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FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE - FAVENI

PÓS GRADUAÇÃO EM SAÚDE MENTAL

CECÍLIA FIGUEIREDO DE ANDRADE

SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE MENTAL: A INTERVENÇÃO DA CATEGORIA


EM UMA UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO, NA
FORMALIZAÇÃO DE PROTOCOLOS DE ATENDIMENTO AO PACIENTE
PSIQUIÁTRICO.

JANDIRA/SP
2020
SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE MENTAL: A INTERVENÇÃO DA CATEGORIA EM UMA
UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO, NA
FORMALIZAÇÃO DE PROTOCOLOS DE ATENDIMENTO AO PACIENTE
PSIQUIÁTRICO.

Cecília Figueiredo de Andrade1


Declaro que sou autor (a) ¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o
mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial
ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO - Este artigo busca, por meio do diagnóstico situacional da atuação do Serviço Social na
Unidade de Pronto Atendimento – UPA 24 horas, de uma cidade da área metropolitana da região oeste
do estado de São Paulo, apresentar o cotidiano da intervenção profissional do assistente social e dos
atendimentos sociais com os pacientes da psiquiatria, neste dispositivo de saúde. Utilizando o método de
observação participativa, foi possível identificar as demandas necessárias para assegurar a atuação
profissional e mapear a realidade social dos pacientes, exposta nos atendimentos, o que permitiu
identificar as principais determinantes sociais que perpassam o processo de saúde-doença nas urgências
e emergências psiquiátricas. A partir desses dados é sugerida e elaboração de um protocolo de
atendimento, a consolidação de estrutura e requisitos mínimos para intervenção, a fim de normatizar a
ação do profissional de Serviço Social no âmbito da Saúde Mental na Unidade de Pronto Atendimento –
UPA 24 horas.

PALAVRAS-CHAVE: Serviço Social. Saúde Mental. Pronto Atendimento. Urgência e Emergência


psiquiátrica.

1 cfandrade@id.uff.br
1 INTRODUÇÃO

A loucura, objeto de meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a
suspeitar que é um continente”.
Machado de Assis
O Alienista

A atuação do assistente social no campo da saúde está intrinsecamente ligada


ao debate do conceito de saúde como política social e como direito universal. Saúde,
conforme concepção da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 1948, é o completo
bem-estar físico, mental e social. Sendo assim, entende-se a necessidade de
intervenção interdisciplinar para superar a dimensão biológica. Os processos
preventivos e de recuperação da saúde dos sujeitos, necessitam de inserção em um
contexto social e psicológico, a fim de viabilizar políticas de saúde abrangentes e
integrais.
Os assistentes sociais têm como desafio a construção teórico-metodológica
interventiva nos espaços em que atua, tendo como norte os fundamentos que regem o
Projeto Ético-Político e o Código de Ética Profissional da categoria. O compromisso
com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento
intelectual faz parte do engajamento ético da profissão. Democratizar o acesso a
informações, participando de sociedades científicas com envolvimento em pesquisa e
elaboração de estudos, a fim de desenvolver metodologias para a intervenção
profissional, é um valor defendido no Código de Ética de 1993.
Conforme apontam os documentos do Ministério da Saúde e os dispositivos de
educação permanente em saúde para a construção de protocolos de atendimento 2, as
Unidades de Pronto Atendimento - UPA 24h, são estabelecimentos de saúde de
complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde/Saúde da Família e a
Rede Hospitalar compondo com estas, uma rede organizada de atenção às urgências.
A regulamentação do funcionamento das UPAS, atende a Portaria nº
1600/GM/MS de 07 de julho de 2011, que reformula a Política Nacional de Atenção às

