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DESCRIÇÃO

As diferentes dimensões da existência humana na compreensão dos conceitos


de gênero, sexo, sexualidade, feminilidade e masculinidade.

PROPÓSITO
Compreender as dimensões biológicas e sociais do corpo humano é essencial
para uma análise crítica e para a desmistificação sobre as diferenças entre
corpo e sexo, construídas culturalmente em nossa sociedade. Essa
compreensão é também um importante instrumento na construção de valores e
atitudes, permitindo um olhar mais crítico e reflexivo sobre a construção dos
conceitos de gênero, sexo e sexualidade por parte dos profissionais da saúde.

OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as quatro dimensões do ser humano e as características do corpo
biológico e do corpo simbólico

MÓDULO 2
Reconhecer a abordagem biológica e social na determinação do que é ser e ter
um corpo masculino e feminino

MÓDULO 3
Explicar os conceitos gênero, sexo e sexualidade e sua interface com o campo
de saúde
INTRODUÇÃO
O corpo biológico, em suas diferentes formas e dimensões, é alvo de reflexões
no campo da saúde e da educação, assim como no âmbito dos meios culturais,
por exemplo, publicidade, cinema, revistas, televisão, academias de ginástica e
outros espaços sociais que transmitem saberes e valores, produzindo os
sujeitos sociais.

Por isso, neste conteúdo, em relação às dimensões existentes da ideia de


corpo, abordaremos as representações que cada corpo ocupa dentro da
sociedade em determinada cultura, para assim compreendermos os conceitos
de gênero, sexualidade e sua interface com o campo de saúde.

AS QUATRO DIMENSÕES: ESPIRITUAL, PSICOLÓGICA,


SOCIAL E BIOLÓGICA
Em algum momento você refletiu sobre o fato de o ser humano ser
extremamente complexo e integrado?

Nós somos o resultado de basicamente quatro dimensões: espiritual,


psicológica, social e biológica.

A nossa dimensão espiritual está relacionada ao nosso centro de


pertencimento e ao fim que damos à nossa existência, não necessariamente
relacionando-se com alguma religião. Já a dimensão psicológica está
relacionada ao nosso comportamento. Quanto à dimensão social, esta
relaciona-se com nossas dinâmicas interacionais, como interagimos com as
pessoas ou com o meio em que vivemos. Por fim, a nossa dimensão biológica
está relacionada ao nosso organismo, ao nosso genótipo e fenótipo, à nossa
anatomia e ao processo saúde-doença.
A biologia humana é uma área do conhecimento científico de natureza
interdisciplinar, dentro das Ciências Naturais. Esse campo tem o corpo humano
como principal objeto de estudo. Essa natureza ampla e interdisciplinar da
biologia humana faz interface com outras áreas, como: Antropologia, Física e
Química, que também compõem o campo da saúde. É interessante
entendermos as concepções da genética e as características corporais que, em
adição a muitos outros campos científicos, irão construir os pontos de diferença
no campo social.

O CORPO É ESSÊNCIA DA NOSSA


EXISTÊNCIA?
OU O CORPO É SOMENTE UM SUPORTE
PARA AQUILO QUE VERDADEIRAMENTE
SOMOS?

A MENTE É ALGO DIFERENTE DO CORPO?


É POSSÍVEL CONHECER O MUNDO E AS
COISAS QUE NOS CERCAM SOMENTE PELA
RAZÃO, SEM RECORRER AOS SENTIDOS DO
NOSSO CORPO?

OU O CONHECIMENTO DEPENDE DA NOSSA


EXPERIMENTAÇÃO DO MUNDO?
Vamos refletir sobre todos esses questionamentos!

É comum dizerem que vivemos um culto ao corpo, mas, na realidade, não é


bem assim. Nós, com frequência, acabamos desvalorizando o nosso o corpo e
valorizamos a imagem que temos dele. O nosso corpo é cercado de
tecnologias, que o manipulam e vendem a ideia de corpo ideal. No entanto, o
corpo nada tem a ver com o ideal, ele é um suporte de exercício de poder.
Segundo o viés psicologista, o corpo é expressão da vida psíquica. Já para os
psicoterapeutas, o corporal pode ser a via de acesso ao psíquico. E para o viés
sociologista, o corpo é também matéria, na qual se encontram as marcas das
classes e dos grupos sociais.

Precisamos entender que valorizar o corpo é valorizar não um suporte


de exercício de poder, mas a porção da vida que trazemos em nós
mesmos. Os corpos são movidos por múltiplas forças e não são um
objeto de único significado para o conhecimento. Todos os corpos
são, antes disso, constituídos por forças que lutam através deles.

O fato de termos corpos individuais faz com que pensemos em termos


de unidades. Isto é, nossos corpos singulares podem nos dar essa
aparência de viver como uma unidade, como uma máquina que
poderia ser explicada por suas partes ou mecanismos funcionando
como uma unidade coerente. Em parte, é assim, e devemos a nossa
existência a essas partes funcionando em conjunto, porém há uma
luta dentro de nossos corpos, entre nossas partes. Nossos instintos
lutam uns contra os outros dentro de nós mesmos, e lutam nos nossos
órgãos, nos nossos pensamentos e desejos, que também são partes
do nosso corpo.

