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PROPÓSITO
Compreender as dimensões biológicas e sociais do corpo humano é essencial
para uma análise crítica e para a desmistificação sobre as diferenças entre
corpo e sexo, construídas culturalmente em nossa sociedade. Essa
compreensão é também um importante instrumento na construção de valores e
atitudes, permitindo um olhar mais crítico e reflexivo sobre a construção dos
conceitos de gênero, sexo e sexualidade por parte dos profissionais da saúde.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as quatro dimensões do ser humano e as características do corpo
biológico e do corpo simbólico
MÓDULO 2
Reconhecer a abordagem biológica e social na determinação do que é ser e ter
um corpo masculino e feminino
MÓDULO 3
Explicar os conceitos gênero, sexo e sexualidade e sua interface com o campo
de saúde
INTRODUÇÃO
O corpo biológico, em suas diferentes formas e dimensões, é alvo de reflexões
no campo da saúde e da educação, assim como no âmbito dos meios culturais,
por exemplo, publicidade, cinema, revistas, televisão, academias de ginástica e
outros espaços sociais que transmitem saberes e valores, produzindo os
sujeitos sociais.
.
É muito natural sentirmos o nosso corpo dilacerado em lutas internas, como
também é natural sentirmos o corpo tomado pela dominância de um ou mais
instintos e afetos. Portanto, é o corpo e os seus movimentos que podem nos
ajudar a medir nossa maior saúde e a cuidar melhor de nós mesmos.
O CORPO BIOLÓGICO E O CORPO SIMBÓLICO
A ideia de corpo que se aprende desde a infância é aquela baseada nas
Ciências Biológicas. Primeiro, aprendemos que o corpo se divide em cabeça,
tronco e membros e, à medida que evoluímos, vamos acrescentando sistemas,
órgãos, tecidos, células etc.
A abordagem idealista tem a sua gênese nas reflexões e nas ideias de Platão,
para quem o corpo representa, na verdade, o cárcere da alma, esta última
originada no mundo das ideias. Logo, podemos compreender que o corpo real,
ou o corpo físico, representa uma dimensão inferior, sendo limitado,
diferentemente da alma, que se apresenta como perfeita e imutável. Seguindo
essa linha de pensamento, mais tarde, podemos destacar a teologia sobre o
pecado original representada por Santo Agostinho. Para esse filósofo, o corpo
é pecaminoso, representando a perdição e o caminho do mal. Dessa forma,
podemos observar como a abordagem idealista apresenta tendências de
rejeição do corpo físico como inferior e fonte de culpa e angústia.
Ainda sofremos forte influência desse passado, que se reflete, por exemplo, na
idealização do corpo perfeito, sublime, que a lógica mundial do capitalismo nos
empurra. Assim, rejeitamos corpos que não são adequados a um padrão
estético exigente e de performance extraordinária, que refletem, segundo essa
visão, um ser fraco. Por outro lado, essa visão entra em conflito com o forte
hedonismo da atualidade, pois precisamos conhecer e valorizar os nossos
desejos para nos libertarmos de qualquer imposição. Isso nos gera um grande
conflito, afinal, o que desejamos pode ser apenas uma mera reprodução do
que socialmente estamos acostumados a idolatrar.
CORPO, SAÚDE E DOENÇA
Se voltarmos agora aos eventos de saúde e doença, e considerarmos o corpo
um elemento que participa ativamente dessas construções, veremos que a
forma como é concebido é de vital importância para sua compreensão. Dessa
forma, os estados de doença exigem que sejam classificados e esclarecidos os
sinais dos sintomas. Para tanto, na construção diagnóstica, o profissional de
saúde (médico ou outro) deve levar em conta os sintomas descritos pelo
paciente, e também os aspectos constatados objetivamente – os sinais. Mas,
nessa jornada, o pessoal da saúde é fortemente influenciado por um campo de
conhecimento que, muitas das vezes, passa a reproduzir relações de poder e
que pouco representa a realidade objetiva e neutra que tanto defende.
desvalorização do corpo.
simbólico.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Mas para entendermos toda essa evolução, onde entra o conceito de gênero?
a ser definidos quando começamos a nos organizar em locais fixos (as futuras
cidades). Nesse momento da história, houve um arranjo que surge baseado
nas diferenças e nas possibilidades anatômicas em combinação com os
comportamentos dos sexos, delimitando a divisão de tarefas. Isto é, a mulher
passa a cuidar da criança, e o homem é encarregado de buscar os recursos
relativos à segurança e ao alimento.
Evolutivamente falando, quando passamos de quadrúpedes a bípedes, a
mulher, que gera e cria os filhos, passa a desempenhar tarefas mais
sedentárias, enquanto o homem pode circular mais livremente na procura por
esses recursos. Falamos evolutivamente, pois, para a fêmea da raça humana,
é mais difícil carregar a cria e fazer as atividades de caça e luta do que as
fêmeas de outras espécies primatas, que podem carregar a cria nas costas.
