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FISIOLOGIA DO ESFORÇO E DO EXERCÍCIO

Sumário

Fisiologia do Esforço e do Exercício ................................................................ 4

Histórico ....................................................................................................... 5
Atividade física e saúde ............................................................................... 9
Princípios da fisiologia do exercício ........................................................... 13
O princípio da individualidade................................................................. 13

O princípio da especificidade.................................................................. 13

O princípio do desuso ............................................................................. 13

Os efeitos fisiológicos dos exercícios físicos.............................................. 14


Os principais pontos sobre a fisiologia do exercício físico ......................... 15
Sistema cardiovascular .............................................................................. 15
Coração .................................................................................................. 16

Pressão arterial ...................................................................................... 17

Sistema respiratório ................................................................................ 19

Sistema muscular ................................................................................... 21

Bioenergética ............................................................................................. 23
A obtenção de energia através do ATP .................................................. 23

Sistema ATP-CP .................................................................................... 24

Sistema glicolítico ................................................................................... 25

Sistema oxidativo ................................................................................... 26

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 27

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FACUMINAS

A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um


grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade
oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos
que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino,
de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Fisiologia do Esforço e do Exercício

O termo fisiologia vem do grego "physis" = natureza, função ou


funcionamento e "logos" = palavra ou estudo. Assim, a Fisiologia caracteriza-se
como o ramo da Biologia que estuda as múltiplas funções mecânicas, físicas e
bioquímicas dos seres vivos. Ela se utiliza dos conceitos da física e da química para
explicar como ocorrem as funções vitais dos diferentes organismos e suas
adaptações frente aos estímulos do meio ambiente.

Nesse contexto, a Fisiologia do Exercício (também chamada de Fisiologia do


Esforço ou da Atividade Física) é uma área do conhecimento derivada da disciplina-
mãe Fisiologia, que estuda como as funções orgânicas respondem e se adaptam ao
estresse imposto pelo exercício físico (JOYER & SALTIN, 2008; WILMORE &
COSTILL, 2010). Em outras palavras, a Fisiologia do Exercício estuda os efeitos
agudos e crônicos do exercício físico sobre a estrutura e a função dos diversos
sistemas orgânicos. Em complemento, a Fisiologia do Exercício investiga também a
interação entre os diferentes efeitos do exercício físico e a influência dos
estressores ambientais (PATE & DURSTINE, 2004).

A fisiologia por si só estuda os processos, atividades e fenômenos


característicos dos seres vivos. Quando em união com o esforço, estes estudos irão
observar como o organismo humano se adapta fisiologicamente na execução de
tarefas motoras em diferentes situações de exercício, mais precisamente ao
estresse agudo do exercício, ou seja, à atividade física e também ao estresse
crônico do treinamento físico.

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A fisiologia do esforço compreende o entendimento dos processos que
permitem manter a performance atlética em condições extremas de temperatura,
altitude ou até mesmo de profundidade.

O profissional dedicado à essa área de estudo, realiza avaliações constantes


de métodos e técnicas, unificando a prática e teoria para ter como resultado final, a
reflexão sobre a realidade do tripé fisiologia, saúde e sociedade a fim de trazer
benefícios aos seres humanos.

Histórico

A Fisiologia da Atividade Física ou Fisiologia do Exercício surgiu na Grécia


antiga e na Ásia Menor, quando civilizações primitivas já se preocupavam com jogos
e saúde. A principal influência sobre a civilização ocidental veio de gregos da
antiguidade – Herodicus (5° séc. a.C), Hipócrates (460 a 377 a.C) e Galeno (131 a
201 a.C). Conforme Kenney, Wilmore & Costill (2013) destacam em seu livro,
Fisiologia do Esporte e do Exercício, uma das primeiras tentativas em explicar a
anatomia e fisiologia humana foi o texto do grego Cláudio Galeno, De fascius
publicado no século I d.C.

As ideias de Galeno influenciaram os primeiros fisiologistas, anatomistas e


professores de higiene e saúde. Cláudio Galeno ensinou e praticou “as leis da
saúde”: respirar ar puro (fresco), comer alimentos apropriados, beber as bebidas
certas, exercitar-se, dormir por um período suficiente, evacuar diariamente e
controlar as emoções.

Todavia, somente no século XVI que vieram as contribuições significativas


para a compreensão da estrutura e funcionamento do corpo humano, com destaque
para publicação do livro de Andreas Vesalius, (De humani corporis fabrica) sobre o
funcionamento do corpo humano (McARDLE & KATCH, 2013).

Mais tarde, em 1793, Séguin e Lavosier descreveram sobre o consumo de


oxigênio em repouso e na condição de levantamento de peso várias vezes em
15min (SÉGUIN & LAVOSIER, 1793). Em 1889, Fernand LaGrange publicou o

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primeiro livro sobre fisiologia do exercício, Physiology of Bodily Exercise. Contudo, o
texto oferecia basicamente sugestões fisiológicas, mas já com preocupações sobre
fadiga, trabalho muscular e o papel do cérebro frente ao exercício (KENNEY,
WILMORE & COSTILL, 2013).

