima. Obrigada.
— Cala a boca — repreendo-a, e automaticamente ela fecha os
lábios, deixando-os em uma linha.
Não posso negar que sempre que ela faz isso, me ocorre uma
vontade imensa de prová-la. Seus lábios estão sempre rosados e brilhantes,
devido a algum gloss labial que ela usa, então sempre lembro que o nosso
contato é estritamente profissional e não posso pensar nela dessa maneira.
— Como foi o evento ontem? — finalmente ela pergunta, percebi
que desde que Georgia chegou pela manhã, ela estava se contendo para
fazer essa pergunta.
Foi a primeira vez que eu a vi com um semblante de chateação
também, quando uma modelo que Chad arranjou para me acompanhar no
evento de caridade, apareceu toda arrumada no apartamento assim que
Georgia estava prestes a ir embora. Eu não havia dito a ela que iria
acompanhado, e logo que ela descobriu, seu sorriso murchou, e seus olhos
ficaram opacos.
Não sei porque eu menti sobre isso, uma vez que ela é apenas minha
assistente pessoal, porém é totalmente normal quando se está no hall da
fama, ter acompanhantes para eventos como o que eu fui ontem.
— Não é de bom tom ser visto sozinho — foi o que o meu assessor
me disse, na primeira vez em que eu precisei levar uma acompanhante.
Logo, isso se tornou uma nova realidade para mim e desde então, não
compareço a nenhum evento sozinho, contudo, no de ontem, eu daria tudo
para ter ido sozinho.
— Foi legal, o de sempre. — Dou de ombros.
— Resuma o de sempre — pede, obviamente curiosa.
— Sério?! — Georgia assente, e eu solto uma lufada de ar.
Não porque não quero, mas sim porque não quero admitir o que
aconteceu no final da noite.
— Primeiro, uma limusine veio nos pegar, e quando chegamos,
tiraram algumas fotos nossas. Bebi champanhe, comi alguma besteira
chique, fiz minha doação e voltei para casa.
Georgia me analisa, sem dizer nada, e eu simplesmente confesso.
— Gente falsa e chata pra caramba, mas tudo pelas crianças
carentes, não é mesmo?
— Tudo pelas crianças carentes — responde em um sorriso. — Mas
o principal você não me disse, por que saiu de lá sozinho? — É claro que
ela ia perguntar, o que eu estava tentando esconder.
— Lembra que eu falei, gente falsa e chata pra caramba? Então, a
modelo era uma dessas.
— Segundo algum Instagram de fofoca, o clima entre vocês dois
ficou tenso quando ela tentou beija-lo na hora da doação.
— Sério que essa merda já está rolando por aí? — pergunto, com
raiva explícita.
— Aham — Georgia confirma. — Mas foi ainda durante a noite de
ontem, hoje pela manhã já esqueceram o acontecimento. Alguma
celebridade de Los Angeles entrou em reabilitação, é o assunto do
momento, você já é passado — desdenha. — Mas porque você rejeitaria
beijar uma mulher linda daquelas?
— Você fala como se eu estivesse necessitado de mulher —
respondo em uma careta.
— Sei que não. — Georgia dá um giro na cadeira. — Apenas
pensava que sua vida amorosa era mais movimentada, um dia antes de
começar a trabalhar aqui, mas ela é tão chata quanto a minha.
— Agora você está falando que eu sou um galinha, que está fora de
forma.
O que não deixa de ser verdade. É verdade que antes, todas as
semanas eu era visto com uma mulher diferente, foram poucas as vezes em
que a mídia chegou a dizer que eu estava com um novo affair, as manchetes
estão mais para: “Hunter Blakely é visto aos beijos com uma loira, morena,
ruiva”, e todas as cores de cabelo possível.
Acontece que essa parte minha, fica adormecida durante os jogos da
liga, e agora parece que está hibernando, de tanto tempo que eu não sou
visto beijando ninguém, e ainda fui visto rejeitando minha acompanhante
em uma festa.
Chega a ser irônico, não?
— Quase isso. — Sua boca se curva em um sorriso, e eu passo a
mão no topo da sua cabeça, bagunçando seus cachos.
— E sua noite de ontem, como foi? — pergunto.
— Nada de champanhe ou doação para crianças carentes. Fizemos
as contas do café e encerramos o mês no negativo outra vez.
— Como assim outra vez? — indago, genuinamente curioso.
Happie é um dos melhores cafés do Brooklyn. Certo que nunca fui
um frequentador assíduo do local, porém a minha avó sempre comprou café
e tortas de lá, e quando eu ainda morava no distrito, nunca ouvi qualquer
pessoa falar mal do lugar, eles estão ali há duas décadas.
Por isso eu digo que o destino é muito filho da puta.
Morei por anos no Brooklyn, a apenas cinco quadras de distância de
Georgia, estudamos na mesma faculdade por dois anos, e somente após eu
encontrá-la bêbada em uma noite, é que a bolsa dela foi cancelada, e só vim
encontrá-la de novo quatro anos depois, em uma entrevista de emprego.
Ou seja, tive uma vida inteira para conhecê-la, me aproximar, ser
seu amigo ou algo a mais, sei lá. No entanto, as circunstâncias da vida a
trouxeram para a minha apenas no momento em que eu precisei de alguém,
e ela precisou de um emprego.
— Alguns meses fechamos no positivo, mas na maioria, tem sido no
negativo, isso já tem alguns anos. Meu pai está avaliando fechar o local e
rentar para outra pessoa, talvez. Não está dando mais lucro como há dez
anos — ela diz em um sorriso triste.
— Tem algo que eu posso fazer para ajudar? — me ofereço.
— Infelizmente não, mesmo o café sendo parte das nossas vidas,
apenas sabemos que ele chegou ao seu limite.
Penso em algo para respondê-la, contudo, meu celular começa a
tocar com o alarme que me sinaliza que está na hora de sair para o treino.
— Bom, preciso ir para o treino agora, mas sério, se eu puder ajudar
em algo para o não fechamento do Happie, me fala. — Solto uma piscadela
para Georgia, que devolve com dois polegares levantados e um sorriso.
Devido a um jogo fora de casa, precisei passar cinco dias fora de
Nova Iorque. Saindo da arena do Nets, onde havia deixado meu carro antes
de embarcar, sei que eu não preciso me prolongar no Brooklyn para voltar à
Manhattan, muito menos passar perto do Happie, entretanto algo sussurra
no meu ouvido, me dizendo para passar em frente àquela esquina. Me corta
o coração ver que um local que antes vivia lotado, agora está quase que
entregue às moscas.
O sorriso triste da Georgia também ficou na minha mente durante
todos os dias em que estive longe, deu para notar como ela não queria que a
situação do café da sua família estivesse dessa forma.
É por isso que estaciono o carro em frente ao café e coloco o capuz
do moletom, sempre faço isso, a fim de não ser reconhecido, quando preciso
ser rápido ou tratar de algum assunto pessoal.
Desço do carro e caminho apressado pela calçada. Empurrando a
porta, ouço o sininho tilintar, o que faz chamar a atenção do homem de
meia idade, pele bronzeada — o que não condiz com o clima atual de Nova
Iorque —, cabelos pretos, grisalhos nas laterais, e olhos verdes.
Jared, como tem escrito em seu crachá, olha diretamente para mim,
assim como no dia em que vim entregar o contrato de Georgia. Não há
nenhum cliente no salão, portanto, somos apenas eu e o pai da minha
assistente, que logo me reconhece.
— A Georgia não está aqui — informa, limpando a garganta.
Sorrio para o homem e respondo:
— Eu já desconfiava de que não estaria mesmo. — O canto da
minha boca se ergue em um sorrisinho.
— Posso ajudá-lo de alguma forma? — pergunta, claramente
curioso pela minha presença inesperada no local.
— Um café puro e um pedaço dessa torta de amora para viagem —
peço, olhando direto para o balcão onde estão algumas das delícias servidas
aqui.
— Sim, claro! — responde apressadamente.
Observo os movimentos do homem, e ele domina o local, parecendo
genuinamente feliz com seu trabalho, e eu não o julgo, jamais julgaria.
O brilho dos seus olhos, me lembra bastante os da sua filha. Mesmo
que na aparência, eles dois não tenham nada a ver, é evidente a relação dos
dois quando percebemos os pequenos atos, como os sorrisos furtivos e as
músicas cantaroladas.
— Aqui está. — Jared me entrega o café em um copo, juntamente
com a torta em um recipiente para a viagem.
— Obrigado — agradeço ao pegar a carteira, porém logo sou
impedido de fazer o pagamento.
— Nada disso, cortesia da casa — diz o homem.
— Eu insisto. — Ofereço uma nota de cem dólares, só que ele nega
outra vez.
— Cortesia da casa — repete. — Você já está fazendo o bastante,
apenas em ter contratado a minha filha. Sei que ela é um pouco impulsiva e
algumas vezes, desleixada, mas ela está muito feliz com o emprego, e isso é
o melhor pagamento que você poderia me fazer.
Não consigo evitar o sorriso que brota em meus lábios ao ouvir a
sua confissão.
— Também estou muito feliz com o trabalho da Georgia, mas isso
não significa que eu não vou pagar — digo, deixando a nota em cima do
balcão. — E eu não aceito não como resposta.
— Nem eu — Jared responde, pegando a nota e em seguida, a
levando até uma caixinha. — É por isso que agora, você está doando esse
dinheiro aos animais de rua.
— Boa. — Solto uma risada, lembrando que seria exatamente algo
que Georgia faria. — Agora preciso ir. Foi um prazer, Jared.
— Digo o mesmo — responde, se despedindo.
Saindo do café, vou direto para o meu carro e antes de dar a partida,
tiro o celular da minha bolsa, abro a câmera e aponto para a torta
juntamente com o café, que me foram entregues há pouco.
Ainda que Georgia tenha me dito que não havia muita coisa que eu
poderia fazer para salvar o Happie, eu discordo, e faço algo que talvez faça
Chad me matar ou então dar um grande soco na minha cara. No entanto,
foda-se, já era.
Mal trabalhei nos últimos dias, mesmo tendo um certo tipo de folga
e não precisando vir todos os dias para o apartamento de Hunter, ainda
assim, senti sua falta.
Ele viajou para um jogo contra o time de Denver, admito que essa
foi a primeira vez que assisti a uma partida oficial sua. Mesmo que ele tenha
me convidado para os jogos em casa, eu recusei, pois na minha cabeça, não
tinha nada a ver sua assistente pessoal ir para um camarote ou ficar nos
assentos logo atrás do banco do seu time. Eu tenho tentado manter a nossa
relação profissional, da forma como ela deve ser.
Entretanto, não posso negar que ele mexe comigo, em todos os
sentidos possíveis, e tem mexido com meus sentimentos.
Um deles, que para mim foi inédito, é a saudade. Por isso que, pela
primeira vez na vida, me sentei ao lado do meu pai para assistir a uma
partida de basquete. Ele sempre foi fã do Nets, nunca perdeu um jogo
sequer, contudo, eu sempre ignorei, então eu o surpreendi, quando parei
para assistir.
Ver Hunter jogar em treino com seus parceiros de time é uma coisa,
vê-lo em uma partida é outra, totalmente diferente.
Enquanto nos treinos, ele é só riso, alegria e foco. Em um jogo, ele é
feroz, determinado e dominador. Ele não procura pela bola, a bola que o
acha, sempre.
— Essa jogada que ele acabou de fazer se chama rebote — meu pai
explicou quando questionei. — Quando um arremesso dá errado, ambas as
equipes correm atrás da bola para conseguir a posse e realizar a
finalização da jogada. O Hunter é craque nisso — ele disse, claramente
orgulhoso —, ele sempre pega os melhores rebotes e sempre finaliza as
jogadas em cestas de três pontos, é por isso que ele é um grande candidato
ao MVP[3] da temporada.
Foi depois de gritar feito uma louca quando vi o Nets vencer o jogo,
que eu decidi que no próximo jogo em casa, eu preciso estar lá presente,
sentindo a adrenalina de estar na arquibancada, torcendo. Sou a pessoa mais
sedentária que eu conheço na face da Terra, mas pela primeira vez, estou
me interessando por um esporte, não sei se pela emoção de ter assistido ao
jogo ou se pelo fato de que meu chefe faz parte do time.
E por acaso, ele volta hoje para casa, por isso vim para o
apartamento, arrumei algumas roupas dele no closet e agora estou sentada
no chão da despensa, arrumando as compras que fiz há pouco, quando ouço
meu celular pessoal tocar.
O nome, juntamente de uma foto do meu irmão, aparece na tela.
Assim que deslizo o dedo para atender a ligação, fico de boca aberta com o
que vejo.
— O que aconteceu aí? — pergunto, perplexa.
— Você aconteceu, Jorgie. — Quando criança, Luca não conseguia
chamar meu nome da forma certa e depois, nunca deixou de me chamar
assim.
Uma linha aparece na minha testa, pois eu não entendo o que ele
acaba de dizer.
— O que eu tenho a ver com o Happie estar lotado, Luca? — Não
consigo compreendê-lo.
— A foto que você postou, você pode se foder por isso, mas eu
acredito que você salvou os negócios da nossa família. A April está lou...
— Eu não postei foto nenhuma, Luca — interrompo. — Por que eu
iria me foder? Eu não estou conseguindo te acompanhar, me dá uma luz,
por favor — peço.
Luca semicerra os olhos, me encarando através da tela e ele vê,
assim como eu, a minha cara de desesperada, pois eu não estou entendendo
nada. É bom ver o café lotado de gente?! Claro que sim, nós estávamos
discutindo o fechamento dele antes mesmo de eu ser contratada nesse
emprego, eu tentei de tudo para fazer bombar.
Aprendi a mexer no photoshop para fazer uns posts legais na página,
gravei inúmeros vídeos, a coitada da April foi a cobaia enquanto cozinhava,
até mesmo cheguei a pagar um influenciador que recomenda comidas nos
cinco distritos de Nova Iorque, mas continuamos nos afogando.
Porém, como eu fui a responsável pelo café estar lotado
subitamente? E por que eu me foderia por isso?
Simplesmente não entendo, contudo vejo que meu irmão sim,
quando seu rosto se ilumina, e ele fala:
— Abre o perfil do Hunter.
— O quê?
— Apenas abre o perfil dele, Jorgie.
Fazendo o que meu irmão diz, pego o outro celular, que é do
trabalho, e abro o Instagram, que está conectado na conta de Hunter. No
momento em que saio do feed e entro no perfil dele, meu coração se aperta,
e uma lágrima desce pelo meu rosto.
Não é algo triste de se ver, nem lindo, é apenas uma foto de uma
torta e de um café, publicada há duas horas, com mais de quatrocentas mil
curtidas e quase cem mil comentários.
“Melhor forma de voltar à NY”, é o que o diz a legenda da foto.
Exatamente no meio da foto, onde está posicionado o copo de café, que tem
a logo do Happie, está a marcação do nosso perfil, além, claro, da
localização.
E junto da lágrima de felicidade, um sorriso estampa o meu rosto.
— Realmente não foi você — Luca me tira do meu transe.
— Não, não fui eu. E eu não acredito que ele fez isso.
— É, eu também não. — Meu irmão ri, sem jeito. — Agora preciso
ajudar no balcão, as coisas estão loucas aqui, mana. Liguei para te
agradecer por isso, mas já que você não é a responsável, agradece ao
Hunter por mim.
— Por nós. — Ouço a voz do meu pai gritar, e a pontinha da cabeça
dele aparece.
Ele está com um sorriso no rosto, meu irmão também, e eu. Embora
não esteja vendo a April e a mamãe na tela, tenho certeza de que ambas
também se sentem extasiadas com esse momento.
Quando finalizo a ligação, tento continuar o meu serviço, entretanto
os meus dedos não param de desbloquear a tela do celular e atualizar a foto.
Assim como as curtidas vão aumentando, naturalmente, os seguidores no
perfil do café também.
Me levanto, deixando ambos os celulares na despensa, e caminho
rumo ao banheiro, a fim de respirar e conter a alegria grudada no meu peito,
um grito ensurdecedor que deseja abandonar minha garganta a qualquer
momento. No entanto, eu não estou na minha casa para gritar em alto e bom
som.
Por isso que devo me contentar, prendendo meus cachos rebeldes e
passando uma água fria no rosto.
A imagem de inúmeras pessoas no salão se repete várias vezes na
minha mente, e isso é tão bom. Não por conta do dinheiro, por mais que ele
seja uma consequência, e das boas. Eu e meu irmão crescemos dentro
daquele café, vimos nosso pai construí-lo, assim como também assistimos
uma nevasca quebrar as portas e janelas de vidro, acompanhamos a reforma
e sobrevivemos a várias crises. Também foi meu primeiro emprego, foi
através dele que consegui dinheiro para estudar em outro estado, e mesmo
que não tenha conseguido concluir em uma faculdade apenas, ainda é
motivo de orgulho para mim.
Não foram apenas as mãos do meu pai que construíram aquele
negócio, foram também as tortas da April, o cappuccino perfeito da minha
mãe, a gentiliza do Luca ao atender cada cliente, e as tantas vezes que eu
quebrei pratos e canecas enquanto lavava as louças.
E hoje, quando a única coisa em que pensamos era em desistir de
tudo o que construímos ao longo dos anos, Hunter nos deu a esperança do
nosso sonho continuar de pé.
Talvez seja por isso que, no instante em que eu ouço as portas do
elevador se abrirem, eu saio do banheiro de pés descalços, correndo sobre o
piso aquecido do apartamento de luxo do meu chefe, que também é um
atleta seguido por dezenas de milhões de pessoas e a minha nova pessoa
favorita.
Ele me vê no momento em que o vejo. Ele veste uma calça moletom
preta e seu inseparável moletom preto do Nets. Um sorriso largo brota em
seu rosto, e eu não ligo que ele esteja acompanhado do seu empresário, que
tanto me odeia, eu apenas corro em sua direção, e logo que nos esbarramos,
eu pulo contra seu corpo forte e alto, que me abraça, me prendendo contra
ele, e eu juro, essa é a melhor sensação do mundo.
— Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada — repito por inúmeras
vezes, sem soltar Hunter, e ele me deixar soltá-lo também.
Eu poderia beijá-lo agora, não nego. No entanto, apenas beijo a sua
bochecha, sentindo a sua barba por fazer arranhar meus lábios, porém isso
não me incomoda.
— Acho que meu plano deu certo então — ele diz quando me solta,
e eu fico de frente para ele, erguendo minha cabeça para enxergá-lo.
— Você acha? Deu mais do que certo, está uma loucura lá, eu não
sei nem como te agradecer por tanto — digo ao passar a mão no rosto, não
contendo o sorriso nele. — Eu já te disse obrigada?!
Hunter ri.
— Já, mas eu amaria ver você dizer de novo do mesmo jeito.
Eu entendo o que ele quer dizer, só que quando me afasto para
performar meus repetidos agradecimentos, sou parada pela careta
estampada no rosto de Chad.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? — ele
pergunta.
Eu nego com a cabeça, e Hunter solta um assovio antes de
responder:
— Você realmente não vai querer saber, cara.
— Não vai mesmo — confirmo, presumindo o escândalo que ele vai
dar quando vir a foto e as marcações.
— Que seja. — Levanta as mãos, derrotado. — Você já disse a ela?
— pergunta diretamente a Hunter.
— Não, eu cheguei agora.
— Então fala — diz Chad, se afastando.
Meus olhos estreitam-se quando lanço minha atenção para o atleta à
minha frente. Dessa vez o sorriso se foi, porque eu sou tomada pela
curiosidade de saber sobre o que Chad estava falando, não preciso
perguntar, pois logo Hunter indaga:
— Você viu minha agenda para essa quinta?
Eu penso por um momento, tentando me lembrar o que há para ele
fazer nessa semana.
— Sim — respondo. — Você tem um jogo em Chicago e deve
embarcar depois de amanhã, junto com o time.
— Já esteve em Chicago antes, Estrelinha?
Franzo o nariz, fazendo uma careta.
— Não.
— Ótimo, vou passar o fim de semana lá também, você gostaria de
vir comigo?
— Você está falando sério? — quase me engasgo ao perguntar, sem
acreditar.
— Sim, inclusive já está liberada para arrumar suas coisas. Já falei
com o piloto, viajamos cedo amanhã.
— No seu avião?
— No meu avião.
Solto um murmúrio em resposta. Hunter pisca para mim, e eu não
entendo. Continuo atônita à situação.
— Sério que eu preciso ir?
— Lembra que no contrato dizia que haveriam algumas viagens
dentro e fora do país que você participaria? — Assinto com a cabeça. —
Essa é uma delas — ele responde em um sorriso simpático.
— Então, eu já posso ir? — digo, apontando para a porta.
Hunter murmura um sim, e eu me aproximo dele, antes de me
despedir. Pegando-o desprevenido, fico nas pontas dos pés, dando o meu
máximo para alcançar sua bochecha, quando não consigo, me contento com
a sua garganta e logo sinto que errei, quando além do beijo estalar contra a
sua pele, eu também me arrepio.
Uma estranha sensação de “quero mais que isso”, emana por todo o
meu corpo.
Sinto meu rosto esquentar em pura vergonha e me afasto.
— Obrigada novamente — repito o agradecimento.
Os olhos de Hunter estão brilhando enquanto ele me encara. Não
estão tão verdes e sim, azuis, um pouco mais claros, e é lindo o tom que se
forma juntamente com sua pele alva bronzeada.
No segundo em que ele nota que está há muito tempo imóvel, coça
a garganta audivelmente e leva a mão até sua nuca, passando os dedos sobre
o cabelo aparado ali.
— De nada — diz, dessa vez totalmente sem jeito, assim como eu.
— Agora vou indo — digo, me afastando.
Meus olhos não abandonam os seus à medida que dou passos para
trás, deixando-o sozinho na sala, e apenas quando me viro, indo em direção
à cozinha para pegar minhas coisas que deixei ali, é que finalmente paro de
encarar seus olhos. Contudo, ainda os sinto em mim, queimando a minha
pele, observando os meus passos.
Georgia está sentada na minha frente.
Os planos originais para essa viagem, assim como para a maioria,
era que ela fosse feita com todo o time. Contudo, com a vinda de Georgia,
preferi embarcar no meu jato particular, e assim, também iremos chegar um
dia antes.
E eu estava certo quando pensei que essa viagem deveria ser feita
apenas por ela e eu, porque está claro, pelo tanto de vezes que ela passou a
mão no seu suéter, quão molhada ela deve estar de suor, sem contar os seus
dedos trêmulos. Sendo impossível não reparar.
— Por que você não se senta ao meu lado? — pergunto, seus olhos
castanhos escuros sobressaltam, tirando a sua atenção da janela do avião
ainda em terra e vindo em minha direção.
— Tem certeza? — responde, apreensiva.
— Vem — chamo novamente, estendendo a mão para encorajá-la.
No momento em que Georgia se senta ao meu lado, ela tenta atar o
cinto, porém o trabalho se torna árduo quando ela tem mãos tão tremulas.
Decido ajudá-la, pedindo licença para encaixar o fecho do cinto na fivela e
depois puxo-o, para ter certeza de que está preso.
Noto o rubor crescer desde a garganta de Georgia, subindo por toda
a sua extensão, até cobrir seu rosto alvo.
— Você tem medo de avião? — indago, cauteloso.
Não por medo da sua resposta, mas por medo da minha pergunta
deixá-la desconfortável, mais do que já está.
Georgia limpa a garganta e confirma, balançando a cabeça em uma
afirmativa.
— Nunca andei, para falar a verdade — ela diz, em um dos seus
sussurros audíveis.
Sorrio, solidário.
— A primeira vez realmente é sempre a mais assustadora. Mas com
o tempo você se acostuma.
— Acho muito difícil — ela diz, em uma careta.
— Por quê?
— Eu assisti a vários vídeos na noite passada, e nenhum deles
explicava como uma coisa dessas, tão grande e pesada, simplesmente
consegue sobrevoar tão alto e ainda ser tão rápido. Nada explica isso.
Tento não rir da sua resposta.
— Você assistiu a vídeos de como um avião funciona ou de
acidentes de avião? — pergunto, pois pelo pouco que conheço de Georgia,
sei bem que sempre que ela tem dúvida sobre algo, imediatamente ela
procura algum vídeo que explique.
— Um pouco de cada — responde, porém eu não me contento com
sua resposta e cerro os olhos ao encarar seu lindo rosto, um pouco menos
vermelho agora. Ela solta um bufo antes de assumir. — Acidentes. Eu
passei a noite assistindo vídeos de acidentes de avião, turbinas parando de
funcionar, asas caindo, pilotos desmaiando durante o voo, pássaros
atacando as duas turbinas, falta de gasolina. São inúmeros fatores, Hunter.
— Seus olhos brilham. — Inúmeros!
— Inúmeros fatores da física também explicam como uma “coisa”
— faço aspas com as mãos — tão pesada e grande como essa, é capaz de
sobrevoar. As turbinas servem para puxar o vento, e as hélices menores
comprimem o vento que é sugado por elas, isso causa a aceleração, o que
causa o impulso para o avião voar. Mas basicamente, é devido ao vento e à
aceleração, que se comprimem e fazem subir, assim como se manter no ar.
Georgia está me encarando, seu nariz está franzido, assim como o
cenho, e a veia em seu supercílio pulsa, ela está estressada e é óbvio que
não entendeu nada.
— Não entendi nada — confessa o que eu já sabia.
Eu rio.
— O avião só cai se as turbinas pararem de funcionar, Georgia.
— E se a gasolina faltar?
— Não vai faltar gasolina, até porque o avião não se abastece com
gasolina, é querosene.
Ela nega com a cabeça, não acreditando no que eu digo.
— Ahn, mas e se um bando de pássaros decidirem colidir com o
avião, e alguns deles ficarem presos nas turbinas? A turbina vai parar de
funcionar, e se parar de funcionar, o avião cai.
— Você assistiu a algum vídeo que aconteceu isso?
— Foi você quem disse que o avião só cai se as turbinas pararem de
funcionar, então se um pássaro entra na turbina, ela para — explica, porém,
outra vez eu não me convenço. — Sim — exclama. — Houve um acidente
em que um avião caiu devido um bando de pássaros.
— Nenhum pássaro irá cruzar nosso caminho — respondo
tranquilamente.
— Como você pode ter tanta certeza disso? — Dou de ombros,
caçando meu celular nos bolsos. — Mas, e se o piloto desmaiar? — Eu olho
para ela, com um olhar que diz claramente que isso não irá acontecer.
Alcançando a minha mochila, que está aos meus pés, tiro de lá um
fone de ouvido e também uma caixa de chiclete.
— Esse avião tem caixa preta?
— Sim.
— E onde ela está?
Questiona enquanto conecto o celular ao fone e abro um dos
chicletes.
— Não sei — respondo. — Abre a boca.
Peço, e ela faz, depois pego os fones e coloco em seus ouvidos.
— O que é isso? — pergunta, curiosa.
— Quando o avião começar a subir, meio que seus ouvidos irão
entupir devido à pressão que é feita durante a subida e também durante os
primeiros minutos de viagem, manter a sua boca em movimento de
mastigação vai ajudar e não incomodar tanto — explico. — E bom, o fone
serve para isso também, para tapar seus ouvidos, além, claro, de música
para você relaxar — ao finalizar, aperto o play na playlist do Coldplay. Seus
olhos brilham, e um sorriso brota em seu rosto, que começa a relaxar ao
som de A Sky Full of Stars da banda.
O piloto avisa que vamos começar a decolagem, notificando
também o tempo de viagem. Pede para que não tiremos o cinto, apenas em
caso de precisarmos ir ao banheiro, e dá avisos sobre segurança durante o
voo.
Somos apenas nós dois de passageiros, entretanto isso não altera o
fato de que ele precisa dar os avisos necessários.
O avião começa a taxiar pela pista de voo, e meus olhos continuam
focados em Georgia, que masca o chiclete com força, tentando se
concentrar na música que reverbera nos fones. Assim que sente o avião
pegar velocidade, ela fecha os olhos, espremendo-os.
Noto que sua perna começa a balançar, nervosa, e ponho a mão
sobre seu joelho, na intenção de que ela pare e também como uma forma de
dizer que estou aqui. Surpreendo-me quando o avião começa a decolar, e
ela pega a minha mão, segurando-a com força. E eu deixo.
Ela praticamente esmaga a minha mão, e mesmo que seja a mão
com a qual eu ganho milhões, eu deixo. Eu faço tudo para que ela se sinta
tranquila durante essa viagem.
Quero que ela se sinta tranquila e segura à minha volta. Mesmo que
eu não veja nenhuma ameaça em sua vida, pequenas coisas, pequenos
medos dela me fazem ter empatia por ela.
Isso aconteceu quando ela vomitou aos meus pés, aconteceu
também quando chegou toda amarrotada para entrevista, na gravação de
vídeo do estacionamento ou quando eu decidi postar uma foto que me fez
levar vários puxões de orelha do Chad.
De início, ele não soube o motivo de tantos agradecimentos de
Georgia, porém quando soube, isso quase me gerou uma dor de cabeça
enorme, mas eu estava feliz, porque ela estava feliz.
— Não tenho nenhum patrocínio com qualquer café, então isso não
atrapalha em nada — essa foi a minha resposta, acompanhada de um dar
de ombros. Eu juro que pude ver a fumaça saindo dos ouvidos de Chad ao
passo que seu rosto esquentava.
E mesmo com raiva de mim, eu ainda estava agradecido por ele ter a
ideia brilhante de que minha assistente pessoal precisaria me acompanhar
nessa viagem, uma vez que eu vou precisar estender a minha estadia em
Chicago para uma entrevista na ESPN e uma participação em um podcast.
Meu próprio agente disse que talvez eu precisaria de algum suporte durante
esses dias e que eu deveria trazê-la.
Claro que ele entortou a boca para mim enquanto revirava os olhos,
quando eu sorri sorrateiramente para ele.
Trinta minutos depois da decolagem do avião, noto que Georgia está
com a respiração mais pesada e que o suor na palma da sua mão se foi.
Constato que ela está dormindo, quando sua cabeça pende para o lado, em
cima do meu ombro.
Levo minha mão livre até seus cachos, fazendo carinho neles, que
são tão macios quanto na noite em que a conheci.
Com o passar dos anos, ela foi se apagando da minha mente,
tornando-se apenas uma memória vaga, mas agora, com ela dormindo
praticamente em meus braços, à medida que afago sua cabeleira, que emana
seu cheiro doce, meu coração se comprime, assim como o ar que entra nas
turbinas do avião. E durante as próximas duas horas, eu sinto que estou
voando em meus próprios pensamentos.
Sempre soube que Georgia havia mexido comigo, e cada dia que
tenho passado ao seu lado, só prova quão certo eu estive em tudo isso,
porém eu não sei do que se tratam os meus sentimentos por ela. A única
coisa que eu tenho certeza, é que ela me faz bem, estar com ela me deixa
feliz, seu sorriso me faz sorrir, e todos os dias eu quero acordar na
esperança de vê-lo brotar em seu rosto.
Passando as pontas dos dedos sobre sua bochecha no momento em
que o avião aterrissa, lá está ele, seu sorriso doce e gentil acompanhado de
um brilho único nos olhos, que apenas ela tem.
Meu coração acelera, meu estômago embrulha, e eu me pergunto se
estou enjoado, só que eu não sinto vontade de vomitar, apenas sinto um
gole seco pairar em minha garganta e me obrigo a engoli-lo.
Com um sorriso estampado em meus lábios, digo:
— Bem-vinda à Chicago, Estrelinha.

