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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO I

MARIA FERNANDA FEMINELLA CAMPOS

Síntese da obra: KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científica, 2013.


Capítulos 05 ao 09.

Ao iniciar o capítulo intitulado A anomalia e a emergência das descobertas


científicas, Kuhn diz que a ciência está dividida em três fases, sendo elas: o período pré-
científico, a ciência normal e a ciência revolucionária que decorre da revolução científica.
Contudo, antes de sintetizar as ideias principais do autor, se faz necessário apresentar
alguns conceitos essenciais para o entendimento. Para Kuhn, a anomalia é um problema
ou enigma teórico ou prático que surge e não se consegue ser resolvido por meio da
ciência em vigor. Paradigma se trata de realizações científicas universalmente
reconhecidas, que durante algum tempo, forneceram e forneceram soluções para uma
comunidade praticamente de uma determinada ciência. Para ele, a revolução científica
acontece por meio da construção de novos paradigmas.

Então, segundo o autor, a ciência revolucionária emerge de uma crise que é


estabelecida pelo surgimento de anomalias. Ou seja, quando há um problema detectado
pela comunidade científica que não consegue ser solucionado com o paradigma em vigor,
uma crise se estabelece. Estabelecida a crise de impossibilidade de resolução com o
paradigma atual, um novo paradigma precisa ser apresentado para que o problema seja
solucionado. Aceito o novo paradigma, uma nova revolução científica surge. Segundo o
autor, as anomalias geram uma espécie de crise na ciência, pois o paradigma vigente não
é mais capaz de explicar ou solucionar um determinado problema. Essa tentativa, na
maioria das vezes desesperada de solucionar o problema, Kuhn intitula de quebra-cabeça.
Caso não se encontre uma explicação plausível e se esgotam todas as possibilidades da
resolução dos problemas encontrados, esta crise pode culminar numa ruptura com o
modelo ou paradigma aceito, afetando a ciência e toda uma produção acadêmica. Para o
autor, ao passo que aparece uma crise que não consegue ser solucionada com o paradigma
em voga, é necessário assumir um novo paradigma e com isso:
“(...) a emergência de novas teorias é geralmente precedida por um
período de insegurança profissional pronunciada, pois exige a
destruição em larga escala de paradigmas e grandes alterações no
problemas e técnicas da ciência normal” (KUHN, 1962, p. 95).

Portanto, essa mudança caracteriza-se por aquilo que Kuhn denomina transição
paradigmática de revolução científica. Assim, enquanto alguns cientistas migram para o
novo paradigma, outros resistem a essa mudança, o que gera um abalo na comunidade
científica, mas possibilita o desenvolvimento científico. Estabelecida uma crise, é
necessário um novo paradigma, como já dito, mas de acordo com Kuhn, não se deve
rejeitar um paradigma sem substituí-lo por outro, pois se assim ocorrer, é uma rejeição à
própria ciência, isto significa que a importância maior não é pelo novo paradigma, mas
pela solução do problema. Sobre as crises, o autor ainda diz que elas podem terminar de
três maneiras distintas: em primeiro lugar a ciência normal pode solucionar o problema;
em segundo lugar o problema pode persistir até os cientistas considerarem que não há
mais solução e deixar de lado para uma futura geração; e em terceiro lugar a crise pode
ser finalizada com a criação e aceitação de um novo paradigma. Apesar disso,
compreende-se que as crises são necessárias para emergência de novas teorias.

É importante destacar que para o autor nenhuma descoberta é realizada de forma


isolada, pois ela é fruto de episódios prolongados de uma estrutura que reaparece de forma
regulada, por isso, cíclica. Em outras palavras, o autor diz que uma “descoberta” depende
de um conhecimento prévio de estudos e “descobertas” realizadas anteriormente ao novo
paradigma que se é apresentado. Ao longo do capítulo o autor aborda sobre a descoberta
do Oxigênio, para defender que as descobertas não são eventos isolados. Segundo o autor,
por volta de 1770, três pessoas podem ter descoberto o Oxigênio, sendo elas o
farmacêutico sueco C. W. Scheele, o cientista e clérigo britânico Joseph Priestley e
Lavoisier. Ou seja, para se adquirir a “nova descoberta" do Oxigênio, foi necessário
considerar o trabalho realizado anteriormente à descoberta oficial, visto que um novo
fenômeno é um acontecimento complexo e cíclico.

No capítulo A natureza e a necessidade das revoluções científicas, o autor trata


sobre o que são revoluções científicas e a sua função no desenvolvimento da ciência. Para
ele, as revoluções científicas ocorrem de maneira parecida com as revoluções políticas.
Um grupo apresenta novos paradigmas, pois os atuais já não estão em pleno
funcionamento, e com isso estabelece uma polarização. Ao longo do capítulo o autor
deixa claro que o firmamento de um paradigma também está vinculado à manifestação de
poder, pois para que um novo paradigma se estabeleça é necessário argumentar em favor
do mesmo, ou seja, um jogo de disputa. Segundo Kuhn (1962, p. 127):

Para descobrir como as revoluções científicas são produzidas, teremos,


portanto, que examinar não apenas o impacto da natureza e da lógica,
mas igualmente as técnicas de argumentação persuasiva que são
eficazes no interior dos grupos muito especiais que constituem a
comunidade dos cientistas.

Assim sendo, além do novo paradigma possuir maior valor ou força que o anterior,
em outras palavras, ainda que o novo paradigma seja capaz de resolver uma anomalia que
não poderia ser resolvida com o paradigma em vigor, é necessária uma aceitação da
comunidade científica por meio da argumentação, explicação e persuasão por quem
apresenta o novo paradigma.

No capítulo As Revoluções como Mudanças de Concepção de Mundo, Kuhn


afirma que uma nova concepção de mundo modifica a visão científica, pois “em períodos
de revolução, quando a tradição científica normal muda, a percepção que o cientista tem
de seu meio ambiente deve ser reeducada”. (KUHN, 1962, p. 146). Isso acontece, pois,
a partir de um novo paradigma, a percepção e produção de ciência também precisa ser
transformada para que o novo paradigma seja de fato aceito. Contudo, isso não significa
que o anterior será esquecido, ele só continuará sendo incapaz de resolver aquela
determinada anomalia que gerou uma crise. O autor deixa claro que há uma necessidade
pelas revoluções científicas acontecerem para que os novos paradigmas resolvam
problemas que as ciências em voga não seriam capazes de resolver e para que haja
desenvolvimento da ciência. Em suma, Kuhn apresenta um esquema analítico que aborda
a evolução das ciências como uma sucessão de períodos orientados pela “ciência normal”,
mas que são interrompidos por algumas “revoluções científicas” que apresentam novos
paradigmas, ou sejas, mudanças e como essas mudanças e revoluções impactam a
comunidade científica.

Referências:

KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2013,
p. 127-230.

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