As primeiras tentativas em explicar os processos de funcionamento do


organismo ainda eram erradas e vagas, e com a ajuda de equipamentos de
pesquisa, pouco a pouco as perguntas que intrigavam foram, e ainda estão sendo
elucidadas! Muitos dos grandes cientistas do século XX, voltados ao exercício físico
tiveram relação com o laboratório de Fadiga de Harvard, estabelecido por Lawrence
J. Henderson, MD (1878-1942), e dirigido por Bruce Dill (1891-1986) (KENNEY,
WILMORE & COSTILL, 2013).

Até o final dos anos de 1960, quase todos os estudos da fisiologia do


exercício se concentravam na resposta do corpo como um todo à atividade. A
maioria das investigações envolvia medidas de variáveis como consumo de
oxigênio, frequência cardíaca, temperatura corporal e intensidade de suor. Pouca
atenção era dada às respostas celulares ao exercício. Essa perspectiva foi ampliada
quando a bioquímica enzimática tornou-se disponível e os processos metabólicos e
sua adaptação ao exercício foram mais bem compreendidos (MOOREN & VÖLKER,
2012). Portanto, quando as fronteiras entre as disciplinas tradicionalmente
separadas desaparecem e são substituídas por uma abordagem integrada, abre-se
uma nova visão sobre a função e regulação do organismo frente à prática de
exercícios físicos.

As origens da Fisiologia do Exercício se confundem com os primórdios da


Medicina e da prescrição da atividade física com fins terapêuticos no tratamento de
doenças e manutenção das boas condições de saúde. Porém, somente no final do
século 19 é que a Fisiologia do Exercício começou a surgir como uma área de
interesse acadêmico-científico. O primeiro livro específico da área foi publicado em
1889 pelo pesquisador francês Fernand LaGrange intitulado "Physiology of Bodily
Exercise" (WILMORE & COSTILL, 2010). É interessante destacar que a contribuição
européia para a evolução da Fisiologia do Exercício prosseguiu nos anos seguintes.

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O dinamarquês August Krogh (1920), o britânico Archibald V. Hill (1922) e o
alemão Otto Meyerhof (1922) receberam o Prêmio Nobel por suas pesquisas na
fisiologia da musculatura esquelética e do metabolismo energético. Nos anos 30, os
escandinavos Erik Hohwu-Christensen, Erling Asmussen e Marius Nielsen
avançaram o conhecimento sobre as propriedades mecânicas do músculo
esquelético e o controle da temperatura corporal em exercício.

Christensen foi o mentor de Per-Olof Astrand, o qual obteve grande destaque


nos anos 50-60 com investigações relacionadas à aptidão física, saúde e resistência
aeróbia. Ambos, Christensen e Astrand, foram mentores do sueco Bengt Saltin, que
juntamente com Jonas Bergstrom, no final dos anos 60, impulsionaram a aplicação
da biópsia para o estudo da estrutura e da bioquímica muscular. Esta técnica
permitiu aos fisiologistas do exercício compreender melhor o metabolismo
energético e o efeito do tipo de fibra muscular no desempenho físico dos atletas.

Por 20 anos (1927-1947), o "Harvard Fatigue Laboratory" foi o ponto focal da


história da Fisiologia do Exercício nos Estados Unidos da América. Neste
laboratório, o Prof. Dr. David Bruce Dill, seu coordenador de pesquisa, conduziu
estudos nas áreas de metabolismo energético, meio ambiente (efeitos do frio e da
altitude), envelhecimento, nutrição e aptidão física e saúde (POWERS & HOWLEY,
1994). Os anos 50 viram os nomes de Dudley Sargent e Thomas Cureton ganharem
destaque. O livro clássico do Prof. Cureton "Physical Fitness of Champion Athletes",
publicado em 1951, estimulou o interesse de diversos fisiologistas do exercício em
investigar o perfil fisiológico de atletas (WILMORE, 2003). A partir dos anos 60, a
Fisiologia do Exercício se estabeleceu como área de investigação científica com a
presença de pesquisadores como William McArdle, Frank Katch, David Costill, Jack
Wilmore, entre outros (DEVRIES, 2000).

No Brasil, a Fisiologia do Exercício teve início nos anos 70 com o Prof. Dr.
Maurício Leal Rocha, profissional da área médica. Na década de 70, todos os
alunos que ingressavam na Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do
Rio de Janeiro - UFRJ) passavam pelo Laboratório de Fisiologia do Exercício
(LABOFISE), coordenado pelo Prof. Dr. Maurício, para medições antropométricas. A
meta do professor era obter o perfil antropométrico e fisiológico dos alunos que

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ingressavam na Universidade. Esta iniciativa desencadeou alguns anos depois o
Projeto Brasil. Este projeto propunha o deslocamento das avaliações para cidades
do interior do país em busca do perfil de aptidão física do homem brasileiro. O Prof.
Dr. Maurício esteve também envolvido com as primeiras atividades de ergometria,
reabilitação e medicina do esporte no Brasil.

