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DA ALTA QUALIFICADA
Camila de Oliveira
Função: Assistente Social Supervisora e Orientadora
Fundação Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto
servicosocial5andar@hospitaldebase.com.br
1. Introdução.
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doenças e de outros agravos, conforme preconizado na Lei 8.080/90 (BRASIL,
1990).
Ainda sobre a Lei 8.080/90 em seu art.3 dispõe que os níveis de saúde
expressam a organização social e econômica do País e apresentam-se como fatores
determinantes e condicionantes, entre outros: a alimentação, a moradia, o
saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte,
o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais.
Assim, considerar a saúde em seu conceito mais amplo requer aos
profissionais da área atenção ao ouvir as demandas do usuário para que seja
possível compreender as suas necessidades. Para tanto, utiliza-se o acolhimento
como dispositivo que auxilia na nesta compreensão através da escuta e do diálogo.
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Portanto, a alta hospitalar Responsável/Qualificada deve ser realizada por
meio de:
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culturais, entre outros; desta forma rompendo com o acolhimento tradicional
focalizado apenas na doença, passando a atender o sujeito nas suas reais
necessidades para a continuidade do cuidado (BRASIL, 2017).
Assim, podemos dizer que o acolhimento e a escuta são dispositivos que
devem estar presentes no processo de Alta Qualificada, pois possibilitam conhecer o
sujeito em sua amplitude. Deste modo, o objetivo deste estudo foi compreender a
importância do acolhimento e da escuta no processo de alta qualificada sob a ótica
dos profissionais que compõe a equipe multidisciplinar, identificando o conhecimento
sobre tais dispositivos, se esses são utilizados na prática profissional e de que forma
são aplicados.
2. Metodologia.
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O instrumental trata-se de um questionário que contem 05 (cinco) questões
que abordam a importância do acolhimento e da escuta no processo de Alta
Qualificada. Deste modo, antes da entrega do questionário os sujeitos foram
orientados sobre os objetivos da pesquisa e sobre os termos éticos que envolvem as
questões contempladas na Resolução CNS 466/2012 (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2012), inclusive sobre o direito a desistência e a ter reservada sua identificação.
Para preservar o anonimato utilizaram-se cognomes para descrever as falas dos
entrevistados.
Na amostra deste estudo foi inserido 01 (um) profissional de saúde de cada
área (médico, assistente social, enfermeiro, fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta
ocupacional, fisioterapeuta motora e respiratória, e nutricionista) da Alta Qualificada
do Hospital de Base no 5º andar. No entanto, como os assistentes sociais da alta
qualificada estão envolvidos neste estudo, recorremos a outro assistente social. O
critério de inclusão dos sujeitos na pesquisa foi tempo de trabalho na alta qualificada
superior a 30 dias e exclusão foi profissional em férias ou ausência por motivos de
força maior.
Após os entrevistados concordarem com a pesquisa, foram colhidas suas
assinaturas em duas vias ficando uma com eles e a outra com a entrevistadora
(TCLE – Apêndice I). A pesquisa em campo foi realizada em outubro de 2017 na
Unidade do 4º ou 5º andar de acordo com a disponibilidade dos profissionais, o
questionário foi entregue no primeiro dia útil do mês correspondente e solicitada a
devolução no prazo de até 6 (seis) dias. As informações quantitativas levantadas
foram tabuladas e apresentadas por meio de quadros e gráficos, e os dados
qualitativos foram abordados por categorias dialéticas. O Projeto de Pesquisa foi
aprovado pelo CEP da Famerp sob o Parecer nº: 097338/2017; CAAE:
74327917.3.9999.5415.
3. Resultados e discussões.
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Conforme se observa no quadro acima o grupo de profissionais tem idade
mínima de 22 anos e máxima de 45, apresentando média de idade de 28,55 anos.
Em relação ao gênero, 77,77% são femininos e consequentemente 23,23%
masculinos, no quesito formação percebe-se que 88,88% possuem especialização.
