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1

Sumário
04
Por que ser médico?

06
As principais características de um bom
médico

07
Onde o médico trabalha e como é sua rotina
08.... Dedicação à medicina e atividades
principais
09.... O trabalho no consultório
10 .... Jornada de trabalho
11 .... O plantão médico

12
O setor público e a carência de médicos

13
Remuneração

14
Onde estão os médicos no Brasil: Contrastes
e desigualdades

16
As especialidades médicas

19
Quanto o médico estuda

20
Como é a graduação

21
Paixão pelo que faz

23
Fontes de pesquisa

24
Conheça a história de um médico

32
Faça medicina na São Leopoldo Mandic
2
Fonte: shutterstock.com

POR QUE SER


MÉDICO?
Em quase todas as universidades A Medicina promove a manutenção e a
brasileiras, o curso de medicina é o mais restauração da saúde, trabalhando para
concorrido. Nas faculdades públicas, a o diagnóstico, a prevenção, o tratamento
concorrência é ainda maior. Há milhares e a cura de doenças. Além desses
de estudantes que prestam várias vezes nobres propósitos, a carreira de médico
o mesmo vestibular para tentar conquistar está entre as mais bem remuneradas do
uma vaga. O que atrairia tanto os mercado. E não faltam vagas para os bons
estudantes, a ponto de fazerem inúmeros profissionais. Pelo contrário, há carência
sacrifícios para entrar na profissão? de médicos em vários locais do Brasil.
E há, ainda, o prestígio que a profissão
A Medicina promove a manutenção e a
desperta na sociedade.
restauração da saúde, trabalhando
para o diagnóstico, a prevenção, o
tratamento e a cura de doenças.

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É uma carreira que promete um futuro
promissor. O médico recém-formado
encontra vagas de trabalho praticamente
garantidas em diversas áreas de atuação.
Há 55 especializações à disposição
desses profissionais.

Foram essas razões que trouxeram você


até aqui? Você tem uma ideia geral da
profissão, mas quer saber mais detalhes?
Então leia este e-book e entenda melhor
como é ser médico no Brasil.

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AS PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS DE
UM BOM MÉDICO
O médico requisita exames, faz diagnósticos e cirurgias e prescreve medicamentos.
Além de atuar na promoção da saúde, com orientações sobre atitudes e hábitos sau-
dáveis, ele trabalha na prevenção e no tratamento de moléstias, com o objetivo de
restabelecer a saúde do paciente. Para isso, ele precisa ter uma série de característi-
cas que o ajudarão a alcançar o sucesso nos atendimentos. Você sabe quais são elas?

- Humanidade - Paixão pelo aprendizado

- Preocupação com os pacientes - Senso de responsabilidade social

- Ética - Constante atualização sobre novas


drogas, técnicas e tecnologias
- Humildade
- Empatia
- Boa comunicação
- Competência
- Capacidade de fazer
diagnósticos difíceis - Disponibilidade

- Inteligência emocional - Clareza

- Trabalho em equipe - Saber ouvir

- Liderança - Pontualidade

- Integração com a comunidade - Experiência


em que trabalha

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ONDE O MÉDICO TRABALHA
E COMO É SUA ROTINA
Mais de 97% dos formados em Medicina como hospitais, ambulatórios, pesquisa,
estão empregados, segundo um estudo docência, perícias, Programa Saúde da
divulgado pelo Instituto de Pesquisa Eco- Família e órgãos públicos de várias áreas.
nômica Aplicada (Ipea), em 2013. Essa
mesma pesquisa revela que a carreira de Há uma tendência de maior concentra-
médico é a que oferece a maior remune- ção de médicos em serviços, atividades
ração do mercado. e estruturas privadas do sistema de saú-
de. Esses médicos atendem clientelas
O médico pode trabalhar no setor privado, privilegiadas, formadas por particulares e
em hospitais, consultório, perícias, indús- pacientes que possuem planos de saúde.
tria farmacêutica, planos de saúde e Me- Se considerarmos que 75% da população
dicina do Trabalho. No setor público tam- depende exclusivamente do Sistema Úni-
bém há várias possibilidades de atuação, co de Saúde (SUS), o contingente médico
que atende essa população deveria ser
a carreira de médico é a que oferece a muito maior.
maior remuneração do mercado.
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Dedicação à medicina e
atividades principais
Segundo a terceira edição do estudo Quase 60% dos médicos têm atuação ex-
Demografia Médica no Brasil – realiza- clusivamente clínica e assistencial. Den-
do pela Faculdade de Medicina da USP tro deste grupo, 92% realizam consultas e
(FMUSP), com apoio do Conselho Federal atividades clínicas e 37% fazem cirurgias.
de Medicina (CFM) e Conselho Regional Apenas 3% atuam em funções que não
de Medicina do Estado de São Paulo (Cre- são assistenciais ou clínicas.
mesp) -, de 2015, é alta a porcentagem de
profissionais que se dedicam com exclusi- No exercício da Medicina há bastante
vidade à Medicina no Brasil. Mais de 80% sobreposição de atividades. Quase 38%
dos médicos trabalham integralmente na dos médicos que exercem atividade
profissão. Apenas 16% têm dedicação clínica e assistencial também se ocupam
parcial e exercem uma segunda atividade com gestão, direção de serviços, trabalhos
ou ocupação. administrativos, docência e pesquisa.

