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O cuidado em saúde e análises de poder

Sávio José da Silva Batista


Descrição

Cuidado em saúde e análises de poder em reflexões sobre o impacto na acessibilidade e


qualidade da atenção integral à saúde da população de lésbicas, gays, bissexuais.
Propósito

Compreender a complexidade do tema e trabalhar os aspectos históricos, políticos, culturais


visando ao desenvolvimento de estratégias efetivas de intervenções no acolhimento e na
qualidade da atenção integral à saúde da população LGBTQIA+, permitindo ao profissional
da saúde desenvolver atenção e cuidado mais eficiente, primando pelo bem-estar de todos os
pacientes.

Objetivos
Módulo 1
Saúde das mulheres lésbicas
Reconhecer a questão do cuidado em saúde das mulheres lésbicas.

Módulo 2
Saúde dos homens gays e bissexuais
Identificar a importância das políticas de saúde dos homens gays e bissexuais.

Módulo 3
Práticas/análises de poder e os efeitos do campo do
cuidado em saúde
Avaliar as práticas/análises de poder e os efeitos do campo do cuidado em saúde.

Introdução

O direito à saúde no Brasil, estabelecido pela Constituição de 1988, foi conquistado por meio
da luta do Movimento da Reforma Sanitária. No texto constitucional, a saúde é entendida de
maneira ampliada, estando além de uma busca a um profissional ou serviço de saúde. Nessa
concepção, a saúde é decorrente do acesso das pessoas e coletividades sem distinção aos bens
e serviços públicos oferecidos pelas políticas sociais universais.

A saúde, a previdência e a assistência social integram o Sistema de Seguridade Social,


conquista que representa o compromisso e a responsabilidade do Estado para com o bem-
estar da população (BRASIL, 1988). Você já parou para pensar como ocorre a segurança
social no caso da população LGBTQIA+? Devido à falta de “adequação” do gênero com o
sexo biológico ou com a identidade sexual “não tradicional”, os direitos humanos básicos
dessa população são negados. Muitas vezes, essas pessoas se encontram em condições e
locais de risco e vulnerabilidade, que remetem a um processo complexo de discriminação e
exclusão.

Tal situação é refletida em problemas sociais graves de discriminação e violência, levando


esses grupos a sofrer violação do direito à saúde, com perda do direito à autonomia, assim
como o seu livre desenvolvimento é afetado.

Neste conteúdo, entenderemos a importância de se conhecer os direitos da população


LGBTQIA+ e respeitá-los. Pensaremos sobre a saúde das mulheres lésbicas e as políticas de
saúde voltadas para homens gays e bissexuais e, por fim, refletiremos como a vulnerabilidade
social pode influenciar a saúde dessa população.
1 - Saúde das mulheres lésbicas
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer a questão do cuidado em
saúde das mulheres lésbicas.

A vulnerabilidade de mulheres lésbicas


Na maioria das vezes, ao se pesquisar sobre mulheres lésbicas, uma das palavras que se
destaca é invisibilidade. As lésbicas sofrem de diversas dificuldades de acesso a serviços de
saúde. Para Fernandes, Soler e Leite (2019), o uso do termo invisibilidade descreve a maneira
como esse grupo de mulheres é ignorado pelo sistema e profissionais de saúde, levando-as,
em alguns casos, a sofrer de violência institucional em hospitais e/ou centros de saúde. Essa
falta de atenção às lésbicas e às suas demandas específicas conduz a um desperdício de
recursos, apresentando uma baixa eficácia para a atenção do sofrimento dessa população.
Ao relacionar homossexualidade e bissexualidade feminina com a saúde, surgem vários
fatores que colocam a mulher em um estado de vulnerabilidade, tais como: a invisibilidade do
homoerotismo feminino, o machismo associado ao desejo sexual masculino, a ignorância dos
próprios profissionais de saúde ao acreditarem que uma Infecção Sexualmente Transmissível
só é transmitida através de relação com penetração. Tais fatores, somados ao grau de
preconceito, ainda hoje, podem deixar a mulher em um estado de vulnerabilidade.

E o que você entende por vulnerabilidade neste caso?

Resposta
São aquelas pessoas que, devido à sua realidade socioeconômica, são expostas a piores
condições de higiene e recursos básicos. Esses indivíduos apresentam maior carga de doenças
no curto e no longo prazo, assim como maior envolvimento em situações de risco, como uso
de substâncias ilícitas e acidentes. Por outro lado, possuem menor acesso à saúde ou têm
acesso a recursos de pobre qualidade.

Note que o conceito de vulnerabilidade que usamos aqui é bem diferente da ideia popular que
considera vulnerável apenas a mulher doce, frágil e indefesa que busca ou precisa da
presença de um homem forte que a defenda. Esse padrão nos remete a uma idealização de
uma figura feminina frágil, pura e submissa que passivamente espera ser salva por um
príncipe encantado. Todo esse imaginário faz parte de uma perspectiva ancorada em valores e
conceitos historicamente ultrapassados.
Comentário
Na virada do século XXI, surgiram diversas temáticas sobre sexualidade, tais como:
heterossexualidade sem intenção de reprodução, reprodução desvinculada do ato sexual,
homossexualidade e transexualidade. Embora tenham sido englobadas dentro da saúde
coletiva, ainda se fazia necessária atenção especial a esses grupos específicos, como a
população lésbica.

Ao que parece, a desigualdade existente nas relações de poder entre homens e mulheres, a
violência e a vulnerabilidade da mulher com relação à transmissão da AIDS suscitaram
movimentos sociais e políticos marcantes que reivindicaram direitos e atenção à saúde
integral feminina.

Mulheres lésbicas e o direito à saúde


A construção da mulher lésbica como sujeito de um direito a cuidados diferenciados tem
estimulado uma busca pelas especificidades de saúde. Também tem levado à produção de
reflexões críticas sobre a abordagem da sexualidade dentro de um campo marcado por
oposições como saúde-doença e normal-anormal.

Essa luta tem como suporte os direitos humanos, porém a invisibilidade dificulta a estimativa
do tamanho dessa população, o que leva a uma lentidão no desenvolvimento de políticas
específicas.

Comentário
Atualmente, ao procurar um serviço de saúde, muitas mulheres preferem se esconder,
negando a sua sexualidade. Alegam que não têm vida sexual por vergonha, temor e
despreparo dos profissionais de saúde para lidar com tais situações que inaceitavelmente
ainda são vistas como tabu.

