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BIOFÍSICA E

FISIOLOGIA

Juliano Vieira da Silva


Introdução à fisiologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os aspectos históricos da evolução da fisiologia humana.


„„ Descrever os conceitos básicos da fisiologia.
„„ Identificar como a fisiologia se relaciona com outras ciências.

Introdução
A fisiologia é uma das ciências da saúde que busca explicar como ocorrem
as ações do corpo humano. A curiosidade por saber como a “máquina
humana” funciona sempre despertou interesse do homem, e há registros
de estudos sobre o corpo humano desde as mais remotas civilizações.
Neste capítulo, você vai estudar os aspetos históricos da evolução da
fisiologia humana. Também vai ver os conceitos básicos dessa ciência e
identificar como a fisiologia se relaciona com outras ciências.

História da fisiologia
Embora seja uma ciência do mundo moderno, a história da fisiologia vem de
longos tempos. Registros apontam que, na Grécia Antiga, o filósofo grego
Aristóteles (384 a.C.–322 a.C.) já fazia especulações sobre como funcio-
nava o corpo dos seres vivos. No entanto, coube a outro grego, Erasístrato
(310 a.C.–250 a.C.), o título de pai da fisiologia humana, pois foi ele quem
aplicou as leis da física aos estudos das funções corporais (FOX, 2007).
Erasístrato, junto com Herófilo (335 a.C.–280 a.C.), foi o responsável por
fundar a escola de anatomia de Alexandria. Nessa escola, ambos dissecavam
corpos em busca dos mistérios do funcionamento do corpo. Cabe ressaltar
que, antes da escola de Alexandria, todo o conhecimento sobre corpos vinha
das experiências com animais.
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Entre os principais estudos propostos por Erasístrato estava a importância dos átomos
para o corpo, a descrição do funcionamento do cérebro, do cerebelo e dos ventrículos
cerebrais, além das válvulas cardíacas e, por fim, a distinção de funcionamento entre
veias e artérias (FOX, 2007).

Além da civilização grega, escritos antigos de outras civilizações, como


a chinesa, a indiana e a egípcia, já apontam tentativas médicas para tentar
entender o corpo humano, principalmente o que ocorria com o corpo durante
as doenças e as tentativas para reestabelecer a saúde, como a busca de remédios
para combatê-las (SILVERTHORN, 2017).
Até o período Renascentista, os grandes estudos sobre a fisiologia hu-
mana foram realizados pelo médico e filósofo italiano Cláudio Galeno (ca
de 129–200). Coube ao italiano dar o início aos estudos sobre a contração
muscular e ainda realizar o detalhamento anatômico do corpo (esqueleto e
músculos) e de suas funções (FOX, 2007).
Fox (2007) aponta que a fisiologia só passa a ser considerada uma ciência re-
volucionária a partir do trabalho do médico inglês William Harvey (1578–1657),
que demonstrou que o coração bombeia o sangue por meio de um sistema
fechado de vasos. Junto com Harvey, outros dois nomes foram importantes
para a evolução histórica dessa ciência: Claude Bernard (1813–1878) e Walter
Cannon (1871–1945).
No século XIX, Bernard publicou estudos a partir da observação do cha-
mado milieu intérieur (ambiente interno). Segundo Bernard, esse ambiente
permanece notavelmente constante, apesar das alterações das condições do
ambiente externo. Por este estudo o francês é considerado o pai da fisiologia
humana moderna (FOX, 2007).
O americano Walter Cannon começou seus estudos fisiológicos no começo
do século XX, buscando um maior entendimento sobre o processo da digestão.
Também voltou sua atenção para o estudo do sistema nervoso autônomo (SNA)
e da fisiologia das emoções:
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Era nítida para ele a semelhança entre a ação das secreções da divisão auto-
nômica simpática e os efeitos de extratos das glândulas suprarrenais. Passou
então a investigar a influência de perturbações emocionais sobre a liberação
dessas substâncias (mais tarde identificadas como noradrenalina e adrenalina),
e a explorar seus efeitos na fisiologia corporal. Sua conclusão – hoje conhe-
cida como “reação de luta-ou-fuga” – foi que intensos estados emocionais
estimulam a secreção de adrenalina pela glândula adrenal, que, agindo nos
tecidos periféricos, prepara o organismo para uma ação vigorosa em estados
de emergência (BRITO; HADDAD, 2017, p. 100−101).