.
É muito natural sentirmos o nosso corpo dilacerado em lutas internas, como
também é natural sentirmos o corpo tomado pela dominância de um ou mais
instintos e afetos. Portanto, é o corpo e os seus movimentos que podem nos
ajudar a medir nossa maior saúde e a cuidar melhor de nós mesmos.
O CORPO BIOLÓGICO E O CORPO SIMBÓLICO
A ideia de corpo que se aprende desde a infância é aquela baseada nas
Ciências Biológicas. Primeiro, aprendemos que o corpo se divide em cabeça,
tronco e membros e, à medida que evoluímos, vamos acrescentando sistemas,
órgãos, tecidos, células etc.

Por determinação biológica, o campo da saúde estruturou seus conhecimentos


classificando os corpos de natureza genética feminina (xx) e masculina (xy) a
partir da identificação genética cromossômica e todas as características
determinadas por esses genes (genética, genitália, fenótipos, características
hormonais etc.).

A Biologia é uma ciência que se preocupou com o que e de que o corpo


humano é feito, como funciona, e como o corpo pode ser corrigido se algo der
errado ou se ele for invadido por outros seres microscópicos, por exemplo:
bactérias, fungos, vírus etc. No campo da saúde, é importante entendermos
que essa dimensão biológica do corpo foi estruturante e que há uma dimensão
do cuidado que tem como objeto os agravos que ocorrem nesse corpo
biológico, os quais podemos entender como corpo físico.
Mas não podemos nos esquecer de que, desde sempre, somos também um
corpo social, um corpo simbólico. Assim, nosso corpo será o portador e o
veículo de mensagens e disposições próprias de dada sociedade e dada
cultura em certo contexto e momento historicamente determinado. Ao
aprendermos a cultura da sociedade da qual fazemos parte, construímos um
entendimento de nós mesmos, dos outros e do mundo.

Segundo Dumont e Preto (2005), a percepção de que temos do corpo na


atualidade apresenta a influência de duas vertentes que explicam a concepção
de ser humano: a vertente idealista e a vertente materialista.

A abordagem idealista tem a sua gênese nas reflexões e nas ideias de Platão,
para quem o corpo representa, na verdade, o cárcere da alma, esta última
originada no mundo das ideias. Logo, podemos compreender que o corpo real,
ou o corpo físico, representa uma dimensão inferior, sendo limitado,
diferentemente da alma, que se apresenta como perfeita e imutável. Seguindo
essa linha de pensamento, mais tarde, podemos destacar a teologia sobre o
pecado original representada por Santo Agostinho. Para esse filósofo, o corpo
é pecaminoso, representando a perdição e o caminho do mal. Dessa forma,
podemos observar como a abordagem idealista apresenta tendências de
rejeição do corpo físico como inferior e fonte de culpa e angústia.

Tempo depois, a modernidade conduz a um conflito, pois ela se contrapõe à


lógica medieval para a qual o sexo era, por natureza, pecado, conduzindo para
a negação do corpo. O culto ao prazer da modernidade conduz a uma
emancipação do ser humano, que passa a ser o centro das atenções.

Com a dessacralização do corpo humano e a possibilidade do seu estudo,


surge uma fragmentação do ser associada a uma fragmentação do
conhecimento, tanto do ser humano como do seu corpo. Assim, podemos
observar como, ao longo do tempo, ficamos presos inicialmente em uma visão
idealista, passando depois para uma visão materialista contraposta e,
atualmente, buscando uma visão mais integral e consciente, tanto do corpo
humano como das suas condições.

Ainda sofremos forte influência desse passado, que se reflete, por exemplo, na
idealização do corpo perfeito, sublime, que a lógica mundial do capitalismo nos
empurra. Assim, rejeitamos corpos que não são adequados a um padrão
estético exigente e de performance extraordinária, que refletem, segundo essa
visão, um ser fraco. Por outro lado, essa visão entra em conflito com o forte
hedonismo da atualidade, pois precisamos conhecer e valorizar os nossos
desejos para nos libertarmos de qualquer imposição. Isso nos gera um grande
conflito, afinal, o que desejamos pode ser apenas uma mera reprodução do
que socialmente estamos acostumados a idolatrar.
CORPO, SAÚDE E DOENÇA
Se voltarmos agora aos eventos de saúde e doença, e considerarmos o corpo
um elemento que participa ativamente dessas construções, veremos que a
forma como é concebido é de vital importância para sua compreensão. Dessa
forma, os estados de doença exigem que sejam classificados e esclarecidos os
sinais dos sintomas. Para tanto, na construção diagnóstica, o profissional de
saúde (médico ou outro) deve levar em conta os sintomas descritos pelo
paciente, e também os aspectos constatados objetivamente – os sinais. Mas,
nessa jornada, o pessoal da saúde é fortemente influenciado por um campo de
conhecimento que, muitas das vezes, passa a reproduzir relações de poder e
que pouco representa a realidade objetiva e neutra que tanto defende.

