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RESUMO
Esta pesquisa trata-se de um estudo de caso, de cunho qualitativo-descritivo, realizado por uma
equipe do Programa Saúde da Família (PSF) do município de Timóteo-MG, onde buscou-se
identificar e analisar a percepção dos profissionais integrantes da equipe acerca da temática
acolhimento. Posteriormente as entrevistas foram transcritas, descrita e analisadas por consensos e
diferenças a partir das falas dos entrevistados contrastando com as literaturas especializadas no
tema. Contudo, quanto ao significado de acolhimento, a maioria dos profissionais da equipe
compreende a essência básica do tema, referindo-se como sendo uma atitude inicial de recebimento
de alguém que vai a procura do serviço de saúde, com uma escuta qualificada, oferecendo
orientações de qualquer natureza, reafirmando a necessidade de uma boa relação
profissional/usuário. No que tange a execução do acolhimento, percebe-se que existe uma grande
lacuna entre o conceito e a prática propriamente dita dessa tecnologia que envolve o encontro entre
os sujeitos. Assim, este estudo é de grande valia para todos os interessados na temática
acolhimento, pois demonstra como ainda se perde muito no que diz respeito a esta pratica.
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
cada indivíduo. Por isso, entendemos o modelo saúde da família como um forma de
desmistificar a fixação curativa baseada em consultas em prol de um atendimento
acolhedor e que seja capaz de promover saúde baseando seu atendimento no
trabalho de um equipe multiprofissional , buscando uma compreensão mais integral
do “ser humano,” dentro de suas capacidades e habilidades na vida cotidiana, ou
seja, dar mais valor as questões éticas e morais que permeiam nosso modo de agir
em família, comunidade.
METODOLOGIA
Contexto da Pesquisa
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A concepção de acolhimento
Quanto ao significado de acolhimento, a maioria dos profissionais da equipe
compreende a essência básica do tema, referindo-se como sendo uma atitude inicial
de recebimento de alguém que vai a procura do serviço de saúde, com uma escuta
qualificada, oferecendo orientações de qualquer natureza, reafirmando a
necessidade de uma boa relação profissional/usuário. O conceito de acolhimento é
todo como o momento de, acolher e dar acolhida, admitir, aceitar, dar ouvidos, dar
crédito a alguém, agasalhar, receber com qualidade , atender bem, admitir além
disso outro ponto importante e relevante é que para se promover o acolhimento não
necessariamente precisa-se de um profissional específico para realizá-lo, segundo
Brasil (2006 p.19), “O acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma postura
ética: não pressupõe hora ou profissional específico para fazê-lo”, e sim atitude e
estar sensível a praticá-lo , além disso, para Merhy et al (1998), para concebê-lo não
basta constatar os problemas e simplesmente tomá-los como desafio, é preciso
imprimir e efetivar mudanças que possam traduzir a saúde como direito e patrimônio
público.
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“Pra mim é desde o momento que o paciente chega [à] unidade né!
Primeiro [quando] ele chega [à] unidade você tem que tá primeiro
[sabendo] ouvir ele né! [É] procurar saber ouvir as necessidades deles
e esta encaminhando ele.” (ENT. 02).
“É tudo aquilo que a gente faz desde o momento que ele entra na
porta de entrada do posto de saúde, até o momento que ele sai daqui,
seja é... por qualquer profissional que ele passou”. (ENT. 05).
No que diz respeito ao contato com conteúdos relativos ao tema ainda é uma
realidade incipiente, e a equipe em sua maioria afirma acesso a algum tipo de
capacitação, mas não específica sobre acolhimento, o que facilitaria uma melhor
compreensão da equipe concomitantemente dando-lhes mais segurança e
acessibilidade a informações resolutivas para usuário/profissional.
“Já [participei] bem no início, a mais ou menos uns cinco anos, coisas
bem artificiais também... acho que foi a própria secretaria de saúde da
época. (ENT. 05)”.