A história da Fisiologia do Exercício na Escola de Educação Física e Esporte


da Universidade de São Paulo (EEFEUSP) começou com o primeiro laboratório de
pesquisa da Escola denominado CIPEF - Centro Integrado de Pesquisa em
Educação Física. Este centro de pesquisa foi criado por um docente de formação na
área de medicina, o Prof. Dr. Mário de Carvalho Pini e foi coordenado pela Profa.
Dra. Maria Augusta Peduti Dal'Molin Kiss. O CIPEF desenvolveu as primeiras
pesquisas na área da Fisiologia do Exercício e foi responsável por formar alguns
dos pesquisadores que se tornaram líderes nesta especialidade em nosso país
(TANI, 1999).

Nesse sentido, os recentes avanços das técnicas moleculares ampliaram o


campo da Fisiologia do Exercício e permitiram aos pesquisadores o estudo dos
mecanismos envolvidos em níveis moleculares. Além disso, o melhor entendimento
destes processos metabólicos deve colaborar no desenvolvimento de programas de
exercícios físicos, com o aprimoramento em programas de treinamento, e
sobretudo, com a otimização nos processos capazes de realçar os efeitos do
exercício físico no organismo humano.

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Atividade física e saúde

A prática regular de atividades físicas é considerada um fator


comportamental/ ambiental determinante na manutenção da saúde. Logo, atividades
físicas têm sido utilizadas com vistas à promoção da qualidade de vida das pessoas,
haja vista seu impacto sobre a aptidão física relacionada à saúde. Destacam-se
nesse aspecto componentes como, força muscular, resistência muscular, resistência
cardiorrespiratória, composição corporal e flexibilidade. Não obstante, saúde deve
ser entendida não somente como ausência de doenças ou enfermidades, mas,
sobretudo, como um estado favorável de bem-estar.

Nessa concepção de saúde, é evidente que não basta apenas não estar
doente; é preciso apresentar evidências, atitudes e comportamentos que afastem ao
máximo possíveis fatores de risco que possam induzir ao aparecimento e ao
desenvolvimento de doenças (GUEDES, 2011).

No que diz respeito ao impacto da atividade física no organismo humano,


Lakka & Bouchard (2004) destacam que a atividade física regular aumenta a
sensibilidade das células à insulina, melhora o perfil de lipídios e lipoproteínas no
sangue, reduz a pressão arterial e a adiposidade corporal, afeta favoravelmente
fatores hemostáticos, melhora a função endotelial e pode reduzir a resposta
inflamatória, diminui o risco de desenvolver doença cardíaca e, possivelmente,
acidente vascular cerebral isquêmico e doença vascular periférica, alguns tipos de
câncer, diminui também o risco de desenvolver osteoporose, síndrome metabólica e
diabetes tipo 2, além de melhorar o controle metabólico de indivíduos com diabetes
tipo 1 ou 2.

Além disso, a atividade física colabora para a manutenção da capacidade


funcional e uma vida independente na terceira idade. Também reduz sentimentos de
depressão e ansiedade e promove o bem-estar psicológico e geral. Nesse sentido,
os aprimoramentos quanto aos efeitos benéficos de atividades físicas estão
estreitamente relacionados com o envolvimento em práticas sistemáticas de
exercícios físicos.

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Ainda, um volume cada vez maior de dados sobre metodologias de
treinamento (treinamento contínuo, intervalado ou misto), assim como, de respostas
e adaptações de parâmetros fisiológicos (cardiovascular, hormonal, músculo-
esquelético, dentre outros) frente à programas de exercícios físicos tem se
acumulado na literatura. Um número cada vez maior de pesquisas envolvendo a
prática regular de exercícios em intensidade moderada estão disponíveis,
demonstrando diversos benefícios para a promoção da saúde.

Contudo, é crescente o volume de pesquisas com exercícios intervalados de


alta intensidade e baixo volume (HIT – High Intensity Training), tendo em vista que
os dados disponíveis até o momento indicam que HIT é capaz de estimular a
remodelação fisiológica, comparável ao exercício contínuo e de intensidade
moderada. Outra característica interessante quanto ao HIT é a necessidade de um
tempo menor para a execução das séries/sessões, haja vista o volume menor de
exercícios quando comparado aos métodos tradicionais, de intensidade moderada e
longa duração.

Entretanto, é necessário considerar que as pesquisas com HIT ainda são


razoavelmente recentes, e certamente um número maior de investigações é
necessário, observando diferentes populações, condições, intervalos e parâmetros
fisiológicos, e sobretudo, o acompanhamento longitudinal de indivíduos engajados
em programas de exercícios com estas características. Corroborando, Barbanti e
colaboradores (2004) destacam que a mera execução de exercícios de treinamento
não garante necessariamente em ganhos significativos, haja vista a necessidade de
aplicação correta de princípios científicos na organização dos programas de

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treinamento, com controle de variáveis como intensidade, volume, intervalo de
recuperação e frequência de treinamento.

Na perspectiva bioenergética, a capacidade do corpo humano em realizar


exercícios físicos depende da habilidade de converter energia química em energia
mecânica. A origem da energia química no músculo é o trifosfato de adenosina
(ATP), que uma vez clivado em difosfato de adenosina (ADP), libera energia para
reações químicas.

