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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO I

MARIA FERNANDA FEMINELLA CAMPOS

Síntese da obra: - DIDI-HUBERMAN, Georges. “I. Disparates: Ler o que nunca foi
escrito”. Atlas ou a Gaia Ciência Inquieta. Lisboa: KKYM, 2013, p. 1-70.

A obra intitulada Altas ou Gaia Ciência Inquieta escrita por Georges Didi
Huberman está dividida em três partes: Disparates, Atlas e Desastres. Ao iniciar o livro,
o autor apresenta seu catálogo de imagens em que organizou no Centro de Arte Reina
Sofía, em Madri. Para o autor, um Atlas não é lido como um romance, um livro de história
ou uma dissertação de filosofia. Um Atlas é lido de forma amiúde, isto, repetidas vezes.
A leitura e o uso de um atlas acontecem por dois motivos: objetivo ou divagação, pois ao
abrir um Atlas, facilmente o “leitor” o abandona depois de obter a informação que
procurava ou pode abri-lo sem uma intenção precisa.
Em primeiro momento um Atlas pode ser visto como utilitário e inofensivo,
contudo, para Huberman o atlas “(...) é uma forma visual do saber, uma forma sábia do
ver” (DIDI-HUBERMAN, 2013, p. 11). Ao longo do texto, o autor compara um atlas
como uma mina explosiva construída por uma estética e saber e, por isso, ele diz que um
atlas é uma “forma sábia do ver” e uma “forma visual do saber”. Logo, com essa junção
entre a estética e o saber, o atlas pode ser considerado “livre”, sem limites, sem certezas
pré-estabelecidas pela ciência. Contudo, como educar esse olhar sabiamente?
Segundo o autor, para se ver uma imagem é necessário evocar a imaginação.
[...] a imaginação, por mais desconcertante que seja, nada tem a ver com
uma fantasia pessoal ou gratuita. Pelo contrário, concede-nos um
conhecimento transversal, graças ao seu poder intrínseco de montagem,
que consiste em descobrir [...] vínculos que a observação direta é
incapaz de discernir. (DIDI-HUBERMAN, 2013, p. 13).
Com e a partir da imaginação, é possível adquirir um conhecimento transversal,
conhecimento que seria possível adquiri-lo por meio da observação direta. Além disso,
por meio da imaginação é permissível criar um novo mundo, novas interpretações, novas
formas de ver e entender o que se vê. Assim, é possível compreender que um Atlas é uma
ferramenta de possibilidades que não foram experimentadas. Segundo HUBERMAN
(2013, p. 35), “as imagens conferem uma figura, não apenas às coisas e aos espaços, mas
também aos tempos: as imagens configuram os tempos da memória e, ao mesmo tempo,
do desejo”. Além disso, o atlas diz respeito a uma “leitura antes de tudo”, ou seja, é
contemplativa, e uma “leitura depois de tudo”, isto é, pela extrapolação de seus limites.
Ao longo do texto, o autor também aborda sobre o anacronismo nas imagens. Isto
é, ao estar diante de uma imagem, mesmo que ela seja muito antiga, o tempo do presente
se faz presente. De igual modo, ao olhar uma imagem de tempo do presente, o tempo do
passado também se configura. Assim, é possível perceber que a construção e interpretação
da imagem também está associada à memória. Assim, o atlas permite que o “leitor”
transite pelo tempo. Segundo Huberman (2013, p. 41), as imagens não são somente para
ver as coisas que são apresentadas, são também para “(...) entrever e prever coisas que
ainda nos escapam” e assim vai sendo possível ler aquilo que nunca foi escrito, por meio
da imaginação, do desejo, da memória e também de tudo aquilo que nos escapam.

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