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Material Teórico
Thomas Kuhn e as Transformações nos Paradigmas da Ciência
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Thomas Kuhn e as Transformações
nos Paradigmas da Ciência
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar uma síntese do pensamento de Thomas S. Kuhn acerca
da pesquisa científica, suas ideias acerca da dinâmica que conduz a
rupturas na maneira de pensar da ciência.
ORIENTAÇÕES
Nesta unidade, você conhecerá um pouco do pensamento do filósofo
Thomas Kuhn, físico de formação que acabou se debruçando sobre questões
que dizem respeito tanto à Filosofia como à História da Ciência. Sua busca
em compreender as revoluções científicas, ainda hoje, é uma referência no
debate que envolve o pensamento científico e o filosófico.
Contextualização
Leia o texto a seguir, que fornece um exemplo de controvérsias no campo
científico e o papel da própria comunidade científica:
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Thomas Kuhn e as Transformações
nos Paradigmas da Ciência
Karl Popper deixou aberta a porta que leva à discussão sobre o papel da
comunidade científica na validação ou confirmação de novas teorias. Como iremos
discorrer nesta unidade, essa porta de certa forma foi cruzada por Thomas Kuhn,
que ao fazê-lo inscreveu seu nome nas referências fundamentais da historiografia e
da filosofia da ciência moderna.
A tarefa que aqui se apresenta não irá “fechar” todas as possibilidades de uma
obra polêmica e rica como é o pensamento de Kuhn, mas sim circunscrever
aspectos entendidos como mais relevantes e em algumas ocasiões assinalar pontos
de contato/atrito com outras correntes de pensamento que operam com os mesmos
problemas, além de indicar pontos de comunicação que poderão vir a conectar
outros debates no futuro.
Isso nos traz de volta ao adágio célebre de se começar pelo início, embora, pelos
motivos expostos, venhamos a dar alguns “saltos” dentro do pensamento kuhniano,
o que impede uma progressão rigorosamente linear. Podemos, sim, iniciar pelo
começo; aliás, começaremos exatamente pelo início da obra que tornou Thomas
Kuhn célebre, a saber, A estrutura das revoluções científicas:
Se a história fosse vista como um repositório para algo mais do que
anedotas ou cronologias, poderia produzir uma transformação decisiva
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UNIDADE Thomas Kuhn e as Transformações nos Paradigmas da Ciência
E assim se inicia a introdução de sua famosa obra, introdução essa que ainda
traria um sugestivo subtítulo: “Um papel para a história”.
Para a melhor compreensão tanto do trecho citado como da linha de pensamento
– que apresentaremos ao longo da unidade – do próprio Thomas Kuhn, é importante
que destaquemos o papel dado por ele da análise histórica, como já mencionamos.
De certa forma, Kuhn atravessa uma porta que Popper tinha se limitado a abrir
sem, no entanto, cruzá-la: o papel da comunidade científica.
Mas, afinal, o que significa essa travessia? E o que Kuhn “encontrou do outro lado”?
Primeiramente, Popper ao dar relevo a essa temática – a comunidade científica
– introduziu a dimensão da intersubjetividade de uma forma mais contundente
naquilo que, segundo as aspirações neopositivistas, seria uma evidência lógica, do
próprio pensamento; em outros termos, segundo os neopositivistas, se seguidas
corretamente as etapas – ou o método científico - sempre chegaríamos a resultados
consensuais, pelo menos essas eram em grande parte as aspirações dos teóricos
do círculo de Viena. Uma vez seguido o “método científico” – lembremos que o
método tido como tal teria de ser o método das ciências naturais – os resultados
produzidos seriam inequívocos.
Popper começa uma insurgência contra essa dimensão de certeza ao propor um
constante “patrulhamento” da comunidade de cientistas, que deveria buscar sempre
novos testes, novas contraprovas para as teorias, evitando uma corroboração
precipitada, ou pelo menos apressada, de determinadas proposições. Aqueles que
se posicionam de forma mais alinhada com a abordagem de Kuhn ainda perceberão
como tímida a insurgência popperiana, afinal se há necessidade da confirmação
por parte de outros cientistas da descoberta feita por um membro da comunidade,
essa descoberta não é absolutamente evidente e/ou inequívoca, principalmente se
pressupormos que em vários casos a teoria pode não se confirmar.
A pergunta que se coloca: essa ausência de confirmação foi por limitações teóricas-
técnicas daquele pesquisador em particular? O fato de surgir uma nova explicação
para um fenômeno correlato ou mesmo um novo aparato (tecnologia) que permitiu
extrair dados que antes não eram acessíveis foi o único obstáculo para aquele
pesquisador cuja teoria fora rejeitada posteriormente? Considerando seus pontos de
saída em suas pesquisas, o ponto de chegada não poderia ser nenhum outro?
Se assumirmos as premissas anteriores do neopositivismo, a resposta seria que
se o pesquisador cumpriu corretamente as etapas do método, então há um ponto
de chegada “mais correto”; saindo do ponto A, o pesquisador é praticamente
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“empurrado” para atingir o resultado B.