Nesse sentido, três diferentes mecanismos estão envolvidos na ressíntese de


ATP para a realização da contração muscular. As duas primeiras vias são
anaeróbicas: 1) ATP-CP e 2) Glicólise e, portanto, não necessitam de oxigênio,
enquanto a terceira, 3) Fosforilação Oxidativa, ocorre exclusivamente dentro das
mitocôndrias na presença de oxigênio (KENNEY, WILMORE & COSTILL, 2013;
McARDLE, KATCH & KATCH, 2013).

O fator mais importante que influencia a resposta metabólica ao exercício é a


intensidade, porém, outros fatores podem influenciar essa resposta, como: condição
física, duração do exercício, disponibilidade de substrato, estado nutricional,
composição da dieta e suplementação durante o exercício, tipo de exercício,
temperatura ambiental, hidratação e altitude (VAISBERG & MELLO, 2010).

No que diz respeito às adaptações metabólicas ao treinamento (programa de


exercícios físicos), àqueles com características anaeróbicas, como exercícios de
força, hipertrofia, dentre outros, gera poucas melhoras na capacidade aeróbica, mas
os estudos demonstram um aumento na força muscular, na atividade enzimática
glicolítica e nos estoques de ATP-PCr intramuscular. Pode ainda ocorrer até mesmo
redução nas densidades capilar e mitocondrial.

Entretanto, o programa de exercícios com características aeróbicas, como


por exemplo, corridas de longa duração, induzem aumento na densidade capilar e
mitocondrial, na quantidade de mioglobina muscular, de enzimas do ciclo de Krebs e
cadeia transportadora de elétrons (TANAKA & SWENSER, 1998). Estas alterações
moleculares e celulares que ocorrem em detrimento da prática regular de exercícios
físicos podem ser avaliadas por meio de parâmetros fisiológicos. Por exemplo, o
consumo máximo de oxigênio (VO2max) tem sido um índice muito utilizado nas

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últimas décadas para avaliação do nível de aptidão aeróbia, seja de atletas ou
sedentários, por estar relacionado com capacidades metabólicas e
cardiovasculares. Este é o índice fisiológico que melhor representa a potência
aeróbia máxima (CAPUTO et al. 2009).

Portanto, por meio de reações metabólicas as células do corpo procuram


adequar-se as novas demandas energéticas, sejam em repouso ou durante
atividades físicas. O exercício físico pode ser considerado um estímulo estressor ao
meio celular, e com isso provocar a perturbação homeostática da célula, que por
sua vez, ativará sensores metabólicos intracelulares, que são capazes de
desencadear eventos e interações proteicas no sentido de sinalizar a necessidade
de adequação e retorno à homeostase.

Portanto, é razoável admitir que ao desenvolver um programa de exercícios


de maneira adequada, com volume, intensidade, frequência e tipo capazes de
provocar adaptações celulares, uma nova condição será atingida, de acordo com o
objetivo previamente estipulado. Entretanto, nem todas as pessoas respondem da
mesma maneira ao mesmo programa de exercícios! Existem diferenças individuais
na adaptação e resposta ao exercício, e essa variabilidade individual é um
fenômeno biológico normal, o qual pode refletir a diversidade genética
(BOUCHARD; RANKINEN, 2001).

Um exemplo do papel da variação genética na determinação da eficácia de


atividade física regular, é que o mesmo programa de exercícios e treinamento
aplicado em homens jovens e saudáveis resultou em nenhuma mudança no
VO2máx entre alguns indivíduos, enquanto que em outros, o aumento no VO2máx
foi de até um litro por minuto (BOUCHARD et al., 1999). Ainda, Bouchard et al.
(1992) verificaram que em pares de gêmeos, a resposta de VO2máx a programas
de treinamento padronizados mostrou de seis a nove vezes mais variância inter-
genótipos (dizigóticos) do que intra-genótipos (monozigóticos).

Ainda que a literatura sobre os efeitos benéficos do exercício físico seja


bastante ampla, tais investigações concentram-se em dados epidemiológicos ou
parâmetros fisiológicos, como frequência cardíaca, respostas hormonais, dentre
outras. Contudo, as investigações sobre os mecanismos moleculares pelos quais as

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adaptações à um programa de exercícios físicos ocorre no organismo humano,
ainda encontram-se em fase embrionária na literatura.

Princípios da fisiologia do exercício

O princípio da individualidade

Não somos todos iguais, cada um tem o seu jeito e velocidade de se adaptar
aos estímulos de um treinamento. Basicamente são fatores hereditários que
determinam nossa resposta aos exercícios e duas pessoas, exceto gêmeos
idênticos, nunca irão ter as mesmas adaptações. Por essa razão, qualquer
programa de treinamento deve levar em consideração as características e daquela
pessoa a quem é destinado e somente ela.

O princípio da especificidade

As adaptações ao treinamento são extremamente ligadas ao volume, à


intensidade e ao tipo de exercícios realizado. Não se pode esperar ganhos de
resistência treinando potência, por exemplo. Nesse ponto, o treinamento deve
estimular os sistemas fisiológicos que são fundamentais para a atividade afim de ser
o mais específico possível ao seu objetivo.