¨Olha, eu participei, mas acho que foi pela prefeitura [...] então assim,
palestras, cursos, essas coisas, é... [já especificamente sobre
acolhimento] eu não tinha feito [pois é uma tecnologia relativamente
nova] a gente tem discutido muito o assunto entre os enfermeiros e
entre a administração, né! Então assim, é mais uma coisa nova. A
gente fazia, mas, fazia cada um de um jeito né! Cada um do seu lado,
e quando a gente começa a ver que pode ser tudo um conjunto, e que
às vezes, o que você ta fazendo pode ser melhorado, e isso, tem uma
palavra, que se chama acolhimento, e não é uma triagem né![...]. [Os
profissionais] precisam compreender melhor o que estão fazendo e
procurar se profissionalizar mesmo né! Não só a parte humana, mas,
esta questão da profissão mesmo né! (ENT 01).¨
Por tudo isso, pode-se dizer que o acolhimento ainda está sendo interpretado
de várias formas, mas nunca dentro de uma lógica tecnológica e integral da qual faz
parte. Essas diferentes formas de concepções acabam influenciando no processo de
trabalho gerando muitas vezes a uma resistência nas estratégias de acolhimento
desenvolvidas pela equipe concomitantemente causando uma segregação no
serviço e até mesmo uma desmotivação por parte do profissional que sente seus
esforços irem átona devido uma resposta negativa dos usuários com o serviço
prestado. Pois, sabe-se que para acolher é preciso também ser acolhido.
Execução do acolhimento
No que tange a execução do acolhimento, percebe-se que existe uma grande
lacuna entre o conceito e a prática propriamente dita dessa tecnologia que envolve o
encontro entre os sujeitos, Nesse sentido é interessante ressaltar que grande parte
dos profissionais realiza ações acolhedoras, mas o foco no curativo ainda é
predominante, deixando a essência do acolhimento em segundo plano. Nos
discursos dos entrevistados foram citadas várias ações como sendo realizados no
acolhimento, sendo perceptível que muitos ainda entendam o acolhimento como um
processo preso aos encaminhamentos, pré-diagnóstico, produzindo na maioria das
vezes uma triagem, ocasionando um “vai e vem” do usuário que acaba
desacreditando na validade e na qualidade do trabalho dos profissionais e do
serviço. Percebemos também abordagens mais individualistas e pouco integradas
entre os membros da equipe.No acolhimento conforme é colocado pelo Ministério da
Saúde (2006), alguns critérios são inaceitáveis, como ordem de chagada e
atendimento por agendamento, propondo um rompimento com a lógica da exclusão.
consulta de enfermagem também [...] toda vez que eu não estou tem a
técnica de enfermagem do PSF, que eu já preparei ela, treinei ela pra
isso, então ela mesma pega o nome das pessoas, ai o acolhimento
dela é diferente [...] ela [técnica de enfermagem] não tem tempo [para
realizar o acolhimento] e nem maturidade suficiente e nem autoridade
suficiente [por isso] fica falho esta questão do técnico de enfermagem
fazer o acolhimento. Ele pode fazer o acolhimento dele”. (ENT 01).
Acolher é muito mais que um conceito individual e sim uma rede de ações
integradas, voltada a um objetivo comum, buscar soluções aos problemas e
necessidades apresentadas, nos levando a seguinte constatação: Será que
realmente temos conhecimento e maturidade suficiente para acolhermos alguém?
Ou é preciso um profissional habilitado pra tal? Com isso as diferentes concepções
sobre a temática fomentam certa influência na conduta de cada profissional
envolvido na ação, dificultando a proximidade do usuário com o mesmo. Para Malta
et al (2001) “O Acolhimento busca a intervenção de toda a equipe multiprofissional,
que se encarrega da escuta e resolução do problema do usuário”. Segundo a autora
processa-se uma mudança no fluxo de entrada, de forma a não mais ocorrer de
forma unidirecional, ou seja, agendando-se para o médico todos os pacientes que
chegam. Tudo isso leva a reflexão de que o acolhimento é um importante norteador
do processo de trabalho em saúde, e quando entendido como uma tecnologia capaz
de trazer mudanças no modo de ver o processo saúde/doença torna-se um pilar
essencial para toda a equipe que dele utiliza. Brasil (2006 p.11) afirma que “os
processos de produção de saúde dizem respeito, necessariamente, a um trabalho
coletivo e cooperativo, entre sujeitos, e se fazem numa rede de relações que exigem
interação e diálogo permanentes”. Portanto torna-se indissociável a necessidade de
todas as categorias que envolvem uma equipe de PSF trabalharem de forma
integragada atuando nas diferentes situações impostas por aqueles que buscam no
PSF a solução para seus sofrimentos, e uma recepção mais humanizada.