O profissional, ao atender qualquer tipo de população, deve se despir de suas crenças e de


seus preconceitos para oferecer o melhor cuidado à paciente, independentemente de
orientação sexual, gênero, raça, crença ou qualquer outra característica. A opinião não deve
ser um fator que dificulte ou interfira na qualidade do atendimento e no acesso à saúde.
Como consequência dessas condições e desse preconceito, as infecções sexualmente
transmissíveis têm uma incidência muito alta. Frequentemente, as mulheres justificam que
mantêm relações sem proteção porque não conhecem o risco, confiam nas parceiras e
desconhecem métodos de prevenção do sexo oral feminino. Esse é um sinal claro da
necessidade da intervenção em saúde para essa população, tais como seminários,
informativos e atendimento claro no serviço de saúde. A camisinha feminina é distribuída
gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde desde 2000.

Homossexualidade feminina: quais são os


pontos de atenção?
Nos últimos anos, houve a necessidade de atenção às políticas públicas de saúde com apoio
de agências governamentais em diferentes instâncias sociais. Tais políticas consideram a
proteção, a orientação sexual e a identidade de gênero, além de saúde mental e
vulnerabilidades relacionadas às questões de gênero em geral. Sabe-se que discutir sexo entre
mulheres e as formas de proteção parece de difícil manejo, pois questões como discriminação
e preconceito podem ser fortes empecilhos para uma assistência de saúde de qualidade.
Entenda melhor a seguir:

Demandas específicas
Há outros fatores e demandas específicos nesse grupo populacional no que se refere a câncer
de mama e de colo de útero. Estudos apontam que existe maior prevalência de certos fatores
de risco de câncer de mama entre mulheres homossexuais. Esse fato é explicado
especialmente pelo desconhecimento do risco e, muitas das vezes, pela falta de cuidados. As
mulheres homossexuais também procuram menos o serviço de saúde principalmente devido à
discriminação, ao despreparo de profissionais, à dificuldade na autoaceitação e à negação do
risco de adquirir alguma doença.

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Preconceito e exposição social
Sabe-se pouco sobre as práticas sexuais entre mulheres, uma vez que elas não as revelam ou
mesmo não procuram assistência de saúde temendo o preconceito, a exposição social e a
violência. Esses e outros fatores sociais desfavorecem o progresso no que tange à qualidade
de atenção à assistência médica às mulheres desse grupo populacional.

Vejamos a seguir algumas particularidades no que se refere à saúde desse grupo de mulheres:

Saúde mental

Níveis elevados de sofrimento psíquico e de experiência de violência física na família, no


trabalho e em lugares públicos têm sido apontados como proporcionalmente altos em
diversos estudos, quando comparados à população heterossexual. Importante destacar que a
saúde mental das lésbicas passa a ser afetada por vários fatores, resultantes da lesbofobia.
Isso se evidencia em um alto índice de depressão e isolamento difícil de monitorar, pois, além
de ser um tema pouco abordado, a saúde mental das lésbicas perde espaço para outras
preocupações por parte dos órgãos de saúde que privilegiam uma abordagem da saúde sexual
e ginecológica.

O isolamento pode gerar sintomas depressivos e ansiogênicos quando algumas mulheres se


percebem sem uma rede de apoio. Todavia, quando as mulheres identificam e procuram falar
sobre suas angústias e seu sofrimento, conseguem utilizar mais estratégias de autocuidado.

Violência

Com relação à violência doméstica, durante muitos anos se postulou que sua ocorrência seria
muito menor entre mulheres lésbicas. No entanto, estudos evidenciaram que sua ocorrência
em termos de frequência era similar à observada na população heterossexual. Nesse aspecto,
o relatório da oficina Atenção integral à saúde de mulheres lésbicas e bissexuais (2014)
explica:

Com relação à violência, os estudos


demonstram que há violência intraconjugal
nas relações entre mulheres e são similares às
que ocorrem nas relações heterossexuais.
Entretanto, a violência familiar, em todas as
suas formas, não apenas violência física, é
muito frequente nas mulheres lésbicas e, por
ser intrafamiliar, é menos denunciada e menos
vivenciada como violência.
(BRASIL, 2014, p. 25)

Há ações voltadas ao controle da sexualidade que podem ser acompanhadas de violência,


como estupro cometido por um familiar ou quando as maneiras de tratar a menina direcionam
práticas que intimidam sua expressão sexual.

Abuso de álcool e drogas


Uso abusivo de álcool, uso de drogas ilícitas e tabagismo têm sido muito recorrentes, em
especial nos estudos que focalizam a população lésbica e bissexual. Segundo dados colhidos
em uma pesquisa realizada em 2014, 74% das mulheres entrevistadas faziam uso de alguma
substância lícita ou ilícita (BRASIL, 2014).

Comentário
Podemos observar, então, que diversos aspectos devem ser considerados ao avaliar a saúde
desse grupo. O cuidado dos pontos de atenção mostra a necessidade de visualizar
vulnerabilidades e uma abordagem mais sensível, para garantir o direito à saúde.

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Os diversos pontos de atenção no cuidado de
mulheres homossexuais
Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre os diversos pontos de atenção no cuidado
de mulheres homossexuais.
Atendimento de saúde: estudo de caso
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Teoria na prática
Para compreendemos melhor as particularidades da população feminina que se enquadra no
mundo LGBTQIA+, vamos considerar o estudo de caso a seguir que aborda a história
hipotética de uma mulher chamada Sara. Nosso objetivo é entender as condições de vida
desse grupo, assim como sensibilizar e fazer um alerta quanto às diferentes histórias de vida
que desconhecemos.

Desde o seu nascimento, Sara vivia em uma cidade do interior com sua família. Seus pais
trabalhavam no serviço público e viviam sem passar necessidades. Na sua adolescência, Sara
quase não percebia olhares do gênero oposto, e quando percebia, não se interessava, mas para
ela estava tudo bem. Suas amigas já haviam tido alguma experiência sexual ou pelo menos
desejado isso, mas Sara, sempre retraída, começou a perceber que algo era diferente no caso
dela.