O princípio do desuso

Quando se para de treinar é esperado que a condicionamento físico retorne


ao nível de condicionamento necessário somente para as tarefas de uso diário.
Qualquer ganho em um programa de treinamento será perdido se não for feita uma
manutenção adequada. Por isso lembre-se, “use-o ou perca-o”.

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Os efeitos fisiológicos dos exercícios físicos

Antes de se falar em tipo de exercício, intensidades e volume é necessário


entender que fisiologicamente nosso corpo entende estímulos, e os resultados do
treinamento são as adaptações provenientes de estímulos bem direcionados.

Nosso corpo está sempre buscando o equilíbrio e para fazê-lo se adaptar


precisamos criar stress. Sim, os exercícios que passamos são criadores de stress
no nosso corpo, eles vêm como uma forma de nos tirar do equilíbrio e obrigar o
corpo a se preparar para receber novamente esse stress sem que ele cause tanto
estrago no organismo. Assim, o corpo vai se tornando mais forte e vai sendo
necessário estímulos cada vez mais fortes para conseguir gerar esse stress. Entre
os tipos de estímulos temos: excitação, adaptação e exaustão.

As cargas de excitação são aquelas que quando terminadas o nível de


condicionamento físico retorna ao normal. Não existe modificação do ponto de
partida no nosso corpo. Já as cargas de adaptação, aparecem quando é dada uma
carga (ou sobrecarga) e o corpo se prepara para não sofrer novos desequilíbrios,
então ele se adaptação à um nível mais elevado de condicionamento.

As cargas de exaustão, são aquelas que estão acima da capacidade do


sistema e que tendem a causar danos mais severos ao corpo. Nem sempre
representam lesão, mas a sua adaptação nem sempre representa em um nível
maior de condicionamento, podendo até mesmo piorar em relação ao estado inicial.

Falando mais especificamente sobre as adaptações, que são os efeitos que


os exercícios impõem ao corpo, temos que elas são uma reorganização orgânica e
funcional do organismo frente às exigências internas e externas. Elas são
reversíveis e precisam constantemente ser reavaliadas e é caracterizada pela
formação de novas estruturas de acordo com o estímulo oferecido.

Podemos ter em vista o tempo e essas adaptações podem ser rápidas, como
no caso dos músculos ou lentas que é a adaptação de tecidos como os ossos e
tendões. Elas podem ser positivas, negativas, específicas e não-específicas. Por
exemplo, ao treinar força a adaptação específica é ao aumento de sarcômeros em

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paralelo no músculo, e a adaptação não específica seria o impacto sobre o tecido
ósseo e o aumento da densidade mineral óssea em consequência.

Os principais pontos sobre a fisiologia do exercício físico


Sistema cardiovascular

O sistema cardiovascular tem como principais funções a liberação de


oxigênio (O2) para os tecidos, a remoção de gás carbônico (CO2), e o transporte de
hormônios, glicose O2 e CO2. O sistema é composto pelo coração, vasos
sanguíneos e pelo sangue.

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Coração

O coração é uma estrutura composta por dois átrios, que são câmaras
receptoras de sangue e dois ventrículos, que são câmaras ejetoras de sangue. O
coração é a principal “bomba” que faz com que o sangue circule pelo sistema
vascular.

O músculo cardíaco tem a capacidade única de gerar seu próprio estímulo


elétrico (auto condução). Esse sistema possui quatro componentes que funcionam
em conjunto através do estímulo de chegada de sangue ao átrio direito, são eles:
nodo sinoatrial, conhecido como o marca-passo do coração; nodo atrioventricular;
feixe de Hiss; e fibras de Purkinge.

Terminologia da função cardíaca

Ciclo cardíaco: eventos que ocorrem entre dois batimentos cardíacos


consecutivos, sístole e diástole.

Volume de ejeção: volume de sangue bombeado pelo ventrículo esquerdo em


sístole. O volume de ejeção é igual a diferença entre o volume diastólico final e o
volume sistólico final.

Fração de ejeção: proporção de sangue bombeado para fora do ventrículo


esquerdo a cada batimento. É a razão entre o volume de ejeção e o volume
diastólico final.

Débito cardíaco: é o volume total de sangue bombeado pelo ventrículo


esquerdo por minuto, ou simplesmente o produto entre a frequência cardíaca e o
volume de ejeção.

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Pressão arterial

A pressão sanguínea é a pressão exercida pelo sangue sobre as paredes dos


vasos sanguíneos, e usualmente nos referimos à pressão exercida sobre as artérias
e por isso chamamos de pressão arterial (PA). A PA é apresentada em dois valores,
um mais alto, que é a pressão sistólica (PAS) durante a fase de contração do
coração, e um mais baixo, que é a pressão diastólica (PAD) durante a fase de
relaxamento do coração. As alterações nos valores de PA podem se dar por
alterações nos vasos, uma constrição vascular aumenta os valores de PA e uma
dilatação vascular resulta em menores valores para a PA.