2 - Protocolode Atendimento do Serviço Social nas Unidades de Pronto Atendimento – UPA 24h –
Brasília. 2018. Comissão Permanente de Protocolos de Atenção à Saúde da SES-DF – CPPAS –
Governo do Distrito Federal. 2018.
Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências no Sistema Único de Saúde
(SUS), complementada pela Portaria nº 10/GM/MS de 03 de janeiro de 2017, que
redefine as diretrizes de modelo assistencial e financiamento de UPA 24h. Este tipo de
unidade de saúde faz parte da Política Nacional de Atenção às Urgências implantada
em 2003 pelo Ministério da Saúde.
A UPA funciona sete dias por semana, 24 horas por dia. Ao ser admitido, o
paciente recebe tratamento na própria unidade ou é encaminhado/transferido para outro
equipamento da rede de atenção à saúde.
A atuação do Assistente Social na UPA não está prevista nas equipes mínimas
regulamentadas pelo Ministério da Saúde. Porém, percebe-se no cotidiano dos
atendimentos que a realidade social interfere diretamente no processo saúde-doença
do paciente. Por isso, a atuação do Assistente Social tem sido
requerida na composição da equipe multiprofissional para atendimento integral e
humanizado nas situações de risco e vulnerabilidade social.
A inserção do serviço social tem se tornado necessária na promoção, proteção
e recuperação da saúde em diferentes níveis do SUS derivada da adoção do
conceito ampliado em saúde, que compreende o processo saúde-doença como
decorrente das condições de vida e de trabalho. (Cavalcanti & Zucco. 2008).

Os Assistentes Sociais são profissionais que atuam integrados com a equipe de


saúde e contribuem efetivamente para o fortalecimento das relações familiares e
comunitárias dos pacientes. De acordo com a sua formação e o projeto ético político da
profissão, o assistente social colabora para a efetivação do controle social, buscando
facilitar o acesso do usuário aos serviços do SUS, bem como a garantia dos demais
direitos sociais. O profissional de Serviço Social apresenta um olhar diferenciado,
utilizando uma avaliação ampliada da situação social com o intuito de identificar “as
condições de vida e de trabalho dos usuários, bem como os determinantes sociais que
interferem no processo saúde doença” (CFESS, 2010).
Para garantir o atendimento integral dos pacientes em situação de
sofrimento psíquico, em especial, nas situações de tentativa de suicídio, surtos
psicóticos e crises de abstinência de álcool e outras drogas, para assegurar o direito
dos usuários dos serviços desta Unidade de Pronto Atendimento – UPA 24 horas, foi
identificada a necessidade de formalização de protocolos de atendimento e documentos
normativos que orientem a conduta de profissionais do Serviço Social no acolhimento
aos pacientes da psiquiatria.
Conforme constam nos registros de intervenção do Serviço Social e
indicadores de atendimento da unidade, a prevalência de transtornos psiquiátricos é
alta entre os usuários deste serviço de saúde e, portanto, é requerida agilidade e
assertividade no manejo do paciente, essencial para o adequado funcionamento de um
serviço de emergência. Para conter os reflexos negativos desse tipo de demanda, é
necessário o emprego de ações que envolvam um trabalho contínuo, multidisciplinar e
urgente.
A inserção da emergência psiquiátrica com profissional habilitado,
compondo a equipe multidisciplinar, pode promover avanços na avaliação rápida das
necessidades psicossociais da população; diagnóstico rápido das demandas
psicossociais deste grupo; atenção clínica especializada direta a pessoas que
apresentam sintomas mais complexos, ou que já tenham histórico de distúrbios,
transtornos e adoecimentos psicopatológicos prévios e atenção priorizada a grupos de
maior risco.
A formação de equipe multidisciplinar em Saúde Mental na UPA tem a
intenção de proporcionar subsídios para o entendimento global do cuidado em Saúde
Mental e Atenção Psicossocial, bem como oferecer ferramentas que auxiliem a
compreender e a elaborar estratégias de planejamento, preparação e resposta para
população em geral.
Vale ressaltar que o pronto atendimento emergencial tem a função de
aliviar o problema momentaneamente. Logo, é muito importante realizar o
acompanhamento profissional para solucionar o problema e restabelecer a saúde
mental. Entende-se, portanto, que o acolhimento inicial realizado por profissionais
especializados e devidamente orientados poderá qualificar os encaminhamentos para
os equipamentos da Saúde Mental, com a elaboração de relatórios mais precisos e
assertividade na conduta. Proporcionando assim, uma articulação intersetorial entre os
equipamentos de saúde.
2 DESENVOLVIMENTO