Por ser do interior, Sara não tinha acesso à informação e sempre se perguntava o que havia de
diferente, até que percebeu um olhar especial partindo de sua amiga, e com o
desenvolvimento da relação, ela finalmente se encontrou e um sentimento de realização e
satisfação começou a fazer parte de sua vida. Com essa nova experiência, surgiram novos
desafios como autoaceitação, aceitação dos pais e da sociedade.
Na tentativa de esclarecimentos e educação sexual, Sara verificou que poderia procurar o
serviço de saúde pública do seu bairro. Porém, ao se deparar com a profissional de saúde,
percebeu despreparo e falta de entendimento do que realmente ela procurava. Ela se deparou
com falas preconceituosas e risos, o que a fez sentir-se desestimulada a procurar esse serviço.
Sara escutou afirmações por parte do pessoal da equipe de saúde do tipo: “Vocês não pegam
doenças, pois não há penetração”, “Não há motivo para você nos procurar”, “Você nem
parece lésbica, não quer tomar um anticoncepcional para evitar gravidez?”. Ela se sentiu
ofendida e confusa, pois, no local em que deveria ser acolhida, foi mal interpretada e,
principalmente, sentiu-se marginalizada.

Analisando o caso hipotético, percebemos que Sara não foi acolhida de maneira correta.

O atendimento deve aspirar a um clima de acolhimento, escuta para compreensão de cada


caso, pois há particularidades em cada condição de saúde feminina. Tal atendimento deve
pressupor neutralidade de opiniões e julgamentos, deve ser cercado de respeito e zelo aos
aspectos integrais da saúde da mulher.

O direito de acesso à saúde é uma prerrogativa da Constituição Federal, “um direito de todos
e dever do Estado”, como afirma o artigo 196. Apesar disso, para mulheres que se relacionam
sexualmente com outras mulheres, o caminho até o serviço médico adequado passa por
entraves, como a falta de informação, a discriminação e a negligência institucional.

Um exemplo claro da invisibilidade que essa população sofre no atendimento à saúde é


relativo à falta de informação precisa em relação aos métodos de prevenção a doenças
sexualmente transmissíveis. Atualmente, ainda existe a desinformação de que mulheres com
práticas homoafetivas não correm riscos de contrair doenças sexualmente transmissíveis. Por
exemplo, ainda existe a falsa crença de que, por não acontecer o ato sexual com penetração,
essas mulheres não correm risco de contrair DSTs e HIV. Parece existir no imaginário de
muitos a falsa concepção de que sexo entre mulheres não é sexo.
Nós, profissionais de saúde, temos o dever de rever nossas abordagens a essas pacientes e a
maneira como realizamos nossas consultas. A maneira que estabelecemos o diálogo nos
permite colher informações sobre a vida sexual dessas mulheres. Nossa linguagem, postura e
atitude permitem que elas se sintam à vontade para assumir sua orientação sexual. Somos
responsáveis pelo espaço de escuta que geramos e devemos ter consciência de que a nossa
fala terá um impacto significativo na forma como essas mulheres passarão a entender e
valorizar os seus hábitos de cuidado e sua saúde. E então, você consegue identificar a
importância dos direitos das mulheres lésbicas e entender o significado que a vulnerabilidade
feminina possui nesses casos?

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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você
acabou de estudar.

MÓDULO 1

Vem que eu te explico!

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

“O direito a uma vida livre de violência é um dos direitos básicos de toda mulher. É pela
garantia desse direito que marchamos hoje e marcharemos sempre, até que todas sejamos
livres”. Texto retirado de cartazes em marchas no Distrito Federal. Com base nas
informações até agora apresentadas, identifique a alternativa correta:

A violência física contra a mulher é o estágio de uma série de violências verbais, simbólicas,
psicológicas que atingem mulheres todos os dias. A discriminação histórica contra a mulher
não é fruto de uma concepção patriarcal que ainda impera, mesmo inconscientemente, na
sociedade.

A luta contra a violência objetiva conscientizar a sociedade de que a culpa do estupro é da


mulher e o estupro está associado ao modo como ela se veste. Assim, muitas mulheres ainda
protestam contra a culpabilização das vítimas nos casos das violências sofridas e criticam as
instituições que sustentam a dominação e a exploração contra a mulher.

A mercantilização do corpo da mulher, do prazer e a banalização da exploração sexual são


dimensões da globalização econômica. A mulher é considerada alvo estratégico do
consumismo e o apelo sexual o elemento central nesse método. Por isso, deve se dar ao
respeito e ser sóbria nas suas roupas e nos seus comportamentos.
D

Mulheres lésbicas são diariamente expostas à vulnerabilidade, seja pelas dificuldades de


autoaceitação seja pela aceitação da sociedade. Por isso, tornam-se vulneráveis a
adoecimentos físicos e mentais. A melhor maneira de se garantir o direito à saúde dessa
população é desenvolver estratégias de políticas que acolham esse grupo de mulheres,
independentemente do serviço que procurarem.

A opressão ao sexo feminino nas empresas se dá na prática do assédio e abuso sexual em


troca da manutenção do emprego e das promoções de cargos. As mulheres que não aceitam
esses “pré-requisitos” têm que se desdobrar e demonstrar capacidade e superioridade para se
manter em seus empregos.

Parabéns! A alternativa D está correta.


Todas as alternativas levam a reflexões importantes no que diz respeito ao direito da mulher,
porém neste módulo focamos os direitos da mulher lésbica, que apresenta maiores riscos no
que diz respeito a seus direitos e acesso à saúde devido a questões como preconceito,
despreparo de profissionais e até mesmo autoaceitação.
Questão 2

O dia da visibilidade lésbica é 29 de agosto. Neste módulo, refletimos sobre a importância da


saúde voltada para essa população e as consequências do descaso. Com base no que
aprendemos, identifique a alternativa que descreve a melhor forma de se garantir os direitos
sexuais da mulher homossexual.

Os profissionais de saúde precisam sair de sua zona de conforto, buscando se livrar de


preconceitos e escutar essas mulheres. Precisam ter coragem de escutar o que as mulheres
lésbicas e bissexuais têm para dizer, entendendo que também haverá dificuldades, pois há
determinadas questões que não possuem resposta e não são simples de entender.

Garantir que tenham acesso ao planejamento reprodutivo, chamado também de planejamento


familiar, designa um conjunto de ações de regulação da fecundidade, as quais podem auxiliar
as pessoas a prever e controlar a geração e o nascimento de filhos, e englobam adultos, jovens
e adolescentes, com vida sexual com e sem parcerias estáveis, bem como aqueles e aquelas
que se preparam para iniciar sua vida sexual. Essa é a única forma de garantir seus direitos.