Percebeu-se uma contradição entre os membros da equipe que apresentando
compreensões bem distintas sobre que deve operar o acolhimento, mencionou-se
que seria somente o enfermeiro e de forma congruente, houve menção de que
seriam todos os membros da equipe. Isso reforça a necessidade de se padronizar as
falas e o entendimento acerca de como realmente se concebe um acolhimento e
confirma a desconexão entre os entrevistados ao praticá-lo. Para Oliveira & Antunes
(2004), “A estratégia requer dos profissionais a capacidade de conhecer e analisar
todo o trabalho, de compartilhar os conhecimentos e informações que permitam o
desenvolvimento do trabalho em equipe”. Portanto cada profissional deve
primeiramente ter um senso comum sobre acolhimento e estar motivado
internamente com seus princípios éticos e humanísticos para que assim possam
somar suas forças, conhecimentos, e habilidades em prol da sua clientela adscrita
dentro de seus conhecimentos e de suas limitações, tendo o cuidado de respeitar a
cultura, crença e singularidade de cada indivíduo, com o objetivo de conhecer,
planejar e orientar para prevenir, buscando transformar a realidade do serviço
ofertado.
“Então assim, por isso eu acho que tem que ser o enfermeiro
supervisor mesmo [ que deva realizar o acolhimento]. Por mais que a
gente treine o técnico não tem o poder de resolubilidade que um
enfermeiro supervisor tem né! Então, tem essas coisas”. (ENT 01).
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“Bom, como eu já disse, esse acolhimento pode ser feito por qualquer
pessoa, não necessariamente pelo medico. Nesse ouvir o paciente,
pode não somente receber uma orientação, um sim, um não, pode ser
agendado uma consulta, essa consulta pode ser marcado tanto para
enfermeira como para o medico. Como pode ser apenas medido uma
pressão ou ser feito um curativo, uma troca de curativo, então, ele é
feito de diversas maneiras e a todo momento a gente ta fazendo esse
acolhimento”. (ENT 05).
Assim, nos implica afirmar que não basta apenas conhecermos procedimentos
técnicos, questionar as queixas, orientar quanto ao uso de medicamentos entre
outros, é preciso demonstrar disponibilidade, interesse e compreensão. Fica
necessário transcender a idéia de rotina, é importante mostrar e ajudar o usuário a
descobrir alternativas resolutivas para enfrentar seus problemas. Segundo Camelo
et al (2000), a relação de ajuda permeia todas as situações de atendimento em que
o profissional e a clientela se encontram, desde um ato de receber , passando pela
demonstração de interesse pelo problema do outro, demandando uma ação de
qualidade e resolutiva, e principalmente, de estímulo para que se torne efetiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
intenção de acolher e colaborar com o próximo ficam nítidos, mesmo sabendo que
as ações desenvolvidas ainda estão longe do conceito real de acolhimento. Os
profissionais da equipe percebem que o ato de acolher não é só uma mudança no
processo de trabalho e sim uma necessidade de inserir valores que vão além de
uma resposta imediata a que se dá ao usuário, é necessário que a instituição pública
incorpore o acolhimento como um instrumento que vem para somar e humanizar as
práticas dos serviços de saúde.
REFERENCIAS
SAVASSI, LCM; PEREIRA, RPA; TURCI, MA; LAGE, JL; COUTINHO, MK. Relatório
do GESF: Tema Acolhimento. Grupo de Estudos em Saúde da Família. AMMFC:
Belo Horizonte, 2006 (Relatório,16p). Disponível em:
<http://www.smmfc.org.br/gesf/relatoriaacolhimento.pdf >. Acesso em: 25 de março
de 2008.