Assim, o perfil social dos entrevistados é feminino, jovem adulto e em início de
educação continuada.
Observa-se, todavia, que além dos conceitos que foram citados no quadro
acima, consideramos que realizar um atendimento acolhedor, ultrapassa as
fronteiras da prática profissional, pois envolve também o uso das dimensões ética,
estética e política (BRASIL, 2010), cuja vasta teoria e legislação da política de
saúde pública ofertam uma gama enorme de possibilidades que podem ser
apropriadas.
Vejamos então, algumas falas dos entrevistados quando relataram a
concepção de acolhimento que adota em seu cotidiano de trabalho. Para facilitar a
visualização, separamos por categorias – recepção do paciente; escuta -
empatia; ambiente acolhedor – integralidade da atenção:
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3.2 Recepção do paciente.
Fernanda: Uma forma de recepção.
João: Recepcionar de forma adequada.
Apesar de a recepção adequada fazer parte do acolhimento não se deve
limitá-la ao ato de receber, o acolhimento é uma sequência de condutas que
integram o processo de trabalho em saúde. “Acolhimento é um dispositivo que vai
muito além da simples recepção do usuário numa unidade de saúde, considerando
toda a situação de atenção a partir de sua entrada no sistema” (HENINNGTON,
2005, p. 258).
No momento em que o usuário procura por atendimento no serviço de saúde
ele busca por ajuda da equipe que está a sua espera, ou seja, além da recepção
positiva da equipe, os profissionais devem estar preparados para ouvir suas queixas
com atenção e sempre se relacionar com empatia.
3.3 Escuta e empatia.
Maria: Acolhimento é ouvir os pacientes e familiares, dando atenção especial
a seus desejos e expectativas, dispondo de empatia não só no momento de
atendimento, mas sim durante e todo período de internação.
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medos e angústias (...) adequando o ambiente de forma que os familiares tenham
conforto” (ESPINOLA, 2014). Além disso, “a humanização do ambiente físico
hospitalar, ao mesmo tempo em que colabora com o processo terapêutico do
paciente, contribui para a qualidade dos serviços de saúde prestados pelos
profissionais envolvidos” (MARTINS, 2004, p.66).
Porém, ainda há falhas nos serviços de saúde em relação às estruturas
físicas desconfortáveis que podem afetar o bom atendimento, apesar de que o
ambiente humanizado não se limita apenas ao seu espaço físico, o serviço deve-se
dispor de profissionais com postura diferenciada frente ao usuário, pois “o
acolhimento significa humanização, significa reconhecer o sujeito como pessoa que
tem desejos, necessidades e direitos” (GOULART et al., 2013, p. 93).
3.5 Integralidade da atenção.
Helena: Acolhimento faz parte do processo de intervenção do profissional
visando à garantia do atendimento integral às necessidades do usuário.
Alice: Atendimento não apenas ao paciente, mas também a todos os
membros familiares envolvidos para suporte no processo da doença e recuperação.
A integralidade do atendimento é compreendida neste estudo como sendo um
atendimento que envolve todas as dimensões da intervenção profissional na
superação da prática focalizada no “doente”, deixando de lado a contextualização
sociofamiliar:
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Quadro 3 – Conceito(s) de escuta adotado(s) na prática profissional
Entendimento sobre Escuta Qde %
Ouvir com atenção 4 44,44
Atender a necessidades 3 33,33
Ouvir sem julgamentos 2 22,22
Estar disponível 1 11,11
Diálogo 1 11,11
Permitir abertura para que compartilhe 1 11,11
situações
Prestar os devidos cuidados ao dito e ao não 1 11,11
dito
N=9 Fonte: Instrumental elaborado pelas autoras.