Isso fica evidente quando definimos padrões e modelos de saúde, os quais


refletem apenas os valores e a realidade de uma hegemonia social. Tudo
aquilo que não se enquadra em tal padrão passa a ser tratado como doença. O
padrão dominante é constituído por um conjunto de atributos: branco,
feminino/masculino, heterossexual, sem deficiências, saudável, magro. Elege-
se na consciência das pessoas – individual e coletivamente –, com base na
nossa história, nos costumes, nos aprendizados que herdamos das gerações
passadas.

No entanto, segundo Ferreira (1994, p. 2), “as sensações corporais


experimentadas pelos indivíduos e as interpretações médicas dadas a estas
sensações serão feitas de acordo com códigos específicos a estes dois
grupos”.
Precisamos compreender o corpo como signo, pois profissionais e usuários
têm formas diferenciadas de significar suas experiências e compreender sinais
e sintomas. Quanto maior a possibilidade de compreensão das significações e
dos sentidos expressos por pacientes e profissionais, nos dois sentidos, melhor
a relação que se estabelece, mais claro o diálogo e, consequentemente,
melhor preparado estará o campo para acolhimento e atenção à saúde.
A COMPREENSÃO DOS SINTOMAS POR PARTE DA
EQUIPE DE SAÚDE E OS PACIENTES
No vídeo a seguir, a especialista faz uma reflexão sobre a compreensão dos
sintomas por parte da equipe de saúde e os pacientes.
VEM QUE EU TE EXPLICO!
As quatro dimensões: espiritual, psicológica, social e biológica. – O culto ao corpo e a

desvalorização do corpo.

O corpo biológico e o corpo simbólico. – O corpo físico, o corpo social e o corpo

simbólico.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

O CONCEITO DE GÊNERO E SUAS IMPLICAÇÕES


Gênero é uma construção social. Mas fomos nós que inventamos o masculino
e o feminino?

Isso mesmo, podemos dizer que o masculino e o feminino é uma invenção


humana. Afinal, somos uma espécie animal. A Sociologia permite-nos o estudo
científico da organização e do funcionamento das sociedades humanas,
proporcionando, junto a outras áreas científicas, o conhecimento de como
papéis e padrões sociais foram estabelecidos ao longo do tempo.

Nascemos como todas as espécies animais, macho e fêmea. Foi assim


entendido por um período na nossa história humana, até que surge este novo
termo, este novo conceito, do masculino e do feminino. Se, por um lado, o
impulso animal conduz ao acasalamento, entre outras atividades necessárias
para a sobrevivência, o ser humano tornou-se uma espécie capaz de agir tanto
instintiva como racionalmente. Somos bípedes, trocamos os instintos pela
racionalidade, somos capazes de nos comunicar de diversas maneiras. Temos
um raciocínio lógico, logo podemos pensar a respeito. Além disso, somos
dotados de bom senso, juízos de valor etc. Temos a capacidade neurológica de
apreender uma variedade de conhecimentos e, dessa forma, naturalmente,
nascemos como macho ou fêmea.
Os ancestrais originários agrupavam-se para sobreviver e, assim, eram
compostas as primeiras famílias. Nesses grupos, a organização social era
pouco diferenciada, mas já existiam, em sua essência, os cuidados, a
solidariedade e a empatia minimamente. Afinal, a permanência e a evolução da
espécie humana dependem desses acordos de cooperação. No começo, cada
indivíduo caçava ou colhia dependendo do que tinha para fazer naquele
momento, buscando sobreviver. Não havia uma definição exata de quem
estava disposto a estar ali e desempenhar um ou outro papel, como, por
exemplo, cuidar das crianças.
Nesse contexto, não havia a designação de “mulher faz isso ou aquilo”. Ser
macho e fêmea tinha, apenas e tão somente, a ver com a reprodução da
espécie. Hoje, existem papéis sociais diferentes para homens e mulheres. Mas
uma das hipóteses em relação a este tema é que a evolução foi 
demandando arranjos sociais de cooperação que permitissem à espécie
humana o cuidado de uma cria, que, diferentemente de outras espécies, requer
cuidados intensivos durante um bom tempo da sua vida.

Veja que interessante: a história aponta que, na medida que a sociedade se


torna mais complexa, mais tempo a prole convive com os seus pais. Isso é
explicado pelo fato de que são os pais os responsáveis, de forma direta ou
indireta, pelo desenvolvimento e pela aprendizagem cultural dos filhos. Assim,
por meio da dialética entre cultura e natureza, vamos construindo uma
sociedade que conta com trabalho mais especializado, conhecimento mais
específico e organização social mais complexa.

Mas para entendermos toda essa evolução, onde entra o conceito de gênero?

A BIOLOGIA E O GÊNERO MASCULINO E FEMININO


Antes de aprofundarmos o assunto, faremos aqui uma diferenciação
interessante entre sexo e gênero. Veja: o sexo definirá diferenças anatômicas,
fisiológicas, entre macho e fêmea. Trata-se de uma determinação de ordem
biológica.

O sexo masculino tem algumas características anatômicas e fisiológicas que


são diferentes do sexo feminino. Por outro lado, o gênero refere-se a noções
socialmente construídas. São os papéis sociais construídos e atribuídos a este
masculino e feminino. Todas essas construções, essas realizações, são
definidas ao longo da nossa história por uma série de outras construções que
foram feitas.

Nós éramos nômades e, aos poucos, passamos a formar grupos sedentários.


