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Thomas Kuhn

Tal como Karl Popper, Thomas Kunh também aborda o problema da racionalidade
científica perante uma perspetiva crítica em relação à concessão clássica da ciência, que
defende que é a partir de observações particulares, que chegamos a uma teoria ou a uma lei
geral.
No entanto, Kunh aborda este problema de uma forma completamente diferente da
de Karl Popper. Para Thomas Kunh o cientista é um conservador, ou seja, tenta manter as
mesmas teorias, leis, etc (o paradigma) no maior tempo possível, mesmo que seja evidente
que estejam ultrapassadas e imprecisas. Além disso, ao contrário de Popper, considera que a
ciência não progride linearmente através de renovações de teorias, onde a nova contenha
parte da anterior, mas sim a partir de revoluções.

Mas afinal o que é o paradigma? Thomas Kuhn define o paradigma como um conjunto
de crenças, princípios e metodologias partilhadas pela comunidade científica, que está na base
de toda a investigação. Ou seja, um paradigma consiste no conjunto de juízos nos quais os
cientistas se suportam para solucionar os problemas existentes. Ora estes juízos, sejam eles
leis, teorias ou regras, são válidos durante o máximo tempo possível.
Temos o exemplo do modelo geocêntrico que nos ajuda a entender esta ideia: quando
houve a mudança do modelo geocêntrico para o modelo heliocêntrico, existiu uma revolução
enorme, visto que o novo paradigma ofereceu uma nova forma de ver e encarar a realidade.
No século XVI aquilo que se sabia era considerado a verdade doutrina. No entanto, depois de
se confirmar o modelo heliocêntrico, começa a existir uma valorização pela observação, o que
também está associado com a evolução dos instrumentos. Foi através de instrumentos como
os telescópios que foi possível observar e concluir o novo modelo astronómico.
Ou seja, com a mudança do paradigma existiu uma revolução total da forma de ver as
coisas. O novo paradigma além de contem teorias, leis, regras, etc, também confere
importância a nível prático, com os novos instrumentos, metodologias e capacidades.
Como podemos ver, o paradigma engloba um grupo de ideias subjetivas, mas também
algumas ideias do senso comum. Há permanentemente fatores fora da ciência que contribuem
no paradigma, como a sociedade e a política. Aqui está outra diferença entre Karl Popper, que
considera o cientista objetivo, com Thomas Kuhn, que defende que o paradigma tem
influência em fatores irracionais.

Para Kuhn, o desenvolvimento da ciência está dividido em três partes:


- o período da ciência normal;
- a crise;
- o período da ciência extraordinária.

A ciência normal é predominante na epistemologia de Kuhn, e é feita através do


paradigma. Esta ciência consiste em resolver pequenos problemas, ou seja, enigmas, onde que
as ideias, dados, teorias, instrumentos, que estão presentes no paradigma atual são suficientes
para o resolver. Neste caso não existe uma grande atividade crítica, visto que o paradigma
apresenta respostas, consideradas credíveis, para a obtenção de resultados.
No entanto, chega a um ponto onde o paradigma não consiga resolver determinado
enigma através do conteúdo presente no paradigma. Chamamos de anomalia aos enigmas que
não são possíveis de resolver a partir do paradigma.
O espírito do cientista para Kuhn, como já tinha falado, é conservador, ou seja,
pretende manter o atual paradigma o máximo de tempo possível e resolver os enigmas
suscitados sem alterá-lo. No entanto, quando o paradigma apresenta anomalias frequentes
fruto da incapacidade constante de dar resposta a problemas importantes, a ciência entre em
crise.
Porém, a crise não só depende da quantidade das anomalias, mas também da
qualidade delas. Por exemplo: se tivermos 5 ou 6 anomalias não urgentes, a ciência não entra
em crise, no entanto, se existir apenas uma anomalia, e ela for grave e inevitável, já é
suficiente para se perder a confiança no paradigma, por parte de alguns cientistas, e desta
forma, a ciência entrar em crise.
Na epistemologia de Kuhn, o trabalho do cientista é feito em grupo e se não houver
sintonia entre os cientistas, é impossível se fazer ciência. Ou seja, a crise caracteriza-se pela
divisão e falta de consenso entre a comunidade científica, onde uns apoiam a instauração de
um novo paradigma e outros defendem os propósitos do paradigma atual.
Daqui se parte para o período da ciência extraordinária. A ciência extraordinária é feita
após a existência de uma crise científica, quando se tenta criar um paradigma novo que
consiga resolver as anomalias causadas pelo paradigma antigo. A ciência extraordinária é um
RESET, ou seja, é um começar tudo de novo. Desta forma, vamos ter um paradigma começado
do 0, com uma nova estrutura, leis, regras e métodos novos. Embora possam existir fios
condutores que, de certa forma, influenciem no novo paradigma, a base da estruturação é
toda diferente.
É de realçar que quando se faz ciência extraordinária, não se deixa de fazer ciência
normal. Isto acontece, porque era impossível ficarmos sem regras e leis, durante muito tempo.
Se isso acontecesse, ficaríamos no caos completo.
Quando os cientistas extraordinários concluem um novo paradigma, tentam substituí-
lo pelo velho, e desta forma causar uma revolução científica, tal como a da substituição do
modelo geocêntrico para o modelo heliocêntrico. No entanto esta revolução só acontece com
2 critérios:
- o novo paradigma conseguir resolver os problemas que o velho não conseguia e que
causaram a crise científica;
- o novo paradigma conseguir resolver os mesmos problemas que o velho também
conseguia.
Ou seja, só se muda de paradigma quando se tiver a certeza que se muda para melhor!
O novo paradigma, além de resolver os problemas que o velho não conseguia, também tem de
resolver os outros diversos problemas que o velho também conseguia. Caso contrário
estaríamos a mudar para um paradigma com tantas ou mais anomalias que o anterior.

Será que Kuhn considera que, ao mudar de paradigma, aproximamos-mos da verdade?


A resposta é não. Para ele cada paradigma é um recomeço do 0 que apenas se
preocupa em responder a problemas que os anteriores não conseguiam e é impossível saber
se está mais próximo da verdade ou não.
O cientista apenas se limita a responder aos problemas, não quer dizer que ao fazê-lo
se aproxime da verdade – Não podemos comparar os paradigmas entre si. É muito comum
misturar utilidade e progresso, mas estas duas ideias são bem diferentes – O paradigma
apenas funciona melhor naquele momento.
Por exemplo: na criação de vacinas o que interessa é a eficácia delas, mesmo que se
comprometam algumas verdades.
Esta ideia de Kuhn do progresso da verdade afasta-se da ideia de Popper, já que para
Popper que cada vez que sabemos mais, mais próximos da verdade estamos.
Kuhn, ao afirmar que os paradigmas não podem ser comparados, ou seja, são
incomensuráveis, defende que não é possível garantir progresso científico em busca da
verdade.
No entanto, apesar de considerar que não existe uma aproximação à verdade,
concorda que existe um progresso científico na ciência normal, na medida que se consegue
resolver mais enigmas, etc.

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