Conforme relatórios internos de produtividade do Serviço Social, no período de


abril a novembro de 2020, 26% dos atendimentos realizados por essa especialidade
técnica, foram categorizados como Saúde Mental, o segundo maior motivo de
intervenção da categoria foi o atendimento à população idosa, com 24% das condutas3.
No primeiro quadrimestre de 2019, foram realizadas 28 internações motivadas
por atendimentos da saúde mental, enquanto no mesmo período de 2020, o número
aumentou para 32 internações. O munícipio estudado tem 10 Unidades Básicas de
Saúde - UBS e 1 Centro de Atenção Psicossocial - CAPS. A cidade não tem hospitais
ou pronto-socorro, contando apenas com a Unidade de Pronto Atendimento - UPA 24
horas, para atendimento às demandas de atendimento de urgência e emergência4.
Atualmente, a rede de saúde do município conta com quatro profissionais de
Serviço Social na Saúde. Uma na Unidade de Pronto Atendimento – UPA 24 horas,
duas na Secretaria de Saúde e uma no Centro de Atenção Psicossocial – CAPS. Em
relação à UPA e a padronização de protocolos para atendimento, entende-se que,
documentos normativos possibilitam a capacidade de nortear a intervenção sem
fragmentar a realidade, representando a otimização de rotinas profissionais, ao
incorporar método, técnica e reflexão. Todo protocolo deve ser adotado de forma crítica
e reflexiva, como presume a intervenção profissional do assistente social, a fim de
romper com o mecanicismo e tecnicismo restrito.
Vale lembrar que a elaboração de um documento operacional padrão tenciona
desburocratizar o processo de trabalho, contrariando a suposição de que padronizar
significa burocratizar. O processo de trabalho dos assistentes sociais deve ser flexível e
capaz de abarcar as múltiplas expressões da Questão Social, ainda que não previstas
num documento normatizador.

3 - Dados extraídos do estudo “Diagnóstico Serviço Social e Projeto de Intervenção - UPA


Jandira” elaborado em abril de 2020, entregue a Diretoria Técnica da UPA, afim de registrar o
mapeamento das oportunidades de melhoria identificadas na unidade, na admissão da assistente social e
sugerir condutas e protocolos para normatizar a intervenção do Serviço Social no dispositivo.
Para o professor Eduardo Mourão de Vasconcellos (2002), o Serviço Social, a
partir do processo reconceituação, adotou posicionamento crítico em relação às
abordagens psicologizantes e ajustadoras. Ainda para o mesmo autor, a reforma
psiquiátrica, movimento que teve início na década de 1970, desconstruiu práticas
institucionais e saberes psiconvencionais, propondo o protagonismo da complexidade
humana, da loucura, da saúde mental e da atenção psicossocial, a partir de um novo
paradigma, priorizando o diálogo interdisciplinar e a subjetividade.
A partir da promulgação da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, que dispõe
sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e
redireciona o modelo assistencial em saúde mental, o Brasil entrou para o
grupo de países com uma legislação moderna e coerente com as diretrizes da
Organização Mundial da Saúde e seu Escritório Regional para as Américas, a
OPAS.
A Lei indica uma direção para a assistência psiquiátrica e estabelece uma gama
de direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais; regulamenta as
internações involuntárias, colocando-as sob a supervisão do Ministério Público,
órgão do Estado guardião dos direitos indisponíveis de todos os cidadãos
brasileiros.
A Reforma Psiquiátrica é entendida como processo social complexo, que
envolve a mudança na assistência de acordo com os novos pressupostos
técnicos e éticos, a incorporação cultural desses valores e a convalidação
jurídico-legal desta nova ordem.
(...)
Dentre os desafios da Reforma há consenso sobre a necessidade de a
sociedade conviver de forma mais harmônica com os diferentes e o
reconhecimento das potencialidades dessas pessoas, que não estão à margem
do projeto de Nação, que têm capacidade de trabalhar e de produzir.
Domingos Sávio N. Alves - Instituto Franco Basaglia (IFB)
(Texto publicado na página do Centro Cultural do Ministério da Saúde, para a
Mostra: Memórias da Loucura, acesso web em 11/01/2021 às 0h05min, no site:
http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/ccs.html)