Informar os métodos de contracepção, pois estes também são úteis contra infecções
sexualmente transmissíveis, como por exemplo o uso dos contraceptivos orais, e métodos de
barreira como diafragma e camisinha masculina.
D

Manter a organização do serviço e os discursos dos profissionais, respeitando a relação


paciente-profissional e as concepções de gênero, conjugalidade e orientação sexual,
privilegiando a heterossexualidade e afirmando os modelos femininos que destacam as
características femininas que englobam a reprodução e a maternidade.

Incentivar a melhor forma de reprodução das mulheres lésbicas, deixando de lado qualquer
discurso de induza à adoção.

Parabéns! A alternativa A está correta.


Existem várias formas constitucionais de garantir os direitos sexuais e reprodutivos da
mulher, porém todos eles perpassam pelo olhar sensível do profissional que a está atendendo.
Por isso, nesta questão, a alternativa correta é a letra A. É imprescindível que qualquer
profissional respeite acima de tudo a pessoa mulher lésbica, muitas vezes renunciando a seus
conceitos religiosos e sociais aprendidos durante a sua vida.

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2 - Saúde dos homens gays e bissexuais


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar a importância das
políticas de saúde dos homens gays e bissexuais.

Definições e marco histórico

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, segundo a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Desde os primeiros tratados de direitos da
humanidade, já se reconhecia que todos são iguais e possuem direitos, todos nascem livres
em dignidade e oportunidades. Contudo, sabemos que a população de homens gays vem
sendo alvo, ao longo da história, de frequentes críticas e atos de violência.

Ao se pensar ou discutir a saúde de gays e bissexuais, devemos ter em mente que eles, assim
como outros grupos, ainda são alvos de discriminação que, muitas vezes, começa no próprio
lar, estende-se à escola, ao trabalho e ao mundo social em geral. Entenda melhor a seguir:

Gay
Termo utilizado para designar homens que se identificam como homens e se relacionam
sexual e afetivamente com outros homens.

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Bissexual
Pessoa que se relaciona sexual e afetivamente tanto com homens quanto com mulheres.

Comentário
A luta pela conquista dos direitos LGBTQIA+ no Brasil nos últimos anos foi marcada por
evoluções significativas, tanto no âmbito institucional como na forma de a sociedade
relacionar-se com essas minorias. Entretanto, a situação ideal de reconhecimento pleno dos
direitos dessas pessoas está ainda muito distante.

Embora tenha ocorrido alguma melhora no exercício da cidadania do grupo LGBTQIA+,


como a garantia do casamento civil e o direito de adoção, de acordo com o Relatório sobre
violência homofóbica no Brasil: ano de 2012, a cada dia, durante esse ano, pouco mais de 13
pessoas foram vítimas de violência homofóbica. Esse dado aponta que a construção da
cidadania ainda é incipiente, apesar de o texto constitucional afirmar que os direitos são
iguais sem distinção. É importante destacar que esses dados podem estar ainda sendo
subestimados porque carecemos de uma coleta adequada dos dados de LGBTfobia em todo o
território nacional.

Observe a seguir o gráfico com dados fornecidos pelo Observatório das Mortes Violentas de
LGBTQIA+ no Brasil.

O movimento social em defesa dos direitos dos gays/homossexuais masculinos surgiu na


década de 1970, tendo como marco a fundação do grupo Somos. Veja a seguir mais alguns
detalhes:

Contexto social
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O contexto social da época era profundamente adverso, uma vez que, em 1964, fora
instaurado o Regime de Exceção, o qual acabaria somente em 1985. Outro fato complicador
foi o surgimento da epidemia de AIDS no início de 1980.

Movimento social
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Desse modo, o movimento social, que surgira com o propósito de empoderamento e luta pela
conquista de direitos dos homossexuais, passa a atuar na garantia de necessidades básicas de
subsistência dessa população, como o direito de ter o tratamento de saúde realizado de forma
gratuita pelo Estado. Essa população tornou-se ainda mais estigmatizada em decorrência da
sua associação com a AIDS. Nesse aspecto, a década de 1980 foi especialmente difícil.

Política Nacional de Saúde Integral LGBT


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O Ministério da Saúde lançou, em 2011, a Política Nacional de Saúde Integral LGBT, por
meio da Portaria nº 2.836 que expande o horizonte de atuação da temática para além das
doenças e do agravo, abordando a questão do respeito e da integralidade da atenção à saúde.
Compreende-se, assim, que esses são direitos humanos e que devem ser observados no
âmbito do Sistema Único de Saúde.

ParticipaSUS
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Ainda em 2011, foi publicada Portaria da Política Nacional de Gestão Estratégica e
Participativa do Sistema Único de Saúde (ParticipaSUS). A Portaria nº 2.979 é de vital
importância, uma vez que autoriza o repasse de recursos para a implementação de Comitês de
Políticas de Promoção de Equidade e apoia eventos para atividades de políticas de promoção
da equidade para todas as 26 unidades da Federação e o Distrito Federal.

A luta contra o HIV/AIDS


A epidemia de AIDS que teve início da década de 1980 foi contida, pelo menos o quadro
dramático que se anunciou no começo não fora concretizado. As políticas públicas
implementadas e os avanços da medicina dificultaram a evolução da epidemia para uma
pandemia. Em 2020, das cerca de 920 mil pessoas vivendo com o vírus HIV no país, 593.217
estavam registradas no Sistema de Informações de Agravos de Notificação ( Sinan).

Sinan

É um sistema que serve para notificar casos de AIDS, hepatites virais e algumas doenças
sexualmente transmissíveis em todo o Brasil.

Contudo, em relação à população gay e bissexual, registra-se aumento dos casos de AIDS. Na
população de homens que fazem sexo com homens (HSH), apresentou-se um aumento de
casos de infectados, em todas as faixas etárias, a partir de 2007, excetuando aqueles com mais
de 50 anos. Esse dado demonstra que as políticas públicas implementadas, ao longo dessas
três décadas, devem ser mantidas e ampliadas de modo a conscientizar os jovens da
importância do uso de preservativos e da prática de sexo seguro.