Após nos instalarmos no hotel, Georgia recebeu uma ligação de


Chad, dizendo que o convidado que iria participar do podcast hoje teve um
imprevisto, e ele avisou que estaríamos lá.
Mesmo contra a minha vontade, pois eu pensava que iria ter um dia
inteiro de folga, me obriguei a ir. Georgia, claro, me acompanhou. No final,
até que se tornou algo leve e divertido, o papo rendeu por horas e houve um
momento em que havia mais de trezentos mil acessos simultâneos.
A pergunta que não parava de sair era sobre o MVP do campeonato
desse ano. Por mais que ainda estejamos no meio da temporada, muitos
acreditam que eu posso levar para casa o troféu do jogador mais valioso,
além do anel, óbvio. Me obrigo a manter os pés no chão e responder de
forma educada que ainda é tudo muito incerto, mas que estou batalhando
por esse título, assim como os demais.
— Devo dizer que ela está caidinha por você — Georgia diz,
quando estamos falando sobre uma das hosts, do programa.
— E quem não está? — brinco, dando de ombros.
— Se você não fosse o meu chefe, eu te chamaria de um belo pau
mole que se acha — diz em um sorrisinho.
— Você nunca o viu pra saber se é mole.
Ela bufa uma risada.
— Pena que eu não posso mostrar o dedo do meio para você, Hunter
Blakely.
— Tudo bem, talvez eu me ache, mas garanto que não há nada mole
em mim. — Solto uma piscadela para ela, que revira os olhos. E então me
toco de algo. — Espera... isso não é considerado assédio sexual, é?
— “Breaking News: Atleta renomado é preso por assédio sexual
contra a sua assistente pessoal, após dizer que sua chibata vive dura”.
Agora é minha hora de soltar um riso.
— Chibata, sério? — digo, abaixando o cardápio.
Já passava das oito da noite quando saímos do estúdio, e eu não
estava a fim de comer comida de hotel, então usando o privilégio de ser um
dos melhores da Liga, usei meu nome ao meu favor, na hora de ligar para
um restaurante e pegar uma mesa reservada para dois.
— Enquanto você está impressionado com minha variação
linguística, eu estou vendo o valor de um fígado de pato. Sério, um fígado
de pato? E me pergunto em que realidade alternativa é essa que você vive
para pagar isso — muda o assunto.
— Cartão da empresa — brinco, mostrando o plástico preto na
minha mão.
— Eu me recuso a comer uma perna de rã com pão por duzentos
dólares. — Ela se levanta. — Vamos embora daqui.
— Georgia — a chamo. — Você não está falando sério, está?
— Perna de rã, Hunter, perna de rã!
— É típico francês.
— Prefiro algo típico do Brooklyn.
— Tipo o quê?
— Sei lá. — Ela levanta as mãos. — Cachorro-quente, bagel, pizza.
Para falar a verdade, não é uma má ideia.
— Tudo bem. — Dou de ombros e a acompanho.
Quando me levanto da mesa, o garçom chega com uma garrafa de
vinho branco. Eu tenho jogo amanhã e não posso beber, e quando perguntei
à Georgia o que ela bebia, pedi a melhor garrafa de vinho branco da casa, e
aqui está ela.
— O vinho a gente leva — ela diz.
— Posso levar a garrafa? — pergunto ao garçom, e ele assente,
hesitante.
Pago a garrafa junto à conta, dando uma gorjeta para compensar a
saída e qualquer possível confusão. Tão logo chego do lado de fora, entrego
o vinho à Georgia, e o motorista do nosso carro, abre a porta para que
entremos.
— Para onde a gente vai, Georgia? — pergunto, quando entro no
carro.
— Ao primeiro carrinho de cachorro-quente que vermos pela frente
— informa.
— Você é doida. — Ela responde com um dar de ombros.
Duas quadras depois, encontramos exatamente o que ela procurava.
Após ela dar um grito, o motorista para, e descemos do carro. Ela pede o
dela com bastante ketchup, para falar a verdade, tem mais ketchup que pão
e salsicha, e o meu é sem molho.
Não consigo controlar o gemido que escapa pela minha boca ao dar
a primeira mordida no cachorro-quente. Minha boca saliva, e em questão de
um minuto, já acabei com todo o meu lanche. Peço outro, sem nem pensar
duas vezes.
— Acho que essa foi a primeira vez que eu ouvi um orgasmo por
conta de comida — Georgia diz, com a boca melada de molho.
Pedindo licença, me aproximo dela, levando um guardanapo, e
limpo sua boca.
— A última vez que eu comi um cachorro-quente, eu estava em Yale
— assumo. O que faz minha assistente escancarar a boca.
— Como você mora na capital do cachorro-quente e não come
cachorro-quente? — indaga, incrédula e dá um gole direto na garrafa de
vinho, que ela abriu ainda dentro do carro.
— Eu tinha apenas dez anos quando comecei a jogar. No ensino
médio, meu nome já circulava nas grandes comitivas de esporte, e eu
sempre tive um sonho em mente, então para isso eu vivi e vivo uma vida de
foco, dieta e treinos todos os dias. Então dificilmente eu tiro proveito de
coisas simples, como um cachorro-quente.
— Acredito que eu nunca conseguiria ser uma atleta, se fosse
depender de uma dieta saudável para isso — ela diz, se melando ainda
mais.
O moço do carrinho me entrega o pedido, e eu agradeço, fazendo o
pagamento. Nós dois começamos a andar pelas ruas do centro de Chicago,
que é tão movimentada quanto Nova Iorque, mas não se compara.
— Isso depende muito de como você encara seus focos e objetivos.
E o meu único, desde que me entendo por gente, é ser uma grande estrela da
NBA.
— E você já conseguiu isso — ela diz, um tanto quanto orgulhosa. E
toma outro gole do vinho. — É por isso também que você nunca namorou?
— Quem disse que eu nunca namorei? — digo, parando e fazendo
sinal para o motorista parar de nos acompanhar.
— Namorou?!
Pendo a cabeça de um lado para o outro, pensando.
— Uma vez, no ensino médio. O nome dela era Lily, e ela era do
grupo de teatro da escola, ficamos juntos por cinco longos meses.
— E por que acabou? — indaga, finalizando o seu cachorro-quente
e dando outro gole no vinho.
— Vai com calma, campeã.
— Eu tenho uma tolerância alta para álcool.
— Aham — murmuro desconfiado, lembrando da forma como a
conheci. — No ensino médio, eu já era visado, então ela queria ser também.
Eu estava chegando na escola quando ela se ajoelhou na porta, e várias
pétalas de rosas voaram pelos corredores, ela tinha duas alianças e estava
me pedindo em casamento.
Georgia se engasga quando escuta a história, eu imediatamente jogo
minha comida no chão e tomo a garrafa de suas mãos, dando leves tapas nas
suas costas. Entretanto, só noto que na realidade ela está rindo e não
passando mal, quando ela coloca as mãos em meus ombros e me olha.
— Você não estudou na Midwood, estudou? — pergunta em meio à
risada.
— Sim — respondo, levantando a sobrancelha, confuso. — Por
quê?
— Eu vi isso acontecer. Naquele dia, encontrei a pobre Lily no
banheiro, chorando, achei ela uma louca, claro, mas não deixei de me
solidarizar com a pobre coitada que havia acabado de levar um pé na
bunda.
— Você estudou na Midwood? — agora quem pergunta sou eu,
perplexo. Georgia assente. — Como eu nunca te encontrei antes? —
pergunto mais para mim, do que para ela, porém logo sua voz doce
responde.
— Vai ver os nossos mundos ainda não estavam ligados.
Uma pergunta paira em minha mente, uma pergunta que eu me fiz
logo antes do seu primeiro dia de trabalho, a qual eu havia esquecido, mas
que escolhe o momento em que Georgia pega de volta o seu precioso vinho,
para escapar da minha boca.
— Você realmente não se lembra de mim em nada?
— Como assim? — Confusão estampa seu rosto ao tomar outro
gole.
— Moramos no mesmo bairro, estudamos na mesma escola, mesma
faculdade. — Você vomitou em mim e dormiu nos meus braços, digo para
mim. — E em todos esses momentos, você só veio saber da minha
existência no dia da entrevista?
— Por incrível que pareça, sim — responde, com a bebida em mãos.
— Eu nunca fui o tipo de garota que observa o mundo inteiro, eu observo
apenas o que me cerca. Talvez, isso possa parecer egoísmo, mas juro que
não é, é apenas a minha forma de dar valor a tudo que está à minha volta, e
você nunca esteve em minha volta antes, até aquele dia. E você, lembra de
mim antes disso? — ela pergunta assim que chegamos em frente ao hotel.
— Não — minto. — Meu foco sempre foi o basquete.
Falo a verdade, mesmo sentindo que esse sentimento tem começado
a mudar dentro de mim. Algo tem tomado o meu foco além do esporte, e eu
não sei o que fazer quanto a isso.
Estar em Chicago é ótimo, hospedada em um hotel cinco estrelas
então... maravilhoso!
Para falar a verdade, nunca estive em um hotel antes, ainda mais em
um hotel caro. Ontem, como Hunter teve treino antes do jogo, ele ficou
direto com o time, por isso, eu meio que aproveitei todo o conforto do
hotel.
Está bem, meio não. Eu aproveitei, e muito. Hoje ele disse que ia
descansar para o jogo e que iria assistir alguns jogos antigos do time
adversário, logo, eu aproveitei para conhecer um pouco a cidade e acabei
almoçando em um restaurante mediterrâneo, que ficava às margens do rio
Michigan, no Navy Pier. Resumindo, meu único trabalho entre ontem e
hoje, foi pedir a janta para o meu chefe. Às vezes, eu não sei se meu
trabalho é realmente leve ou se Hunter que não me sobrecarrega.
Quer dizer, para um homem solteiro, rico – e coloca rico nisso –,
atleta e famoso, até menos de um mês, ele se virava praticamente sozinho,
então pode ser sim, que meu trabalho seja leve.
No entanto, nesse exato momento, eu o amaldiçoo por ser um
homem tão esquecido, pois ele acaba de tornar meu trabalho pesado, devido
à corrida que faço pelos corredores internos do United Center, a arena onde
acontece o jogo de hoje.
— Eu tenho certeza de que já passei por aqui — digo ao olhar para
uma saída de emergência, ainda correndo.
Mais cedo, Hunter e eu nos encontramos antes de ele sair do hotel
com o ônibus que levava o time, e ele acabou trocando nossos celulares,
quer dizer, os celulares dele. De toda forma, eu preciso do celular que está
com ele, para atualizar seus fãs durante o jogo, e ele precisa do dele para sei
lá o quê.
A sorte é que eu estou usando uma legging e tênis, porque se eu
fosse me vestir como a maioria das mulheres que andam por aqui, de saltos,
botas e vestidos curtos, com certeza eu já teria me estabanado no chão. A
diferença é que elas são prováveis namoradas e esposas troféus enquanto
eu, sou apenas uma assistente pessoal desastrada e azarada.
Ou eu realmente pensava que as últimas semanas e todas as coisas
boas que aconteceram durante o último mês, foram o suficiente para que eu
pudesse esquecer esse lance de azar?
Errada, Geórgia, muito errada.
À medida que corro, tento ler o que há escrito nas portas, a fim de
encontrar o vestiário onde Hunter está, contudo, meu corpo vai contra uma
grande e alta parede de músculos, que deveria ser confortável, uma vez que
se trata de uma pessoa, entretanto é ardente, quase que queimando a minha
pele.
Noto que realmente está queimando, quando me afasto
minimamente do corpo, ao qual eu não faço questão de dar um rosto, vendo
a minha blusa branca toda suja de café.
— É sério que você não olha por onde anda? — brado, tentando
limpar o líquido quente que entra no vão entre meus peitos. — Não basta
ser um brutamontes, tem que sair esbarrando em tudo pela frente? — Ao
levantar o meu olhar, encontro um rosto franzido, em puro ódio.
Ele é alto, porém um pouco mais baixo que Hunter, também tem a
pele bronzeada, mas não tão brilhante quanto a dele, e seus fios pretos estão
presos em um coque samurai. E claro, tem uma grande cara e jeito de
babaca.
— O quê? Você acha que eu tenho medo de cara feia? — continuo
confrontando-o. — Olha o que você fez comigo — exclamo ao evidenciar
toda a minha pele exposta, agora pegajosa, e minha blusa suja.
A resposta vem logo em seguida, só que não é dele, e sim, de
Hunter, que aparece logo ao lado da parede de músculos que me derrubou.
— Georgia? — Hunter me chama. — O que aconteceu aqui? —
pergunta, atônito, ligando seus olhos diretamente aos meus. A ficha dele cai
quando ele vê o meu estado sujo e melequento, além, claro, do arco dos
meus seios, coberto de café. — Quem fez isso com você? — indaga, se
aproximando e verificando meu estado, claramente preocupado.
— Ela mesma — a voz grossa do homem que esbarrou em mim
responde, fazendo com que Hunter e eu viremos nossos rostos em sua
direção. — Se não fosse uma galinha tão desesperada pelos ovos de ouro,
ou eu diria, pela salsicha de ouro, prestaria mais atenção no que há na frente
dela. — Seu rosto é puro deboche, assim como suas palavras, que fazem
minha pele arder em raiva.
Ele acabou de me chamar de galinha e ainda insinuou que eu sou
interesseira?
— O que você disse? — rosno, dando um passo em sua direção.
— Sobre qual parte você se refere? A que você é desesperada ou
uma galinha? — ele pergunta, erguendo a sobrancelha, e minha boca
despenca, chocada com tamanha audácia dele, enquanto ele volta seu olhar
para Hunter, ao meu lado. — Somente você mesmo para se envolver com
uma putinha desastrada, Blakely.
Sinto minhas carnes tremerem e eu estou louca para dar um soco na
cara desse grande arrogante filho da mãe.
Contudo, sou movida por Hunter, que entra no vão entre nós, se
aproximando do homem um pouco mais baixo que ele.
— Repete — Hunter diz, autoritário, e noto seus olhos se
estreitarem ao passo que sua pele adere ao tom de vermelho. O idiota em
questão, apenas franze o cenho, como se estivesse confuso. — Chama ela
de galinha ou de puta de novo se for homem, Josh — continua
confrontando-o.
Josh ri de escárnio. Ele não repete em alto e bom som, ele encosta
sua testa na de Hunter e fala silenciosamente, apenas movendo os lábios:
— Puta.
É nesse instante em que vejo tudo à minha volta se tornar um vulto,
pois em um segundo, Hunter agarra o moletom de Josh, e no outro, o
empurra. Em milésimos, antes que um estrago maior possa acontecer, os
dois são desvencilhados por Ezra e outro integrante do Nets, que tira Hunter
de perto de Josh.
— Vai embora daqui, Josh — Ezra aponta, exigindo.
O idiota faz o que ele diz, levantando as mãos e jogando o copo de
café no chão, no meio do corredor, enquanto lança um beijinho na nossa
direção, mais especificamente para mim. O que faz com que Hunter
estremeça seu olhar na direção dele, ao passo que é segurado por Ezra.
Em contrapartida, eu respondo seu beijinho irônico com o dedo do
meio, então Josh se vira e continua caminhando para longe de nós.
— O que aconteceu aqui, cara? — Ezra pergunta diretamente ao
amigo.
Hunter solta uma lufada de ar a contragosto.
— Aquela aberração estava xingando a Georgia — explica.
— Ele o quê? — Ezra berra, olhando para mim, incrédulo.
— Nós meio que nos esbarramos, e ele derramou café em mim.
Quando eu comecei a gritar com ele, o Hunter chegou, e bom, ele me
chamou de galinha, puta e interesseira. — Sinto minha veia acima do olho
saltar.
Que ódio e que vontade insana de matar aquele idiota.
— Fala sério! — exclamo, agora voltando a ver o estrago na minha
roupa.
— Mesmo que você tenha gritado com ele, ninguém, principalmente
aquele idiota do Josh, tem o direito de agir dessa forma com você — Hunter
diz, ainda com a raiva evidente em sua voz.
Noto que há um algo a mais nessa raiva dele, além desse episódio, e
entendo tudo quando Ezra fala:
— Agora você tem que se acalmar, porque ele vai usar isso apenas
para provocar você na hora do jogo e ele não vale a pena. Não vamos deixa-
lo jogar sujo novamente, como das outras vezes, ok?
Lembro de uma matéria que li, onde Hunter quase se lesionou na
temporada passada, e foi devido a uma jogada suja do adversário, que
também se chamava Josh.
— Ele é um idiota — digo, aborrecida.
— Sim, ele é — Ezra diz.
— E ainda me sujou inteira.
Puxando o tecido pegajoso da minha pele, sou interrompida quando
Hunter se aproxima. Ele passa seu moletom por cima da cabeça, ficando
sem camisa e mostrando todo o deus grego que existe em seu abdômen
trincado.
Devo admitir que sempre que o vejo assim, a vontade de passar a
língua por cada gominho aumenta, e de repente minha raiva de Josh se
esvai, sendo substituída pelo desejo.
Eu preciso transar, o mais rápido possível de preferência.
— Aqui. — Me oferece o moletom preto com a logo do Nets
estampada. — Veste isso.
Pegando a peça de roupa, analiso-a, pensando que ficará um vestido
em mim, e entrego, finalmente, o que vim deixar. Ele me devolve o outro
aparelho, tirando do bolso da sua calça.
— Ahn... — Hesito. — Obrigada. Boa sorte no jogo.
— Vou precisar, Estrelinha. — Ele me dá um sorriso fraco. — Vê se
não esbarra em mais ninguém por aí — pede.
— Pode deixar, Chefinho, vou ficar longe de todos os brutamontes.
Asseguro, sabendo que eu estou dizendo a verdade.
Hunter se afasta, junto de Ezra, e eu volto a andar pelos corredores
internos, à procura de um banheiro. Quando enfim encontro, tiro minha
blusa e passo água por toda a parte em que fiquei suja, depois enrolo a
roupa suja em papel toalha e guardo na minha bolsa.
Vestindo o moletom de Hunter, constato o que já esperava. A peça
cai em mim como um vestido, porém é confortável, sem contar o cheiro
incrível que ele emana, com sua mistura ousada de suor e almíscar.
Ao sair do banheiro, sigo para as arquibancadas, ficando próxima ao
banco onde ficam os reservas e a equipe técnica do Nets. Ali também estão
algumas mulheres e crianças, acredito eu, que sejam as famílias dos
jogadores.
Em poucos minutos, a arena começa a lotar, e com isso, todo o
barulho incessante das torcidas nas arquibancadas, faz com que os pelos do
meu corpo se ericem em adrenalina.
Tudo aumenta quando os times entram em quadra para o
aquecimento, eles revezam as cestas para fazer pontuação, Hunter treina
com Carl, o ala armador. Como Hunter é o pivô do time, ele fica
responsável pela grande parte dos rebotes e enterradas, por isso que ao final,
ele, junto com os demais jogadores, faz um treino rápido de rebotes e
cestas.
Eu filmo tudo e até abro uma live assim que as equipes são
apresentadas. As estatísticas de Hunter são apresentadas no telão, e até
mesmo os fãs do Bulls, gritam em excitação. Olho de relance para o banco
do time rival e encontro Josh, fazendo uma careta para ele.
Seus olhos me encontram, e eu mostro o dedo do meio novamente,
já ele me solta um sorrisinho debochado.
O Nets domina o primeiro tempo, Hunter consegue fazer 24 dos 32
pontos. No entanto, no segundo tempo, quando Josh entra em quadra, a rixa
entre eles é evidente, o que acaba rendendo uma diferença de apenas um
ponto para o time visitante. No terceiro quarto, o Nets volta com tudo,
como se fosse dono da quadra do time da casa.
Eu sabia que seria espetacular assistir a um jogo ao vivo, desde que
vi na televisão, mas é tudo fora do normal. O fogo em mim aumenta todas
as vezes em que escuto um xingamento sair dos lábios do meu chefe,
aumentando ainda mais quando ele sorri. Um fogo intenso toma conta de
mim quando eu vibro a sua cesta de três pontos, e ele olha diretamente para
mim, soltando uma piscadela.
Porém, a sua alegria vai embora logo que Josh se aproxima dele na
próxima jogada, eles começam a se provocar, e Josh não sai de perto de
Hunter, o que acaba gerando uma discussão entre os dois quando, sem
querer, ele derruba Josh, e o juiz dá razão ao idiota, mandando Hunter
direto para o banco.
É obvio que aquele idiota não se machucou, pois nos últimos cinco
minutos do quarto tempo, ele consegue fazer cinco enterradas seguidas.
Hunter está de costas para mim, entretanto o ouço xingando a todo
momento, principalmente quando o jogo acaba, e o Bulls ganha o jogo com
uma diferença de apenas seis pontos.
Assim que o jogo acabou, os jogadores se cumprimentaram, falaram
com a imprensa e conversaram com alguns fãs. Eu saí das arquibancadas
quando vi que o local estava começando a esvaziar e não havia mais
jogadores em quadra.
Estou no estacionamento privado, onde apenas pessoas com
credenciais tem acesso para entrar. Todos os jogadores já saíram,
devidamente vestidos em seus ternos pós-jogo, e vinte minutos após a saída
do último atleta, nada de Hunter, por isso decido procurar por ele lá dentro.
Passando pelos mesmos corredores de mais cedo, está tudo tranquilo
e silencioso, a não ser por um barulho de tênis se arrastando e um bola
quicando, é então que eu decido seguir o som e acabo encontrando Hunter
sozinho na quadra.
Não há mais ninguém nas arquibancadas, está tudo vazio, isso
explica porque seus passos e o arremesso que ele faz, ecoam tão alto.
— Ei — chamo, me aproximando. — O próximo jogo é só semana
que vem.
Ele sorrir ao me ver e depois pega a bola, que vai em sua direção.
— Vem cá — me chama.
— Tem certeza? — pergunto, receosa.
Hunter balança a cabeça afirmativamente, e eu me aproximo dele,
que joga a bola diretamente para mim.
— Você sabe jogar?
Nego, tentando quicar a bola e quando não consigo, jogo de volta
para ele.
— Apenas Candy Crush — respondo, arrancando uma risada rouca
dele. — O que está fazendo aqui?
— Nada demais. — Dá de ombros. — Gosto de vir para a quadra
após uma derrota e pensar no que eu poderia ter feito de diferente para ter
ganhado o jogo.
— Por quê?
— Porque eu não gosto de perder, principalmente para idiotas — ele
diz, ao fazer uma cesta.
Eu corro em direção à bola, pegando-a.
— Primeiro, você não errou em nada, o juiz que é burro e deu razão
a um otário. Segundo, é apenas perdendo que a gente aprende o significado
da caminhada para ganhar. — Tento fazer um arremesso, porém a bola bate
contra a trave, fazendo o efeito rebote, que Hunter pega em seguida,
realizando uma enterrada.
— Você falou igual a Miley Cyrus agora. — Ele faz uma careta.
— O importante não é o que está esperando do outro lado, é a
escaladaaaa — canto desafinado, o que gera uma gargalhada entre nós.
Eu me aproximo de Hunter e roubo a bola de suas mãos, faço
movimentos, fingindo que vou entregá-la, e me viro de costas. Driblando e
quicando a bola, dou um pulo na hora de arremessar, só que a bola nem
mesmo encosta no aro.
Hunter pega a bola e dá um simples pulo, fazendo o arremesso
perfeito, e eu faço beicinho quando ele se vira para mim.
— Você só consegue fazer a cesta porque é mais alto — reclamo.
Ele franze o cenho com um sorrisinho no rosto.
— Ou será por que eu sou um atleta de elite, treinado a vida inteira
para fazer cestas e com uma das melhores estatísticas da liga? — rebate.
Reviro os olhos e roubo a bola outra vez.
— Se acha demais, ainda acho que é porque você é alto.
— Então vem cá. — Ele me puxa, chocando nossos corpos.
Por um mísero segundo, eu perco minha respiração, e se torna ainda
pior quando Hunter passa por trás de mim, pressionando suas grandes mãos
sobre meu quadril e me erguendo, enquanto eu seguro a bola. Hunter me
leva para próximo do aro, e eu enterro a bola, soltando um grito estridente
de comemoração e um riso frouxo também.
Ouço a risada de Hunter, que morre aos poucos ao passo que ele vai
me colocando de volta no chão.
Suas mãos queimam contra o meu quadril, e mesmo coberto com o
tecido fino da legging, ainda consigo sentir o fogo emanado, entretanto não
é apenas a pele dali que esquenta, e sim, todo o meu corpo, que tremula,
sentindo a ânsia do seu toque.
Minha respiração escolhe o momento em que suas mãos me
abandonam para tornar-se vertiginosa e urgente, e eu me viro para ele, para
falar. Uma olhada rápida no seu peito, ainda coberto pelo uniforme do jogo,
me diz que ele se sente da mesma forma que eu. Inspiro rapidamente e
penso em pegar a bola, que quica audivelmente pela quadra, quando tento
me afastar, a sua mão cobre meu pulso de uma forma leve, no entanto firme,
me prendendo junto a ele.
Meu peito sobe e desce, e meu coração entra em descompasso total
quando nossos olhares se encontram. O verde e o azul vívidos de suas írises
foram embora, dando lugar à escuridão da luxúria, um rápido desvio e noto
seu pomo-de-adão descer e subir, eu engulo em seco.
Hunter se aproxima ainda mais de mim, a ponto de que nossas peles
quase se colam, sendo separadas apenas pelas nossas roupas. À medida que
minha respiração oscila, os bicos dos meus peitos doem contra o tecido
grosso do seu moletom, que ainda estou vestindo, me aquecendo e fazendo
com que meu centro palpite na mesma medida que o ritmo do meu coração.
Seu dedão acaricia a pele do meu braço, causando choques em mim.
Um calafrio sobe por minha coluna, e eu preciso espalmar minha mão
contra o seu peito para que possa continuar de pé.
Tudo em mim, nesse momento, é Hunter. Minha respiração tem o
cheiro dele, minha pele tem a sua, e meus olhos engolem a escuridão dos
seus, minha boca arfa assim que meu cérebro imagina qual o seu gosto.
Como é beijá-lo.
Preciso tanto beijá-lo.
Sua respiração se torna cada vez mais quente, conforme nossos
rostos se aproximam mais e mais. Estou prestes a fechar os olhos, quando
dou um pulo ao escutar alguém limpar a garganta, mas esse barulho não
veio de Hunter, nem de mim.
Apressadamente, me afasto dele, e assim como eu, ele nota um
senhor se aproximando, que tão logo anuncia:
— Preciso fechar a quadra.
— Cla... claro — respondo. me afastando.
Contudo, a mão de Hunter adorna meu braço outra vez.
— Espera, Georgia.
— Por que você não vai tomar banho, e eu peço um carro para
voltarmos ao hotel? — sugiro.
Ele me sonda, juntando as sobrancelhas, e eu devolvo com um
sorriso fingido, tentando mostrar que o nosso quase beijo não me abalou,
quando na realidade, tudo em mim deseja que esse senhor não tivesse
chegado e atrapalhado o nosso momento. Entretanto, foi o melhor a
acontecer, pois eu já não sei onde vou enfiar minha cabeça nos próximos
dias, imagina só se esse beijo tivesse acontecido.
Meu próximo passo, com certeza seria pedir minha demissão, e eu
amo demais esse emprego para abandoná-lo. E outra, não é porque eu
preciso transar que vou me jogar nos braços do meu chefe, que é tão...
lindo.
Argh!
Por que eu tive que vir trabalhar logo com um tremendo gostoso?
— Tudo bem — é tudo o que Hunter responde ao me soltar.
Logo sinto falta do seu toque.
Que droga, preciso transar!
Assim como também preciso desse emprego. E quanto mais eu
penso em Hunter próximo a mim, em beija-lo e em tudo o que acaba de
acontecer entre nós, mais medo eu sinto em acabar misturando o trabalho
com meu apetite sexual e estragar tudo o que venho construindo desde que
comecei esse emprego novo.
E eu não estou nem um pouco a fim de voltar à estaca zero, e ter que
procurar um novo emprego, além, é claro, de eu gostar da convivência entre
Hunter e eu.
Olhando para Hunter nesse exato momento, enquanto ele dá
autógrafos a alguns fãs, e as marias-cestinhas se jogam em seus braços,
quase beijando-o, eu me arrependo pela vigésima vez, desde ontem, por não
tê-lo beijado.
Mas daí lembro que se eu tivesse o beijado, hoje eu não seria mais a
sua assistente pessoal e sim, mais uma que passou na sua cama.
Não que eu esteja o acusando de ser um cretino, mas vamos e
convenhamos, o cara só teve uma namorada em toda vida e quase nunca é
visto com a mesma mulher mais de uma vez. Então, quais as
probabilidades, ou melhor, como diriam no basquete, as estatísticas para
que ele não me dispensasse no outro dia?
Eu me amo, eu realmente me amo, mesmo não tendo o corpo mais
escultural do mundo, até porque sou bem magra. Minha mãe costuma dizer
que eu sou uma falsa magra, uma vez que minha barriga é seca, e meus
seios e bunda são fartos. Ela diz que eu tenho que aproveitar, antes da
minha possível pochete aparecer, e apesar dos seus comentários grosseiros,
isso não me abala.
Antes, isso, até pelo menos dois anos atrás, mexia comigo, porque
eu sempre lembrava do fato de ter sido trocada por uma mulher com um
corpo em formato de violão, barriga chapada, pernas grossas, bumbum
gigante e peitos duros. Eu vi minha colega nua várias vezes, então eu
assumi que Bryce, meu ex-namorado e irmão da minha melhor amiga, me
traiu com ela, por ela ter um corpo bem mais desenvolvido que o meu.
E agora, essa insegurança bate novamente, pois eu lembro de todas
as mulheres que já foram vistas com Hunter, e nem de longe eu sou
parecida com elas. Grande parte usa seus cabelos extremamente lisos,
enquanto o meu é um cacheado às vezes arrumado, às vezes bagunçado.
Elas têm pernas longas, tonificadas e bronzeadas, enquanto as minhas são
curtas, magras e não veem sol há tanto tempo, que se elas fossem depender
dele para sobreviver, eu já teria as amputado.
Então sim.
A essa hora eu seria só mais uma que passou pela cama de Hunter
Blakely. A grande estrela em ascensão do basquete norte-americano, um
dos queridinhos da liga NBA e o favorito disparado como melhor jogador
da temporada, com seus milhões de seguidores nas redes sociais, e milhares
de mulheres que caem fácil no seu sorriso dócil, e uma delas, sou eu,
porque nesse momento eu tenho toda a atenção dele, que caminha até onde
eu estou, puxando a mala com uma mão, e a outra se mantém dentro do
bolso da sua calça.
Sorrio de volta para ele, ainda com vergonha pelo que aconteceu
ontem. Mesmo que hoje nós tenhamos tido um dia cheio com o programa
da ESPN e mais algumas entrevistas e quadros que ficaram gravados para
futuros conteúdos, a vergonha tomou conta de mim sempre que seus olhos
alcançaram os meus.
— Está pronta? — ele pergunta, quando se põe ao meu lado.
— Sim — respondo, hesitante. — Acho que vou precisar de uma
caixa inteira de chicletes dessa vez e de umas músicas mais animadas
também.
Nunca havia entrado em um avião antes, portanto, durante a vinda
para Chicago no pequeno jato particular de Hunter, eu tinha a certeza que
iríamos morrer, mas não aconteceu, graças a Deus, e ao Hunter também,
que me ajudou com o meu medo, me relaxando ao colocar minhas músicas
favoritas para tocar.
— Você é tão mentirosa, Georgia, dormiu o voo inteiro — ele diz,
negando com a cabeça.
— Claro, eu tomei um remédio para me acalmar — minto.
— Tomou é? — pergunta, desconfiado, e eu balanço a cabeça,
afirmando. — Hum — murmura. — Sorte sua que vamos voltar de carro.
Arqueio uma das sobrancelhas, com um ar inquisitivo em meu rosto.
— Como assim, vamos de carro?
— Bom, contando com o fato de que você tem medo de avião, que
eu solicitei que o piloto retornasse à Nova Iorque, e o avião do time também
foi embora, sendo assim, nos resta ir de carro.
— São doze horas de estrada — gemo dramaticamente.
— Você prefere ir de avião? — argumenta.
— Jamais — nego, rápido demais.
— Eu já sabia — exclama.
Mostro o dedo do meio para ele, sorrateiramente, contudo ele pega o
meu dedo e leva até a sua boca, mordendo a pontinha.
— Filho da mãe — reclamo ao bradar.
— E de um pai também, mas ambos estão no céu — brinca, porém,
a consternação me invade.
— Sinto muito.
— Tudo bem, Estrelinha — ele diz, casualmente. Mesmo que eu
esteja me sentindo mal pelo seu comentário, isso parece ser algo cotidiano
para Hunter, o que eu não consigo entender. Porque mesmo que meus pais
sejam dois loucos desconcertados que transaram algumas vezes e tiveram
um filho seguido do outro, me dói o coração me imaginar sem eles, então na
minha cabeça, crescer sem a presença dos pais deve ter sido difícil para
Hunter. — Só não me mostra esse dedo outra vez — continua. — Se não eu
não me responsabilizo onde irei enfia-lo da próxima.
Imediatamente, na minha cabeça só vêm pensamentos sujos com a
sua ameaça. Ele enfiando o meu dedo no buraco dele, faço uma careta ao
pensar na situação e logo sinto meu rosto esquentar.
— Eu não vou enfiar seu dedo no meu cu, Georgia — Hunter
exclama, claramente notando o que eu acabo de pensar.
— Não seria nada bonito. — Faço um barulho de nojo, e ele ri de
mim.
— Agora vamos logo, que temos muitas horas na estrada pela
frente.
Saindo do saguão do hotel, encontramos um manobrista do lado de
fora, que entrega as chaves de uma Mercedes estilo SUV e nos ajuda a
colocar nossas coisas no porta-malas. Hunter entra no carro pelo banco do
motorista e eu o acompanho, indo direto para o carona, como fazemos
sempre em que vamos a algum lugar, juntos.
Antes de dar partida no carro, ele me encara e pergunta:
— A fim de escutar o que hoje?
— Que tal Coldplay?!
— Isso eu também já sabia — retruca com um sorriso sabichão no
rosto e dá play em Paradise.
— Acho que para já ter as músicas salvas, tem alguém se rendendo
à melhor banda do mundo — provoco, quando ele dá partida no carro.
— É realmente uma boa banda, eu cheguei a conhecê-los durante
uma das minhas viagens, mas só agora consigo dar a devida atenção às
letras, e são boas. No show em que fui, prestei mais atenção nas pulseiras
que piscavam de acordo com as músicas.
— Isso é uma das coisas que faz com que Coldplay seja uma banda
tão única, são poucos os artistas que usam uma tecnologia desse tipo para
fazer com que os fãs se sintam tão próximos deles e das músicas, além das
batidas. Além de ser inovador, claro — divago. — Acredito que um dia
ainda vou viver isso.
— Você nunca foi a um show deles antes?
— Nunquinha — digo ao balançar a cabeça.
— Que fã é essa que nunca foi em um show da banda favorita?
— Como já deu para perceber, não sou o tipo de pessoa que viaja
muito — explico o óbvio. — E sempre que eles marcam shows em Nova
Iorque, meio que a galera esgota em questão de minutos, e eu não sou
nenhuma idiota para comprar ingressos de cambistas valendo três vezes
mais. Ou seja, ainda não tive a oportunidade certa para prestigiá-los, mas
com certeza, um dia vou.
Ouço a promessa na minha voz, desejando que isso se torne uma
realidade. Olhando de relance para Hunter, vejo que ele tem um sorriso em
seus lábios quando também me olha e responde:
— Com certeza você vai.
Nós continuamos conversando durante o caminho, e em algum
momento as músicas do Coldplay acabam, sendo substituídas pelas que
estão em alta no aplicativo, e como sempre, eu acabo pegando no sono.
Durante o tempo em que eu durmo, vagueio para a noite em que
bebi demais na faculdade e acabo sonhando com um homem alto me
carregando por entre as pessoas em uma casa, ele tira meus sapatos, e eu
divago alguma coisa, quando escuto sua voz em alto e bom som:
— Então, com quem você está?
Eu posso jurar que aquela voz é do Hunter, porém não consigo
enxergar seu rosto com muita clareza, eu semicerro os olhos, a fim de
descobrir de quem se trata, querendo decifrar a sua imagem.
A sua voz ressoa outra vez, invadindo todo o meu corpo, juntamente
com sua risada rouca.
— Não sei se isso foi um elogio. Mas obrigado, agora, com quem
você está? — insiste na pergunta anterior.
É difícil saber o que eu respondi, contudo, logo consigo ver a sua
imagem muito nítida. Ele tem cerca de dois metros, os cabelos um pouco
mais claros, ele também é mais magro, entretanto na minha frente, tudo que
eu vejo é um Hunter cerca de cinco anos mais novo.
Seu cheiro também me invade, assim como seus braços longos,
quando ele se deita ao meu lado na cama, me abraçando e permanecendo ali
até que eu caia no sono. Na manhã seguinte, tudo não passa de um clarão na
minha mente, assim como foi quando eu me levantei naquela noite e fui
embora, sem ao menos olhar para trás.
Mesmo que tenha sido apenas um sonho, tudo parece muito real.
Desde o som da sua voz, até o cheiro cítrico que emana.
Abro os olhos lentamente, tendo a clara certeza de que o garoto que
me ajudou naquela noite é o mesmo homem que me encara com um sorriso
doce em seus lábios e as mãos apoiadas no volante do carro.
Seu rosto fica sério ao perceber a confusão que habita no meu.
— Aconteceu algo? — indaga, preocupado.
Me recosto no banco do carro e então percebo que estamos
estacionados em frente ao Happie. Eu balanço a cabeça, tentando distinguir
o sonho que acabo de ter com a realidade à minha frente, eu não sei
exatamente como chegar nesse assunto com ele, mas vou direto ao ponto.
— Tive um sonho estranho — confesso.
— Eu estava nele por acaso? — O canto da sua boca se ergue.
— Sim, e eu tenho a plena certeza de que aquilo não foi apenas um
sonho qualquer, algo me diz que realmente aconteceu.
— Que sonho foi esse, Georgia? — Noto seu pomo-de-adão descer
e subir.
Respirando fundo, eu conto a ele todos os detalhes do meu sonho,
desde o momento em que chego na festa, as doses de bebida que tomei até
quando saio da casa para vomitar no jardim, e é exatamente no instante em
que falo sobre um homem me carregando nos braços para o quarto e digo
todo o pequeno diálogo que tivemos, que noto Hunter empalidecer por
poucos segundos.
Ele não demonstra saber de nada enquanto eu conto.
— Algo me diz que isso realmente aconteceu — finalizo.
— Talvez tenha acontecido — dá de ombros —, mas garanto que
não fui eu.
Estreito os olhos na sua direção, desconfiada.
— Hum — murmuro. — Ele era grande, assim como você. Por
acaso você conheceu alguém do seu tamanho em Yale?
— Fora alguns caras do basquete, não — garante, olhando para
frente e parecendo pensar em algo.
— Então era você — concluo.
— Ou então você quis colocar um nome e um rosto nessa pessoa
que lhe ajudou, e por eu ter estudado lá na mesma época, e termos certa
proximidade, você ou seu subconsciente, pensa que essa pessoa sou eu. —
Ele me lança um olhar afetuoso e em seguida, pega uma mecha cacheada
que cai sobre meu rosto, passando-a para trás da minha orelha.
Posso jurar que sinto uma eletricidade entre nós, além da que senti
esse mês que temos convivido, parece algo mais íntimo, como se já
tivéssemos vivido algo assim antes. Contudo, tudo pode ser paranoia minha,
já que faz um pouco mais de 24 horas desde que quase nos beijamos.
— O campus de Yale é enorme, Estrelinha — explica. — São
milhares de alunos.
Por hora, decido deixar esse pensamento para lá e concordar com
Hunter.
— Tem razão — digo, com um pouco de melancolia na minha voz.
Antes que eu possa encarar seus olhos novamente e agradecer pela
viagem e a experiência, somos interrompidos por um carro esportivo, que
buzina do outro lado da rua. Assim que o vidro se abre, pergunto:
— O que o Ezra tá fazendo aqui?
— Ele veio me dar um carona para eu voltar para casa.
— Por que, se você está de carro? Ou a companhia de locação vem
pega-lo aqui?
É então que Hunter tira a chave da ignição e me entrega, ao pegá-la,
analiso, sem entender o que isso quer dizer.
— Que horas eles vêm pegar?
— Ninguém vem pegar nada — diz Hunter, já saindo do carro.
Eu o acompanho, indo em direção à mala.
— Como assim?
— Esse carro não é alugado, Georgia, eu o comprei — explica.
— Então por que você não o leva para a sua casa? — digo, lhe
entregando as chaves quando ele pega as suas malas.
— Porque ele é seu — diz, apenas.
Um grande ponto de interrogação é desenhado na minha testa
enquanto eu franzo o cenho, ao engolir em seco, declaro ao mesmo tempo
que pergunto:
— Você é louco?!
— Não. — Sorri. — Apenas juntei o útil ao agradável, e agora esse
carro é seu.
— Nem pensar. — Bato com as chaves em seu peito. — Eu não
posso aceitar isso.
— Pena que a concessionária não aceita devolução.
— É simples, leva para a sua casa.
Hunter olha para cima e respira fundo, como se estivesse tentando
encontrar paciência, mas não quero que ele tenha paciência para me
explicar qualquer loucura dele. Quero apenas que ele pegue as chaves do
seu carro recém-adquirido e leve para sua garagem particular em um prédio
de luxo no Upper East Side, onde ele vive em uma mansão que é chamada
de cobertura.
— Primeiro, eu estou te dando o carro, porque não vejo necessidade
de você pegar um metrô sempre que precisa se deslocar de um distrito para
outro — ele diz, com seus olhos claros e serenos fixados em mim.
— Então esse carro de milhares de dólares, equivale ao meu vale-
transporte? — arrisco. — Mas isso não está no contrato.
— Eu não estou me importando com o contrato nesse momento,
Georgia, apenas com seu bem-estar — declara ao erguer a alça da sua
bagagem. — E outra, o carro já está no seu nome, de toda forma.
— No meu o quê? — brado.
— Até amanhã, Georgia. — Ele dá as costas, atravessando a rua.
— Volta aqui, Hunter. — Ezra acena com a mão para mim. — Oi,
Ezra — cumprimento — Hunter! — o chamo novamente, gritando.
Quando ele está do outro lado de rua, me lança um sorriso e diz:
— Nos vemos amanhã.
E assim ele se despede, entrando no carro do amigo, e eu fico
plantada no meio da rua, segurando as chaves de um SUV de luxo,
pensando apenas no quanto que eu quero beijar esse atleta, filho da mãe,
gostoso para cacete, e o quanto eu preciso, necessito esquecê-lo, porque ele
acabou de me dar a droga de um carro.
— Tem certeza de que não quer um pouco? Isso aqui está divino —
Georgia fala com a boca cheia, enquanto lambe a colher que ainda está
melada com o sorvete de baunilha.
Nesse momento, é impossível não olhar para a sua boca e pensar
que há uma semana, eu quase tive a oportunidade de beijá-la. E desde que
isso aconteceu, eu não sei ao certo o que tem me deixado mais abalado,
passar tanto tempo fora de casa — em cinco dias desde que retornamos de
Chicago, essa é a segunda vez em que a vejo, devido aos jogos fora de
Nova Iorque — ou a culpa por não ter aproveitado a oportunidade que eu
tive.
— Absoluta — respondo pela quinta vez desde que ela começou a
tomar esse maldito sorvete, que eu trouxe para ela após o treino. — Consigo
me contentar com essa panqueca de banana com cacau — completo ao
erguer o pedaço, que eu acabo de cortar, no garfo.
Georgia faz uma careta, analisando a minha sobremesa.
— Isso parece ser muito ruim. — Faz um barulho estranho de enjoo.
— Sério, como você consegue comer essas coisas sem passar mal? — Ela
franze o nariz, me encarando ao passo que me delicio com o doce quase
amargo.
— No começo é ruim mesmo, mas com o tempo acaba se tornando a
melhor sobremesa do mundo.
— Hum, não me convenceu. — Ela solta outro gemido, colocando
mais uma colherada de sorvete na boca, e eu solto um gemido interno,
pensando no quanto que eu queria ser essa bendita colher.
— Já conseguiu se acostumar com a ideia do carro? — finalmente
pergunto.
Após o nosso quase beijo, quando chegamos no hotel, e eu entrei no
meu quarto, pensei: “Por que não comprar um carro para a Georgia?”,
simples assim, nem precisei divagar muito. No outro dia, logo cedo um
representante da concessionária estava no hotel, e eu assinei os documentos
necessários.
Já Georgia, assim que descobriu, no outro dia, que o carro era na
realidade dela, não aceitou a ideia muito bem, e isso ainda durou durante
toda a segunda-feira, ela insistia em me entregar as chaves, e eu não
aceitava. Por sorte, ou eu diria destino, ou apenas a NBA mesmo, tive jogo
fora de casa na quarta, por isso viajei na terça, e ontem à noite quando eu
cheguei em casa, fiquei feliz em saber que ela não tinha guardado o carro
sorrateiramente na minha garagem, nem deixado as chaves em cima do
balcão da cozinha.
— É um carro bom, óbvio que é um carro bom, é uma Mercedes —
exaspera. — Mas ainda acho que não tinha necessidade de você comprar
um carro apenas para que eu me locomovesse entre a minha casa e a sua,
até porque quando estou aqui, já estava usando um dos seus carros.
Ela tem um ponto muito bom, porém eu tenho um ainda melhor.
— Pensa pelo lado de que você não corre o risco de sofrer um
assalto enquanto espera um metrô ou de ser assediada por esses doentes que
amam se masturbar nas conduções lotadas. — Ela faz uma careta, parando
de comer o seu sorvete. — Além de que, claro, economiza tempo.
— Às vezes sim, a maioria das vezes não, o trânsito dessa cidade,
eventualmente, pode ser igualzinho à fila do inferno. — Ela se levanta da
bancada, antes de perguntar: — Se eu guardar esse restante na geladeira, o
que me garante que ainda vai estar aqui na segunda? — se refere ao
sorvete.
— Eu garanto — afirmo, seus olhos estreitam-se na minha direção
ao passo que guarda o sorvete minuciosamente no congelador, como se
estivesse desconfiada de algo. — Tenho uma dieta a seguir — mostro a
panqueca —, esqueceu?
— Não, não esqueci, até porque sou eu que faço suas compras,
esqueceu?! — pergunta, retórica. — Mas vai que lhe dê um ataque de
loucura e você queira comer o meu sorvete?
— Eu não vou comer o seu sorvete, Georgia, pode confiar. Mas se
você não confia em mim, deveria comer no caminho de casa ou então
comer o restante de uma vez só — sugiro.
— Seria uma boa, mas tenho que guardar espaço na barriga para
mais tarde. — Seu rosto se ilumina.
— O que tem mais tarde?
Já ouviu falar que a curiosidade matou o gato? Bom, nesse
momento, o gato sou eu, e eu me odeio por ter feito essa pergunta, e me
odeio mais ainda por ter que escutar a resposta que ela me dá.
Se arrependimento matasse, eu só queria estar a sete palmos do
chão, pois nada no mundo me preparou para a sua resposta. Fazendo todo o
sangue do meu corpo ir embora e ainda por cima, me fazendo derrubar o
garfo em cima do prato, soltando um baque estrondoso quando as simples
palavras saem da sua boca, me dando um total enjoo.
— Eu tenho um encontro.
Ela tem um encontro.
Georgia tem um encontro.
Eu nem mesmo sabia que ela tinha namorado.
Minha vista escurece rapidamente, e o gosto do âmago sobe até
minha boca, deixando um resquício amargo e intragável na minha língua,
tanto que me levanto apressado, para pegar um copo de água.
— Um encontro, é? — tento parecer casual, porém tudo em mim
queima em ciúmes. Que porra é essa, Hunter? — Com quem?
— Sim. — Os cantos de sua boca sobem em um sorriso. — É um
cliente antigo do café, ele sempre me chamou para sair, e eu sempre disse
não, até que dois dias atrás eu desisti e decidi dizer um sim a ele.
— Maldito cliente — rosno baixinho, para que apenas eu possa
ouvir.
— Você disse alguma coisa? — Georgia pergunta, ao meu lado.
— Não.
Ela se aproxima de mim, e eu posso jurar que meu corpo é feito de
energia no momento em que a pele do seu braço encosta na minha, pois é
eletrizante a forma como ela me atrai. Poxa, eu poderia ficar com meu braço
encostado no dela pelo resto da vida, e ainda assim eu seria o homem mais
completo do mundo.
Mas que porra é essa que eu estou falando?
— O que você está fazendo? — inquiro, engolindo em seco, nada
acostumado com a sua invasão em meu espaço pessoal, quando na
realidade, eu quero invadir o seu por completo.
— Fechando a torneira — ela responde, como se fosse a coisa mais
óbvia do mundo.
E realmente é, quando a torneira estava ligada a tanto tempo, que o
copo que eu vim encher de água para tomar, está transbordando e molhando
minha mão, e nem mesmo isso eu consegui perceber, de tão consternado
que fiquei com a notícia do seu encontro.
— Ah, tá — é tudo que respondo.
Georgia se afasta de mim, e logo sinto falta do seu contato.
— Agora eu preciso ir — informa. — Se não o trânsito fica uma
loucura, e eu acabo me atrasando.
— Bom encontro — é o que a minha boca deseja, no entanto, tudo
em mim pede para que o trânsito esteja tão ruim, que ela só chegue em casa
depois das dez da noite.
Sei que é egoísta da minha parte, entretanto eu não consigo conter
esse sentimento, tanto que ela nem mesmo saiu da cozinha, e eu já estou
pensando em várias maneiras de fazê-la voltar para esse apartamento, para
que eu a beije, e ela esqueça o encontro com esse Zé Ninguém e lembre-se
apenas de mim.
Maldição, o que está acontecendo comigo?
Eu comi o sorvete da Georgia.
Na verdade, eu tive um ataque e precisei de açúcar, como ela havia
dito. Contudo, em minha legítima defesa, a culpa foi toda dela.
Ou talvez tenha sido de todos os sentimentos confusos que eu venho
tendo nos últimas dias. Certo, eu sei que meus sentimentos por ela são
confusos desde o dia em que ela apareceu toda amarrotada em frente ao
escritório de Chad, e eu nem precisei pensar muito para contratá-la. Mas
cara, saber que ela está em um encontro nesse exato momento, deixa tudo
ainda mais caótico.
Foi por isso que após dar voltas e voltas por todo aquele
apartamento, tão grande e solitário, e ainda treinar, tanto na academia
quanto na quadra interna do primeiro andar, eu precisei atacar a geladeira e
quando vi o sorvete, não pensei duas vezes antes de experimentá-lo.
Pode ser que essa minha decisão tenha sido por abstinência de
açúcar também, porém uma voz insuportável na minha cabeça me diz, e me
convence, que é pelo fato de que esse é o único resquício que eu vou ver da
sua boca por um bom tempo, senão, para sempre.
Sabe-se lá o que pode acontecer nesse encontro dela hoje.
E depois de pensar tanto em Georgia, no seu maldito encontro, no
nosso quase beijo e em todo o tempo que eu estou perdendo, foi que eu
decidi sair de casa e dar uma volta pelo Central Park. Quando dou por mim,
já passaram mais de quarenta minutos desde que saí de casa, e agora estou
em uma calçada do outro lado de Manhattan, mais especificamente no
Upper West Side. O capuz do moletom que uso cobre a minha cabeça, e
minhas mãos estão dentro dos bolsos do mesmo, há poucos dias a neve
começou a cair em Nova Iorque, e mesmo que fraca, o tempo é quase
congelante.
Suspirando, solto uma fumaça fria pela boca e olho para cima,
pedindo às estrelas e a toda e qualquer força superior, uma luz, que me faça
esquecer Georgia e seu maldito encontro.
Uma rajada de vento frio me tira dos meus pensamentos e me faz
olhar para frente.
Por um momento, penso que isso só pode ser loucura minha,
enquanto no outro, eu estou atravessando a rua para constatar que meus
olhos não me enganaram e que o destino muitas vezes também pode ser um
grande filho da puta, mas em outras, a puta não passa de uma acompanhante
de luxo, que nos fornece os seus melhores dotes.
Um sorriso estampa meu rosto assim que vejo Georgia dentro de um
restaurante mediterrâneo através das grandes janelas de vidro do local, a sua
imagem é clara e límpida. Vestindo uma camisa longa de botões, que mais
parece um vestido, e um suéter azul por cima. Seus cabelos encaracolados
estão soltos, e uma mecha única cai sobre sua testa, já no rosto, ela usa
pouca maquiagem, acredito que apenas algo que dê realce aos seus cílios
curvados e à boca carnuda, que chama atenção.
Mais ainda quando ela ri de algo que seu acompanhante, que mal
noto a aparência através do vidro, fala.
É exatamente quando o sorriso morre em meus lábios, que o dela
também começa a desaparecer, e nossos olhos se encontram. Percebendo
que eu estou muito tempo sem reação, e ela também, noto um movimento
do homem que é seu acompanhante, acho que ele está olhando para mim,
não tenho certeza, pois meus olhos pertencem apenas à mulher de pele alva
e boca rosada carnuda, a qual eu desejo tanto.
Ela fala alguma coisa com ele, entretanto seus olhos continuam em
mim, dou um aceno para ela, que acena de volta com um sorriso tímido nos
lábios e um brilho intenso nos olhos.
Agindo em absoluto impulso, caminho um pouco mais para frente,
até encontrar a porta do restaurante e abri-la, em passos leves caminho até
onde Georgia está sentada, ela não tira seus olhos de mim em nenhum
momento, e nem eu dela. Penso, por um momento, em pedir para que ela se
levante e me acompanhe, só que ao invés disso, me obrigo a colocar um
sorriso no rosto e cumprimentá-la com o sorriso mais falso que tenho.
— Olha só que coincidência — digo, logo que me ponho ao lado da
mesa. — Não esperava te encontrar aqui, Georgia.
— Nem eu — ela diz, atônita, franzindo o cenho e movendo a
cabeça. — O que você está fazendo aqui, Hunter? — a pergunta sai seca
demais.
Eu poderia ser sincero e dizer que não parei de pensar no fato de ela
estar em um encontro enquanto eu estava sozinho no meu apartamento
gigante em plena sexta à noite, e por isso decidi sair, e caminhar pela
cidade. Entretanto, a mentira é a minha melhor opção.
— O que mais eu poderia fazer em uma restaurante, Estrelinha? —
rebato, como se fosse óbvio, quando na realidade, não é.
— Pessoas normais comem, mas você está dieta, então eu realmente
não sei — diz, dura.
Me preparo para responder o seu confronto, contudo, sou
interrompido quando seu acompanhante se mete.
— Vocês dois se conhecem?
— Sim — respondemos em uníssono ao olharmos para ele.
Sendo bem sincero, ele não é um cara feio. Sua mandíbula é
quadrada, o cabelo preto é penteado para cima, e os olhos redondos são
cobertos por cílios volumosos. No entanto, eu sou bem melhor que ele.
— De onde você conhece o Hunter Blakely? — ele pergunta
diretamente à Georgia, genuinamente surpreso.
Ela coça a garganta, sem saber ao certo o que responder, e é por isso
que eu mesmo acabo respondendo, quando me sento ao lado do seu
acompanhante.
— Nós trabalhamos juntos, ela é minha assistente pessoal —
confesso.
O cara se torna um fofo assim que põe o punho sobre a boca, como
se estivesse prendendo o grito que está prestes a soltar.
— Fala sério — diz, impressionado. — Você pode me dar um
autógrafo? — pede, já retirando um guardanapo do suporte, e eu rio,
concordando.
De repente, ele tira uma caneta de algum dos seus bolsos e me
entrega. Eu assino o papel enquanto ele faz várias perguntas sobre o
basquete, e eu respondo todas elas pacientemente.
Após caprichar no autógrafo, ele ainda continua fazendo várias
perguntas, e eu respondo a todas. Reconheço que eu estou sendo um grande
idiota de estar atrapalhando o encontro de Georgia, mas vamos lá, eu pedi
uma luz às estrelas, e elas me mostraram exatamente o que eu precisava, e
cá estamos nós.
As perguntas de Dean, que há pouco descobri o nome, cessam
quando nós dois percebemos Georgia se levantar e abandonar nós dois à
mesa. Eu me levanto apressado, assim como Dean, mas nem fodendo que
ele vai atrás dela.
— Deixa comigo — peço, e ele concorda.
Sigo uma Georgia enfurecida até o lado de fora do restaurante, eu a
encontro colocando o casaco e tirando os cabelos de dentro dele, ao passo
que tenta chamar um táxi, que não para.
— Georgia — a chamo. — Espera.
Ela revira os olhos ao olhar para mim e tenta pedir outro táxi, mais
uma vez sem sucesso.
— Georgia — repito, me aproximando dela e pegando seu pulso
levemente, para impedi-la de chamar outro táxi.
— O que, Hunter? — brada, me fulminando com o castanho intenso
dos seus olhos.
— Calma, o que está acontecendo?
Ela solta uma risada de escárnio à medida que nega com a cabeça.
— Você só pode ser louco, ou se faz.
— Não estou entendendo, estrelinha — digo, ao enrugar a testa.
— Não me chama de Estrelinha — rosna, claramente com raiva, e
eu levanto a mão em rendição. — Você é meu chefe, certo, Hunter? Eu
entendo isso, eu entendo muito, mas às vezes eu acho que você não tem a
mesma ciência que eu tenho quanto aos nossos papéis nessa história, porque
nada te dá o direito de me seguir na merda do meu encontro — esbraveja, e
eu sinto a alfinetada em todas as suas palavras.
— Eu não te segui — me defendo.
Georgia suspira, claramente sem paciência.
— Uhum — concorda, irônica.
— Eu juro que não te segui, mas confesso que quando te vi do outro
lado da rua, decidi dar um oi — explico, o que não é mentira.
Eu poderia ter a visto e ido embora logo após? Sim. Eu fui? Não.
Contudo, por que eu não fui? Porque eu senti uma faísca tão grande de
ciúmes subindo do meu peito até a minha garganta, que agi por puro
impulso.
— Não acredito nisso. — Nega com a cabeça.
— Foi o que aconteceu, juro. Me desculpa — suplico.
— Não.
— Olha, se você quiser, eu vou embora, e você volta para o seu
encontro, eu prometo não atrapalhar mais. — A promessa realmente sai da
minha boca, porém eu posso muito bem não cumpri-la.
— Muito obrigada, mas dispenso — diz, cruzando os braços sobre
o peito.
— Pelo menos eu estou tentando — sussurro.
— Eu também estou tentando, Hunter, eu estou tentando muito —
esbraveja. — A única coisa que eu queria era ter um encontro para tentar
esquecer o fato de que quero tanto beijar o meu chefe, que precisei sair com
qualquer cara para poder, ou ao menos tentar, conseguir esquecê-lo.
Suas palavras fazem com que um nó se instale em minha garganta e
um sorriso se erga nos cantos da minha boca.
— Então, acredite em mim quando eu digo que estou realmente
tentan...
— Georgia? — interrompo-a.
— O quê? — solta, áspera.
— Sua boca é linda demais pra passar tanto tempo reclamando e
longe da minha — declaro ao pôr as mãos sobre seu rosto.
Seus olhos arregalam-se com a minha declaração, e dando mais um
sorriso antes de me aproximar, eu a beijo.
O hálito quente de Georgia é o primeiro que me beija, me
provocando e me deixando zonzo. No instante em que nossos lábios se
tocam, eu me entrego a ela em total benevolência, das mãos que mantinha
em seu rosto, uma desce para sua cintura, para que seu corpo não se afaste
do meu, enquanto a outra se finca em seus cachos rebeldes, acariciando-os.
Ter a sua língua envolvida na minha é ardente, como imaginei desde
sempre, é tudo tão bom, que parece até mesmo um sonho. Ela arfa contra
meus lábios, e meus dentes se arrastam em seus lábios superiores, antes que
ela chupe minha língua, a mão que permanece ao redor de sua cintura, a
puxa, espremendo-a contra meu corpo.
O toque de suas mãos contra o meu peito é delicado, assim como a
sua língua, que passeia por cada canto da minha boca. Nós nos envolvemos,
enrolamos e nos desenrolamos, nessa dança frenética que é ter nossas bocas
finalmente juntas.
Um sorriso terno se forma em meus lábios, para que eu possa dizer:
— Porra, você não faz ideia do quanto eu queria isso.
— Você tomou meu sorvete, não tomou? — provoca.
— Sim, eu tomei.
Georgia ri e em seguida, me enlaça novamente, em um segundo
beijo ainda mais frenético que o primeiro.
Muito obrigado, destino. Muito obrigado, estrelas. Muito obrigado,
tempo certo. Por guiarem a minha vida para esse exato momento, pois eu
posso jurar que meu coração está prestes a explodir de tanta felicidade por
enfim estar beijando Georgia Walton, a garota que há quatro anos roubou
meus pensamentos e nunca mais saiu de lá.
Obrigado, obrigado, obrigado.
Ela agarra meu pescoço, pedindo um pouco mais de mim, e eu
entrego tudo. Ah, Georgia, você ainda nem tem noção de tudo o que eu sou
capaz de fazer única e exclusivamente por você.
— Será que ele está bem? — meu pai pergunta, com um tom de
preocupação notável em sua voz, assim como eu.
Está iniciando o terceiro tempo do jogo, que acontece na arena do
Nets, eles estão recebendo o time de Boston hoje, e Hunter acaba de levar
uma bolada na cabeça.
Confesso que quando vi a bola ir com tudo contra sua testa, eu ri e
ainda cobri minha boca com as mãos para ninguém ver, porém logo fui
tomada pelo desespero, quando percebi que ele não estava bem, tanto que
cambaleou para trás, e foi preciso o auxílio de dois jogadores em quadra
para ajudá-lo a se manter de pé.
— Não sei — é tudo que eu respondo, enquanto um enjoo sobe até a
minha garganta, me causando ânsia.
O jogo foi parado, e Hunter está deitado na quadra, alguns jogadores
fazem uma rodinha ao seu lado ao passo que um paramédico faz o
atendimento.
— Acho que ele se feriu — minha mãe diz, e eu a fulmino com o
olhar, que logo dá de ombros. — Esse seria o único motivo para pararem o
jogo.
— Sua mãe tem razão, querida — April responde.
Hoje eu trouxe minha família para o jogo, com exceção de Luca,
que disse que ia ficar em casa estudando, uma vez que as provas finais da
faculdade de Direito estão próximas.
— Mas foi só uma bolada na cabeça, não é possível que ele tenha se
machucado assim — tento argumentar. Entretanto, a equipe médica chega
com uma maca, e os jogadores se afastam, Hunter sai de quadra deitado
nela, e o desespero toma conta de mim.
Dentro de quadra, noto que Ezra está olhando para as
arquibancadas, e eu o encaro ao perguntar:
— O que aconteceu?
— Hospital — é tudo que ele responde, antes do jogador que irá
substituir Hunter entrar em quadra, e o jogo ser retomado.
— Qual o hospital mais próximo daqui? — pergunto ao meu pai, já
me levantando da cadeira.
— Você mora no Brooklyn, filha, você deveria saber — minha mãe
resolve devolver, como se fosse a resposta mais sensata do mundo, em
contrapartida, eu finjo que não escutei.
Olho para meu pai novamente, e dessa vez o próprio responde.
— O Hospital Central.
— Obrigada — agradeço, já me afastando deles.
Quando chego no corredor, subo as escadas ligeiramente, a fim de
sair o mais rápido possível do local, e enquanto faço minha caminhada
apressada, me pergunto, se eu não tivesse beijado Hunter há três dias, será
que eu estaria indo ao seu encontro com tanta pressa, como agora?
A verdade, é que provavelmente sim.
Hunter ter aparecido de surpresa durante o meu encontro com Dean,
me deixou enfurecida, não nego. Pois eu só topei sair com o cara, porque eu
não conseguia esquecer com quem eu realmente queria ter contato físico, e
à medida que conversávamos à mesa de um dos meus restaurantes favoritos
da cidade, eu só pensava que quem eu realmente queria que estivesse
comigo, era o meu chefe, ninguém mais, ninguém menos, apenas ele.
Então, ele descomplicou todos os meus desejos e se fez presente.
Admito também, que não estava pronta para tê-lo ali, talvez seja por isso
que eu acabei me deixando levar pela minha impulsividade e revelei o
quanto que queria beijá-lo, e foi esclarecedor para mim, o instante em que
ele me tomou, me desejando tanto quanto eu o desejava.
O lado bom disso tudo ter acontecido, é que após vários beijos,
risadas — e claro, ele ter me comprado outro sorvete, depois que tomou o
meu — e me colocar em táxi que me levou direto para casa, eu tirei um