Atuação exclusiva Atuação Mais de 80% dos médicos trabalham


em gestão, docência exclusivamente integralmente na profissão.
e administração clínica e assistencial

Atuação
Mista

3,1% 37,8% 51,9%


Fonte: Scheffer M. et. al.,
Demografia médica no
Brasil - 2015.

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Fonte: Shutterstock

O trabalho no consultório
O estudo aponta que cerca de 60% Embora o consultório ainda tenha um
dos médicos trabalham em consultório papel importante no desenvolvimento
particular. Desse total, dois terços da profissão, é cada vez mais comum
têm consultório próprio (individual ou encontrar médicos que atuam em
compartilhado) e um terço trabalha em organizações e estabelecimentos públicos
clínica privada. O médico recém-formado e privados. Há uma tendência para o
pode ter algumas dificuldades para exercício médico assalariado. Mais da
manter o alto custo de um consultório. metade dos 40% dos médicos que não
Trabalhar em um hospital ou fazer parte trabalham em consultório têm ganhos
do corpo clínico de algum plano de saúde por meio de salário mensal. Uma parcela
pode ajudar a conquistar pacientes no menor de profissionais ainda recebe por
início da carreira. hora trabalhada, número de pacientes ou
procedimentos.
Quase todos os médicos que têm
consultório atendem pacientes particulares 60% dos médicos trabalham em
e mais de 70% atendem pacientes de consultório particular.
planos de saúde. Somente um quarto deles
não atende pacientes com convênio.

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Jornada de trabalho
Apenas 22% dos médicos têm um Medicina de 40 a 60 horas por semana.
emprego, de acordo com o Demografia E quase 17% chegam a trabalhar 80 horas
Médica. A metade trabalha em dois semanais. Entre os médicos mais jovens,
ou três lugares diferentes. Quase 20% com idade até 35 anos, a jornada de
dos profissionais têm quatro ou cinco trabalho é mais extenuante. Pelo menos
empregos. E 5% chegam a atuar em seis 25% deles trabalham 80 horas ou mais
lugares ou mais. semanalmente. A jornada semanal de 40
a 60 horas é a mais prevalente entre os
Tantos empregos fazem com que mais médicos de todas as idades. Apenas 5,2%
de 75% dos médicos dediquem-se à trabalham até 20 horas por semana.

Quase 20% dos profissionais


Distribuição de médicos, segundo carga horária semanal - Brasil, 2014 têm quatro ou cinco empregos.
5,2%

20 - 40 horas
19,4%

40 - 60 horas
43,1%

60 - 80 horas
15,5% 75,5%

16,9%

A jornada semanal de 40 a 60 Fonte: Scheffer M. et a., Demografia Médica no Brasil 2015.

horas é a mais prevalente entre


os médicos de todas as idades.

9
O plantão médico
De todos os médicos brasileiros, quase
45% fazem plantão, um tipo de serviço
definido como eventual, sem expediente
e que dura no máximo 24 horas
sem interrupções. O plantão acontece
geralmente em hospital, pronto-socorro,
unidade de pronto-atendimento, público
ou privado.

Os recém-formados são os que mais fazem


plantão. Entre os que se formaram há 10
anos ou menos, 45% são plantonistas. Já
no grupo que se formou há 30 anos ou
mais, apenas 16% atuam em plantões.