Assim, construímos cidades, ampliamos a tecnologia e conseguimos produzir
coisas impressionantes. No decorrer de tudo isso, historicamente falando,
fomos nomeando estruturas, maneiras, modos de andar pela sociedade.
O gênero, então, é um produto direto de toda essa organização e evolução.
Criou-se um conceito que tem a ver com os papéis sociais. Papéis esses que
começam

a ser definidos quando começamos a nos organizar em locais fixos (as futuras
cidades). Nesse momento da história, houve um arranjo que surge baseado
nas diferenças e nas possibilidades anatômicas em combinação com os
comportamentos dos sexos, delimitando a divisão de tarefas. Isto é, a mulher
passa a cuidar da criança, e o homem é encarregado de buscar os recursos
relativos à segurança e ao alimento.
Evolutivamente falando, quando passamos de quadrúpedes a bípedes, a
mulher, que gera e cria os filhos, passa a desempenhar tarefas mais
sedentárias, enquanto o homem pode circular mais livremente na procura por
esses recursos. Falamos evolutivamente, pois, para a fêmea da raça humana,
é mais difícil carregar a cria e fazer as atividades de caça e luta do que as
fêmeas de outras espécies primatas, que podem carregar a cria nas costas.

A INFLUÊNCIA DE OUTRAS INSTÂNCIAS


Precisamos adicionar a toda essa história o enquadramento que surge de uma
junção da Igreja com o poder econômico. No passado, o poder econômico era
representado principalmente pelos reis, pois era o monarca quem detinha o
poder financeiro de montar a cidade e, assim, neutralizar e deter o perigo de
uma guerra ou, em alguns casos, organizar confrontos para aumentar ainda
mais o seu poder. Toda essa organização política, social e econômica
determina os papéis, as expectativas, bem como os deveres e os direitos de
todos os membros do grupo. Estamos já falando aqui de sociedades
fortemente hierárquicas, nas quais o gênero masculino se torna fortemente
poderoso, detentor de riquezas, prestígio e autoridade.

No Estado, esse poder, junto com o aspecto religioso, determina um padrão de


normalidade para a raça humana. Esse padrão fica estabelecido de maneira
que o que é considerado normal são homens héteros – herança de uma
organização que privilegia e valoriza o sexo para fins reprodutivos.

Sendo assim, são somente aceitas as relações heterossexuais, especialmente


sob o controle moral e religioso da Igreja, que

determina os comportamentos socialmente aceitos para homens e mulheres,


espelhando-se em uma idealização da figura materna e do homem forte e
protetor. Ainda na maioria das religiões, as figuras masculinas são mais
poderosas do que as figuras femininas.
Tal padrão norteará a organização social praticamente do planeta inteiro, mas,
na sociedade ocidental, entende-se como uma determinação. Assim, surgem
as chamadas “coisas de menina” e “coisas de menino”. Junto com esse aporte
da religiosidade, há a questão de como eram consideradas as mulheres nas
religiões antigas, as quais eram as responsáveis pela manutenção da vida,
sequência e manutenção da espécie.
Achados arqueológicos do período neolítico, como a presença de diversas
peças com imagens femininas, são interpretados por muitos historiadores como
uma valorização dos atributos femininos, especialmente aqueles relativos à
maternidade, representados pelo culto às deusas mulheres, em detrimento a
valores de dominação e força característicos do sexo masculino. O fato é que
as mulheres exercem um papel muito importante em toda esta evolução sócio-
histórica. São elas que amamentam, e que, muitas das vezes, desempenham
papel de curandeiras, procuradas para fazer chá para as dores diversas. Mas
com o ascenso da religião judaico-cristã e a determinação dos papéis
considerando a supremacia de homens brancos e héteros, as mulheres
passam para um segundo plano e, pior ainda, restam inferiorizadas.

A SOCIALIZAÇÃO DO GÊNERO
A socialização dos homens e das mulheres da nossa raça se dá de forma
totalmente diferenciada. É estabelecido um padrão de comportamento para as
mulheres e para os homens. Essa diferenciação contribui para a desigualdade
e a assimetria de privilégios entre os homens e as mulheres. Veja as fotos a
seguir.
Por um lado, a mulher precisa ser frágil, submissa e, de preferência, não ter
muitos interesses intelectuais. Cabe à mulher dedicar-se às atividades do lar,
mantendo-se dentro de casa, cuidando e sendo responsável pela organização
e execução dos afazeres domésticos. Fica sob a responsabilidade do gênero
feminino a criação dos filhos, sua educação, garantindo que eles estejam bem
alimentados, devidamente vestidos e comportados. A mulher fica encarregada
de transmitir os valores e a religião, pois o pai estará ocupado com outras
tarefas. Ela precisa reproduzir modelos femininos fortemente idealizados em
uma imagem pura, abnegada e solícita, que busca o bem-estar da sua família
e, especialmente, respeita e segue a figura do homem, que deve ser entendida
como uma autoridade.

Já o homem precisa ser grande, forte, guerreiro, provedor, protetor e o mais


intelectualizado possível. Ele precisa mostrar sempre a sua superioridade, não
podendo expor fragilidades. Alguns autores refletem sobre como esse modelo
masculino traz consequências negativas, não somente no psiquismo feminino,
como também no psiquismo masculino (NOLASCO, 1993).