peso das minhas costas e também não acabei sendo demitida no outro dia.
Em contrapartida, o lado ruim, é que após todo um fim de semana longe, eu
mal sabia como agir ao seu redor entre ontem e hoje, por sorte, os últimos
dois dias foram bastantes cheios para ele, com vários treinos, reuniões e
fisioterapia.
Portanto, não houve outro momento entre nós até agora, eu também
não posso afirmar que sei exatamente o que está acontecendo entre a gente,
porque eu não sei.
Não sei se vamos nos beijar mais vezes, não sei se vou dormir com
ele, não sei se vou continuar no emprego, só sei que enquanto a sua boca
estava grudada na minha, a única coisa em que eu pensava era que era
melhor viver aquele momento, do que me arrepender futuramente, como eu
vinha fazendo desde que deixamos Chicago.
Outra certeza que tenho, é que preciso encontrá-lo o mais rápido
possível, por isso que quando entro no hospital, vou direto na recepção.
— Oi, gostaria de saber informações sobre Hunter Blakely.
A atendente me olha com desdém por cima da tela do computador, e
responde voltando seu olhar para a máquina.
— Se for fã, ele não está aqui; se for jornalista, em breve o hospital
dará um parecer à imprensa.
Fecho os olhos com força e respiro fundo, tentando ao máximo
controlar uma resposta ácida.
— Eu sou a assistente pessoal dele, meu nome está entre seus
contatos próximos — pego minha identidade na bolsa e entrego a ela. —
Georgia Walton.
A moça parece pensar, antes de pegar o meu documento e conferir
se a informação realmente precede, quando ela finalmente vê que estou
falando a verdade, me entrega junto do documento, um crachá, que autoriza
minha entrada.
— Segundo andar, quarto 206.
— Obrigada — murmuro em agradecimento.
Pegando o elevador, subo direto para o segundo andar. Para entrar
onde Hunter se encontra, preciso passar o crachá na porta onde diz que o
acesso é restrito, e seguir no corredor até o quarto indicado.
Chegando próximo, vejo uma equipe de médicos e enfermeiros
abandonar o quarto, e sigo na direção. Ao alcançar o seu quarto, a porta está
aberta, e noto que ele trocou o uniforme do time por uma roupa hospitalar.
Chad, que está ao seu lado, é o primeiro a me notar, com um sorriso
fingido estampado no seu rosto, Hunter segue o seu olhar em minha
direção, e um sorriso ilumina seu rosto.
— Oi — digo, ainda encostada na soleira da porta.
— O que você está fazendo em pé aí? — Hunter pergunta. — Entra,
o Chad já estava de saída, não estava, Chad? — Mesmo de longe, vejo que
ele cerra os olhos para o seu empresário, que se afasta da cama e começa a
vir em minha direção.
— Sim, já estava indo embora — ele confirma, mesmo que a
contragosto.
Enquanto eu entro, Chad sai do quarto, contudo, ainda ouço a sua
pergunta sussurrada quando ele passa ao meu lado:
— Você veio aqui como assistente dele ou namorada?
Seu comentário me atormenta a ponto de eu engolir em seco e fitar
suas costas à medida que ele vai embora.
— Então você veio me ver, Estrelinha — Hunter comenta, cessando
meu choque momentâneo.
— Acho que é um pouco óbvio, não? — rebato. — Foi uma bolada
e tanto que você levou.
— E uma vergonha também — ele completa.
Pendo minha cabeça de um lado para o outro, analisando a cena na
minha mente.
— Não minto que foi engraçado ver a bola voando e parando direto
nessa sua cabeçona, mas depois que você ficou tonto, todo mundo ficou
preocupado.
— Minha cabeça não é tão grande assim — diz, em uma careta.
— É sim — rebato, rindo. — E ficou ainda maior com esse galo aí.
— Aponto para o ponto vermelho bem no centro da sua testa. — Mas
afinal, por que você teve que vir para o hospital?
— Estava tendo vertigens — explica. — Minha visão estava
embaçada e escurecendo bastante, acharam melhor me trazer para cá, para
que eu pudesse ficar em observação durante as próximas horas.
— Quando você vai ser liberado?
— Difícil eles me mandarem para casa de madrugada, então
provavelmente, de manhã logo cedo — ele informa, se movimentando na
cama. — Por que você não se deita aqui do meu lado? — Aponta para o
espaço vago que acaba de deixar na cama.
— Eu tenho quase certeza que vai contra as regras do hospital.
— Nada que um autógrafo e uma foto não resolvam se eles
reclamarem, agora vem cá — ele quase ordena, e eu me ponho ao lado da
cama, hesitante em me deitar ao seu lado.
É Hunter que resolve o meu dilema quando, de forma gentil, me
puxa, fazendo com que meu corpo vá de encontro ao seu, e eu me deite ao
seu lado na cama. Assim que me estico ao seu lado, Hunter acaricia meus
cabelos e diz:
— Eu já disse que adoro seus cachos?
— Não.
— Então, é que eu adoro seus cachos, eles são muito lindos.
— Obrigada, é o mínimo que eles poderiam ser depois de tanto
creme que passo neles quase todos os dias.
Hunter ri, ainda com seus dedos passeando entre meus fios, me
causando arrepios ao tocar o couro cabeludo.
— Te devo um pedido de desculpas — diz ele, com sua voz
ressentida.
— Por quê? — pergunto ao passar um dos meus braços por cima da
sua barriga, em uma tentativa de abraça-lo, e levantando minha cabeça para
encontrar seu rosto.
Hunter está com uma barba rala adornando a sua mandíbula
perfeitamente quadrada, seus olhos também parecem bem apáticos, acredito
que por conta da sua rotina desgastante.
— Quem que beija uma garota em um dia e passa os outros dias sem
dar atenção a ela, mesmo a encontrando? Somente um tremendo babaca.
— Ou uma pessoa bastante ocupada — eu digo. — E outra, não tem
ninguém reclamando aqui.
— Tem sim.
Encaro-o, sem entender o que ele quer dizer, uma vez que essa
pessoa com certeza não sou eu, já que nem mesmo estava pronta para tocar
nesse assunto.
— Eu — ele completa. — Eu estou reclamando, porque se eu te
vejo dois dias depois de ter te dado um dos melhores beijos da sua vida, o
mínimo que eu posso fazer quando te encontrar novamente, é te dar outro
beijo.
Franzindo o cenho, indago:
— Você acabou de me dizer que me deu o melhor beijo da minha
vida?
— Uhum.
— Você é muito convencido, Chefinho. Fique sabendo que foi um
beijo bom sim, mas não foi o melhor da minha vida — minto.
Óbvio que eu minto. Porque seu beijo foi de longe o melhor, porque
eu ansiei tanto pelo momento em que ele iria finalmente acontecer, como
também pelo fato de ele ter uma língua bastante esperta, que fez com que
despertasse todos os meus sentidos mais selvagens.
— Você precisa parar de me chamar de Chefinho, Estrelinha.
— Por quê?
— Porque toda vez que você diz isso, eu tenho vontade de fazer isso
— ele anuncia, antes de levar seus dentes até o lóbulo da minha orelha,
mordiscando-o.
A forma como seus dentes arranham a minha pele é leve, contudo,
eletrizante, disparando um calor que sobe por todo o meu corpo até chegar
ao meu rosto, me fazendo sentir o ardor em minhas bochechas e a
palpitação entre minhas pernas.
Logo abaixo, Hunter deixa um beijo molhado, respirando fundo ao
sentir meu cheiro, e o ar quente que abandona sua boca, também me causa
arrepios, e ele percebe isso, pois uma de suas mãos acaricia o meu braço.
— Se apenas um beijo bom bem aqui, te deixa assim, eu não quero
imaginar o que o melhor de todos é capaz de fazer com você — provoca,
passando o dedo delicadamente no canto onde ele acabara de depositar o
beijo.
— Para você saber o resultado, tem que conseguir dar o melhor de
todos antes — devolvo.
— Não se esqueça que foi você quem pediu, Estrelinha — sinto a
ameaça na sua voz.
No entanto, não é uma ameaça ruim, pelo contrário, é algo mais
provocante.
Nesse instante, Hunter toma minha boca com a sua e tirando
proveito da nossa proximidade, ele roça seus lábios contra os meus,
acariciando-os de forma leve.
Contudo, quando sua língua me invade, torna-se algo intenso, e
quando dou por mim, estou soltando um gemido reprimido durante o beijo,
o que faz com que Hunter dê um sorrisinho, antes de voltar a chupar meu
lábio inferior.
Idiota, é claro que ele sabe que o beijo dele é sensacional.
Meus dedos brincam por cima da sua barriga, sentindo cada
gominho que antes parecia inalcançável para mim, e um desejo súbito passa
por minha cabeça assim que penso em substituir os dedos pela língua. Logo
me dou conta de que estamos em um hospital e reprimo esse desejo ao
soltar outro gemido, e Hunter não se controla, soltando outro riso.
Eu dou um leve beliscão no bico do seu peito, e ele arfa um
palavrão, antes de dar uma outra mordida no meu lábio.
— Isso é para você aprender a deixar de ser tão convencido,
Chefinho.
— Doeu, Georgia — reclama, passando a mão sobre o peito, a fim
de cessar a dor.
Dou de ombros em resposta, como se realmente não me importasse,
porém logo formo uma linha em minha testa, preocupada em tê-lo
machucado.
— Agora assume que eu te dei o melhor beijo da sua vida — pede,
convencido.
— Você não quer que eu belisque seu outro peito, quer? — ameaço,
e ele nega com a cabeça.
— Pode negar o quanto quiser, mas no fundo eu sei a verdade.
Mostro a língua para ele, depois encosto minha cabeça em seu
ombro.
— Você também sabe que eu nunca vou confessar, só por conta da
sua provocação, né? — inquiro, ao desenhar um H na sua barriga.
— Sei sim. — Sua voz se torna rouca do nada, fazendo com que eu
volte a erguer a cabeça.
— O que foi? Está tonto? Eu sabia que eu não devia ter deitado
aqui, só vai piorar a sua situação — falo apressada, já me preparando para
me levantar, entretanto sou impedida logo que Hunter põe a mão sobre
mim, me parando no lugar ao seu lado.
— Não é nada disso.
— O que é então? — pergunto, sentindo meus ombros ficarem
tensos ao ver a preocupação no seu olhar.
Hunter se acomoda na cama, fazendo uma careta, e eu me afasto um
pouco, para lhe dar mais espaço, ficando na pontinha da cama.
— Esse final de semana vai ter um evento de caridade — ele
começa.
— Sim, é uma exposição de fotos, que na realidade vai à leilão —
completo. — O alfaiate ficou de ir amanhã à tarde no apartamento, fazer os
últimos ajustes no smoking — informo.
Noto que não é exatamente sobre isso que Hunter quer falar, quando
um sorriso é posto nos cantos dos seus lábios.
— Eu gostaria que você fosse minha acompanhante nesse evento. —
Seus olhos encontram os meus e eles brilham intensamente, enquanto eu
sinto todo o meu brilho ir embora.
— Não — respondo no mesmo instante. — Não posso.
— Por que não?
— Porque eu trabalho para você, e isso seria esquisito?! —
respondo, retórica.
— Georgia — me chama, com uma certa melancolia em sua voz, e
eu me obrigo a voltar meu olhar para os seus olhos claros. — Eu prefiro mil
vezes estar com você lá, você trabalhando para mim ou não, do que fazer
presença com uma total desconhecida.
— Não — nego novamente, dessa vez balançando a cabeça.
— Eu faço questão que você vá comigo. — O pedido é claro em sua
voz à medida que passa as pontas dos dedos delicadamente por minha
bochecha, pegando parte do meu cabelo e levando para trás da minha
orelha. — Por favor — pede, levando seus olhos até minha boca.
Fechando os olhos e ainda negando com a cabeça, respondo:
— Tudo bem.
Era para ser só mais um emprego, entretanto logo se tornou em uma
atração, e agora eu vou acompanhá-lo em um evento importante.
— Mas vou logo avisando que nunca estive em um lugar assim
antes, então se você passar vergonha, a culpa é toda sua — aviso, e Hunter
ri.
— Desde que eu passe essa vergonha com você e não com uma bola
qualquer atingindo a minha cabeça, está tudo bem — ele diz, lembrando o
acidente da quadra, o que faz com que eu ria agora.
Preciso segurar o corrimão da escada enquanto desço os degraus, eu
odeio usar saltos, mas o evento para o qual Hunter me convidou para ir com
ele, é um leilão em uma galeria de artes, mais precisamente de fotos,
localizada no SoHo, um dos, se não o, bairro mais chique de Nova Iorque,
portanto o traje deve ser adequado ao lugar e ao que ele pede.
SoHo é repleto das melhores lojas de grifes, assim como de várias
galerias de arte, os melhores restaurantes se encontram lá também, e a
arquitetura do bairro, apesar de ser mais clássica, é onde a maior parte dos
artistas moram. Ou seja, dinheiro o define, o bairro que fica ao sul da
Hudson Square, respira arte.
Apesar de viver na mesma cidade, a minha realidade é bem
diferente, por isso só cheguei a visitar a área duas vezes.
— Está tão linda, Georgia, parece uma princesa — Caelia, uma de
nossas clientes mais fiéis, comenta quando coloco meus pés no café.
Ela é uma senhora viúva e solteira, seu marido faleceu em um
acidente de carro juntamente da sua filha e o cunhado há alguns anos.
Apesar de na época ter ficado com a guarda do seu neto Lip, ele foi para a
faculdade há alguns anos, e desde então ela vive sozinha a algumas quadras
daqui, sempre que a vejo, faço questão de abraçá-la e dar um beijo na sua
testa.
— Muito obrigada, Lia — a chamo pelo apelido carinhoso, com o
qual sempre me refiro a ela, assim que a abraço.
— Ah, querida, você vai acabar amassando esse vestido.
— Eu não me importo com isso, você sabe bem — respondo ao
beijar sua testa já enrugada, devido à idade. — Vai passar a Ação de Graças
com o seu Lip? — Sei da sua existência, porém nunca o encontrei antes, Lia
sempre vem aqui sozinha e leva alguma coisa para a viagem.
— Não mesmo — ela nega, rapidamente. — Vou para um cruzeiro
na semana que vem, e ele deve se estender até o final do mês.
— A senhora vai perder a Black Friday? — pergunto, chocada, pois
ela é uma das primeiras a lotar a fila do Walmart, indo para a Target logo
em seguida.
— É por uma boa causa, vou encontrar meu namorado lá. — Abro
minha boca, surpresa com sua resposta.
— Namorado, é?
— Sim — sussurra —, mas ninguém sabe porque nós estamos
conversando ainda, mas acho que depois dessa viagem pode se tornar algo
mais sério, e eu só vou dizer ao meu neto quando realmente acontecer.
Eu rio com o seu segredo, ela está prestes a chegar na casa dos
setenta, entretanto isso não significa que ela deva parar, pelo contrário. Foi
graças a ela que eu consegui superar o grande chifre que levei do irmão da
Zoe.
— “O fim do seu relacionamento foi dado no momento em que ele
cogitou te enganar, o ponto final, agora só depende de você.” Foi o que ela
me disse quando me viu abatida após o término e minha volta à Nova
Iorque.
— Isso quer dizer que esse é um segredo só nosso? — sussurro de
volta.
— Isso mesmo — confirma, com um sorriso contido em seu rosto.
— Agora preciso ir, estou levando essas tortas para a sobremesa do nosso
jantar hoje — Lia se despede.
— Não esquece a camisinha — brinco com ela, que ri para mim.
— Você também — retruca e vai embora.
Vou até o banheiro do café, para conferir a minha maquiagem.
Decidi passar pouca coisa no rosto, apenas o necessário, como sempre, a
diferença é que dessa vez optei por passar um batom vermelho nos lábios,
combinando com meu vestido, que por sua vez vai até o meio das minhas
coxas. A saia dele é estilo balonê, costurada a uma faixa justa que ergue
meus seios, e as mangas seguem o mesmo estilo da saia.
É uma bela peça, que eu não tive muitas dúvidas para escolher, pois
assim que o vi na vitrine em uma loja em Manhattan, sabia que seria ele.
Hunter até chegou a me oferecer seu cartão para a compra da minha roupa,
porém recusei de imediato.
Que por falar nele, está de pé, conversando com meu irmão em
frente ao caixa quando saio do banheiro. Ele veste um conjunto de smoking
todo preto, assim como a camisa por dentro do blazer, e seus cabelos loiros
escuros estão penteados para cima, em um topete.
— Se não fosse minha irmã, eu pegaria. — O primeiro a notar
minha presença é Luca, e eu reviro os olhos com seu comentário.
Logo minha atenção vai direto para Hunter, que mantém seus olhos
fixos em mim. Eu não consigo decifrar a sua expressão, uma vez que o
mesmo está paralisado, sem ao menos piscar, sua boca está entreaberta, e
seu cenho franzido. Ele passa tanto tempo assim, que eu começo a me
assustar.
— Está tudo bem? — pergunto, preocupada com ele.
— Acho que ele está hipnotizado — sugere Luca, rindo.
Hunter, por sua vez, balança a cabeça ao sair do transe, e tudo que
sai da sua boca é:
— Uau!
— Viu só?! Eu falei. — Luca sai, rindo, em direção à cozinha.
Agora que estamos só nós dois, me permito sorrir para Hunter, que
tem um meio sorriso pregado em seus lábios, e seus olhos ainda brilhantes.
— Estou apresentável para um evento no SoHo, Chefinho?
Ele engole em seco, antes de responder.
— Você está apresentável para várias coisas, não só para o SoHo,
Georgia... acredite em mim. — Sua voz é grossa e pesada, assim como sua
voz.
Os pelos do meu braço se arrepiam ao mesmo tempo que sinto os
bicos dos meus seios endurecerem contra o tecido fino do vestido, até
mesmo sua voz tem tido efeito sobre meu corpo, o que é totalmente
compreensível, já que nós passamos a semana inteira juntos, praticamente.
Durante esses dias, não houve jogo fora de casa, e com isso, ele passou
mais tempo no apartamento, também treinou mais na sua quadra e academia
pessoal do que na arena. Portanto, sempre que estávamos sozinhos ou havia
qualquer tempo disponível entre um trabalho e outro, nós nos pegávamos.
Na quarta, fiquei no seu apartamento até tarde, pois assistimos a um
jogo do Celtics juntos, e enquanto eu me acabava de comer batata frita
recheada com vinho branco, Hunter ficava no brócolis com frango e suco
verde, e ria todas as vezes que eu fazia barulho de vômito. Contudo, não
chegamos à segunda etapa, por mais que o fogo em mim seja crescente
todas as vezes em que sua língua arranha minha pele, ainda não
consumamos.
Notando que acaba me deixar constrangida com seu comentário,
Hunter abaixa a cabeça antes de anunciar:
— Acho que precisamos ir, estamos atrasados.
— Eu sabia que isso ia acontecer, eu disse que poderia te encontrar
no seu apartamento.
— E eu disse que você podia se arrumar lá — rebate.
Faço uma careta para ele, pois mesmo que eu não tenha dito em voz
alta, do jeito que as coisas andam entre nós ultimamente, se eu ficasse lá
para me arrumar, duvido muito que sequer conseguiríamos nos atrasar para
o evento.
— Uhum — apenas concordo, não querendo prolongar a discussão.
— Vamos lá, então.
Hunter concorda e me dá o braço. Assim que saímos do café, dou de
cara com uma limusine do lado de fora e ergo uma sobrancelha ao encará-
lo.
— Não lembro de ter pedido uma limosine. — Hunter ri da minha
confusão.
— Isso é porque fui eu quem pedi, então é óbvio que você não iria
lembrar.
Nos aproximamos do carro, Hunter abre a porta, dando passagem
para que eu entre primeiro e logo em seguida, me segue. Logo que a porta
fecha, o motorista dá partida no carro.
Minha primeira reação ao entrar no veículo, é abrir minha boca,
impressionada com o tamanho, e a segunda, é pegar uma taça de vinho
branco disposta no descanso.
— Me conhece bem — brinco, pois sei que foi ele que serviu.
Continuo admirando tudo dentro do carro, desde os bancos nas
laterais, cobertos por couro e extremamente confortáveis, até as luzes que
dão um ar de algo mais íntimo e aconchegante.
Já Hunter, durante todo o percurso, apoia as mãos na extensão das
minhas pernas, acariciando a pele desnuda. No meio do caminho, eu conto
sobre a minha amizade com Zoe, já que hoje mais cedo ele me pegou em
uma videochamada com ela e acabou perguntando quem era só agora,
quando falo que ela é irmã de um ex-namorado, não deixo de notar seu
nariz franzir, como se estivesse com nojo, e isso me arranca um sorriso.
Ao chegarmos em frente à galeria de artes, ainda há alguns
fotógrafos ali. Um vallet abre a porta, e nós saímos do carro, ao passarmos
pela entrada do prédio onde acontece o leilão, Hunter faz questão que
paremos por exatos dez segundos, para que alguns deles tirem algumas
fotos.
Confesso que não sei exatamente como agir nessa situação, no
entanto Hunter pressiona meu corpo contra o seu, me segurando pela
cintura, e um belo sorriso estampa seu rosto, não o sorriso que ele sempre
dá em fotos desse tipo, esse tem mais afeto, e eu consigo sentir meu coração
esquentar ao vê-lo assim, porém o máximo que faço é erguer os cantos da
minha boca, dando um sorriso fechado.
— Nós tínhamos mesmo que fazer isso? — digo, ainda me sentindo
tensa, quando passamos pelas portas do local.
— Poderíamos ter entrado pelos fundos, mas seria uma pena se
outras pessoas não pudessem admirar o tamanho da sua beleza — ele
responde, fazendo meu rosto corar.
— Você não me encanta com esse papo barato, Chefinho.
— Papo barato? — Sorri com o canto da boca, pegando uma taça de
vinho de um dos garçons que passam por nós, me oferecendo, e eu aceito de
bom grado.
— Essas cantadas que você deve ter dito inúmeras vezes — explico.
— Nunca disse algo do tipo a ninguém, a não ser você.
Ele fala tão sério, que eu chego a acreditar, tanto que quase me
engasgo com um gole da bebida.
— Uhum — murmuro, irônica.
— É sério. — Ele ri, cumprimenta alguém e depois continua: — Por
mais que tenha tido várias acompanhantes, eu jamais conversei mais do que
um “oi e tudo bem” com elas, quanto mais canta-las.
— Nesse caso, eu devo me sentir privilegiada? — arrisco.
— Não exatamente, já que o único privilegiado aqui sou eu, por ter
você como companhia e sua atenção.
Eu não consigo controlar minha risada com sua resposta.
— Se vamos continuar com isso, é bom você começar a atualizar
suas cantadas. — Hunter dá de ombros, porém ainda mantém um sorriso no
rosto.
Ele fala com mais algumas pessoas à medida que passeamos pela
exposição, a outras, que ele tem um interesse maior e acaba tendo alguma
conversa, ele chega a me apresentar, e eu estendo a mão, também as
saudando.
Já estou na minha terceira taça quando paramos em frente a uma
fotografia quadrada, com cerca de dez centímetros apenas, ela está
emoldurada em um quadro com mais de um metro. Na foto, há um casal em
frente à Torre Eiffel, em 1920, dois anos depois da Primeira Guerra
Mundial.
— A França ainda estava se reconstruindo na época dessa foto —
comento, encantada com a imagem. — Mesmo que a torre tenha sido
construída como um marco de 100 anos após a revolução, ela ainda foi uma
grande chave para a comunicação durante a Primeira Guerra, os sinais
enviados a partir dela, davam uma direção à linha de frente. E mesmo após
o fim da guerra, o país ainda passou por maus bocados, mas isso não parece
abalar o casal, que continua sorridente, como se nessa época não vivessem
em um país que acabara de sofrer, como se estivesse tudo bem, pois tudo o
que importa é como eles se olham — divago, ainda concentrada na foto,
sendo impossibilitada de tirar meus olhos dela.
Ao dar um gole no vinho, volto a encarar Hunter, que também
observa a foto, ele parece pensativo ao passo que tem os olhos nela. Dou
um pequeno sorriso ao colocar a taça sobre meus lábios e é então que sinto
meu pé afrouxar contra minha sandália.
Olho para baixo, para ter a certeza de que eu não estou bêbada
demais, e constato que realmente não estou, assim que a tira da sandália
desamarrada.
— Merda — murmuro.
— O que foi? — Hunter pergunta, alheio à minha situação.
— A sandália resolveu desamarrar logo agora — reclamo.
— Vem cá — ele chama, me fazendo sentar em um banco que há no
meio da exposição, na parede atrás de nós há alguns quadros.
Quando me sento ao seu lado, Hunter pega o meu tornozelo e o
ergue, colocando em cima das suas pernas. Eu continuo segurando a taça de
vinho enquanto ele trabalha vagarosamente, amarrando novamente a
sandália, ao finalizar, ele passa as pontas dos seus dedos por minha perna e
curva o seu corpo, seus lábios encontram meu tornozelo e ele deixa um
beijo molhado ali.
— Agora você está calçada.
Sinto um arrepio súbito subir por minhas costas, e minha língua
queimar em pura excitação, até mesmo arfo um gemido, me auto
reprimindo pela situação. Os olhos claros de Hunter estão escuros, e posso
jurar que ele se encontra faminto nesse momento, assim como eu.
Contudo, a nossa fome é interrompida com o anúncio do leilão.
Pegando a plaquinha que lhe foi entregue quando entramos na
galeria, Hunter se põe de pé, estendendo a mão para me ajudar a me
levantar.
Sinto uma leve tontura ao ficar de pé, por isso decido parar de beber
por hora e fico apenas nos food fingers, que alguns garçons servem. São
comidas totalmente frescas e chiques demais, eu daria tudo para comer uma
pizza agora, mas acabo me contentando com um canapé feito com pão
assado, caviar e geleia de pimenta por cima.
Faço uma careta ao engolir e vejo Hunter rindo do meu lado, dou
um leve empurrão no seu braço, fazendo com que ele pare e volte sua
atenção ao leilão, do qual ele ainda não fez questão de levantar a placa em
nenhum momento.
Até que a foto que havíamos parado em frente é anunciada, o
primeiro lance é de cinco mil dólares, e ele levanta a placa.
— Você tá louco? — pergunto no pé do seu ouvido.
— Ainda não — ele responde quando é oferecido o lance de dez
mil, e outra pessoa levanta a placa. — Dou quinze — anuncia.
— Hunter — rosno.
Outra pessoa oferece trinta.
— Cinquenta!
— Meu Deus do céu — exclamo, assim que a pessoa com quem
Hunter briga pela foto levanta a placa, oferecendo cem. — Isso é loucura.
— Cento e vinte — Hunter ataca.
— Cento e cinquenta — o homem briga pela foto.
— Gente, é só uma foto — eu reclamo em um sussurro.
Certo, não foi exatamente um sussurro, foi um daqueles que
normalmente eu dou, onde acabo falando em voz alta, e outras pessoas
olham para mim, como se o que eu acabo de falar fosse uma mentira.
— Cento e sessenta — Hunter continua oferecendo mais dinheiro.
— Cento e sessenta e cinco — o outro homem oferece.
Notando que seu adversário está prestes a desistir, a boca de Hunter
é tomada por um sorriso feroz, quando ele levanta a placa o mais alto
possível e diz:
— Duzentos mil dólares, mais vinte de doação.
Aperto minha mandíbula com força, a fim de me obrigar a me
manter calada e não falar nenhuma merda, porém estou muito abismada
com o que acaba de acontecer aqui, para me conter. Por isso que quando
passam a anunciar outra imagem, eu puxo Hunter para mais perto de mim e
falo no seu ouvido, dessa vez garantindo que eu esteja realmente
sussurrando:
— Você não caga dinheiro para comprar uma foto por duzentos mil
dólares.
— Mas tenho o suficiente para comprar toda essa galeria, se for o
caso de te ver tão encantada quanto quando você olhou aquela foto, então
ela vale os duzentos mil e muito mais, se for necessário. Além do mais, esse
dinheiro vai para as crianças carentes.
Um fogo começa a crescer dentro de mim, logo que suas palavras
me atingem. Não por conta do dinheiro que ele acaba de gastar em uma
simples foto, mas sim, pelo fato de ele tê-la comprado apenas por ter me
escutado falar sobre ela e ter visto o quanto aquilo me emocionou.
É obvio que essa imagem não vale tanto dinheiro assim, só que para
Hunter não é apenas a imagem, e sim, o sentimento que ela trouxe a ele, a
mim. A nós...
Minha boca se curva em um sorriso, e se não estivéssemos em um
local público e com tanta gente, eu agarraria esse homem aqui e agora,
contudo consigo me conter enquanto estamos no meio de tanta gente.
O leilão continua rolando, entretanto Hunter não se interessa mais
por nenhuma imagem. Ao final, ele fala com um dos recepcionistas, assina
um cheque, e eles informam que dentro de dois dias, a peça será enviada
para o endereço.
Quando já estamos no carro, ele não para de acariciar minha perna,
e todo o meu corpo vibra com cada toque seu, e por mais leve que seja, me
excita o suficiente, é por isso que eu lanço um olhar em sua direção, que
entrega exatamente o que eu quero e preciso. Não preciso dizer nenhuma
palavra para que Hunter ataque minha boca.
Ele está faminto, assim como eu, que chupo seu lábio inferior e
abandono sua boca, descendo um beijo molhado por sua mandíbula, em
resposta. Hunter passa a língua pela extensão do meu pescoço, fazendo com
que eu arqueie minhas costas, e meus mamilos passam a doer, de tão duros,
sendo pressionados contra o tecido fino, porém apertados na faixa do
vestido.
Hunter nota a minha súplica quando arfo audivelmente contra sua
pele, e com seus olhos vívidos, e uma sobrancelha erguida, ele pergunta:
— Posso?!
— Por favor.
As pontas dos seus dedos tateiam o meu corpo, até minhas costas,
onde ele encontra o zíper do vestido e começa a descê-lo, não para me
despir por completo, apenas para deixar meus seios livres, que clamam por
sua atenção quando ele os encara com uma malícia explícita, mordendo o
lábio.
— Você está perfeita nesse vestido, tanto é que não pude olhar para
mais nada além de você dentro dele a noite inteira, mas nesse instante, você
acaba de superar toda a beleza existente no mundo — ele declara, antes de
atacar o meio entre os peitos, deixando beijos molhados ali.
Se Hunter acaba de dizer a verdade, eu não sei, porque a única
certeza que eu tenho, é que quero sua boca percorrendo todo o meu corpo, e
se ele vai começar dando uma mordiscada em um dos meus mamilos,
enquanto seus dedos acariciam o outro, que assim seja.
O vidro que divide a limosine entre o nosso espaço e o do motorista
está alto, portanto, ele não vê nada do que acontece aqui atrás. Contudo,
sinto meu rosto esquentar ao soltar um gritinho assim que Hunter abandona
meu peito com um chupão, na intenção de dar atenção ao outro. E assim ele
faz.
— Porra, Hunter, não pare — suplico, fechando os olhos.
Juro que estarei prestes a gozar, se ele continuar me mamando dessa
forma, entretanto a sua mão, que devia vir de encontro ao peito recém-
abandonado, começa a descer pelo meu corpo, encontrando primeiro a
minha barriga, ainda coberta pela peça vermelha que uso, e descendo um
pouco mais. Eu gemo seu nome no instante em que sua mão grande
encontra minha coxa, apertando-a.
— Eu juro que se você parar... — Inspiro fundo ao sentir seus dentes
cravando no meu bico. — Merda — sibilo em seguida.
Sinto o sorriso presunçoso dele se formar, mesmo com sua boca
ainda adornando meu peito, e sua mão apertando as carnes da minha perna,
em uma movimentação de vai e vem contínua.
Sua língua faz círculos pela minha auréola, deixando que o mamilo
descanse por pouco segundos, e ainda de olhos fechados, ouço Hunter fazer
um pedido.
— Olha para mim, Georgia. — Eu tento fazer o que ele pede, no
entanto, minhas pálpebras tremem, se negando a ouvir o comando que meu
cérebro, juntamente com a voz rouca do meu chefe, pede. — Georgia... —
ele chama outra vez, apertando ainda mais minha perna.
Porra! Meu clitóris, que nem mesmo entrou em jogo ainda, está
doendo de tanta excitação, prestes a me libertar a qualquer segundo.
— Georgia — Hunter sussurra, minha boca se enche de saliva, e eu
a engulo.
Dou todas as minhas forças para abrir os olhos e encarar Hunter, e
quando o faço, ele passa a pontinha do dedo no bico do meu peito, beijando
a pele do outro, e sem tirar os olhos de mim, continua:
— Nós acabamos de parar em frente à sua casa, então o máximo que
eu vou fazer por hoje, é te ver gozar enquanto minha boca te mama, mas eu
preciso que você goze para mim, entendido?
Assinto com a cabeça rapidamente, sentindo minha garganta se
fechar, pois a sua voz já tem o efeito quase necessário para me libertar.
— Preciso que você me diga que entendeu, Estrelinha.
Eu odeio esse apelido, só que falado dessa forma, faz com que meu
centro palpite, me avisando que eu estou próxima.
Hunter franze o cenho para mim, e eu me forço a responder.
— Eu entendi, Chefinho.
Ele solta uma risada áspera, antes de voltar a arranhar todo o meu
peito com os dentes. Eu já estou tão perto do auge, que ele não precisa me
chupar muito, apenas seus olhos carregados de luxúria e uma chupada
esticando o meu peito, fazem com que eu entreabra os lábios e aperte o
banco de couro da limosine, tentando manter meus olhos abertos à medida
que meu gozo é liberado.
Me permito fechar os olhos e respirar fundo, ao passo que as mãos
de Hunter voltam para o fecho do meu vestido, colocando-o no lugar, no
entanto o seu toque ainda causa espasmos na minha pele.
Abro meus olhos lentamente ao sentir que seus dedos, que antes
estavam na minha perna, agora acariciam o meu rosto, que queima devido
aos últimos acontecimentos. Quando tenho meus olhos fixos nele, Hunter
diz algo que eu já sabia, porém depois de agora, não estava pronta para
ouvir.
— Vou passar os próximos três dias fora, devido ao jogo em São
Francisco.
Seus lábios encontram os meus, depositando um beijo calmo e leve,
seu braço passa por mim e ouço o clique da porta sendo aberta. Hunter
separa nossas bocas e desce do carro, me estendendo a mão para que eu o
acompanhe.
— Te vejo em três dias, Chefe — me despeço.
— Saiba que já me sinto ansioso para quando voltar de viagem. —
Sua voz é rouca ao anunciar.
Ele beija o meu rosto, e os nossos corpos se colam, o fogo em mim
sobe no momento em que sinto a protuberância abaixo do seu quadril.
— Até já, já — ele se despede e entra no carro.
Um sorriso amplo se ergue em minha boca, eu dou um passo para
trás, ouço o carro ganhando vida e me viro, para subir as escadas, uma vez
que o frio de Nova Iorque começa a congelar a minha pele.
Tomo um susto ao encontrar minha mãe, fumando no pé da escada,
ela solta as cinzas no chão e dá um sorriso para mim.
— Acho que alguém finalmente gozou — ela zomba.
Nem mesmo o humor ácido dela é capaz de tirar minha felicidade,
por isso o máximo que faço em resposta ao passar por ela, é tomar o cigarro
de suas mãos e apagá-lo. Ela reclama, contudo, não me importo.
Porque Hunter Blakely, a grande estrela do basquete, acaba de me
fazer gozar sem nem mesmo precisar tirar minha calcinha.
A vida é mesmo uma maravilha.
— Filho da mãe! — amaldiçoo Ezra quando ele atende à ligação. —
Você viu as manchetes que estão saindo nos sites de fofoca?
— Que site, cara? — ele responde, com a voz sonolenta.
— O que diz que você estava entrando em um carro com três
garotas e as levando para o hotel — explico, com a raiva evidente na minha
voz.
Ele ri do outro lado da linha.
— O técnico Lynch vai me matar.
— Errado, ele não vai estar, e você sabe o melhor de tudo?! —
pergunto, retórico, e ele murmura em resposta. — Meu nome está sendo
vinculado. Segundo um dos perfis, eu saí mais cedo da festa, e você levou
algumas daquelas garotas para a gente fazer algum tipo de suruba no hotel
— rosno.
Após nós ganharmos do time de São Francisco ontem, os caras do
time se animaram o bastante para pararmos em uma boate — já que pelos
próximos quatro dias não teremos nenhum jogo, além do de Ação de Graças
—, eu fui o penúltimo a deixar o local, deixando Ezra sozinho com uma
garota, e todos da imprensa sabem o quanto somos próximos desde a época
do draft.
— Pensa no lado positivo, você não vai deixar seu melhor amigo se
foder sozinho — ele tenta descontrair, porém não adianta muito.
Eu bufo, sabendo que ele tem razão, e eu jamais o deixaria sozinho
sobre qualquer reclamação do técnico.
— Você sabe que eu posso apenas mostrar o meu ticket de viagem,
que mostra que no horário das fotos eu estava em um voo, retornando para
Nova Iorque, não é?
— O problema é que ele pode pedir algum teste antidoping.
— Você usou alguma coisa? — pergunto, já preocupado.
— Não — responde, hesitante. — Mas uma das garotas cheirou.
— Que merda, Ezra. — O silêncio toma conta da ligação. Tanto eu
quanto ele, sabemos que se alguma merda acontecer, estamos todos
encrencados, porque todo o time estava naquela boate, então o comitê será
obrigado a testar todo mundo, e esses testes são extremamente sensíveis.
— Se algo acontecer, eu juro que entro nessa sozinho, afinal, eu
estava sozinho de toda forma. Você já estava voltando para casa, e os
outros caras já tinham vindo embora.
— Quando você volta?
— Acho que hoje à tarde, com o resto do time. — Escuto a voz de
uma mulher ao lado dele e automaticamente nego com a cabeça.
— Termina seu serviço e qualquer coisa, me liga — me despeço
dele e desligo a ligação.
A verdade é que eu ainda deveria estar na Costa Oeste, contudo,
depois do que aconteceu com Georgia após o leilão na sexta, me fez
adiantar a minha volta para casa.
Faz apenas duas horas que cheguei em casa, mesmo assim não
consegui dormir, sabendo que ela deve chegar a qualquer momento, e nem
mesmo ela tem ideia de que eu já estou aqui.
E sendo sincero, eu não sei como vou agir quando a vir, se vou
comê-la com os olhos só de imaginar sua boca entreaberta e seus seios
fartos na minha boca enquanto ela tinha um orgasmo ou se vou beijá-la
como fiz a semana passada inteira.
Ou pior, se devo voltar a agir como seu chefe, o que na realidade
nunca aconteceu, mas eu não posso voltar atrás, depois de ter andado tantos
passos para frente. É que eu apenas não sei o que está acontecendo entre
nós, e o próximo passo que devemos seguir já está tão explícito na minha
mente, que eu chego a ficar duro apenas de imaginar.
Ouço o clique da porta da frente se fechando e me escondo no
corredor, abro a câmera do celular e começo a filmar assim que seus passos
ecoam pelo apartamento vazio, subindo as escadas. Aponto celular e dou
um passo à frente.
Georgia pula ao colocar a mão sobre o peito e fecha os olhos no
mesmo instante em que paro de gravar. No entanto, me alerta quando me
olha, seu rosto se fecha, e ela ergue a mão, me mostrando o dedo do meio,
antes de dar as costas e seguir para o escritório.
Me apresso em travar o celular, apertando em qualquer canto da tela
e guardando-o de volta no bolso do calção, e a sigo.
— Georgia — a chamo.
Em resposta, ela fecha a porta, entretanto eu a abro e a vejo tirando
o casaco, vestindo agora apenas uma saia branca e um suéter rosa.
— O que está acontecendo? — pergunto, me aproximando.
Ela se senta na cadeira e liga o computador, não dando a mínima
para a minha existência.
— Por que você está tão arisca? — tento outra vez, e ela franze os
lábios.
— Nada — responde ríspida, sem tirar os olhos da tela.
— Você está estranha — esclareço o que já está claro, e ela dá de
ombros. Seus dedos começam a teclar alguma coisa, mas eu não me
importo, apenas continuo. — Então é isso, vamos fazer greve de silêncio
agora?
Agora ela pega algumas folhas na gaveta ao lado, acompanhadas de
uma caneta e me entrega, sem me olhar.
— O que é isso? — pergunto atônito, e ela põe o dedo em cima das
palavras, e vejo que se trata do contracheque da equipe de limpeza do
apartamento.
Eu assino e ponho a folha na frente do seu rosto, ela a pega e guarda
novamente na gaveta.
Tudo bem, se ela quer jogar sujo, eu jogo também.
Ficando atrás dela, passo os cachos que adornam seu rosto para trás
e me aproximo do seu ouvido, vejo o exato momento que os pelos do seu
corpo se eriçam e ela estremece, por mais que tente continuar firme.
— Comprei donuts para o almoço — sussurro no pé do seu ouvido.
No mesmo instante, Georgia gira a cadeira, ficando de frente para
mim. Um brilho toma conta dos seus olhos, ela arqueia uma sobrancelha, e
finalmente ouço a sua voz doce, me desafiando.
— Mentira sua, você se nega a comer massa no almoço, quem dirá
um donut cheio de recheio e glitter.
Um sorriso se ergue nos cantos da minha boca.
— Você me pegou, eu não comprei, ainda... — Passo a ponta do
dedo sobre seu rosto. — Agora me fala, o que aconteceu?
Georgia se recosta na cadeira e gira a caneta em seus dedos,
encarando-a.
— Por que voltou mais cedo de São Francisco? — pergunta.
Não preciso que ela diga mais nada, pois eu já entendi tudo, lembro
da conversa que tive com Ezra há pouco e tudo fica claro na minha mente,
por isso que começo a rir com a sua reação.
— Você está com ciúmes? — pergunto em meio à risada.
— Ciúmes?! — se apressa em responder. — De quê? — Sua voz sai
fina, se fazendo de desentendida.
— Vai me dizer que não viu o Ezra saindo da boate com três garotas
e que todos os veículos estão vinculando a situação a mim também? —
digo, ainda rindo.
— Ah... isso?! — Dá de ombros. — Foi a primeira coisa que vi hoje
pela manhã, foi por isso que você voltou mais cedo?
É obvio que ela está se fazendo de doida nesse momento, pois a veia
de estresse em seu supercílio começa a pulsar violentamente, e eu fico sério
instantaneamente. Por mais que a sua reação tenha me surpreendido, eu não
posso julgá-la se ela tiver sentido qualquer coisa do tipo.
Afinal, o nosso beijo só aconteceu porque eu entrei naquele
restaurante e parecia um cachorro desesperado marcando território.
Porém, devo assumir que ver Georgia com ciúmes, é algo
superdivertido, uma vez que ela tenta manter a voz normal enquanto suas
feições fechadas, deixam explícito tudo o que acontece.
A mulher é simplesmente linda de todas as formas, ainda mais
quando está com raiva.
— Porque eu não via a hora de te reencontrar — respondo a sua
pergunta, e ela tenta segurar o sorriso que deseja aparecer em seu rosto,
com a testa enrugada e a boca torcida. — Não tive nada a ver com a
confusão do Ezra, pois eu já estava em um avião. Acredite em mim, eu
estava doido para voltar para casa, pois só você é capaz de desalinhar todas
as minhas estrelas.
— Eu não estava com ciúmes — ela diz, com a voz rouca, à medida
nega com a cabeça, e eu finjo acreditar. — Mas estou feliz de você ter
voltado.
— Eu também — digo, me aproximando para beijá-la.
Antes de colar meus lábios na sua boca, Georgia diz:
— Eu ainda quero meus donuts.
Não me controlo ao dar uma mordida leve em seu lábio, devido à
sua audácia, e não precisamos de muito para que nossas línguas se tornem
frenéticas. Ao passo que exploro cada canto de sua boca, suas mãos pousam
em meu peito nu, passeando por cada milímetro de pele, me causando ânsia
e arrepios.
Meus dedos adentram seus cabelos, puxando-os, ao erguer seu rosto
para cima. Afasto nossas bocas e começo a trilhar o caminho da sua
garganta até a clavícula com beijos, as unhas de Georgia cravam na minha
pele, e eu chupo-a, mesmo em cima do decote em V do suéter, que mostra
que ela não deixa a nada a desejar.
O meu corpo se agita com a nossa proximidade, e quando dou por
mim, estou levantando Georgia da cadeira e a erguendo sobre meu corpo,
para sentá-la em cima da mesa do escritório.
Meu pau, que já se encontra necessitado e sensível, pulsa ao sentir o
meu celular vibrando no bolso, Georgia solta um suspiro quente contra meu
pescoço.
— Seu celular — ela diz, quando estou prestes a subir sua blusa.
— Eu sei — digo, passando a mão pela barriga dela.
— Está tocando — continua.
— Já parou — informo no instante em que ele para de vibrar.
Ela geme meu nome assim que eu pressiono meu quadril contra o
seu, porém meu celular volta a tocar.
— Hunter...
— Porra — rosno, ao retirar o celular do bolso e jogá-lo no chão.
Após Hunter jogar o celular no chão, eu solto um risinho pela sua
falta de paciência, e suas mãos voltam a agarrar minha cintura, mas antes
que ele possa voltar seus lábios para minha pele, ele pula para trás ao
escutar a música tema de Jogos Mortais ecoar pelo escritório.
— Que porra é essa, Georgia? — ele grita, assustado.
— Personalizei o toque do celular para quando o Chad ligar —
explico, rindo.
— Precisa ser logo a música de Jogos Mortais? — Ele está
realmente perplexo com o toque do celular, que continua tocando, e eu não
consigo segurar a risada.
— Ele é assustador igual ao filme — digo, pegando o celular.
Preciso controlar minha risada ao atender a ligação, ao passo que assisto
Hunter negar com a cabeça. — Estou escutando — falo, ao atender Chad.
Preciso afastar o celular do ouvido quando ele começa a gritar.
— Me explica que merda foi essa que você fez no perfil do Hunter,
Georgia? Não é porque você está pegando ele que você tem esse...
— Espera aí — devolvo o grito, calando-o. — Primeiro, fala direito
comigo e abaixa seu tom de voz.
Eu já disse que odeio o Chad? Não? Então aqui vai: Eu, Georgia
Walton, odeio Chad Morgan. Desde o momento em que entrei na sua sala
pela primeira vez, eu já sabia que nada de bom iria sair entre nós, e o que eu
tenho feito nos últimos meses é suportá-lo, uma vez que eu sou obrigada, já
que ambos temos que trabalhar em conjunto para o bem-estar de Hunter.
— O que ele quer? — Hunter sussurra, olhando para mim, e eu dou
de ombros.
— Segundo, do que você está falando? Porque eu não estou
entendendo nada — continuo a falar com Chad.
— O vídeo que você publicou — ele tenta explicar, me deixando
ainda mais no escuro.
— Que vídeo?
Estalo os dedos, olhando para Hunter e aponto para seu celular no
chão, ele não entende o meu pedido, só que mesmo assim o pega. Quando
me entrega, eu aponto a tela no seu rosto, para desbloquear.
— Eu sempre soube que você seria uma má ideia para a gente —
ele continua falando o que nunca escondeu, já que a cara de nojo que ele me
dá todas as vezes que nos vemos, deixa seus sentimentos claros e evidentes.
Contudo, eu finjo que não estou escutando, porque me conhecendo bem, eu
sei que eu vou atacá-lo de volta.
Enquanto Chad faz um grande discurso, deixo o celular em cima da
mesa com ele falando, e com o celular de Hunter em mãos, a primeira coisa
que vejo é seu feed, e não há nenhum vídeo. A última publicação é uma
foto dele tipo self, jogando videogame que ele mesmo publicou, porém,
vejo que a bolinha que adorna a foto do seu perfil indica que ele postou um
story.
Seguindo a minha intuição, eu abro o vídeo e me deparo com uma
gravação do corredor do terceiro andar do seu apartamento, até que ele se
movimenta, e eu apareço na tela dando um pulo, o vídeo se encerra assim
que eu mostro o dedo do meio a Hunter.
Eu solto um riso áspero, pronta para revidar Chad, fazendo com que
ele engula a sua arrogância de volta, e isso lhe cause uma grande dor de
barriga, mas ao invés disso, pego o celular que havia abandonado e percebo
que ele ainda está falando.
— Eu juro por...
— Não jura por nada — interrompo-o. — Vou passar o celular para
o responsável do vídeo, e você grita com ele, por favor — peço.
Primeiro, mostro o vídeo que passa na tela do celular de Hunter e
depois lhe entrego o celular que está com Chad na linha, ao mesmo tempo
que aviso:
— Considere os gritos que você irá receber agora como um troco
pela postagem do vídeo.
A expressão de Hunter mostra o quanto ele está desnorteado com a
toda a situação. Colocando o celular no ouvido, Chad parece perguntar algo
a ele, que responde:
— Sim, fui eu.
Em seguida, a resposta vem tão alta, que mesmo a ligação fora do
viva-voz, eu ainda escuto em alto e bom som o escândalo que Chad dá e o
imagino, nesse momento, afrouxando sua gravata enquanto olha a
movimentação da cidade através das vidraças do seu escritório.
— Que bela merda você fez, Blakely — Chad brada a ponto de
Hunter afastar o celular do ouvido, fazendo uma careta.
Volto a me sentar na cadeira, ao passo que o cara que estava prestes
a tirar minha roupa escuta gritos e acusações de um empresário cuzão, e
abro o navegador do computador, colocando o nome de Hunter.
Na aba de novidades aparecem todos os tipos de manchetes
possíveis, e olha que o vídeo foi postado há menos de meia hora. Em umas
diz que eu sou amiga, outras já usam fotos nossas entrando no leilão na
última sexta, acompanhado do vídeo postado por Hunter. Uma matéria diz
que já estamos namorando há um mês, porém é tudo segredo, para que
Blakely não perca nenhum contrato.
A mais chocante, diz que Hunter postou um vídeo porque eu o
obriguei, uma vez que ele foi visto em uma boate ontem à noite, do outro
lado de país, e ele foi embora mais cedo, entretanto, seu melhor amigo
levou a sua acompanhante com ele para distrair tanto a mídia, quanto a
mim.
A cada publicação que passo, eu fico mais chocada com o que vejo,
algumas dão até vontade de rir, em outras, eu me sinto atingida, com a que
diz que em breve ele terá que colocar portas de quatro metros pelo
apartamento, para eu poder passar com meu chifre intacto.
Hunter me devolve o celular depois de finalizar a ligação, se recosta
na mesa e cruza as pernas.
— Estão falando muita merda?
— Sim. O caso já está sendo comparado com Brad Pitt, Jennifer
Aniston e Angelina — respondo ao girar a cadeira, soltando uma lufada de
ar. — Como vocês irão resolver isso?
Pergunto, pois sei que sempre que acontece qualquer polêmica que
envolva o nome do Hunter, ele, juntamente com Chad e o Nets, tem uma
equipe de controle de danos. Embora não seja algo que toda pessoa que tem
sua fama precise fazer, é bom sempre estar pronto para caso alguma
polêmica aconteça.
— Eu sugeri ficarmos quietos, já que em breve eles estarão
fofocando sobre alguma outra pessoa, e tudo isso passa.
— Você não acha que seria bom esclarecer que não temos um
relacionamento? — indago.
— Não sei — ele responde, pensativo. — Você acha que a gente
deveria fazer isso?
Paro para pensar por um momento, refletindo as consequências
desse vídeo. A maior de todas, é que estão dizendo que eu fui corna, o que
para mim não é uma novidade, mas é óbvio que o TMZ não precisa saber
disso.
A outra consequência, é que algumas marcas, que visam o Hunter
como um partido solteiro, vendo isso, podem se negar a fechar patrocínios
com ele, e claro, há sempre a questão das mulheres na vida dele.
— Também não sei — digo, deixando os lábios em uma linha fina.
— Se deixar isso quieto, pode ser que daqui uns dias você se apaixone por
uma modelo sueca, e passem a chama-la de corna, você não ia querer isso,
iria?
— Me apaixonar por uma modelo sueca? Jamais — nega
rapidamente, e eu rio.
— Não, idiota. O que quero dizer é que, e se acontecer de amanhã
você engatar um relacionamento com alguém e precisar esclarecer isso mais
tarde...
Sugiro, sentindo um nó se formando na minha barriga, não entendo
o porquê dessa minha reação, uma vez que estávamos nos pegando minutos
atrás, porém tento agir de forma racional e profissional quanto ao assunto,
pois se eu for levar meus sentimentos para esse jogo, eu posso acabar
assumindo que sim, senti um pouco de ciúmes ao ver a matéria onde dizia
que ele havia saído com algumas mulheres.
E diria também que, desde o momento em que ele me deixou na
porta de casa após comprar uma foto pelo simples fato de eu ter me
encantado por ela, ou que, ele me fez ter um orgasmo, transformou aquela
noite em uma das melhores da minha vida.
No entanto, o fato é que eu sou sua assistente, mesmo que
estejamos agindo como um casal apaixonado, ainda somos Hunter e
Georgia, chefe e assistente. E temos que agir de acordo com o contrato, em
casos como esse.
— Eu não vou me apaixonar por ninguém. — Um alívio súbito toma
conta de mim ao ouvir suas palavras com tanta firmeza.
— Mas e se?!
— Não existe “mas”, e não existe “e se” — responde. — A não ser
que isso chegue a atrapalhar você e seus planos.
— Que planos? — inquiro, arqueando a sobrancelha, atônita.
— De você se apaixonar pelo Dean — explica.
Bufo uma risada com o seu comentário, pois seria impossível isso
acontecer. Eu tive mais de cinco anos para que isso acontecesse, e não é
agora, depois de um encontro fracassado e de ainda beijar outro homem no
final da noite, que eu iria me apaixonar por Dean.
— Isso é totalmente impossível — nego de prontidão.
— Então deixa tudo como tá. — Hunter dá de ombros. — A melhor
forma de calar eles, é o silêncio, tudo o que a gente disser, servirá como
munição.
— Certeza disso?!
Hunter balança a cabeça em afirmação enquanto um sorriso
promiscuo surge em seu rosto, mudando totalmente seu semblante de
relaxado para safado.
— Onde nós estávamos mesmo? — ele pergunta ao puxar a cadeira
para perto.
Antes mesmo que possamos recomeçar qualquer coisa, a campainha
toca, fazendo nós dois virarmos nossas cabeças em direção ao som.
— Está esperando alguém? — pergunto.
— Não, e você?
— Também não. Será que não é o Chad?
— Ele não chegaria aqui em dois minutos. — A campainha toca
novamente. — Bom, para tocar a campainha e não ser anunciado pela
recepção, só significa que pode ser uma pessoa — Hunter pensa.
— Quem? — Outra vez a campainha ressoa.
— Por que você não abre e descobre? — ele sugere, e eu nego com
a cabeça, com medo da intenção que ele demonstra na voz. — Vai lá, vou
só vestir uma roupa — tenta me incentivar, ao me pôr de pé.
— Não estou gostando muito disso — digo à medida que Hunter me
leva para fora do escritório.
— Mas você vai gostar em breve, prometo.
Eu já disse que eu odeio promessas?
— Odeio promessas — murmuro.
— Essa, você vai adorar. — Ele dá um beijo em cima da minha
sobrancelha, quando sinto-a pulsar. — Agora vai lá.
Agradeço mentalmente por Hunter ser rico o suficiente para ter um
piso aquecido, uma vez que me desfiz dos meus tênis quando ele me
colocou sobre a mesa, e com o frio que está fazendo atualmente, se ele não
tivesse um bom sistema de aquecimento, com certeza eu iria necessitar de
dez pares de meia e cinco casacos para não congelar.
Desço as escadas apressadamente quando a pessoa que está
esperando no hall de entrada toca a campainha, agora, incessantemente.
Não entendo como Hunter diz que eu vou adorar, quando ele sabe
que coisas desse tipo, só me irritam.
Estou pronta para soltar um palavrão ao abrir a porta, entretanto
sinto minha boca se abrir no momento em que vejo Caelia, a senhora que
sempre foi uma cliente fiel do Happie, na entrada.
— Georgia? — ela me chama, também surpresa. — O que está
fazendo aqui, filha? —Um sorriso nasce em seu rosto.
— Eu... — Engulo em seco, antes de responder e dar espaço para
que ela entre. — Eu trabalho aqui, Lia, por que você não entra e me diz o
que a senhora faz aqui?
— Já te disse para me chamar de você — ela implica. — Meu neto
mora aqui, eu não fazia a mínima ideia de que você trabalhava com o
Fillipo.
— Espera, o Hunter é o seu neto? — pergunto, exasperada.
— Sim — ela responde enquanto eu a ajudo a retirar o casaco. —
Hunter, é para esse pessoal esnobe do esporte e fãs, mas para mim, ele é o
Lip.
Lip... Fillipo...
Caelia é descendente de italianos, e até então eu conhecia seu neto
apenas como Lip, tudo se encaixa quando lembro do nome do nome
completo de Hunter, e o segundo nome dele é italiano, Fillipo.
— Afinal, onde ele está? — a senhora pergunta no mesmo instante
em que Hunter aparece, descendo as escadas e terminando de vestir a
camisa.
— Nona. — Ele corre para cumprimentá-la.
Na minha cabeça, o relacionamento deles ainda é um absurdo, por
mais que tudo sempre tenha indicado que eles poderiam ser parentes.
Porque vamos lá: Caelia criou o neto sozinha, Hunter foi criado pela
avó. Os dois vivem no Brooklyn, eu nunca havia visto Hunter na minha
vida até o dia em que entrei no escritório de Chad, e também nunca havia
visto o neto de Caelia, então tudo faz sentido agora... os sorrisos gentis que
ambos carregam.
Quando os dois se desfazem do abraço, Lia taca a mão no peito de
Hunter.
— Você é um neto muito sem futuro, eu estou prestes a viajar em
um cruzeiro, e você nem iria me ver antes de eu partir.
— Deixa de exagero, Nona — Hunter diz. — A senhora embarca
amanhã, e eu até mesmo voltei de viagem mais cedo, apenas para me
despedir de você — completa, porém, seus olhos me encontram quando ele
solta uma piscadela para mim, e eu nego com a cabeça. — Deixa eu te
apresentar a Georgia...
— Não precisa — eu digo, fazendo um gesto com a mão, e Hunter
franze o cenho, sem entender.
— Nós nos conhecemos desde que essa garota saiu de dentro da
mãe dela, praticamente. Se eu fosse escolher ter uma neta na minha vida,
com certeza seria ela — Lia diz em um sorriso, e eu não me controlo, me
aproximo dela, dando um beijo no seu rosto.
— Está insatisfeita comigo? — Hunter reclama, mágoa é evidente
em seu rosto.
— Se você me visitasse mais vezes... — a avó dele decide atacar
pelo lado emocional. — Agora me digam, como eu não sabia que você
trabalhava com meu neto? — Lia pergunta.
Então nós contamos como tudo aconteceu, e ao sermos questionados
se já nos conhecíamos antes, ambos negamos. Também chego a falar sobre
as coincidências de termos estudado na mesma escola e até na mesma
faculdade por alguns anos, além de morarmos tão próximos um do outro
por anos e nunca, sequer, termos nos esbarrado antes.
— É que o destino não brinca em serviço, ele deixa que tudo
aconteça na hora que tem que acontecer — Lia explica.
Em seguida, ela anuncia que trouxe os ingredientes para fazer uma
lasanha, e é claro que eu me animo, já Hunter, faz uma careta. Logo, a
senhora começa a fazer drama sobre como é rejeitada pelo neto, e mesmo a
contragosto, devido à sua dieta regrada, Hunter, ou eu diria, Lip.
Melhor, Fillipo!
Acaba concordando com a avó, que dá um sorriso vitorioso ao
caminhar rumo à cozinha.
Chegando lá, Caelia sabe onde fica tudo. Ela começa a me contar
histórias de quando Hunter era adolescente e sua paixão pelo basquete
desde lá, e que hoje é extremamente feliz pelo neto estar conquistando
todos os sonhos que teve enquanto era apenas um garoto.
Ouço tudo com bastante atenção ao passo que a ajudo a preparar o
almoço.
— Por que você não vai comprar uma Coca? — Lia sugere ao neto.
— Aqui não entra refrigerante — Hunter rebate.
— E lasanha só combina com uma Coca-Cola gelada. — Ela dá um
sorriso em que Hunter não precisa dizer mais nada, apenas se levantar e
fazer o que ela pede.
Porém, antes ele me olha da porta, seus olhos brilham, me pedindo
para salvá-lo, mas eu prontamente me nego.
— A Lia tem razão, lasanha só combina com Coca e de preferência,
gelada.
— Você nem é italiana — Hunter acusa, e eu mostro a língua para
ele, antes de ele dar as costas.
Assim que estamos apenas nós duas na cozinha, esperando a
lasanha gratinar no forno, Lia me olha com segundas intenções explícitas
no seu olhar e me pergunta:
— Então na sexta, você estava tão bonita para encontrar meu neto?
— Sinto meu rosto empalidecer à medida que minhas maçãs esquentam em
vergonha, e minha veia pulsa.
Engulo em seco, sem saber o que responder, lembrando do fim da
nossa conversa, onde eu sugeri camisinha, e ela respondeu da mesma
forma.
— Sim — confesso —, mas apenas o acompanhei em um leilão
beneficente, totalmente profissional.
Deixo de fora a parte da compra do seu neto e os motivos dele, e
óbvio, o que aconteceu no caminho de volta para casa.
— Eu acho bom que ele te tenha como companhia — Caelia reflete.
— Por mais que meu neto tenha uma vida bastante movimentada e seja uma
grande estrela em ascensão, ele vive sozinho nesse apartamento gigante.
Saber agora que ele tem uma companhia, mesmo que por poucas horas,
quando está em casa, me alivia. E ele parece realmente se sentir confortável
na sua presença. Isso é bom, Georgia.
— Também me sinto confortável perto dele, além de que, não tenho
do que reclamar do trabalho.
— Ele é um bom garoto — Caelia diz, em um sorriso afetuoso.
— É sim.
— E você também — ela completa. — Vocês fazem bem um para o
outro, nunca esqueça disso, querida.
— Não vou esquecer — garanto.
Realmente não pretendo esquecer.
Mesmo que eu não faça a mínima ideia de quanto tempo esse
emprego irá durar, eu sei que ele já me fez bem o suficiente, e só por isso,
ele já se torna inesquecível.
Sem contar todas as pequenas coisas que Hunter fez e faz ao longo
da nossa pequena jornada, e claro, todas as vezes que ele me beija.
Então, por mais que em futuro muito longe eu possa esquecê-lo, eu
vou me negar a isso até o fim.
Me jogo na cama ao chegar no quarto do hotel onde o time está
hospedado na Filadélfia, onde tivemos um jogo antes do Dia de Ação de
Graças, ganhando os dois últimos tempos, com uma diferença de nove
pontos apenas. Foi um jogo bem acirrado, principalmente pela mídia estar
totalmente focada no fato de que Ezra passou mais tempo no banco do que
em quadra, uma vez que ele é um dos nossos titulares.
Como também sobre meu possível namoro com Georgia.
E não, não estamos namorando, apesar de já quase termos nos
comido, inúmeras vezes, ao longo da semana, não tem como encarar nossa
relação como um namoro.
Quando digo quase termos nos comido, é porque realmente foi
quase, pois todas as vezes em que tínhamos tempo, e a nossa pegação se
tornava mais quente, algo nos atrapalhava.
Primeiro, foi o Chad e sua ligação sobre o vídeo publicado, que por
sinal, mesmo passando quatro dias e nenhum de nós ter comentado nada
sobre, a mídia continua em cima. Inclusive, a última descoberta deles, é que
estudamos na mesma escola, então, segundo eles, estamos juntos desde essa
época, com idas e vindas.
Coitados, se soubessem o que realmente acontece fora das suas
matérias, teriam o mínimo de consideração por nós e nos dariam um tempo
para podermos ficar a sós, sem ninguém enchendo nosso saco. Pois, um dia
após o vídeo, começaram a entrar em contato incessantemente, para saber
um pouco mais sobre o relacionamento que sequer existe ou irá existir, caso
continuem dessa forma, porque ontem, por exemplo, Georgia foi obrigada a
trabalhar diretamente da casa dela, pois os paparazzis estavam acampados
na calçada do prédio pequeno, onde ela vive com a sua família.
Eu: O que eu preciso fazer para você dormir comigo no hotel hoje?
É a mensagem que mando quando pego o celular.
A resposta de Georgia vem logo a seguir.
Georgia: Imagem anexada.
Abro a foto e me deparo com o seu rosto todo cheio de farinha.
Georgia: Primeiro: é uma viagem de duas horas de carro.
Segundo: Você não iria querer transar com um fantasma.