Resposta cardiovascular ao exercício

Tendo revisado as estruturas e fisiologia do sistema cardiovascular podemos


agora pensar sobre como ele responde em situações de maior demanda, como o
exercício. Quando iniciamos uma atividade física a necessidade dos tecidos por O2
aumenta, especialmente nos músculos ativos.

Dessa forma, assim como uma maior necessidade de nutrientes a produção


de detritos metabólicos também é aumentada exigindo mais do sistema circulatório.
Para suprir as demandas aumentadas do corpo o sistema cardiovascular sofrerá
uma séria de alterações que envolvem, via de regra, o aumento de: frequência
cardíaca; volume de ejeção; débito cardíaco; fluxo sanguíneo; pressão arterial e o
sangue.

Vamos falar mais profundamente da frequência cardíaca que é um parâmetro


que pode ser utilizado para a prescrição do exercício.

Frequência cardíaca: a frequência cardíaca (FC) reflete a quantidade de


trabalho que o coração deve realizar para satisfazer as demandas aumentadas do
corpo durante uma atividade. A frequência cardíaca em repouso é, em média, entre
60 a 80 batimentos por minutos. Ela é influenciada pela idade e tende a diminuir ao

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longo dos anos, além disso, em atletas ela tende a ser mais baixa quando
comparado a sujeitos destreinados.

Lembre-se que não se deve utilizar a FC pré-exercício como parâmetro para


a FC de repouso. Imediatamente antes ao início de uma atividade física temos uma
ação antecipatória que faz com que os valores de FC se eleve. Falando sobre a FC
durante o exercício, quando se inicia uma atividade a FC tende a aumentar de forma
direta ao aumento da intensidade até que se chegue próximo ao valor referente à
exaustão, nesse ponto a FC tende a se estabilizar.

Dessa forma, quando a FC deixa de aumentar com o aumento da intensidade


é um indicador que o seu aluno está próximo ao seu máximo esforço. Esse valor de
FC máxima é bastante confiável para a prescrição de treinamento e pode ser
estimado através de algumas equações. Normalmente se subtrai a idade do valor
220, e se tem uma estimativa do valor máximo. Mas fique atento, essa estimativa
deixa de ser confiável de acordo com o nível de condicionamento do seu aluno.

Para a prescrição da frequência cardíaca alvo de treino eu indico o método


indireto que é:

FC treino = (Fcmáx – Fcrepouso)x %treino + FCrepouso

Onde:

Fc treino é a frequência cardíaca que você deverá respeitar para o percentual


de Fc máxima escolhido.

Fc repouso é a frequência cardíaca medida em repouso, logo após acordar


ou em um momento de relaxamento.

% treino é a faixa percentual da frequência cardíaca máxima que você quer


utilizar no treino.

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Sistema respiratório

O sistema respiratório não atua sozinho, o sistema cardiovascular age em


conjunto para que seja possível captar, transportar e utilizar o oxigênio e remover o
dióxido de carbono. Esse processo envolve:

Ventilação pulmonar: a respiração, ou seja, o movimento do ar para dentro e


para fora dos pulmões.

Difusão pulmonar: é a troca de O2 por CO2 entre os pulmões e o sangue.

Transporte: através do sangue são transportados o O2 e o CO2 para os


tecidos do corpo.

Troca gasosa capilar: é a troca de O2 e CO2 entre o sangue capilar e os


tecidos dos metabolismos ativos.

Nesse caso, os dois primeiros pontos são conhecidos como respiração


externa, enquanto os dois últimos são denominados respiração interna.

Durante o exercício físico o sistema respiratório sofre alterações. No início da


atividade física ocorre um aumento acentuado e quase imediato na ventilação,
seguido por uma elevação mais gradual e contínua da profundidade e da frequência

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respiratória. Esse estímulo está intimamente ligado as necessidades metabólicas do
corpo, quanto maior a intensidade do exercício maior será a ventilação.

Quando a intensidade do exercício aumenta em direção ao máximo esforço,


chegamos em um determinado ponto em que a ventilação passa a aumentar de
forma desproporcional ao consumo de oxigênio (VO2, i.e. capacidade de captar,
transportar e utilizar o O2). Esse ponto é denominado ponto de ruptura ventilatório.

Quando a taxa de trabalho ultrapassa em torno de 70% do seu VO2máx, a


liberação de oxigênio para os músculos não consegue mais suportar as demandas
necessárias. Para compensar, uma maior porção de energia é derivada da glicólise,
o que resulta em um aumento da produção e do acúmulo de ácido lático.

Nesse ponto o aumento o aumento concomitante de CO2 estimula o aumento


da ventilação. Então no exercício a ventilação aumenta de forma proporcional com a
intensidade do exercício, até o ponto de ruptura ventilatório, a partir do qual a
ventilação aumentar desproporcionalmente à medida que o corpo tenta eliminar o
excesso de CO2.

Esse ponto em que existe uma maior produção de CO2 por minuto,
acreditava-se ser resultado da sua liberação pelo tamponamento do ácido lático
pelo bicarbonato, o que o faz ser também chamado de limiar anaeróbio, por supor
um desvia para o metabolismo mais anaeróbio.