A SOCIALIZAÇÃO DO GÊNERO
A socialização dos homens e das mulheres da nossa raça se dá de forma
totalmente diferenciada. É estabelecido um padrão de comportamento para as
mulheres e para os homens. Essa diferenciação contribui para a desigualdade
e a assimetria de privilégios entre os homens e as mulheres. Veja as fotos a
seguir.
Por um lado, a mulher precisa ser frágil, submissa e, de preferência, não ter
muitos interesses intelectuais. Cabe à mulher dedicar-se às atividades do lar,
mantendo-se dentro de casa, cuidando e sendo responsável pela organização
e execução dos afazeres domésticos. Fica sob a responsabilidade do gênero
feminino a criação dos filhos, sua educação, garantindo que eles estejam bem
alimentados, devidamente vestidos e comportados. A mulher fica encarregada
de transmitir os valores e a religião, pois o pai estará ocupado com outras
tarefas. Ela precisa reproduzir modelos femininos fortemente idealizados em
uma imagem pura, abnegada e solícita, que busca o bem-estar da sua família
e, especialmente, respeita e segue a figura do homem, que deve ser entendida
como uma autoridade.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
SEXO
GÊNERO
IDENTIDADE DE GÊNERO
ORIENTAÇÃO SEXUAL
SEXO
O sexo é a parte biológica e se divide em macho, fêmea e intersexo. Ele é
definido pelos seus cromossomos e por características, como os órgãos
reprodutivos internos e externos. No entanto, definir o sexo de alguém não é
algo tão simples assim, já que uma pessoa biologicamente intersexo pode
nascer com características sexuais de macho e fêmea.
INTERSEXO
O termo descreve pessoas que não desenvolvem completamente a
genitália “masculina” ou “feminina”, ou desenvolveram uma
combinação de ambas.
GÊNERO
O gênero é a categoria de masculino e feminino que construímos
socialmente e que engloba todas as práticas atribuídas às pessoas
que nascem com um aparelho genital ou outro. Cada cultura incentiva
que as pessoas tenham certos comportamentos, vestuários,
profissões e valores de acordo com o gênero que foi atribuído à
pessoa quando ela nasceu.
IDENTIDADE DE GÊNERO
A identidade de gênero tem a ver com qual gênero a pessoa em
questão se identifica. Um indivíduo biologicamente macho pode se
identificar com o gênero masculino ou com o gênero feminino, por
outro lado, uma pessoa biologicamente fêmea também pode se
identificar com qualquer um dos dois.
Assim, transgêneros são pessoas cuja identidade de gênero, ou
expressão dessa identidade, difere do gênero relacionado com seu
sexo biológico. Um exemplo seria uma pessoa biologicamente macho,
mas que se identifica com o gênero feminino e se veste ou se
comporta de modo coerente com o gênero feminino. Quando a
identidade e a expressão de gênero são coerentes com o gênero
atribuído a uma pessoa, ela é chamada de cisgênero, então, o
contrário corresponde ao transgênero.
ORIENTAÇÃO SEXUAL
Temos ainda o termo orientação sexual, o qual descreve por qual
tipo de pessoa você sente atração afetiva e sexual. A orientação
sexual divide-se em
orientação heterossexual, homossexual ou bissexual. Apesar
dessas divisões, hoje, a orientação sexual é vista mais como
um continuum, variando de um extremo a outro. A orientação sexual
de alguém não é necessariamente fixa e pode variar por diferentes
razões.
ATENÇÃO
É importante destacarmos que tanto a orientação sexual quanto a identidade
de gênero costumam se manifestar desde cedo, independentemente dos pais
ou das pessoas próximas serem homo ou heterossexuais, trans ou cisgêneros.
Na realidade, não podemos deixar de enfatizar que até alguns anos atrás ter
relações sexuais com pessoas do mesmo sexo era um crime na maioria das
sociedades. Atualmente, ainda existem países com essa filosofia, vide a Arábia
Saudita e o Irã. Como resultado, em muitos casos, quem não é heterossexual
ou cisgênero vive em um mundo muito hostil, e o pior: isso ocorre por motivos
que estão além do controle da pessoa!
Digamos, por exemplo, que, desde cedo, aprendamos que meninos usam a cor
azul e brincam de carrinho ou de bola, ao passo que as meninas usam a cor
rosa e brincam de casinha ou de boneca. Temos, portanto, construções sociais
associadas ao masculino e ao feminino, mas diante de uma ideologia de
gênero.