Eu: Se esse fantasma for você, pode apostar que quero sim.
Mesmo que não tenhamos feito sexo até o momento, somos grandes
o suficiente para sabermos que é algo inevitável e que está prestes a
acontecer entre nós. Não custa nada flertar, enquanto isso não acontece.
Eu: Eu só queria um pouco de carinho
:(
Georgia: Já te disse que eu não vou fazer sexting com você,
Chefinho.
Eu: Quando você me chama assim, eu não consigo parar de ver seu
rosto gozando na minha frente, o que custa?
São só umas mensagens mais sensuais.
Georgia: Imagina que vergonha escrever “ah, ah, aaaaah”
“ooooh”
“Isso, me fode gostoso, vaaaaai”
Desculpa, mas passo.
Não consigo controlar minha risada ao ler suas mensagens,
imaginando a sua careta, escrevendo.
Eu: É claro que não seria assim, dessa forma realmente é
vergonhoso.
Georgia: E como seria então?
Não que eu vá fazer, apenas me bateu a curiosidade.
Eu: Curiosidade, hum?
Bom basicamente, é mais sobre enviar fotos do tipo assim...
Imagem anexada.
Georgia: Meu Deus, Hunter, estou na cozinha com minha família!!!
Não acredito que você fez isso!
Eu: Não me diga que todos eles viram.
Georgia: Não todos.
Apenas a April.
E ela não gostou muito do que viu.
Eu: Por que diabos você a deixaria ver?
Georgia: Chefinho do meu coração, quem mandou a foto da axila
cabeluda foi você.
O lado bom, é que se esse emprego não der certo, eu consigo alguns
milhares de dólares com a foto do sovaco de um atleta famoso.
Eu: Você não ousaria vender a foto do meu sovaco.
Georgia: Você não conhece uma mulher desesperada.
Com um jogo atrás do outro, treinos, fisioterapias, entrevistas e
publicidades, aquele Hunter metrossexual, que ama cuidar da sua aparência,
se foi. Não que eu não esteja depilado, até estou... mas apenas lá embaixo,
se é que me entende.
Sei que as coisas estão próximas, porém não sei quando, além de
que sempre me mantenho preparado para essas coisas, e mesmo que nos
últimos dias tenha dado uma atenção mais especial lá embaixo, acabei
deixando a parte de cima por si só.
Eu: E um homem desesperado, você conhece?
Imagem anexada.
Georgia: Que salsichão!!!!
Eu: Ok.
Então por um cachorro-quente você se encanta, mas com um
possível sexting com o futuro MVP da liga, não?
Georgia: Eu nunca disse que iria fazer sexting com você.
Se iludiu à toa.
Mesmo que isso me rendesse mais dinheiro do que o que você
gastou com aquela foto.
Eu: Malvada.
Não vou entrar na discussão da foto novamente, inclusive, quando
chegar em casa amanhã, pretendo colocá-la na cabeceira da minha cama.
Mas ei, vai fazer o que amanhã?
Sei que amanhã é Dia de Ação de Graças, então muito
provavelmente Georgia irá passar com sua família, como acontece na
maioria das casas do país.
Comigo será diferente nesse ano. Desde os nove, eu passo apenas
com minha avó, antes, era com ela, meu avô e meus pais, que se foram em
um acidente de carro quando eu ainda era criança. Não posso dizer que amo
essa data, uma vez que foi tão próximo a ela que aconteceu o acidente, que
tirou a vida de três pessoas muito importantes para mim.
No entanto, minha avó sempre faz de tudo para que eu possa
comemorar essa data da forma correta, sem me lembrar de tragédias, e até
que funciona, embora a saudade deles ainda seja presente, tanto para mim
quanto para ela, que acabou abdicando da sua dor para conseguir me criar e
eu me tornar o homem que sou hoje, e todos os dias de Ação de Graças eu
sempre agradeço por ela ter continuado aqui e ter sido o meu suporte, e na
data de amanhã, não será diferente. Porém, após dar a ela, de presente, um
cruzeiro para idosos, confesso que não sei muito o que fazer.
Ezra até me convidou para passar com a família dele, entretanto
preferi recusar o convite, porque vai que aconteça de eu poder encontrar
Georgia, então prefiro estar livre o dia inteiro para ela.
Georgia: Legal, vai dormir todas as noites ao lado de um casal
estranho.
No Dia de Ação de Graças, normalmente pedimos vários fast-foods
e vemos quem come mais.
Por que você não aparece? Se sair da dieta por um dia, prometo
que não morre.
Eu: Comprei na intenção de fazer você dormir comigo.
Georgia: Sempre soube disso!!!
Uma pena, porque essa grande gostosa aqui, já sabe a verdade e
não vai se deixar levar por uma foto qualquer.
Eu: Não se esqueça que essa foto qualquer, custou duzentos mil
dólares.
Sobre comer besteiras na Ação de Graças... acho uma boa.
Georgia: Sério???!
Eu: Não, diarreia na certa.
Georgia: Como você, em uma hora diz que comprou uma foto para
me fazer dormir com você e depois muda de assunto direto para cocô?
Juro que não te entendo, Lip.
Eu: Não me chama de Lip.
Prefiro Chefinho.
Se você não quer falar sobre defecar, porque não voltamos para o
sexting?
Georgia: Você é impossível, homem.
Não vou te mandar fotos da minha teta!!!!!
Mas se quiser mandar da sua chibata;)
Eu: Eu poderia estar de pau duro, mas toda vez que você fala
chibata, eu broxo.
Georgia: Chibata.
Chibata.
Chibata.
Chibata.
Eu: Malvada, só queria uma ereção:(
Georgia: Agora sério, por que você não aparece amanhã?
Sua avó está viajando, e nós teremos comida.
E talvez algo bem melhor que sexting.
Eu: Isso é uma promessa de algo?
Não posso negar que me animo com sua provocação, uma vez que
estou prestes a explodir de tanto tesão por essa mulher.
Podem existir homens por aí que não dão nada por ela, e até
agradeço por essa possibilidade, mas por Georgia, eu dou tudo e um pouco
mais.
Embora eu não saiba exatamente o que quero dizer com isso, posso
jurar que sou capaz de várias coisas por ela e com ela. Sabe o Ken da
Barbie? Que tem um sexto sentido na série, todas as vezes em que a Barbie
precisa dele? Eu, às vezes me sinto assim com a Georgia, e por favor, que
ninguém nunca saiba que eu assisti Barbie In The Dreamhouse.
Foi em um dia após uma entrevista em uma rádio, onde uma
menininha ligou e disse que ela é minha fã porque eu parecia com o Ken
dessa série, e ao perguntar se eu já tinha conhecido minha Barbie, eu disse
que não.
Mesmo que naquele dia eu tenha tido uma vaga lembrança do
momento em que segurei cabelos cacheados e ajudei uma garota aleatória
na faculdade a vomitar, eu respondi que não. Contudo, se aquela ligação
acontecesse hoje, eu diria que sim, que encontrei a minha boneca, pela qual
tenho um sexto sentido e desejo estar ao seu lado, mais que qualquer coisa
no mundo.
E eu nem mesmo sabia que eu sentia tudo isso até esse exato
segundo.
Por isso, meu coração bate forte e acelerado quando recebo a sua
resposta, sendo impossível não sorrir com ela e aguardar ansiosamente por
esse momento.
Georgia: Nunca fui de prometer nada, Chefinho, sempre preferi
fazer.
— Então vocês ainda não transaram? — é a pergunta que Zoe faz,
depois de eu ter dito tudo o que vem acontecendo comigo e Hunter desde o
leilão.
— Acho que apenas não tivemos a oportunidade ainda — reflito.
— Que oportunidade o que, maluca? O cara não tem cinco minutos
para colocar o pau pra fora e dar uma rapidinha com você? Porra — ela
diz, consternada.
Uma cliente, que acaba de sair da cafeteria, passa por nós fazendo
careta e apressando o passo ao ouvir o que acaba de sair da boca da minha
amiga. Estamos sentadas na escada ao lado do café, Zoe veio passar o
feriado de Ação de Graças em casa.
— Cinco minutos é óbvio que ele tem — digo ao subir meus olhos,
encarando minha amiga. — Mas não acho que seria justo nós simplesmente
darmos uma rapidinha e pronto, acabou.
— Se a rapidinha for boa, pelo menos você terá um orgasmo
garantido, ao invés de passar quarenta minutos em uma transa, correndo o
risco de ficar seca.
Faço uma careta, franzindo o rosto.
— Acho muito difícil isso acontecer — ressalto o que é óbvio. —
Ele me fez gozar apenas com os dentes em um dos meus mamilos.
Zoe ri de mim, como se eu tivesse acabado de falar uma besteira.
— Ai ai, Georgia, como você é inocente — zomba. — Você gozou
por provavelmente estar necessitada.
— Se é o que você pensa. — Dou de ombros. — Quando eu digo
que ele sabe o que faz, é porque ele sabe.
— Ao contrário de certas pessoas — rosna e afia seu olhar para a
pessoa que vem em nossa direção. — O que você quer aqui, Bryce?
Seu irmão meneia a cabeça em um cumprimento para mim, e eu
finjo que não vejo. Bryce é alto, tem os cabelos pretos iguais aos fios da
irmã, em um corte militar, os olhos são pretos na mesma proporção dos de
Zoe, e tem uma leve barba por fazer. Ele é realmente um homem bonito,
não nego, até porque namorei com ele por anos, pena que é um traidor.
Imagino que se ele nunca tivesse ficado com minha colega de
quarto, possivelmente estaríamos noivos ou casados já.
— Minha mãe pediu para eu vir pegar a torta de sobremesa, mas
você sabe... — Ele deixa morrer, ao apontar para a entrada da loja.
Bryce não é um cara burro, nunca foi, afinal é TI de um desses
escritórios grandes de Manhattan, e apenas um cara idiota entraria na loja
dos pais da garota que ele traiu e arriscaria não apenas olhares feios em sua
direção, como também uma mãe e madrasta raivosas, prestes a usarem um
taco de beisebol nele.
Eu sorrio para ele, em desdém.
— Se não fosse um traidor miserável, isso não aconteceria — Zoe
murmura, ficando de pé. — Já volto.
Noto seu pomo-de-adão subir e descer quando ele engole em seco e
troca o peso do seu corpo de um pé para o outro. Bryce olha para o chão e
depois para mim, que estou com a sobrancelha arqueada e com a boca
torcida.
— Fala logo — peço, ao soltar uma lufada de ar.
— Ouvi dizer que você está saindo com o Hunter Blakely. — Minha
sobrancelha levanta um pouco mais. — É sério entre vocês dois?
Nesse momento, não sei se fico feliz por Hunter não se pronunciar
quanto às notícias ou se amaldiçoo que ele não fez isso. No entanto,
sinceramente, olhando para meu ex-namorado agora, tanto faz essa
explicação ou não, porque eu sei que apenas pessoas como ele estão
realmente curiosas sobre nós dois, e ele pouco importa para mim.
— Sinceramente, eu não entendo qual que seria seu interesse nesse
assunto — digo.
— Apenas estou preocupado com você. — Ele se aproxima,
sentando-se ao meu lado na escada. — Ele é um cara famoso, e antes
mesmo disso, ele já era pegador demais. Como uma pessoa que conviveu
tanto tempo ao seu lado, eu acho que tenho um pouco de liberdade para
pedir para você tomar cuidado, para ele não quebrar seu coração.
Faço uma careta pela sua atitude.
— Como quando você me traiu, e eu acabei bêbada na cama de um
desconhecido, que provavelmente me escutou chorando por você? — Dou
um sorriso falso ao finalizar.
— Ainda não superou isso?! — Escancaro minha boca com seu
comentário.
— Você realmente não tem noção do tanto de merda que sai da sua
boca, não é mesmo, Bryce? Vai namorar com alguém por anos e depois
tomar um chifre dela para você ver se é bom, idiota.
Bryce cruza as mãos sobre os joelhos e abaixa a cabeça.
— Eu sei que errei e já te pedi desculpas várias vezes por ter feito
isso, Georgia, mas já faz dois anos. E se eu estou falando isso, é porque
realmente não quero que você se magoe com mais ninguém.
— Até porque, você quer ter o papel exclusivo do cara que me
partiu ao meio, não é mesmo?! E pode fazer o tempo que for, uma traição,
sempre será uma traição.
— Em minha defesa, estou tentando evoluir, mas me parece que
você quer ser infantil para sempre quanto a esse assunto. Só quero deixar
claro que você é definitivamente o tipo de mulher que merece mais do que
eu fui para você. Eu não te valorizei, mas espero de coração, que você
acabe com alguém que te valorize, e acredito que Hunter Blakely não seria
essa pessoa, uma vez que o cara é o maior pegador, a mídia está aí para
comprovar, então possivelmente ele só irá te usar e depois te jogar fora.
Engulo em seco ao ouvir suas palavras, que me acertam como uma
flecha.
Não é porque esse assunto começou por conta do meu possível
envolvimento com Hunter ou porque ele quer me proteger dele, porém as
palavras de Bryce me fazem voar diretamente para o momento em que
conheci meu chefe, ele parado de frente para mim com uma expressão de
surpresa, e para todos os pequenos momentos que passamos juntos.
Quando penso em valor e em todas as pessoas com quem já me
envolvi, é impossível Hunter não aparecer na minha cabeça. Por mais que
nossa relação, atualmente, seja estritamente profissional com vários
momentos quentes entre nós, além da minha família, Zoe e Caelia, de
longe, Hunter é aquele que mais me deu valor por eu ser exatamente quem
eu sou.
— Muito obrigada, mas eu prefiro me fazer de surda sobre tudo o
que você acaba de falar, porque no final do dia, a única pessoa que trai aqui,
é você. — Minha voz sai mais firme do que eu planejava, e fico feliz por
isso.
— Tem mesmo que sempre voltar para esse assunto? Está na hora de
crescer, Georgia.
Estou pronta para devolver outra resposta do tipo, contudo, somos
interrompidos quando alguém coça a garganta, e nos faz olhar na mesma
direção.
— Atrapalho em algo? — Hunter se projeta à nossa frente, ele usa
uma calça jeans, o moletom preto do Nets e está com o capuz cobrindo sua
cabeça.
Ezra sai do carro que está estacionado no meio fio, recostando ao
lado da porta e cruzando os braços, enquanto Hunter me olha, confuso.
Imediatamente um sorriso se ergue nos cantos da minha boca, e eu sequer
volto minha atenção a Bryce, que por sua vez, responde ao ficar de pé:
— Não. — Ele olha para mim novamente. — Apenas pensa no que
eu te falei e multiplica tudo o que eu fiz por cem.
— Pode deixar — respondo, transformando meu sorriso em puro
cinismo e mostrando o dedo do meio a ele.
Bryce balança a cabeça, entretanto não deixa de dizer:
— Espero que você consiga crescer um dia.
— E eu que você comece a passar um lustra-móveis nessa sua cara
de pau — respondo no mesmo tom.
Porém, quando ele está pronto para falar algo, Zoe sai do café e
praticamente joga a torta nele, estreitando os olhos para o irmão. Apesar de
ela o amar, o que eu não julgo, ela o odeia na mesma proporção que odiaria
qualquer cara que fosse um lixo com sua melhor amiga, então a relação
deles, apenas eles entendem. De toda forma, Bryce vai embora sem dizer
mais nada.
Zoe mantém a cara fechada após a ida do irmão, e Ezra, que assiste
tudo com um sorriso divertido no rosto, ilumina seu olhar diretamente para
minha amiga, que afia seus olhos na direção dele, e pergunta:
— Está achando alguma coisa bonita que não consegue tirar os
olhos?
— Apenas você, docinho — ele devolve.
Hunter solta um assobio ao sentar-se do meu lado e junto comigo,
observa a interação do dois. Enquanto Zoe faz uma careta para o melhor
amigo dele, Ezra devolve com um sorriso cínico em seus lábios, os dois
continuam se encarando em uma espécie de guerra por mais alguns
segundos, até minha amiga revirar os olhos e se voltar para mim.
— O cuzão já foi, e em breve minha mãe começa a falar besteira,
me liga mais tarde — ela sussurra, se aproximando para me abraçar. — E
você — aponta para Hunter —, cuide bem da minha amiga. — Ela pisca
para ele.
Antes de sair, ela dá outra olhada de esguelha em Ezra, que manda
um beijinho para ela, que apenas se vira e vai embora.
— Devo adivinhar que essa é a famosa Zoe? — supõe Hunter, e eu
assinto.
— Sua amiga, G? — Ezra pergunta, ainda olhando na direção em
que ela saiu andando.
— Ela definitivamente não é para o seu bico — alerto, e ele me olha
com um sorriso de canto.
— Não estou interessado — Hunter e eu estreitamos nossos olhares
para ele. — Juro! Não estou... só a achei intrigante, digamos assim.
— Uhum — respondemos em uníssono.
— Vocês são tão chatos.
— E você tão mentiroso — o amigo devolve.
Ao contrário de Hunter, Ezra não faz o uso de um capuz, por isso
antes que ele possa devolver, um fã o reconhece e pede um autógrafo,
seguido de uma foto, e ele, de forma simpática, atende o garoto.
Hunter aproveita a brecha para virar o rosto em minha direção, e
perguntar:
— Quem era aquele cara que estava aqui?
— Meu ex — digo apenas.
— O que te chifrou? — assinto. Hunter olha para frente e vê que o
mesmo garoto que estava com Ezra, agora está próximo a nós, ele também
assina um papel e tira uma foto, depois retorna sua atenção para mim. — O
que ele quis dizer com “multiplicar por cem”?
Penso por um momento se devo dizer a verdade a Hunter ou apenas
dizer que não foi nada, mas na real, eu não vejo problemas em lhe falar o
que realmente aconteceu, não sou o tipo de pessoa que esconde as coisas de
outras pessoas, ainda mais pessoas que me fazem bem.
A não ser pelo episódio onde eu risquei o seu carro, isso eu prefiro
esconder pelo resto da vida.
— Em um breve resumo, ele viu as últimas notícias e estava
preocupado com meu coração, disse que eu poderia me magoar com você e
blá blá blá. — Reviro os olhos ao menear a cabeça.
Uma ruga se forma na testa de Hunter.
— Mas não foi ele que chifrou você?
— Foi exatamente isso que eu disse. — Bato as mãos nas coxas. —
Enfim, está ficando frio, por que não entramos?! — digo, ficando de pé.
Hunter ainda parece atônito, querendo perguntar mais sobre Bryce,
contudo, eu prefiro não prolongar o assunto, uma vez que já estou com raiva
o suficiente do idiota por ter dito que eu posso me magoar, e sendo bem
sincera, essa é a parte que mais me deixou com raiva.
Porque apesar de eu saber que até agora eu não estou envolvendo
meu coração nessa relação disfuncional que temos, um certo medo se
instalou em mim, e eu chego a me perguntar como será quando tudo isso
acabar.
Não que eu esteja sendo pessimista, entretanto nossos mundos são
completamente diferentes, e a única coisa que nos envolve se chama desejo,
pelo menos era isso que eu acreditava, até Bryce colocar essa grande
interrogação na minha cabeça, e agora, eu não faço a mínima ideia se
realmente é apenas isso ou se eu estou começando a sentir algo a mais. Por
agora, prefiro acreditar que sou apenas sua assistente, e que estamos
suprindo nossos desejos carnais. O que de fato, não deixa de ser verdade, e
que futuramente Hunter irá encontrar a sua modelo, ou atriz, casar e ter
várias mini estrelas, já que essa é a maior estatística no mundo da NBA.
Ezra diz que vai embora e antes de se despedir, tira duas pizzas de
dentro do carro, entregando a Hunter. Quando seu amigo vai embora, eu
estreito os olhos na direção do atleta, que provavelmente nunca colocou um
pepperoni na boca antes.
— Você disse que vocês competem para ver quem come mais
besteira, então foi o que eu trouxe — responde antes mesmo de eu
perguntar qualquer coisa.
— É isso mesmo — digo, animada, ao subir as escadas do pórtico.
— Não acredito que vou te ver comendo fast-food.
Dou pulinhos, eufórica.
— Falando dessa forma, eu até penso que você gostaria de me ver
fora do físico.
— Não seria uma má ideia. — Olho por cima do ombro, subindo e
descendo as sobrancelhas, assim que abro a porta. — Bom, como você já
sabe, aqui embaixo fica o café, o segundo andar é o apartamento onde
minha mãe vive com as artes dela, e o terceiro é o apartamento do meu pai,
onde o restante da família mora e confraterniza.
— Pensava que você morava entre os dois apartamentos — Hunter
diz enquanto subimos as escadas.
— Antigamente era assim, mas ninguém suporta ficar tanto tempo
perto da minha mãe. No começo, ela é legal, mas ela adora soltar uns
comentários, que te deixam com raiva em questão de segundos — explico.
— Então, pouco a pouco, meu irmão e eu fomos ficando apenas no andar de
cima, e depois de um tempo, ela decidiu transformar nossos quartos em
ateliê de artes.
— Sua mãe é bem excêntrica.
— Se você prefere julgá-la assim. — Dou de ombros, abrindo a
porta do apartamento do meu pai.
Não que eu tenha uma relação ruim com a minha mãe, na realidade,
ninguém tem uma relação cem porcento com ela, às vezes ela é legal,
porém na maioria das vezes, ela é desnecessária. Ela é a pessoa que defende
todos os seres possíveis, só que não perde a oportunidade de alfinetar
alguém e nem mesmo percebe seus comentários maldosos.
O apartamento do meu pai está mais para um loft, como ele fica no
último andar, ele também é o mais alto. Ele é espaçoso, devido a ter todo
um ambiente aberto, entre cozinha, sala e sala de jantar, além do escritório
improvisado do meu pai, e também nossa pequena biblioteca e mesa de
jogos. As únicas paredes que tem no local são as dos quartos, três no total, e
no meio da sala há uma escada de ferro em espiral, que leva para o terraço.
— Seja bem-vindo à família Walton — digo, dando espaço para
Hunter entrar.
— Como assim, você está cheio? — Jared, pai de Georgia pergunta
em choque, após eu dizer que não aguento mais comer a batata frita.
— Qual é, cara! Você só comeu dois Mc Chickens, três fatias de
pizza, uma esfirra e um milkshake grande — é a vez de Luca me contrariar.
— Você ainda diz só? — indago, chocado.
— Querido, você não pode estar cheio antes da sobremesa, é contra
as regras da família Walton — a mãe de Georgia, Ayla, informa.
— Vocês comem demais, eu não aguento esse pique — tento
convencê-los.
— O grande segredo para conseguir nos acompanhar, é tomar um
bom laxante dois dias antes.
Meus olhos se arregalam, e eu olho diretamente na direção de
Georgia, que está ao meu lado, após a declaração da sua mãe, que fala sobre
a medicação abertamente, mordendo um pedaço de esfirra.
— Ela é única que toma laxante aqui, juro!
Georgia tenta se explicar com a boca cheia, ao passo que seu rosto
inteiro começa a ficar vermelho.
— Isso é o que eles dizem — Ayla tenta se defender. — Mas
ninguém fala que quem teve a ideia do laxante foi a própria Georgia, há
alguns anos.
— Mãe — Georgia rosna, ao repreender a mãe.
— Você está fazendo a Jorgie passar vergonha, mãe, para com isso
— Luca tenta amenizar.
Eu tento não rir da discussão que acaba de se formar entre a família,
pois logo o pai de Georgia também começa a defender a filha, assim como a
madrasta, e de uma hora para outra, todos começam a culpar Ayla, e ela
devolve dizendo que Jared foi uma transa horrível. Enfim, um caos se forma
durante a ceia, embora nenhum deles pare de comer em momento algum
enquanto brigam, e no final, eles acabam rindo.
Quando entrei no apartamento, Luca foi o primeiro a me receber e
explicou que já tinha pedido a maioria das comidas, ele também disse que a
Ação de Graças deles começou a ser apenas com fast-food, pois eles passam
tanto tempo fazendo tortas ao longo do ano, e também próximo ao feriado,
que quando chega o dia, ninguém mais aguenta olhar para uma torta, e é
compreensível.
Olhando para a forma como eles interagem, eu chego a sentir um
pouco de inveja, apesar de discutirem bastante, é claro no olhar o quanto
todos aqui se amam, até mesmo a madrasta e a mãe de Georgia, que no final
das contas, ela tinha razão, muitas vezes solta comentários desnecessários
ao longo das conversas, contudo, não deixa de ser uma mulher divertida
para se ter por perto.
Após se empanturrarem de massas e frituras, os Waltons finalizam o
jantar com sanduíches de waffles, recheados com cookies de chocolate, que
eu rejeito só em pensar na quantidade de açúcar que eles estão ingerindo.
A família de Georgia realmente leva a sério a competição para saber
quem come mais, pois paro de assistir ao jogo dos Lakers x Warrios quando
April chega com um balde de pipoca, e Georgia com duas canecas
fumegantes. Apenas quando ela me oferece uma delas, que eu noto que se
trata de um chá de erva doce com tomilho, tomo um gole da bebida quente
e agradeço.
— Por que não terminamos lá no terraço? — ela oferece,
estendendo a mão.
Pedindo licença ao seu pai e madrasta, pego a mão de Georgia e a
sigo até a escada em espiral que há no meio da sala. Após subirmos todos
os degraus, ela abre a porta e liga um interruptor, que dá vida às luzes que
piscam ao redor de uma cabana de madeira, onde há também um sofá de
madeira coberto por algumas almofadas e um balanço.
Georgia pega um cobertor, que está em cima do sofá, e põe sobre
suas pernas quando se senta.
— Obrigada por ter vindo hoje — agradece, ao soprar a bebida.
— Eu quem agradeço pelo convite — digo, me sentando ao seu
lado.
— Minha família pode ser um pouco bagunçada, mas nós
conseguimos nos entender — diz, em um sorriso. — Eles não disseram
nada, mas também gostaram da sua presença aqui.
— Sendo sincero, eu também gostei deles, de todos.
— Até mesmo da minha mãe? — indaga, franzindo o cenho.
— Para falar a verdade, ela meio que me lembra a minha mãe —
confesso.
Georgia engasga com a bebida, e eu rapidamente tiro a caneca da
sua mão, a colocando em cima de uma banqueta que há em frente ao sofá,
antes de passar as mãos em suas costas, numa tentativa de ajuda-la.
Quando ela finalmente volta a respirar, ela me olha com seus olhos
castanhos arregalados, e eu pergunto:
— Você está bem?
— Sim. — Ela nega com a cabeça, e eu a encaro, confuso. — Não...
quer dizer. — Hesita, antes de continuar. — Você nunca me falou sobre seus
pais, e me surpreendi por você dizer que minha mãe lembra a sua. Eu tenho
uma vaga lembrança na minha infância, onde sua mãe vinha com a Lia para
o café, e as nossas mães não têm absolutamente nada de parecidas.
Eu rio com a sua lembrança, pois chega a ser engraçado como
sabemos tanto um do outro, e durante anos nunca tenhamos nos encontrado,
além, é claro, de que nem eu consigo lembrar da minha mãe, a não ser por
algumas fotos que restaram dela.
— Fisicamente não — explico —, mas o jeito animado, eu acredito
que lembra sim.
Georgia me lança um olhar cheio de consternação e pega a minha
mão, cruzando nossos dedos.
— Você sente falta deles? — Sua voz sai leve, quase em um
sussurro.
Não preciso pensar muito para responder seu questionamento e me
sinto íntimo o suficiente de Georgia, para lhe contar a verdade.
— Hoje, não tanto como quando eu era mais novo, mas não minto
que sempre que ganho um jogo ainda penso se eles sentem orgulho de mim,
onde quer que eles estejam.
— Se até eu sinto, imagina eles — ela diz, ao apertar minha mão, e
eu retribuo.
— Você sente orgulho de mim? — provoco, fazendo com que
Georgia revire os olhos em resposta.
— Eu sempre soube do acidente, afinal, conheço sua avó desde
criança e até conheci sua mãe. Sempre senti muito pela perda de Caelia,
mas o que me confortava era saber que ela ainda tinha o neto, e a forma
como os olhos dela brilhavam sempre que falava sobre você, é de se
encantar até hoje.
— Minha avó é a mulher mais forte que eu conheço — assumo. —
E mesmo diante de todas as circunstâncias, não deixo de sentir orgulho de
ter sido criado por ela. No dia do acidente, nós dois deveríamos estar
naquele carro também. — Engulo em seco, revivendo os pequenos
fragmentos que ainda estão em minha mente, mesmo após tantos anos.
— Você não precisa falar, se não se sentir confortável. — A voz de
Georgia é calorosa enquanto ela esfrega o dedão sobre o dorso da minha
mão.
Concentro meus olhos nela, e ela morde o lábio inferior. Aproximo
minha mão livre do seu rosto, de forma delicada, e a faço parar de morder o
lábio, trazendo seu rosto para para perto e depositando um selinho na sua
boca.
— Com você, me sinto confortável para tudo, Estrelinha —
confesso, acariciando a maçã do seu rosto, que está vermelha, não sei se
devido ao frio ou de vergonha, porém eu adoro quando ela fica vermelhinha
assim.
Georgia assente, e eu decido continuar.
— Nossa família era barulhenta, assim como a sua, e eu amava isso,
parece mentira, não é?! Mas eu amava estar perto deles, minha mãe era a
alegria em pessoa, autêntica e um pouco estabanada também, foi por isso
que quando meu pai a pediu em casamento, ela não ganhou um anel de
noivado, e sim uma pulseira, onde havia gravado nos pingentes próximos
aos fechos, as inicias dos nomes deles, Giana e Harry.
Um sorriso melancólico se forma nos cantos da minha boca ao
recordar a história que meu pai sempre contava.
— Seu pai era inteligente.
— Sim. — Rio. — Ele sabia bem que se desse um anel a ela, ela iria
perder, e por isso optou por algo que não sairia tão facilmente, a não ser que
a própria tirasse. Meu avô era o técnico assistente do Nets, então nós
iriamos viajar para Boston, onde eles iam jogar contra o Celtics, eu estava
animado, afinal, era um mini fã do Nets e contava as horas para todos os
jogos que ia assistir ao vivo. Nós também passaríamos o feriado de Ação de
Graças lá, contudo, eu acabei gripando, e a viagem seria cancelada, para
isso não acontecer, minha avó disse que ficaria em casa comigo, e meus pais
poderiam ir com meu avô, assim ninguém passaria o feriado sozinho.
Lembro da minha mãe dando todas as recomendações à minha avó, que
brigou com ela, dizendo que sabia como cuidar de uma criança doente, uma
vez que ela criou minha mãe. Na viagem de ida ocorreu tudo bem, meu avô
foi com o time, e meus pais de carro, eles deveriam ter passado mais dois
dias em Boston, mas os três decidiram, logo após a derrota do Nets, que
viriam embora de carro. Eles só não esperavam que naquela noite, iria cair
uma nevasca que acabou fazendo o carro derrapar no meio da estrada.
Eu paro um momento, para respirar. Por mais que o acidente já
tenha mais de quinze anos, quando lembro de tudo, ainda sinto a dor e a
confusão de um menino de oito anos de idade que acaba de perder os pais,
sem entender a falta que eles farão ao longo da sua vida, uma vez que ele
cresceu com a presença deles ali em todas as refeições do dia, quando ia e
voltava da escola, com os deveres de casa e histórias para dormir, e os
inúmeros “eu te amo” antes de desligar a luz e ir dormir.
Também seu avô, a quem ele puxou o fanatismo pelo basquete, um
avô que montou a primeira cesta para ele no meio da sua sala de estar,
arriscando quebrar todos os móveis da avó, apenas porque ele sabia que um
dia o seu neto seria uma grande estrela do basquete. Foi ele quem me
ajudou nos primeiros passos com o basquete, e foi por ele que eu segui
nesse caminho, realizando e conquistando todos os sonhos que tínhamos
quando outras crianças ainda sonhavam em ser astronautas.
— Minha avó não teve tempo de viver o luto, quando ela acabou
ficando com minha guarda — continuo. — Apesar de que em algumas
noites, quando eu me mudei para morar com ela, eu ainda a flagrasse
olhando os álbuns de fotos antigas, ela nunca chorava, apenas sorria para as
imagens, é por isso que eu tenho tanto orgulho de ter tido ela ao longo dos
anos, porque eu jamais seria quem eu sou hoje, se não fosse por ela. Ela
cuidou de mim, ela correu atrás de todos os meus sonhos junto comigo e ela
nunca desistiu diante das dificuldades.
— Eu sinto muito, muito mesmo, pela sua perda, mas também fico
feliz de você ter tido a Lia cuidando de você — Georgia diz, em semblante
consternado.
— E eu agradeço — respondo, assim que um sorriso se ergue nos
cantos da minha boca. — Hoje, você e sua família me ajudaram a lembrar
que é bom sentir falta deles, por mais trágica que tenha sido a perda, hoje eu
consegui lembrar como era estar ao lado da minha família.
— Você sempre será bem-vindo aqui. — Ela encosta sua cabeça no
meu ombro, e eu a beijo no topo. — Às vezes eu ainda me pergunto como
nós nunca nos vimos antes, é algo que chega a ser surreal, porque você já
era especial para mim antes de eu saber que você era você.
— A recíproca é verdadeira — digo, passando os dedos por entre
seus cabelos ao lembrar da noite em que a conheci.
— Se bem que mesmo que eu soubesse quem era você antes, não
iria surtir muito efeito — ela declara.
— Por que não?!
Sinto seus ombros mexerem-se contra o meu corpo, enquanto ela
continua com a cabeça recostada em meu ombro.
— Eu era uma garota tímida quando mais nova, então mesmo que
eu te conhecesse, você nunca teria me notado.
— É claro que eu ia — digo, me afastando e lhe lançando um olhar
chocado.
Georgia ri em resposta, negando com a cabeça.
— Não ia não, você namorava com uma líder de torcida que lhe
pediu em casamento enquanto eu, participava de todo e qualquer grupo que
não envolvesse esportes, música ou teatro. Então seria impossível você me
notar.
Nego com a cabeça a sua afirmação.
— Bastava apenas nós dois nos esbarrarmos para que eu nunca mais
te esquecesse, portanto, acredite em mim quando digo que não apenas
notaria você, como jamais a tiraria da cabeça.
Seus olhos se iluminam à medida que as palavras saem da minha
boca e ao final, sua boca se abre em um sorriso, e seu rosto volta a ser
adornado pela cor vermelha.
— Finalmente as suas cantadas estão melhorando, Chefinho — ela
brinca, porém ainda consigo notar que ela, assim como eu, sentiu seu
coração disparar assim que vamos ficando mais próximos.
— Apenas fui sincero — respondo, ao me espreguiçar no sofá.
— Já que estamos sendo sinceros, eu preciso te contar uma coisa. —
O sorriso que havia em seu rosto foi embora, agora sua mandíbula está
contraída, e a veia do seu supercílio, passa a pulsar.
— Vai em frente — peço, receoso, ao ver que ela engole em seco.
Georgia parece pensar, antes de fazer a sua confissão, e meu coração
começa a acelerar à medida que o silêncio passa a ser desconfortante entre
nós, ela franze o nariz e fecha os olhos ao confessar:
— Quem riscou o seu carro, lhe insultando, fui eu, no dia da
entrevista.
Meu coração imediatamente volta a ter suas batidas normalizadas, e
eu não deixo de me divertir com seu constrangimento.
— Eu já sabia — admito, rindo.
— O quê? Como assim, você já sabia? — Ela dá um pulo,
exasperada, me fazendo rir mais ainda.
Tiro o celular do bolso e mostro o vídeo que tenho salvo na galeria.
— Eu recebi na mesma noite em que você fez isso.
— E você não me disse nada? — ela pergunta, ainda encarando a
tela do celular, e eu não consigo deixar de rir. Georgia levanta a mão e dá
um tapa no meu braço. — Para de rir, Hunter — ordena. — Por que você
ficou quieto todo esse tempo?
Tento controlar minha respiração, antes de devolver a mesma
pergunta.
— De início, pensei que você podia ser uma fã, mas vi que não e
apenas decidi manter o vídeo guardado comigo. Agora eu que te pergunto:
por que você ficou quieta esse tempo todo?
Sempre tive essa curiosidade do porquê ela teria riscado meu carro e
a troco de quê afinal, então fico feliz, em finalmente poder conseguir a
resposta para isso.
— Foi a minha primeira entrevista de trabalho real, eu me preparei,
passei a minha roupa inúmeras vezes e quando eu cheguei lá, você
simplesmente parou seu carro com uma freada brusca em cima de uma poça
de água e me sujou inteira. Eu fiquei irada e decidi me vingar, só vim
descobrir que o carro era seu, depois que assinei o contrato.
— Espera um pouco — raciocino. — Então foi por isso que você
estava com as roupas amassadas naquele dia?
Ela assente, e eu não consigo me controlar.
Uma gargalhada profunda abandona minha garganta, não consigo
parar de pensar na cena de Georgia se escondendo dentro do
estacionamento do prédio do escritório de Chad, apenas para riscar meu
carro. No fundo, entendo sua chateação, contudo, é realmente uma cena
engraçada.
— Para de rir — ela pede, e eu tento respirar fundo, só que logo
volto a rir. — Eu nunca contei nada antes, porque pensava que você podia
me demitir assim que soubesse.
— Eu jamais lhe demitiria, Georgia — digo, enquanto lágrimas
descem dos meus olhos, e eu passo a limpá-las.
— Por que não? — pergunta, interessada.
— No momento em que pus os olhos em você no hall de espera, eu
sabia que tinha que ser você, nem mesmo houve muita conversa, pois no
instante em que você saiu daquela sala, eu já havia decidido que seria você.
Um sorriso volta aos seus lábios, e ela logo se aproxima de mim,
segurando as extremidades do meu rosto e me dando vários beijos por todo
ele.
Eu revido, a pegando pela cintura e deitando-a sobre o sofá.
Colocando meu corpo por cima seu, começo a mordiscar a sua orelha,
passando para a mandíbula e seguindo até sua boca, onde Georgia arfa,
audivelmente.
Não consigo me controlar e logo estou a beijando.
Suas mãos se achatam contra meu peito, à medida que a minha
passa pela extensão do seu pescoço, descendo por sua coluna, que se inclina
para a frente, esmagando seus seios fartos contra as mãos, ainda
friccionadas no meu tórax. Meus dedos afundam no quadril de Geórgia, e
eu não consigo controlar o momento em que pressiono meu corpo contra o
seu, soltando um gemido rouco quando meu pau encosta na sua coxa.
Georgia arranha meu lábio inferior com os dentes, e eu continuo
roçando nela. Minha mão que a aperta, continua a descer pelo seu corpo, ao
encontrar a barra da saia do vestido que ela usa, meu instinto fala mais alto,
e acabo subindo-a, encontrando sua bunda, perfeitamente redonda e quase
despida, a não ser pela calcinha que entra entre suas nádegas.
— Por favor, me diz que você está tão molhada quanto eu imagino
que esteja. — Minha voz sai rouca.
Ela solta um risinho, carregado de malícia, e minha visão torna-se
turva quando a enxergo mordendo o lábio de uma forma sexy. Ela completa
a provocação, dizendo:
— Por que você mesmo não confere, já que já está aí embaixo?!
— Você está falando sério? — inquiro, parecendo um adolescente
virgem, totalmente desnorteado com a beleza dessa mulher.
Ela apenas assente com a cabeça, e tão rápido e desesperado, a mão
que antes apertava sua bunda, trago para a frente. Georgia abre suas pernas
levemente, apenas para dar espaço para minha mão, que acaba encontrando
o tecido que cobre a fenda, encharcado.
— Puta merda — murmuro, com meu pau pulsando, o que só
aumenta assim que Georgia começa a descer sua mão, apenas com as
pontas dos dedos, passando por meu abdômen, descendo até meu quadril e
chegando ao destino final, minha ereção. — Me deixa sentir o seu gosto —
peço, com a luxúria evidente na minha voz.
Pode estar fazendo um frio do caralho nesse momento em Nova
Iorque, e mesmo que estejamos do lado de fora, com o vento frio pinicando
nossas peles, o calor que existe entre nós é maior que qualquer previsão do
tempo.
Georgia não responde, apenas abre suas pernas, me convidando para
finalmente conhecer todo o paraíso que ela esconde lá embaixo.
Ergo meu corpo sobre o seu e pego a bainha do vestido, subindo-o
até sua cintura, para encontrar a calcinha vermelha de renda que ela usa,
contrastando com sua pele clara e macia. Respiro fundo, e meu coração
acelera quando as pontas dos meus dedos seguram o elástico das laterais da
peça íntima de Georgia, afastando-os. Passo a calcinha por suas coxas,
descendo-a, até tirá-la e jogar no chão. Controle é tudo que eu não tenho,
assim que encontro a linha rosada da sua boceta.
Minha boca saliva, na ânsia para sentir o seu gosto.
— Caralho, eu sei que isso pode parecer clichê, mas porra, nunca vi
nada mais perfeito.
Georgia ri e responde, afiada:
— É só uma boceta que quer ser chupada.
Nego com a cabeça, pois somente essa mulher para responder com
audácia quando estou prestes a passar a língua por todo o seu comprimento.
— Você não tem jeito — digo, aproximando meu rosto da abertura
de suas pernas.
— A culpa não é minha se você tá me enrolando há dias, para me
chupar...
— Não seja por isso — interrompo-a, pegando suas pernas e
colocando os pés por cima dos meus ombros.
Georgia ergue o corpo, apoiando-se nos cotovelos, seus olhos me
devoram ao mesmo tempo que eu aproximo minha boca da sua abertura,
meus olhos também continuam conectados aos seus, e eu posso enxergar
todo o desejo explícito neles quando a próxima coisa que faço é passar a
língua por toda a extensão do seu sexo, até encontrar o ponto sensível do
seu clitóris. Ela solta um gemido baixinho, e uma leve fumaça fria
acompanha o ar que solta entre os lábios.
Com o rosto enterrado em sua boceta, suas costas arqueiam ao passo
que minha língua suga o seu clitóris, alternando em movimentos circulares.
Ela se contorce, e posso jurar que está prestes a chorar logo que trago minha
mão para o centro de suas pernas, escorregando o dedão sobre toda a
extensão.
— Hunter. — Sua voz sai em súplica, e eu decido maltratá-la,
tirando meu rosto da sua boceta, mas ainda esfregando sua área molhada.
— Sim... — respondo, beijando a sua coxa.
— Nada — responde, engolindo em seco.
Dois dos meus dedos encontram a sua entrada, e empurrando-os
para dentro, sinto-a pulsar quando começo a estocar os dedos
vagarosamente, agora deixando o meu dedão tomar conta do ponto sensível
em movimentos circulares, levemente pressionados.
— Fala, Estrelinha — peço, mordendo-a, próximo à fenda.
Ela nega com a cabeça, e acho seu ponto g com o dedo,
pressionando-o.
— Fala — insisto.
— Não é na... — Hesita assim que estoco outra vez. Ela toma um
pouco de ar, antes de continuar, suas pálpebras tremem, porém os olhos
continuam ligados aos meus. — Nada — finaliza.
— Você quer gozar? — pergunto, me aproximando outra vez da sua
excitação.
Ela move a cabeça em uma afirmativa, seu corpo amolece e
desmorona contra o sofá quando volto a substituir meu dedo pela ponta da
língua, contudo, com apenas um selinho, sinto suas pernas tremerem, o que
me avisa que Georgia está quase pronta.
Meus dedos entram e saem dela lentamente, e sempre que
encontram o ponto sensível lá dentro, param, acariciam-no e voltam,
enquanto minha língua trabalha em leves beijos em seu clitóris.
O coitado do meu pau sofre nesse momento, esmagado pela cueca e
calça, apenas querendo se libertar junto a ela, que está com a respiração
oscilante. Eu suspiro contra seu sexo ao assistir sua agonia evidente, tão
louca para se libertar.
Georgia passa a rebolar contra meu rosto, e isso acaba se tornando o
estopim para nós dois, pois meus dedos começam a trabalhar de forma ágil,
e minha boca mal consegue se conter à medida que o tesão entre nós
aumenta. Ela está tão necessitada, que seus dedos me surpreendem ao
cravarem no meu cabelo, fixando minha boca contra a sensibilidade do seu
montinho.
E isso acaba me deixando ainda mais motivado, porque por mais
que não saia uma palavra sequer da sua boca, eu sei o que ela precisa, e ela
sabe que a pessoa disposta a dar tudo isso a ela, sou eu, e posso afirmar que
estou pronto para dar o prazer a ela quantas vezes ela pedir ou necessitar. Só
para poder sentir o seu gemido exasperado logo que libera o gozo contra
meus dedos, e eu acabo me lambuzando, satisfeito com suas pernas
tremendo ao redor do meu rosto, e sua boceta pulsando contra minha língua
quando ela chega ao pico.
— Se você continuar, eu vou... — ela avisa, só que tão logo joga a
cabeça para trás, evidenciando seus seios quando se contorce no momento
em que volta a jorrar.
Um sorriso brota em meu rosto, e por mais que o momento seja de
total prazer, não consigo me controlar ao declarar:
— Você pode não assumir que te dei o melhor beijo de todos os
tempos, mas seu corpo acaba de deixar claro que te dei as duas melhores
gozadas da sua vida.
Seu peito sobe e desce rapidamente, e eu tiro os dedos de dentro
dela, porém não deixo de passar a língua por todo seu comprimento uma
última vez, a fim de sentir seu gosto. Quando me ponho por cima de
Georgia, ela está com os olhos fechados, e seu rosto inteiro está vermelho,
levo a boca até seu pescoço, beijando-o.
Mesmo fraca, Georgia ainda me mostra o dedo do meio, e eu o
pego.
— Já te disse para não fazer isso — advirto ao trazê-lo para minha
boca, mordendo a pontinha.
Ela reclama e finalmente abre os olhos. Contudo, antes que ela possa
responder qualquer coisa, somos interrompidos ao ouvir o portal de metal
do terraço rangendo.
— Ai meu Deus. — A voz de April ressoa em um grito.
— April — Georgia devolve o grito.
Ligeiramente saio de cima de Georgia e me sento, enquanto ela
ajeita sua postura quando a sua madrasta fica de costas e começa a rir.
— Vim só perguntar se vocês queriam ir para o Walmart, desculpa
— diz, ainda de costas, abrindo a porta novamente e indo embora.
Georgia fica em pé e se agacha para pegar a peça íntima de renda da
qual eu havia a despido, contudo, sou mais rápido e a pego primeiro, apenas
me inclinando, guardando no meu bolso. Ela estreita os olhos, e ergo a
cabeça, olhando para ela que está em pé de frente para mim.
— O que você está fazendo? — pergunta, desconfiada.
— Apenas pegando uma lembrança — explico.
— Minha calcinha?! — Assinto.
— Uma lembrança da melhor chupada que você já recebeu na vida.
— Repita isso mais algumas vezes, até se convencer que você fez
um bom trabalho. — Ela me solta uma piscadela.
— Eu só precisei te chupar uma vez, pra você gozar duas.
Georgia me olha, erguendo a sobrancelha de forma divertida, e um
sorriso malicioso brota em seu rosto, ela se senta ao meu lado e coloca as
pernas por cima das minhas, antes de cobri-las com o cobertor.
— Após o jogo contra o time de Phoenix, você tem uma viagem
para Grécia na semana que vem — informa, meneando a cabeça para o lado
ao recostar no sofá.
— Eu sei — respondo. — Vou precisar faltar dois jogos, mas esse
comercial já está atrasado há meses.
Desde antes de Georgia se tornar minha assistente pessoal, eu fechei
contrato com uma marca de perfume europeia. O comercial deveria ter sido
gravado antes da temporada começar, em outubro, porém houve atrasos na
produção, e com o início dos jogos regulares, tudo acabou atrasando.
E mesmo que Chad seja um babaca, ele ainda é um bom empresário,
e conseguiu manejar tanto o time e a liga, quanto os contratantes do
perfume, para conseguirmos gravar na semana que vem.
— Você já conseguiu tirar as duas passagens para Santorini? —
indago, ao pegar o dedão do seu pé e massageá-lo.
— Eu já consegui resolver a reserva do hotel, motorista e itinerário
completo, mas não sabia que o Chad iria com você — ela diz, confusa.
Eu rio.
— Isso é porque ele não vai, quem vai é você.
Georgia arregala os olhos e quase pula para fora do sofá, contudo,
consigo contê-la, segurando sua perna.
— Dez horas dentro de um avião? — Engole em seco. — Nem
pensar — diz, tão rápido quanto começa a balançar a cabeça, negando.
Continuo a massagem em seu pé, aperto seu calcanhar e ela solta um
gemidinho.
— Sorte sua que eu vou estar lá com você e já sei como lhe
desestressar — declaro, ainda apertando seu pé.
Suas sobrancelhas se juntam quando ela faz uma careta, enquanto eu
continuo massageando-a.
— A gente pode comprar roupas novas sem problemas — Hunter
diz enquanto fazemos o check-in no hotel, e eu respondo seu comentário
apenas com um rosnado, olhando feio para ele. — Ou então, você pode usar
minhas roupas. — Dá de ombros.
Dou um sorriso forçado para ele.
— Você fala isso porque a mala extraviada não foi a sua, uma mala
que você planejou para cada horário de cada dia — respondo, ainda com
raiva pelo acontecido.
Foram dez horas de voo no total, com adicional de três horas devido
a duas paradas que fizemos, em Londres e Atenas, para que quando
chegássemos na capital da Grécia, a companhia aérea nos informar que uma
mala foi extraviada, e ter que pegar mais um voo para Santorini com uma
das bagagens faltando, e adivinha quem é a dona dela?
Isso mesmo, a azarada aqui.
Dizer que estou com raiva é um eufemismo, porém, por sorte eu
estou com Hunter, que a todo momento tenta aliviar a situação, dizendo que
vai dar tudo certo. Já disse que iremos comprar roupas novas no mínimo
cem vezes, desde que soubemos do acontecido, além de que, ele conseguiu
me acalmar durante os três voos que pegamos. Por viajarmos em primeira
classe, foi bem confortável, além de que ele colocou algumas músicas para
eu escutar. No meio da primeira viagem, paramos para assistir Barbie In
The Dreamhouse, e foi sugestão do Hunter, o que eu confesso que acabei
amando. Nesse meio tempo, eu até deixei que ele abrisse a cortina da janela
do avião, e me surpreendi que acabei gostando de ver as nuvens durante a
noite.
No entanto, por mais que a viagem tenha sido tranquila e quase sem
turbulências num geral, nada apaga minha raiva por terem perdido minha
mala.
— Queria ver se fosse com você, se você ia estar tão bem assim em
estar sem roupa.
Hunter se aproxima e fica atrás de mim, olhando de canto, vejo que
ele sorri para o recepcionista que nos observa, em seguida põe uma parte do
meu cabelo para trás e sussurra no meu ouvido:
— Eu não teria problema nenhum em ficar sem roupa, afinal, sou
um gostoso.
Reviro os olhos com seu comentário, porém não nego que o tom de
voz usado por Hunter e a imaginação fértil que eu tenho, fazem todos os
pelos do meu corpo arrepiarem a ponto de eu me inclinar para trás.
É uma droga já ter acontecido tantas coisas entre nós, e eu não ter
tido sequer a oportunidade de poder vê-lo totalmente despido. Essa semana,
por exemplo, Hunter teve três jogos, e ainda teve um dia em que houve
treino aberto para o público, então tempo, foi realmente algo que não
tivemos desde a Ação de Graças.
Com meu cotovelo, atinjo Hunter na barriga, e ele se afasta de mim.
— Doeu, Georgia.
— Era essa a intenção — devolvo, em um sorriso irônico. — Que
você é o senhor gostoso, acredite, seus quase treze milhões de fãs, já sabem.
— Uma pena que apenas minha fã número um, ainda não consegue
assumir isso, nem que eu consiga deixá-la louca apenas com minha língua
— provoca, em um sorriso cafajeste.
— E quem é sua fã número um? — pergunto, curiosa, ao franzir o
cenho.
— Você, é claro.
Cerro os olhos e nego com a cabeça, mas antes que eu possa retrucar
as suas artimanhas e provocações, somos interrompidos pelo recepcionista,
que finalmente nos entrega as chaves do quarto.
— Ambos os cartões abrem a porta do quarto — o homem informa.
Pegando os cartões de acesso, entrego um a Hunter, verificando o
número do quarto, e em seguida pego o outro, me surpreendendo ao ver que
é o mesmo número do cartão que acabo de entregar ao meu chefe. E só
então eu me toco que ele se refere a apenas um quarto e não dois.
— Espera — peço. — Essas chaves são para o mesmo quarto —
informo, já devolvendo ao recepcionista.
— Sim, porque a reserva foi para apenas um quarto.
— Não foi não — me apresso em dizer. — Eu reservei dois quartos,
uma suíte master e uma normal.
O homem verifica a tela do computador e em seguida volta a me
olhar.
— A reserva efetuada foi apenas para a suíte master, três dias depois
da reserva, foi solicitado um novo quarto, contudo, enviamos um e-mail
informando que não haveriam mais suítes desse tipo disponíveis.
Tirando o celular do bolso do casaco, desbloqueio e abro o
aplicativo do e-mail rapidamente, rolo o dedo pela tela, procurando
qualquer notificação do hotel, entretanto não encontro nenhuma, por isso
pego o celular e coloco na bancada da recepção.
— Não tem nenhum e-mail dizendo isso que você está afirmando.
— A senhora verificou a caixa de spam?
Estreito os olhos na sua direção e faço uma careta, sentindo a veio
acima do meu olho começar a saltar.
— Sim — minto.
— Pode verificar novamente por gentileza?
— Como podemos resolver essa situação agora? — desvio do
assunto. — Tem algum outro quarto disponível?
— Infelizmente não, estamos lotados nesse final de semana.
— Mas vocês estão em baixa temporada — devolvo.
— Isso não significa que não tenha turistas. Da próxima, aconselho
a senhora a reservar com mais alguns dias de antecedência. — Ele me lança
um sorriso falso, e eu respiro fundo, sinto meu rosto inteiro esquentar, e a
veia pulsante age mais rápido e violenta.
Antes que eu possa me estressar ainda mais com a situação, Hunter
pega os cartões de acesso novamente.
— Muito obrigado — ele fala, olhando para o homem. — Não tem
problema algum.
— Como não tem problema algum? — pergunto em um daqueles
meus sussurros, quando ele se vira de volta para mim. — Nós vamos ficar
no mesmo quarto? — volto a questionar, assim que Hunter me dá as costas
e começa a seguir em direção ao corredor que leva às suítes. — Eu tenho
certeza absoluta de que pedi os dois quartos.
— Eu também tenho, mas não seria um problema dividirmos o
mesmo quarto, seria? — pergunta, me olhando por cima do ombro. —
Porque eu definitivamente não vejo nenhum.
Engulo em seco, sentindo toda a minha pele queimar, apenas
imaginando a possibilidade de algo finalmente acontecer, afinal, estamos
sozinhos em um quarto durante os próximos quatro dias. As gravações do
comercial devem iniciar apenas amanhã ou depois, já que saímos de Nova
Iorque às três da tarde em horário local, porém de acordo com o horário da
Grécia, são apenas doze horas agora.
Preciso apertar minhas pernas enquanto o sigo em meio aos
corredores do hotel de luxo que tem suítes estilo cavernas, pois subindo
uma pequena escadaria, a visão que tenho é da bunda de Hunter, e não é um
bunda qualquer, é a bunda. Portanto, a única coisa que corre em minhas
veias agora, além da excitação, é a ânsia de enfim poder vê-la ao vivo e a
cores.
Que todo o meu azar tenha se perdido junto com minhas roupas,
penso.
— Nem roupa eu tenho — tento desconversar.
— Vamos apenas nos instalar e já resolveremos isso — ele avisa ao
virar à esquerda e subir mais três degraus.
Se eu, ao menos não tivesse perdido a minha pulseira da sorte tantos
anos atrás, até arriscaria já arrancar as roupas dele no instante em que ele
abre a porta do quarto e me dá passagem para entrar.
No entanto, ao invés disso, meu queixo vai ao chão quando me
deparo com toda a beleza da suíte, que está com as portas da varanda
privativa abertas, dessa forma a primeira visão que tenho, é da sacada, onde
há uma piscina de borda infinita. Contudo, o que me deixa mais fascinada é
a vista para o mar e também para o vulcão, que acabou destruindo a ilha,
que antes era chamada de Tera, há mais de três mil anos.
— Isso é um apartamento — declaro ao admirar o ambiente. —
Você já esteve aqui antes? — pergunto, adentrando pelo hall, onde há um
espelho gigante recostado na parede.
— Não, mas é realmente lindo — Hunter responde, e eu o ouço
fechar a porta.
Desde que chegamos na ilha, eu venho admirando tudo o que vi,
mesmo com raiva pelos acontecimentos durante a viagem, ainda assim é
impossível não reparar em toda a beleza existente, entretanto ao ver a vista
para o mar com vários barcos rodeando o vulcão, o azul tão cristalino das
águas e alguns morros ao longe, fico encantada ao extremo.
Não é só a beleza da vista que eu acabo apreciando, mas da suíte
num geral também.
— Se a diária dessa suíte não custasse quase que o meu salário
mensal, eu posso jurar que eu viveria aqui para sempre — declaro, ainda
com os olhos brilhantes.
— Você quer viver aqui? — Hunter pergunta, passando por mim e
indo em direção à sacada.
— E quem não quer?! — devolvo em retórica, seguindo-o.
— Fechado então, quando eu me aposentar em quinze anos, nós
viveremos aqui.
Ele exala confiança no seu tom de voz, no entanto não é isso que faz
o meu coração acelerar, e sim, a ideia que ele acaba de dar de que nós, eu e
ele, uma dupla, em conjunto, iremos viver na Grécia daqui uns anos.
O que é isso que está acontecendo? Desde quando Hunter e eu,
viramos nós, ainda mais com planos ou ideias para um futuro?
Dou um sorriso quando ele se vira para mim, me encarando em
expectativa, e decido assumir que isso não passa de uma brincadeira dele e
que ele nem mesmo se tocou do que acabou de falar.
— O que acha? — indaga, entusiasmado.
Sei exatamente sobre o que ele está perguntando, porém decido
disfarçar e fingir que nem notei o que ele acabara de dizer.
— Sinceramente?! Acho que eu estou fedendo e preciso tomar um
banho, mas para isso, preciso de uma roupa.
— É para já, Asteráki.
— Aste o quê?
— Asteráki — repete. — É Estrelinha em grego.
Ele pega minha mão, me conduzindo de volta para o quarto, e só
então eu noto uma cama tamanho king size no centro do quarto.
— Só tem uma cama. — Aponto, engolindo em seco.
— Só tem uma cama — repete, com um sorriso brotando nos cantos
dos seus lábios.
Segundo todas as trezentas mil pesquisas de Georgia, o melhor local
para compras em Santorini é a rua principal de Firá, que é a capital da Ilha,
que fica exatamente no centro, e a busca dela, dessa vez estava certa.
Nunca agradeci tanto por ela ser tão viciada no google, porque
quando fomos saindo do hotel, eu podia jurar que iriam haver shoppings por
aqui, mas me enganei terrivelmente.
Eu até me ofereci para pagar algumas de suas compras, no entanto
ela disse que o máximo que eu poderia fazer, era carregar suas sacolas, uma
vez que meus braços enormes não poderiam ficar desocupados. Enquanto
estou atolado de sacolas de compras, ela entrou em um restaurante, a fim de
realizar uma reserva para o jantar.
Estando na calçada do outro lado da rua, acabo notando na vitrine
de uma joalheria, uma tornozeleira com um olho grego, uma pedra azul e
adivinha só... uma estrela, e no momento em que vejo o pingente pendurado
na corrente de prata, não penso duas vezes, antes entrar na loja.
— Em que posso ajudá-lo? — Uma vendedora se aproxima.
— Gostaria de levar a tornozeleira que está à mostra na vitrine —
vou direto ao ponto.
A mulher de cabelos pretos pede um momento, dizendo que vai
verificar no estoque, porém quando ela retorna, seu semblante exala
consternação.
— Essa é uma das nossas peças que sai mais entre os turistas, e
infelizmente estamos sem no estoque, no momento — informa.
— Mas e aquela no mostruário?
— Não está à venda.
— Diga o preço e eu levo — falo simplesmente, e a mulher me
observa, confusa. — Eu pago três vezes o valor.
— Mas isso sairia a mais de cinco mil euros — ela tenta me
convencer do contrário. Entretanto, eu já estou pegando o cartão e
mostrando-a. — Senhor...
— Quatro vezes o valor — insisto.
Seus lábios se fecham em uma linha fina, ao passo que analisa
minha proposta.
— Cinco?!
— O senhor realmente quer levar a peça? — indaga.
— Absolutamente sim.
— Tudo bem, não precisa pagar nenhum valor a mais — ela finaliza.
Com um sorriso convencido em meu rosto, eu agradeço inúmeras
vezes durante o tempo em que a mulher tira o acessório do expositor, coloca
numa caixa e depois embala em uma sacola para me entregar. Agradeço
outra vez ao fazer o pagamento e até mesmo quando ela me acompanha até
a porta.
De volta à rua que dá acesso ao teleférico, avisto Georgia de costas
para mim, olhando de um lado para o outro, ela já está vestindo uma das
roupas que comprou, se trata de um vestido tomara que caia, a saia é solta e
vai até a metade das suas pernas.
— Me procurando, Estrelinha? — indago, fazendo com que ela pule
em um susto, ao ouvir minha voz tão perto.
Quando se vira, seus olhos estão estampados de terror.
— Onde você estava? Tá louco de sumir assim? Já imagina se lhe
sequestram? Você está sob minha responsabilidade, Hunter, e eu sou muito
nova para o Chad me matar, eu ainda tenho um sonho de ir ao show do
Coldplay, e se algo acontecer com você, eu...
— Nada vai acontecer comigo — interrompo-a. — E nem com
você, eu apenas entrei em uma loja. — Aponto para trás, segurando suas
sacolas.
Georgia fica nas pontas dos pés e observa o estabelecimento ao qual
estamos parados na calçada, em seguida se volta para mim, desconfiada.
— O que você queria em uma joalheria?
— Nada demais. — Dou de ombros.
— Hunter... — ela fala, cantando, não confiando no que eu digo.
Como eu não planejo entregar a tornozeleira a ela agora, que é óbvio
que eu comprei para ela, pois jamais ofereceria tanto dinheiro em algo que
não vale tanto pelo material, se não fosse para ela, pois o significado vale
bem mais.
Georgia vive dizendo que é azarada, e desde que chegamos à
Grécia, ela já deve ter repetido isso mil vezes, então o olho grego seria para
tirar essa carga pesada que ela imagina ter, a pedra azul, porque conforme a
cultura grega significa o céu azul deles e também a cor das águas, e claro, a
estrela, que eu nem preciso explicar o significado.
Talvez, só talvez, eu entregue a ela mais tarde.
— Estou sob sua responsabilidade, hum? — decido respondê-la,
enquanto ela mantém os olhos cerrados, me encarando.
— Sim, você está. Eu sou sua responsável durante essa viagem.
— Então porque você não me dá de comer, mamãe? — provoco,
deixando a proposta subentendida.
Não minto que estou ansioso para chegar no hotel, ainda mais
depois de ver que o quarto que iremos dividir tem apenas uma cama, o que
seria uma pena, se eu não estivesse me martirizando tanto nas últimas
semanas por conta da minha agenda maluca, que não me deixa um tempo
reservado para poder finalmente fazer com que as coisas entre nós
aconteçam.
A verdade é que já poderiam ter acontecido, mas acredite em mim,
Georgia não é uma mulher que deve ser levada para a cama apenas para um
sexo normal ou casual, ela é do tipo que eu quero experimentar cada
centímetro do corpo, e para que isso aconteça, eu preciso de tempo. E
tempo é tudo o que temos durante esses próximos quatro dias em um quarto
de luxo, onde seremos “obrigados” a dividir a mesma cama.
Nunca estive tão feliz por uma reserva não ter dado certo.
Muito obrigado mais uma vez, destino.
O rosto de Georgia esquenta, adornando a cor vermelha em suas
bochechas, e eu sei que eu acabo de chamar sua atenção para outra coisa.
Ela engole em seco, antes de me responder.
— Tudo bem — ela responde, um pouco mais baixo do que o
normal. — Vi que tem kaftas, subindo a escadaria.
Uma pena que ela quis levar para a comida, no sentido literal.
— Vamos lá então — digo ao pegar sua mão, então voltamos a
caminhar pelas ruas estreitas da ilha grega.