Para a mulher, a supremacia do gênero masculino pode trazer sérias


consequências, atrapalhando a possibilidade de expressar os seus desejos,
manifestar as suas vontades sem se sentir culpada por se colocar em primeiro
lugar. A mulher entra em conflito quando percebe que a sua personalidade não
se encontra representada nessa imagem de fragilidade e submissão, que, por
muito tempo, foi imposta. Essa mulher pode não se reconhecer na figura doce
e sensível, domesticada e pura, discreta e obediente.
Da mesma forma, para Nolasco (1993), o homem pode sofrer pela imposição
dos papéis e das características tipicamente masculinas. Um homem
pode não se identificar com a figura de um ser autoritário, detentor de
força, seguro e determinado, com capacidade de proteger e sustentar
todos os membros da família, sendo altamente sexualizado, capaz de
engajar no sexo de forma rápida e eficiente. Dessa forma, homens
que apresentam um psiquismo mais sensível, sendo mais submissos
e passivos, podem encontrar neste modelo uma enorme tortura. A
SOCIALIZAÇÃO DO GÊNERO E SUAS IMPLICAÇÕES
No vídeo a seguir, a especialista faz uma reflexão sobre a opressão dos papéis
masculinos e femininos e a socialização do gênero.

VEM QUE EU TE EXPLICO!


O conceito de gênero e suas implicações – A organização social de nossos ancestrais

A biologia e o gênero masculino e feminino – A definição dos papéis segundo o gênero

VERIFICANDO O APRENDIZADO

HOMEM OU MULHER, QUE PERGUNTA É ESSA?


A sexualidade ainda é um grande tabu na nossa cultura, mas é necessário falar
sobre ela, pois o desconhecimento sobre esse assunto só ajuda a perpetuar o
sofrimento que milhares de pessoas vivem todos os dias.

A sexualidade humana manifesta-se de várias formas. Para podermos falar


sobre ela, é importante primeiro saber a diferença entre: sexo, gênero,
identidade de gênero e orientação sexual.
Vamos conhecer essas diferenças.

SEXO
GÊNERO
IDENTIDADE DE GÊNERO
ORIENTAÇÃO SEXUAL

SEXO
O sexo é a parte biológica e se divide em macho, fêmea e intersexo. Ele é
definido pelos seus cromossomos e por características, como os órgãos
reprodutivos internos e externos. No entanto, definir o sexo de alguém não é
algo tão simples assim, já que uma pessoa biologicamente intersexo pode
nascer com características sexuais de macho e fêmea.

INTERSEXO
O termo descreve pessoas que não desenvolvem completamente a
genitália “masculina” ou “feminina”, ou desenvolveram uma
combinação de ambas.

GÊNERO
O gênero é a categoria de masculino e feminino que construímos
socialmente e que engloba todas as práticas atribuídas às pessoas
que nascem com um aparelho genital ou outro. Cada cultura incentiva
que as pessoas tenham certos comportamentos, vestuários,
profissões e valores de acordo com o gênero que foi atribuído à
pessoa quando ela nasceu.

IDENTIDADE DE GÊNERO
A identidade de gênero tem a ver com qual gênero a pessoa em
questão se identifica. Um indivíduo biologicamente macho pode se
identificar com o gênero masculino ou com o gênero feminino, por
outro lado, uma pessoa biologicamente fêmea também pode se
identificar com qualquer um dos dois.
Assim, transgêneros são pessoas cuja identidade de gênero, ou
expressão dessa identidade, difere do gênero relacionado com seu
sexo biológico. Um exemplo seria uma pessoa biologicamente macho,
mas que se identifica com o gênero feminino e se veste ou se
comporta de modo coerente com o gênero feminino. Quando a
identidade e a expressão de gênero são coerentes com o gênero
atribuído a uma pessoa, ela é chamada de cisgênero, então, o
contrário corresponde ao transgênero.

ORIENTAÇÃO SEXUAL
Temos ainda o termo orientação sexual, o qual descreve por qual
tipo de pessoa você sente atração afetiva e sexual. A orientação
sexual divide-se em
orientação heterossexual, homossexual ou bissexual. Apesar
dessas divisões, hoje, a orientação sexual é vista mais como
um continuum, variando de um extremo a outro. A orientação sexual
de alguém não é necessariamente fixa e pode variar por diferentes
razões.
ATENÇÃO
É importante destacarmos que tanto a orientação sexual quanto a identidade
de gênero costumam se manifestar desde cedo, independentemente dos pais
ou das pessoas próximas serem homo ou heterossexuais, trans ou cisgêneros.

Todas essas características da sexualidade são determinadas por muitos


fatores distintos, tais quais: a herança genética passada pelos pais, o
funcionamento das glândulas e dos hormônios do corpo, as primeiras
experiências de socialização, a cultura vigente e as suas experiências durante
a vida. A nossa sociedade incentiva algumas orientações e identidades,
enquanto discrimina outras. Por isso, os pais costumam incentivar ou reprimir
as manifestações de sexualidade a partir das normas culturais com as quais
eles concordem.

