Você está na página 1de 8

UNIVERSIDADE PAULISTA

FRANCISCO GILVANE FERREIRA DA SILVA


GABRIELA PADILHA DA ROSA
JOÃO VITOR MIGUEL PIO
LEONARDO SANCHES DA SILVA

O PADRÃO SOCIOPOLÍTICO DE CONHECIMENTO NA ENFERMAGEM

RIBEIRÃO PRETO – SP
Contextualizando: História da enfermagem
A enfermagem, assim como todas as áreas da saúde, passou por transformações
ao longo da história, igualmente em relação aos conceitos de saúde e doença.
Essas mudanças nas significações do processo saúde-doença se dão por diversos
fatores, dependendo do período histórico em que se analise esses conceitos, uma
vez que os mesmos são resultado do conhecimento sobre o assunto, a situação
econômica e política, o que ocasiona os diferentes entendimentos e significados em
diferentes momentos históricos.

Para os povos antigos, no período antes de Cristo, atribuía-se ao aparecimento de


doenças um significado mágico e religioso, onde a o pecado e a desobediência
divina eram os causadores de enfermidades. Ainda neste período surge figuras
religiosas, sacerdotes, xamas e feiticeiras como praticantes da medicina através de
rituais que acalmassem as divindades, massagens, sacrifícios e o uso das recém-
descobertas ervas medicinais.

Paralelamente há o conceito grego de miasma, que seria o conjunto de condições


insalubres em um ambiente, como por exemplo odores fortes, principalmente o odor
relacionado a putrefação e decomposição, como responsável pelo adoecer da
população. Acreditava-se também que a saúde era de responsabilidade individual,
cabia ao individuo manter-se em um estado saudável (livre de doenças).

Com base no conhecimento empírico, na experiencia obtida através da vivência e


no instinto da mulher; o instinto materno, nasce o ato de cuidar feito por freiras e
mulheres de alta classe social.

No período pós-monástico, a enfermagem entra em crise, uma vez que os


hospitais, que na verdade se tratavam de lugares totalmente insalubres e
improvisados, onde os doentes em acumulados e utilizavam das mesmas
dependências; um lugar de morte. Lugar esse não mais atrativo para mulheres de
alta classe. É então que as prostitutas, mulheres vistas como indecentes inúteis e
imorais, assumem o trabalho de cuidar dos doentes numa tentativa de se redimirem,
criando então a ideia de enfermagem como uma prática indigna.

Na era moderna, a partir do século XIX, com o avanço da ciência, impulsionado


pela revolução industrial, principalmente da química, a medicina começa a
desenvolver novos conceitos a partir da descoberta da existência de
microrganismos como as bactérias, fazendo com que caísse por terra a ideia grega
de miasma e fazendo surgir a ideia unicausal de doença, que se refere a esses
microrganismos como o único causador de doenças. Além disso, a fim de obter
mais lucro e produção nas fabricas, os donos dos meios de começam a se
preocuparem em manter a classe produtiva, pessoa que trabalhavam e geravam
lucro, saudáveis.

Outro acontecimento marcante para a enfermagem moderna, foi a influência na


enfermagem por parte de Florence Nightingale, uma mulher italiana que, apesar de
sua alta classe, se dispôs ao trabalho indigno de cuidar dos doentes. Suas ações
mais notáveis foram suas contribuições e aos feridos durante a Guerra da Criméia,
onde Florence e suas voluntárias prestavam serviços de cuidados e até mesmo de
limpeza e organização do ambiente, aos feridos de guerra, fazendo com que a
mortalidade - cuja o em responsável em grande parte era a falta de cuidados e
ambientes e condições insalubres de seus hospitais, e não os ferimentos causados
pela guerra em si - entre ele caísse drasticamente.

Outrossim, após o a revolução industrial, e o surgimento de índices de um país


baseados na saúde daquela população, surge também interesse por parte do
Estado em promover o bem-estar de seu povo, com o marketing de que a saúde é
para todos. A visibilidade que a enfermagem vinha recebendo desde Florence
Nightingale e a era moderna ganha força, fazendo com que a enfermagem seja
reconhecida como ciência e receba mais visibilidade por se tratar de uma área
essencial para a promoção da saúde.