Depois de Georgia me empurrar todo o tipo de Kafta possível, ela


ainda me fez experimentar costeletas de cordeiro assadas, que é um dos
pratos típicos vendido nas ruas.
Ela também disse que eu precisava atualizar meus perfis, por isso
tirou algumas fotos minhas, em contrapartida, eu acabei tirando algumas
várias dela. Podemos dizer que na minha galeria, tem mais de cem fotos de
Georgia, em todas as posições e faces possíveis, e claro, algumas fotos
juntos também.
Mesmo depois de tanto andarmos pelas ruas da ilha, subindo e
descendo escadas, e comendo horrores, ela bateu o pé e disse que
precisamos sim, ir ao restaurante.
— Sério, lá tem a melhor Moussaka[1] do mundo — ela argumenta
pela quinta vez, desde que entrou no banheiro.
— Você nunca nem comeu essa mosca não sei o quê — argumento
ao desabotoar minha camisa.
Estou esperando que Georgia saia do banheiro há mais de uma hora,
em algum momento, cansei e acabei me sentando na cama, e agora, estou
na esperança de que ela saia em breve.
— Hunter... — ela chama do banheiro, e eu me levanto, me
aproximando da porta.
— Fala, Estrelinha.
— Você sabe qual é a minha boca preferida?
— Sua boca preferida?! — Estranho a sua pergunta, fazendo uma
careta. — Deve ser a minha, afinal, ela é sensacional.
— Sim, é a sua, mas quando está caladinha, sem insultar a mim e a
minha paixão pela comida mediterrânea — grita, brava.
Eu rio da sua reação.
— Você diz que ama comida mediterrânea, mas todo mundo sabe
que você não vive mesmo sem pizza.
— Não me ofenda dessa forma, Hunter Blakely — ela fala, em um
tom acusatório, apontando um pente na minha direção.
Dou um pulo ao vê-la de frente para mim, não sei ao certo se pelo
susto que ela acaba me dando ao sair do banheiro com tudo ou se apenas
pelo fato de ela estar completamente estonteante e linda na roupa que veste.
Tento engolir um pouco de saliva, entretanto é em vão, uma vez que
minha boca se encontra completamente seca ao mesmo tempo que sinto
todo o sangue existente no meu corpo se esvair, concentrando-se apenas no
meu pau.
Porque literalmente, ao ver Georgia vestida em um conjunto azul de
top, que realça seus seios fartos, e uma saia longa solta com uma fenda
mostrando toda a sua perna, a única cabeça que consegue raciocinar nesse
momento, é a do meu pau.
— Você ficou pálido do nada. — Georgia se aproxima, ficando
frente a frente comigo. — O que está acontecendo, Hunter?
Tento criar uma resposta razoável, por isso balanço a cabeça para
me concentrar, porém não adianta, quando apenas pensamentos animalescos
se passam na minha cabeça e também inúmeras posições. Meu Deus do céu,
me perdoa pelo que vou dizer no instante em que eu agarrar essa mulher
pela cintura, mas...
— Fodam-se as Moussakas, Georgia, a única coisa que eu quero e
necessito comer nesse exato momento, é você — declaro ao encostar minha
testa na sua e antes que eu posso tomar a sua boca com a minha, eu vejo o
sorriso malicioso brotar nos cantos da sua boca.
Sou pega de surpresa quando Hunter me agarra, mas não deixo de
sorrir enquanto nos beijamos, e ele me aperta, jogando meu corpo contra a
parede e pressionando toda a sua grandeza sobre mim.
Em minha barriga, o sinto duro, e minha boca saliva em excitação, é
por isso que ao morder seu lábio, afasto nossas bocas. Seus olhos,
normalmente tão claros, estão escuros e pesados, e eu não demoro para
perceber o tanto de desejo que ele tem, assim como eu.
— Quando vesti essa roupa, pensei no que poderia acontecer quando
voltássemos do jantar, e não antes dele — confesso, mordendo meu lábio.
Hunter me pega pelos pulsos, erguendo-os sobre minha cabeça, e me
lança um sorriso com o canto da boca.
— Você ama provocar, não ama, Estrelinha? — Sua voz sai rouca.
— Você fala como se eu fizesse isso com frequência, querido
Chefinho — digo, em uma voz inocente.
Ele balança a cabeça ao passo que meus olhos traçam todo seu
peitoral exposto pela camisa aberta, com uma mão ainda segurando meus
pulsos, a outra passa diretamente para a minha bunda, apertando-a.
— Me chama de Chefinho só mais uma vez, que eu juro que te fodo
a noite inteira, Georgia.
— Chefinho — sussurro, apenas deixando meus lábios se moverem.
Com a mão na minha bunda, ele me puxa contra ele, e mais uma
vez, apenas sentir a sua ereção ainda coberta pelas roupas, me causa um
choque absurdo, minha pele inteira se arrepia, e até mesmo os cabelos da
minha cabeça se levantam, medindo toda a tentação que tenho.
Fico nas pontas dos pés para conseguir alcançar a sua boca, dando
um selinho molhado em seus lábios e em seguida mordendo o inferior,
trazendo-o para mim. O toque da sua mão grande e calejada em minha
bunda, faz com que eu abra minhas pernas e no momento em que isso
acontece, ele me ergue.
Minhas pernas se engancham em seu quadril, e eu chupo sua língua
um segundo antes de uma lufada de ar quente sair entre meus lábios quando
seus dedos longos encontram minha boceta, que palpita de tesão e se
encontra totalmente umedecida.
— Sem calcinha, Georgia? — pergunta, ao constatar o que é obvio.
— E correr o risco de ter você roubando-a novamente?! —
respondo, retórica.
— É por isso que você é uma boa garota — diz, beijando minha
garganta.
Seus beijos são molhados e descem por toda a extensão do meu
pescoço até o colo, subindo novamente e indo ao lóbulo da minha orelha,
enquanto seus dedos apertam meu clitóris, rodeando-o.
Hunter não me segura mais, a não ser pelos pulsos, e eu faço uma
força extrema para continuar com minhas pernas abertas, para que ele
continue movimentando-se contra meu sexo. A saia do meu vestido sobe
um pouco mais, devido ao movimento que ele faz com os dedos, e eu acabo
encontrando uma forma de me esfregar contra sua barriga.
Uma das minhas mãos o agarra pela camisa aberta, e a outra
serpenteia seu pescoço, indo em direção à nuca. Então passo as pontas dos
dedos nos cabelos ralos ali.
— Ou você me faz gozar com esses dedos ou me come de uma vez
— ordeno.
— Está ansiosa? — ele provoca, ao apertar meu clitóris.
Dou uma rebolada, friccionando minha excitação contra sua pele.
— Desde a primeira vez em que te vi sem camisa na porta do seu
apartamento — confesso.
Não demora muito para que Hunter tenha um sorriso convencido
nos lábios, e eu reviro os olhos, em uma resposta quase ácida, a não ser pelo
grunhido que sufoco quando ele desliza seus dedos por minhas pernas,
descendo até minha abertura. Ao encontrá-la, ele entra com dois dedos, e os
mexe lá dentro.
— Então, você sempre sentiu tesão por mim? — pergunta.
Não respondo, apenas ergo um pouco mais corpo, a fim de ter mais
contato com sua pele quente.
— Porque eu sinto em você, desde o primeiro dia em que coloquei
meus olhos em você.
— Hunter — chamo, em meio ao gemido.
— Hum...
— Nesse momento, eu preciso que você seja o caçador, como seu
próprio nome sugere... me foda de uma vez e pare de tentar ser cavalheiro.
Uma risada rouca deixa a sua boca, e ele tira seus dedos de dentro
de mim, segurando meu quadril com uma mão.
— Então se segura — sugere, quando finalmente solta meus pulsos.
Mal consigo raciocinar, pois Hunter já está com as duas mãos nas
extremidades dos meus quadris, enquanto eu me mantenho pressionada
contra a parede. Minhas pernas, que antes adornavam sua cintura, agora se
encontram sobre seus ombros, porque ele acaba de se ajoelhar para me
chupar.
Tento apoiar minhas mãos na parede, recostando minhas palmas ali,
com força, assim que minha cabeça pende para cima, e eu grito o nome
dele, com sua língua fazendo uma sucção pela extensão da minha vagina.
Posso imaginar que a pressão que faz para me segurar pelos quadris, vai
deixar um belo roxo na minha pele, e isso só me dá mais tesão.
Em questão de minutos, sinto minha boceta pulsar, anunciando que
estou próxima, tento avisar, contudo Hunter é mais rápido, parando de me
chupar.
— Que merda, Blakely — reclamo.
— Sinto lhe informar, mas o único canto em que você tem
permissão para gozar hoje, é no meu pau — diz, autoritário, e um arrepio
sobe por minha coluna.
— Então me come, porra — rosno.
Ele fica de pé, e suas mãos descem, mas agarram a minha bunda,
sinto meu corpo desequilibrar à medida que começo a me afastar da parede,
que parecia tão segura antes, e agora sem ela, parece que estou prestes a
cair com meu corpo fraco e ao mesmo tempo tão quente, por isso agarro
seus ombros largos.
Hunter caminha em passos largos, adentrando pelo quarto do hotel,
me surpreendo quando ele passa direto pela cama e continua a caminhar,
indo em direção à sacada do quarto, dando leves beijos próximos ao arco
dos meus seios, fazendo com que meus bicos implorem por atenção.
— Nós não vamos para cama? — pergunto, atônita.
Ele afasta o tecido fino do top com os dentes, expondo um dos meus
peitos.
— Por que lhe comer dentro de um quarto, se eu posso fazer isso
vendo o sol se pôr na Grécia?
Antes que possamos chegar ao lado de fora do quarto, eu paro para
tentar reorganizar meus pensamentos e me perguntar se essa droga de
homem é real ou eu estou apenas alucinando, porque mesmo com seu corpo
grudado no meu, eu ainda passo a acreditar que ele possa ser apenas uma
miragem.
Porque eu chego a cogitar a ideia de que, na real, ele nunca parou o
carro e me molhou inteira, e sim, me atropelou, e eu estou em coma no
hospital, e isso tudo, nesse momento, é um sonho.
No entanto, noto que não é, assim que joga seu corpo por cima do
meu na espreguiçadeira dupla acolchoada, e ele tem razão. Por que fazer
sexo dentro de um quarto, se podemos fazer isso em meio ao pôr do sol na
porra da Grécia?
Ele tira a camisa, passando pelos braços, e enquanto eu me reclino,
ele traça meus seios com os olhos, e no momento em que suas mãos estão
livres, ele afasta o restante do top, descendo até minha cintura. Suas mãos
os agarram, juntando-os ao passo que as pontas dos dedões brincam com os
bicos duros e muito necessitados, a lembrança dele me mamando na
limosine semanas atrás, retorna, então é preciso que contraia minha boceta,
pois a simples memória daquela noite, já me deixa inteiramente molhada.
Fecho meus olhos, mordendo o interior da bochecha. Não demora
muito para que nossas bocas se juntem mais uma vez, e mesmo com os
olhos fechados, o poder que Hunter tem sobre mim é grande, e ele continua
a me provocar, mexendo nos meus dois mamilos ao mesmo tempo.
Preciso separar nossas bocas, para respirar.
— Se você continuar assim, eu juro que não vai sobrar nada aqui
embaixo para o pequeno Hunter aí embaixo — digo, com a respiração
entrecortada.
— Pequeno, é? — Franze o cenho.
Ele para de me tocar e pega minha mão, levando-a até o seu
quadril. Eu posso senti-lo duro como uma pedra. Minha boca saliva,
sentindo-o, mesmo que por cima do tecido, então eu não demoro para ficar
sentada, levo meus dedos até o botão da calça, abrindo-o, desço o zíper e
respiro fundo, antes de descer suas calças.
Sou pega de surpresa quando as mãos dele sobrepõem as minhas, a
fim de me acompanhar na descida das suas roupas, seu peito sobe e desce
quando finalmente sua ereção é liberada. O líquido de pré gozo brilha na
ponta rosada do seu pau, e eu consigo ter as conclusões que tanto imaginei
desde a primeira vez em que o vi.
— É grande — constato, mordendo o lábio em um sorriso. — É
gigante.
Eu olho para Hunter assim que ele solta uma risada áspera, erguendo
a cabeça para trás.
Minha mão adorna a base do seu pau, fazendo leves movimentos de
vai e vem, e ele volta a me olhar, por isso eu digo:
— Você me daria a honra de te chupar, Chefinho? — peço, e seus
olhos me analisam, carregados de luxúria. — Prometo colocar tudo na
boca... — completo.
Ele respira fundo.
— O que me garante que sua boca aguenta tudo? — ele tenta
provocar, mas a resposta já está na ponta da minha língua.
— Se Deus fez, é porque cabe.
O gosto salgado invade minha boca quando eu passo a ponta da
língua sobre a cabeça do seu pau, lambendo o líquido transparente que
desce. Começo com movimentos sutis, circulando a ponta, e aos poucos
passo a descer com a língua por todo seu comprimento. Ao chegar na base,
tiro a minha mão e dou chupadas leves ali, seguindo pela virilha, que se
encontra depilada.
O que de fato me surpreende, mas não a ponto de eu deixar isso
explícito. Ele realmente vem se preparando para esse momento, assim como
eu, o que é maravilhoso.
Continuo a fazer os movimentos de sucção e a massagear seu
comprimento com a mão, vez ou outra, enquanto ele passa os dedos por
meus cabelos, segurando-os. Quando o coloco dentro da minha boca, em
um primeiro momento, vou apenas até a metade, a fim de me acostumar
com sua largura, e ouço ele ofegar ao xingar meu nome.
— Porra, Georgia, não para. — Sua voz continua carregada.
Arrisco olhar para cima ao passo que o chupo em movimentos de
ida e vinda. Sua boca está entreaberta, o peito sobe e desce com força
quando nossos olhares se encontram, e o pau de Hunter pulsa em minha
boca, cheio de sangue.
É exatamente nesse momento que eu surpreendo tanto a mim,
quanto a ele, colocando-o quase inteiro em minha boca. No primeiro
instante, sinto um enjoo, contudo, continuo a engoli-lo, e ele não reclama,
pois está gemendo.
Hunter fecha os olhos com força, e eu faço o movimento mais
algumas vezes, tirando-o completamente e colocando tudo de novo na
minha boca, até a garganta, sentindo toda a sua ereção.
— Está tudo bem? — pergunto, com um sorriso nos cantos dos
lábios, e ele apenas balança a cabeça, ainda de olhos fechados. — Olha para
mim, Chefinho. — Ele tenta, porém suas pálpebras tremem, fechando outra
vez. — Quero que você me veja engolindo seu pau pela última vez —
aviso, brincando com a ponta da língua na cabeça do seu pau.
Ele respira fundo, antes de abrir os olhos negros, devido às pupilas
dilatadas. Quando seu pau pulsa outra vez, e suas bolas endurecem, eu sei
que ele está próximo, dou outra lambida na cabeça rosada e brilhosa,
engolindo-o outra vez, sem tirar meus olhos dos seus. Eu pego a visão da
sua boca se abrindo, sua mão fecha em punho, me segurando com ele todo
dentro de mim.
Passam-se alguns segundos, e aos poucos eu vou abandonando seu
pau, mas não deixo de dar um beijinho nele, então, eu passo as mãos nos
meus peitos, apertando-os. Por mais que tenhamos tido poucos momentos
como esses juntos, eu sei que o seu maior fraco no meu corpo, são meus
peitos, e eu amo provocá-lo. Hunter me olha, faminto.
— O que você está fazendo, Georgia?
Passando a ponta dos dedos sobre os mamilos rígidos, dou um leve
apertão neles e pergunto:
— Gostaria de gozar entre eles?
A ereção dele treme, e eu sei que isso é um sim, me aproximo um
pouco mais dele e encaixo o seu pau entre o vão dos meus seios. Com as
mãos cobrindo os mamilos e apertando-os firmemente para que façam força
em seu endurecimento, eu começo a subir e descer com meu corpo.
Os gemidos começam a escapar da minha garganta, minha boceta
pulsa, sabendo que o sentirei inteiro dentro de mim em poucos minutos.
Tão logo o líquido branco e quente se esvai do seu pau, me
molhando inteira, eu começo a trazer seu gozo até meus mamilos,
umedecendo-os e incitando-os. Hunter puxa meus cabelos, erguendo minha
cabeça, e eu solto um gritinho, logo ele me beija, e sua outra mão retorna
para minha boceta, começando a massageá-la, me provocando.
— Pensei que eu só podia gozar no seu pau hoje — provoco, em
meio ao beijo.
Ele chupa minha língua.
— E você está certa.
Me deitando sobre a espreguiçadeira outra vez, ele desce o conjunto
que uso, me deixando completamente nua e ao seu dispor, rapidamente
também, Hunter desce suas calças, e vejo seu pau voltar a ganhar vida.
— Espero não precisar pedir para você abrir as pernas para mim —
ele diz, com a mão espalmada sobre a minha barriga.
Levo o dedo até minha boca, mordendo-o, e de forma lenta, eu abro
as pernas, ele tem seus olhos centrados, em pura admiração, na minha
boceta.
— Porra — murmura baixinho, sua outra mão encontra seu pau, e
ele passa a bombeá-lo, com o olhar fixo na minha entrada. — Você está tão
molhada, que está escorrendo, Georgia — informa.
Assinto.
— Eu sei, apenas esperando o momento em que você vai decidir
enfiar seu pau até o fundo dela — provoco.
— Você ainda vai acabar comigo, mulher — ele fala, ficando de pé.
— Para onde você vai?
— Camisinha — ele lembra, o que eu nem mesmo estava
lembrando.
Eu tenho a visão privilegiada da sua bunda dura, correndo de volta
para o quarto, e não deixo de rir. Quando ele volta, está não apenas com
uma, mas com um pacote inteiro de preservativos.
Ele rasga uma das embalagens e veste sua ereção.
Me recosto na espreguiçadeira, me apoiando em meus cotovelos, e
Hunter põe um joelho perto de um dos meus pés, enquanto leva meu outro
tornozelo até seu ombro, segurando-o. Ele se curva, colocando a cabeça
entre minhas pernas, e com a língua, ele lambe todo o comprimento, quando
se afasta e vê meu rosto confuso, diz:
— Apenas conferindo se está tudo certo com a preciosa. — Eu rio, e
ele se ajusta entre minhas pernas.
Sabe a visão do paraíso? Antes eu pensava que era quando
morremos e vemos a famosa luz branca, porém a realidade é que a visão do
paraíso, é ver esse homem, com todo o seu poder, nu sobre mim e ajustando
seu pau na minha entrada, com a luz já fraca do sol em uma ilha
mediterrânea, iluminando sua pele bronzeada.
Assim que sinto Hunter entrar em mim, solto um gemido. Ele entra
aos poucos, e eu sinto minhas paredes internas estremecerem à medida que
seu pau se encaixa em mim.
— Você disse que queria até o fundo, certo?
Balanço a cabeça em uma afirmativa, pois há um gemido entalado
no fundo da minha garganta.
— Responde — ele pede, entrando vagarosamente em mim.
— Ah, sim — respondo, em meio ao gemido. — Por favor.
Ele faz exatamente o que peço, e dessa vez eu não reprimo o grito
que sai de mim. Hunter segura minha perna, e a mão que antes estava em
minha barriga, desce, agora ele massageia meu clitóris, enquanto entra e sai
de mim em movimentos sutis e vagarosos.
Minha boceta comprime, apertando o seu pau quando ele entra em
mim por inteiro novamente.
— Mais forte — peço, subindo meus peitos.
Em estocadas mais rápidas, ele entra e sai de mim, sinto suas bolas
baterem em minha bunda, e isso, de certa forma, aumenta meu tesão. Meus
mamilos passam a doer, o desejo, junto com o gozo que acabou secando ali,
me deixam louca, por isso eu começo a massageá-los, para me trazer
qualquer alívio, e meu coração martela contra meu peito.
Todo o meu corpo queima, tudo em mim se torna ânsia quando tudo
o que quero, é me libertar.
— Hunter... — imploro, assim que ele abandona a massagem em
meu monte e tira minhas mãos dos meus peitos.
— Não — ele diz.
— Por favor — passo a implorar.
Ele me estoca, agora com mais força, soltando minha perna, e seus
braços flexionam ao lado do meu corpo. Preciso me abrir um pouco mais
para que ele se encaixe melhor em mim, por isso eu ergo minha cintura,
ajudando-o a entrar em mim.
Me penetrando profundamente, ávido e rápido, ele me domina, mas
eu também o domino. O dia começa a virar noite na Grécia, e nós dois
somos dois corpos suados em busca da satisfação final do prazer que
estamos nos dando.
Meu corpo inteiro treme, e eu sinto meus olhos revirarem, Hunter
aproxima seu corpo ainda mais de mim e quando ele o faz, minhas mãos
encontram os músculos do seu peito. Cravo minhas unhas ali, e ele começa
a entrar e sair de mim devagar, minha boca está entreaberta, e meu corpo
em total ansiedade, aguardando o momento da libertação.
Hunter também está gemendo, e minha boca se abre para receber a
sua, contudo, quando elas se encontram, acabo mordendo seu lábio inferior
em um grito gutural, sentindo minhas paredes contraírem e em seguida, se
abrirem, no instante em que finalmente o orgasmo me invade.
O ar agora, é totalmente inexistente, enquanto eu ainda gozo,
sentindo minhas pernas tremerem. Hunter entra e sai de mim, e quando ele
também consegue gozar, mesmo com a camisinha, eu ainda o sinto quente
em mim, seu pau estremecendo à medida que eu ainda pisco, buscando por
atenção.
Aos poucos, a respiração volta para meus pulmões, que ardem, e
quando ele passa a beijar a lateral do meu pescoço, saindo de mim, declaro:
— Posso dizer, com certeza, que nunca valeu a pena passar tanto
tempo ansiando por sexo.
— Então você está finalmente assumindo que eu fui o melhor com
você em alguma coisa? — ele pergunta, afastando seus lábios da minha
pele.
Um sorriso estampa seu rosto, que mesmo cansado, continua lindo.
— Eu não disse isso, mas se você me comer mais algumas vezes
durante essa noite, pode ser que em algum momento, eu declare isso.
— Você é impossível, Georgia. — Ele ri, trocando nossas posições e
me deixando por cima dele.
Uma arfada me escapa assim que minha boceta, ainda sensível,
encontra a pele fria, carregada de suor, do seu abdômen.
— Não sou impossível — discordo. — Sou apenas uma mulher com
uma libido aflorada.
Nós não nos prologamos muito, e tão logo, já estamos nos pegando
outra vez.
Eu acordo, mas não tenho um pingo de vontade de abrir os olhos,
por isso começo a tatear a cama, em busca do corpo de Georgia e acabo
sendo obrigado a despertar, quando não a encontro.
Demoro um pouco para me acostumar com a luz do sol que entra
pelas portas abertas, não consigo controlar o sorriso que surge em meus
lábios ao ver que ela está sentada de costas para mim, na mesma
espreguiçadeira que usamos ontem à noite. Eu parei de contar depois da
nossa quarta vez na espreguiçadeira, já que depois viemos para dentro e
pedimos serviço de quarto, pois ambos estávamos cansados.
Contudo, enquanto tomávamos banho juntos, transamos mais uma
vez. Na real mesmo, só paramos porque em algum momento, ela disse que
ia ficar sem andar hoje pela manhã, e eu quase não tinha mais o que gozar,
porém não nego que foi uma noite e tanto.
Sem dúvidas, a melhor da minha vida.
Me levanto e vou até o banheiro. Depois de fazer a higiene bucal,
pego uma cueca no closet e a visto, dou passos silenciosos até a sacada, e ao
me aproximar de Georgia, não falo nada, apenas dou um beijo na sua
orelha, o que a faz pular de susto.
— Puta merda, Hunter — reclama, colocando a mão no peito. — Da
próxima, aponta uma arma na minha cabeça e me mata de uma vez.
— Deixa de ser exagerada, Estrelinha — digo, ficando de joelhos na
espreguiçadeira, a fim de me sentar atrás dela.
— Você me chama de exagerada, porque não é você que quase
morre de susto todas as vezes. Há muitos casos de pessoas que morreram de
susto, fique você sabendo — informa, me olhando por cima do ombro.
— E como você sabe disso?
— Eu pesquisei — explica e dá de ombros.
— Você ama pesquisar as coisas, já chegou a pesquisar se é possível
alguém morrer de tanto ter orgasmos? — pergunto, provocando-a. —
Porque por mais que você não tenha admitido, eu não te dei um, mas uns
dez orgasmos, só ontem.
Sua boca se abre.
— Aí depois você olha na minha cara e me chama de exagerada?
Você até pode ter um bom pau entre as pernas, mas isso não faz de você o
melhor comedor de todos os tempos.
— Se eu acreditasse em qualquer palavra do que você diz, talvez eu
ficasse com meu ego ferido. Pena que quem estava dentro de você ontem,
era eu, e por isso eu sei exatamente tudo o que você sentiu.
— Ou que eu fingi. — Seus olhos brilham, em diversão.
— Nem a maior atriz pornô do mundo finge assim tão bem —
concluo e finalmente percebo a roupa que ela está usando. — É a minha
camisa?
Georgia olha para baixo, analisando a peça de roupa branca de
botões que veste, e assente.
— Pensei que não iria se importar — diz.
— E não me importo, ficou bem melhor em você.
— Eu sei, realça meus peitos. — Me lança um olhar convencido.
— Realça, é?! — pergunto, retórico, tentando me esquivar para
frente, para confirmar o que ela acaba de falar, porém ela desvia o corpo. —
Malvada.
Pegando a escova de cabelos que está entre suas pernas, pergunto:
— Posso?! — peço, ao apontar para os seus cabelos molhados.
— Tá falando sério? — pergunta, franzindo o cenho em surpresa.
Murmuro um sim. — Vai em frente.
— Você só vai precisar me dizer como eu o deixo com os cachos
perfeitinhos.
Georgia ri, concordando. Ela primeiro me diz para apenas pentear os
cabelos, desembaraçando os fios primeiro nas pontas e subindo aos poucos
até a raiz, ela diz que se começar a partir da raiz, acaba quebrando o fio.
Em seguida, Georgia diz que eu tenho que partir seu cabelo ao meio,
só que não um meio totalmente certinho, pois segundo ela, na hora que
seca, se estiver partido com uma linha certinha ao meio, fica feio, então eu
só faço o que ela manda. Depois de fazer a divisão ao meio em um zigue-
zague totalmente louco, ela me dá auxílio para prender os cabelos em
quatros partes diferentes, duas na parte de cima e duas embaixo.
Ela coloca bastante creme de cabelo na palma da minha mão,
mandando eu esfregar sobre a outra e em seguida passar por todo o
comprimento da primeira parte que foi separada, penteando os fios com
dedos, em movimentos de cima para baixo. Depois, ela pega uma camiseta
de algodão que está ao seu lado, que para minha surpresa, também é minha,
e diz que é para ir apertando o tecido contra a mecha, para tirar o excesso de
água. Passo a dividir a mecha grande que havia passado o creme, agora em
mechas pequenas e volto a passar creme por elas, dessa vez, acompanhado
por gel de cabelo.
Começo a passar os dedos entre a mecha, sempre no mesmo
movimento, de cima para baixo.
— Isso se chama fitagem — ela responde. — Agora, você vai pegar
a mecha com a palma da mão e amassar assim. — Ela me mostra como se
faz, e em seguida eu repito. — Depois, faz novamente, só que com a
camiseta de novo, para tirar o excesso de água outra vez.
— Preciso fazer isso no cabelo inteiro? — pergunto, surpreso.
— Uhum.
— Caraca! — Solto um assobio. — Eu pensava que dava bem
menos trabalho — confesso. — Na minha cabeça, era só passar o creme e
depois a escova, e acabou.
— Quem dera fosse assim — diz, reflexiva. — Você ainda tá na
parte de baixo, quando chegar na superior é que começa realmente o
trabalho, porque você vai ter que fazer o dedoliss.
— Dedo o quê? — pergunto, franzindo o nariz em confusão.
— Dedoliss. Assim, olha. — Ela pega uma das mechas do cabelo e
enrola no dedo, depois de fazer isso em vários pedacinhos do cabelo,
amassa de novo. — Você pode fazer também com o cabo da escova, mas eu
não gosto muito do resultado.
— Eu também não — concordo.
— Você nunca nem viu. — Ela ri, e eu tento acompanha-la, porém
estou hiper focado na tarefa de finalizar seus cachos.
— Se você não gosta, eu também não gosto — digo.
— Simples assim? — pergunta sobre o ombro, e eu assinto. —
Então se eu simplesmente não gosto de uma coisa, você também não? —
pergunta, interessada.
— Exatamente isso.
Georgia vira o rosto para frente, observando a vista. Eu poderia
fazer isso também, entretanto a vista dela entre minhas pernas enquanto eu
arrumo seu cabelo, já é perfeita o suficiente para mim.
— Eu não gosto do Chad — ela admite.
— Eu também não — digo, logo em seguida.
— Estou falando sério, idiota.
— Também estou. — Rio. — Ele se acha superior a todo mundo,
nada nunca está bom para ele, e ele ama gritar com as pessoas, porque acha
que só vão escutar assim. Mas ele também é um cara gente boa, ele me
enxergou mais do que qualquer outro, eu estava prestes a fechar contrato
com um empresário que dizia que a minha melhor opção seria um time da
segunda divisão com um contrato de um milhão por ano, e eu sabia que eu
merecia mais, e o Chad também. Eu dei uma única missão a ele, me fazer
ser draftado pelo Nets, não importasse o salário, e só assim eu fecharia com
ele, por enquanto teríamos apenas um acordo.
— E ele conseguiu? — Georgia me pergunta, curiosa.
— É lá que eu estou agora, não é?! — Ela sorri, assentindo. — Ele
me conseguiu a segunda posição no draft e ainda, um contrato de vinte
milhões no primeiro ano, mas o que me fez realmente fechar com ele no
final, não foi o valor e nem o time, e sim o que ele praticamente me obrigou
a fazer no final.
— O que ele te obrigou a fazer? — Georgia pergunta, dessa vez um
pouco mais raivosa.
— Ele disse que eu teria que doar anualmente cinco porcento do
meu salário a alguma instituição.
— Mas hoje você doa para quatro diferentes — Georgia analisa.
— Isso, porque eu gostei da ideia e decidi multiplicar por quatro,
então vinte por cento do que eu ganho com o basquete anualmente, é doado.
Então sim, o Chad pode ser um cuzão, mas ele também é bom no que faz, e
é bom para outras pessoas.
— Quando quer ser — ressalta.
— Quando quer ser — repito. Acabo me distraindo com uma mecha
pequena, que se enrola toda no meu dedo. — Não tem nenhuma maneira
mais fácil de fazer isso? — pergunto, atrapalhado com a mecha.
Georgia me ajuda a soltar o cabelo do meu dedo, e dessa vez ela
mesma faz o cachinho, e ele sai perfeito.
— Já até tentei de outras formas, mas a melhor sempre foi essa.
— Você sempre fez dessa forma?
— Para falar a verdade não, quando era mais nova, eu o deixava de
qualquer jeito, não fazia a mínima ideia do que era fitagem. Tem dias que eu
ainda não faço, são os dias em que eles ficam cheios de frizz, e às vezes que
eu faço, e mesmo assim eles decidem se rebelar e não ficar do jeito que eu
gosto.
— Mas você não fazia antes por ter preguiça? — pergunto, soltando
a última mecha.
— Também... não sei. Houve uma época do ensino médio em que eu
preferia alisar o cabelo, então não era preguiça.
— Eu não acredito que você fazia isso — digo, tão chocado que
minha voz sai fina, Georgia começa a rir, e eu limpo a garganta, antes de
voltar a falar. — Por que diabos você alisaria seus cabelos?
— Porque onde eu ia, todas as garotas tinham os fios lisos, corretos
e alinhados. Então é difícil crescer no meio de uma sociedade onde o
padrão e a beleza está em quem tem o cabelo liso.
— Discordo totalmente — digo.
— Falou o cara que só pega mulher de cabelos lisos, no máximo
com algumas ondas.
— Pegava — corrijo. — Passado, não pego mais, até porque eu me
encantei pelos seus cabelos altos e cacheados, desde que te vi pela primeira
vez.
Digo, relembrando da noite há quatro anos, ainda na faculdade. A
primeira coisa que notei em Georgia, antes da pulseira com pingentes de
estrelas, foram seus fios cacheados, por isso eu quis os proteger do seu
vômito, segurando-os enquanto ela colocava tudo que tinha bebido para
fora.
A simples lembrança de uma noite que durou poucas horas, mas que
nunca saiu da minha mente, faz com que um sorriso suba pelos cantos da
minha boca, pois o desespero dos dias seguintes sempre que eu a procurava
por todo o campus, está sendo recompensado agora, quando a tenho em
meus braços.
— Quando você me conheceu, eu sequer tinha um cacho correto na
cabeça, já que graças ao atleta famoso que não sabe estacionar um carro
direito, eu fiquei toda desgrenhada.
Então eu me toco que a lembrança que eu tenho da primeira vez que
nos vimos, é totalmente diferente da primeira vez em que ela me viu.
Apesar de ela se recordar através de um sonho que era eu, quatro anos atrás,
eu ainda não sei porque eu não consigo assumir o meu papel nessa história,
apenas sinto que não é a hora certa ainda.
Por isso também, ainda mantenho a pulseira guardada na
escrivaninha do meu quarto.
O sorriso se desfaz no momento em que me dou conta que eu tenho
mentido demais para Georgia, e eu engulo em seco.
— Tem razão — respondo, finalizando a última mecha do seu
cabelo. — Mas mesmo assim, ele ainda conseguiu me deixar totalmente
admirado, embora agora ele esteja muito melhor do que no dia da entrevista
— concluo, admirando meu trabalho.
Georgia sorri sobre o ombro, depois me beija e quando se afasta,
diz:
— Que tal pedirmos o café da manhã, antes do carro da produção
chegar?
— Sério que as gravações do comercial já começam hoje? — Faço
uma careta, caindo sobre a espreguiçadeira.
— Sério.
— Queria tanto passar o dia inteiro dentro de você — confesso, com
um sorriso malicioso no rosto.
— Mas vai passar o dia trabalhando — responde ao se levantar,
estendendo a mão para mim, que a pego para me levantar. — Vamos lá,
vamos comer alguma coisa.
— A minha comida favorita já está aqui — digo, abraçando-a por
trás quando me ponho de pé e mordendo a pontinha da sua orelha.

