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FILOSOFIA - 11º ANO

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A Perspectiva da Actividade Científica de


Thomas Kuhn: Ciência Normal e Ciência Revolucionária

P
opper escreveu a sua obra maior A Lógica da Descoberta Científica em 1934.
Desde então Thomas Kuhn (1922–1996) (…) decidiu (…) que a melhor forma de
descobrir a natureza do método científico não é filosofar no nosso estúdio mas
antes observar e registar as actividades dos cientistas reais do passado e do presente.
§1 A observação dos cientistas e investigações em história da ciência, levaram Kuhn a
distinguir duas variedades diferentes de empresa científica, ciência normal e ciência
revolucionária.
§2 A ciência normal não constrói teorias novas, nem testa a adequação das mais antigas. A
ciência normal assume simplesmente que as teorias correntes são verdadeiras. Procede
determinando “factos conhecidos” ou “factos verdadeiros” com mais precisão, investigando
acontecimentos inexplicados com a mira de os encaixar na teoria corrente e resolvendo
pequenas ambiguidades teóricas. A metodologia da ciência normal é uma questão de forçar a
natureza em várias “caixas” teóricas correntemente aceites – por meios claros ou palavrório
viciado.
§3 Ocasionalmente, diz Kuhn, acontece uma revolução científica. Tais revoluções são
contudo extremamente raras, e ocorrem somente quando as teorias existentes se revelam serem
de facto bastante insatisfatórias. Durante um certo tempo, uma quantidade de teorias diferentes
(e de cientistas diferentes) podem competir, até um chegar a ser preferido aos outros. O triunfo
de uma teoria será devido a uma variedade de factores: a sua capacidade para explicar factos
recalcitrantes, a sua utilidade ao resolver problemas e fazer previsões precisas, e por último mas
não menos importante, a influência e o prestígio dos cientistas que a inventaram e apoiaram. O
prestígio científico de um indivíduo, diz Kuhn, é frequentemente assumido como sendo o
resultado e a prova de capacidade excepcional; mas de facto pode também ser devido a coisas
tais como ter amigos poderosos nos mundos dos negócios e da política. Pois para uma teoria ter
sucesso, o seu inventor precisa de ter acesso a dinheiro para investigações e uma posição
relativamente alta na hierarquia académica, tão bem como capacidade.
§4 Kuhn também tem alguns comentários a fazer acerca dos seus predecessores no
campo. Ele afirma que Hempel, Popper e os restantes descreveram mal o que os cientistas
fazem de facto. Diz que estes filósofos da ciência distintos foram acolhidos de maneira enganosa
pelos autores de manuais para estudantes.
§5 Os manuais escritos para os estudantes de ciência simplificam drasticamente. Suprimem
muitos factos históricos, particularmente aqueles que se julgam “confundirem a questão”. Eles
expõem as teorias correntes como se fossem a verdade final. E de uma maneira ou de outra
realçam sempre o mito de que a ciência está constantemente a progredir e constantemente a
ultrapassar as fraquezas e os fracassos das gerações anteriores.
§6 Os manuais de ciência nunca revelam o facto de que teorias mais antigas que ainda são
usadas (como as de Newton) contradizem frequentemente visões correntes. Em vez disso
descrevem incorrectamente estas teorias mais antigas como versões mais simples e mais
especializadas de teorias modernas. Teorias mais antigas aceites dizem-se serem consistentes
com teorias correntes mesmo quando não é esse o caso.
§7 Por outro lado, quando os cientistas modernos rejeitaram completamente uma teoria
anterior, então os manuais descreverão a teoria rejeitada como não-científica. Assim, nutrem
directamente a crença de que é impossível uma teoria científica ser falsa, e nutrem
indirectamente a crença de que os cientistas verdadeiros são em larga escala infalíveis.
§8 (…) Contudo, ele argumenta que os manuais têm de ser como são. As distorções que se
encontram no seu interior são necessárias para o treino dos jovens cientistas, cujas mentes têm
Bom trabalho!
O Professor: Vitor Matos
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de estar fechadas para teorias que no momento não são produtivas. Mas os manuais de ciência
não dizem a verdade acerca da história da ciência e são uma má base para a filosofia da ciência.
Jenny Teichman e Katherine Evans, Philosophy. A Beginner’s Guide. Trad. V. Matos London, Blackwell, 1996. (pp.165-167)

A Perspectiva Descontinuista de Kuhn

A
Estrutura das Revoluções Científicas de Thomas Kuhn (escrita em 1962
e revista em 1970) foi muito lida e discutida porque apresentava uma
visão da ciência muito diferente das que eram correntes entre os
cientistas e filósofos da ciência. As visões anteriores eram as de que a ciência é
cumulativa: os cientistas descobrem mais e mais verdades acerca do mundo. A
percepção de que isto é ingénuo, e de que às vezes os cientistas abandonam visões
anteriores como erradas, não alterou o optimismo básico: dizia-se que uma teoria
científica anterior apenas é abandonada para colocar em seu lugar uma teoria melhor.
§2 Tudo isto pareceu ameaçado por Kuhn, que lançou um olhar mais histórico e/ou
sociológico à ciência. Esses cientistas, em virtude da sua educação comum (ou antes,
iniciação dogmática) tomam todos como garantido um “paradigma”, uma maneira de
visualizar o mundo e de nele praticar ciência. Numa tentativa de forçar a natureza a
encaixar-se no seu paradigma, eles tentam solucionar enigmas definidos pelo
paradigma. Se um cientista soluciona um enigma, é felicitado e recompensado. Se um
cientista falhar em solucionar um enigma, é culpado e o enigma reservado para outros
cientistas, melhores. Assim, a “ciência normal”, que como o seu nome indica, é a
norma, é o solucionar de enigmas sob a égide de um paradigma inquestionado.
Contudo, todo o paradigma tem o seu dia. Os enigmas não solucionados acumulam-se;
os cientistas começam a perder a confiança no seu paradigma. A comunidade mergulha
num “estado de crise”, num período de “ciência extraordinária ou revolucionária”: já
nada é tomado como garantido, são propostos e analisados paradigmas alternativos. Um
destes irá solucionar um ou dois dos enigmas não resolvidos que o paradigma anterior
não conseguia solucionar. Vendo-o como promissor, mais e mais cientistas se irão
“converter” ao novo paradigma. Normalmente estes são os cientistas mais novos,
exemplificando o dito «não podes ensinar novos truques a um cão velho». Uma nova
geração de cientistas é ensinada a reconhecer as virtudes do novo paradigma; um novo
período de “ciência normal” começa.
§3 Será que a ciência progride através das revoluções científicas? Serão os novos
paradigmas melhores que os anteriores? Não, Kuhn sugere que eles são apenas
diferentes. As revoluções científicas que suplantam um paradigma por outro, não nos
levam mais perto da verdade acerca do modo como o mundo é. Os paradigmas
sucessivos são incomensuráveis. Kuhn diz que um paradigma posterior pode ser um
melhor instrumento para resolver enigmas do que um anterior. Mas se cada paradigma
define os seus próprios enigmas, o que para um paradigma é um enigma, pode não ser
enigma de todo para outro paradigma. Então porque é que será progresso substituir um
paradigma por outro que resolve enigmas que o paradigma anterior nem sequer
reconhecia?
Thomas Mantner (ed.) A Dictionary of Philosophy. Trad. V. Matos, London, Blackwell, 1996. (Pág.228)

Bom trabalho!
O Professor: Vitor Matos

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