Padrão sociopolítico de conhecimento na enfermagem


O padrão sociopolítico de conhecimento é uma abordagem que analisa como o
conhecimento é produzido, disseminado e utilizado em uma sociedade,
considerando os contextos sociais, políticos e culturais envolvidos. Esse padrão
reconhece que o conhecimento não é neutro, mas influenciado por relações de
poder, hierarquias sociais e ideologias dominantes.

• Definição: O padrão sociopolítico de conhecimento refere-se à maneira como


o conhecimento é moldado e influenciado por fatores sociais e políticos em uma
determinada sociedade. Ele reconhece que o conhecimento não é produzido de
forma isolada, mas está intrinsecamente ligado às estruturas sociais, relações de
poder e valores culturais de uma comunidade.

• Conceitos Básicos:

1. Contexto Social e Político: O conhecimento é construído dentro de um


contexto social e político específico. As normas, valores e ideologias presentes
nesse contexto moldam as formas de produção e validação do conhecimento.

2. Relações de Poder: As relações de poder desempenham um papel


fundamental na produção e distribuição do conhecimento. Grupos dominantes
podem controlar o acesso ao conhecimento e determinar quais perspectivas são
privilegiadas ou marginalizadas.

3. Viés Ideológico: O conhecimento muitas vezes reflete os interesses e


perspectivas dos grupos dominantes. Isso pode resultar em visões tendenciosas da
realidade e na exclusão de vozes e experiências de grupos marginalizados.

4. Pluralidade de Saberes: O padrão sociopolítico de conhecimento reconhece a


existência de múltiplas formas de conhecimento, incluindo saberes tradicionais e
indígenas, que podem ser igualmente válidos e importantes, mas frequentemente
subjugados em relação aos conhecimentos acadêmicos ocidentais.
5. Transformação Social: Uma compreensão crítica do padrão sociopolítico de
conhecimento pode inspirar esforços para promover uma produção de
conhecimento mais inclusiva e equitativa, que reconheça e valorize a diversidade de
perspectivas e experiências.

Em resumo, o padrão sociopolítico de conhecimento destaca a interseção entre


conhecimento, poder e sociedade, enfatizando a importância de considerar o
contexto social e político na análise e produção do conhecimento.

O padrão sociopolítico de conhecimento é uma abordagem na enfermagem que


reconhece a interconexão entre os aspectos sociais, políticos e de saúde. Alguns
conceitos básicos deste padrão incluem:

1. Contexto Social: Reconhece que o contexto social, incluindo fatores como


cultura, classe socioeconômica e estrutura familiar, influencia a saúde e os cuidados
de enfermagem.

2. Contexto Político: Compreende que as políticas de saúde, questões de poder


e estruturas políticas afetam a prática da enfermagem e o acesso aos cuidados de
saúde.

3. Advocacia: Envolve defender os direitos dos pacientes e promover mudanças


políticas e sociais que melhorem as condições de saúde das comunidades.

4. Justiça Social: Reflete a crença de que todas as pessoas merecem acesso


igualitário aos cuidados de saúde, independentemente de sua posição social ou
econômica.

5. Participação Comunitária: Reconhece a importância da colaboração com as


comunidades locais para fornecer cuidados de saúde culturalmente relevantes e
sensíveis.

6. Teoria Crítica: Inclui uma análise crítica das estruturas sociais e políticas que
moldam a prática de enfermagem, questionando as relações de poder e buscando
promover a equidade em saúde.

Exemplo de aplicação do padrão sociopolítico

Âmbito do paciente:

• Um médico que adota o padrão sociopolítico ao lidar com um paciente pode


considerar não apenas os sintomas físicos apresentados, mas também as
condições sociais em que o paciente vive. Por exemplo, se um paciente de baixa
renda apresenta problemas de saúde crônicos, o médico pode explorar como a falta
de acesso a alimentos saudáveis ou a serviços médicos adequados pode estar
afetando sua saúde. O médico pode então colaborar com outros profissionais e
agências sociais para abordar esses determinantes sociais da saúde.
Âmbito voltado à profissão de enfermagem, política e sociedade:

• Um enfermeiro que adota o padrão sociopolítico pode analisar criticamente as


políticas de saúde do governo em relação aos cuidados de enfermagem. Eles
podem questionar se o financiamento para a formação e a prática de enfermagem é
adequado e se as políticas governamentais estão promovendo a segurança do
paciente e a qualidade dos cuidados. Além disso, eles podem defender melhores
condições de trabalho para enfermeiros, incluindo salários justos, limites de carga
de trabalho e ambiente de trabalho seguro.