Em consonância com os objetivos e princípios da reforma psiquiátrica, entende-


se que no âmbito do Serviço Social, a dimensão socioeducativa da profissão é
relevante nos espaços em que a atuação é requerida, sensibilizando a equipe
profissional que compõe os equipamentos públicos, a família, os usuários e a
comunidade. Compreende-se ainda que a primazia da ação dos assistentes sociais na
esfera do trato cotidiano com a loucura, deve estar de acordo com a premissas da
reforma psiquiátrica, respeitando o usuário e o código de ética, buscando a autonomia e
reinserção do usuário na família e comunidade, principalmente através de escuta,

4Conforme relatórios da Unidade de Auditoria e Controle – UAC/ Saúde – Jandira e Relatório


Quadrimestral da Secretaria Municipal de Saúde, apresentados em Audiência Pública do Conselho
orientação acolhimento e encaminhamentos, para assim, viabilizar a oportunidade de
acesso a direitos e serviços.
Integrando distintos processos de trabalho, o/a assistente social é um/a dos/as
profissionais com competência para formular análises fundamentadas e
responder, de forma qualificada e na perspectiva dos direitos, às necessidades
apresentadas pelas/os usuárias/os das diferentes políticas sociais. O fenômeno
do consumo de psicoativos pode se configurar como conteúdo transversal que
incide sobre demandas, requisições ou normas institucionais cotidianas, das
quais a/o assistente social participa. Por isso, independentemente da área de
atuação profissional, cabe à/ao assistente social contribuir com a superação de
preconceitos e de perspectivas moralizantes, que contribuem para a violação de
direitos das/os usuárias/os de psicoativos. (CFESS, 2016. P.13).

A atuação dos assistentes sociais deve ser pautada por um processo contínuo
de reflexão a fim de que sejam promovidas mediações baseadas no respeito, na
superação dos preconceitos e das perspectivas moralizantes, e das práticas que
inviabilizam os direitos dos usuários. Ainda segundo o posicionamento da categoria
profissional, a abordagem deve ser respaldada por conhecimento científico, pela ética
profissional, pela possibilidade de articulação com outros profissionais e pelos direitos
assegurados em cada área da política social (CFESS, Código de Ética do Assistente
Social. 2003).
Sendo assim, foram elaborados e enviados para aprovação da Diretoria Técnica
do dispositivo de saúde da rede de atendimento de urgências e emergências 24 horas
do município, os seguintes protocolos e documentos para intervenção do Serviço
Social:
 Diagnóstico Situacional e Projeto de Intervenção do Serviço Social;
 Procedimento Operacional Padrão – Assistência e Orientações aos
Familiares do Paciente Hospitalizado;
 Procedimento Operacional Padrão – Alta a Pedido e Evasão Hospitalar;
 Procedimento Operacional Padrão – Ausência de Acompanhante /
Responsável Legal para Pacientes Vulneráveis;
 Procedimento Operacional Padrão – Identificação de Pacientes
Desconhecidos;
 Procedimento Operacional Padrão – Entrevista Inicial com Pacientes e
Acompanhantes (Acolhimento do Serviço Social);
 Procedimento Operacional Padrão – Encaminhamento Institucional;
 Procedimento Operacional Padrão – Localização de Familiares e/ou
Acompanhantes;
 Procedimento Operacional Padrão – Reunião Socioeducativa com
Acompanhantes e Familiares;
 Procedimento Operacional Padrão – Autorização de Visita Extra;
 Procedimento Operacional Padrão – Atendimento do Serviço Social na
Hospitalização.