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O SETOR PÚBLICO E A
CARÊNCIA DE MÉDICOS
O número de médicos nas Unidades particulares, onde encontram maior
Básicas de Saúde (UBSs) pode não rentabilidade. Esse cenário impossibilita
ser suficiente para atender à demanda a ampliação da assistência médica
do sistema público de saúde. Apenas especializada na rede pública. Chama a
23% dos profissionais que trabalham no atenção que a população que depende
setor público estão nas UBSs, segundo do SUS é três vezes maior do que aquela
a pesquisa Demografia Médica. Nos que possui plano de saúde ou pode pagar
serviços de atenção secundária e pelo atendimento particular.
especializada do SUS, a situação é ainda
mais crítica, pois neles trabalham menos Mesmo a abertura massiva de vagas
de 5% dos médicos. Os especialistas em cursos de graduação, não supriria
estão mais concentrados nos consultórios a demanda por médicos nos serviços
públicos e em locais distantes dos grandes
O número de médicos nas Unidades Básicas de
Saúde pode não ser suficiente para atender à centros, porque a maioria deles prefere
demanda do sistema público de saúde. trabalhar no setor privado.

11
REMUNERAÇÃO
Os ganhos dos médicos costumam re- mais de 18 mil reais por mês. Na sequên-
compensar as muitas horas da jornada de cia aparece Cirurgia Geral, com salário
trabalho. De acordo com o estudo Demo- que supera 15 mil, e Ortopedia, que pode
grafia Médica no Brasil, de 2015, mais de oferecer mais de 14 mil por mês.
60% dos médicos ganham cerca de 16 mil
reais por mês. Caso o profissional esteja Os profissionais com mestrado e douto-
disposto a trabalhar no interior do Brasil, rado tendem a receber melhor remune-
onde os salários oferecidos são maiores ração do que aqueles com menos anos
e há escassez de mão de obra, ele pode de estudo. Um fato importante, que não
chegar a ganhar até 20 mil reais, principal- pode ser esquecido por quem quer fazer
mente por meio de concursos públicos. Medicina, é que o médico precisa estudar
constantemente ao longo de toda a sua
Há diferenças de remuneração entre as carreira, para acompanhar os avanços da
especialidades médicas. Segundo um ciência.
levantamento da Catho, a Cirurgia Plásti-
ca é a especialidade que oferece melhor o médico precisa estudar constantemente
remuneração no Brasil e pode chegar a
ao longo de toda a sua carreira, para
acompanhar os avanços da ciência.
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ONDE ESTÃO OS MÉDICOS
NO BRASIL: CONTRASTES
E DESIGUALDADES
Quem vai iniciar a carreira de médico, Demografia Médica no Brasil, de 2018.
ou quem ainda apenas sonha com uma Esse número é ainda mais baixo nas
vaga na faculdade, precisa saber como é regiões Norte e Nordeste.
a distribuição de médicos pelas cidades
e regiões do Brasil. Onde há maior Há aproximadamente cinco décadas,
demanda? O quanto vale a pena ficar nos observa-se que o número de médicos
grandes centros, se o interior apresenta cresce de maneira exponencial em relação
maior carência de profissionais? à população. Em 1970, por exemplo, havia
58.994 registros de médicos e, em 2018,
Há mais oportunidades de trabalho para 491.468, o que representa um aumento
quem está disposto a sair dos grandes de 733%. Enquanto isso, a população do
centros. E, onde a concorrência é menor, país cresceu 120%, o que evidencia que
normalmente, os salários são mais altos. o número total de médicos cresceu em
ritmo mais acelerado que a população.
O Brasil possui apenas 2,18 médicos para
cada mil habitantes, segundo a pesquisa O Brasil possui apenas 2,18 médicos
para cada mil habitantes
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13
Onde estão os médicos no Brasil:
Contrastes e Desigualdades

No entanto, esses números não refletem A desigualdade também existe na


a realidade da distribuição desses comparação entre unidades federativas.
profissionais por todo o território. Ainda Por exemplo, o Distrito Federal possui
há grandes desigualdades entre regiões, 4,35 médicos para cada mil habitantes, o
estados, capital e interior. estado do Rio de Janeiro tem 3,55 e São
Paulo está em terceiro lugar, com 2,81.
As regiões Norte – 1,16 médico por mil Enquanto isso, todos os estados do Norte
habitantes – e Nordeste – 1,41 – estão e Nordeste têm menos de 1,8 médico
abaixo da média nacional, e todas as por mil habitantes. Maranhão e Pará têm
demais regiões estão acima. A região menos de 1 médico para cada grupo de
Sudeste tem 2,81 médicos por mil mil pessoas.
habitantes, a Sul 2,31 e a Centro-Oeste
2,36.

