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SÃO PAULO
2023
OBJETIVO DO TRABALHO
O seguinte trabalho possui como objetivo apresentar parte da entrevista realizada com uma
enfermeira já aposentada, que atuou por 15 anos na saúde pública. Há também uma reflexão a
respeito dos principais pontos levantados por ela durante a entrevista, como a mecanização e
a falta de empatia dos profissionais da saúde pública e sua relação direta com a exaustão e as
longas jornadas de trabalho impostas aos mesmos.
A entrevistada atuou em diversas áreas durante sua jornada como enfermeira, entre elas
Pronto Socorro, Neurologia, Obstetrícia e Ginecologia, Centro Cirúrgico e UTI. Abaixo se
encontram alguns trechos da entrevista.
P- “Como era a relação entre a sua unidade e os demais equipamentos da saúde pública?”
R- “A relação entre a unidade e demais equipamentos era boa, fluia bem. Mesmo porque se
não fluísse eu sempre recorria a estratégias legais. Dentro de um serviço público se você
aceita a fala "não tem verba" então, você está sendo conivente com a imprudência. Então, se
não tinha, ou eu improvisava ou recorria a meios legais para que houvesse, afinal de contas,
minha função como enfermeira era garantir o restabelecimento da saúde de quem estava sob
meus cuidados. E como membro da unidade, não poderia me abster disso, nem de tomada de
decisões por vezes drásticas para cumprir e fazer cumprir a lei que garante a saúde e
atendimento de todos.”
P- “Para você, quais as principais barreiras que a saúde pública enfrenta hoje em comparação
com o período que você atuava?”
R- “Bem, hoje percebo que os profissionais tanto da área médica quanto da enfermagem
estão menos empáticos e mais mecanizados. Não há mais acolhimento, muito menos escuta.
Pouco se importam com o paciente que está longe de sua família, de sua casa, sendo muitas
vezes invadido com exames, questionamentos quase diários num pedido de internação mais
prolongada. Dentro da unidade ambulatorial não é diferente, a enfermagem está sempre mal
humorada, resmungando e por vezes acredita, assim como demais funcionários, desde a
recepção até o médico que estão prestando um favor à população. Além, obviamente, da
habilidade técnica que cada dia está pior. Antigamente, por mais corrido que fosse, ainda sim
a equipe era mais empática, mais acolhedora, mais paciente... hoje, se faz tudo na pressa, na
correria…”
P- “Na sua opinião, o que pode ser feito para enfrentar essas dificuldades?”
R- “Cursos para atendimento acolhedor ao paciente e sua família, práticas de bom
relacionamento entre as equipes multidisciplinares para que uma não se sinta superior a outra,
acompanhamento psicológico para a equipe, melhor remuneração.
A prática de manter mais de um emprego vivida pela enfermagem, que é o profissional mais
próximo ao paciente, é comum. Porém, isso acarreta uma série de problemas, tanto de ordem
física quanto emocional. Ter tempo livre, manter uma família saudável e ser saudável é algo
distante de muitos enfermeiros, técnicos e auxiliares.
A grande maioria vive exausta, esgotada... e isso reflete diretamente na qualidade de
atendimento prestado ao paciente. Acredito que não deveria ser permitido o cumprimento de
uma jornada de 24 horas, ininterruptas, muitos amigos chegam a trabalhar até 48 horas sem
dormir, sem voltar para casa e isso, reflete diretamente não só na qualidade do atendimento
prestado, mas na própria vida do funcionário.”
DESENVOLVIMENTO
Durante a entrevista, dois pontos importantes foram levantados, sendo eles a mecanização e
falta de empatia por parte dos profissionais, e também uma jornada de trabalho excessiva, que
os leva ao limite da exaustão. Notamos então que há um descuido com a saúde daqueles que
cuidam.
O esgotamento entre profissionais de saúde pública é um problema grave que afeta tanto os
profissionais quanto a qualidade da assistência, gerando insatisfação com o serviço entregue à
população. Entre os transtornos que mais afetam os profissionais da enfermagem devido a
fadiga no trabalho estão a ansiedade e a depressão. Além de tudo, essa fadiga gerada abre
margem para diversos contratempos, como erros médicos, maior rotatividade na equipe
devido a desistências na área, tensões nas relações de trabalho que irão afetar toda a equipe, e
uma baixa qualidade no atendimento, que vem tornando-se mecânico, tecnicista, e insensível.
Com muita frequência encontram-se enfermeiros que se submetem a jornadas duplas ou
triplas devido ao salário baixo, afetando diretamente a saúde mental do trabalhador e
impactando no serviço prestado, ao passo que os funcionários se tornam apáticos, cansados, e
indiferentes. Esse cansaço e insatisfação não se dá apenas pela desvalorização salarial, mas
também pela não valorização da profissão, como apresenta a entrevistada no trecho que diz
“Em relação a equipe o que demandava mais esforço era fazer os médicos entenderem que a
enfermagem não é sua empregada e que o paciente não é um objeto.”
Faz-se importante ressaltar que estes profissionais, além de insatisfeitos e mentalmente
adoecidos, estão em contato constante com pacientes vulneráveis, debilitados e não
saudáveis, tornando a profissão estressante e de alto risco, fazendo com que os mesmos
rendam menos em suas tarefas diárias, faltem mais, e apresentem déficits de rendimento
pessoal, gerando um atendimento mecanizado e não empático, impedindo que a população
receba seus cuidados com a devida qualidade. Esse cenário se agrava na medida em que esses
profissionais enxergam, como único recurso, manter jornadas excessivas de trabalho.
Em Abril de 2023 foi aprovada a lei que define um piso salarial para a profissão, a lei entrou
em vigor em Maio deste ano, espera-se portanto, uma mudança significativa nesse cenário.
Porém, para que haja também uma melhora significativa no atendimento, é importante
entender de onde vem essa mecanização e como ela afeta os pacientes.
Estes mesmos indivíduos vão em busca de atendimento não apenas para a cura de um
problema, mas também buscando atenção e escuta empática, podendo relatar mais do que
uma dor física. O que eles encontram, porém, são enfermeiros exaustos, desvalorizados e
com demandas de trabalho absurdas.
É nesse momento, onde a relação enfermeiro-paciente falha, que a busca por uma solução se
faz necessária, sendo ela possível através de políticas de valorização das relações entre as
equipes médicas e de enfermagem, cursos de escuta empática e comunicação não violenta, e
humanização na atuação dos profissionais da saúde, buscando respeitar os limites dos
profissionais. É preciso uma mudança organizacional, visando a implementação de práticas
de atenção e gestão, e buscando gerar um vínculo saudável com os pacientes, fornecendo uma
escuta ativa e empática e um atendimento acolhedor e resolutivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
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