• Em relação à política e sociedade, enfermeiros podem se envolver em


atividades de advocacia para promover políticas que abordem os determinantes
sociais da saúde e promovam a equidade em saúde. Isso pode incluir a participação
em campanhas para melhorar o acesso a cuidados de saúde para grupos
marginalizados, como pessoas sem-teto ou imigrantes, e defender políticas que
abordem as disparidades de saúde baseadas em raça, etnia, gênero e classe social.
Os enfermeiros também podem se envolver em esforços de educação pública para
aumentar a conscientização sobre questões de saúde pública e promover
mudanças sociais que melhorem as condições de saúde de comunidades inteiras.

 Âmbito voltado a história da enfermagem:

Revolta de Enfermeiros na Guerra da Crimeia (1853-1856): Durante a Guerra da


Crimeia, Florence Nightingale liderou um grupo de enfermeiras que trabalharam nas
instalações médicas britânicas. Ela enfrentou desafios significativos, incluindo
condições de higiene precárias, falta de suprimentos médicos e alta taxa de
mortalidade entre os soldados devido a doenças e ferimentos. Nightingale e suas
colegas enfermeiras lutaram contra essas condições, melhorando a higiene,
organizando os suprimentos e implementando práticas de enfermagem mais
eficazes. Sua dedicação e trabalho pioneiro ajudaram a estabelecer os padrões
modernos de enfermagem.

Importância e impacto x obstáculos na implementação do padrão


sociopolítico de conhecimento na enfermagem
Assim como os demais padrões de conhecimento, o sócio-político desempenha
um papel crucial na rotina de enfermeiros, pacientes e cidadãos como um todo. Ele
é responsável por nortear os serviços de enfermagem para pacientes e por
conceder poder de decisão às pessoas de todas as esferas na decisão política.

O uso do padrão sociopolítico na relação enfermeiro-paciente e na relação


doença-paciente se faz necessária para que se possa ter um atendimento adequado
de forma a respeitar a individualidade da realidade de cada paciente. O enfermeiro e
o Estado, ambos responsáveis pela promoção da saúde da população devem usar
deste padrão de conhecimento como uma ferramenta para aqueles que precisam de
cuidados, respeitando seus limites, contexto social, cultural e econômico, tenham o
seu direito à saúde, como lhes é prometido, garantido.
Ainda sobre a importância dessa forma de conhecimento, destaca-se a
capacidade de aproximar os cidadãos, sejam eles profissionais da saúde ou não,
políticos ou não, da elaboração de políticas públicas, conferindo participação
popular na tomada de decisões sociopolíticas. Esse empoderamento da população
tem também como resultado o fortalecimento da democracia e auxilia na melhor
identificação de problemas que assolam regiões, comunidades e famílias
especificas, garantindo que seja planejado um atendimento que satisfaça suas
necessidades e se adeque as realidades únicas de cada um.

A abordagem do padrão sociopolítico de conhecimento enfatiza a importância da


humanização no atendimento, respeitando a individualidade e dignidade de cada
paciente.

A aplicação adequada desse padrão tem como resultado diversos benefícios para
todas as partes, são eles:

 Permite o desenvolvimento de práticas de enfermagem baseadas em


valores éticos e de respeito aos direitos humanos, promovendo um ambiente
de cuidado mais compassivo e empático.
 Prática centrada no paciente: Ao compreender os determinantes sociais da
saúde, os enfermeiros podem oferecer cuidados mais holísticos e centrados
no paciente, levando em consideração não apenas as necessidades físicas,
mas também as necessidades sociais, emocionais e espirituais.
 Advocacia em saúde: Os enfermeiros são frequentemente defensores dos
pacientes e da comunidade. Ao entender as questões sociais e políticas que
afetam a saúde, eles estão melhor equipados para advogar por políticas que
promovam a equidade em saúde e abordem as disparidades existentes.
 Empoderamento da comunidade: Ao envolver a comunidade nos cuidados
de saúde e na formulação de políticas, os enfermeiros podem capacitar as
pessoas a se tornarem agentes de mudança em suas próprias comunidades,
promovendo a autodeterminação e a participação cidadã.
 Promoção da justiça social: O padrão sociopolítico de conhecimento na
enfermagem permite que os enfermeiros reconheçam e combatam as
injustiças sociais que afetam a saúde das populações vulneráveis,
trabalhando para eliminar disparidades e promover a justiça social.