Comentário
Ainda assim, estimativas recentes apontam queda no número de casos de infecção por AIDS
nos últimos anos. Entre 2012 e 2019, o Ministério da Saúde identificou no país uma
diminuição na taxa de detecção da doença de 21,9/100 mil habitantes para 17,8/100 mil
habitantes, um decréscimo de 18,7%.

Embora tenha ocorrido uma redução dos casos de AIDS em praticamente todo o território
nacional, não podemos esquecer que essa diminuição pode ser devido a problemas de
identificação na transferência de dados entre os diversos setores do SUS, especialmente no
que se refere às bases de dados municipal, estadual e federal. Confira mais alguns detalhes
importantes:
1. flag
Carga viral

Embora o risco de contrair AIDS não seja mais encarado hoje em dia
como uma sentença de morte, não podemos perder de vista os perigos
associados a essa doença. O uso de medicamentos chamados de
antirretrovirais permite que as pessoas com HIV alcancem a chamada
“carga viral indetectável”.

2. flag
Qualidade de vida

O paciente passa a viver normalmente com importantes melhorias na


qualidade de vida e menores chances de transmitir o vírus à outra pessoa.
Entretanto, ele precisará sempre acompanhar os níveis dessa carga viral.

3. flag
Detecção

Importante destacar que a detecção do HIV segue em alta, especialmente


entre homens nas faixas etárias mais jovens. O preconceito que ainda
prevalece em relação ao vírus e à síndrome tem um enorme peso na
população geral, por isso é importante usarmos os termos
adequadamente.

4. flag
Síndrome

AIDS descreve uma síndrome de diferentes infecções e doenças que


chamamos de oportunistas, uma vez que se desenvolvem à medida que a
imunossupressão aumenta durante a evolução da infecção causada pelo
HIV, indo da infecção aguda até a morte.
5. flag
Homossexualidade

Um erro bastante comum é associar HIV e homossexualidade. De fato,


existe uma epidemia em curso entre a população geral e os subgrupos
populacionais. Contudo, uma análise sem os critérios adequados torna-se
equivocada e responsabiliza grupos historicamente associados ao vírus.

É preciso entender que os homossexuais não são os culpados pela epidemia de HIV, e sim
vítimas de um problema de saúde pública e mundial, o qual está associado a diversos fatores
sociais. Além disso, esse grupo se torna vulnerável por conta da discriminação e exclusão
social que sofre, ficando à margem do acesso de diversas estratégias de prevenção e
tratamento existentes.

Todas as pessoas estão expostas ao risco de infecção caso tenham comportamento de risco.
Entende-se como comportamento de risco qualquer atividade ou prática que aumente as
chances de contrair o vírus HIV ou mesmo qualquer outra DST, como atividades sexuais sem
proteção e uso de objetos perfurocortantes contaminados, como agulhas e alicates.

A homofobia é um dos fatores associados a essa problemática, especialmente no Brasil.


Estudos apontam que nos países menos LGBTfóbicos, como a Austrália e países do Reino
Unido, a incidência de HIV está significativamente menor.

Atenção!
Sabe-se que nos anos 80, no Brasil, as manchetes nos jornais e as campanhas de prevenção
tinham o teor preconceituoso e persecutório. Todo horror diante da AIDS distanciava a
consciência da sociedade sobre a importância de entender o vírus, de lidar com as
circunstâncias que ele se apresentava. Ao que parece, o desconhecimento, o estigma e o medo
dificultavam o tratamento, o que podia ocasionar o aumento da propagação da transmissão da
doença. Contudo, aos poucos, a sociedade foi debatendo de maneira mais ampla as questões
da sexualidade, e a compreensão foi modificando e trazendo programas de prevenção, bem
como campanhas do governo federal combatendo e desmistificando a doença e combatendo a
estigmatização. As taxas de detecção da AIDS foram diminuindo nos últimos dez anos e
percebe-se que as pessoas soropositivas podem ter uma condição de vida melhor.

Políticas Nacionais de Atenção Integral à


Saúde do Homem
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), instituída pela
Portaria MS/GM nº 1.944, de 27 de agosto de 2009, está diretamente vinculada a essa visão
ampla e abrangente de homens e masculinidades. O documento fundante a respeito dos
princípios e das diretrizes da Pnaish aborda o reconhecimento à importância dos aspectos
socioculturais e da perspectiva relacional de gênero para a implementação de linhas de
cuidado que respeitem a integralidade da atenção a homens de 20 a 59 anos, contribuindo de
modo efetivo para a redução da morbimortalidade e promoção de melhores condições de
saúde para esta população.

Comentário
Considerar as diferentes masculinidades não significa que o profissional de saúde precisa
saber, de antemão, como lidar com toda a gama possível de situações, até mesmo porque isso
é humanamente impossível e inviável. Significa apenas que ele pode se despir de seus
julgamentos prévios e permanecer receptivo para acolher e aprender com cada indivíduo e/ou
grupos populacionais atendidos. O respeito é fundamental!

Cada pessoa pode apresentar um modo diferente de lidar com sua sexualidade, com seus
processos de doença e saúde, com sua relação com o trabalho e suas relações sociais. O
acolhimento e a atenção a homens gays e bissexuais, nesse sentido, não devem ser diferentes
no que diz respeito a uma abordagem respeitosa vinculada às suas singularidades.

Esse atendimento deve ocorrer de modo que suas reais necessidades em saúde possam vir à
tona, contribuindo para desmistificar preconceitos, criar um campo de suporte e afirmação de
cidadania e de promoção à saúde.

Estudo de Caso
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Teoria na prática
Para ilustrar tudo que aprendemos até aqui, vamos conhecer a história de Gustavo, que nos
servirá como um caso hipotético que representa as dificuldades e o contexto de muitos
homossexuais. Gustavo se reconhecia desde sempre como gay e morava com amigos e
conhecidos por ter sido expulso de casa em função de sua sexualidade. Emagrecido e com
aspecto de cansado, apesar de nunca ter mantido relações sexuais de risco, desejava realizar
testagem para HIV, pois acreditava ter sido contaminado ao beijar um rapaz.

Ao se deparar com os profissionais de saúde atendendo no posto, Gustavo percebeu olhares


desconfiados desde a sua chegada. Sentindo-se exposto, envergonhado e desanimado com
esse tratamento, desistiu do atendimento.
A saúde, o tratamento e os recursos para a qualidade de vida das pessoas são um bem que
cada pessoa pode obter. A situação socioeconômica, a raça, a religião ou qualquer orientação
sexual do paciente não devem ser o foco de atenção dos profissionais de saúde. Sabe-se que
saúde é um direito que deve ser garantido a todos, assim como um atendimento de respeito e
um acolhimento independem da condição de cada indivíduo.

