Você está na página 1de 5

FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

Emily Nair Alves Levoto - 1624237


Jenniffer Zambrini Guarneri - 1440463
Luciano da silva de Vasconcelos - 1635455

N1 ENTREVISTA COM PROFISSIONAL DA SAÚDE PÚBLICA


psicologia 4º semestre

SÃO PAULO
2023
OBJETIVO DO TRABALHO

O seguinte trabalho possui como objetivo apresentar parte da entrevista realizada com uma
enfermeira já aposentada, que atuou por 15 anos na saúde pública. Há também uma reflexão a
respeito dos principais pontos levantados por ela durante a entrevista, como a mecanização e
a falta de empatia dos profissionais da saúde pública e sua relação direta com a exaustão e as
longas jornadas de trabalho impostas aos mesmos.

BREVE DESCRIÇÃO DA ENTREVISTA

A entrevistada atuou em diversas áreas durante sua jornada como enfermeira, entre elas
Pronto Socorro, Neurologia, Obstetrícia e Ginecologia, Centro Cirúrgico e UTI. Abaixo se
encontram alguns trechos da entrevista.
P- “Como era a relação entre a sua unidade e os demais equipamentos da saúde pública?”
R- “A relação entre a unidade e demais equipamentos era boa, fluia bem. Mesmo porque se
não fluísse eu sempre recorria a estratégias legais. Dentro de um serviço público se você
aceita a fala "não tem verba" então, você está sendo conivente com a imprudência. Então, se
não tinha, ou eu improvisava ou recorria a meios legais para que houvesse, afinal de contas,
minha função como enfermeira era garantir o restabelecimento da saúde de quem estava sob
meus cuidados. E como membro da unidade, não poderia me abster disso, nem de tomada de
decisões por vezes drásticas para cumprir e fazer cumprir a lei que garante a saúde e
atendimento de todos.”
P- “Para você, quais as principais barreiras que a saúde pública enfrenta hoje em comparação
com o período que você atuava?”
R- “Bem, hoje percebo que os profissionais tanto da área médica quanto da enfermagem
estão menos empáticos e mais mecanizados. Não há mais acolhimento, muito menos escuta.
Pouco se importam com o paciente que está longe de sua família, de sua casa, sendo muitas
vezes invadido com exames, questionamentos quase diários num pedido de internação mais
prolongada. Dentro da unidade ambulatorial não é diferente, a enfermagem está sempre mal
humorada, resmungando e por vezes acredita, assim como demais funcionários, desde a
recepção até o médico que estão prestando um favor à população. Além, obviamente, da
habilidade técnica que cada dia está pior. Antigamente, por mais corrido que fosse, ainda sim
a equipe era mais empática, mais acolhedora, mais paciente... hoje, se faz tudo na pressa, na
correria…”
P- “Na sua opinião, o que pode ser feito para enfrentar essas dificuldades?”
R- “Cursos para atendimento acolhedor ao paciente e sua família, práticas de bom
relacionamento entre as equipes multidisciplinares para que uma não se sinta superior a outra,
acompanhamento psicológico para a equipe, melhor remuneração.
A prática de manter mais de um emprego vivida pela enfermagem, que é o profissional mais
próximo ao paciente, é comum. Porém, isso acarreta uma série de problemas, tanto de ordem
física quanto emocional. Ter tempo livre, manter uma família saudável e ser saudável é algo
distante de muitos enfermeiros, técnicos e auxiliares.
A grande maioria vive exausta, esgotada... e isso reflete diretamente na qualidade de
atendimento prestado ao paciente. Acredito que não deveria ser permitido o cumprimento de
uma jornada de 24 horas, ininterruptas, muitos amigos chegam a trabalhar até 48 horas sem
dormir, sem voltar para casa e isso, reflete diretamente não só na qualidade do atendimento
prestado, mas na própria vida do funcionário.”