Municipal de Saúde, em maio/2020.


Na construção dos documentos foram adotados os seguintes princípios
norteadores:

1. Dignidade e respeito: os profissionais de saúde devem ouvir e honrar as


perspectivas e escolhas dos pacientes e seus familiares. Bem como,
incorporar no planejamento dos cuidados, os conhecimentos, valores,
crenças e origens culturais dos mesmos.
2. Compartilhamento de informações: os profissionais de saúde devem
comunicar e compartilhar as informações de forma completa e imparcial
com os pacientes e seus familiares. Os pacientes e suas famílias
necessitam de informação oportuna, completa e precisa, a fim de
efetivamente participar no cuidado e tomada de decisão.
3. Participação: pacientes e seus familiares devem ser incentivados e
apoiados em participar do cuidado e da tomada de decisão.
4. Colaboração: pacientes, familiares, profissionais de saúde, e líderes dos
serviços de saúde devem colaborar no desenvolvimento, implementação e
avaliação de políticas e programas, formação profissional, bem como no
fornecimento de cuidado.
Em relação às estratégias para compreensão das informações, foram
consideradas as seguintes competências:
 Utilização de linguagem clara e simples;
 Emprego de frases curtas, simplicidade nas sentenças;
 Utilização de múltiplos métodos de ensino, de acordo com as necessidades
do paciente ou familiar: instruções verbais, material escrito, áudio, vídeo,
desenhos etc.;
 Reforço de informações importantes, repetindo-as quantas vezes forem
necessárias;
 Avaliação cuidadosa se o paciente ou familiar compreenderam a informação;
 Sensibilização com os pacientes sobre a importância do papel que
desempenham no seu próprio cuidado;
 Transmissão aos pacientes sobre o direito e a responsabilidade de estar
ciente dos cuidados que estão recebendo, para melhor compreendê-los, e
para participação das decisões;
 É fundamental, que o profissional de saúde incentive o paciente a fazer
questionamentos;
 Encorajamento dos pacientes e familiares a relatarem as preocupações com
a sua segurança. Os pacientes e familiares devem ser tratados como
parceiros, e devem sentir à vontade para participar do cuidado;
 Estímulo ao paciente e família quanto à: Prevenção e controle de infecção;
principais infecções relacionadas à assistência à saúde; higiene das mãos;
medidas de precaução padrão e específicas; uso seguro de medicamentos;
processos assistenciais; eventos adversos; manejo de doenças crônicas.
Como estratégias de longo prazo, foi sugerida a utilização dos meios de
comunicação institucional para divulgar maneiras de garantir a segurança do paciente,
tais como, prospectos, jornais, cartazes e outros. Em relação a adoção de serviço e
procedimentos do Serviço Social foi indicada a realização de triagem social, que
identificasse e priorizasse demandas sociais que impactam no tratamento e alta dos
pacientes. A atenção dos pacientes, familiares e acompanhantes pretende mediar o
diálogo com a equipe multiprofissional, para garantir a discussão dos casos e
participação dos usuários na tomada de decisões. Além disso, garante a possibilidade
de compreensão e intervenção nas situações de risco e vulnerabilidade social que
interfiram nos processos de recuperação da condição de saúde.
Na elaboração do mapeamento e diagnóstico situacional do Serviço Social na
unidade, foram apontadas necessidades de adequação estrutural para garantia dos
atendimentos em conformidade com o Código de Ética da profissão, em especial no
que tange a garantia do sigilo na escuta, sistematização e registro das informações.
A realização de mapeamento da rede de serviços socioassistenciais propõe
efetivar a qualidade dos encaminhamentos e seguimento das condutas necessárias à
reabilitação e continuidade do tratamento dos pacientes. A identificação de vínculos
familiares e redes de apoio visa promover a integralidade da assistência, fortalecendo
laços e socializando estratégias de participação. Os encaminhamentos à rede de saúde
e socioassistencial de saúde orientam o usuário e dispositivos da rede, sobre a
continuidade dos cuidados.
Entende-se ainda a necessidade de dialogar sobre condutas preventivas no
contexto do pronto atendimento. Apesar da inserção num contexto de urgência e
emergência, refletir sobre a prevenção de agravos, principalmente no caso dos
pacientes reincidentes ou mais graves, permite elucidar aos usuários e familiares,
maneiras de autocuidado, promoção, proteção, prevenção, recuperação e reabilitação
da saúde, que podem anteceder perdas e danos que provoquem hospitalizações.
Dessa forma, foi elaborado o processo de monitorização social, através da identificação
de casos reincidentes e/ou complexos, para intervenção articulada à rede. Nesse caso,
é de fundamental importância que a rede cumpra seu papel, absorvendo as demandas
de cuidados que lhes são destinadas, a fim de que não ocorra a sobrecarga da Unidade
de Urgência e Emergência 24h, comprometendo a efetividade e resolutividade na linha
de cuidado.
Essas ações, voltadas para o cuidado dos pacientes da Saúde Mental,
permitiram identificar as principais determinantes sociais que perpassam o processo de
saúde-doença nas urgências e emergências psiquiátricas, que provocaram ingresso e
hospitalização no equipamento de saúde em questão. A partir daí, teve início o fluxo
intersetorial de referenciamento para as Unidades de Atenção Básica - UBS, Centros
de Atenção Psicossocial e de Referência para Tratamento de Dependência de Álcool e
Drogas – CAPS e CAPS/AD, Centro de Referência Especializado da Assistência Social
- CREAS, Centro de Referência da Assistência Social - CRAS, Dispositivos de Proteção
à Mulher (delegacia e programas municipais de apoio e orientação às vítimas de
violência doméstica), Rede Hospitalar e Ambulatorial, Comunidades Terapêuticas, entre
outras.
3 CONCLUSÃO

