Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

DISCENTE: PEDRO REZENDE SANTOS FEITOZA


DISCIPLINA: PPGE0100 - FILOSOFIA DAS CIÊNCIAS

FICHA REGISTRO 03

Tema: Rupturas e Revoluções. O pensamento de Thomas Kuhn.

Data: Atividades:

02/03/2021 Leitura do(s) texto(s):

1. FERREIRA, J. M. H. e MARTINS, A. F. P. Disciplina História e


Filosofia da Ciência. Aula 11.

2. OSTERMANN, F. A epistemologia de Kuhn (artigo do CCEF)

3. KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas (cap. 2)

Conteúdo

Em “A Estrutura das Revoluções Científicas”, Kuhn faz uma análise do conhecimento


científico fundamentado, muitas vezes, em passagens da História da Ciência. Ele
defende que o desenvolvimento da ciência não se dá de uma forma linear, contínua e
cumulativa (embora não tenha sido o primeiro filósofo a propor algo desse tipo). Isso
significa que a construção do conhecimento científico não se assemelha à de um
edifício, onde, “tijolo por tijolo”, o trabalho de uma geração é simplesmente
acrescentado ao da anterior. O “desenho mágico” da ciência emerge de um processo
em que há lugar para rupturas, crises e revoluções.

Para compreendermos como essa visão é possível, devemos, antes, voltar nossos olhos
para o trabalho cotidiano e para a educação dos cientistas. Esses, durante toda ou a
maior parte de seu tempo, trabalham no que Kuhn denomina de ciência normal, uma
atividade que não visa produzir novidades inesperadas. Ao contrário, a prática da
ciência normal visa “articular” o conjunto de teorias, modelos e representações
compartilhados pelos cientistas e que constituem sua particular “visão de mundo”. Esse
conjunto de conhecimentos teóricos, equipamentos, técnicas, metodologias etc.
compõe o que o autor chama de paradigma, um conceito fundamental em seu trabalho
e estreitamente vinculado à ciência normal. É justamente a aceitação de um paradigma,
por um determinado grupo de praticantes da ciência, que permite o desenvolvimento
da ciência normal.

O paradigma norteador do trabalho do cientista normal é, antes de tudo, uma promessa:


a prática da ciência normal representa a atualização dessa promessa. Kuhn denomina
isso de articulação do paradigma, que se dá tanto no nível teórico quanto experimental.
A própria determinação de quais são os fenômenos passíveis de investigação (sendo,
portanto, “científicos”), bem como a metodologia válida para a pesquisa, fazem parte
desse amplo processo.

O cientista kuhniano, nesse sentido, pode ser visto como um conservador: em seu
laboratório, ele trabalha não para refutar, mas para confirmar o paradigma. Ao resolver
quebra-cabeças e articular o paradigma, o cientista não está em busca de algo realmente
“novo”, no sentido de mudanças radicais em sua visão de mundo.

Como é possível, então, que uma atividade como a ciência normal gere novidades?
Segundo Kuhn, a prática orientada por um paradigma produz, de tempos em tempos,
anomalias, que representam pontos onde a aplicação do paradigma apresentou
problemas. As anomalias podem levar a descobertas e invenções que acabam por ser
incorporadas ao paradigma.

Não há razões objetivas que permitam estabelecer quando ou de que modo uma
anomalia irá gerar uma crise. Entretanto, uma vez estabelecida, a crise pode encerrar-
se de três maneiras, segundo Kuhn (1987): 1ª) a ciência normal acaba mostrando-se
capaz de resolver o problema; 2ª) o problema é abandonado para ser resolvido por
gerações futuras que disponham de equipamentos mais sofisticados; ou 3ª) por meio de
uma revolução científica, com a emergência de um novo candidato a paradigma e uma
batalha para sua aceitação. A revolução científica está longe de ser, para o autor, um
processo de natureza cumulativa. Trata-se de uma transição entre o velho paradigma
(em crise) e um novo, o que envolve, essencialmente, uma ruptura, com uma
transformação radical da visão de mundo dos cientistas, de seus métodos e objetivos.

Seria possível, no entanto, estabelecer critérios neutros capazes de levar um grupo de


cientistas a decidir-se por um ou outro paradigma? Como procedem os cientistas diante
de teorias rivais? Para Kuhn, a escolha entre paradigmas, nos momentos de crise,
coloca questões que não podem ser resolvidas por quaisquer critérios da ciência normal.
Os debates entre paradigmas assemelham-se, frequentemente, a um “diálogo de
surdos”, que evidencia a ruptura que está por vir, e justifica o termo “revolução”.

A adesão a um paradigma, assim como a própria prática da ciência normal que dele
decorre, embora sejam, por um lado, processos individuais, são, por outro, também
coletivos, pois ocorrem no seio de uma comunidade científica. É esse grupo de
profissionais que, de modo bastante esotérico, é capaz de abraçar um paradigma em
detrimento de outro e resolver os quebra-cabeças da ciência normal. É em seu interior
que ocorrem as revoluções.

Resultado final do estudo

A primeira vez que tive contato com a obra de “A estrutura das revoluções científicas” de
Thomas Kuhn foi durante o mestrado, nas discussões ocorridas na disciplina de metodologia
científica. Na época, as teses de Kuhn tiveram pouco efeito sobre minha compreensão de
pesquisa científica justamente por eu ainda ter pouco acúmulo no debate metodológico da
ciência. No entanto, ao ter contado agora com a obra, ao refletir acerca das inúmeras leituras
que já realizei no âmbito das ciências sociais, o impacto foi muito mais significativo.
Compreender a dinâmica de revoluções científicas descrita pelo autor permite pensar tanto
a minha posição enquanto pesquisador como a posição da minha pesquisa perante a
comunidade científica em geral. De que forma as teses de Kuhn classificaria a proposta de
pesquisa que atualmente estou me dedicando? Faria parte da chamada “ciência normal”, na
perspectiva de se enquadrar dentro de um paradigma já estabelecido e com objetivos de
articular e desdobrar tal paradigma, ou a pesquisa poderia ser vista como uma pesquisa
“extraordinária” que poderia ter o potencial de revolucionar os paradigmas das ciências da
educação?
No que pese a importância de colocar esse questionamento a mim mesmo face as minhas
pretensões de pesquisa, acredito que minha pesquisa seria compreendida como dentro da
“ciência normal” e teria como objetivo desdobrar investigações relacionadas diretamente a
um paradigma já estabelecido nas últimas décadas, qual seja, de pensar a educação dentro
da “sociedade de controle”, paradigma que veio a superar o antigo paradigma da “sociedade
disciplinar”. Nesse sentido, acredito que os resultados da minha pesquisa venha a detalhar e
precisar ainda mais o que compreendemos por “sociedade de controle” e suas repercussões
na educação.
Por fim, mesmo que o termo “ciência normal” pareça ser depreciativo da atividade de
pesquisa em âmbito doutoral, as teses de Kuhn deixam nítido que importantes contribuições
advém justamente desse tipo de pesquisa, essencial para o progresso da ciência.

Você também pode gostar