Na década de 1920, Cannon começou a abordar, em seus estudos, a manu-


tenção da constância fisiológica, desenvolvendo o conceito de homeostase.
Além disso, sugeriu que muitos mecanismos de regulação fisiológica tinham
um único objetivo: a manutenção da constância interna (FOX, 2007). A maioria
dos conhecimentos sobre essa ciência foram obtidas no século XX, segundo
Fox (2007); o autor faz um breve relato histórico das descobertas da fisiologia
do século XX. Veja a seguir.

„„ 1900: Karl Landsteiner descobre os grupos sanguíneos A, B e O.


„„ 1910: Sir Henry Dale descobre as propriedades da histamina.
„„ 1918: Ernest Starling descobre como a força da contração cardíaca está
relacionada com a quantidade de sangue contida no interior do coração.
„„ 1921: John Langley descreve as funções do sistema nervoso autônomo.
Ainda nesta década e no começo da seguinte, ocorre a descoberta da
insulina, das funções relacionadas ao neurônio e do papel da acetilcolina
na transmissão sináptica.
„„ 1939–1947: Albert von Szent-Georgi explica o papel da ATP e contri-
bui para a compreensão do papel da actina e da miosina na contração
muscular.
„„ 1949: Hans Selye descobre as respostas fisiológicas comuns ao estresse.
„„ 1954: surge a teoria do filamento deslizante na contração muscular a
partir do estudo de quatro fisiologistas.
„„ 1962: Francis Crick, James Watson e Maurice Wilkins recebem o Prêmio
Nobel por determinar a estrutura do DNA.
„„ 1971: Earl Sutherland recebe o Prêmio Nobel pela descoberta do me-
canismo da ação hormonal.
„„ 1981: Roger Sperry recebe o Prêmio Nobel por descobertas relacionadas
aos hemisférios cerebrais direito e esquerdo.
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„„ 1986: Stanley Cohen e Rita Levi-Montalcini recebem o Prêmio Nobel


por suas descobertas sobre os fatores de crescimento que regulam o
sistema nervoso.
„„ 1994: Alfred Gilman e Martin Rodbell recebem o Prêmio Nobel pela
descoberta das funções das proteínas G na transdução de sinais nas
células.
„„ 1998: Robert Furchgott, Louis Ignarro e Ferid Murad recebem o Prêmio
Nobel pela descoberta do papel do óxido nítrico como uma molécula
de sinalização do sistema cardiovascular.

Fica claro que o estudo da fisiologia humana vem passando por constantes
descobertas ao longo dos tempos, e cada vez mais rápidas. Com o avanço da
tecnologia, a tendência é que novos estudos cheguem ao conhecimento do
público.

Conceitos básicos da fisiologia


Antes de estudarmos os conceitos básicos da fisiologia, vamos conceituar a
própria fisiologia. Segundo Silverthorn (2017, p. 2), a fisiologia é “[...] o estudo
do funcionamento normal de um organismo e de suas partes, incluindo todos
os processos físicos e químicos.”
Em consonância com essa ideia, Fox (2007, p. 4) afirma que a fisiologia “[...]
é o estudo da função biológica: como o corpo funciona, da célula ao tecido,
do tecido ao órgão, do órgão ao sistema e de que maneira o organismo como
um todo realiza tarefas particulares essências à vida.” Assim, a fisiologia
humana estuda as relações de todo o organismo, desde os sistemas até suas
menores partes.
Segundo o mesmo autor, no estudo da fisiologia são enfatizados os meca-
nismos, ou seja, como ocorre o funcionamento do organismo, e as respostas
para essa questão envolvem sequências de causa e efeito.
Lima (2015) sublinha que o funcionamento do corpo pode ser explicado
a partir de um conjunto relativamente pequeno de princípios básicos. Um
desses princípios é a atuação das células que formam o nosso corpo e realizam
processos básicos do funcionamento. Estima-se que, em nosso corpo, há mais
de 200 tipos de células.
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Temos quatro classes principais de células, de acordo com suas funções e o tipo
de tecido que as compõem. Elas são os neurônios, as células musculares, as células
epiteliais e as células conjuntivas.