A definição de escuta pelas falas dos sujeitos da pesquisa significa,
principalmente, saber ouvir sem julgamentos. Isso pode ser explicitado pelas
seguintes falas:
Helena: É ouvir o usuário sem interrupção, estar disponível para o outro e
sem julgamentos.
Aparecida: Escutar ativamente o que o outro fala sem julgamentos do que é
dito de forma a reforçar o que está sendo dito.
Ouvir o usuário com atenção a fim de atender as suas necessidades
permitindo que ele se expresse e compartilhe suas situações e estar disponível sem
julgamentos, faz parte do rol de atividades que o profissional, munido da
compreensão da política de humanização, deve fazer em sua prática (BRASIL,
2014).
Essa perspectiva é auspiciosa, pois algumas pessoas têm dificuldade de ouvir
o que o outro fala, em certas circunstâncias ouve-se o que gostaria de ouvir, mas
nem sempre é o que está sendo dito. Deste modo, o profissional tem que estar em
alerta com tal postura, pois “atribuindo um julgamento de valores, o profissional
ouve, muitas vezes, apenas o que já pensava daquilo e aponta alternativas que
muitas vezes não condiz com a situação do usuário” (BONCKEWITZ, 2009, p.40).
Nesse contexto, uma das questões a ser considerada também de suma
importância é a linguagem verbal e não verbal. Isso fica evidenciado nas falas a
seguir:
Ana: A expressão verbal do interlocutor (paciente) para com um ouvinte
(profissional da saúde) frente a situações, limitações que interferem diretamente na
vida do indivíduo.
Maria: Escuta diz respeito à atenção cedida a paciente e familiar. Trata-se de
prestar os devidos cuidados ao dito e ao não dito.
No entanto, percebe-se na primeira fala que o profissional enfatizou apenas a
linguagem verbal, já o segundo mencionou o que não foi dito, ou seja, aquilo que
está nas entrelinhas que requer sensibilidade do profissional para identificar as
questões que estão além da aparência. Portanto, “a integralidade da pessoa se faz
por meio de sua “escuta ativa”, quando se escuta objetivamente sua linguagem
verbal e não verbal e pela sua subjetividade desvelada nas relações tecidas com o
profissional de saúde” (RAIMUNDO e CADETE, 2012, p. 65 apud FILGUEIRAS e
DESLANDES, 1999, p. 31-121).
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A escuta permite conhecer o sujeito para além de seu diagnóstico é a partir
do diálogo que os vínculos são construídos, criando assim uma relação de respeito e
confiança entre usuário e profissional. A escuta permite “num primeiro momento,
acolher toda queixa ou relato do usuário mesmo quando possa parecer não
interessar diretamente para o diagnóstico e tratamento” (BRASIL, 2007, p. 16) e
posteriormente, “ajudá-lo a reconstruir (e respeitar) os motivos que ocasionaram o
seu adoecimento e as correlações que o usuário estabelece entre o que sente e a
vida – as relações com seus convivas e desafetos” (BRASIL, 2007, p.16).
Diante disso, “temos de admitir que parece ter ficado difícil exercer e afirmar o
acolhimento em nossas práticas cotidianas” (BRASIL, 2010, p.7) principalmente pela
questão da crescente demanda, apesar dos avanços e conquistas do SUS “ainda
existem grandes lacunas nos modelos de atenção e gestão dos serviços no que se
refere ao acesso e ao modo como o usuário é acolhido nos serviços de saúde
pública” (BRASIL, 2010, p.10).
Essa questão da demanda por atendimento, também foi citada quando se
questiona aos entrevistados em qual momento e de que forma o acolhimento e a
escuta são utilizados no processo de trabalho, isso é evidente na seguinte fala:
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compartilhamento de saberes, angústias e invenções, tomando para
si a responsabilidade de “abrigar e agasalhar” outrem em suas
demandas, com responsabilidade e resolutividade sinalizada pelo
caso em questão (BRASIL, 2010. p. 19).