Foram dois dias de gravações, o lado bom é que conhecemos vários


pontos turísticos da ilha, contudo, durante os dois dias, ao chegarmos no
hotel, estávamos cansados demais para irmos a um restaurante, como
Georgia havia programado, e apenas hoje, no último dia de viagem e
gravação, finalmente viemos comer as Moussakas dela.
Confesso que estou bastante cansado, entretanto eu não poderia
jamais, deixar de ver os olhos dela brilhando quando o garçom trouxe para
a mesa a tal da lasanha de beringela. E mesmo após o final da comida, ela
não se satisfez e quis comer mais algumas especialidades da culinária
Grega, depois de se empanturrar de Dolmas e uma torta de massa folhada
com recheio de iogurte com nozes, ela está tomando o café, que eu já tomei
há um bom tempo.
— Era tudo o que eu imaginava e muito mais — ela diz, ao
bebericar a bebida quente.
— Como você aguenta tanta comida assim? — pergunto, ainda
impressionado, uma vez que finalizei a minha refeição com a Moussaka.
— Eu como pouco de dia — explica.
— Não come não. — Nego rapidamente com a cabeça. — Somente
no café da manhã, você comeu salada, três pães, uma banana e perdi as
contas de quantos morangos.
Ela estreita os olhos na minha direção por cima da xícara de café.
— Por que você está prestando atenção no que eu como?
— Eu não estou prestando atenção no que você come, eu estou
prestando atenção em você, são duas coisas bastantes diferentes.
— Mas você está contando tudo o que eu como — rebate, ao
levantar a sobrancelha.
— Quando você não consegue tirar os olhos de uma pessoa, é isso
que acontece. — Solto uma piscadela, o que a faz revirar os olhos.
— Você é tão brega — resmunga.
Dou de ombros com a sua observação.
Talvez eu possa ser brega, eu realmente me sinto brega ao lado dela,
porém estou pouco me importando com isso. Eu comecei a notar, apenas
durante essa viagem, que coisas como essas saem da minha boca de
repente.
— Talvez eu seja um homem brega, mas eu não posso fazer nada se
tudo em mim reage a você, Estrelinha.
— O que você quer dizer com isso? — pergunta, confusa.
— Não sei — reflito. — É apenas que quando você está perto de
mim, meu corpo reage a você, meu sorriso e até mesmo meu ar. É estranho.
— Sinto meu rosto arder em meio à confissão, e meu nariz franze, antes de
eu terminar. — Às vezes meu coração chega até a palpitar mais rápido —
digo, um pouco mais baixo.
Georgia solta a xícara de café delicadamente sobre a mesa, e noto
que ela me observa com cuidado, sua boa abre e fecha algumas vezes, eu
fico calado, e ela também. Ela aponta o dedo para mim e depois abaixa, e
meus lábios se transformam em uma linha fina.
Ela me lança um sorriso e depois nega com a cabeça.
— Cara... — Solta um suspiro. — Eu preciso ir ao banheiro.
Assinto enquanto ela se levanta.
Não sei o que deu em mim para falar isso, como eu disse, eu apenas
reajo a ela, e as coisas simplesmente saem da minha boca sem que eu nem
mesmo cogite pensar. Por sorte, eu pensei antes de dizer que talvez eu esteja
me apaixonando por ela.
Juro que essa linha de pensamento passou pela minha cabeça, e tudo
em mim começou arder, como agora.
A sensação é de que eu arruinei tudo, e se iguala ao que sinto em
quadra quando erro um passe e acabo entregando a bola ao meu adversário
ou quando estou na linha dos três pontos e a bola bate na trave, mas não
entra na cesta e eu estou longe demais, e quando dou por mim, o meu rival
já está correndo enquanto quica a bola a cada passe, antes de fazer a cesta.
E nesse momento, meu rival são meus sentimentos, que acabam de me
confundir de forma terrível, porém se não bastasse eles me afetarem, eles
também acabam de fazer isso com Georgia.
Será que ela está tendo esse mesmo pensamento, e eu a deixei
constrangida por me declarar ou ela apenas precisou realmente ir ao
banheiro?
Maldita hora em que eu fui abrir minha boca, contudo, a ideia de
estar me apaixonando por ela não me abandona, apenas suaviza logo que o
garçom pergunta se pode trazer a conta. Eu entrego o cartão a ele no mesmo
instante em que meu celular começa a vibrar em cima da mesa. É
impossível conter o sorriso assim que vejo o nome da Nona aparecendo na
tela.
— Preciso atender a ligação — digo ao garçom, pedindo para ele
entregar o cartão à Georgia e informar que estou lá fora, e ele concorda. —
Olha só, quem é vivo realmente sempre aparece — digo ao atender a
ligação, me levantando.
— Quem deveria dizer isso sou eu, não é mesmo?! Afinal, quem vive
esquecendo que tem uma avó, é você — ela responde no mesmo segundo.
— Nossa, como você é exagerada — brinco. — Como está o
cruzeiro?
— Está bem, acabamos de chegar em Miami. Infelizmente, já acaba
amanhã.
— Aposto que a senhora se divertiu muito.
— Você pode ter certeza disso. Parece que eu estou no auge dos
meus vinte anos, amando e sendo amada. — Sua voz parece melancólica.
— Como assim amando e sendo amada? — a pergunta sai da minha
boca imediatamente, ao passo que eu franzo a testa.
Escuto minha avó coçar a garganta do outro lado da linha e se a
conheço bem, nesse momento ela está em busca de um motivo para
desconversar.
— Você não me disse como está na França...
— Grécia — interrompo-a. — Estou na Grécia, Caelia, não mude de
assunto.
— Ah, sim. Grécia, é verdade, confundi. — Ela solta um risinho. —
A Georgia está aí com você?
— Vó, por que você está mudando de assunto?
Eu até tento voltar ao tema principal da conversa, no entanto ela é
impossível, a ponto de continuar mudando de assunto até eu me esquecer e
ser obrigado a ficar em silêncio, quando ela solta sua próxima pergunta, ao
invés de uma resposta.
— Você já devolveu a pulseira dela?
Sei que estou com o celular encostado no ouvido, entretanto não
deixo de olhar para trás, para ter certeza de que Georgia não está colada em
mim. Conferindo que ela realmente não se encontra próxima, opto por
atravessar a rua, é um pouco mais esquisito do outro lado, contudo, não
quero correr o risco de ela escutar essa conversa por hora.
— Que pulseira?! — agora, quem tenta desconversar sou eu. Isso é
de família.
— Não se faça de bobo, Fillipo! Você acha que eu não me lembro
da história da garota que vomitou aos seus pés anos atrás, e que você
nunca esqueceu dela? Agora pula para o fato de que eu conheço a Georgia
há mais tempo do que ela possuía aquela pulseira e quando você me
mostrou, anos atrás, eu já sabia a quem pertencia.
Engulo em seco ao ouvir suas palavras, mas uma coisa não me passa
despercebido.
— Se você sabia de quem era a pulseira e sabia também que eu
nunca a esqueci, por que você nunca me disse nada?
— Eu tinha a esperança de que o destino agisse por mim ou por
vocês...
— Destino — zombo, ao soltar uma lufada de ar.
— Sim, destino, e veja só, ele agiu.
É, ele realmente agiu, só que se você tivesse me dito antes, talvez eu
não teria passado tantos anos com uma única lembrança na minha cabeça,
e talvez agora eu não precisasse mentir para ela sempre que ela me olha,
tendo a certeza de que eu sou o cara daquela noite.
Penso, porém, prefiro ficar calado.
— Chegamos ao porto, querida, vamos lá. — Ouço uma voz
masculina chamar do outro lado da linha.
— Querida?! — pergunto. — Quem está te chamando de querida,
Caelia?
— Ninguém, mas eu preciso ir, me liga, tchau — ela fala
apressadamente, e quando dou por mim, a ligação já foi encerrada.
Minha avó está realmente namorando ou eu estou ficando louco?
Não que eu tenha algo contra ela namorar, claro que não. Depois
que meu avô faleceu naquele infeliz acidente junto dos meus pais, a vida
dela resumidamente foi me criar e dar o melhor que ela pôde, dentro das
suas condições, e agora, eu faço questão de retribuir tudo o que ela fez por
mim.
Inclusive, eu também faria questão de ela ter uma vida social mais
animada do que teve durante anos, entretanto eu esperava que ela pudesse
compartilhar comigo.
Coloco o celular no bolso do meu casaco e estou pronto para
atravessar a rua, ainda pensando na conversa que acabo de ter com minha
avó, contudo sou interrompido assim que sinto uma ponta afiada na minha
cintura.
— Mãos para cima e passa o dinheiro — uma voz grossa, porém
forçada, manda atrás de mim.
— Você só pode estar de brincadeira com a minha cara — reclamo,
pondo as mãos para cima. — Eu não tenho dinheiro — digo.
— Mentira.
— Estou falando sério, cara, eu não tenho dinheiro — repito.
— Ninguém vem para a Grécia sem... — ele começa a falar, no
entanto eu viro rapidamente e dou um soco em seu nariz.
Ao sair do banheiro e voltar para a mesa, vejo que a mesma está
vazia, porém o garçom está aguardando ao lado dela.
— Ele precisou sair para atender uma ligação — informa e me
entrega o cartão de Hunter, que eu guardo na mini bolsa que eu carrego.
Ela é uma clutch bag, ou seja, uma mini bolsa real, que cabe apenas
meu celular, a identidade e bom, agora o cartão de crédito.
Já é tarde da noite, e no restaurante há várias mesas já vazias.
Quando nós chegamos já era tarde, afinal, era quase noite quando as
gravações do comercial finalizaram, e essa era a nossa última chance de
virmos jantar algo que não fosse comida de hotel ou de buffet. E eu sei que
Hunter estava cansado e só precisava de um banho, e de se deitar, contudo,
ele fez questão de vir jantar comigo, pois sabia que eu estava prestes a ficar
genuinamente triste por não ter pedido a Moussaka.
O que me fez levantar da mesa e ir direto para o banheiro, foi a
sensação de sentir meu estômago embrulhar, após comer tanto e ainda
tomar um café, embora eu realmente tenha certeza de que foi mais para
fugir da conversa que Hunter e eu estávamos prestes a ter.
Eu só falei as três palavras mágicas para apenas uma pessoa na
minha vida inteira, e bom, todos já sabem que esse me traiu. Desde o meu
término com Bryce, quase cinco anos atrás, eu não me envolvi a ponto de
ter esse tipo de conversa.
Por isso, agradeço imensamente ao meu estômago por ter se retraído
na hora certa, pois se Hunter Blakely tivesse dito qualquer outra palavra
enquanto eu tentava raciocinar qualquer uma das anteriores proferidas por
ele, eu tenho certeza de que eu teria vomitado.
Eu não sei o que sinto por ele, mas é algo bom, isso é fato.
A verdade é que me sinto pronta para enfrentar toda e qualquer
coisa quando estou perto dele. Eu consigo ser eu mesma, eu também o
enxergo, desde a primeira vez que o vi, eu o enxergo. Então a atenção que
ele tem de mim, não é apenas a profissional, nem sexual, isso é fato. Eu
gosto de estar ao lado dele independentemente de qualquer situação, eu
gosto de rir com ele, eu gosto da forma como ele sorri para mim todas as
vezes em que nos vemos, e também de todas as vezes em que ele se acha
superior, apenas por ser ele.
No entanto, isso não significa que eu esteja apaixonada ou que vá
levar adiante um relacionamento com um dos maiores nomes da NBA...
significa?!
Bom, a verdade é que essa resposta deverá ficar para depois, pois no
momento em que saio do restaurante, eu preciso cerrar os olhos para ter
certeza do que vejo à minha frente.
Quando me toco que a cena é real e não um fruto da minha
imaginação, eu imediatamente pego a minha bolsa e saio correndo em
direção ao outro lado da rua, onde algum idiota está dando um murro na
cara de Hunter.
No instante em que me aproximo deles, a primeira que coisa que
voa em direção ao agressor é a bolsa, que bate direto na cabeça dele, e em
seguida eu o puxo pelo colarinho da camisa que ele usa, fazendo-o tropeçar
para trás.
— Georgia — Hunter chama.
Contudo, não respondo, pois assim que o homem perde o equilíbrio,
meu próximo movimento é colocar meu joelho entre suas pernas, acertando
suas bolas. Com a alça da bolsa ainda enroscada em minha mão, eu a puxo
e começo a desferir golpe contra ele.
— Você é louca? Me deixa em paz — ele grita aos prantos.
— Eu não sou louca — vocifero. — Quem você pensa que é para
bater no meu chefe? — digo ao dar um bolsada na cara dele, que a cobre
com as mãos, porém eu ainda consigo acertá-lo. — Você pode bater nele,
mas em mim você não bate, seu filho da mãe desgraçado. O corpo e rosto
desse homem custam milhões de dólares, e se você pensa que vai arruinar a
carreira dele, você não vai. — Agora uso, além da bolsa, minha outra mão,
batendo no homem.
O homem pede incessantemente para eu parar e tenta se afastar,
entretanto eu o sigo, ainda batendo nele. Escuto Hunter chamar meu nome
mais algumas vezes, mas eu não paro com o ataque.
— E se for preciso eu defender a carreira e a honra dele, eu vou —
continuo.
— Essa é a minha garota. — Ouço Hunter dizer, orgulhoso e sinto
minhas bochechas queimarem em vergonha devido à sua fala, contudo,
permaneço meu ataque contra o maldito.
Sou interrompida quando sinto uma mão agarrar minha cintura e me
tirar do chão, fazendo com que eu me afaste, e um funcionário do
restaurante segura o cara que batia no rosto praticamente perfeito de Hunter
— eu poderia dizer perfeito, na realidade, só que isso só faria com que a
autoestima dele subisse ainda mais.
— Você está bem? — Hunter pergunta atrás de mim, então me dou
conta que na verdade, quem me fez afastar do homem era ele.
— É claro que eu estou, eu ainda não acabei com ele — digo,
olhando para o sujeito que acabo de espancar.
— Georgia — Hunter chama. — Olha para mim — ele pede
calmamente, porém eu ainda sinto toda a minha pele queimar, devido à
adrenalina.
O indivíduo, que eu nem mesmo sei o nome ou o motivo de estar
socando Hunter, olha para mim de forma apreensiva, e quando Hunter me
põe no chão de volta, eu bato com o pé, fazendo como se fosse me
aproximar dele, e ele pula em susto. Só então, que eu me viro para meu
chefe.
— Fala — digo ao encontrar seu rosto, que apesar de ter levado um
murro, não tem nenhum hematoma.
— Você é doida? — ele sussurra a pergunta.
— Por que eu seria?! — respondo, retórica, franzindo o cenho, sem
entender o que ele acaba de questionar.
— Você acabou de espancar um possível assaltante — ele diz, como
se explicasse tudo.
— Ele estava te assaltando? — pergunto em um grito e quando me
viro para ir de volta em direção ao homem, Hunter me segura pelo pulso,
fazendo-me virar de volta para ele. — Eu preciso terminar meu serviço.
— Você não é nenhum lutador de MMA, Georgia — repreende. —
A polícia já está chegando aqui, e ele não chegou a me roubar.
— Foda-se — respondo. — Ele estava dando um soco em você.
— Que por acaso, eu desviei.
— Porque eu te protegi.
Hunter põe as mãos nas extremidades do meu rosto e o aproxima do
seu peito, eu sinto as vibrações do seu corpo à medida que ele solta uma
risada silenciosa, contudo, eu continuo com raiva da situação.
— O que você está achando engraçado?
— Nada — ele diz, em meio ao riso. — Eu acertei o primeiro soco,
e estava prestes a detê-lo quando ele foi devolver, mas você chegou e me
protegeu.
— É claro que eu te protegi.
— Uhum — murmura. — Também a minha honra e minha carreira.
Pegando as mãos de Hunter, ainda grudadas no meu rosto, eu as
afasto, assim como me afasto do seu peito.
— Você está debochando de mim? — pergunto, incrédula.
Hunter me lança um de seus sorrisos gentis enquanto nega com a
cabeça.
— Claro que não, Estrelinha. Apenas estou focando no fato de que
você me protegeu.
— Eu te protegi — repito, e ele assente, ainda com um sorriso no
rosto. — Eu estou falando sério, Hunter. Se eu não tivesse chegado a tempo,
sabe Deus o que teria acontecido com você. — Ele assente novamente, e eu
o fulmino com os olhos. — Você está sob minha responsabilidade, Hunter.
Ele me puxa, me abraçando e colocando o queixo por cima da
minha cabeça.
— Eu sei que estou e agradeço por você cuidar de mim, me
proteger, proteger também a minha honra e a minha carreira — ele fala,
passando os dedos entre meus cabelos, fazendo carinho.
— Para de ser debochado — reclamo.
— Não estou sendo debochado, Estrelinha — ele sussurra, agora
para que apenas eu escute, uma vez que a polícia acaba de chegar e
apreender o bandido. — O fato é que eu amei conhecer esse seu lado
raivoso e brutal.
— Quer que eu te bata também? — sugiro assim que ele se desfaz
do abraço.
Hunter não responde nada, pois um policial se aproxima de nós,
contudo ele pisca para mim.
Após a polícia prender o homem que carregava uma faca, que foi
encontrada no chão, Hunter dá a sua versão da história, dizendo que
precisou sair do restaurante para atender a uma ligação e quando finalizou,
foi pego de surpresa pelo assaltante, porém deu um soco na sua cara, e em
seguida começa a falar de quando o ataquei.
A polícia também me questiona sobre a minha reação, e eu não
deixo de notar o sorriso torto que ele coloca nos lábios quando eu explico a
cena. No final, Hunter é reconhecido pela polícia, dá autografo e tira fotos
com eles, antes de irem embora e nos liberarem.
O policial acena para mim enquanto eu reposiciono a alça da bolsa
no meu ombro, e eu apenas respondo com um sorriso, em seguida os
funcionários do restaurante, que acabaram abandonando seus postos devido
à confusão, retornam para dentro, e o nosso motorista também chega, para
nos levar de volta ao hotel. Hunter solta uma risadinha ao abrir a porta para
mim.
— Ainda não entendi porque você riu de mim — digo, já dentro do
carro.
— Eu não ri de você, já te disse.
— Inclusive, está rindo nesse exato momento.
— Mas não é uma risada de achar graça, Estrelinha, está mais para
felicidade ou admiração — explica, e lá vamos nós voltar para a conversa
do restaurante, nem mesmo tenho um banheiro para ir agora, caso meu
estômago volte a embrulhar. — Para falar a verdade, ainda estou surpreso
com a sua reação.
Volto a respirar aos poucos logo que ele termina de falar.
— Sou apenas uma garota que sabe se defender — digo. — Mas o
que lhe deu na cabeça de atender uma ligação em uma rua escura? Nem
parece que vem de Nova Iorque — repreendo.
— Nunca fui assaltado em Nova Iorque — ele diz.
— Eu já — respondo, e ele franze o cenho para mim. — Não vem
ao caso agora, o que vem ao caso, é que é bom que tenha sido uma ligação
importante, para você arriscar a sua vida.
— E a minha carreira e a minha honra — diz, irônico, e eu mostro o
dedo do meio a ele. — Era uma ligação da Nona, eu não iria atendê-la
dentro de um restaurante.
Quando ele fala da Lia, meu rosto se ilumina automaticamente.
— Como ela está no cruzeiro?
— Bem... — Hesita. — Muito bem, para falar a verdade, bem a
ponto de estar namorando, eu acho.
Me surpreendo com suas palavras e acabo me engasgando, assim
que lembro da conversa que tive com sua avó no café há quase um mês,
quando eu estava pronta para ir ao leilão com Hunter.
— Namorando, é?! — pergunto, retórica, sentindo a veio pulsante
acima do meu olho.
— Você sabe de alguma coisa?
Caelia havia dito que estava namorando, contudo, seu neto ainda
não sabia. Na época, eu não fazia ideia de que seu neto era, na realidade,
meu chefe, com quem, coincidentemente, eu estou transando, e que também
já me conhece o suficiente para saber quando eu estou me sentindo
desconfortável ou estressada por algo.
— Eu?! — pergunto de volta, com minha voz saindo fina, e o cenho
de Hunter se franze. — Claro que não — minto, soltando uma tossida
fingida.
— Georgia... — Ele me encara, desconfiado.
— Eu não sei de nada. — Coço a garganta. — Juro.
— Não sei porque, mas eu não acredito em você.
— Problema seu — digo, dando de ombros, quando na realidade sei
que o problema é totalmente meu, porque eu poderia lhe falar a verdade,
porém isso não cabe a mim, apenas à sua avó.
— Verdade, isso é problema seu, mas eu tenho um problema que
você será obrigada a resolver, antes de voltarmos para casa.
— E o que seria? — pergunto, confusa, uma vez que viajamos de
volta à Nova Iorque em cinco horas, e até onde eu sei, tudo já está pronto
para a viagem.
Hunter aproxima seu rosto do meu ouvido e mordisca o lóbulo da
minha orelha, causando arrepios em todos os meus pelos. Eu acabo
estremecendo contra seu toque e me derretendo, quando escuto sair da sua
boca:
— Rebolar no meu pau até a hora de irmos embora.
Mordo o lábio inferior, e tudo o que deve esquentar em mim, é
acesso no mesmo instante.
— Só se você me deixar gemer “Chefinho” no seu ouvido.
— Acordo fechado — ele declara, me puxando para o seu colo, tão
logo já estamos nos beijando e esquecendo do quase assalto de agora há
pouco.
— Eu ainda não acredito que minha avó está namorando — digo,
guardando os restos de comida na geladeira, enquanto Georgia coloca os
pratos na lava-louças.
— E ele é um cara legal — completa.
— É sim — concordo. — E estou feliz por minha avó ter
encontrado alguém, só não estou mais porque ela não me apresentou antes.
— O que importa é que ela te apresentou — Georgia defende
Caelia.
Passo os dedos por minha mandíbula, coçando a barba rala.
— Mas poderia ter sido antes.
Georgia dá de ombros, saindo da cozinha e indo em direção à sala,
eu a acompanho.
— A questão é que você tem que entender que ela preferiu
apresenta-lo em um momento em que ela soube que as coisas realmente
poderiam funcionar entre eles, e foi isso que ela fez.
— Tem razão — acabo cedendo, concordando com Georgia.
Eu poderia dizer que tudo está correndo bem na minha vida nesse
último mês, porém isso seria um eufemismo, uma vez que tudo está
ocorrendo maravilhosamente bem, espetacularmente bem.
Às vezes eu chego a pensar quão sortudo eu sou, e olha que eu
nunca fui o tipo de pessoa que acredita em sorte. Não é por nada, nem
querer me achar ou qualquer coisa do tipo, eu sempre fui bom no que eu
faço — que nesse caso é o basquete —, mas digamos que desde que
chegamos da Grécia, quase um mês atrás, tudo para mim melhorou, e às
vezes eu não sei se é realmente por sorte ou simplesmente pelo fato de que
desde que as coisas entre Georgia e eu finalmente tomaram um rumo, minha
vida melhorou.
Meu humor que era bom, está esplêndido, meu jogo em quadra
também, e minha vida sexual nunca foi tão boa.
Certo que antes, eu transava vez ou outra, só que agora, sempre que
temos um tempo, as coisas acontecem. Há noites em que ela chega até
mesmo a dormir no meu apartamento, inclusive hoje, seria uma dessas
noites em que eu presaria por sua companhia, entretanto enquanto
começamos a arrumar a sala, Georgia continua dizendo que não.
A família dela não é tão fã do Natal quanto do Dia de Ações de
Graças, então, hoje à noite eu a convidei para passar comigo, minha avó e
seu namorado, Adam.
E agora, estou insistindo para que ela durma aqui.
— Eu estou falando sério, Hunter, não posso dormir aqui hoje — ela
diz e pega algumas embalagens de presente, juntando-as para jogar no lixo.
— Por que não? — pergunto pela milésima vez, fazendo biquinho.
— Porque eu não quero te dizer. — Sua voz sai aguda, e ela dá de
ombros.
— Sinto que você está escondendo algo de mim, Georgia.
— Não estou — ela diz.
— Então por que você não dorme aqui? — insisto.
Georgia revira os olhos e vai até a tomada, desligando as luzes que
contornam o pinheiro de três metros repleto de bolas douradas, que
iluminava a sala do apartamento. Agora somos iluminados apenas pelas
luzes da cidade, que entram pelas janelas de vidro.
— A decoração ficou linda — enuncio ao admirar a árvore, que
Georgia praticamente montou e decorou sozinha. — Mas ainda não acredito
que você me deu uma Casa da Barbie de presente.
— Eu sei que ficou, fui eu que montei — ela diz, quando eu a
abraço por trás, passando os braços por sua cintura e apoiando o queixo em
sua cabeça. — E quanto à Casa da Barbie, eu pensei, o que poderia dar a
uma pessoa que já tem tudo? Então eu parei e pensei que a única coisa que
você não tem, é uma Dreamhouse da Barbie.
— O fato, é que eu não precisava de uma.
— O fato, é que você é fã da série, e eu sei que no fundo você amou
meu presente. — Eu não admito, contudo ela tem razão.
Apesar de em um primeiro momento, eu ter rido do presente e o
estranhado, eu realmente adorei a criatividade dela e não posso negar que
eu amo a série da boneca.
— E você ainda tem audácia de me dizer que eu me acho.
— Apenas digo o que é verdade — ela diz, também admirando o
seu trabalho, em frente à grande janela de vidro, que dá vista para o Central
Park.
— Já que você gosta de dizer a verdade, por que não me fala o
motivo de não querer dormir aqui? — volto ao assunto anterior.
Ela pega minhas mãos, desfazendo o enlace e separando nossos
corpos, em seguida se vira para mim, e vejo uma linha formada em seu
cenho. Ela não aparenta estar nervosa ou sequer estressada, uma vez que a
veia do supercílio não pulsa, entretanto demonstra uma incerteza em seu
rosto.
Ao longo de uma vida com centenas de jogos e milhares de
adversários em quadra, a gente não tem que aprender apenas a fazer uma
cesta ou um passe, a gente tem que aprender também a ler as pessoas, a
forma como seus corpos se movimentam e suas inúmeras faces, sejam elas
de confiança ou preocupação, e vendo o olhar que Georgia me lança nesse
momento, a certeza que eu tenho, é que ela está preocupada com algo.
Um gole seco desce em minha garganta quando ela pega a minha
mão e me leva até o sofá, eu me sento primeiro, e depois Georgia se senta
de frente para mim, meu coração vai parando aos pouquinhos à medida que
as palavras saem da sua boca.
— Não é nada demais, apenas estou me sentindo desconfortável em
passar tantas noites aqui.
Minhas sobrancelhas se unem quando eu não entendo o motivo de
ela sentir dessa forma.
— Eu fiz algo de errado? — inquiro, apreensivo.
— Não. — Ela me lança um pequeno sorriso. — É que, sei lá... —
Hesita, ao soltar um suspiro.
— Sei lá, o quê?!
Seus olhos encontram os meus, e os seus estão brilhantes,
encantados, talvez seja por isso que eu vou me acalmando aos poucos.
— Hunter, eu prezo muito pela conexão que nós criamos, mas eu
também prezo por esse trabalho e eu acho que eu dormindo aqui as coisas
estão começando a ficar confusas.
— Confusas como? — pergunto, tentando entender o seu ponto.
Ela solta uma lufada de ar e dá de ombros.
— Quando eu comecei a trabalhar com você, as coisas não iam
muito bem na minha vida, então podemos concluir que esse emprego fez
tudo melhorar, e mesmo que seja bom o que acontece entre nós dois, nós
temos que ver que ainda trabalhamos juntos, eu trabalho diretamente para
você, e eu dormindo aqui, no meu local de trabalho todas as noites irão
tornar as coisas confusos — explica.
— Eu não estou confundindo nada...
Uma vez que tenho certeza que quero estar com você – concluo em
pensamentos, mesmo querendo dizer em voz alta.
Georgia me olha compreensiva.
— Até porque somos parceiros no trabalho que faz o melhor sexo de
todos — complemento, e Georgia me olha com a sobrancelha levantada.
— É claro que o sexo é bom — um sorriso se abre na minha boca e
ela rir apontando o dedo para mim. — Mas não significa que é o melhor de
todos.
— É sim — revido.
Georgia dá de ombros.
— De qualquer forma, a gente tem que lembrar que eu continuo
sendo a sua assistente pessoal, e eu dormir aqui todas as noites, pode acabar
deixando as coisas confusas entre nós.
Assinto com a cabeça, mesmo não concordando com ela cem por
centro, uma vez que eu tenho certeza de tudo o que eu quero e o que eu
quero, é ela, porém não acredito que esse seja o momento certo para lhe
dizer isso, visto que ainda estou reunindo coragem para lhe contar a verdade
sobre a noite em que nos conhecemos e finalmente lhe devolver sua
pulseira, como minha avó vem insistindo desde que retornei de viagem.
— Você tem razão — as palavras saem da minha boca, mesmo que
contra a minha vontade.
— Eu sempre tenho razão.
— Mas você não tem vinho — rebato, dando de ombros e me
recostando no sofá. Georgia me lança uma careta. — Nem uma chibata dura
— digo, olhando para o teto e a escuto rosnar, mas não me atrevo a olhar
para ela. — E você também não tem um presente que eu iria lhe dar...
— Presente? — me interrompe.
Concordo em um aceno de cabeça.
— Você disse presente, Hunter? — indaga, se movimentando no
sofá.
Seus cachos são os primeiros a fazerem cócegas no meu rosto, em
seguida, encontro o rosto curioso de Georgia, tomando a visão do teto
branco.
— Afirmativo — respondo. — Eu tenho vinho, chibata e presente.
— Presente?! — ela pergunta outra vez, e eu não consigo não rir.
A pegando pela cintura, a sento no meu colo e respondo novamente.
— E uma chibata.
— Eu já entendi que você tem uma chibata — responde, como se
não fosse nada. — Mas você tem um presente mesmo? Tipo, outro
presente?
Mais cedo, eu havia a presenteado com um CD autografado por
todos os integrantes do Coldplay, o que me custou algumas ligações,
entretanto nada que eu não faça para ver um sorriso no rosto dessa mulher e
ela dizendo obrigada várias vezes, e pulando no meu colo, repetindo a cena
de quando eu publiquei uma foto do Happie.
— Uhum — respondo, passando os dedos entre seus fios.
— Eu quero o presente.
— Só o presente? — indago, ao passar a mão por seu pescoço.
— Só o presente.
— Nada de chibata?
— Talvez chibata.
Os cantos da minha boca se erguem.
— Mas só se eu gostar do presente — ela diz.
— E se você amar o presente, você passa a noite aqui?
Georgia revira os olhos enquanto morde o lábio inferior, parecendo
refletir.
— Isso vai depender do quanto de chibata você tem a oferecer —
devolve, com um olhar sugestivo.
— Umas três doses de vinte e dois centímetros.
— É muita coisa — diz, reflexiva. — Mas para isso eu tenho que
amar.
— Isso não seria um suborno, Estrelinha?
— E você me oferecer vinho, chibata e presente não é suborno,
Chefinho?
— Justo — concordo. — Já volto — digo, ao tirá-la do meu colo e
me levantar do sofá.
Caminho vagarosamente até a escada, no entanto sou obrigado a
correr, quando ela manda:
— Anda logo.
Manda quem pode, obedece quem tem juízo, é por isso que subo as
escadas correndo.
Ao chegar no andar de cima, vou direto para o meu quarto e em
seguida pego a chave da gaveta da escrivaninha, que fica dentro de um livro
falso em cima da mesa. Abrindo a gaveta, encontro a pulseira de estrelas e a
tornozeleira que comprei na Grécia, porém, não encontrei um momento
oportuno para dar a ela.
Pegando uma delas, volto a fechar a gaveta, contudo não tranco a
escrivaninha, devido ao fato de Georgia mandar eu me apressar, no andar de
baixo. Escondendo a peça atrás de mim, volto para a sala.
— Eu já te disse que odeio suspense? — Georgia indaga, quando
finalmente volto à sala.
— Não, mas eu gosto — revido, ficando de joelhos em sua frente.
— O que está fazendo, Hunter? — ela pergunta, atônita.
— Te presenteando — explico.
Eu poderia muito bem ter pegado a pulseira com pingentes de
estrelas também, porém optei por pegar apenas a tornozeleira por enquanto.
Abrindo o fecho e a colocando em seu tornozelo, começo a explicar:
— Comprei durante a nossa viagem à Grécia, logo no primeiro dia,
só que eu não sabia exatamente como te dar e nem o que significa, mas
quando a vi, foi automático ver você usando-a. Portanto, espero que goste
— finalizo, ao fechar a tornozeleira.
Georgia sobe a perna, e apenas a forma como seus olhos brilham em
admiração no instante em que encontram a joia, faz com que eu sorria
automaticamente, o que não é uma coisa difícil quando se trata dela,
entretanto nesse caso em específico, é a segunda coisa que eu dou a ela
como forma de presente, e essa ela pode realmente usar, e assisti-la
apreciando algo que eu a imaginei usando, me traz uma certa sensação de
paz.
Certo que eu cheguei a comprar aquela foto durante o leilão por ela
ter se encantado, e também o carro, apenas para voltarmos à Nova Iorque,
mas eu não considerei como presentes.
— É tão linda — ela diz, passando os dedos pela corrente e
encontrando os pingentes. — O olho grego para afastar energias negativas,
e a estrela pelo apelido — ela diz, como se fosse óbvio, olhando para mim.
— Mas o que significa o azul?
— O azul seria o mar e o céu da Grécia, mas ele também significa
confiança, algo que eu acredito que você precisa um pouco mais. E também
seria um complemento ao olho grego, porque você vive dizendo que é
azarada, então quem sabe assim você possa pensar nisso como um “amuleto
da sorte” — ressalvo, ao fazer aspas com as mãos.
Georgia faz um biquinho fofo, ainda passando os dedos pela
tornozeleira, e eu volto a sentar ao seu lado, trazendo-a novamente para
meu colo.
Ao passar as mãos por meu pescoço, ela diz:
— Antes eu tinha um amuleto da sorte — ela diz, pesarosa.
— E o que aconteceu com ele? — indago, curioso.
— Eu sinceramente não sei — ela diz dando de ombros. — Lembra
que eu te contei da noite em que levei um chifre e acabei dormindo
abraçada a um desconhecido, e eu até cheguei a pensar que era você, mas
você disse que não, então eu acredito em você. E eu acho que posso confiar
em você, afinal, você não mentiria por algo tão bobo assim não é mesmo?
— reflete.
Engulo em seco, assentindo.
Conseguindo pensar apenas que sua pulseira está lá dentro de uma
gaveta no meu quarto, nesse exato momento, e eu poderia lhe dizer a
verdade, mesmo assim, eu consigo me afundar ainda mais na minha mentira
quando acabo concordando com ela.
— Ainda assim, seria engraçado, porque naquela noite eu tive uma
sensação de proteção, e seria até mais engraçado se fosse você, que a
pulseira que perdi naquela noite tinha várias estrelinhas — ela rir. —
Irônico, não?!
— Uhum — murmuro atônito, sendo a culpa de saber a verdade me
invadir e eu continuar mentindo para ela. — Mas não, não era eu —
persisto na mentira.
Sei que é um risco mentir dessa forma para ela, mas acontece que o
medo de perdê-la e não saber qual seria sua reação ao saber a verdade,
ainda fala mais alto.
— É muita irônia mesmo, porque olha só... — continua a falar, e eu
escuto tudo o que ela diz, entretanto, a culpa continua me invadindo à
medida que as palavras são abandonadas por sua boca. — Nós moramos por
anos perto um do outro, estudamos na mesma escola, mesma faculdade e
nunca nos encontramos. Você me chama de Estrelinha, e eu perdi minha
pulseira com várias estrelinhas, eu cheguei a dormir abraçada com uma
pessoa que é muito parecida com você, mas não é você. Sei lá, a vida é só
engraçada, não acha?!
Pergunta, no entanto, eu não respondo nada.
E se eu voltasse ao meu quarto agora e pegasse sua pulseira, qual
seria a sua reação? Ou ela iria me amar ou ela iria me odiar, e eu não posso
pensar em Georgia me odiando, não agora, depois de tanta coisa que
aconteceu entre nós.
Se eu, ao menos tivesse dito a verdade desde o início, se no seu
primeiro dia de trabalho, eu tivesse explicado a situação e entregado a
pulseira à sua devida dona ou se quando ela me perguntou, na volta de
Chicago, eu tivesse dito que era eu, eu não estaria me sentindo tão culpado
quanto estou agora.
Porém, eu fiz merda em mentir para ela, quer dizer; não mentir,
ocultar.
A questão da minha mentira, é que por tantos anos parecia ser algo
tão impossível reencontrá-la, que quando aconteceu, tudo parecia uma
brincadeira, eu não vi aquilo como algo real e fui enrolando, e agora não sei
como seguir.
Sou retirado dos meus devaneios assim que escuto Georgia começar
a estalar os dedos, enquanto me chama.
— Sim — finalmente respondo, balançando a cabeça e voltando a
olhar para ela. — É tudo muito doido mesmo.
— Você passou esse tempo, processando isso tudo?
— É que é muita coisa.
— É mesmo — concorda, ao ficar de pé. — De toda forma, agora eu
preciso do meu vinho, e você precisa deixar a chibata dura de novo.
Dou um sorrisinho para ela, porém logo ele morre, quando ela se
vira e corre em direção à cozinha.
O único pensamento que passa na minha cabeça, é que eu necessito
contar a verdade a ela o quanto antes, mas também preciso que as coisas
entre nós não esfriem quando isso acontecer.
Solto um longo suspiro, jogando a cabeça para trás. Que grande
dilema, eu acabei me envolvendo.
— Seus convidados já estão lá embaixo — digo, quando Hunter
tenta me convencer a tomar banho com ele, ao invés de ir sozinho.
— Eles não se importam — ele diz, na porta do banheiro. — É Ano
Novo, todo mundo só pensa em beber, pouco se importam com minha
presença ou não lá embaixo.
— Se importam sim. — Eu jogo a toalha nele. — Anda logo,
Hunter, toma banho e se veste.
— Só queria passar meu Ano Novo do jeito que eu gosto — diz, em
uma voz melancólica.
— E que jeito seria esse? — pergunto, curiosa.
— Dentro de você. — Ele me solta uma piscadela, e eu mostro o
dedo do meio a ele.
— Tivesse pensado nisso, antes de convidar mais de duzentas
pessoas para uma festa de Ano Novo.
— Culpa do Ezra, que disse ao time que a festa era aqui.
Ele joga a culpa para o amigo, uma vez que depois do Natal, eles me
fizeram querer arrancar meus cabelos de tanto estresse por tentar organizar
uma festa para centenas de pessoas, em menos de uma semana. Juro que se
eu não enlouqueci nesses últimos dias, isso nunca mais irá acontecer.
— Não me faz lembrar disso, que ainda tenho vontade de capar
vocês dois por essa loucura — vocifero.
— Falando em capar nós dois, a Zoe vem?
— Vem — afirmo —, mas ela já disse que vai ficar longe dele.
— Quero ver ele ficar longe dela — Hunter argumenta.
— Vai tomar banho, Blakely — grito, porque se depender dele, ele
vai passar a noite inteira nu de frente para mim, ao invés de descer para sua
festa.
Hunter finalmente faz o que eu mando e entra no banheiro, enquanto
eu começo a me arrumar, indo primeiro para a maquiagem e deixando
apenas o batom para passar por último, aproveito o tempo do banho dele,
uma vez que fui a primeira a entrar no banheiro.
Eu poderia ter me arrumado em casa e ter vindo para cá com a Zoe e
o Luca? Sim!
No entanto, acabou que eu passei todas as noites da semana aqui,
não porque o Hunter pediu e insistiu, como no Natal, e sim, por uma
questão de lógica, devido à organização da festa.
Até porque Hunter teve três jogos essa semana, e apenas um foi em
casa, ou seja, ele passou quase a semana inteira fora, portanto, eu fiquei
aqui, e hoje não seria diferente.
A roupa que eu escolhi para usar na noite de hoje não precisa de
sutiã, apenas calcinha, claro. O vestido rosa se ajusta em meu corpo e vai
até o meio das minhas coxas, ele tem um leve decote entre os seios, e o
tecido brilhoso desce em um caimento entre os seios.
Me olhando no espelho, para ajustar as alças do vestido, escuto um
assobio atrás de mim, e então me viro para Hunter, que está com a boca
entreaberta.
— Que horas a gente pode voltar para o quarto para eu poder tirar
esse seu vestido, mesmo?
— Por quê?! — me faço de sonsa. — Não gostou dele?
— Gostei e muito, mas não vejo a hora de tirá-lo, de toda forma —
ele diz, abotoando a camisa azul clara.
— Então, respondendo a sua pergunta — digo, ao passar por ele
para pegar minha sandália. — Talvez você consiga tira-lo lá pelas duas ou
três da manhã.
Hunter pega o relógio em cima da escrivaninha do seu quarto e
antes de colocar em seu pulso, ele olha o horário e diz:
— Ou seja, faltam cerca de três ou quatro horas, acho que consigo
me controlar.
— Eu confio em você — digo, me sentando na cama e calçando a
sandália.
Sinto o cheiro do perfume de Hunter me invadir, e da mesma forma
que ele pensa em tirar minha roupa, eu penso em passar a língua por ele.
Ele se aproxima quando eu começo a calçar o outro pé e pega meu queixo
com o polegar, erguendo minha cabeça, para me dar um beijo.
— Já vou descendo, você demora?
— Não muito — respondo, e ele sorri, se despedindo.
Assim que Hunter vai embora, fechando a porta, termino de me
calçar e volto para a frente do espelho. Finalmente passo o batom, que na
realidade é um gloss, apenas para dar um brilho, e reforço os meus cachos,
passando um fixador e amassando-os, a fim de que eles fiquem intactos a
noite inteira.
Ouço meu celular tocar em cima da cama e corro para atendê-lo.
Solto um bufo quando vejo o nome da minha mãe aparecer na tela. Eu até a
convidei, assim como a April e o meu pai, contudo, eles já tinham uma
viagem de casal agendada, enquanto minha mãe disse que preferia ir ver a
queda da bola da Times Square.
— Gege, você está aí? — ela pergunta quando atendo.
— Sim, mãe — respondo.
— Preciso da sua ajuda.
— Aconteceu algo? — pergunto, já preocupada.
— Os números da loteria saíram, mas eu não lembro quais foram
meus jogos — ela diz, como se fosse a coisa mais importante do mundo. —
Preciso que você anote os números sorteados, antes que eu esqueça.
— Você tem um bloco de notas no celular para isso, mãe — digo,
atravessando o quarto de Hunter e indo até a escrivaninha.
— Eu não sei como usar isso — ela diz.
— Eu já te ensinei — digo, procurando uma caneta.
— Não, você tomou o celular da minha mão e fez sozinha, você não
me disse como, só disse “é assim”.
— Nós já fizemos isso milhares de vezes — rebato.
— Você vai anotar ou vai brigar comigo?
— Estou apenas procurando uma caneta, calma — digo, abrindo a
gaveta da escrivaninha.
— Por que você não usa o seu bloco de notas do celular? — ela
volta o jogo para mim.
Reviro os olhos, porque chega a ser engraçado como ela manda eu
usar uma coisa que ela diz que não sabe usar, e ela poderia ter feito.
Desistindo de encontrar a caneta, coloco a ligação no viva-voz e
abro o aplicativo do bloco de notas. Peço a ela os números sorteados, e ela
diz todos, no final da ligação, eu desejo Feliz Ano Novo a ela, porém ela
acaba desligando na minha cara, e eu respiro fundo, para procurar um
pouco de paciência, que sempre falta quando se trata das infantilidades de
Ayla.
Me viro e vou em direção à porta para descer para a festa, entretanto
lembro da gaveta que deixei aberta e volto até a escrivaninha.
No momento em que estou fechando a gaveta, vejo uma pequena
estrela prata brilhar lá dentro. A curiosidade toma conta de mim, e eu acabo
abrindo-a novamente, e quando faço isso, me deparo com uma pulseira com
vários pingentes de estrelas. Um sorriso toma conta dos meus lábios.
Eu pego a pulseira imediatamente, pois a primeira lembrança que eu
tenho é de ter dito, na noite de Natal, a Hunter sobre a minha, que parecia
tanto com essa, e claro que Hunter, sendo Hunter, iria me surpreender com
uma parecida.
No entanto, algo está estranho aqui, pois ela se parece muito com a
pulseira que eu ganhei quando tinha apenas nove anos de idade.
Minha boca seca assim que noto que ela não apenas se parece, como
também tem a mesma gravação nela, nas mesmas estrelas que a minha
tinha.
Quer dizer, tinha não, tem. Porque essa pulseira é a minha, eu a
reconheceria em qualquer lugar, ainda mais pelos detalhes únicos que
apenas ela possui, eu só não consigo entender como Hunter pode tê-la.
É então que tudo volta como um filme na minha cabeça, na
realidade, está mais para um sonho ou uma memória. Eu lembro de estar
com ela no momento em que me curvei sobre seus pés, vomitando, anos
atrás. Eu lembro dele segurando meus cabelos e até me arrepio, ao sentir
seus dedos entre meus fios, meu corpo se encolhe quando ele me pega em
seus braços e me leva até um quarto. Eu choro em seus braços, e ele faz
carinho no meu cabelo enquanto me abraça.
Ele tem o toque do Hunter, ele tem o cheiro do Hunter, ele tem a voz
do Hunter, ele tem o sorriso do Hunter, porque ele é o Hunter, ele sempre
foi o Hunter. E dessa vez, não é um sonho no caminho de volta de Chicago,
é uma memória vívida na minha cabeça, que apenas tinha se apagado, não
sei se por uma amnésia alcóolica ou porque eu apenas me negava a lembrar
daquela noite, mas o fato é que está ali.
Hunter está ali.
Ele sempre esteve ali.
E mesmo assim, quando eu perguntei, tendo a certeza de que era ele,
ele negou, e ao longo desses meses, eu não perguntei uma ou duas vezes, eu
sempre insisti no assunto, e ele desviava todas as vezes, dizendo que não
era.
Simplesmente, eu não posso conseguir acreditar que ele mentiu para
mim. A única coisa que eu preciso, é saber o porquê de ele ter feito isso, ao
mesmo tempo que não quero ver seu rosto. Chego até mesmo a cogitar jogar tudo
pelo ar, sair daqui e nunca mais voltar.
Paro um momento para respirar, tentando pensar por qual motivo
Hunter mentiria assim para mim, quer dizer, eu o perguntei várias vezes e
ele negou, eu afirmei e ele concordou, quando ele só poderia ter dito a
verdade. Eu confiei nele, confiei na palavra dele e todas as vezes que ele me
disse que não era ela, o que eu não consigo de fato é imaginar suas
motivações para omitir isso.
Porém, em um ato impulsivo, eu pego a pulseira e saio do quarto.
Desço as escadas e vou direto para o salão de festas, por sorte, a primeira
pessoa que vejo é Luca. Estendo a pulseira para ele.
— Você pode colocar no meu braço? — peço, com a raiva evidente
em minha voz.
— Ei, Jorgie, boa noite, bom te ver também. Feliz Ano Novo,
maninha — ele diz, irônico.
— Pode ou não pode? — peço outra vez.
— Tudo bem — ele concorda, pegando a pulseira da minha mão. —
Eu pensava que você havia perdido essa pulseira.
— E eu tinha.
Luca fecha a pulseira e me olha, atônito.
— E como você está com ela?
— Eu achei — respondo, com um sorriso falso no rosto. Um
garçom passa por nós, e eu pego uma taça, a virando rapidamente em minha
boca, sem ao mesmo esperar o garçom ir embora, eu devolvo a taça vazia e
pego outra.
— Você está bem, Jorgie? — Luca indaga, preocupado.
— Por que eu não estaria?! — pergunto, retórica.
— Você está arisca, e sua veia da sobrancelha está pulsando
rapidamente. — Ele aponta.
— Merda — digo, encostando o dedo na veia, nem mesmo a senti
pulsando.
— Às vezes, tenho medo dessa coisa romper, e você acabar tendo
um derrame — ele diz.
— Se eu não estivesse tão puta agora, talvez eu também me
preocuparia — digo.
— Quer conversar sobre? — meu irmão pergunta, e eu olho para
ele, ainda sentindo raiva, mas logo vai embora, quando vejo seu olhar
consternado para mim.
Nego com a cabeça.
— Apenas coisas do trabalho — digo, um pouco mais calma. — Por
que a gente não curte a festa no estilo que os Walton sabem curtir?! —
pergunto, pegando a mão de Luca, e ele assente.
— Vamos lá, maninha — ele responde, e me puxa para o meio da
pista da dança.
Olho ao redor e não encontro Hunter, agradecendo por isso, pois eu
não vou estragar a noite do meu irmão pela raiva iminente que estou
sentindo pelo meu chefe agora. Ele chamou inúmeras pessoas para a festa,
além dos colegas do time, há também alguns patrocinadores, algumas
celebridades e amigos de amigos.
Portanto, o salão de festas do apartamento de Hunter está lotado, e
eu acabo me escondendo entre as dezenas de pessoas que lotam a pista de
dança em frente à mesa do DJ. Luca e eu dançamos várias músicas juntos, e
em algum momento, Zoe se junta a nós, e acabamos abrindo espaço para
ela, quando ela começa a rebolar no ritmo de uma música latina.
Embora minha amiga seja patinadora artística, ela dança como
ninguém, contudo assim que o DJ muda a música para A Sky Full of Stars,
do Coldplay, ela e Luca cantam junto a mim.
O momento de descontração com as pessoas que eu amo acaba se
tornando essencial para que eu não diga qualquer besteira, quando sinto o
corpo de um homem de dois metros e um centímetro atrás de mim,
passando a mão por minha cintura. Caso contrário, se eu tivesse o
encontrado na hora da raiva, eu poderia tê-lo insultado.
— Estou te procurando há horas, precisei pedir para tocar Coldplay,
para te achar — ele diz no meu ouvido.
Eu respiro fundo, a fim de controlar minha boca, antes de responder.
— Quando desci, vi meu irmão e acabei vindo para a pista.
— Bom, essa foi uma boa ideia — Hunter diz, me virando para ele.
Ele tem um sorriso no rosto, que logo se desfaz quando ele encontra
o meu rosto, eu não estou mais tão enfurecida, porém eu não estou sorrindo
apenas o olho de forma séria o suficiente para que ele saiba que algo está
errado. A contagem regressiva para meia noite começa, e nós dois
continuamos nos encarando.
— Aconteceu alguma coisa? — ele pergunta, quando gritam cinco.
Me preparo para falar, contudo sou interrompida, assim que o corpo
de outro jogador de quase dois metros nos separa, nesse caso se trata de
Ezra, e quando o vejo tão feliz, não nego um sorriso a ele, que me abraça.
— Feliz Ano Novo, G — ele diz, me tirando do chão, e eu rio.
— Feliz Ano Novo, E — respondo, também o chamando pela inicial
do seu nome.
Ezra me põe no chão e olha para quem está logo atrás de mim.
— E aí, amiga da G. — Olho por cima do ombro e vejo Zoe acenar
com a mão para ele.
— Oi — ela diz, seca, e Luca ri da interação deles.
Minha atenção é retirada deles quando Hunter me chama
novamente, e eu volto a olhar para ele, eu sinto o sorriso que brotou em
meu rosto há poucos segundos, murchar no segundo em que encontro seus
olhos carregados de preocupação.
— O que aconteceu? — pergunta outra vez.
Somos interrompidos novamente quando, dessa vez, Chad se põe ao
nosso lado e abraça nós dois, me surpreendendo com sua próxima fala.
— Vocês formam um casal tão lindo.
Não consigo controlar minha careta logo que ele desfaz do abraço,
tanto pelo comentário, quanto pela forma como ele age.
— Você está doente? — pergunto, e ouço a risada rouca de Hunter.
— Devo estar, porque estou achando você gata nesse vestido. —
Chad me olha dos pés à cabeça.
— Um espetáculo, não é mesmo?! — Hunter responde, retórico.
Sou obrigada a fechar os olhos, para evitar olhar para ele.
— Demais — Chad concorda, pegando minha mão. — Inclusive,
adorei a pulseira — ele diz, passando as mãos entre as estrelas. — Sua cara.
— Sorri, simpático, e eu devolvo.
No entanto, agora arrisco olhar na direção de Hunter, que me encara
de olhos arregalados. O sorriso em minha boca não morre, mas meus olhos
desafiam meu chefe, que tem seu pomo-de-adão descendo e subindo no
instante em que ele engole em seco.
Hunter desvia seu olhar, de mim para o meu braço, inúmeras vezes,
ele não parece estar surpreso, muito menos assustado, ele parece estar com
medo. Coisa que eu nunca vi nele, uma vez que Hunter Blakely é o homem
mais confiante que eu já conheci em toda minha vida.
Entretanto, nesse momento, ele não passa de um homem que sabe
que mentiu e não faz a mínima ideia do que sua mentira pode ter feito. Ele
me conhece, mas ele não sabe como a mentira me afeta, nem mesmo eu
sabia.
Até a noite que fui traída.
Mesmo que mentira e traição sejam coisas completamente distintas,
o fato é que dois são erros, os dois enganam, e os dois nos faz perder a
confiança.
Olhando em seus olhos eu não o vejo mais como o Hunter que
segurou a minha mão e me trouxe segurança quando eu entrei em um avião
pela primeira vez, morrendo de medo. Apenas o vejo como alguém que
mentiu para mim desde o princípio.
— Não aconteceu nada demais — finalmente respondo. — Apenas
achei meu amuleto da sorte — digo, em um sorriso falso.
— A gente pode conversar? — peço, vendo a raiva estampada nos
olhos dela.
— Estamos no meio de uma festa, Hunter, e você precisa dar
atenção aos seus convidados. — A voz de Georgia é carregada de
monotonia, como se ela tivesse ensaiado as palavras ou não carregasse
qualquer sentimento nelas.
— Georgia — peço.
— Agora não, Hunter — dessa vez ela me corta, pegando uma taça
da bandeja do garçom que passa entre nós. Ela toma um gole e em seguida,
a ergue com a mão onde a sua pulseira está exposta em seu pulso. — Feliz
Ano Novo, chefe.
Tentando agir normalmente, me aproximo dela para abraçá-la e
beijá-la, contudo quando eu faço isso, ela se esquiva, se afastando de mim.
— Por que você não dá atenção aos seus convidados, e depois a
gente se vê?! — sugere.
Nego com a cabeça.
— Acho melhor a gente subir pro meu quarto e conversar — digo,
mas agora quem nega é ela.
— Eu queria realmente curtir a festa. — Georgia dá de ombros. — E
você sabe o que diz o ditado? Quando um não quer, dois não fazem. — Ela
estreita os olhos, me encarando, e sua boca se fecha em uma linha torta.
Assinto, entendendo o que ela quer dizer, mesmo não querendo.
A verdade, é que desde o Natal, eu já venho pensando em como
contar a ela, eu só não esperava que ela fosse descobrir sozinha. Óbvio que
isso poderia ter acontecido a qualquer momento, ainda assim, eu não estava
muito confiante nessa ideia. Por isso, estava bolando uma estratégia, para
que mesmo ela ficando com raiva, ela ainda me entendesse.
Para isso, eu iria precisar de um discurso também, porém é difícil
ensaiar algo do tipo quando se tem uma semana tão corrida como a minha
foi, passei mais tempo fora do que em casa, e ainda teve os treinos quando
estive aqui, e claro, ela passou todos esses dias ocupada, trabalhando para
que a noite de hoje acontecesse.
E era para ser uma noite perfeita, eu estava confiante de que seria
uma noite perfeita, só não esperava que no momento em que o ano virasse,
eu iria encontrar decepção nos olhos de Georgia, ao invés de paixão.
Sei que o único culpado disso tudo sou eu e estou pronto para
assumir o meu erro, desde que ela esteja disposta a me entender, quando
nem eu mesmo consigo.
Continuo próximo a Georgia, observando seus movimentos, que
dança juntamente ao seu irmão e sua melhor amiga, acompanhada agora
também de Chad e o marido, além de Ezra, claro. Todos eles bebem e ficam
alterados, menos Georgia, que parou desde que eu pedi ao garçom para
parar de servir vinho e champanhe na pista de dança, e colocar mais comida
no serviço.
Não que eu esteja querendo controlar o que Georgia faz, ou bebe,
mas se vamos conversar sobre o que acabou de acontecer, em algum
momento nessa noite, prefiro que nós dois estejamos sóbrios o suficiente
para isso.
Há alguns momentos em que eu me aproximo, e ela me fulmina com
os olhos, entretanto eu não deixo de ficar perto dela. Aos poucos, os
convidados começam a ir embora, e apenas quando já passou das quatro da
manhã, Luca e Zoe se vão, com Ezra oferecendo carona a eles.
— Você tem certeza de que não quer ir com a gente? — Zoe
pergunta a Georgia, só que seus olhos estão em mim.
É obvio que em algum momento dessa noite, elas conversaram
sobre o que rolou, e é compreensível sua amiga estar com raiva de mim, por
isso eu abaixo a cabeça, para não ter que encará-la.
— Tenho sim — Georgia responde, o que me alivia apenas por um
segundo, pois no próximo, sinto o gosto da bile subir. — Em breve estarei
em casa, de toda forma.
Zoe concorda, enquanto eu me despeço de Ezra, que diz:
— Depois quero saber o que aconteceu com vocês dois. — Apenas
aceno com a cabeça, concordando.
Após todos eles irem embora, ficam mais alguns convidados, mas a
equipe responsável pela recepção pode muito bem direciona-los à saída.
Portanto, me sinto livre para me aproximar da Georgia, porém ela fala antes
de mim.
— Por que você não sobe? — sugere. — Preciso conversar com o
pessoal da limpeza antes.
— Tudo bem — concordo, mesmo que a contragosto.
Na realidade, eu tenho medo de Georgia ir embora, sem ao menos
deixar eu me explicar. Acabo desconfiando dela, pois em nenhuma parte da
noite, ela me disse que queria conversar, o que acaba gerando várias
possibilidades na minha cabeça.
Mesmo assim, eu saio do salão de festa e sigo para o meu quarto,
começo a andar de um lado para o outro, estralando os dedos. À medida que
o tempo vai passando, eu tento formular um discurso na minha cabeça, no
entanto nada parece bom o suficiente, e a cada minuto que passa, vou
ficando mais ansioso.
Quando vejo no relógio que já passa das cinco da manhã, opto por
tomar um banho e trocar de roupa, cerca de vinte minutos depois, assim que
retorno para o quarto, vejo que Georgia não veio. Porém, decido esperar
mais um pouco, antes de descer e procurar por ela.
É apenas quando vejo o sol nascer, que opto por descer. Chegando
na sala, encontro Georgia em pé, próxima à árvore de Natal que ela mesma
montou, com os braços cruzados sobre o peito, ela assiste a neve cair
através do vidro.
Pegando um cobertor em cima do sofá, me aproximo dela e passo o
pano grosso por cima dos seus ombros, que estão despidos. Logo em
seguida, fico ao lado dela, escondendo minhas mãos nos bolsos do moletom
que uso.
— Desde quando você a tem?
Não preciso perguntar, pois sei exatamente ao que ela se refere.
— Desde a manhã seguinte, quando você foi embora sem se
despedir. Passei os próximos dois meses depois daquela noite, te
procurando pelo campus, mas não te encontrei. Então eu só vim te ver outra
vez quando você apareceu na porta do escritório do Chad para a entrevista.
— Quer dizer então que você é o desconhecido com quem eu dormi
abraçada por uma noite inteira, e mesmo assim, quando me viu, não me
disse quem você era.
— Eu não sabia como te dizer, Georgia.
Meu rosto se vira, olhando para ela na mesma hora em que ela
também me encara. Seus olhos carregados de descrença.
— Você teve inúmeras oportunidades para isso, como quando você
foi até o café para eu assinar o contrato ou no meu primeiro dia aqui. Porra,
Hunter — fala, decepcionada. — Até mesmo quando eu tive um sonho e
disse que eu tinha certeza de que era você, você poderia ter dito a verdade,
mas você preferiu me olhar nos olhos e mentir.
— Eu não quis mentir para você — digo, ao passar as mãos no
cabelo.
— Não?!
— Não, Georgia, eu realmente não quis. Desde o primeiro momento
em que te reencontrei, eu pensei em lhe falar a verdade, só que tudo parecia
tão irreal. porque eu passei exatos quatro anos pensando em você. Não
houve uma vez em que eu vi essa pulseira, que não lembrei da primeira vez
em que te chamei de Estrelinha ou de você chorando enquanto eu te
acalentava ou você dormindo nos meus braços. Além do tamanho da
decepção que tive no dia seguinte, quando eu encontrei apenas uma pulseira
ao meu lado.
Georgia se afasta, retirando o cobertor e colocando-o sobre o sofá.
— Eu entendo tudo isso — Georgia responde. — Eu só não entendo
o porquê de você ter mentido, isso ainda não está claro o suficiente para
mim.
Abaixo a cabeça, soltando um leve suspiro e retiro as mãos dos
bolsos, antes de ir até ela.
— Sendo sincero, eu não sei o que me motivou a mentir. Por várias
vezes, eu quis te devolver a pulseira, eu juro que quis.
Ela solta um riso forçado, revirando os olhos.
— Você acha que o grande problema é você ter me escondido a
pulseira? — pergunta ao franzir o cenho, eu não respondo, apenas deixo que
ela continue. Ela precisa disso. — Nunca foi isso, certo que eu a
considerava meu amuleto da sorte, mas o grande problema foi a forma
como você mentiu. Você me escutou falar sobre aquela noite, você viu a
decepção em meu rosto quando eu te perguntei se se tratava de você, porque
na minha cabeça, após aquele sonho, que na realidade era uma lembrança,
era você. E mesmo assim você mentiu.
— Não é como se você nunca tivesse mentido para mim também,
Georgia — respondo a sua acusação, e seus olhos se estreitam na minha
direção. — O carro que você arranhou, você também poderia ter me dito
que tinha sido você desde o primeiro momento.
— Sério isso, Hunter?! — ela pergunta, retórica, parecendo
perplexa. — A minha mentira foi para proteger o meu emprego, porque eu
pensava que no momento em que você soubesse, eu poderia ser demitida.
— Eu também tive medo — confesso.
Me aproximo dela, invadindo seu espaço pessoal e colocando as
mãos em seu rosto.
— Eu te perguntei e insisti no assunto várias vezes, e você mentiu
para mim. — Sua voz sai melancólica.
— Tive medo de você não acreditar em mim e ir embora.
Georgia fecha os olhos, e eu presto atenção em todo o seu rosto
durante esse tempo, ela parece serena. Não parece estar com você, contudo,
isso é o máximo que eu consigo ler dela nesse instante.
Eu assumo o meu erro, eu sei que o que fiz foi errado e sei que estou
a magoando, a culpa é totalmente minha, eu a aticei na mesma proporção
que a enganei.
— O que você faria se esse seu medo se tornasse realidade? —
inquere, ao abrir os olhos e me encarar.
— Eu te pediria desculpas — arrisco.
— E se as desculpas não adiantassem?
— Eu faria de tudo para não te perder. Porque eu demorei quatro
anos para te encontrar, não serão quatro minutos que irão me afastar de
você.
Ela foi algo tão inalcançável para mim durante anos, tanto é que
antes de nos esbarramos naquela entrevista de emprego seu rosto já estava
se apagando da minha memória, e agora, a tendo em minha vida, minha
memória, e de certo, o centro das minhas melhores lembranças, eu não
estou pronto para perde-la.
Georgia coloca as mãos sobre as minhas e de forma delicada, as tira
do seu rosto, porém continua as segurando quando as desce. Seus lábios se
curvam em um sorriso pequeno, mas triste.
— O que está me afastando de você nesse momento, é a falta de
confiança e a mágoa pela sua mentira.
— Eu nunca quis te magoar...
Georgia me solta e ao se afastar, ela se abaixa, pegando o celular,
juntamente com sua bolsa, que está em cima do sofá.
— Para onde você vai? — pergunto, atônito.
— Apenas preciso de um tempo para pensar, sozinha — ela diz, se
afastando e indo em direção ao elevador.
Eu a acompanho, seguindo seus passos, igual um cachorro persegue
seu dono pela casa.
— Podemos nos encontrar mais tarde? — sugiro.
— Eu não preciso só de uma manhã ou uma tarde para pensar,
Hunter — diz, quando aperta o botão do elevador, e as portas se abrem.
— E quanto tempo seria exatamente? — pergunto à medida que ela
se afasta ainda mais, entrando na caixa de metal.
Georgia dá de ombros, quando se vira para mim.
— As coisas não deveriam ter sido dessa forma, eu sei disso, e agora
você também. E depois de tudo isso eu preciso colocar meus pensamentos e
minha vida em ordem, considere isso a minha quadra de basquete após um
jogo onde eu possivelmente errei em algum lance.
— Eu sinto muito — digo, e as portas começam a se fechar.
— Eu sei que sente. — É a última coisa que escuto assim que as
portas se fecham, e ela se vai.
E assim ela se vai e eu fico, irei respeitar seu tempo, mas jamais irei
abandoná-la.
Quando estou destrancando a porta do café, o entregador da
floricultura já está do lado de fora, mais cedo do que o normal, carregando o
buquê diário. Vou até ele.
— Que surpresa ver você aqui — cumprimento-o.
— Quem fica surpreso sou eu, em ter que vir deixar mais um buquê
para a senhorita — ele diz, me entregando a prancheta para assinar meu
nome e em seguida, as rosas. — Esse é o que?! O trigésimo buquê? —
arrisca.
— Trigésimo sexto, na realidade — corrijo. — Nos três primeiros
dias, você me trazia três, um para cada horário do dia.
— Verdade! — relembra. — Os bilhetes perguntavam se você já
tinha comido... lembro bem.
— Pois é. De toda forma, muito obrigada — agradeço, em um
sorriso simpático.
— Te vejo amanhã, senhorita Walton.
— Até amanhã, Nelson — me despeço e volto para o café, girando a
placa que diz que já estamos abertos.
Subo até o apartamento do meu pai, pela escada que fica no meio
café. Chegando lá, vou direto para o meu quarto e troco a água de um dos
jarros, jogando as flores mais antigas, que murcharam, fora e as
substituindo pelas novas. Em seguida, pego o tablet do trabalho e atualizo a
agenda de Hunter.
Já faz um mês que eu descobri sobre a pulseira e todo o restante
envolvido, e desde que eu fui embora do seu apartamento naquela manhã
onde ele confessou a sua mentira e eu disse que precisava de um tempo, eu
não tive coragem de encontrá-lo outra vez.
Ao contrário do que eu pensei quando ele me perguntou de quanto
tempo eu precisava, ele me deu espaço, embora tenha enviado flores todos
os dias, o que eu, de fato, acho um gesto atencioso da sua parte. Ainda
assim, não me sinto confortável o suficiente para dizer que o perdoei.
Por mais que eu sinta sua falta diariamente, assim que eu lembro
que ele poderia ter me dito a verdade desde o começo, a decepção cresce
em mim instantaneamente.
Continuo trabalhando para ele, entretanto não diretamente com ele.
Tenho feito meu trabalho em casa nos dias em que ele está em Nova Iorque,
e quando ele viaja para algum jogo, eu passo no seu apartamento para
deixar suas compras, arrumar suas coisas e acompanhar a limpeza, além de
deixar alguns documentos e cheques que precisam da assinatura dele.
Porém, após uma semana do Ano Novo, eu entrei em contato com
Chad e solicitei meu aviso, ele não entendeu de início, contudo na semana
passada, me ligou e disse que hoje seria meu último dia trabalhando para
Hunter.
Tiro minha atenção do tablet quando ouço duas batidas na porta e
logo vejo que se trata do meu pai, peço para ele entrar.
— Como você está? — é a primeira coisa que ele pergunta, quando
se senta ao meu lado na cama.
— Bem — respondo.
— Bem mal, não é mesmo?! — ele brinca, e eu reviro os olhos.
— Não, pai. Na medida do possível, eu estou bem.
— Hoje é seu último dia, é normal não estar bem — ele tenta me
contradizer.
— Você quer mesmo que eu fique toda desprezível pelo fim de um
emprego? — indago, ao subir as sobrancelhas.
— Não. — Ele faz um movimento com a cabeça. — Apenas queria
que você repensasse a sua saída.
— O quê? Por quê? O café está indo mal? — pergunto, preocupada.
Meu pai ri.
— Não, Georgia, o café vai muito bem, e ele vai muito bem desde
que o Hunter postou aquela foto. — Quando eu ameaço revirar os olhos, ele
me repreende com o olhar, e eu paro. — Apenas estou sugerindo que você
repense se vale mesmo a pena sair de um emprego que você gosta e lhe
possibilita tantas coisas, porque ele mentiu para você.
Assim que o primeiro buquê entregue por Nelson chegou, eu acabei
dizendo o que tinha acontecido à minha família, todos eles ficaram do meu
lado instantaneamente, mas todos, assim como eu, pensavam que em
poucos dias eu iria acabar cedendo, contudo, todas as vezes em que lembro
da nossa conversa, ainda sinto mágoa pelos acontecidos.
— Você não acha que está sendo impulsiva ao sair do trabalho? —
continua meu pai.
— Eu tive uma semana para pedir meu aviso prévio e mais três para
desistir dele, impulsiva eu seria, se voltasse atrás nessa altura do
campeonato — digo.
Meu pai olha para seu colo, parecendo pensativo, o que me indica
que ele não veio até aqui apenas falar que eu deveria repensar a minha
decisão sobre a demissão, e sim, outra coisa.
Tiro minhas dúvidas quando ele volta a olhar para mim e diz:
— Você gosta dele. — Isso não é uma pergunta, é uma afirmação,
portanto eu apenas assinto, concordando com meu pai.
— Às vezes, eu penso que se não tivesse me envolvido com ele
física e emocionalmente, talvez a mentira que ele me contou tivesse tomado
proporções menores — assumo. — O meu maior erro nisso tudo, foi ter
envolvido sentimentos com trabalho.
— É por isso que você está tão decepcionada e quem sabe, até
machucada com a mentira do Hunter, e eu concordo com você que ele
deveria ter dito a verdade desde o princípio, mas eu também olho pelo lado
de que ele passou tanto tempo sabendo da sua existência, sem lhe encontrar
uma outra vez, que quando isso aconteceu, ele não soube reagir. — Meu pai
pega a minha mão e junto a dele, leva até meu coração. — Eu sempre te
digo que é melhor fracassar sabendo que você fez, do que viver
perguntando e se tivesse feito. Ambos fizeram, ambos fracassaram e ambos
têm que conversar, e com esse tanto de flores no seu quarto, falta apenas
você ceder.
— Você fala como se fosse fácil, pai.
Meu pai dá de ombros e se levanta, ele não me responde, apenas me
deixa sozinha no quarto e vai embora, enquanto eu começo a pensar em
tudo o que ele acaba de dizer.
Ele tem razão, falta apenas eu ceder, ainda assim, não é fácil
simplesmente perdoá-lo, a verdade é que eu também tenho agido de forma
infantil ao me negar um encontro cara a cara com Hunter, mas a mágoa
ainda tem sido persistente, e pesado bem mais. Contudo, se esse encontro
tiver que acontecer, com certeza não será mais comigo sendo assistente
pessoal dele.