Os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) – universalidade, integralidade e equidade –


vislumbram o direito constitucional à saúde, entendida de forma ampla e integral. Políticas
públicas que identifiquem as necessidades de grupos vulneráveis, dentre os quais inclui-se a
população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, contribuem para ampliar a
equidade na medida em que buscam reduzir o impacto de determinantes sociais, ou seja, o
local e a forma em que esses indivíduos são expostos perante a sociedade e atender a
demandas específicas desse grupo populacional.

A vulnerabilidade da população LGBTQIA+ e seu acesso precário aos serviços de saúde são
desafios, apesar das recentes conquistas no âmbito das políticas públicas. O distanciamento
dessa população das unidades de assistência reflete diferentes obstáculos como
discriminação, constrangimento, preconceito, estigma e falta de treinamento profissional
adequado.

A heteronormatividade institucional, ou seja, a presunção da heterossexualidade como regra,


tem efeitos deletérios sobre o acolhimento e o processo de cuidado da população
LGBTQIA+. Assim, a sensibilização e a qualificação dos profissionais acerca das
especificidades dessa comunidade são passos fundamentais para garantir o efetivo
cumprimento do direito à saúde. Por isso, é muito importante a nossa reflexão desde já!

Nesse estudo de caso, você conseguiu perceber a importância de um fluxo de


atendimento respeitoso para Gustavo e para qualquer pessoa? O acolhimento é
fundamental para a resolução dos casos. Nessa situação, bastava tirar dúvidas e fazer teste de
rotina. E se fosse um caso de comportamento de risco? Ele desistiria do atendimento e não
saberia o diagnóstico de sua saúde. Quais seriam as consequências para a sua saúde e a de
seus futuros parceiros?

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A Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde do Homem e os homossexuais
Neste vídeo você conhecerá um pouco mais sobre a importância da Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde do Homem e os cuidados dos homossexuais.
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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você
acabou de estudar.

MÓDULO 2

Vem que eu te explico!

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

Sobre a evolução do reconhecimento de direitos ao grupo vulnerável constituído por pessoas


lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros (LGBTQIA+), é correto
afirmar que

todos os direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero são


preservados e garantidos.

B
os atendimentos de saúde ao grupo vulnerável estão isentos de preconceitos e estigmas.

a população LGBTQIA+ não tem direito gratuito ao atendimento de saúde pública.

a segurança social para a população LGBTQIA+ está garantida e os índices de violência a


esse grupo encontra-se reduzido.

os Princípios do SUS e a Política Nacional de Direitos à Saúde Integral de lésbicas, gays,


bissexuais, travestis e bissexuais garantem muitos direitos sem discriminação de orientação e
gênero, porém ainda faltam políticas mais rígidas contra a homofobia.

Parabéns! A alternativa E está correta.


O Brasil tem avançado nas políticas que garantem o direito da população LGBTQIA+, porém
faltam recursos e atualizações nas leis que garantam a segurança dessa população. As
questões consideradas inapropriadas perpassam o pensamento heteronormativo e homofóbico
para estimular o raciocínio crítico do que ainda precisa ser trabalhado nessas questões tanto
no legislativo, quanto na sociedade.
Questão 2

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), instituída pela


Portaria MS/GM nº 1.944, de 27 de agosto de 2009, foi um marco muito importante para o
desenvolvimento das políticas de grupos mais específicos como o HSH (Homens que fazem
sexo com homens). Sobre a PNAISH é correto afirmar que

além de evidenciar os principais fatores de morbimortalidade, explicita o reconhecimento de


determinantes sociais que resultam na vulnerabilidade da população masculina aos agravos à
saúde, considerando representações sociais sobre a masculinidade e seus tipos.

com o princípio de promover ações de saúde que contribuam significativamente para a


compreensão da realidade singular masculina nos seus diversos contextos socioculturais e
político-econômicos, tem o objetivo de facilitar e ampliar o acesso com qualidade da
população masculina às ações e aos serviços de assistência integral à saúde da Rede SUS, e
abrange principalmente os homens cisgênero, ou seja, aqueles que se reconhecem como
homens.

C
a PNAISH possui a limitação de integralizar a saúde do homem apenas em seus aspectos
reprodutivos. 

os homens adolescentes e jovens são os que mais sofrem lesões e traumas devido a agressões,
por isso surgiu a PNAISH, com foco nesses homens heterossexuais.

visa promover a prevenção de doenças prevalentes na população masculina: objetiva


proporcionar um mês para a realização de seus exames.

Parabéns! A alternativa A está correta.


A PNAISH é o ponto de partida para atuações profissionais e discussões que emergirem
dessa atuação, aprimorando e garantindo o direito à saúde a todos os homens e da maneira
que eles se reconhecem. Partindo do princípio de que o gênero é uma construção social, deve-
se respeitar ainda a forma em que a pessoa se identifica. As questões consideradas
inadequadas apresentam visões equivocadas do que diz respeito ao direito à saúde.

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3 - Práticas/análises de poder e os efeitos do
campo do cuidado em saúde
Ao final deste módulo, você será capaz de avaliar as práticas/análises de poder
e os efeitos do campo do cuidado em saúde.

O cuidado em saúde e a população


LGBTQIA+
A necessidade dos movimentos organizados LGBTQIA+ envolve reivindicações nas áreas
dos direitos civis, políticos e sociais, o que exige atuação articulada e coordenada de todas as
áreas do Poder Executivo. A discussão vai muito além do atendimento local, e a situação é
consequência de falta de políticas que devem ser mais bem estruturadas.

Atenção!
Indivíduos LGBTQIA+ relatam como obstáculos ao cuidado integral e eficaz alguns fatores,
tais como a falta de educação por parte dos funcionários, a recusa de tratamento, o cuidado
precário e o abuso verbal por parte dos profissionais. Como resultado dessas reprováveis
condições, muitos indivíduos evitam o tratamento com o profissional de saúde, mesmo nas
emergências.
No cenário nacional, a atuação profissional em questões de sexualidade se mostra limitada
para o atendimento integral e humanizado em situações de violência sexual e saúde geral para
a população LGBTQIA+. Quando a equipe profissional recebe o usuário do serviço de saúde,
deve-se prevalecer o compromisso de oferecer um atendimento com respeito, eficiência,
humanidade e atenção integral, de maneira que as necessidades de saúde expostas possam ser
adequadamente respondidas.