Os neurônios compõem o tecido nervoso e sua especialidade é transmitir e


receber informações em forma de sinais elétricos. As células musculares, como
sugere o nome, compõem o tecido muscular e são próprias para contraírem,
gerando, assim, força e movimento; além dos membros também estão presentes
no coração. As células epiteliais compõem o epitélio e realizam o transporte
de substâncias e foram glândulas, que produzem e secretam produtos. Por
fim, as células conjuntivas são o tipo mais variado, pois incluem as células
de sangue, ossos, gorduras, pele etc. (LIMA, 2015).
Além das células, os órgãos também são importantes no processo fisio-
lógico. Por órgão se entende o conjunto de dois ou mais tecidos formando
estruturas que cumprem um ou várias funções. Os órgãos são ordenados em
sistemas, como circulatório, digestório, respiratório, entre outros (LIMA, 2015).
Tanto as células quanto os órgãos vão ser vitais no conceito-base da fi-
siologia humana: a homeostase corporal. Como vimos, esse conceito foi
desenvolvido por Walter Cannon e tem como objetivo explicar como ocorre
a regulação do meio interno do corpo, mesmo que ocorram mudanças de
condições como temperatura, quantidade de oxigênio disponível etc.
O corpo tem todos os tipos de mecanismos reguladores que operam para
manter constantes as condições em seu meio interno, a despeito de alterações
no meio externo. Essa manutenção de condições relativamente constantes no
meio interno é conhecida como homeostase (STANFIELD, 2013).
Esse é um conceito-chave e atua como organizador central da fisiologia.
Nove dos dez sistemas orgânicos do nosso corpo funcionam para manter a
homeostase, sendo que a única exceção é o aparelho reprodutor, que tem como
principal função a manutenção da espécie e não do indivíduo.
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Para que ocorra a manutenção da regulação interna, a composição, a tempe-


ratura e o volume do líquido extracelular (plasma sanguíneo e líquido intersti-
cial) não devem ter grandes alterações (pequenas alterações são consideradas
normais) (LIMA, 2015; STANFIELD, 2013). Conforme Stanfield (2013, p. 10):

O líquido extracelular é, normalmente, mantido a uma temperatura próxima


de 37°C (temperatura normal do corpo), e as concentrações de muitos solutos
(oxigênio, dióxido de carbono, sódio, potássio, cálcio e glicose, por exemplo)
são mantidas relativamente estáveis. A capacidade de manter tal constância
é importante, porque o corpo é continuamente submetido a alterações poten-
cialmente disruptivas que podem se originar no meio externo ou no interior
do próprio corpo.

Quando, por exemplo, é um dia de bastante calor, ou quando você começa a


realizar algum exercício, a temperatura corporal, naturalmente, sobe. Quando
isso ocorre há a ativação dos mecanismos reguladores, que buscarão a redução
dessa temperatura até que chegue ao normal.
No entanto, em alguns momentos, pode ocorrer falha na homeostase.
Atividades de alta intensidade, por exemplo, podem causar um aumento des-
controlado da temperatura, trazendo consequências que podem ser fatais.
Além disso, quando a função normal é interrompida, um estado de doença
pode se desenvolver (SILVERTHORN, 2017, p. 10):

As doenças são caracterizadas em dois grupos gerais de acordo com sua ori-
gem: aquelas em que o problema surge a partir de uma insuficiência interna
ou falha de algum processo fisiológico normal, e aquelas que se originam de
alguma fonte externa. As causas internas de doenças incluem o crescimen-
to anormal de células, que pode originar cânceres ou tumores benignos, a
produção pelo próprio corpo de anticorpos contra os seus próprios tecidos
(doenças autoimunes) e a morte prematura de células ou a falha de processos
celulares. As doenças hereditárias também são consideradas como tendo causas
internas. As causas externas de doenças incluem substâncias químicas tóxicas,
traumas físicos e microrganismos externos invasores, como vírus e bactérias.