CAPITAL X INTERIOR

14
AS ESPECIALIDADES
MÉDICAS
Quando o médico termina a faculdade, número de médicos. Há 42.728 clínicos,
ele já pode atuar como clínico geral, ou o que equivale a 11,2% de todos os títulos
generalista. Porém, se ele quiser, pode de especialista.
fazer uma residência médica e tornar-se
um especialista. A escolha da residência Há algumas áreas muito pouco exploradas.
depende da afinidade que o médico tem Há oito especialidades com menos de
por determinada especialidade. 1.000 médicos cada. Genética Médica, por
exemplo, tem apenas 305 especialistas
À medida que a ciência evolui, o número em todo o país. Dedicam-se à Cirurgia
de especialidades aumenta. Há no Brasil da Mão e Medicina Esportiva apenas
55 especialidades reconhecidas pelo 585 e 783 médicos, respectivamente.
Conselho Federal de Medicina (CFM), e Medicina de Família e Comunidade é
a tendência é que essa lista cresça todos uma especialidade muito importante na
os anos. Atenção Primária à Saúde no Brasil e conta
com apenas 5.486 médicos. Enquanto
Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral, isso, as primeiras 20 especialidades mais
Ginecologia e Obstetrícia, Anestesiologia, procuradas equivalem a 80,4% de todos
Medicina do Trabalho, Ortopedia e os profissionais titulados.
Traumatologia e Cardiologia são as
especialidades mais procuradas. Mais da Mais de 50% dos médicos especialistas
fazem residência em apenas oito áreas.
metade dos médicos especialistas fazem
residência nessas oito áreas. A Clínica
Médica é a especialidade com maior

15
Especialidade Número de títulos % % acumulado
Clínica Médica 42.728 11,2 11,2
Pediatria 39.234 10,3 21,5
Cirurgia Geral 34.065 8,9 30,4
Ginecologia e Obstetrícia 30.415 8,0 38,4
Anestesiologia 23.021 6,0 44,4
Medicina do Trabalho 15.895 4,2 48,6
Ortopedia e Traumatologia 15.598 4,1 52,7
Cardiologia 15.516 4,1 56,7
Oftalmologia 13.825 3,6 60,4
Radiologia e Diagnóstico por Imagem 12.233 3,2 63,6
Psiquiatria 10.396 2,7 66,3
Dermatologia 8.317 2,2 68,5
Medicina Intensiva 6.562 1,7 70,2
Otorrinolaringologia 6.373 1,7 71,9
Cirurgia Plástica 6.304 1,7 73,5
Medicina de Família e Comunidade 5.486 1,4 75,0
Urologia 5.328 1,4 76,4
Medicina de Tráfego 5.221 1,4 77,7
Endocrinologia e Metabologia 5.210 1,4 79,1
Neurologia 5.104 1,3 80,4
Gastroenterologia 4.881 1,3 81,7
Nefrologia 4.474 1,2 82,9
Cirurgia Vascular 4.301 1,1 84,0
Infectologia 3.746 1,0 85,0
Acupuntura 3.598 0,9 85,9
Oncologia Clínica 3.583 0,9 86,9
Pneumologia 3.412 0,9 87,8
Neurocirurgia 3.298 0,9 88,6
Patologia 3.210 0,8 89,5
Endoscopia 3.184 0,8 90,3
Cirurgia do Aparelho Digestivo 2.864 0,8 91,1
Hematologia e Hemoterapia 2.668 0,7 91,8
Homeopatia 2.617 0,7 92,4
Reumatologia 2.383 0,6 93,1
Cirurgia Cardiovascular 2.271 0,6 93,7
Mastologia 2.219 0,6 94,2
Coloproctologia 1.950 0,5 94,8
Medicina Preventiva e Social 1.863 0,5 95.,2
Geriatria 1.817 0,5 95,7
Nutrologia 1.692 0,4 96,2
Angiologia* 1.633 0,4 96,6
Alergia e Imunologia 1.601 0,4 97,0
Patologia Clínica/Medicina Laboratorial* 1.450 0,4 97,4
Cirurgia Pediátrica 1.378 0,4 97,8
Cirurgia Oncológica 1.190 0,3 98,1
Cirurgia de Cabeça e Pescoço 1.072 0,3 98,3
Cirurgia Torácica 992 0,3 98,6
Medicina Nuclear 915 0,2 98,8
Medicina Física e Reabilitação* 887 0,2 99,1
Medicina Esportiva 869 0,2 99,3
Medicina Legal e Perícia Médica* 827 0,2 99,5
Cirurgia da Mão 791 0,2 99,7
Radioterapia 734 0,2 99,9
Genética Médica 305 0,1 100,0
Scheffer M. et al., Demografia Médica no Brasil 2018.
16
As especialidades médicas

