Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA


MARYANA SIMÕES MARTINS

Este texto tem como objetivo conhecer e investigar como o corpo se constitui
em interface com a produção do conhecimento da educação física e como a
sua compreensão foi se caracterizando ao longo da história.

O corpo como objeto de estudo vem sendo discutido por muitos anos, assim ao
longo da história surgem novas concepções de corpo e compreensões que são
discutidas em diferentes áreas. Em um contexto geral o entendimento de corpo
sofre com diferentes conceitos influenciados a partir da relação com o contexto,
a sociedade e a ciência.

Olhando para o campo histórico, vemos que o ser humano busca


entender/analisar a natureza a fim de dominá-la. Com isso nos deparamos com
entendimentos tomados como muitas vezes única verdade. A exemplo disso,
temos o filme “Físico” que destaca como a igreja se apropriava de uma
verdade, na qual determinava quais questões eram certas mediante ao corpo e
como a medicina poderia se comportar diante dos estudos em torno deste
objeto, considerando o corpo como algo sagrado e que não poderia ser aberto
ou profanado. Assim a sociedade da época toma esse entendimento como
absoluta verdade e condena como pecador aquele que difere deste
pensamento.

Mais para frente, a medicina encaminha-se para o surgimento de novos


conhecimentos, cuja acreditava que o corpo possuía diferentes tipos de graus
de calor, onde explicava a diferença entre mulheres e homens, como também
seres humanos e animais. A fim de diferenciar um corpo do outro e/ou dizer
qual o corpo possuía melhor condição para realizar uma ação. Ao contrário
deste entendimento, Harvey acreditava que a circulação é que aquecia o corpo,
pois o coração (máquina) que movimentava esse sangue no corpo, gerando o
calor.
A partir disso, inicia-se novas descobertas acerca da circulação do sangue e
outras questões com relação ao corpo humano retirando esse poder
centralizado no considerado divino. Isso facilitou no entendimento sobre a
saúde pública nas ruas e cidades. Desta maneira, começaram a surgir novos
hábitos que foram essenciais para a origem de um novo conceito de corpo
higienista que foi movimentado pelo capitalismo da época.

Durante o início do século XVIII, na Revolução Industrial, desenvolvida mais


tarde no século XIX, o corpo passa a ser visto como facilitador para a utilização
da força de trabalho. No entanto, a população predominantemente burguesa,
utilizando-se da sua verdade, compreendendo que o ser humano deve ser
domesticado a partir do melhoramento da raça e da padronização dos corpos.
E esse novo corpo, visto como dos operários, deveria ser construído com base
em uma formação integral, ou seja, físico, moral, produtivo e eficiente.

Neste contexto, a educação física é criada para tornar o ser humano mais
saudável, e assim originam-se manifestações acerca da educação dos corpos
com base nos paradigmas dominantes. Assim, há uma compreensão de um
aprimoramento do condicionamento físico para os militares, como também nas
indústrias, a fim de aumentar a produtividade dos trabalhadores. Além de
explicar o porquê do homem ser considerado mais forte do que a mulher. Desta
forma, acreditavam-se que a educação física produzia corpos melhores para o
trabalho fabril, industrial, corpos prontos para a guerra e no caso das mulheres,
condicionava um corpo mais resistente para se ter um filho.

A partir dos modos higiênicos, a contribuição da educação física passa a se


apoiar nos conhecimentos científicos biológicos. Portanto, no início do século
XX a educação física se resumia em aplicar os conhecimentos produzidos
pelas outras áreas (anatomia, fisiologia e medicina ligada aos exercícios
físicos), através dos métodos ginásticos. Na década de 30, quando a educação
física começa a se firmar no campo do ensino como componente curricular,
surgem muitas disciplinas que possuíam como objeto de estudo o corpo e o
movimento humano, além das relações culturais com o esporte. Gradualmente
aparecem novas disciplinas que buscavam compreender o movimento humano,
assim como sua articulação com a atividade física. E desta forma, nascem
também subdisciplinas que de modo epistemológico eram ligadas as ciências
mães. Diante disso, a educação física move-se para a produção de
conhecimento acerca do movimento do ser humano, baseando-se igualmente
nos métodos e ideias das ciências mães. (ALMEIDA; GOMES; BRACHT; 2013)

Neste processo, o campo da educação física possuía dificuldades em afirmar a


especificidade da área, justamente por estar orientada pelas ciências mães.
Assim, devido à importância no contexto social, nasce o desejo da disciplina
em construir essa identidade dentro do campo cientifico. Portanto, em 1980 a
educação física busca se tornar sua própria ciência. Mesmo sendo um
processo difícil, a disciplina consegue a partir desse período originar as
chamadas ciência da motricidade humana e ciência do esporte, na qual até
hoje são estudadas dentro da área. Por fim, também é neste momento que a
educação física deixa de ser denominada como ginástica e passa a se
consolidar como esporte (ALMEIDA; GOMES; BRACHT; 2013).

No entanto, entende-se que a educação física por mais que tenha tentado, não
se constitui como uma ciência, mas é uma área que se preocupa com a análise
na intervenção da prática a partir do olhar pedagógico do movimento e da
educação formativa cultural do ser humano. Mediante a isso, ao longo da
história conseguimos perceber que não existe uma única verdade, a ciência
não pode se resumir em um único conhecimento e também não se pode
hierarquizar qual conhecimento é mais relevante do que o outro. Pois a ciência
não é absoluta, ela precisa ser vista e revista sempre em qualquer processo de
investigação e estudo de um objeto. Onde o propósito da educação física é se
manter em constante avaliação e reflexão da prática, e não apenas tomar
algum conhecimento como única verdade.

Você também pode gostar