Como efeito de treinamento o liminar anaeróbio tende a se deslocar para


mais perto do valor de consumo máximo de oxigênio. Dessa forma, um mesmo
esforço realizado antes de um treinamento passa a ser menos desgastante quando
comparado à situação pós treinamento.

Essa característica é refletida tanto pela frequência cardíaca, quanto pelo


consumo de oxigênio. Ou seja, se hoje correr à uma velocidade de 8 km/h
representa um esforço elevado, após um treinamento específico a pessoa se torna
capaz de correr à essa mesma velocidade com uma frequência cardíaca e consumo
de oxigênios mais baixos, o que indica um melhor nível de treinamento.

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Sistema muscular

As várias funções do sistema neuromuscular são desempenhadas por três


tipos de músculos. O músculo, liso, esquelético e cardíaco. O músculo liso é
involuntário, ou seja, não temos o controle consciente deles de forma direta. Esse
tipo de músculo é encontrado nas paredes dos vasos sanguíneos e órgãos.

O músculo cardíaco somente pode ser encontrado no coração, assim como o


músculo liso ele não se encontra sob controle consciente e é o único músculo que
controla a si mesmo, como visto anteriormente. Os músculos esqueléticos são
aqueles que conseguimos controlar, eles são voluntários e somam em torno de 600
músculos pelo corpo.

A estrutura do músculo esquelético é composta pelo epimísio, tecido


conjuntivo que o recobre. Abaixo do epimísio temos o perimísio que é uma bainha
de tecido conjuntivo que circunda os fascículos. Nos fascículos podemos encontrar
as fibras musculares que se divide nas miofibrilas, que são os elementos contráteis
do músculo. Ainda, as miofibrilas são compostas por diversos sarcômeros, que são
a menor unidade funcional do músculo, e lá que ocorre a interação entre actina e
miosina, gerando a contração muscular.

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A contração muscular pode ser classificada de acordo com seu tipo de ação,
podendo ser concêntrica, excêntrica e isométrica ou estática.

Ação concêntrica: O encurtamento do músculo quando os filamentos de


actina são puxados e aproximados uns dos outros. Para tanto existe o movimento
articular, aproximando a inserção do músculo de sua origem.

Ação Isométrica: Os músculos também podem atuar sem que haja


movimento. Nesse caso, o músculo é capaz de gerar força sem alterar seu
comprimento.

Ação excêntrica: Nesse caso o músculo gera força enquanto está alongando,
é considerada uma ação dinâmica e a inserção do músculo passa a se afastar da
origem. Aqui, os filamentos de actina são tracionados ainda mais do centro do
sarcômero, provocando seu alongamento.

Relembrando ainda, mais força pode ser gerada quando mais unidades
motoras são recrutadas. As unidades motoras de contração rápida geram mais força
do que unidades motoras de contração lenta por que cada unidade rápida possui
mais fibras musculares do que as lentas.

Ainda, músculos maiores, possuindo mais fibras musculares, também


conseguem produzir mais força do que músculos menores. Por último, os músculos
e seus tecidos possuem a propriedade elástica. Quando eles são alongados, essa
elasticidade resulta no armazenamento de energia que fica disponível e é liberada
na atividade muscular subsequente, aumentando a produção de força.

O exercício promove muitas adaptações no sistema neuromuscular. Essas


adaptações são dependentes do tipo do programa de treinamento seguido: o
treinamento aeróbio não produz ou produz um ganho muito pequeno de força e
potência muscular, mas temos adaptações muito expressivas quando utilizamos
metodologias de treino de força.

Força muscular: é o vigor máximo que um músculo, ou grupo muscular, pode


gerar. A força pode ser definida pelo peso máximo que uma pessoa é capaz de
mobilizar em uma única repetição, chamando de repetição máxima ou 1RM.

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Potência muscular: é o aspecto explosivo da força, resultante da
multiplicação da força com a velocidade de movimento e é um componente
fundamental na maioria das atividades de ato rendimento. A potência é aumentada
quase que exclusivamente através de ganhos de força.

Resistência muscular: capacidade de sustentar ações repetidas, fixas ou


estáticas durante um longo período de tempo.

Hipertrofia muscular: ocorre em razão do treino de força e reflete mudanças


estruturais no músculo, que podem ser resultantes do aumento do tamanho das
fibras musculares e ainda pode existir um aumento no número de fibras.

Bioenergética

A obtenção de energia através do ATP

A energia das ligações moleculares dos alimentos é liberada quimicamente


no interior das nossas células e, em seguida, ela é armazenada sob forma de um
composto altamente energético chamado adenosina trifosfato, ou ATP. Em repouso
o corpo utiliza tanto carboidratos como gordura para obter a quantidade de energia

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necessária, já as proteínas geralmente contribuem muito pouco para a produção de
energia e são consideradas estruturais no seu corpo.