Entende-se que estabelecer um protocolo para atendimento do Serviço Social


contribui para a construção da significação e representatividade da categoria nas
equipes de saúde, além de apresentar consonância com a política de educação
permanente do Sistema Único de Saúde. A padronização de procedimentos não
engessa a dinâmica profissional, pelo contrário, propõe instrumentalizar o profissional
com cenários práticos de intervenção e possibilidades de reflexão.
A padronização de procedimentos detém a complexidade de nortear a
intervenção sem fragmentar a realidade, representando a otimização de rotinas
profissionais, ao incorporar método, técnica e reflexão. Todo protocolo deve ser
adotado de forma crítica e reflexiva, como presume a intervenção profissional do
assistente social, a fim de romper com o mecanicismo e tecnicismo restrito.
Compreende-se ainda que, a desigualdade social, como uma das expressões da
“Questão Social”, perpassa pelo processo de enfrentamento às condições impostas
àqueles que estão em sofrimento psíquico, bem como suas redes de apoio e familiares,
em seus recortes de classe, gênero, etnia, assim como as particularidades históricas de
cada sociedade. Tal analise pressupõe que a problemática da saúde mental na
sociedade brasileira não decorre de um processo homogêneo, uma vez que vários
fatores externos influenciam nesta questão, tal como a renda, as condições de moradia
e saneamento, o acesso à saúde, a cultura e lazer, bem como as relações familiares e
a singularidade da trajetória de vida de cada indivíduo.
Portanto, não podemos tratar desta categoria como a loucura em si
(considerando apenas alguns aspectos internos de tal processo), mas é preciso
considerar a categoria de análise "loucuras" em seu significado plural e amplo,
evidenciando assim, a problemática social por trás deste fenômeno, bem como a
necessidade de dar conta das expressões da “Questão Social” dos usuários dos
serviços de atenção à saúde mental. Por isso, através da elaboração de protocolos e da
sistematização deste movimento, pretende-se estimular discussões acerca da atenção
e cuidados relacionados à saúde mental no pronto atendimento, desconstruindo mitos e
a restrição dos espaços de acesso e ocupação dos pacientes psiquiátricos, somente às
unidades de saúde destinadas para tal finalidade. Dessa forma, é valorizado o eixo
prioritário da integralidade na Política Pública de Saúde, para concretizar o acesso dos
pacientes da saúde mental, aos dispositivos de saúde de maneira cidadã, respeitosa e
participativa.