A integralidade da atenção, no espaço singular de cada serviço de saúde, pode ser definida
como o esforço da equipe de saúde de traduzir e atender, da melhor maneira possível, a tais
necessidades sempre complexas, tendo de ser captadas em sua expressão individual.

Vamos refletir!

Reflexão
Precisamos evitar situações que impeçam o ser humano de exercer seus plenos direitos, como
o de ir e vir e ser quem ele realmente é. Tais direitos são reconhecidos universalmente e há
uma luta constante para que sejam respeitados. As minorias são as que mais sofrem com a
imposição de uma sociedade dominada por homens. O poder, nas suas várias faces, sempre
foi e continua sendo essencialmente masculino. Do ponto de vista histórico, a partir das
décadas finais do século XX, as relações simbolicamente construídas entre os sexos foram
abaladas nas suas estruturas pela emergência de um lado social feminino que rejeitou as
noções solidificadas dos conceitos de superioridade e inferioridade. É importante que
pensemos qual é a mensagem e, especialmente, qual é a sociedade que desejamos deixar
para as futuras gerações.

Mas como o sexo e o gênero interferem nas


relações de poder?
Gênero não é o mesmo que sexo! Sexo refere-se à biologia de uma pessoa, enquanto gênero é
a sua construção como sujeito masculino ou feminino. As diferenças sexuais biológicas são
naturais e imutáveis. O gênero, por sua vez, é estabelecido por ajustes sociais, variando de
acordo com as épocas históricas e os seus padrões culturais, e pode ser modificado. As
relações de poder entre homens e mulheres, assim como classes sociais, etnias e opções
sexuais, estão presentes em todas as construções sociais, configurando-se em uma rede
complexa.

Distante de a igualdade ser uma utopia, o mundo atual exige que pensemos novamente sobre
essa ordem universal de poder – a qual não é humana nem natural. Nascemos biologicamente
iguais, vivemos em desigualdade e, quando morremos, novamente nos tornamos iguais.
Talvez resida aí a chave para o entendimento da nossa própria humanidade!

Resumindo
Tanto a ideia de ser mulher como de ser homem é construída. E essa construção tem a forte
interferência de uma estrutura patriarcal que predominou ao longo da história por muito
tempo. Ainda prevalece no nosso imaginário o modelo em que o homem é o centro da
sociedade, enquanto a mulher deve ficar confinada à sua casa, fazendo o serviço doméstico
como função social.

É importante entender a luta histórica da mulher e reconhecer a sua importância assim como
a de qualquer figura feminilizada. Essas figuras femininas ou feminilizadas são ainda alvo de
estigmatização e socialização de modo desigual. Talvez essa seja uma das origens da
homofobia.
No estudo dos sistemas de poder e sexualidade, alguns nomes são considerados destaques,
tais como Michel Foucault e Judith Butler. Ambos os autores buscaram verificar as vertentes
do poder, observando que a materialidade do sexo acontece por meio da imposição de uma
ideologia construída através de gerações em constante dinâmica.

As diretrizes que definem a sexualidade a partir de matrizes heteronormativas, ou seja,


considerando que apenas a heterossexualidade é normal e aceitável, fazem com que as
pessoas que não se enquadram “positivamente” na hierarquia dos atos sexuais sejam
consideradas inumanas, corpos abjetos, vergonha da humanidade e que, por isso, devem ser
eliminadas, excluídas, invisibilizadas. Daí nasce um dos princípios do preconceito: grupos
maioritários que se autoconsideram “normais” tomam para si a função de vigiar e punir
aquilo que consideram anormal.

Homofobia nas instituições sociais

Instituições sociais são estruturas relativamente permanentes e marcadas por padrões de


comportamentos delimitados por normas e valores específicos. Como exemplo podemos
pensar em um grupo religioso, a alta sociedade, a comunidade que detém o poder de ditar o
que é certo de acordo com a própria visão.

Saiba mais
Você sabia que os jovens são o principal alvo de homofobia no meio em que vivem? De
acordo com diferentes estudos, as escolas refletem abertamente manifestações homofóbicas
da sociedade em que estão inseridas. Em geral, observa-se que nesses espaços, se houver
expressões homofóbicas, é muito provável observar preconceito também contra negros,
pobres, mulheres ou qualquer outra forma de discriminação.

Tal situação pode gerar depressão, ansiedade, perda de confiança, retração, isolamento social,
culpa e distúrbios do sono, autoflagelação, uso abusivo de álcool e suicídio entre os nossos
jovens. Entenda melhor mais alguns detalhes:

Grupos específicos
No Brasil, observa-se um fenômeno de criação de grupos específicos com características
próprias bem como ocupação de lugares constituídos a acolher o público LGBTQIA+.
Estamos falando de bares, lojas e as chamadas baladas gays que representam espaços de lazer
e de tempo livre nos quais os jovens homossexuais, principalmente no ambiente urbano,
constroem suas próprias normas e expressões culturais, seus ritos, suas simbologias e seus
modos de ser, que os diferenciam do denominado mundo adulto.

Homofobia
A homofobia reflete uma falha na constituição da sociedade pautada por paradigmas
extremamente excludentes e arbitrários que definem aquilo que é humano e inumano,
baseando-se em normas construídas a partir de uma visão machista e heteronormativa.

Discriminação
Precisamos estar atentos ao problema de saúde pública no qual a homofobia
institucionalizada pode trazer para a população LGBTQIA+ por meio de falas
preconceituosas, discriminação velada, causando consequências que para as pessoas ditas
“normais” são invisíveis. Cabe a cada indivíduo desenvolver a sensibilidade no olhar
profissional e garantir que o direito à saúde seja, de fato, estabelecido conforme a instituição,
sem discriminação de raça, cor, credo, gênero ou orientação.

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A homofobia nas escolas e outras instituições
Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre como a homofobia pode se manifestar em
diferentes instituições sociais e o impacto dela.
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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você
acabou de estudar.

MÓDULO 3

Vem que eu te explico!

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

As discussões de gênero são importantes no desenvolvimento da sociedade. Contudo, para


isso, são importantes o respeito e a garantia da igualdade de tratamento. Marque a opção que
explica da melhor maneira a relação entre gênero e poder.