DESENVOLVIMENTO

Durante a entrevista, dois pontos importantes foram levantados, sendo eles a mecanização e
falta de empatia por parte dos profissionais, e também uma jornada de trabalho excessiva, que
os leva ao limite da exaustão. Notamos então que há um descuido com a saúde daqueles que
cuidam.
O esgotamento entre profissionais de saúde pública é um problema grave que afeta tanto os
profissionais quanto a qualidade da assistência, gerando insatisfação com o serviço entregue à
população. Entre os transtornos que mais afetam os profissionais da enfermagem devido a
fadiga no trabalho estão a ansiedade e a depressão. Além de tudo, essa fadiga gerada abre
margem para diversos contratempos, como erros médicos, maior rotatividade na equipe
devido a desistências na área, tensões nas relações de trabalho que irão afetar toda a equipe, e
uma baixa qualidade no atendimento, que vem tornando-se mecânico, tecnicista, e insensível.
Com muita frequência encontram-se enfermeiros que se submetem a jornadas duplas ou
triplas devido ao salário baixo, afetando diretamente a saúde mental do trabalhador e
impactando no serviço prestado, ao passo que os funcionários se tornam apáticos, cansados, e
indiferentes. Esse cansaço e insatisfação não se dá apenas pela desvalorização salarial, mas
também pela não valorização da profissão, como apresenta a entrevistada no trecho que diz
“Em relação a equipe o que demandava mais esforço era fazer os médicos entenderem que a
enfermagem não é sua empregada e que o paciente não é um objeto.”
Faz-se importante ressaltar que estes profissionais, além de insatisfeitos e mentalmente
adoecidos, estão em contato constante com pacientes vulneráveis, debilitados e não
saudáveis, tornando a profissão estressante e de alto risco, fazendo com que os mesmos
rendam menos em suas tarefas diárias, faltem mais, e apresentem déficits de rendimento
pessoal, gerando um atendimento mecanizado e não empático, impedindo que a população
receba seus cuidados com a devida qualidade. Esse cenário se agrava na medida em que esses
profissionais enxergam, como único recurso, manter jornadas excessivas de trabalho.
Em Abril de 2023 foi aprovada a lei que define um piso salarial para a profissão, a lei entrou
em vigor em Maio deste ano, espera-se portanto, uma mudança significativa nesse cenário.
Porém, para que haja também uma melhora significativa no atendimento, é importante
entender de onde vem essa mecanização e como ela afeta os pacientes.
Estes mesmos indivíduos vão em busca de atendimento não apenas para a cura de um
problema, mas também buscando atenção e escuta empática, podendo relatar mais do que
uma dor física. O que eles encontram, porém, são enfermeiros exaustos, desvalorizados e
com demandas de trabalho absurdas.
É nesse momento, onde a relação enfermeiro-paciente falha, que a busca por uma solução se
faz necessária, sendo ela possível através de políticas de valorização das relações entre as
equipes médicas e de enfermagem, cursos de escuta empática e comunicação não violenta, e
humanização na atuação dos profissionais da saúde, buscando respeitar os limites dos
profissionais. É preciso uma mudança organizacional, visando a implementação de práticas
de atenção e gestão, e buscando gerar um vínculo saudável com os pacientes, fornecendo uma
escuta ativa e empática e um atendimento acolhedor e resolutivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O grupo aprendeu, através da entrevista e das pesquisas realizadas para desenvolver a


articulação teórica, que existe muito a ser feito por aqueles que estão na linha de frente dos
cuidados com a população, sendo necessário, enquanto psicólogos e profissionais da saúde,
lutar não só pelos direitos dos nossos pacientes, mas também pela qualidade de vida e de
trabalho daqueles que atuam conosco e de nós mesmos, sendo a existência do profissional da
saúde pública, constantemente ligada às diversas lutas biopsicossociais.
Notamos também que a falta de qualidade dos atendimentos públicos ligados à saúde diz
muito mais a respeito do cenário político e social do que ao profissional em si, sendo
necessário quebrar com a ideia de que o problema do SUS são os profissionais “preguiçosos”
e entender que o verdadeiro problema está diretamente ligado a imagem construída por
aqueles que pensam não usufruir de tal sistema, com intenção de marginalizar seus usuários
assíduos e manter um status de superioridade social, corroborando para a existência de um
forte sistema de invisibilização e opressão de classes.

BIBLIOGRAFIA

DA SILVA, Poliana Francisca. PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS QUE


ACOMETEM OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM. [s.l.: s.n.], 2019. Disponível em:
<https://dspace.uniceplac.edu.br/bitstream/123456789/293/1/PolianaSilva_001241.pdf>.
Botega, Neury José. Prática Psiquiátrica No Hospital Geral. 4th ed., Porto Alegre

RS, ArtMed Editora Ltda, 2017,

file:///C:/Users/Jenniffer/Downloads/Pr%C3%A1tica%20psiqui%C3%A1trica%20no%20hos

pital%20geral%20-%20interconsulta%20e%20Emerg%C3%AAncia%20-%20Neury%20Jos

%C3%A9%20Botega%20-%202017.pdf. Accessed 2 Oct. 2023.

GARCIA, Niegia ; BRASÍLIA MARIA CHIARI. Humanização das práticas do profissional


de saúde: contribuições para reflexão. Ciencia & Saude Coletiva, v. 15, n. 1, p. 255–268,
2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/csc/a/CT9XdBbVbctpmwzLjRLxm3q/>.
Acesso em: 4 out. 2023.
MARIA; DA, Simões; MARY, Diana; et al. O IMPACTO DAS CONDIÇÕES E JORNADA
DE TRABALHO NA SAÚDE DOS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM. Revista de
Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, v. 4, n. 4, p. 2867–2873, 2023. Disponível em:
<https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=505750895034>. Acesso em: 2 out. 2023.

Objetivos do HumanizaSUS. Ministério da Saúde. Disponível em:


<https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/humanizasus/objeti
vos-do-humanizasus#:~:text=Pol%C3%ADtica%20Nacional%20de%20Humaniza%C3%A7
%C3%A3o%20busca&text=Implanta%C3%A7%C3%A3o%20de%20modelo%20de%20aten
%C3%A7%C3%A3o,Gest%C3%A3o%20participativa%20nos%20servi%C3%A7os>.
Acesso em: 4 out. 2023.

PFERI, Matheus. Os obstáculos para humanizar o atendimento de saúde | UNINTER


NOTÍCIAS. Uninter.com. Disponível em:
<https://www.uninter.com/noticias/os-obstaculos-para-humanizar-o-atendimento-de-saude>.
Acesso em: 4 out. 2023.

WELLENGTON.JUNIOR. Piso da enfermagem: Congresso aprova projeto para viabilizar


pagamento. Conselho Nacional de Saúde. Disponível em:
<https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/2977-piso-da-enfermagem-congresso-apr
ova-projeto-para-viabilizar-pagamento#:~:text=A%20Lei%2014.434%2F2022%20define,%2
5%20(R%24%202.375).>. Acesso em: 2 out. 2023.

Você também pode gostar