Podemos pensar que, se o gênero é uma construção social, do mesmo jeito
que ele pode ser construído, ele também pode ser desconstruído. Isso quer
dizer que a ideologia que existe em volta do gênero masculino ou feminino
pode ser modificada. Ela não é algo imutável, que se restringe às
características físicas e/ou biológicas do sujeito. O sexo expressa-se nas
características físicas, como os órgãos genitais, os seios ou a barba, já o
gênero refere-se ao aspecto social. Essa distinção entre sexo e gênero dá
origem ao conceito de identidade de gênero.
A identidade de gênero não está associada aos fatos biológicos, quer dizer,
ao sexo em si, ao pênis e à vagina, como o movimento ideológico de gênero
quer impor, mas sim à identificação do indivíduo com papéis, comportamentos
e padrões sociais, em outras palavras, com a construção social. Assim, por
exemplo, existem pessoas que nascem com o sexo masculino, mas não se
identificam com o gênero masculino. A ideologia de gênero postula a ideia de
que esta falta de concordância entre o sexo e a identidade de gênero é,
necessariamente, uma patologia.
Mas não podemos perder de vista que estamos falando aqui de uma ideologia.
Quando definimos ideologia, seguindo o pensamento de sociólogos
importantes, como Marx e Engles (1997), ela é usada pela classe dominante
como forma de manter a sua hegemonia e, assim, submeter suas ideias às
demais classes. Dessa forma, gera uma consciência falsa do que é
aparentemente certo e errado. Entretanto, todos somos livres e temos o direito
de escolher nosso próprio gênero. Toda essa identificação ou não do sexo com
o gênero e com a orientação sexual e a sexualidade dá origem às diversas
classificações que existem atualmente e que se derivam nas iniciais
LGBTQIA+. Encontramos em toda essa diversidade outra definição importante
de se explicar, o gênero binário, fazendo referência a uma divisão entre
feminino e masculino.
Uma diferenciação que antigamente era feita e que hoje não se faz mais é
entre os transgêneros e os transexuais. Antes, considerava-se o transgênero
aquele que apresenta uma identidade de gênero diferente do seu sexo
biológico, mas sem recorrer a cirurgias ou tratamentos. Já o transexual era
aquele que realiza a cirurgia de mudança de sexo ou tratamento hormonal.
Mas essa distinção é muito difícil de se fazer em alguns casos.
Para confundir mais ainda, temos o termo “travesti”, que algumas pessoas
identificam como aqueles que apenas se vestem como mulher para incorporar
um personagem, de forma histriônica e exagerada. Os travestis são
identificados também como aquelas pessoas que levam o personagem
feminino para o seu dia a dia por identificação pessoal. E os drag queens são
artistas (homens ou mulheres) que se arrumam de forma exagerada, colocando
cabelos, roupas e maquiagem, de forma a representar um personagem, como,
por exemplo, a Madonna.
Atualmente, usa-se apenas o termo trans ou transgênero (T), que considera
todos aqueles nos quais o seu gênero psicológico não corresponde ao físico.
Assim, temos uma grande categoria que engloba todos os demais. A polêmica
é gerada porque, ao se tratar de uma identificação individual, não temos como
diferenciar socialmente um do outro, pois a realização ou não de
procedimentos cirúrgicos e/ou tratamentos hormonais é, em muitos dos casos,
o final de um processo.
Q
Os chamados hoje como queer (Q) são aqueles que transitam entre os
gêneros
feminino e masculino, ou outros. Esse termo é usado por essas pessoas para
expressar como elas se reafirmam com corpos não binários.
“Poli” significa muito, então, “polissexual” denota um interesse sexual por vários
gêneros diferentes, sem manifestar interesse específico por um. Existe também
a denominação “solossexual”, conhecida como “autossexual”. Nesse tipo de
orientação, a pessoa não sente atração por terceiros,
sexualidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, uma prática em assistência de qualidade e que atenda às
necessidades sociais deve constituir-se alicerçada na consciência de que tanto
a formação profissional quanto os conhecimentos adquiridos não possuem
status fixo. Por esse motivo, a educação permanente tem de constituir uma
parcela da discussão sobre a atenção integral à saúde, que, por sua vez, deve
ser favorável ao contínuo contato com as diversas realidades existentes e em
sintonia com a dinamicidade social.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo:
Leia:
O e-book Gênero, sexualidade e saúde – diálogos latino-
americanos, de Camilo Braz e Carlos Eduardo Henning,
publicado pela UFG em 2017.
A resenha Corpo, gênero e sexualidade: discussões, de
Kelly Bedin França, publicada pela Revista Estudos
Feministas em 2005.
Assista:
Ao filme Garota Dinamarquesa, que aborda os conflitos da
não heterossexualidade e o pioneirismo da cirurgia de
mudança de sexo.
CONTEUDISTA
Carine Sena