Durante o esforço de baixa à média intensidade uma maior quantidade de


carboidratos é utilizada, com menor dependência das gorduras. Já no exercício
máximo, geralmente de curta duração, a ATP é gerada quase que exclusivamente a
partir dos carboidratos. De um modo geral, os carboidratos fornecem cerca de 4,1
kcal de energia por grama, enquanto as gorduras podem fornecer 9 kcal/g.
Entretanto, a energia dos carboidratos é muito mais acessível do que aquela
proveniente das gorduras.

Mas como essa energia é utilizada? Quando a enzima ATPase atua sobre a
ATP, o último grupo fosfato separe-se da molécula, liberando rapidamente uma
quantidade grande de energia. Isso reduz a moléculo para adenosina difosfato e um
fosfato livre.

Tá, entendi como a energia é liberada, mas como foi que se criou esse ATP?
O processo de armazenamento de energia através da formação de ATP a partir de
outras fontes químicas é denominado fosforilação. Através de uma série de reações
químicas, um grupo fosfato se liga ao ADP e forma o ATP. Quando essas reações
ocorrem sem a presença de oxigênio, o processo é chamado de anaeróbio. Quando
ele ocorre com o auxílio de oxigênio chamasse de metabolismo aeróbio e a
conversão de ADP em ATP ganha o nome de fosforilação oxidativa.

Essa formação de ATP se dá através de três formas no corpo: sistema ATP-


CP; sistema glicolítico e sistema oxidativo.

Sistema ATP-CP

Esse é o sistema energético mais simples e que fornece energia ao corpo de


forma mais rápida. Além de ATP, as células possuem a creatina fosfato (CP), que é
uma molécula de alta energia. A liberação de energia pela CP é facilitada pela
enzima creatina quinase (CK), que atua sobre a CP para separar um grupo fosfato

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da creatina. Essa energia liberada é então utilizada para ligar um fosfato ao ADP,
formando ATP.

Nesse processo, quando a energia é liberada da ATP, por meio da liberação


de um grupo fosfato, as células podem impedir o gasto de tanto ATP através da
quebra da CP fornecendo energia para restaurar mais ATP. Então, nos primeiros
segundos de atividade muscular intensa, a ATP é mantida em níveis quase
constantes enquanto a CP diminui a medida que é utilizada para repor os ATP.
Dessa forma, a produção de energia por esse sistema é limitada.

Os estoques de ATP e CP no músculo podem sustentar entre 3 e 15


segundos em esforços máximos.

Sistema glicolítico

O outro método de produção de energia que ocorre sem a dependência da


presença de oxigênio é o sistema glicolítico. Esse sistema envolve a degradação da
glicose por meio de enzimas glicolíticas. A glicose é a forma de açúcar mais
facilmente encontrada no corpo e se origina da digestão de carboidratos e da
degradação do glicogênio hepático. A glicólise é muito mais complexa do que o
sistema ATP e exige 12 reações enzimáticas para a degradação do glicogênio em
ácido lático.

O ganho desse processo é de 3 moles de ATP formados por cada mol de


glicogênio degradado. Se a glicose for utilizada no lugar do glicogênio, o ganho é
apenas de 2 moles de ATP. Esse sistema energético não produz grandes
quantidades de ATP. Apesar dessa limitação, as ações combinadas dos sistemas
glicolítico e ATP-CP permitem que o músculo gere força meso quando o suprimento
de oxigênio é limitado. Esses dois sistemas são predominantes nos minutos iniciais
de exercícios de alta intensidade. Outra limitação importante desse sistema é o
acúmulo de ácido lático nos músculos e nos líquidos corporais.

Nos exercícios máximos, que duram em torno de um a dois minutos, o


sistema glicolítico é altamente solicitado e as concentrações de ácido lático podem

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aumentar em grande proporção. Essa acidificação do meio das fibras musculares
compromete a função enzimática, além de dificultar o processo de contração
muscular.

Não podemos nos limitar a ter energia para 2 minutos de exercício, para tanto
vamos ver como funciona o sistema oxidativo, o sistema de maior capacidade do
nosso corpo.

Sistema oxidativo

Esse é o sistema de produção de energia mais complexo entre os três. O


processo através do qual o organismo separa substratos com o auxílio de oxigênio
para gerar energia e é conhecido como respiração celular e a produção oxidativa de
ATP ocorre no interior das mitocôndrias.

Os músculos necessitam de um suprimento constante de energia para


produzir continuamente a força necessária durante a atividade de longa duração. Ao
contrário da produção anaeróbia de ATP, o sistema oxidativo possui uma enorme
capacidade de produção de energia e é o principal método durante eventos de
longa duração.

A oxidação dos carboidratos se dá através de três processos complexos que


são a glicólise aeróbia, o ciclo de Krebs e a cadeia de transporte de elétrons e
resulta em água, CO2 e 38 ou 39 moléculas de ATP por molécula de carboidrato.
Quando pensamos nas gorduras o processo é bastante semelhante, entretanto, se
tem a lipólise no lugar da glicólise e se utiliza uma maior quantidade de oxigênio
para esse processo.

Durante o exercício a disposição de oxigênio é limitada pelo sistema


cardiovascular, dessa forma, para exercícios de alta intensidade o organismo tem a
preferência de utilizar carboidratos, por ser mais rápido e econômico.

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