Quando as portas do elevador se abrem, a primeira pessoa que vejo


na minha frente é Cindy, ela ainda não mudou nada desde a primeira vez em
que a vi, no dia da minha entrevista de emprego.
Continua com a mesma cara de enjoada, e os cabelos loiros
platinados perfeitamente alinhados, ao passo que os meus estão bem piores
do que no dia em que nos conhecemos, visto que hoje o dia amanheceu frio,
e ele decidiu se encher de frizz, e nem passando todo o produto e água
necessários, o volume ou os fios abaixaram.
— O senhor Morgan já está a sua espera — ela informa, assim que
eu piso na recepção.
Agradeço e sigo até a sala de Chad. Dou duas batidinhas na porta
antes de entrar, e quando o faço, o empresário de Hunter aponta para a
cadeira em frente à sua mesa e continua falando, ou melhor, brigando com
alguém na ligação.
— Eu não posso fazer nada quanto a isso, eu já disse. — Ele faz
uma pausa. E eu começo a retirar algumas coisas da bolsa, como
computador, tablet, celular, a chave de acesso ao apartamento e também as
chaves da Mercedes que Hunter havia me dado. — Não coloque essa culpa
sobre mim, você sabe que eu tentei fazer as coisas continuarem do jeito que
estavam até o último segundo, e acabou que nós ainda ultrapassamos a
margem do pedido. — Outra pausa prolongada, e Chad começa a afrouxar o
nó da sua gravata, vendo que ele parece genuinamente estressado, pego o
copo com água em sua mesa e o ofereço, ele aceita e toma dois longos
goles. — Bom, Hunter, eu não posso fazer mais nada sobre isso, porque a
Georgia acaba de chegar aqui. — Ele desliga a ligação, sem sequer esperar
uma resposta do outro lado da linha.
Meu cenho se franze automaticamente, quando eu percebo que era
de mim que ele estava falando o tempo todo. E é verdade, Chad tentou me
convencer a continuar no trabalho durante todo esse mês, contudo, eu fui
irredutível quanto aos seus pedidos.
Ele pega um maço de papel e coloca na minha frente, juntamente
com uma caneta, porém antes de me entregar, pergunta:
— Você tem certeza de que essa é a decisão certa a se fazer no
momento, Georgia? — Ele parece genuinamente decepcionado, entretanto a
sua voz demonstra total confiança e firmeza.
— Sim — respondo, e ele me entrega os papéis, continuando com a
caneta em mãos.
— Se você quiser continuar, você sabe que podemos multiplicar seu
salário por dez.
— Da última vez que você fez essa oferta, você estava ofertando a
multiplicação por cinco — respondo, afiada, tentando pegar a caneta de sua
mão.
— Bom, quem está fazendo essa oferta a você, claramente não sou
eu.
— Bom, ele sabe que não é o dinheiro que eu quero, e sim, a
honestidade — digo, finalmente tomando a caneta de sua mão.
Passo o olho rapidamente sobre a rescisão e assino a primeira e a
última folha, nas demais deixo apenas uma rubrica.
Quando entrego os papéis a Chad, juntamente com os pertences que
trouxe, eu fico de pé, me preparando para agradecer e ir embora, porém ele
coça a garganta, e seu movimento sutil me faz parar.
— Eu não gostava de você no início — confessa ele, e eu não
consigo negar o sorriso que brota no meu rosto.
— Nossos sentimentos um pelo outro nunca foram tão recíprocos.
— Você era um desastre ambulante, Georgia. — Ele faz uma careta,
provavelmente lembrando da forma como nos conhecemos. — Mas eu sou
o tipo de pessoa que prezo por um bom trabalho, e jamais posso negar que
você fez um ótimo trabalho com o Hunter, então digamos que eu fui
gostando de você, na medida do possível — ele tenta suavizar, e acaba
tendo o efeito esperado.
— Se quer mesmo me consolar, por que não me escreve uma carta
de recomendação? — sugiro.
Sou pega de surpresa quando Chad pega um envelope em cima da
sua mesa e me entrega.
— Sou prático, querida. — Ele me solta uma piscadela, e eu
devolvo na mesma medida.
Agradeço novamente a Chad e me despeço dele, sem muita
melancolia ou abraços, da mesma forma acontece com Cindy, quando passo
por ela outra vez na recepção, que apenas estreita um olhar afiado em minha
direção. Assim que a porta do elevador começa a se fechar, eu dou um
tchauzinho para ela, balançando os dedos e não deixo de rir tão logo a vejo
franzir o nariz.
No instante em que estou saindo do prédio, acabo esbarrando em
vários homens que seguram câmeras em suas mãos e começam a me fazer
perguntas sem sentido ao mesmo tempo que apontam as máquinas em
minha direção, e eu me faço de desentendida, entrando no táxi que para ao
lado da calçada.
Respiro aliviada ao entrar no carro, pois por mais que eu tivesse me
preparando há semanas por esse momento, eu não pensei que fosse assim.
Mesmo tendo certeza de todas as minhas decisões, até mesmo as
impulsivas, ao longo da vida, em algum momento imaginei que iria abaixar
minha cabeça e relevar tudo o que aconteceu e que as coisas iriam voltar ao
normal.
Acontece que não foi assim, porque eu fui mais forte. Eu confiei em
Hunter, e ele traiu essa minha confiança, e isso sim ainda me magoa, e
agora, sabendo que sou alvo de vários tabloides e perfis de fofocas que
estão sedentos para saber o que aconteceu afinal, faz com que eu enxergue
de certa forma que apesar de eu ter confiado nele, a culpada nessa história
também fui quando acabei me apaixonando por alguém que mudaria todo o
contexto da minha vida.
E agora é tarde demais para voltar atrás, e o máximo que posso fazer
é desviar e ignorar toda essa situação, apenas espero que ela seja passageira.
Já faz uma semana desde que Georgia assinou a demissão. Naquele
dia, eu queria ter comparecido ao escritório do Chad para tentar impedi-la
de fazer isso, mas fui impedido, uma vez que estava em viagem por conta
de um jogo. Até mesmo liguei para o meu empresário, implorando para que
ele fizesse algo, ainda assim, segundo ele, minha Estrelinha foi irredutível.
Estou assistindo, acho que pela milésima vez, o vídeo dela saindo do
prédio de Chad e entrando em um táxi enquanto é perseguida por
paparazzis que fazem perguntas, e ela se faz de desentendida quando
responde a todas elas.
— Georgia — um deles a chama.
Ela olha para ele com os olhos arregalados e depois desvia o olhar,
fazendo uma careta e dizendo:
— Não sei quem é essa.
— É verdade que você e Hunter terminaram? — outra pergunta.
— Quem?! — responde.
— Vocês não são vistos juntos há um tempo, como está o clima
entre vocês?
— Bom, quando eu estava saindo de casa, a moça do tempo
informou que hoje iria fazer sol, mas que mesmo assim iria cair um pouco
de neve no final da noite — ela responde, assim que alcança o táxi.
— Você consegue nos dar alguma resposta concreta, senhorita
Walton? — um deles pergunta, percebendo que ela não irá ceder tão fácil
assim.
Georgia dá de ombros e lança um sorrisinho irônico para as
câmeras, que descem à medida que ela fecha a porta do passageiro do táxi e
vai embora.
Eu sinto falta dela desde o dia em que ela foi embora, dizendo que
precisava de um tempo, e não minto que foi difícil conseguir respeitar a sua
decisão, porém eu consegui, mesmo tentando me fazer presente enviando
algumas flores, quer dizer, várias flores.
Todos os dias um buquê diferente, e eu sei que ela recebe todos e
trata o entregador com respeito e educação, nunca fingiu que não entendia a
entrega dos buquês, ao contrário do que aconteceu com os paparazzis. Às
vezes, eu até tento me encontrar com ela no café, aproveitando que “fica
perto” da arena onde o time joga, só que ela nunca está do lado de fora,
porque apenas assim para encontra-la, visto que no dia em que entrei no
Happie, o pai dela colocou a mão sobre meu ombro e me acompanhou até o
lado de fora.
— Ela nos disse o que aconteceu, Hunter, sei que talvez você esteja
sentindo falta dela, mas ela precisa decidir o que é melhor para ela,
sozinha — ele me disse, naquele dia. — Como pai, eu nunca a vi tão bem
consigo mesma quanto nesses últimos meses em que ela passou ao seu lado,
mas ela precisa enxergar por ela mesma, então se eu posso te dar um
conselho, espere, porque uma hora ela vai entender tudo.
A única pessoa que sabe que eu tive essa conversa com Jared, é
Ezra, que joga a bola em mim assim que eu tiro os olhos do celular,
abandonando-o na cadeira ao lado, ele tem um sorriso torto no rosto
enquanto caminha na minha direção e faz movimentos repetitivos de
negação com a cabeça.
— Você é o homem mais frouxo que eu conheço — ele diz, se
pondo ao meu lado, e eu respondo com uma careta. — Não vem com essa
cara de puto para mim, Blakely, já faz exatamente um mês, uma semana e
três malditos dias que ela pediu um tempo, e desde então você anda
cabisbaixo por ai, e todo irritadinho. Não faz um treino que preste, não joga
direito quando está em quadra, e desse jeito, eu sinto te informar, mas quem
vai acabar levando o MVP do ano sou eu, e olha que eu estava torcendo por
você.
— Eu apenas estou dando o tempo que ela pediu — digo.
Ezra me mostra o dedo do meio, revoltado.
— Tempo — murmura, em ironia. — Você deveria ter ido atrás dela
no momento em que ela pediu demissão. — Ele sempre me diz isso. — Não
sei do que adianta você ficar esperando esse tempo todo e viver no celular,
olhando um vídeo ou outro dela ou fotos que vocês tiraram naquela viagem
para Itália.
— Grécia — corrijo.
— Itália, Grécia, França, tudo a mesma coisa.
Eu rio, abaixando a cabeça e olhando para as minhas mãos, que
seguram a bola que ele havia arremessado antes.
— Você não entende, cara — sussurro. — Eu menti para ela e eu
sempre soube as consequências dessa mentira, eu não vou negar para você
que tudo que eu queria era estar com ela agora, mas a realidade é que eu
não sei se ela quer estar comigo também.
— É óbvio que quer — ele responde. — Você já viu vocês dois
juntos? Porra, eu não acredito nessa merda de destino, nem mesmo no
amor verdadeiro eu consigo acreditar, mas cara, deixa eu te dizer uma coisa,
se existe no mundo duas pessoas que foram destinadas uma para a outra,
essas são vocês. Você não está cansado de esperar esse tempo passar?
— Claro que estou — digo, soltando a bola e voltando a encarar
meu amigo. — Mas da mesma forma que quando imaginei dizer a verdade
a ela, ela não teria uma reação boa, e isso acabou se concretizando, eu
também tenho medo de ir atrás dela e levar um grande não.
Ezra pende a cabeça para trás e quando volta, vejo que tem um
sorriso brincalhão em seu rosto.
— Como eu disse, você é um frouxo.
— Talvez seja. — Dou de ombros. — Mas pelo menos, fui
convocado para o All-Stars[4].
— Acho que você se esqueceu que eu também fui, frouxo do
caralho — ele diz, se levantando e pegando a bola, começando a quicar a
mesma.
— Você vai ficar mesmo me chamando assim? — pergunto, ao me
levantar e ir atrás dele, para roubar a bola.
— Ninguém manda não assumir que ama a sua Estrelinha — ele
debocha, desviando de mim e correndo em direção à cesta.
Consigo alcançar Ezra quando ele arremessa a bola, contudo ela
pende sobre o aro e volta, portanto eu a pego no mesmo instante em que
chego no garrafão e faço o arremesso. Ao mesmo tempo que bola entra na
cesta, eu finalmente me dou conta e consigo assumir que:
— Eu a amo. — Pego a bola de volta e começo a quicar, desviando
do meu amigo e companheiro de time. — Eu amo a Georgia, porque ela é
capaz de transformar os minutos em horas, porque ela me conhece e ela me
faz rir apenas por ser ela, e mesmo morrendo de medo de ela um dia dizer
que realmente não me quer, eu ainda assim vou amá-la e vou continuar
esperando por ela, porque ela me tem, e sei que um dia ela irá enxergar que
eu também a tenho. É por isso que eu vou esperar por ela o tempo que for
necessário.
— Então me faz um favor. — Ezra consegue tomar a bola de mim e
volta a correr para o outro lado da quadra. — Quando acabar a semana All
Stars, coloca aquela mulher contra a parede e diz que ela não tem outra
alternativa, que não seja ser feliz com você, porque eu não aguento mais
esse lenga-lenga — finaliza, fazendo a cesta.
— Vou tentar — digo.
Ele nega com a cabeça novamente, e eu rio. Eu queria que realmente
fosse tão fácil assim, como meu amigo pensa que é, porém eu ainda tenho
uma fé inabalável, que em breve as coisas entre nós irão se revolver.
Enquanto isso, eu vou continuar mandando minhas flores, com
recados perguntando como foi o dia dela ou se ela já comeu, quantas horas
dormiu, e etc. Um dia, ela irá me responder, ou não...
No entanto, o fato é que eu não vou desistir dela, porque eu
concordo com o que o Ezra disse, se há duas pessoas que foram destinadas
para estarem juntas, essas somos eu e Georgia.
A semana All Stars está acontecendo em Nova Iorque, portanto eu
não precisei viajar nesse ano. No meu primeiro ano, aconteceu em
Cleveland, onde eu participei do jogo dos calouros, e meu time acabou
ganhando, já no ano passado, foi sediado em Atlanta, e eu não fui
convocado para jogar, ainda assim, participei do torneio dos três pontos. É
um evento que acaba beneficiando grande parte da liga, principalmente os
jogadores que estão em destaque, e nesse ano fui convocado para o jogo
principal, ainda não como capitão, contudo, pretendo chegar lá um dia.
Hoje é o último jogo, onde os atletas que tiveram mais destaque ao
logo do ano, jogam em times rivais. Como obra do destino, ou de escolhas,
Ezra vai jogar no mesmo lado que eu, entretanto por grande infelicidade,
quem também joga do nosso lado é o Josh, o mesmo babaca que joga sujo,
só que hoje o meu maior problema com ele, foram os insultos e a forma
como ele tratou Georgia no meu último jogo em Chicago.
— Deixa esse idiota pra lá — Ezra diz, quando o juiz apita ao final
do segundo tempo.
— Ele não sabe jogar em equipe — digo, ao abrir a garrafa de água
e tomar um gole, logo em seguida, limpando a boca. — Você viu, que
mesmo jogando do meu lado, ele tentou tomar a bola de mim três vezes?
Sem contar os passes errados que ele deu, tentando me derrubar.
— E você vai se estressar com isso logo agora? — meu amigo
indaga. — Cara, desde que você é criança tem o sonho de participar desse
jogo, assim como eu, então faz o seu e deixa ele jogar sujo.
Tento concordar com meu amigo, porém quando somos convocados
para retornar à quadra, Josh passa por mim e esbarra no meu ombro, apenas
de pirraça, e eu me viro no mesmo instante em que o escuto soltar uma
piada.
— A sua galinha dos ovos dourados não veio hoje, Blakely?
— O que você disse?! — rosno, sentindo a raiva me invadir.
O juiz apita e temos que voltar para a quadra, mas eu caminho no
encalço de Josh, enquanto ele anda para trás, com um sorriso debochado no
rosto.
— Aquela desastradazinha dos cabelos cacheados — ele volta a
provocar. — Uma pena que terminou com ela, porque devo admitir, gostosa
ela é.
Fecho os olhos, respirando fundo para não agir por impulso à
medida que a bola começa a quicar em quadra. O capitão do nosso time
chama a minha atenção, a fim de passar a bola para mim, no entanto eu
acabo perdendo esse jogo contra Josh, quando ele decide continuar.
— Mas sabe como é, esse mundo da NBA tá cheio de puta querendo
dar por aí.
Avanço nele, o puxando pela gola da camiseta.
— Eu te desafio a sugerir que Georgia é puta novamente, faça isso e
se considere um homem morto — declaro, ao colar minha testa na dele.
Óbvio que Josh não se importa com isso, pois no segundo seguinte,
eu estou pouco me importando de estar em frente a várias pessoas que
assistem ao jogo nas arquibancadas ou que o evento esteja sendo
televisionado para o mundo inteiro, quando meu punho invade o rosto de
Josh no mesmo milésimo de segundo em que ele diz:
— Georgia... então é esse o nome da sua putinha de estimação.
Não sei exatamente o que o leva a ser um babaca desde que
jogávamos um contra o outro, ainda na faculdade, também não faço a
mínima ideia das suas motivações para estar sempre nesse pé de guerra.
O fato é que Josh me provoca há anos, até de órfão ele já me
chamou quando éramos mais novos, e eu nunca, jamais, perdi meu controle,
porém hoje para mim, foi a gota d’água, aguentei ele durante muito tempo,
e finalmente ele pode falar que conseguiu me tirar do sério.
— Eu te avisei o que ia fazer se você a chamasse assim outra vez —
brado ao empurrá-lo, e ele acaba caindo no chão, dou mais um murro em
seu rosto, sujando os nós da minha mão com seu sangue, na mesma
proporção que acabo de sujar toda a carreira que construí desde que era
apenas um menino.
Todas as câmeras estão focadas em mim no momento em que outros
jogadores me tiram de cima de Josh, que é levantado por outro, ele limpa o
sangue de seu rosto, e tudo que vejo nele é a maldade explícita à medida em
que um sorriso sádico toma conta da sua boca. Em seguida, ele bate palma
quando sou retirado de quadra, caminhando com raiva rumo ao vestiário.
Sei que estou sendo acompanhado por várias outras pessoas às
minhas costas, e claro que uma delas é Chad, que grita:
— Que merda foi essa que você vez, Hunter?
— Não vem me foder agora — respondo.
Ao chegar no vestiário apenas pego minhas coisas e sigo para o
estacionamento, entrando no carro tento respirar encostando minha testa no
volante, mas é difícil quando só então que me dou conta que eu não perdi
apenas um jogo, eu perdi um título, eu perdi um sonho que fui buscar para
conseguir compensar a falta da família que perdi.
E tudo isso porque eu acabei perdendo a mulher que eu amo quando
optei mentir para ela.
Eu definitivamente perdi tudo o que pensei ter construído.
— Jorgie! — Luca grita lá da sala. — Visita pra você!
— Diz que eu não estou — respondo no mesmo tom.
— Mas ela já sabe que você está, anda logo.
Solto uma lufada de ar ao sair debaixo das cobertas e calçar meus
chinelos, não preciso nem mesmo sair do quarto para conseguir ouvir o som
da televisão na sala. Toda a minha família está sentada, assistindo ao jogo
principal da All Stars, que por coincidência do destino ou apenas a
programação deles, está acontecendo na Barclays Center.
Então digamos que o Brooklyn está pegando fogo desde que o
evento iniciou na última sexta, o que afeta diretamente no café e no
movimento dele.
Quando chego na sala, me deparo com meu pai, April e Luca
sentados no sofá, enquanto minha mãe está balançando um incenso,
andando pela sala. No entanto, o que me surpreende não é isso, e sim, a
presença de Caelia, que veste uma camiseta do Nets com o número 11 no
peito e segura uma bolsa em frente ao corpo.
— O que está fazendo aqui? — pergunto, surpresa. — Não deveria
estar na arena?
É claro que Hunter foi convocado para o jogo das estrelas da NBA,
todos já sabíamos disso, e ela deveria estar lá, prestigiando um dos jogos
mais importantes da carreira do neto.
— Vim te buscar — ela informa.
— Para quê?! — inquiro, atônita, ao me aproximar dela.
Lia abre sua bolsa e em seguida tira lá de dentro, uma peça de roupa
dobrada, pegando a minha mão, ela leva seus dedos até meu pulso, onde
contém a pulseira com os pingentes de estrelas.
— Vejo que você finalmente encontrou seu amuleto da sorte —
analisa.
— Como se você não soubesse toda a história dele. — Dou um
sorrisinho para ela, que me encara com seu olhar doce.
— Lembra o que eu te disse quando eu te dei ela?
Olhando para a pulseira com que Caelia me presenteou quando eu
tinha apenas nove anos de idade, recito a frase exata que ela disse assim que
a fechou em meu pulso:
— Que um dia ela iria me trazer sorte.
— E ela trouxe, não trouxe? — ela diz, passando o dedo sobre a
estrela que fica próxima ao fecho.
Então eu vejo a gravação que há nessa estrela e em seguida, na
próxima, automaticamente me vem uma lembrança de Hunter e sua família
na cabeça. Não posso negar a emoção que sinto, tanto que meus olhos
transbordam em lágrimas, e um sorriso terno nasce em meu rosto.
— Não acredito que você fez isso, como?!
Lia me olha, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Na realidade, eu sempre pensei que vocês pudessem se conhecer
e se tornarem amigos, mas o destino foi melhor nisso do que eu havia
imaginado. Por que você ainda não o perdoou, se tudo o que você mais quer
é estar perto dele?
— Quem disse isso?!
— Querida, basta apenas olhar para você, que todo mundo sabe que
o seu lugar é ao lado do meu Lip, e que você quer isso mais do que tudo, só
não consegue assumir.
— Eu quero — assumo —, mas não sei se estou pronta para encará-
lo depois de tudo. Eu confiei nele, sabe? E eu pedi a verdade várias vezes,
mas ele continuou negando, eu nunca me chateei por ele ter ficado com
minha pulseira, até mesmo sou grata por ele ter cuidado dela por anos,
assim como cuidou de mim naquela noite. O que mais mexeu comigo, foi
mesmo a mentira.
— Quando a gente ama uma pessoa, é normal termos medo de
perdê-la, Georgia. O Hunter era muito novo quando perdeu três de uma vez
só, ele talvez tenha pensado que só haviam duas opções, mentir ou você sair
da vida dele, então ele estava mais pronto para mentir, do que para te
perder. Sabe por que eu não sofri tanto quanto o esperado quando perdi meu
marido e minha filha? — Nego com a cabeça. — Porque eu nunca passei
um dia sem falar com eles, e por mais que mal saíssem da minha boca as
palavras que proferiam meu amor a eles, eu agia. O amor está nos pequenos
detalhes, nos abraços e risos constantes, nas trocas de olhares, e até mesmo
na compra de uma foto por duzentos mil dólares.
Nós duas rimos, e uma lágrima cai sobre minha bochecha, Lia
aproxima sua mão do meu rosto e a aparta com o dedão.
— Esses pequenos, ou grandes, gestos, algumas vezes mais caros do
que o normal, diga-se de passagem, se chamam valor. Eu sempre dei valor a
eles em vida, assim como eles deram a mim e ao Lip. Há um ditado que diz,
que a gente só dá valor quando perde, mas veja que ele, mesmo mentindo
para você, sempre te deu valor.
— Deu mesmo — digo, ao lembrar dos nossos momentos juntos.
Caelia estende a roupa que está em sua outra mão, e vejo que se
trata de uma camiseta igual a que ela veste, contendo o número 11 e o
sobrenome dele atrás.
— Então porque agora você não mostra o seu valor a ele e veste
essa camiseta para irmos ao jogo?
Pego a peça de suas mãos, analisando-a.
— Não sei se isso é uma boa ideia.
— É claro que é — argumenta. — Briguem, amem, vivam, se
arrependam e peçam desculpas, para um dia poder dizer que mesmo o
odiando, você o amou, e que mesmo quando pensou que era a maior
azarada do mundo, ele te trouxe sorte... ele te trouxe o amor.
No final das contas, Lia tem razão, e mesmo que eu ainda sinta uma
certa dúvida sobre a confiança, eu sinto que Hunter sempre teve medo do
que a verdade faria conosco. Não posso negar que no lugar dele, eu sentiria
o mesmo, e assim como ele, eu também sei que as coisas não deveriam ter
tomado as proporções que tomaram. Eu sinto a falta dele, e isso é
inevitável.
Acabo olhando por cima do ombro assim que escuto meu pai bater
palma. Na televisão mostra que o segundo tempo do jogo acabou e passa a
reprise de um passe do Hunter, seguido de um close em seu rosto.
Não preciso de qualquer outro incentivo para pedir licença à Caelia
e correr para o meu quarto, troco o conjunto de moletom que estou usando
por uma saia e a camiseta que ela me entregou, e substituo os chinelos por
um tênis.
Controlo meus cachos, que estão todos desgrenhados, em um coque
no topo da cabeça, e volto para a sala correndo, porém não encontro mais
Lia em frente à porta, e sim, sentada no sofá com a mão na boca,
demonstrando choque, assim como a minha família.
Minha mãe até mesmo soltou o seu incenso, e pergunto ao me
aproximar deles:
— O que aconteceu, gente?
— O Hunter brigou em quadra — meu pai informa.
— Ele deu um socão no samurai do Bulls — quando Luca completa,
imediatamente olho para a tela e vejo Josh, o mesmo cara em que eu
esbarrei em Chicago, passando a mão sobre a boca e mantendo um sorriso
sádico no rosto.
Então a câmera foca em Hunter, sendo segurado por outros
jogadores, entretanto Ezra acaba passando na tela, e com isso, eles reprisam
o exato momento em que Hunter pega Josh pela camiseta, e os dois se
encaram, em seguida Josh fala alguma coisa, mas ele mal tem a chance de
calar a boca, pois logo recebe um murro no meio do rosto.
— Pelas informações que nos foram dadas, ao que tudo indica, o
jogador do Bulls xingou algum parente do Blakely, e por isso os dois
acabaram brigando em quadra — um comentarista diz.
— A rixa deles já acontece há anos, para falar a verdade — outro
diz, enquanto a cena da briga passa e repassa na tela várias vezes. — Mas
eu não culparia o Blakely por sua reação, afinal, desde a época da
faculdade, Baumer o provoca, e ele sempre se conteve em quadra, além das
inúmeras vezes em que o próprio joga sujo, mas acaba sendo
desconsiderado ou apenas levado para o banco.
Assisto toda interação e comentários dos apresentadores, atenta a
tudo o que eles falam, ainda chocada com a confusão que acaba de
acontecer.
— Eu também não ponho a culpa no Blakely nessa ocasião, e nem
em nenhuma outra, se tivesse acontecido antes. Josh Baumer realmente
ama provocar seus adversários, mas quando trata-se de Hunter Blakely, ele
acaba se tornando mais sádico. O grande problema dessa situação, é que o
camisa 11 do Nets está sendo cotado para o MVP da temporada, mas o
futuro dele só depende de como a liga irá puni-lo após esse acontecimento.
— Como assim punição? — pergunto para a tela.
No entanto, é óbvio que não é o apresentador que responde, e sim,
meu pai.
— Foi uma falta de conduta enorme que o Hunter cometeu em
quadra, ele pode acabar sendo suspenso pelo restante da temporada inteira,
e isso o prejudica tanto para novos contratos e patrocínios, como na
jogabilidade dele no geral.
— O mínimo que pode acontecer na punição dele, é ficar no banco
no próximo jogo, Jorgie.
— Mas isso é muito improvável — April diz, consternada.
— Pelos menos, agora todo mundo pode dizer que ele soca forte —
minha mãe solta, e todos olhamos para ela, até mesmo Caelia, que acaba
fazendo uma careta, assim como eu. — Não foi isso que eu quis dizer gente,
mas vocês entenderam.
Quando finalmente o canal para de passar a briga ocorrida, eles
passam para a imagem do Hunter abandonando a quadra, e em seguida
várias pessoas correndo atrás dele, então eu também corro, porém em
direção à porta. Pego minhas chaves e meu casaco, e assim que abro a
porta, Luca pergunta:
— Para onde você vai?
— Atrás dele — respondo, olhando para trás, e mesmo diante da
maior confusão rolando, todos eles me olham com um sorriso no rosto.
Uma sensação esquisita sobe em mim à medida que desço as
escadas correndo, não espero que Hunter me receba de braços abertos,
espero apenas que ele me entenda, assim como, no final, entendi suas
motivações, porém entendi, acima de tudo, o que o destino fez conosco.
Se até poucos minutos atrás, havia qualquer dúvida em mim que me
fizesse ficar distante dele, nesse instante, não há mais, apenas quero
acreditar que não seja tarde demais.