O número de especialistas está


aumentando no Brasil. Pelo menos
62% dos médicos possuem título de
especialista. Porém, a desigualdade na
distribuição deles pelo Brasil segue a
tendência da concentração de médicos
pelo território nacional. O número de
médicos especialistas no estado de
São Paulo equivale ao total de todos os
especialistas do Norte, Centro-Oeste e
Nordeste.

Pelo menos 62% dos médicos possuem título


de especialista.

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QUANTO O MÉDICO
ESTUDA
Primeiro, o aspirante a médico faz a Nacional de Residência Médica. Em 2018,
graduação. São seis anos em período passou a ser obrigatório fazer um ano de
integral. Caso ele queira se especializar residência em Medicina Geral de Família
em alguma área, vai para a residência, na e Comunidade (MGFC), para que se
qual deve permanecer de dois a seis anos. obtenha qualquer título de especialista.
Para entrar na residência, é preciso fazer Depois da residência, o médico pode
um exame e ser aprovado em hospitais optar por fazer especialização, mestrado
que sejam credenciados pela Comissão e doutorado.

18
COMO É A GRADUAÇÃO
São seis anos em período integral, com prática cirúrgica e assuntos relacionados
aulas práticas, teóricas, seminários, pes- a várias especialidades, como Oftalmolo-
quisas e plantões em hospitais. Nos dois gia, Traumatologia e Ortopedia. Há aulas
primeiros anos, as disciplinas são mais ge- de farmacologia, imunologia, patologia e
rais, como anatomia, fisiologia, citologia, embriologia.
histologia, biologia celular e molecular. Al-
gumas instituições já oferecem disciplinas Nos dois últimos anos de Medicina, acon-
práticas desde o primeiro ano. tece o internato obrigatório, no qual há au-
las práticas nas principais áreas médicas,
A partir do terceiro ano, o aluno estuda as como obstetrícia, ginecologia, cirurgia ge-
doenças, suas causas, diagnósticos e tra- ral, pediatria e clínica médica. Os alunos
tamentos. Ele começa a frequentar mais o fazem plantões, acompanham e realizam
ambiente hospitalar e aprende como exa- atendimentos em hospitais, UTIs, ambula-
minar os pacientes e identificar moléstias. tórios, UBSs, centros cirúrgicos e prontos-
Nesse momento, ele também conhece a -socorros.

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19
PAIXÃO PELO QUE FAZ
Há algumas características que são marcantes na profissão de médico no Brasil:

Multiplicidade de vínculos Longas jornadas (dois terços


de trabalho (quase a metade trabalham mais de 40 horas
dos médicos tem três ou mais por semana).
empregos).

Plantões (45% dos médicos Ganhos elevados, quando


no Brasil fazem pelos menos comparados a outras
um plantão por semana). profissões (um terço dos
médicos ganha mais de R$
16.000 por mês).

20
Paixão pelo que faz

O médico não tem uma carreira fácil e


pode ficar bastante estressado por causa
da carga excessiva de trabalho. Esses
aspectos mais difíceis são ainda mais
acentuados no início da carreira, com a
tendência de serem amenizados conforme
o profissional ganha experiência e
constrói bases sólidas de trabalho. Porém,
a grande adesão que existe à profissão
– mais de 80% dedicam-se de forma
integral – demonstra que a paixão por ser
médico está muito acima das dificuldades
da carreira. Eles não desistem e são
bem recompensados por isso. Além do
retorno emocional, por causa do cuidado
que eles têm com as outras pessoas, os
rendimentos dos médicos são bem mais
elevados do que de outros profissonais.

