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TRATAMENTO E PREVENÇÃO DA DEPENDENCIA QUIMICA

Dependência química: sintomas, tratamentos e causas

O que é Dependência química?

A dependência química é definida pela 10ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-
10), da Organização Mundial da Saúde (OMS), como um conjunto de fenômenos comportamentais,
cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido de determinada substância. A de-
pendência pode dizer respeito a uma substância psicoativa específica (por exemplo, o fumo, o álcool
ou a cocaína), a uma categoria de substâncias psicoativas (por exemplo, substâncias opiáceas) ou a
um conjunto mais vasto de substâncias farmacologicamente diferentes.

Causas

A dependência química é uma doença crônica e multifatorial, isso significa que diversos fatores con-
tribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a quantidade e frequência de uso da substância, a
condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais.

Muitos estudos buscam identificar características que predispõe um indivíduo a um maior risco de
desenvolver abuso ou dependência. Em relação ao álcool, por exemplo, estima-se que os fatores
genéticos expliquem cerca de 50% das vulnerabilidades que levam o indivíduo a fazer uso pesado de
álcool - principalmente genes que estariam envolvidos no metabolismo do álcool e/ou na sensibilida-
de aos efeitos dessa substância, sendo que filhos de alcoolistas possuem quatro vezes mais riscos
de desenvolverem alcoolismo, mesmo se forem criados por indivíduos não-alcoolistas. Além disso,
fatores individuais e aspectos do beber fazem com que mulheres, jovens e idosos sejam mais vulne-
ráveis aos efeitos das bebidas alcoólicas, o que o colocam em maior risco de desenvolvimento de
problemas.

Fatores de risco

Determinadas características ou situações podem aumentar ou diminuir a probabilidade de surgimen-


to e/ou agravamento de problemas com o álcool e outras drogas. Essas situações são conhecidas
como fatores de risco e proteção.

No entanto, os fatores de risco não são necessariamente iguais a todos os indivíduos e podem variar
conforme a personalidade, a fase do desenvolvimento e o ambiente em que estão inseridos. Entre
eles, pode-se destacar:

• Fatores de risco: genética, transtornos psiquiátricos (ex: transtornos de conduta), falta de monito-
ramento dos pais, disponibilidade do álcool

• Fatores protetores: religião, controle da impulsividade, supervisão dos pais, bom desempenho
acadêmico, políticas sobre drogas.

Sintomas de Dependência química

Alguns dos sintomas da dependência química são:

• Desejo incontrolável de usar a substância

• Perda de controle (não conseguir parar depois de ter começado)

• Aumento da tolerância (necessidade de doses maiores para atingir o mesmo efeito obtido com
doses anteriormente inferiores ou efeito cada vez menor com uma mesma dose da substância)

Sintomas de abstinência:

• Sudorese

• Tremores

• Ansiedade quando a pessoa está sob efeito da droga

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Buscando ajuda médica

É importante que o indivíduo com dependência química procure ajuda com profissionais da saúde
quando ocorrem situações nas quais a substância está influenciando negativamente a saúde física
e/ou rotina, funções acadêmicas e/ou profissionais e as relações pessoais.

Diagnóstico de Dependência química

Os critérios do “Manual Estatístico e Mental de Transtornos Mentais” (4ª edição; DSM-IV), da Associ-
ação Americana de Psiquiatria, e “Classificação Internacional de Doenças” (10ª edição; CID-10), da
Organização Mundial da Saúde (OMS) são os mais comumente empregados para o diagnóstico dos
transtornos relacionados ao uso de substâncias.

Variados questionários de autopreenchimento (tais como ASSIST, CAGE, AUDIT) e testes sanguí-
neos também têm sido empregados, em contexto clínico, com tais fins, mas não podem ser conside-
rados como substitutos de uma cuidadosa entrevista clínica. Existem ainda alguns exames (marcado-
res biológicos) que são indicadores fisiológicos da exposição ou ingestão de drogas, e podem auxiliar
no diagnóstico e no tratamento.

No caso do álcool, por exemplo, é possível citar o alanina aminotransferase (ALT), volume corpuscu-
lar médio (VCM) e o gama-glutamiltransferase (GGT). É importante também realizar um exame físico
e atentar-se a sinais e sintomas que podem auxiliar na identificação do problema, como por exemplo
sintomas de abstinência, hipertensão leve e flutuante, infecções de repetição, arritmias cardíacas não
explicadas, cirrose, hepatite sem causa definida, pancreatite, entre outras.

Quando o paciente é diagnosticado, é importante que além do tratamento para a dependência quími-
ca, o indivíduo também tenha acompanhamento clínico para garantir a melhora de sua saúde como
um todo.

Tratamento de Dependência química

O tipo de ajuda mais adequado para cada pessoa depende de suas características pessoais, da
quantidade e padrão de uso de substâncias e se já apresenta problemas de ordem emocional, física
ou interpessoal decorrentes desse uso.

A avaliação do paciente pode envolver diversos profissionais da saúde, como médicos clínicos e psi-
quiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, assistentes sociais e enfermeiros.
Quando diagnosticada, a dependência química deve contar com acompanhamento a médio-longo
prazo para assegurar o sucesso do tratamento, que varia de acordo com a progressão e gravidade da
doença.