0
Admissão Decorrer da internação Alta
11
Vale ressaltar a importância de não restringir o acolhimento e a escuta a um
só momento, pois é um processo contínuo, permeado pelo diálogo estabelecido pelo
encontro e o envolvimento entre profissional e paciente/família. Portanto, este
relacionamento “deve ser considerado na sua totalidade, pois o estado emocional
destes pode, na maioria das vezes, estar tão comprometido quanto o seu físico”
(SCHNEIDER et al 2008, p.64).
Deste modo, trata-se de uma estratégia de comunicação essencial para a
compreensão do outro, levando em consideração que o acolhimento e a escuta não
se resume em um espaço ou um local, mas sim: “uma postura ética; não pressupõe
hora ou profissional específico para fazê-lo, mas implica necessariamente o
compartilhamento de saberes, angústias e invenções; quem acolhe toma para si a
responsabilidade de “abrigar e agasalhar” (BRASIL, 2009, p.17).
Por fim, no momento da alta o acolhimento e a escuta são aliados na
identificação de fatores que influenciarão no processo de tratamento e reabilitação
do paciente fora do hospital, como exposto nas seguintes afirmações dos
entrevistados:
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discussão entre equipe quanto para melhora na assistência ao paciente no processo
após internação.
Alice: Sim, pois permite criar um espaço para tanto paciente quanto familiares
possam se expressar, permitindo desospitalização precoce com menos incidência
de reinternação.
Diante disso, fica evidente nas falas dos profissionais que não basta saber
apenas o diagnóstico para definir todo o tratamento, pois quando se procura
conhecer as singularidades do sujeito à equipe passa a ter o entendimento das suas
características, ou seja, o que ele difere dos outros pacientes e o que o torna único.
Desta forma, percebe-se que conhecer as dinâmicas do sujeito e suas
características “têm importância terapêutica, pois possibilitam a associação de
aspectos muitos singulares da vida com o projeto terapêutico” (BRASIL, 2007, p.
50).
4. Considerações finais.
O acolhimento e a escuta ativa possibilita o conhecimento do sujeito na sua
totalidade, para tanto se deve ter o envolvimento de todos os integrantes da equipe
multidisciplinar através de um atendimento humanizado focado no sujeito. Assim,
devem-se construir propostas terapêuticas mais eficazes, isto é, de acordo com o
seu modo de ver, sentir e viver a vida, estabelecendo confiança e segurança na
continuidade do tratamento fora do âmbito hospitalar.
Neste estudo observou-se que tais dispositivos são presentes nas
intervenções dos profissionais da Alta Qualificada. Visto que eles se preocupam em
ter uma postura acolhedora e comprometida com os problemas dos indivíduos e de
suas famílias, e para desenvolver ações pensadas de acordo com a realidade do
sujeito que é um ser único, ou seja, ações personalizadas para aquele sujeito e
reconhecê-lo na sua singularidade, como um ser que tem suas especificidades e
diferentes necessidades.
Percebe-se que os profissionais dessa instituição de saúde reconhecem a
necessidade de acolher e escutar o usuário para melhorar a eficiência do serviço,
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apesar de admitir que nem sempre isso é possível em todo o momento pelo grande
número de atendimentos. No entanto, concordam que trabalhar o acolhimento e a
escuta pressupõe ouvir as demandas atenciosamente, devendo na medida do
possível construir relações de confiança e apoio entre os integrantes da equipe e o
usuário.
Assim, um atendimento humanizado requer aos profissionais de saúde criar
estratégias e espaços para acolher e ouvir os indivíduos que muitas vezes se
encontram em situação de vulnerabilidade não apenas no âmbito de assistência à
saúde, mas também em outros aspectos: sociais, econômicos, culturais,
psicológicos entre outros que influenciam no tratamento. Para que isso seja
possível, é necessária uma postura política, criativa e comprometida dos
profissionais para a melhoria da qualidade do trabalho.
5. Referências.
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