O Brasil precisa de médicos em lugares


afastados dos grandes dos centros e no
Sistema Público de Saúde. Porém, é forte
a tendência de os médicos ainda ficarem
concentrados nos grandes centros e
preferirem o trabalho na iniciativa privada.
Para os recém-formados, e para quem
ainda vai começar a graduação, vale
refletir sobre as necessidades do mercado
de trabalho e a realidade da saúde no
Brasil.

21
FONTES DE PESQUISA
SCHEFFER, M. et al. Demografia Médica no Brasil 2015. Departamento de Medicina
Preventiva, Faculdade de Medicina da USP. Conselho Regional de Medicina do Estado
de São Paulo. Conselho Federal de Medicina. São Paulo: 2015, 284 páginas.

SCHEFFER, M. et al. Demografia Médica no Brasil 2018. Departamento de Medicina


Preventiva, Faculdade de Medicina da USP. Conselho Regional de Medicina do Estado
de São Paulo. Conselho Federal de Medicina. São Paulo: 2018, 286 páginas.

BARBOSA, A. et. al. Guia de Especialidades: Clínica Médica. Medcel.

https://guiadoestudante.abril.com.br/profissoes/medicina/, acessado em 07/02/2018.

https://g1.globo.com/educacao/noticia/governo-federal-vai-suspender-a-abertura-de-
-novos-cursos-de-medicina-diz-mec.ghtml, acessado em 07/02/2018.

http://agenciabrasil.ebc.com.br/pesquisa-e-inovacao/noticia/2017-12/expectativa-de-
-vida-do-brasileiro-e-de-758-anos-diz-ibge, acessado em 07/02/2018.

http://cartacampinas.com.br/2015/12/medicos-brasil-tem-21-medicos-por-10-mil-habi-
tantes-bem-abaixo-de-paises-desenvolvidos/, acessado em 07/02/2018.

http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/radar/130703_radar27.pdf

https://www.catho.com.br/profissoes

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CONHEÇA A HISTÓRIA
DE UM MÉDICO
O desejo de ser médico
Eu sempre quis ser médico. Meus pais são médicos, e eu sempre quis fazer Medicina
para ajudar as pessoas doentes e em sofrimento. Eu via meus pais fazendo isso,
ajudando os familiares e as outras pessoas, e eu ficava com vontade de ser como
eles. Teve um dia marcante na minha vida. Quando eu tinha 12 anos, e eu estava
voltando de uma viagem de carro com os meus pais, e na estrada vimos um acidente
gravíssimo. Meus pais me deixaram dentro do carro, junto com os meus seis irmãos,
e saíram para ajudar o bombeiro a auxiliar as vítimas. Fiquei com vontade de fazer
aquilo, poder ajudar de verdade numa situação difícil como aquela.

A medicina sempre fez parte da minha vida por causa dos meus pais, que são
apaixonados pela profissão. Meu pai é cirurgião de tórax e cardíaco e minha mãe é
pediatra. E médico só fala de Medicina em casa. O médico é médico 24 horas. Todo
mundo me enxerga como médico o tempo inteiro. Sou sempre o Guilherme médico,
mesmo nos momentos de lazer. O médico não tem uma vida que seja separada da
profissão. Nós sempre temos um tempo de descanso, mas mesmo dentro da família
eu sou médico o tempo inteiro. Por isso a Medicina é uma profissão tão singular.

A preparação para o vestibular


Estudei numa escola que não era muito conhecida. Meus irmãos e eu nunca
estudamos num colégio famoso. Éramos sete e meus pais não tinham condições de
pagar uma escola “de marca” para todos os filhos. Era uma escola particular apenas

23
Conheça a história de um médico

razoável, perto da minha casa. Quando prestei o vestibular no final do terceiro


colegial, percebi que eu estava completamente despreparado. Eu não sabia nem
a metade do conteúdo que era cobrado. Com apenas 16 anos, eu também sentia
que eu não estava pronto. Eu sempre fui um bom aluno, dedicado e estava sempre
entre os melhores da sala, mas fiquei muito surpreso quando vi que não passei no
vestibular na primeira vez. Prestei apenas faculdades públicas e não passei.