Quando a homeostasia é perturbada, o corpo tenta ativar um mecanismo


compensatório. Como você pode ver na Figura 1, se a compensação é bem-
-sucedida, o corpo volta a ficar em homeostase; caso contrário, pode ocorrer
alguma doença ou enfermidade.
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Figura 1. Homeostasia.
Fonte: Silverthorn (2013, p. 10).

Os mecanismos reguladores homeostáticos vão seguir o mesmo padrão:


quando a variável aumenta, o sistema responde, fazendo-a diminuir; quando
a variável diminui, ele busca aumentá-la. Esse processo recebe o nome de
retroalimentação negativa. Caso a variável esteja na média adequada, ela é
chamada de ponto de ajuste, e o sistema não precisa agir.
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Um exemplo de retroalimentação negativa bastante corriqueiro: a concen-


tração normal de glicose no sangue é de 100 mg/dL. Depois de uma refeição, o
teor da glicose aumenta. Logo que as células detectam o aumento da glicose,
o pâncreas libera insulina no sangue para diminuir a glicose. Quando o or-
ganismo retorna ao ponto de ajuste, essa liberação cessa, como podemos ver
na Figura 2 (LIMA, 2015; STANFIELD, 2013).

Mudança na
variável regulada Ponto de ajuste
(↑ glicemia) (glicemia normal)


  



↑  

Retroalimentação
negativa

 
 

  
↑

Estímulo inicial
Resposta fisiológica
Resultado

Figura 2. Retroalimentação negativa.


Fonte: Adaptada de Stanfield (2013).

Também pode ocorrer a retroalimentação positiva, ou seja, quando há um


reforço do estímulo que o desencadeou. Por exemplo, a secreção do hormônio
LH pelas mulheres, que estimula a produção dos hormônios estrógenos, res-
ponsáveis pela reprodução; este estímulo faz com que haja o pico do LH, que
desencadeia a ovulação. Acompanhe esse processo na Figura 3.
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Hipófise
Secreção de LH

Retroalimentação
positiva
Ovários

↑Secreção de estrógeno

Estímulo inicial
Resultado
Figura 3. Retroalimentação positiva.
Fonte: Adaptada de Stanfield (2013).

Fisiologia e demais ciências


Entre as tantas ciências que poderíamos fazer uma ligação com a fisiologia,
vamos abordar as principais, como a anatomia, a cinesiologia, a biomecânica,
a fisiopatologia e a fisiologia do exercício.
Como vimos até aqui, a fisiologia estuda a função biológica, ou seja, como
ocorre o funcionamento do organismo a partir das células, dos órgãos e como
o meio interno é controlado a partir dos mecanismos reguladores que buscam
o equilíbrio desse meio, a chamada homeostase.
Enquanto a fisiologia estuda a função, podemos dizer que a anatomia estuda
a forma, pois trata das estruturas internas e externas do corpo, bem como das
relações físicas entre as partes do corpo. A anatomia pode ser macroscópica
(analisa grandes estruturas) ou microscópica (analisa pequenas estruturas
(MARTINI et al., 2014).
Já a fisiologia vai ter funções mais complexas e, por consequência, mais
difíceis de serem examinadas do que as estruturas anatômicas. Enquanto
o anatomista irá analisar os músculos envolvidos no coração, o fisiologista
buscará entender todas as suas ações e respostas aos mais variados estímulos
do corpo, como a frequência cardíaca (MARTINI et al., 2014).
10 Introdução à fisiologia