OS DIREITOS HUMANOS E O PAPEL DA SOCIEDADE


Infelizmente, homossexuais e pessoas com uma identidade destoante do
gênero associado ao seu sexo são alvos de discriminação e violência.

Na realidade, não podemos deixar de enfatizar que até alguns anos atrás ter
relações sexuais com pessoas do mesmo sexo era um crime na maioria das
sociedades. Atualmente, ainda existem países com essa filosofia, vide a Arábia
Saudita e o Irã. Como resultado, em muitos casos, quem não é heterossexual
ou cisgênero vive em um mundo muito hostil, e o pior: isso ocorre por motivos
que estão além do controle da pessoa!

Expressar a própria sexualidade é parte fundamental do desenvolvimento


psicológico saudável de todos. Podemos compreender, então, o impacto
psicológico negativo em que se encontram muitas das pessoas que expressam
a sua sexualidade de forma diferente do padrão estabelecido por uma maioria
social.

Existem resoluções e declarações aprovadas pela Organização das Nações


Unidas – ONU (2008) e pela Organização dos Estados Americanos – OEA
(2008) que afirmam que a orientação sexual e a identidade de gênero
representam Direitos Humanos que devem ser respeitados e reconhecidos.
Em adição e dando força a esse reconhecimento, a ONU (2008) publicou
recomendações específicas para os diversos governos e seus responsáveis
em relação aos deveres do Estado com as suas populações de homossexuais,
bissexuais, travestis e transexuais. Essas obrigações incluem a proteção
desses grupos contra qualquer ato de violência e de discriminação.
Dessa forma, podemos observar como o assunto da identidade de gênero e da
orientação sexual passa a ser contemplado nos Direitos Humanos. Em adição,
não podemos esquecer que, no caso do Brasil, a Constituição Federal de 1988
prevê a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, que deve
combater as desigualdades e qualquer tipo de discriminação. Assim, a nossa
Constituição e o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos
Humanos de LGBT (BRASIL, 2009) destacam a liberdade e o respeito de todos
esses cidadãos, apesar de a realidade ainda ser distante do que se preconiza.

O respeito à diversidade sexual torna-se uma necessidade de ordem nacional


quando observamos ainda o alto índice de violências e discriminação no Brasil.
O leitor interessado pode consultar O relatório sobre violência homofóbica no
Brasil, de 2012, que apresenta um número lastimável de 310 homicídios de
LGBT no país.

Para despertar mais ainda a sensibilidade e a preocupação de todos, é


necessário apontar que o Brasil, segundo a organização não governamental
europeia Transgender Europe, lidera o ranking mundial de assassinatos, com
mais de 600 travestis e transexuais mortos entre 2008 e 2014
(TRANSGENDER EUROPE, 2015).

IDENTIDADE DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL E


IDEOLOGIA DE GÊNERO
Até pouco tempo atrás, não era muito complicado entender as variações da
sexualidade. Falava-se em heterossexuais, homossexuais e bissexuais, e isso
parecia ser suficiente para definirmos a diversidade de como as pessoas viviam
sua sexualidade.

Tradicionalmente, o termo “gênero” passa a ser usado como sinônimo de


“sexo”, fazendo referência ao ponto de vista físico ou biológico com o qual a
pessoa nasce, sendo classificado de duas maneiras: 
masculino = macho e feminino = fêmea. Mas é importante que, para o seu
correto uso, o termo “gênero” seja entendido como um conceito de fundo
cultural e histórico e, dessa forma, passe a ser compreendido como uma
construção social.

Digamos, por exemplo, que, desde cedo, aprendamos que meninos usam a cor
azul e brincam de carrinho ou de bola, ao passo que as meninas usam a cor
rosa e brincam de casinha ou de boneca. Temos, portanto, construções sociais
associadas ao masculino e ao feminino, mas diante de uma ideologia de
gênero.
Podemos pensar que, se o gênero é uma construção social, do mesmo jeito
que ele pode ser construído, ele também pode ser desconstruído. Isso quer
dizer que a ideologia que existe em volta do gênero masculino ou feminino
pode ser modificada. Ela não é algo imutável, que se restringe às
características físicas e/ou biológicas do sujeito. O sexo expressa-se nas
características físicas, como os órgãos genitais, os seios ou a barba, já o
gênero refere-se ao aspecto social. Essa distinção entre sexo e gênero dá
origem ao conceito de identidade de gênero.
A identidade de gênero não está associada aos fatos biológicos, quer dizer,
ao sexo em si, ao pênis e à vagina, como o movimento ideológico de gênero
quer impor, mas sim à identificação do indivíduo com papéis, comportamentos
e padrões sociais, em outras palavras, com a construção social. Assim, por
exemplo, existem pessoas que nascem com o sexo masculino, mas não se
identificam com o gênero masculino. A ideologia de gênero postula a ideia de
que esta falta de concordância entre o sexo e a identidade de gênero é,
necessariamente, uma patologia.