Depois disso, fiquei cinco meses morando nos Estados Unidos com uma tia, para
aprender inglês. Na volta para o Brasil, fiz um cursinho semi-intensivo e me dediquei
muito para poder passar. O cursinho foi muito importante, porque naquele ambiente
eu era um dos piores alunos. Essa pressão foi muito boa e me estimulou a estudar
mais, o que fez com que eu progredisse muito. Imediatamente, passei em várias
faculdades particulares do interior e da capital de São Paulo. Decidi ficar na capital.
Passei para a segunda fase das faculdades públicas mas não fui aprovado na lista
final. Meus pais médicos foram muito importantes para mim nessa época. Eles
disseram: “Cursar uma faculdade pública não vai fazer a diferença que você está
imaginando. Faça aqui mesmo perto da gente. Assim poderemos te orientar mais de
perto”. Acho que essa foi uma decisão acertada. Mas quando eu terminei o primeiro
ano, ainda tentei passar nas faculdades públicas. Eu sentia muita culpa por meus
pais estarem pagando a minha faculdade. Eu sou o filho mais velho e tinha medo
que os meus pais não conseguissem pagar faculdade para os meus outros irmãos.
Tentei e de novo eu não consegui ser aprovado na segunda fase. Hoje eu digo que
foi a melhor coisa que me aconteceu. Cursar uma faculdade pública não teria feito
nenhuma diferença na minha vida.

24
Conheça a história de um médico

A graduação
Para mim, foi muito bom ter feito uma faculdade particular, aprendi a dar valor ao
que os meus pais estavam fazendo por mim. Trabalhei do 1º ao 4º ano da faculdade,
dando aula à noite de biologia em escolas públicas e particulares de ensino médio,
o que me ajudou a ter mais responsabilidade. Foi ali que comecei a aprender a ser
professor.

Eu sempre estudei muito durante a graduação. No curso inteiro eu peguei apenas um


exame, e nunca fui de faltar às aulas. Eu já sabia que era preciso muita dedicação por
causa do exemplo que eu tinha em casa. Por isso, eu não tive nenhum deslumbramento
com a vida acadêmica.

A escolha da especialidade
Na faculdade de Medicina, o aluno se apaixona por várias áreas. Eu tive vontade de
fazer várias coisas porque os professores influenciavam muito. Um bom professor,
que é apaixonado por determinada especialidade, acaba levando o aluno a se
interessar também por aquela área. Mas no terceiro ano da faculdade, por causa da
disciplina de técnica cirúrgica, percebi que eu queria ser cirurgião. Eu me lembro que
senti muita emoção quando comecei a operar e na hora pensei: “é isso o que quero
fazer”. Quando me formei, fui fazer Cirurgia Geral, uma residência que dura dois anos
e que era pré-requisito para todas as especialidades. Escolhi essa especialidade
porque eu queria trabalhar como cirurgião de pronto-socorro, atendendo vítimas de
acidentes ou ferimentos diversos como aqueles causados por arma branca ou de
fogo. Fiz Cirurgia Geral no lugar que sempre sonhei, a Santa Casa de São Paulo.
Na época, era a melhor residência de Cirurgia Geral do Brasil. Depois fui fazer três
anos de residência em Cirurgia Cardíaca no Incor de São Paulo. Em seguida, fiz mais
quatro anos de doutorado. Foram quinze anos seguidos de estudo. Eu sabia que
tinha que aproveitar aquele momento e engatei um desafio no outro.

25
Conheça a história de um médico

A minha rotina era muito puxada na residência. Acho que o primeiro ano de Cirurgia
Geral é o ano mais duro da vida de qualquer cirurgião. Eu chegava no hospital às
5 horas da manhã. Na primeira semana de residência em Cirurgia Geral, entrei na
Santa Casa na segunda-feira e só fui pra casa na quinta-feira à noite. Operamos um
paciente grave, que teve uma complicação, não tinha vaga na UTI e tive que cuidar
do paciente dentro da sala de cirurgia durante quatro dias, sem voltar pra casa, só
usando roupa do centro cirúrgico. Não pensei em desistir em momento algum. A
vida de residente é muito pesada. É o triplo da carga da graduação. Na residência,
a gente já é médico, então a cobrança é muito maior. Se cometermos algum erro,
temos que responder por ele, mesmo que ainda estejamos em treinamento. Você
tem que ter a certeza de que está fazendo o seu melhor sempre.