Após brigar com um segurança na entrada da Barclays Center, eu


mostro a ele o meu acesso através do celular, porque mesmo tendo pedido
demissão duas semanas atrás, eu ainda mantenho algumas coisas comigo.
Eu não pensei que seria necessário manter o meu acesso exclusivo à arena
dos Nets, até agora.
Eu não fiquei só um ou dois dias pensando em procurá-lo, após a
demissão. A verdade é que eu já sentia falta dele antes disso, entretanto
tudo piorou quando eu passei a acompanhar sua vida apenas através da
internet. No entanto, o novo — porque me nego a acreditar que Hunter
esteja trabalhando com outra mulher — assistente pessoal dele, não é tão
bom quanto eu em manter as redes sociais dele atualizadas. Sequer
consegue um clique de Hunter sorrindo.
Foi apenas na semana passada, que eu jurei a mim mesma que, após
a semana do All Stars, eu iria fazer uma surpresa a ele e levar um dos
buquês que ele me envia diariamente para ele, como uma forma de
parabenizá-lo, assim como também poder finalmente conversar com ele.
Então, após decidir isso, comecei a focar em conseguir um novo emprego e
ajudar no café, que está indo tão bem, que minha família já está pensando
até mesmo em abrir uma nova unidade.
A arena ainda está uma confusão, o jogo acabou sendo retomado,
porém ninguém fala de outra coisa a não ser da briga, é por isso que quando
desisto de procurar por Hunter no vestiário e por todo o restante da arena,
um repórter acaba me abordando.
— É verdade que o foco da briga entre Blakely e Baumer foi a
senhora? — ele pergunta.
— Não sei do que você está falando — respondo, andando depressa,
a fim de sair de perto dele, contudo o mesmo continua me seguindo.
— Segundo as pessoas que estavam perto deles na hora, Josh
proferiu xingamentos contra a namorada de Hunter, isso é verdade?
— Não sei.
— Então quem mais sabe, se não a namorada dele?
Paro, respirando fundo e fechando os olhos, tentando encontrar
paciência para não acabar xingando-o ou fazendo um papelão, como na
última vez em que fui abordada.
— Olha só, eu realmente não sei, a única coisa que sei é que preciso
encontrar o Hunter, então se você não souber onde ele está, você não me é
útil no momento. Portanto, com licença.
— Se eu te disser que Blakely foi embora com a roupa do jogo e
tudo mais, você me responde alguma coisa?
Guardo a informação que acabo de receber, antes de responder.
— É claro que não. — Pisco e enfim, consigo fugir do repórter.
Só há um lugar onde Hunter Blakely iria em um momento de
estresse, e esse local é uma quadra de basquete, e como a quadra onde
aconteceu o jogo ainda está lotada, há apenas uma para onde ele iria.
Logo no meu primeiro dia de trabalho, Hunter me disse que existe
um único local em que ele vai quando precisa de paz fora da arena ou
quando precisa ficar longe dos seus companheiros de time.
É por isso que quando finalmente consigo pegar um táxi, que acaba
me cobrando taxa dois, eu não o xingo e mesmo assim peço para atravessar
o Brooklyn, indo em direção ao Upper East Side. Durante todo o percurso,
o meu coração erra as batidas e até mesmo meu estômago embrulha em
ânsia, parece até mesmo que tenho doze anos e estou indo para a escola,
encontrar a minha primeira paixonite.
No entanto, a verdade é que estou indo atrás do homem por quem
eu estou apaixonada, não sei desde quando, mas sei que é suficiente para eu
acabar pagando mais de cem dólares em uma simples corrida de táxi.
Quando chego no prédio de Hunter, passo pelo saguão e como de
costume, passo direto. Ao solicitar o elevador, coloco a senha que leva
direto para a cobertura, mordo o meu lábio inferior com tanta força a ponto
de machucá-lo, paro apenas assim que sinto o gosto de ferro na minha boca.
As portas do elevador se abrem, e a luzes do hall de entrada são
acessas, os passos que dou até a porta de entrada são hesitantes, enquanto
minha respiração se torna irregular, e meu coração bate acelerado.
Coloco minha digital na maçaneta da porta, e respiro aliviada
quando a luz verde acende, e a porta se abre.
A sala está escura, sendo iluminada apenas pelas luzes da cidade,
que entram através das janelas de vidro. Tirando o meu casaco e o
colocando sobre o sofá, sigo até o corredor que dá acesso ao mesmo
elevador que entrei para ir embora, há quase dois meses. Aquela foi a
última vez que fiz uso dele, pois sempre que precisei vir ao apartamento
depois disso, eu fiz o uso do elevador tradicional.
As portas se fecham assim que eu aperto o botão para descer, e em
menos de um minuto já estou no andar desejado. Um sorriso brota em meu
rosto no segundo em que concluo que eu estava certa sobre minhas
suspeitas, pois todo o ambiente do andar é preenchido apenas pelo som da
bola quicando e dos tênis rangendo sobre o piso encerado da quadra
particular de Hunter.
Não me apresso para encontrá-lo, mas no momento em que o faço,
passo os próximos dois minutos o observando da entrada. A bola que ele
arremessa, fazendo uma cesta, bate no chão e ele a pega no mesmo instante,
faz um passe, indo até a linha de três pontos e arremessa novamente.
Dessa vez, quando ele a pega de novo e a joga para fazer outra
cesta, ela bate na trave, e devido à força usada por Hunter na jogada, a bola
acaba vindo parar do outro lado da quadra, mais exatamente, próxima aos
meus pés. Ela dá uma leve quicada, e eu a pego.
Hunter se vira assim que ela para de fazer barulho, e em passos
curtos, porém determinados, eu vou me aproximando. Ele precisa piscar
algumas vezes, não sei bem o motivo, entretanto acredito que para ter
certeza de que o que vê é real.
Quando estou a dois metros de distância dele, arremesso a bola
contra sua barriga, e ele a pega, um sorrisinho se ergue nos cantos da sua
boca, e enfim, ele pergunta:
— O que está fazendo aqui?
— Bom te ver também, Chefinho — brinco, e volto a me aproximar.
— É sempre ótimo te ver, Estre... — Ele para e limpa a garganta. —
Georgia.
— Pode me chamar de Estrelinha, por favor — peço, e apenas isso
faz com que os olhos claros dele brilhem, e um sorriso sem jeito apareça em
seus lábios. — Bom, primeiramente, eu vim brigar com você — digo,
tomando a bola dele e jogando-a para fazer uma cesta.
— Brigar comigo por quê? — pergunta, no mesmo instante em que
a bola passa pelo aro.
— Você esperou o ano inteiro por esse evento, para socar a cara do
idiota do Josh? E pior ainda, por mim? — pergunto, chocada.
— Eu faço tudo por você, Estrelinha — ele diz.
— Não duvido disso — declaro, ao me virar em sua direção. — Mas
você não precisava manchar a sua carreira e as suas mãos com o idiota do
Josh.
— Ele te xingou — informa.
— Eu sei que sim, mas isso pode acabar lhe custando o MVP da
temporada.
Hunter dá mais um passo em minha direção e ficando frente a frente
comigo, ele primeiro passa as pontas dos seus dedos sobre a maçã do meu
rosto. Em seguida, as leva até a minha boca, seus olhos iluminados me
estudam atentamente, e eu engulo em seco quando eles enfim param em
confronto com os meus.
— Não adianta de nada ser o melhor jogador em quadra, quando eu
acabei sendo o pior de todos em relação a você. E sendo bem sincero, nada
do que eu construí até aqui irá valer a pena no final, se eu não tiver ao lado
da pessoa mais valiosa que eu já encontrei na minha vida. Porque eu te amo
tanto, que posso afirmar, que nada, absolutamente nada nessa vida vale a
pena, se não tiver você e toda a confusão, desastre e impulsividade que você
é, Georgia Walton. Então, eu te digo com certeza, que mesmo ganhando ou
perdendo esse prêmio, a única coisa que sei que vale a pena lutar no final do
dia para ter comigo, é você.
Aperto meus olhos ao fechá-los, e um sorriso pequeno nasce em
meus lábios, minha mão encontra o peito de Hunter, ainda vestido com a
roupa que estava jogando quando decidiu brigar em quadra. Ao abrir os
olhos novamente, o encontro, ainda focado em mim, e digo:
— Quando eu imaginei um dia te dizer isso, conhecendo o meu
jeitinho de ser...
— E que jeitinho... — Sou interrompida quando ele sussurra em um
assobio.
— Cala a boca, senão eu perco a concentração — reclamo, e Hunter
fecha os lábios em uma linha reta. — Como eu estava dizendo, quando eu
imaginei um dia te dizer isso, podia jurar que iria acontecer em um
momento impulsivo, talvez quando você me assustasse ou comprasse um
objeto de valor caro ou até mesmo quando você colocasse as músicas do
Coldplay para tocar, apenas porque eu gosto, ou até mesmo quando você
fura sua dieta e acaba comendo as minhas coisas. — Estreito o olhar, e ele
ri. — Mas em todos esses momentos, eu sabia que eu estava me
apaixonando por você. É por isso que sei que o que vou dizer agora, não é
porque sou impulsiva, é apenas porque eu sinto que é verdade, e a verdade
mais difícil, que eu tive de aceitar desde o dia em que dei de ombros,
dizendo que precisava de um tempo e fui embora, é que eu te amo.
Posso jurar que vejo uma lágrima escorrer dos olhos de Hunter, pois
eles se enchem de água à medida que eu falo, e no final, ele está fazendo
um biquinho.
— Assim não vale, a sua declaração foi melhor do que a minha —
ele diz.
— Porque eu sou a melhor em tudo — respondo.
— Você é mesmo — concorda, me pegando em seu colo, e eu acabo
agarrando seu corpo com as pernas. — Você é o meu melhor beijo — diz,
ao me dar o selinho. — Você é minha melhor transa. — Sinto seu pau
endurecer sob o tecido da roupa, alinhado na mesma altura da minha
entrada. — Você é o meu melhor sonho e a minha melhor realidade,
Estrelinha. Você, de longe, é a melhor em tudo — declara ao me beijar.
Deixando minha língua preguiçosamente encontrar a sua, beijo seu
lábio inferior suavemente, o que o faz mordiscar o meu. Minha palma
pressiona seu peito ainda mais quando nossas línguas se encontram, e eu
puxo sua camiseta, a fim de senti-lo um pouco mais. Suas mãos, que estão
grudadas em minha bunda, a apertam, e quando eu solto um gemido audível
durante o beijo, Hunter acaba respirando fundo e se afastando.
Sentindo a umidade entre as minhas pernas ficar cada vez mais
densa, arfo outro gemido, dessa vez reclamando.
— Eu quero isso tanto quanto você, mas não posso fazer dessa
forma, todo suado. — Hunter me põe no chão. — Me encontra no meu
quarto em dois minutos — diz, se afastando.
— Dois minutos?
— É tempo suficiente para eu conseguir tomar um banho — ele diz,
já correndo em direção às escadas, ao invés de fazer o uso do elevador, ele
sobe os degraus de dois em dois, e eu acabo rindo da situação.
Sei que passamos um tempo separados, sei também que as coisas
entre nós podem mudar. Porém, o que eu mais sei é que mesmo diante de
uma mentira, Hunter continua sendo ele, o jogador milionário convencido,
com um sorriso gentil e completamente apaixonante.
Ele também sabe que errou, assim como tem ciência de tudo o que
custou, tanto para mim, quanto para ele, e acredito que aos poucos nós dois,
juntos, conseguiremos resolver nossos problemas. É por isso também que
acabo o seguindo, com um sorriso estampado no rosto, querendo gritar para
o mundo que voltei para onde nunca deveria ter saído. Para o homem que
me protegeu, me deu segurança, me enxergou e me amou, do jeitinho que
eu sou.
Sentindo o fogo entre as minhas pernas, opto por ir pelo elevador
mesmo, e ao chegar no segundo andar, vou até a cozinha primeiro e pego
um copo de água, para que consiga esfriar um pouco o corpo, porém torna-
se em vão quando eu sei o que me espera ao subir as escadas.
Chegando no quarto de Hunter, ele se encontra sentado na cama,
totalmente molhado, os cabelos pingando a água, que desce por seu corpo
bronzeado coberto de músculos, o pau duro pulsa, e um sorriso safado
aparece em seu rosto.
— Preciso que você monte em mim — ele declara.
— Não precisa pedir duas vezes — é o que ela me responde, se
aproximando de mim, já tirando a roupa.
— Não — interrompo-a, e ela para no meio do processo. — Quero
que você me foda enquanto usa a camiseta com meu número.
— Mais um fetiche brega, Blakely? — pergunta, recolocando a
camiseta e tirando a saia.
— Ver você sentando no meu pau enquanto usa a camiseta que tem
meu nome e meu número, pode até ser um fetiche, mas te garanto que de
brega não tem nada — digo, ao pegar na base da minha ereção. — Agora,
você vai vir ou não?
Georgia sorri, e porra, como eu senti falta desse sorriso, da risada,
dos palavrões, dela me chamando de Chefinho, do seu corpo quente junto
ao meu, e dos seus cachos rebeldes, que solto no instante em que ela fica
joelhos na cama, próxima a mim. Ela toma meu pau com sua mão, ficando
de quatro, e seus cabelos caem sobre os ombros, sua boca se alinha à
cabeça, e ela me engole, até o fundo da garganta.
É preciso eu fechar os olhos e me concentrar, para não gozar rápido.
Ela dá mais algumas chupadas, e alcanço sua bunda já despida e erguida,
apertando-a. Faço com que ela tire a boca do meu pau e se ajuste ao meu
corpo.
— Por que tanta pressa? — ela pergunta, ao sentar-se sobre minha
barriga, passando as pernas ao meu redor.
Georgia está tão encharcada e quente, que apenas esse simples
contato faz toda a minha pele arrepiar. Meu pau estremece, se enchendo
ainda mais de sangue.
— Não pergunte a mim, pergunte a ele, que passou quase dois
meses sem chegar perto da sua rosa.
Ela se afasta e ergue seu corpo minimamente, para consegui pegar o
meu pau pela base. Enquanto brinca com ele, a fim de achar a sua entrada,
Georgia pende a cabeça para trás, em um riso.
— Como eu senti falta dessa sua breguice — declara.
Quando finalmente ela me encaixa em sua entrada, desce devagar,
deixando que apenas metade da minha ereção entre dentro dela. Passo a
mão por sua nuca, ainda erguida, e a trago para perto, beijo seu pescoço,
deixando um rastro com minha língua por sua extensão e chegando à sua
mandíbula, digo:
— E eu senti falta dessa sua boceta apertando o meu pau.
Um gemido escapa da sua boca, e essa porra é como música para os
meus ouvidos. À medida que ela passa a se acostumar comigo dentro dela,
ela passa cavalgar em mim lentamente enquanto rebola.
Com minha mão livre, encontro a sua pele por debaixo da camiseta
do Nets que ela veste. Admito que no momento em que a vi andando em
minha direção, ainda vestindo uma camiseta com meu nome e com um
sorriso doce em seus lábios, precisei piscar algumas vezes, para ter certeza
de que aquilo era real, e não uma imaginação da minha cabeça.
Não sei o que vai acontecer comigo e o basquete a partir de agora,
mas se fosse preciso socar a cara do idiota do Josh trezentas vezes para ter
Georgia comigo novamente, e arriscar a minha carreira em todas elas, eu
faria todas as trezentas.
Porque nada no mundo se compara ao poder que essa mulher tem
sobre mim. Eu sofri tanto quanto eu a desejei, durante esse tempo em que
nos mantivemos longe, e estar aqui, agora, após ouvi-la dizer que me ama,
tanto quanto eu a amo, e ter que assistir toda a sua beleza, ao passo que
senta em mim, com a boca semiaberta preenchendo o meu quarto com seus
gemidos.
Caralho! Eu senti falta dela, eu senti falta de nós, porque nada se
compara a tudo o que nós dois somos quando estamos juntos.
É por isso que eu não me controlo e acabo subindo um pouco da sua
camiseta, e ao encontrar um dos seus peitos, eu encho minha mão com ele e
aperto seu mamilo.
— Pensava que era para eu manter a camiseta — provoca.
Passando a sentar em mim com mais agilidade, seus cachos caem
sobre meu rosto, e eu tenho a visão do paraíso a partir daí.
— E é — digo, apertando-a novamente, e sua boceta pulsa ao redor
do meu pau, engolindo-o. — Mas fazer o que, se eu sou viciado nos seus
peitos? — digo, quando os tomo com minha boca.
À medida que Georgia rebola ousadamente, sem se importar com
qualquer coisa, e geme audivelmente, minha mão, que está em sua nuca,
adentra entre os fios. Juntando-os, eu os puxo, e ela solta mais um grito, e
mesmo que minha língua não pare de sugá-la, dando leves mordiscadas em
sua auréola, eu ainda consigo gemer também.
— Isso, amor — digo. — Não para, rebola mais — peço.
E ela o faz, sentando gostoso. Minhas bolas se comprimem, e sinto
que estou próximo ao clímax, mas é apenas quando Georgia chama meu
nome em um gemido, que todo o meu corpo pega fogo.
— Hunter... meu Deus...
— Eu vou... — aviso, tentando focar em seu prazer antes do meu.
— Porra, amor, não me chama assim, que eu vou gozar.
— Eu não tô conseguindo contro... — Ela para assim que um
gemido irrompe da sua garganta em um grito.
— Porra — rosno, tirando-a, tão molhada em pleno gozo, de cima
de mim, e é nesse exato momento que a vejo estremecer.
Me levantando, a pego no meu colo e levo até as grandes janelas de
vidro do meu quarto, onde há a visão panorâmica de Nova Iorque.
— O que está fazendo? — pergunta, tentando voltar ao seu
consciente.
— Te comendo enquanto tenho as minhas duas vistas favoritas do
mundo — digo, pegando a camiseta que ela usa pela bainha e tirando-a por
sua cabeça. Quando ergue os braços, eu a viro contra o vidro, ajusto seu
corpo, empinando a sua bunda arrebitada na altura do meu quadril e coloco
suas mãos apoiadas no vidro. — Você e Manhattan — explico por fim, ao
me encaixar nela novamente.
Georgia me olha por cima do ombro, sorrindo maliciosa, e eu passo
a estocá-la com força.
Minha mão está em sua cintura, a fim de fazer com que o contato
dos nossos sexos seja mais rápido, enquanto a outra pega o seu cabelo em
punho, puxando-o.
— Tá gostoso, não tá? — pergunto.
— Uhum — ela murmura a resposta.
Sua boceta pulsa cada vez mais, e a cada pulsada, ela aperta ainda
mais meu pau, e eu não me controlo, entrando mais fundo nela.
— Então assume que eu te dei a melhor gozada da sua vida — digo.
— Nem fodendo — responde em uma arfada, tentando se manter sã
na sua teimosia.
— Assume e diz também, que a partir de agora, o único pau que tem
direito sobre você, é o meu, Estrelinha — digo, saindo dela devagar e
mantendo minha posição.
Georgia tenta empurrar, porém eu impeço, ainda segurando-a pelo
quadril.
— Quero ouvir você dizer, eu só entro em você outra vez, quando
você assumir.
Ela nega com a cabeça, e eu volto a sair, deixando apenas minha
glande dentro.
— Assume ou eu não entro.
Meu pau se mexe, tornando-se dolorido me concentrar para não
acabar gozando, a vendo nessa posição. Puxo seu cabelo, e ela solta um
gemidinho fraco.
— Porra — reclama. — Você quem me deu a melhor gozada da
minha vida e vai continuar dando, porque a partir de agora, o único pau que
tem direito sobre a porra da minha boceta, é o seu. Agora termina de me
comer, Hunter.
Os cantos da minha boca passam a se erguer, e eu puxo novamente
seus cabelos, entretanto dessa vez, eu a trago para perto de mim. A mão que
estava em seu quadril, passa para a frente, apoiando-se em sua barriga, e é
apenas quando minha cabeça fica sobre seu ombro, e eu beijo o canto do
seu rosto, que volto a estocá-la.
— Porra, você não sabe o quanto eu quis ouvir isso, Estrelinha.
Conforme eu vou entrando nela, Georgia também me ajuda, se
impulsionando para trás, e não demora muito para que juntos, cheguemos
ao nosso auge. Georgia pela segunda vez, e eu me prologando ao tirar meu
pau de dentro dela, e jorrar o gozo em suas costas.
Meu peito passa a subir e descer, assim como o seu, e nossos corpos
permanecem colados um no outro.
No mesmo vidro em que tenho a vista privilegiada da cidade que
nunca dorme, também vejo os nossos reflexos, ambos completos, felizes em
puro êxtase. E olhando para uma Georgia suada, cansada e com os cabelos
desgrenhados, porém extremamente satisfeita, meus olhos encontram os
dela através do reflexo, e eu declaro em um sussurro:
— Te amo.
Sua boca responde apenas em um movimento, entretanto é o
suficiente para fazer com que meu coração quase saia pela boca, de tanta
felicidade.
— Te amo.
Meus braços passam ao redor do seu corpo, e eu passo a beijá-la
com vários selinhos na lateral do rosto, que sinto se mover em um sorriso
doce.
Aos poucos, o sorriso de Georgia morre, porém ainda consigo
assistir seu rosto pacífico, ela ergue um braço e encontra meus cabelos,
fazendo carinho neles. Quando desce, noto que em seu pulso há a pulseira
que ela acidentalmente deixou comigo tantos anos atrás, e meus olhos
fisgam todos os pingentes de estrelas que pendem nela.
Um sentimento de culpa volta a me invadir, ao lembrar que por
conta da minha mentira, passei tanto tempo sem ela em meus braços. Ela
também nota isso pelo nosso reflexo e me lançando um sorriso, Georgia
nega com a cabeça.
— Não precisa se preocupar — diz. — Eu não vou pedir um tempo,
eu não vou embora.
— Tem certeza? — indago, ainda apreensivo.
— Mais que tudo nessa vida. — Volta a subir o braço, encarando a
pulseira. — Eu ganhei essa pulseira quando ainda tinha nove anos, foi sua
avó que me presenteou com ela.
Não sei ao certo como reagir à sua confissão, mas continuo a
escutando, apesar de ser notória a minha surpresa.
— Ela havia perdido três pessoas que ela amava muito há pouco
mais de um ano e ela me disse que essa pulseira um dia me traria sorte. E
claro, sendo a pessoa que eu sou, acreditei, e a partir dali, eu a encarei como
o meu amuleto da sorte — conta, com um sorriso terno em sua boca, e tão
rápido uma careta se forma quando ela franze o nariz, antes de finalizar. —
Mas quando a perdi, é claro que me autodenominei de azarada.
— Você não é azarada — interrompo. — Só é um pouco desastrada.
Quando falo isso, Georgia tenta se desvencilhar do meu abraço, só
que eu a agarro ainda mais, então ela decide continuar.
— Fiquei irada quando a encontrei em suas coisas, até pensei que
poderia ser uma simples coincidência. Mas quando vi as estrelas próximas
ao fecho, vi que não era, pois a pulseira que sua avó tinha me dado, havia
uma coisa única, que nenhuma outra poderia ter.
Ela traz o pulso ainda mais para perto, me mostrando as gravações
nas estrelas de prata, e eu não tenho reação, apenas sinto meus pulmões
retesarem, e uma rápida falta de ar tomar conta de mim.
— Sempre achei intrigante justo essas letras gravadas e nunca
entendi o significado delas. Até hoje, quando Caelia me mostrou elas
novamente.
Eu presto atenção em tudo que ela diz, mas meus olhos continuam
focados apenas nas gravações das estrelas.
— G e H — ela diz.
— Giana e Harry — completo. — Meus pais.
A lembrança da história em que meu pai dizia que minha mãe era
desastrada e que preferiu dar a ela algo que talvez ela não fosse perder
como um anel, mesmo que tão antiga, se passa na minha cabeça, vívida. E
eu a escuto, na maior atenção do mundo, admirado com o amor que um
sentia pelo outro, desejando que um dia, eu encontrasse alguém para amar,
assim como meu pai amou minha mãe.
— Eu pensava que ela havia se perdido com o acidente — digo,
engolindo em seco. — E mesmo sabendo apenas agora o que houve com
ela, continuo feliz em saber que ela tenha ficado com você.
— E com você também — completa.
Georgia sorri e se vira para mim, assim que eu deixo. Suas mãos
alcançam a minha nuca, cruzando os braços ali. Os olhos escuros
iluminados encontram os meus, e eu também sorrio.
— Sua avó sempre esteve certa, ela me disse que essa pulseira me
traria sorte, e eu demorei para entender que essa sorte sempre se tratou de
você.
Pegando uma mecha do seu cabelo e passando para trás de sua
orelha, digo:
— As estrelas demoraram, elas até nos enganaram durante anos,
mas elas se alinharam no tempo certo para que você chegasse em minha
vida, Estrelinha.
Então eu a beijo, tendo a certeza de que essa é a única mulher que
quero beijar pelo resto da minha vida.
2 meses depois

Após o último arremesso, eu me levanto com as mãos para cima,


gritando, sem acreditar que ele conseguiu fazer isso.
O Nets já era o campeão de todas as formas, mas mesmo assim,
Hunter conseguiu algo improvável. Sendo marcado por todos os jogadores
do time de Miami, ele ainda assim conseguiu se colocar na linha dos três
pontos e arremessar a bola faltando exatos três segundos para o fim do
quarto tempo, e no mesmo instante em que o juiz apitou, a bola passou pela
cesta, fazendo com que toda a arena do time adversário vibrasse. Até
mesmo os fãs do Suns, não conseguiram se conter com a jogada.
Ele se joga no chão, porque assim como todos nós, eu sei que ele
não consegue acreditar no seu feito. Entretanto, tão rápido ele se levanta,
seus olhos disparam para as arquibancadas, os colegas de time de Hunter
tentam o alcançá-lo, porém assim que ele me encontra ao lado da minha
família, Caelia, e seu namorado, Adam. Ele corre em nossa direção.
Chegando na escada, com um sorriso enorme em seu rosto, ele
precisa dar apenas dois passos, basicamente, ao subi-las, para chegar onde
estamos.
Eu corro em sua direção, e quando nossos corpos se esbarram, ele
me levanta no alto, me abraçando. Minhas pernas agarram sua cintura,
assim como minhas mãos se encaixam nas laterais do seu rosto, beijando-o
logo em seguida.
— Eu sabia que você iria conseguir — digo, separando nossas
bocas.
— Você sabe que tudo isso é graças a você, não é?!
— Óbvio que não, é tudo graças a você. — Hunter nega com a
cabeça, não se convencendo, e me beija outra vez.
No dia seguinte após a nossa reconciliação, eu o deixei dormindo e
me juntei a Chad, juntos fomos até a comissão da NBA, que estava prestes
a decidir o futuro do meu agora namorado, dentro da liga.
Eles queriam que Hunter passasse o restante da temporada no banco,
e apenas em casos extremos – como lesão em algum outro jogador –, ele
pudesse pisar na quadra. Foi aí que Chad entrou em ação, mostrando as
várias jogadas sujas de Josh, e eu, por minha vez, acabei conseguindo, com
a ajuda do google e um pouquinho do Ezra, a dar uma melhorada no áudio
das câmeras que focavam nos dois durante a confusão.
Resultado: Josh realmente me xingou, assim como fez Hunter
tropeçar várias vezes no jogo das estrelas da NBA, e com todo esse material
em mãos, eu disse que iria publicar nas redes sociais e passar o conteúdo
para as maiores redes de esporte ao redor do mundo.
Chad ficou surpreso com a minha ameaça, ainda assim, me deu
apoio. No final de tudo, a própria liga divulgou o conteúdo, e tanto Josh
quanto Hunter acabaram sendo punidos, Josh ficou um jogo no banco,
enquanto Hunter permaneceu por dois, contudo, sendo o melhor em
qualquer quadra que ele pisa, precisou apenas de um embate para conseguir
recuperar seus pontos e também a colocação do time.
Somos separados quando o restante dos nossos parentes se aproxima
para parabeniza-lo, e logo em seguida, Hunter é chamado para descer e dar
algumas entrevistas, antes de se arrumar para a nomeação final.
Todos os jogadores do Nets se põem em uma fila no meio da quadra,
para receberem seus anéis com vários diamantes de campeão e também o
troféu da temporada. Logo depois, é anunciado o tão esperado título de
jogador mais valioso.
Minhas mãos estão tremendo na mesma proporção que a veia acima
da minha sobrancelha pulsa violentamente.
— Ele vai ganhar — Luca afirma.
— Não há outra opção para esse título a não ser o Hunter, todo
mundo sabe disso — meu pai completa.
— Tenha calma, filha — Lia pede. — O Lip nasceu para isso, e
todos sabemos que é dele desde o instante em que ele pegou uma bola de
basquete pela primeira vez na vida.
— Acompanho a carreira desse jovem desde que ele estava na
escola, ele foi destinado para isso — seu namorado dá apoio.
E mesmo diante de tantas palavras e confiança, eu estou nervosa,
porque eu o acompanhei durante toda essa temporada e sei o quanto que ele
lutou para chegar até aqui, e conseguir esse título hoje. Portanto, é normal
que eu esteja tão nervosa, mesmo concordando com meu pai, quando ele
disse que não há outra opção para o título.
No entanto, meu nervosismo acaba quando é substituído pela
reprovação que lanço para minha mãe, assim que ela diz:
— Sabia que eu devia ter tomado o maldito laxante antes da viagem,
mas fui tomar só hoje.
— Mãe! — chamo sua atenção.
— Ele ganhou — April, que está ao lado da minha mãe, grita,
apontando para o telão.
Então eu me viro instantaneamente, quando aparece a imagem de
Hunter no telão que há no meio da quadra.
— Hunter Blakely — o apresentador anuncia, levando o troféu até
ele, juntamente de um microfone.
Vejo que Hunter primeiro agradece e depois ergue o prêmio,
apontando em nossa direção. Eu não tenho qualquer outra reação, a não ser
aplaudi-lo.
— Eu queria começar agradecendo à liga, por me dar a
oportunidade de trabalhar com o que eu amo, e também ao Nets, por confiar
na minha jogabilidade e me deixar realizar esse grande sonho, que não é
apenas meu, e sim, de toda a minha família, até daqueles que já se foram —
ele diz, sua voz ecoando por toda a arena. — Queria agradecer também à
minha Nona, que quando ficou responsável por um moleque de oito anos de
idade, fez tudo o que estava em seu alcance para que ele chegasse aqui hoje.
— Ele pisca para a avó, e em seguida, nossos olhos se encontram, e ele
continua. — Mas principalmente, eu queria agradecer à Georgia Walton, a
pessoa que, querendo ou não, no final ajudou a minha vida, que estava toda
maluca, a ganhar um novo sentido. Nada disso teria acontecido sem você,
Estrelinha. A verdadeira MVP dessa temporada é você, e o meu maior
prêmio, é ter você em minha vida.
Um sorriso se forma em meu rosto, e eu não consigo impedir que
algumas lágrimas caiam sobre meu rosto. Há um ano eu estava me
afogando em dívidas junto à minha família, e nossa última esperança seria
que algum de nós conseguisse um trabalho fixo, para poder continuar com o
café de pé.
Eu tive a faca e o queijo na mão para perder o emprego perfeito
quando ele apareceu para mim, e eu risquei o carro daquele que descobri
mais tarde ser o meu novo chefe, ou Chefinho, como eu prefiro chama-lo.
No entanto, não foi o emprego que salvou os negócios da minha
família no fim, e sim, uma foto publicada por ele. O Happie fez tanto
sucesso, que acabamos abrindo uma nova filial, agora em Manhattan, onde
faz tanto sucesso quanto no Brooklyn, apesar de estar aberta há pouco mais
de uma semana. Já estamos pensando em também expandir para o Queens,
vai que no final, acabamos em todos os distritos de Nova Iorque, e tudo
graças a uma simples foto.
Agora o Happie não é só a família Walton, é também Hunter
Blakely, e tudo que ele fez por nós, mesmo não envolvendo seu dinheiro
diretamente, ele se envolveu, e acabou se tornando parte de nós.
Contudo, principalmente parte de mim, porque o que era para ser
apenas um trabalho, acabou se tornando a pessoa que eu não quero, jamais e
nunca mais, ficar longe. Porque eu estou tão apaixonada, que mesmo
sabendo que permanecemos com nossas estrelas alinhadas, ele ainda me
desalinha por completo, especialmente quando ele passa a dizer:
— Agora, se vocês me dão me licença, eu não posso ficar aqui por
muito tempo, pois tenho que realizar um sonho da minha mulher — finaliza
Hunter, ao entregar o microfone a Ezra, que não entende nada.
Hunter fica no pé da arquibancada e me oferece sua mão, eu não
entendo o que ele quer fazer, mesmo assim, eu estendo a minha e o sigo.
— O que está aprontando dessa vez, Chefinho? — ainda o chamo
assim, por força do hábito.
— Surpresa.
— Odeio surpresas — digo, logo que passamos pelos portões da
arena, indo em direção a um SUV preto, onde há um motorista com a porta
aberta.
— Sei disso, mas essa você vai amar — declara, quando entramos
no carro.
Em questão de minutos, estamos chegando ao Hard Rock Stadium,
mais precisamente no fundo do estádio, onde está acontecendo o show da
minha banda favorita, eu até tinha comentado com Hunter quando
soubemos que a final aconteceria no mesmo dia do show, e ele me pareceu
triste com a notícia.
Assim que ele nota que eu conheço o nosso destino, ele tira do seu
bolso duas pulseiras brancas, que na realidade já estão piscando, devido à
proximidade.
— Como você conseguiu? — pergunto, sabendo que esse show
esgotou em menos de dez minutos quando foi aberta a venda.
— Eu sou Hunter Blakely, Estrelinha, eu consigo tudo — ele diz,
simplesmente. — Estamos um pouco atrasados, mas eu pedi ao Chris para
cantar uma música em específico apenas quando chegássemos — declara, e
saímos do carro.
Estamos andando pelos corredores do estádio e subimos uma
escada, eu ainda estou sem acreditar no que ele me diz.
— Que Chris?
— Que outro Chris do Coldplay você conhece?
— Você conhece o Chris Martin? — pergunto, chocada.
O que me choca ainda mais, é a reação de Hunter, ao dar de ombros.
Tão logo estamos na lateral do palco, minha pulseira, assim como a
de Hunter, acende a luz amarela, então ele dá um tchauzinho para o cantor
da banda inglesa, e em seguida, me abraça por trás, quando Coldplay
começa a tocar Yellow.
— Olhe para as estrelas, olhe como elas brilham para você... E
para tudo o que você faz — Hunter canta baixinho no pé do meu ouvido,
então eu me toco que a música que ele pediu para ser tocada, era essa.
— Por que Yellow? — pergunto, atônita.
— Curiosidade aleatória — Hunter diz, se desfazendo do abraço. —
Na noite em que você adormeceu nos meus braços, logo após vomitar aos
meus pés, essa música tocava no andar de baixo, e desde então ela nunca
saiu da minha cabeça.
— Você está falando sério?
— Como nunca antes, e é isso que me faz chamar o destino de um
grande filho da mãe várias vezes. — Hunter ri, colocando as mãos nos
bolsos do moletom que usa.
O mesmo que usava no dia em que parou em cima de uma poça de
água e me molhou inteira, mas dessa vez, ele não mantém as mãos lá, e sim,
as tira, carregando um papel e uma corrente.
— O que é isso? — inquiro, carregada de curiosidade.
— Isso. — Ele mostra a corrente de prata, que na realidade é um
colar, com vários pingentes de estrelas, que casam perfeitamente com a
minha pulseira, que um dia foi da sua mãe. Portanto, assim que a vejo,
empalideço, lembrando da história de como ela havia sido pedida em
casamento, porém logo Hunter se explica. — Ainda não é um pedido de
casamento.
Isso faz com que o sangue volte ao meu rosto, só que não por
completo, porque ele continua:
— Mas um pedido para que você venha morar comigo — diz,
abrindo o fecho. — Eu tenho uma vida bastante agitada, graças ao trabalho,
e você está focada na ampliação do Happie, então no final dos nossos dias
cansativos e caóticos, eu quero te abraçar, alisar seu rosto, fazer carinho no
seu cabelo, dormir e acordar ao seu lado, e por isso te peço para vir morar
comigo — finaliza, passando a corrente por meu pescoço e a fechando.
Levo meus dedos até os pingentes, analisando-os, e em um sorriso,
decido respondê-lo, contudo Hunter me corta, mostrando o papel em suas
mãos.
— E isso — ele aponta ao abrir a folha — é a garantia da promessa
que fiz quando fomos à Grécia.
Pegando o papel de suas mãos, leio as informações, e minha boca se
abre instantaneamente.
— É uma casa em Santorini? Você é doido? — pergunto, chocada.
— Não — nega. — Apenas cumpro minhas promessas, e aqui vai
mais uma: eu vou me casar com você, Georgia, não agora, mas eu vou. Nós
vamos ter vários pirralhos, alguns serão desastrados iguais a mãe, e outros
terão o ego nas alturas iguaizinhos ao pai, talvez tenha um que puxe aos
dois, com um plus de impulsividade. Mas o fato é que vai ter um dia em
que eu irei me aposentar dessa vida louca também, nós não precisamos
morar lá. — Ele dá de ombros. — Mas quem sabe poderemos passar nossas
férias lá todos os anos. Então eu pergunto, se hoje, você quer morar comigo,
e quem sabe daqui uns anos, casar comigo?
— Sim — digo, pulando em seus braços. — Sim, sim, sim. — Beijo
seu rosto várias vezes. — Mil vezes sim, eu moro com você, eu moro com
você e tenho vários pirralhos impulsivos com o ego maior que o Central
Park, e eu aceito ter minhas malas extraviadas mais um milhão de vezes
para passar todas as nossas férias na Grécia, e até topo bater em alguns
assaltantes por lá.
— Com uma bolsinha e tudo?!
— Com uma bolsinha e tudo.
Hunter e Georgia se casaram dois anos depois, Hunter levou
Georgia para mais uns vinte shows do Coldplay, assim como também
acabou comprando vários quadros, esculturas e qualquer coisa que Georgia
batesse os olhos ao longo dos anos, e é óbvio que ela brigou com ele
quando ele faz um cheque de quase um milhão de dólares, apenas porque a
filha deles, oito anos depois, disse que um quadro de um metro todo rosa,
era a coisa mais linda que já tinha visto na vida.
O Happie acabou virando uma franquia, conhecida por suas tortas
em toda a Costa Leste, Hunter também ganhou mais alguns prêmios de
MVP e óbvio que dedicou todos eles à sua Estrelinha. Toda a família vai
para Santorini todos os anos, onde passam, pelo menos, uma semana na ilha
mediterrânea.
Nos dias de Ação de Graças, Ayla continua tomando laxante para
conseguir comer muito, e claro, ainda solta algumas coisas desnecessárias e
vive da sua arte.

FIM.
Se eu chegar nesses agradecimentos dizendo que sei o que estou
fazendo, eu vou estar mentindo.
Mas vamos lá, como sempre, por partes...
Primeiro gostaria de agradecer a Georgia e Hunter, que foram tão
vívidos na minha mente que eles simplesmente tomaram de conta dela por
uma noite inteira, eu acredito na realidade que eles quiseram me dizer
estava tudo bem em fugir um pouco do drama, eles foram meu refúgio
quando eu não sabia o que fazer.
Para quem leu Além Do Que Vemos e Além Da Mentira, sabe de
toda a carga emocional que esses livros trouxeram, e eu havia me
encontrado esgotada quando uma garota de cabelos cacheados e impulsiva
apareceu vomitando nos pés de um atleta. E eu juro, eles tinham tudo para
dar errado, tudo mesmo. Faltando apenas doze dias para o lançamento eu
entrei em total desespero, sem saber o que fazer, e o Hunter com o jeitinho
dele de se achar o gostosão me mostrou que a gente iria conseguir, e olha, a
gente conseguiu, viu?!
Queria agradecer também as minhas amigas que quando eu disse
“gente, eu vou ter que pausar a série para escrever esse livro”, me apoiaram.
Em especial, à Maria Isabel, que quando eu disse a ela o plot, ela disse
apenas “escreve”, se não fosse por ela, talvez eles tivessem entrado
naqueles projetos que a gente guarda na gaveta e apenas esquece de um dia
escrever, mas amiga, você foi essencial para eles, muito obrigada por tudo o
que você é, e fez por nós três.
Também quero agradecer ao restante das que sobraram, Brooke,
Emy, Bea, Geo e Clary (Bel também tá aqui), por serem um refúgio nesses
últimos dias, que mesmo diante de tanta coisa que veio acontecendo com a
gente nós conseguimos apoiar umas as outras, e acabamos rindo quando no
momento seria mais propício um choro. Vocês têm ressignificado a amizade
para mim, mostrando que não precisa estar perto para haver conexão, amo
vocês e amo nosso grupinho cheio de TDAH.
Óbvio que não posso esquecer das minhas betas (Bel também esteve
aqui), Priscila, que está comigo desde o início de tudo, inclusive por ter me
apoiado quando tudo o que ela queria era um livrinho do casal fav dela, mas
descansa amiga, porque agora é sério, eles estão vindo! Maria Eduarda
também, que foi uma das melhores pessoas que eu conheci nesse meio
literário durante uma parceria, e que eu já levo para a vida, mesmo com
tantos quilômetros separando a gente, nos mantemos conectadas todos os
dias, além de que, você também foi uma das primeiras a me apoiar nesse
projeto. Rafaela por a cada quatro capítulos enviados, surtar ao ponto de
mandar quarenta áudios cada um com mais de um minuto, você foi
essencial nessa caminhada. E a Carol, que em um dado momento jurou que
eu estava ignorando-a, quando na realidade era tudo culpa do celular, foram
quase cem áudios em uma noite só, e eu amei cada surtinho seu, só precisa
parar de me pedir tanto livro de secundário. Amo todas vocês meninas.
Claro que não pode faltar a minha família, meus pais e minha filha
por toda a paciência que tiveram comigo durante esses meses de escrita, e
dessa vez um agradecimento especial ao meu irmão, que vive tantas
aventuras nesse mundo afora, que me trouxe a ideia da cena em que a
Georgia bate com a bolsinha no assaltante.
Mas de todos, principalmente a minha mãe, por todo o suporte que
me deu, mais ainda nos últimos dias de escrita, quando eu ia dormir 6h da
manhã e acordava às 10h, para conseguir conciliar a escrita com minha vida
pessoal, você esteve do meu lado, segurou minha mão e disse que não tinha
problema eu ir com calma.
Café e Monster, vocês foram meus aliados nessas últimas semanas,
e vocês têm um lugarzinho guardado no meu coração para sempre, ainda
mais por ter feito ele acelerar como nunca antes. Que susto, viu?!
À Ana Paula, que além de leitura crítica também é amiga, que
mesmo dizendo “vai escrever Vitória”, faltando menos de quinze dias para
o lançamento, mandava eu ir com calma que tudo ia dar certo, e deu. Ainda
bem.
As minhas revisoras, Camille, a tóxica, bomba radioativa, se tudo o
que me tornei da radioatividade é graças a você ruivinha. E Ste, que
conseguiu me entregar tudo em tempo recorde e ainda me ajudar em alguns
pontos soltos que nem mesmo havia notado.
E por último, e mais importante, a você, leitor, que esteve aqui,
podendo ler tantos livros por aí, me deu a chance de mostrar o potencial de
Hunter e Georgia, e deixá-los conquistar seu coração, e falando em leitor,
um agradecimento especial também ao meu grupo, que quando eu cogitei
desistir do lançamento, e estava prestes a abaixar minha cabeça, vocês me
levantaram e me animaram. Vocês são tudo na minha vida, apesar de eu
atacar a ansiedade de vocês pelo menos uma vez no dia, saiba que eu amo
vocês demais!!!! E agora posso dizer com propriedade que: Allie e Grey
vem aí! Podem comemorar meninas, esse momento é de vocês.
Obs: Por favor, não me peçam livros de secundários, já basta o tanto
que eu estou me auto gatilhando para escrever um livrinho de Ezra e Zoe,
Deus tenha piedade de mim.
Enfim, foi um prazer trazer Estrelas Alinhadas para vocês, e te
aguardo no meu próximo livro, até mais.
Com muito, muito, muito amor mesmo, e um pouquinho de dislexia
com TDAH, Vit <3
Vai sair assim sem nem pagar a coca? Não esquece de deixar sua avaliação,
ela é muito importante para mim, e também para que outras pessoas possam
conhecer meu trabalho.

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[1]
Moussaka é uma das comidas gregas mais conhecidas. Ela é feita com camadas de carne picada (normalmente cordeiro) e
berinjela com molho bechamel.

[1]
Grupo de Faculdades mais prestigiadas dos Estados Unidos, formado por: Brown, Columbia,
Cornell, Dartmouth, Harvard, Universidade da Pensilvânia, Princeton e Yale.
[2]
A Wall Street é uma rua que corre na região inferior de Manhattan, e é considerada o coração
histórico do atual Distrito Financeiro da cidade de Nova Iorque, onde se localiza a bolsa de valores
de Nova Iorque.
[3]
A NBA elege, desde a temporada de 1955-56, o jogador mais valioso da temporada. MVP - Most
Valuable Player - Jogador Mais Valioso.
[4]
O All-Star Game da National Basketball Association é um jogo de exibição de basquete, realizado
todo mês de fevereiro pela National Basketball Association e exibe 24 dos melhores jogadores da
liga. É o evento principal do NBA All-Star Weekend, um evento de três dias, que vai de sexta a
domingo.

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