Apesar dessa diferença, forma e função estão interrelacionadas, tanto na


teoria quanto na prática. Martini et al. (2014) apontam que os detalhes anatô-
micos são bastante significativos para o estudo da fisiologia, porque cada um
exerce um efeito sobre a função. Sendo assim, os mecanismos fisiológicos só
podem ser completamente entendidos com a compreensão das suas relações
estruturais subjacentes.
Da união entre essas duas ciências surge a cinesiologia. Segundo Dobler
(2003), essa ciência tem como enfoque a análise dos movimentos do corpo
humano. Da anatomia, ela leva em conta a análise da estrutura do aparelho
locomotor para entender como o movimento se estrutura. Já da fisiologia, a
cinesiologia utiliza a forma como a fisiologia engloba a combinação entre os
sistema nervoso e o muscular (sistema neuromuscular) e como ambos vão
trabalhar em conjunto para permitir a realização do movimento.
Uma das ciências próximas à cinesiologia, a biomecânica, também se vale
de conhecimentos fisiológicos para embasar seus estudos. A biomecânica tem
objetivos próximos aos da cinesiologia, porém, nessa perspectiva, a análise
dos movimentos realizados acontece a partir dos princípios físicos, como as
leis de Newton, aplicados aos princípios biológicos.

Isaac Newton foi um cientista que se dedicou a várias áreas da ciência, como física, mate-
mática, química e mecânica. Suas leis explicaram as forças envolvidas na física e como elas
se comportam no movimento humano. Ao todo, Newton propôs três leis: a primeira lei
trata da inércia; a segunda trata da massa e aceleração; e a terceira trata da ação e reação.
A ciência que explica o movimento humano por essas leis chama-se biomecânica.

A fisiopatologia estuda a forma como os processos fisiológicos são alte-


rados em razão de doenças ou lesões:

Por exemplo, uma técnica padrão de investigação do funcionamento de um


órgão é observar o que ocorre quando a sua função é alterada de forma espe-
cífica. Esse estudo é frequentemente auxiliado por ‘experimentos da natu-
reza’ – doenças – que envolvem lesões funcionais especificas de um órgão.
Por essa razão, o estudo de processos patológicos ajudou na compreensão do
funcionamento normal, e o estudo da fisiologia em condições de normalidade
muito proporcionou à base cientifica da medicina moderna (FOX, 2007, p. 4).
Introdução à fisiologia 11

Ficou interessado em saber mais sobre fisiopatologia? No link a seguir você encontra
um vídeo muito interessante sobre o assunto.

https://qrgo.page.link/HTERS

Há ainda uma área da fisiologia que estuda, especificamente, a relação


do exercício com a homeostase, chamada de fisiologia do exercício. Como
vimos no tópico anterior, o exercício é um dos fatores que leva o corpo a
sair do equilíbrio, elevando variáveis como temperatura, pressão arterial e
frequência cardíaca.
Powers e Howley (2014) apontam que, um segundo após o começo da
contração muscular, o coração já começa a ser estimulado a dar respostas com
o aumento da frequência cardíaca e do volume sistólico. Com isso, ocorre um
aumento da respiração por meio do estímulo enviado pelo cérebro, que manda
mensagens ao centro de controle respiratório para que mantenha a respiração
conforme a necessidade do organismo. Então, os quimiorreceptores mandam
uma mensagem ao centro, que irá aumentar o comando sobre os músculos
da respiração, aumentando suas contrações e, por consequência, o fluxo de
entrada e saída de ar dos pulmões.
Junto a isso ocorre também a vasodilatação dos vasos sanguíneos nos mús-
culos esqueléticos ativos, ou seja, um aumento desses vasos a partir da prática
do exercício e um aumento reflexo na resistência dos vasos em áreas menos
ativas. Com isso, ocorre um aumento no débito cardíaco, para garantir que o
fluxo sanguíneo para os músculos correspondam às necessidades metabólicas
dos músculos esqueléticos. Acompanhe na Figura 4 um resumo desse processo.
Sendo assim, a partir das alterações ocorridas nessas variáveis, a fisio-
logia do exercício busca responder como ocorrem essas respostas durante
determinada atividade.
12 Introdução à fisiologia

Figura 4. Resumo das respostas do sistema cardiovascular ao exercício.


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 215).