No Plantão da Santa Casa vi tragédias e sofrimento. Três da manhã parecia meio-


dia. Era muito movimento no pronto-socorro. Quando eu ainda estava na residência
de Cirurgia Cardíaca, já trabalhava como cirurgião em emergência. E eu estava
totalmente preparado. A vida do médico é assim. Temos que nos esforçar muito mas
temos muita gratificação, ajudamos muita gente, aprendemos bastante e vemos os
resultados daquilo que estudamos. Terminei a residência com 28 anos. A gente se
forma jovem e amadurece com o tempo e as experiências. Você não tem o direito de
não ser bom.

A carreira
Depois que terminei a residência, fiquei um ano trabalhando como cirurgião cardíaco
em São Paulo. Meu pai tinha uma equipe de cirurgiões cardíacos e fui trabalhar
com ele. Me casei e minha esposa é cirurgiã cardíaca pediátrica também. Fomos
convidados para implantar o INCOR Brasília, que foi uma excelente experiência.
Tínhamos feito toda a nossa formação em cirurgia cardíaca no INCOR e eu estava
começando o meu doutorado lá e nós dois fomos convidados para montar a unidade

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Conheça a história de um médico

de Brasília. Fomos em 4 cirurgiões. Foi um desafio muito grande, porque éramos


recém-casados e tivemos os dois filhos longe da família, e nós dois trabalhando em
hospital. Era um hospital com alta visibilidade, havia uma expectativa muito grande
na região. Era uma responsabilidade e tanto ser cirurgião do INCOR lá, inclusive
operando políticos, logo depois de acabar a residência.

Fiquei três anos em Brasília e depois voltei pra São Paulo, em 2007. Meu pai precisou
da minha ajuda na equipe dele, no Hospital Bandeirantes, e tive que deixar a minha
família lá e voltei sozinho. Fiquei quase seis meses sem eles e tive que assumir a
parte de cirurgia cardíaca, enquanto meu pai ficou com a cirurgia de pulmão e tórax.
Eu tive que reestruturar a equipe inteira. Foi uma experiência fantástica trabalhar
com o meu pai, depois de ter passado um tempo longe, em Brasília. Voltei com outras
experiências e outra formação. Por isso, recomendo para o recém-formado não ir
direto para a empresa da família.

Em 2013, ajudei a abrir o curso de Medicina, na São Leopoldo Mandic, em Campinas.


A carga de trabalho foi aumentando e eu tinha duas opções: abandonar a faculdade
ou abandonar minha vida em São Paulo. Não dá pra cuidar a distância de um
curso de Medicina. Quando a primeira turma estava no 4º ano, decidi me mudar
com a minha família pra Campinas, e assumir a coordenação da graduação. Mudei
completamente a minha vida. Naquela época eu já estava há quase três anos como
cirurgião do transplante cardíaco do Hospital Albert Einstein. Ninguém entendeu por
que eu estava largando aquela posição, desejada por muita gente, pra ir pra São
Leopoldo Mandic.

O médico pode trabalhar em diversas áreas, não apenas no consultório. Eu vivi isso.
Fiz pesquisa, fui cirurgião de pronto-socorro, tive minha própria equipe, trabalhei em
grandes hospitais, como o INCOR e o Einstein, fui professor na UNISA e agora faço

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Conheça a história de um médico

coordenação acadêmica. Eu sempre tive e tenho consultório. É fundamental para


o médico ter consultório, que é uma referência, com telefone e endereço para as
pessoas te encontrarem. Assim ele pode ter os seus próprios pacientes. Comecei a
trabalhar no mesmo consultório que o meu pai, mas depois abri outro separado do
dele.

Quando você sai da faculdade você tem a impressão de saber exatamente como serão
seus próximos dez anos, mas não é bem assim. As oportunidades vão aparecendo
e todo mundo quer o bom profissional. Se o médico for um profissional dedicado,
se ele tiver o próprio consultório, bom relacionamento com os colegas desde a
época da faculdade, ser visto sempre como uma pessoa conciliadora, responsável,
competente, sempre haverá oportunidades.

Hoje eu tenho um consultório em Campinas e outro em São Paulo, onde eu atendo


a cada duas semanas. E faço pequenas cirurgias. Não faço mais grandes cirurgias
cardíacas como eu fiz por 20 anos, porque é incompatível com a minha vida hoje.
Optei por ficar na São Leopoldo Mandic. Sinto falta de fazer cirurgias, mas tenho
consciência que neste momento não consigo me dedicar a isso. E, ao mesmo tempo,
estou muito realizado com o que a gente está construindo na Faculdade.

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