4 REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.
- Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições
de promoção e recuperação da saúde, a organização e o financiamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências.
- Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação
da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as
transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e
dá outras providências.
- Portaria nº 1.600, de 7 de julho de 2011. Reformula a Política Nacional
de Atenção às Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências no Sistema
Único de Saúde (SUS).
- Ministério da Saúde. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos
Municípios/ Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretarias
Municipais de Saúde. 3. Ed., 3ª reimp. – Brasília: Editora do Ministério da
Saúde, 2011.
- Política Nacional de Humanização. Série B. Textos Básicos de
Saúde. Brasília – DF, 2004;
- Protocolo de Atendimento do Serviço Social nas Unidades de
Pronto Atendimento – UPA 24h – Brasília. 2018. Comissão Permanente de
Protocolos de Atenção à Saúde da SES-DF – CPPAS – Governo do Distrito
Federal. 2018.
- Portaria nº 342, de 4 de março de 2013. Redefine as diretrizes para
implantação do Componente Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) em
conformidade com a Política Nacional de Atenção às Urgências, e dispõe sobre
incentivo financeiro de investimento para novas UPA 24h (UPA Nova) e UPA 24h
ampliadas (UPA Ampliada) e respectivo incentivo financeiro de custeio mensal.
- Portaria nº 10/GM/MS, 03/01/2017, que redefine as diretrizes de modelo
assistencial de financiamento de UPA 24h de Pronto Atendimento como
Componente da Rede de Atenção às Urgências, no âmbito do Sistema Único de
Saúde.
- Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017, aprova a Política
Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a
organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
CAVALCANTI, Ludmila F.; ZUCCO, Luciana P. Política de Saúde e Serviço
Social. In: CAVALCANTI, Ludmila F.; REZENDE, Ilma (orgs). Serviço Social e Políticas
Sociais. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Lei de Regulamentação da


Profissão de Assistente Social. Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a
profissão de Assistente Social e dá outras providências.
- Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais. Resolução CFESS
nº 273, de 13 de março de 1993, com as alterações introduzidas pelas Resoluções
CFESS nº 290/1994 e n. 293/1994. Brasília, 2003
- O estigma do uso de drogas. Série assistente social no combate ao
preconceito. CFESS. Brasília, 2016.
- Resolução CFESS nº 383, de 29 de março de 1999. Caracteriza o assistente
social como profissional de saúde.
- Resolução CFESS nº 493, de 21 de agosto de 2006. Dispõe sobre as
condições éticas e técnicas do exercício profissional do assistente social.
- Resolução CFESS nº 557, de 15 de setembro de 2009. Dispõe sobre a
emissão de pareceres, laudos, opiniões técnicas conjuntos entre o assistente social e
outros profissionais.
- Parâmetros para a atuação de Assistentes Sociais na política de saúde.
Brasília, CFESS, 2010. Disponível em:
http://www.cfess.org.br/arquivos/Parametros_para_a_Atuacao_de_Assistentes_S
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ROSA, Lúcia Cristina dos Santos. Saúde Mental e Serviço Social: o desafio
da subjetividade e da interdisciplinaridade / Lúcia Cristina dos Santos Rosa, Ivana
Carla Garcia Pereira, José Augusto Bisneto / Eduardo Mourão de Vasconcelos (org) –
2.ed – São Paulo: Cortez, 2002.

SÁ, Jeanete Liasch Martins de. Serviço Social e interdisplinaridade: dos


fundamentos filosóficos à prática interdisciplinar no ensino, pesquisa e extensão.
Sá, Jeanete Liasch Martins de (org). São Paulo: Cortez. 2002

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