Mas não podemos perder de vista que estamos falando aqui de uma ideologia.
Quando definimos ideologia, seguindo o pensamento de sociólogos
importantes, como Marx e Engles (1997), ela é usada pela classe dominante
como forma de manter a sua hegemonia e, assim, submeter suas ideias às
demais classes. Dessa forma, gera uma consciência falsa do que é
aparentemente certo e errado. Entretanto, todos somos livres e temos o direito
de escolher nosso próprio gênero. Toda essa identificação ou não do sexo com
o gênero e com a orientação sexual e a sexualidade dá origem às diversas
classificações que existem atualmente e que se derivam nas iniciais
LGBTQIA+. Encontramos em toda essa diversidade outra definição importante
de se explicar, o gênero binário, fazendo referência a uma divisão entre
feminino e masculino.

No entanto, existem pessoas que não se enquadram em apenas uma dessas


categorias. Chamamos a este grupo de não binário. Em outras palavras, a
identidade não binária, ou gênero não binário, representa a identidade de
gênero de pessoas que não se definem estritamente como masculinas ou
femininas, podendo representar uma inconformidade de gênero.

A diversidade ou as inúmeras possibilidades e expressões que representam as


letras LGBTQIA+ nem sempre são entendidas por todos. Portanto, vamos
explicar brevemente o que significa cada uma das letras e dos grupos aqui
contidos.
L

(L), como a maioria reconhece, representa o grupo de lésbicas, mulheres que


sentem atração afetiva e/ou sexual por mulheres.
G
(G) representa o grupo de gays, homens que sentem atração afetiva e/ou
sexual pelo mesmo sexo.
B

(B) são os bissexuais, que representa o grupo de homens e mulheres que


sentem atração afetiva e/ou sexual por mais de um gênero. Mas vamos
explicar melhor os outros grupos, que nem sempre são adequadamente
diferenciados.
T

Uma diferenciação que antigamente era feita e que hoje não se faz mais é
entre os transgêneros e os transexuais. Antes, considerava-se o transgênero
aquele que apresenta uma identidade de gênero diferente do seu sexo
biológico, mas sem recorrer a cirurgias ou tratamentos. Já o transexual era
aquele que realiza a cirurgia de mudança de sexo ou tratamento hormonal.
Mas essa distinção é muito difícil de se fazer em alguns casos.
Para confundir mais ainda, temos o termo “travesti”, que algumas pessoas
identificam como aqueles que apenas se vestem como mulher para incorporar
um personagem, de forma histriônica e exagerada. Os travestis são
identificados também como aquelas pessoas que levam o personagem
feminino para o seu dia a dia por identificação pessoal. E os drag queens são
artistas (homens ou mulheres) que se arrumam de forma exagerada, colocando
cabelos, roupas e maquiagem, de forma a representar um personagem, como,
por exemplo, a Madonna.
Atualmente, usa-se apenas o termo trans ou transgênero (T), que considera
todos aqueles nos quais o seu gênero psicológico não corresponde ao físico.
Assim, temos uma grande categoria que engloba todos os demais. A polêmica
é gerada porque, ao se tratar de uma identificação individual, não temos como
diferenciar socialmente um do outro, pois a realização ou não de
procedimentos cirúrgicos e/ou tratamentos hormonais é, em muitos dos casos,
o final de um processo.
Q
Os chamados hoje como queer (Q) são aqueles que transitam entre os
gêneros

feminino e masculino, ou outros. Esse termo é usado por essas pessoas para
expressar como elas se reafirmam com corpos não binários.

Outra classificação de identidade de gênero são os intersexuais (I), que são


pessoas que nascem com a genitália indefinida ou com a presença dos dois
genitais. Na maioria dos casos, somente um dos genitais é funcional.
Antigamente, isso era visto como uma aberração, mas, na realidade,
considerando o tema diversidade, devemos pensar que são pessoas cujo
desenvolvimento sexual não se enquadra na norma binária.
A

Os assexuais (A) representam aqueles que não apresentam interesse ou


atração sexual por outras pessoas. Para eles, a atração sexual não é um
conceito entendível ou aplicável. Assim, o não interesse não representa uma
falta (como muitas das vezes é colocado) nem o resultado de necessariamente
um problema físico ou psicológico, ele é apenas a expressão de um ponto
diante de todas essas possibilidades e de tamanha diversidade.
+

Finalmente, o símbolo + representa todos aqueles que não estão considerados


nas definições LGBTQIA+.

Além do sexo, do gênero e da identidade de gênero, a sexualidade humana


também é formada por outro elemento: a orientação sexual. Muitos confundem
orientação sexual e identidade de gênero, mas são dois conceitos
completamente distintos. A identidade de gênero está relacionada com o tipo
de comportamento que a pessoa vai assumir, de acordo com o gênero com o
qual ela se identifica. Já a orientação sexual está relacionada com o aspecto
afetivo e sexual.
A orientação sexual indica qual tipo de atração sexual uma pessoa vai ter por
outra. Vale destacar que as diferentes formas de orientação sexual não estão
necessariamente relacionadas com identidade de gênero.

A transexualidade é, muitas vezes, confundida com a orientação sexual. Uma


pessoa transexual não pode ser relacionada diretamente como alguém
homossexual, que é uma orientação sexual. Uma mulher trans pode ser
heterossexual, homossexual ou bissexual.
Existem também outros tipos de orientação sexual, vide o pansexual. “Pan”
significa todos e “pansexual” é uma orientação que denota o interesse sexual
por pessoas independentemente do sexo e do gênero. Então, o pansexual
pode sentir atração por um heterossexual, por um homossexual ou por um
bissexual.
Como você pode perceber, a variedade de orientações sexuais é enorme. Por
exemplo, você já escutou falar do polissexual?