A partir desse escopo, Kuhn se assume como muito mais historiador da ciência
do que filósofo da ciência, pois sua proposta busca se diferenciar de construções
idealizadas sobre os métodos de justificativa científica, incluso abrir caminho para
se investigar os elementos extrajustificacionais que estariam presentes no processo
(conf. OLIVA, 1994). Trata-se de uma leitura que não buscará nenhum cânone
metodológico que diga como a ciência deve evoluir, e mais, descrever como ela
evoluiu influenciada por fatores intra e extracientíficos.
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Por isso Kuhn separa o momento em que, segundo ele, uma ciência está na
condição de protociência, ainda lutando para estabelecer um eixo de entendimento,
um consenso inicial, sobre o objeto da própria ciência e o caminho para sua
investigação; é o momento posterior quando esse eixo se torna nítido.
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Figura 2 - Isaac Newton Figura 3 - Antoine Lavosier Figura 4 - Benjamim Franklin
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons
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Assim sendo, podemos retomar o trecho inicial com o qual abrimos essa unidade.
Ao se referir aos “manuais que a cada nova geração” cumpre tarefas pedagógicas
e persuasivas, Kuhn não está tomando partido pelo antididático, ou pelo relativismo
infantil que ao primeiro contato com a ideia de paradigma começa a gritar contra
todo conhecimento científico, acusando-o de tendencioso ou de falso.
Vamos recorrer a outro exemplo dado pelo próprio Kuhn oriundo da astronomia:
O descobrimento de Urano por Sir William Herschel [...] Em pelo menos
dezessete ocasiões diferentes, entre 1690 e 1781, diversos astrônomos,
inclusive vários dos mais eminentes observadores europeus, tinham visto
um estrela em posições que, hoje supomos, devem ter sido ocupadas
por Urano nessa época. Em 1769, um dos melhores observadores desse
grupo viu a estrela por quatro noites sucessivas, sem contudo perceber
o movimento que poderia ter sugerido uma outra identificação. Quando
doze anos mais tarde Herschel observou pela primeira vez mesmo objeto,
empregou um telescópio aperfeiçoado, de sua própria fabricação. Por
causa disso foi capaz de notar um tamanho aparente de disco que era,
no mínimo, incomum para estrelas. Algo estava errado; em vista disso
ele postergou a identificação até realizar um exame mais elaborado. Esse
exame revelou o movimento de Urano entre as estrela e por essa razão
Herschel anunciou que vira um novo cometa! Somente vários meses depois,
após várias tentativas infrutíferas para ajustar o movimento observado a
uma órbita de cometa, é que Lexell sugeriu que provavelmente se tratava
de uma órbita planetária. [...] (KUHN, 2011, p. 152).
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Para tirarmos um melhor proveito do exemplo dado pelo autor, devemos con-
siderar que a observação científica enquanto ato de ver não está isenta da visão
de mundo dominante; os conceitos prévios que o cientista carrega do paradig-
ma anterior muitas vezes torna-se obstáculo para uma visão distinta sobre o fe-
nômeno novo, a tal ponto de o “novo” não ser imediatamente reconhecido com
algo inédito, já que o esforço inicial é para enquadrar a “novidade” dentro das
classificações já conhecidas.
Para melhor nos posicionarmos nesse ponto, utilizaremos aquele velho conhecido
dos manuais de psicologia, que é o exemplo dos vaso/rostos:
Nesse contexto, o truque permitido pelo jogo ótico nos permite focar
alternadamente do fundo escuro (dois rostos se encarando) para o fundo claro (um
vaso no centro da imagem).
Mais precisamente: “A ciência normal não tem como objetivo trazer à tona
novas espécies de fenômeno; na verdade, aqueles que não se ajustam aos limites
do paradigma frequentemente nem são vistos.” (KUHN, 2011, p. 44 - 45).
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Isso ajuda a compreender melhor por que no exemplo dado pelo próprio Kuhn,
Urano começou como “estrela”, vira “cometa” e depois é finalmente reconhecido
como planeta. E assim se manterá, até o momento em que uma mudança
paradigmática no campo da ciência astronômica leve a outra categorização.
A partir disso:
E, finalmente:
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Para o falseacionismo, o monitoramento – inclusive por parte da comunidade
científica – era fundamental para afastar dogmatismos precipitados sobre certas
teorias. Para Thomas Kuhn, é um equívoco acreditar que essa postura acontece
o tempo inteiro. Seria, segundo ele, aceitar que a ciência jamais alcançaria uma
normalidade após deixar a condição de protociência, seria uma transformação
pequena em relação a esse estágio inicial; o conhecimento se encontraria em
permanente crise, a chamada pesquisa extraordinária seria, então, uma “pesquisa
regular”, o paradigma estaria sempre sob cerco.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Filosofia da Ciência: Introdução ao Jogo e a suas Regras
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e a suas regras. São Paulo: Edições
Loyola, 2000.
A Filosofia no Século XX
LACOSTE, Jean. A Filosofia no século XX. Tradução de Marina Appenzeller; revisão técnica de
Constança Marcondes Cesar. Campinas: Papirus, 1992.
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Referências
ARAÚJO, Inês Lacerda. Curso de teoria do conhecimento e epistemologia.
Barueri: Minha Editora, 2012.
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