Não se pode confundir gênero com capacidades. Homens e mulheres, independentemente de


seus afetos ou condições, são capazes de realizar funções e têm direito de igualdade em todos
os sentidos.

B
O gênero não influencia as relações de poder; atualmente, essas discussões são cada vez mais
irrelevantes, já que todos têm direitos e deveres iguais.

A discussão sobre gênero e poder é uma visão social, não possui influência de política,
religião ou criação.

As discussões se fazem necessárias, mas, atualmente, todos já têm direitos suficientes para
uma vida em sociedade adequada.

O apelo pela representatividade das mulheres na sociedade é o principal meio de luta pelos
direitos das mulheres.

Parabéns! A alternativa A está correta.


A alternativa correta remete a uma visão sem prejulgamentos, permitindo a reflexão dos
conceitos de gênero. As questões incorretas, são incoerentes com o estudado dentro do
conteúdo, levando a uma posição contrária ou reduzida do que é a relação de poder entre os
gêneros e a sociedade.
Questão 2

Leia o caso de Inês: “Não suportando a situação, Inês disse que era ‘virgem’ e expressões
faciais de susto e descrédito tentaram ser inibidas (ou reforçadas!) com perguntas do tipo:
‘como assim? Você nunca teve penetração? Qual a sua idade?’. Ao que seguiu uma resposta
constrangida ‘nunca tive relações com homens’. Inês não retornou mais àquela profissional e
quiçá tenha retornado a outro ginecologista ou profissional de saúde”. Considerado o relato
anterior, marque a opção que envolva as relações de poder no atendimento à saúde.

É comum que as pessoas se assustem e prejulguem as situações diferentes do normal. Afinal,


o normal é uma relação entre homens e mulheres para reprodução.

Há uma “verdade” do sexo que é produzida precisamente pelas práticas reguladoras que
geram identidades, por via de uma matriz de normas de gênero coerentes, essa matriz rege a
sociedade e deve ser seguida.

As relações de poder, prejulgamentos e medo do desconhecido levam a sociedade à não


aceitação ou a formas inadequadas de lidar com pessoas que vivem outras realidades. O
profissional de saúde deve abster-se de seus preceitos, opiniões e curiosidades e priorizar o
atendimento à saúde do paciente, garantindo o direito à saúde com sensibilidade e respeito.

Não é responsabilidade do profissional de saúde acolher a população lésbica, e sim trata-la


igualmente às mulheres ditas normais.

As questões de poder andam em contramão das questões religiosas e políticas, a sociedade é


obrigada a aceitar as novas formas de sexualidade.

Parabéns! A alternativa C está correta.


A alternativa correta remete a uma visão sem prejulgamentos, permitindo a reflexão dos
conceitos de gênero. As questões incorretas são incoerentes com o estudado dentro do
conteúdo, levando a uma posição contrária ou reduzida do que é a relação de poder entre os
gêneros e a sociedade.

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Considerações finais
Começamos nosso estudo reconhecendo a importância do cuidado em saúde das mulheres
lésbicas. Aprendemos que a invisibilidade ainda é uma situação que as leva a ser
desassistidas, e o preconceito disfarçado de dúvida as impede de procurar o serviço de saúde,
prejudicando-as ainda mais, o que chamamos de vulnerabilidade. Vimos que a conquista dos
direitos sexuais foi uma luta que tomou visibilidade com o advento da AIDS. Hoje essa luta
continua para vencer o preconceito. Refletimos ainda sobre o preconceito e a necessidade de
se pensar ou discutir saúde de gays e bissexuais. Cabe a cada pessoa, independentemente de
gênero ou orientação sexual, respeitar o ser humano e lutar contra a homofobia.

Como futuros profissionais da saúde, devemos desenvolver a sensibilidade no olhar


profissional e garantir que o direito à saúde seja, de fato, estabelecido, sem discriminação de
raça, cor, credo, gênero ou orientação.

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Podcast
Neste podcast, você conhecerá um pouco mais sobre os dilemas encontrados no cuidado em
saúde de homens e mulheres homossexuais e bissexuais e as relações de poder e opressão.
Referências
BRASIL. Atenção integral à saúde de mulheres lésbicas e bissexuais. Brasília, 2014.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988.

BRASIL. Política nacional de saúde integral de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e


transexuais. Brasília, 2013.

BRASIL. Relatório sobre violência homofóbica no Brasil: Ano de 2012. Secretaria de


Direitos Humanos, Brasília, 2012.

FACCHINI, R.; BARBOSA, R. M. Saúde das mulheres lésbicas. p. 1–43, 2006.

FERNANDES, M.; SOLER, L. D.; LEITE, M. C. B. P. Saúde das mulheres lésbicas e


atenção à saúde: nem integralidade, nem equidade diante das invisibilidades. Diversidade
Sexual e de Gênero, v. 19, p. 37–46, 2019.

MELO, G.; SIMÕES, N. C.; BARBABELA, P. Cartilha de saúde LGBTI+: políticas,


instituições e saúde em tempos de COVID-19. p. 1–60, 2021.

PAULINO, D. B.; RASERA, E. F.; TEIXEIRA, F. DO B. Discursos sobre o cuidado em


saúde de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais (LGBT) entre médicas(os) da
Estratégia Saúde da Família TT - Discourses on the healthcare of lesbian, gay, bisexual,
and transgender (LGBT) people adopted by doctors. Interface (Botucatu, Online), v. 23, p.
e180279–e180279, 2019.

Explore +
Para aprimorar os seus conhecimentos no assunto estudado:
Pesquise a Cartilha de saúde LGBTI+ políticas, instituições e saúde em tempos de
COVID-19 e as singularidades relacionadas à saúde da população LGBTQIA+, em especial
no que diz respeito a serviços disponíveis e demandas específicas para uma tutela ampla e
universal da saúde.

Pesquise o estudo Dossiê da saúde das mulheres lésbicas e entenda mais sobre Promoção
da equidade e da integralidade na saúde dessa população.

Pesquise sobre a Política Nacional de Saúde Integral de lésbicas, gays, bissexuais,


travestis e transexuais e entenda sobre o direito à saúde dessa população.

Assista ao filme Boy Erased: uma verdade anulada, que irá ajudá-lo na reflexão sobre a
vivência e o preconceito em relação à comunidade LGBTQIA+.

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