Infelizmente, a realidade é que na prática há muitos obstáculos na implementação


desse padrão que vão além do que um enfermeiro pode fazer. Em um mundo onde
a desigualdade social se tornou um problema estrutural em diversos países,
apresentando-se na forma de fome, analfabetização, falta de acesso a serviços
sanitários básicos e a serviços de saúde, conflitos políticos; a real execução do
padrão sociopolítico de conhecimento se encontra prejudicada. A desigualdade
presente na realidade de muitos faz com que o acesso pleno a uma saúde de
qualidade seja, na verdade, para poucos, e não para todos.

A presença da desigualdade e vulnerabilidade social pode se manifestar em uma


pluralidade de formas, todas constituindo uma barreira que impede o acesso
equitativo à saúde. A ausência de tratamento de esgoto, problema que assola mais
de 70 milhões de brasileiros segundo o último censo divulgado pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), e a falta de acesso a água tratada são fatores
de risco quando o assunto é a contração de doenças por indivíduos que não
dispõem desses serviços. Podemos ainda citar a inacessibilidade completa ou
dificuldade de acessibilidade a serviços de saúde enfrentadas por indivíduos que
vivem afastados de unidades de atendimento e especialização.

Conclusão
As problemáticas citadas apenas reforçam a ideia do padrão sociopolítico de
analisar os diversos contextos em que cada paciente está inserido e a realidade em
que vive para melhor entender as causas e tratamentos adequados para sua
doença. Outrossim, se mostram necessário também, o empoderamento popular
através do pensamento crítico e do incentivo a participação por parte de indivíduos,
famílias e comunidades em decisões políticas que afetam suas vidas, além de
cobrança e fiscalização política por parte da população em relação aos seus
governantes. O Estado deve ainda criar medidas que amenizem essas
desigualdades e concentrações de regiões abandonadas socialmente. Somente
assim estaremos efetivamente mais próximos de alcançar a saúde como um direito
equitativo e de todos.

Referencias
Chinn, P. L., & Kramer, M. K. (2018). Desenvolvimento do conhecimento em
enfermagem: teoria e processo. Elsevier Ciências da Saúde

White, J., & Moss, C. (2019). Perspectivas de Políticas de Enfermagem e Saúde:


Transformando Conhecimento em Ação. Editora Springer.

Czabanowska, K. (Ed.). (2018). Saúde e assistência social na comunidade: o


guia essencial para profissionais, pesquisadores e educadores. Springer.
Zwarenstein, M., Reeves, S., & Perrier, L. (2002). Eficácia da educação e
treinamento clínico em enfermagem pré-licenciamento: uma revisão
sistemática. Revista de Enfermagem Avançada, 37(3), 347-355.

White J. Patterns of knowing: rewiew, critique, and update. Adv Nurs Sci 1995;
17(4): 73-86. VSF, Madureira - Revista Brasileira de Enfermagem, 2004 - SciELO
Brasil

DE OLIVEIRA, Fernanda Alves et al. Os sentimentos e condutas da equipe de


enfermagem diante da morte do paciente. https://fug.edu.br/repositorio, 2012.
Acesso em mar. 2024.
MADUREIRA, Valéria Silvana Faganello. Os saberes da enfermagem. SciELO,
2004. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-71672004000300021. Acesso
em: 16 mar. 2024.
PERSEGONA, Karin Rosa et al. O conhecimento político na atuação do
enfermeiro. SciELO, 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-
81452009000300027. Acesso em: 16 mar. 2024.
PAI, Daiane Dal; SCHRANK, Guisela; PEDRO, Eva Neri Rubim. O enfermeiro
como ser sociopolítico: refletindo a visibilidade da profissão do cuidado.
SciELO, 2006. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-21002006000100013.
Acesso em: 15 mar. 2024.

Você também pode gostar