Neste capítulo você viu que a história da fisiologia vem de longos tempos.
Registros apontam que, na Grécia Antiga, o filósofo grego Aristóteles já fazia
especulações sobre como funcionava o corpo dos seres vivos. No entanto,
coube a outro grego, Erasístrato, o título de “pai da fisiologia humana”, pois
foi ele quem aplicou as leis da física aos estudos das funções corporais.
Até o período Renascentista, os grandes estudos sobre a fisiologia humana
foram realizados pelo médico e filósofo italiano Cláudio Galeno. Ele deu
início a estudos sobre a contração muscular e ainda realizou o detalhamento
anatômico do corpo (esqueleto e músculos) e de suas funções.
No século XX, Walter Cannon começou a abordar, em seus estudos, a
manutenção da constância fisiológica, desenvolvendo o conceito de homeos-
tase. Além disso, ele sugeriu que muitos mecanismos de regulação fisiológica
tinham um único objetivo: a manutenção da constância interna.
Você também viu que a fisiologia é o estudo do funcionamento normal de
um organismo e de suas partes, incluindo todos os processos físicos e químicos.
O organismo é formado por células, divididas em quatro classes principais
de acordo com suas funções e o tipo de tecido que as compõem. As classes
são: neurônios, células musculares, células epiteliais e células conjuntivas.
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Além das células, os órgãos também são importantes no processo fisio-


lógico. Por órgão entende-se o conjunto de dois ou mais tecidos formando
estruturas que cumprem um ou várias funções, sendo ordenados em sistemas,
como o circulatório, o digestório, o respiratório, entre outros
O conceito base da fisiologia é a homeostase. Ela busca explicar como
ocorre a regulação do meio interno do corpo mesmo que ocorram mudanças
de condições como temperatura, quantidade de oxigênio disponível etc.
Os mecanismos reguladores homeostáticos seguem o mesmo padrão:
quando a variável aumenta, o sistema responde, fazendo-a diminuir; quando
a variável diminui, ele busca aumentá-la. Esse processo recebe o nome de
retroalimentação negativa. Caso a variável esteja na média adequada, ela
é chamada de ponto de ajuste, e o sistema não precisa agir. Também pode
ocorrer a retroalimentação positiva, ou seja, há um reforço do estímulo que
o desencadeou.
Por fim, você viu que a fisiologia tem relações com várias ciências, como
a anatomia, a cinesiologia e a fisiopatologia. Acompanhou que os detalhes
anatômicos são bastante significativos para o estudo da fisiologia, porque
cada detalhe exerce um efeito sobre a função. Sendo assim, os mecanismos
fisiológicos só podem ser completamente entendidos com a compreensão das
suas relações estruturais subjacentes.
Já a cinesiologia utiliza a forma como a fisiologia engloba a combinação
entre os sistema nervoso e muscular (sistema neuromuscular) e como ambos
trabalham em conjunto para permitir a realização do movimento. A fisiopa-
tologia estuda a forma como os processos fisiológicos são alterados em razão
de doenças ou lesões.

BRITO, I.; HADDAH, H. A formulação do conceito de homeostase por Walter Cannon.


Filosofia e História da Biologia, v. 12, n. 1, p. 99−113, 2017. Disponível em: http://www.
abfhib.org/FHB/FHB-12-1/FHB-12-01-06-Ivana-Brito_Hamilton-Haddad.pdf. Acesso
em: 27 set. 2019.
DOBLER, G. Cinesiologia: fundamentos, prática, esquemas de terapia. Barueri, SP: Ma-
nole, 2003.
FOX, S. I. Fisiologia humana. 7. ed. Barueri, SP: Manole, 2007.
LIMA, A. Fisiologia humana. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015.
14 Introdução à fisiologia

MARTINI, F. et al. Anatomia e fisiologia humana: uma abordagem visual. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2014.
POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condiciona-
mento e ao desempenho. 8. ed. Barueri, SP: Manole, 2014.
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.
STANFIELD, C. L. Fisiologia humana. 5. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.

Leituras recomendadas
SILBERNAGL, S.; DESPOPOULOS, A. Fisiologia: texto e atlas. 7. ed. Porto Alegre: Artmed,
2009.
WARD, J.; LINDEN, A. Fisiologia básica: guia ilustrado de conceitos fundamentais. 2. ed.
Barueri, SP: Manole, 2014.

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