“Poli” significa muito, então, “polissexual” denota um interesse sexual por vários
gêneros diferentes, sem manifestar interesse específico por um. Existe também
a denominação “solossexual”, conhecida como “autossexual”. Nesse tipo de
orientação, a pessoa não sente atração por terceiros,

independentemente de sexo ou gênero. Essas pessoas só apresentam atração


por si mesmas, mas isso não quer dizer que elas não tenham uma vida sexual.
Na maioria das vezes, essas pessoas sentem prazer sexual em sua
automasturbação.

Essa variedade de definições quanto à orientação sexual e à identidade de


gênero só mostra o quanto é complexa a sexualidade humana, a qual engloba
toda essa variedade de expressões.

A DIVERSIDADE EM ORIENTAÇÃO E IDENTIDADE


SEXUAL
No vídeo a seguir, a especialista faz uma reflexão sobre a diversidade em
orientação e identidade sexual.

VEM QUE EU TE EXPLICO!


Homem ou mulher, que pergunta é essa? – Definições básicas: sexo, gênero,

identidade e orientação sexual

Os direitos humanos e o papel da sociedade – Discriminação e violência na

sexualidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, uma prática em assistência de qualidade e que atenda às
necessidades sociais deve constituir-se alicerçada na consciência de que tanto
a formação profissional quanto os conhecimentos adquiridos não possuem
status fixo. Por esse motivo, a educação permanente tem de constituir uma
parcela da discussão sobre a atenção integral à saúde, que, por sua vez, deve
ser favorável ao contínuo contato com as diversas realidades existentes e em
sintonia com a dinamicidade social.

A construção de espaços de discussão e diálogo entre os profissionais de


saúde e a sociedade de um modo geral deve se naturalizar de forma a alcançar
a integralidade da execução dos princípios do nosso sistema de saúde, assim
como da nossa Constituição Federal e dos Direitos Humanos. É essencial
admitir a pluralidade de eventos e fenômenos que rodeiam e interferem na
qualidade da assistência em saúde.

Evidenciar as questões de gênero e sexualidade nos serviços de saúde é


condição primordial para a construção saudável de representações sociais
sobre questões tão presentes no cotidiano. O esforço em prol de uma
discussão que gere resultados positivos para todos constitui-se também como
ação estratégica que permita a efetiva implementação das políticas públicas e
sociais relacionadas às questões de gênero e sexualidade.

Não podemos concordar com a perpetuação de padrões que geraram e


continuam gerando sofrimento. O nosso princípio, como profissionais da área
da saúde, deve ser sempre a busca por formas de atuação que visem ao bem-
estar daqueles que nos procuram, entendendo que a realidade de cada um
precisa ser respeitada e acolhida.
REFERÊNCIAS
BENTO, B. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na
experiência transexual. Rio de Janeiro, RJ: Garamond, 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Integral
de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Brasília,
DF, 2010.
BRASIL. Relatório sobre violência homofóbica no Brasil: ano de
2012. Brasília, DF, 2012.
BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos – SED. Plano
Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de
LGBT. Brasília, DF, 2009.
BUTLER, J. P. Problemas de gênero: feminismo e subversão de
identidade. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 2003.
DUMONT, A.; PRETO, E. A visão filosófica do corpo. Escritos educ,
v. 4, n. 2, dez. 2005.
FERREIRA, M. E. Educação inclusiva. Rio de Janeiro, RJ: DP&A,
1994.
LE BRETON, D. A sociologia do corpo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
p. 7.
LOURO, L. G. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas.
Pro-Posições, v. 19, n. 2, maio/ago. 2008.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo, SP: Martins
Fontes, 1997.
NOLASCO, S. O mito da masculinidade. Rio de Janeiro, RJ: Rocco,
1993.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. ONU. Human rights,
sexual orientation and gender identity. Publicado em: 2008.
Consultado na internet em: 6 dez. 2021.
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. OEA. AG/RES.
2435 sobre derechos humanos, orientación sexual e identidad de
género. Publicado em: 3 jun. 2008. Consultado na internet em: 2 dez.
2021.
TRANSGENDER EUROPE. Trans murder monitoring 2015.
Publicado em: 8 maio 2015. Consultado na internet em: 6 dez. 2021.
VASCONCELOS, N. A.; SUDO, I.; SUDO, N. Um peso na alma: o
corpo gordo e a mídia. Revista Mal-Estar e Subjetividade, n. 1, mar.
2004.

EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo:

Leia:
 O e-book Gênero, sexualidade e saúde – diálogos latino-
americanos, de Camilo Braz e Carlos Eduardo Henning,
publicado pela UFG em 2017.
 A resenha Corpo, gênero e sexualidade: discussões, de
Kelly Bedin França, publicada pela Revista Estudos
Feministas em 2005.
Assista:
 Ao filme Garota Dinamarquesa, que aborda os conflitos da
não heterossexualidade e o pioneirismo da cirurgia de
mudança de sexo.

CONTEUDISTA
Carine Sena

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