Convivendo/ Prognóstico

A dependência química geralmente representa um impacto profundo em diversos aspectos da vida do


indivíduo e também daqueles que estão ao seu redor. Dada a sua complexidade, é interessante que
os programas de tratamento sejam multidisciplinares para atender às diversas necessidades do paci-
ente (aspectos sociais, psicológicos, profissionais e até jurídicas, conforme demonstrado em diversos
estudos), sendo mais eficaz na alteração dos padrões de comportamentos que o levam ao uso da
substância, assim como seus processos cognitivos e funcionamento social.

Para manter-se livre das drogas, o indivíduo terá que realizar uma série de mudanças em seu estilo
de vida. Por exemplo, evitar locais e situações que sejam associados ao uso, (re)aprender “fontes de
prazer” que não as que estejam relacionadas ao consumo – geralmente, pessoas com problemas
com drogas afastam-se todas as formas de lazer, hobbies, relacionamentos, etc, e retomar a uma
vida “careta” pode ser uma das tarefas mais difíceis no processo de recuperação.

Dependência química tem cura?

Não podemos afirmar que há uma cura para a dependência química. Ela é uma doença crônica, as-
sim como diabetes e hipertensão, porém, totalmente passível de tratamento. Vale ressaltar que além
de cessar o consumo, um tratamento eficaz é aquele que consegue auxiliar o indivíduo a retomar o
funcionamento produtivo na família, no trabalho, na sociedade e no trabalho.

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De acordo com o National Institute on Drug Abuse (NIDA), estima-se que cerca de 40 a 60% dos
pacientes tem recaídas – números bem próximos de outras doenças crônicas, como a hipertensão
(50 a 70%) e a asma (50 a 70%). Ainda, é importante frisar que a recaída é parte do processo tera-
pêutico e indica que o tratamento deve ser revisto e ajustado.

Dependência Química: Prevenção e Tratamento

A história da dependência química acontece desde o início da humanidade, embora a atenção à essa
condição só tenha ocorrido no último século. Dependência química é o uso freqüente e exagerado da
droga, com ruptura dos vínculos afetivos e sociais, é a perda da liberdade de dizer não à droga à qual
o organismo se adaptou, seja droga lícita ou ilícita.

Segundo o dicionário Aurélio, droga é “qualquer substância capaz de modificar a função dos orga-
nismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento”. Na definição da OMS é
“qualquer produto, lícito ou ilícito que afeta o funcionamento mental e corporal do indivíduo e que
pode causar intoxicação ou dependência”.

As drogas são classificadas em três categorias, de acordo com a sua ação no sistema nervoso: De-
pressores do Sistema Nervoso Central, englobando o álcool, benzodiazepínicos, inalantes, opiáceos
naturais, sintéticos e semi-sintéticos; Estimulantes do Sistema Nervoso Central, englobando anfeta-
minas, cocaína e seus derivados; e ainda os Perturbadores do Sistema Nervoso Central, onde encon-
tra-se vegetais (mescalina, maconha, psilocibina, trombeteira) e sintéticos (LSD, ecstasy).

Precede a Dependência, o fenômeno conhecido como tolerância, no qual o organismo sempre pede
uma quantidade maior da droga para obter o efeito de prazer antes obtido com menor quantidade. Tal
fenômeno é devido a sobrecarga dos sistemas enzimáticos do fígado, principalmente o citocromo
P450 que desempenha uma função adaptativa, transformando produtos estranhos ao organismo em
substâncias menos ativas.

No Brasil, segundo estatísticas, 10% da população adulta é acometida pelo alcoolismo e 2% é de-
pendente de outras drogas. Não incluindo o tabagismo, pois se assim fosse, teríamos o número as-
sustador de um dependente para cada dois habitantes (Busnello). Temos portanto um quadro preo-
cupante e merecedor de atenção na Saúde Mental.

Nos últimos anos, devido ao aumento da incidência da enfermidade, muito se tem explorado para
tentar compreender a gênese da dependência química, assim como criar mecanismos eficazes de
prevenção.

O sujeito propenso ao uso de drogas, segundo a OMS, é uma pessoa sem informação adequada
sobre os efeitos da droga; com saúde deficiente; insatisfeito com sua qualidade de vida (falta ou ex-
cesso); com personalidade deficientemente integrada; com fácil acesso às drogas. Segundo Zaitter, o
vício tem início sob quatro aspectos principais:

Problemas emocionais – 65%


Curiosidade – 20%
Exibicionismo ou auto-afirmação – 10%
Problemas mentais – 5%

Segundo Hawkins, quatro elementos têm se mostrado protetores contra a adicção: forte ligação com
os pais; compromisso escolar; envolvimento regular em atividades religiosas; crença em normas e
valores da sociedade.

É uma patologia que atinge todas as classes sociais e todo tipo de família. Porque algumas famílias
são bem-sucedidas na criação de seus filhos, evitando assim a adicção e outras não? Segundo Bau-
rind (1968), os pais são classificados em quatro categorias: pais competentes, pais autoritários, pais
negligentes e pais ausentes. Os pais competentes demonstram confiança em si próprios, como pais e
como pessoas. São confortadores e afetuosos, mas estabelecem limites e padrões de conduta. Dis-
ciplinam os filhos quando esses padrões são rompidos, explicando a lógica da disciplina e tendem a
não utilizar força física como punição. Exercem a autoridade sem serem autoritários.

Seus filhos tendem a ser maduros, independentes, auto-confiantes e com auto estima elevada. Os
pais autoritários são os que dizem aos filhos o que fazer sem explicar as razões, estabelecem pa-

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drões de conduta rígidos sem levar em conta a necessidade dos filhos, consideram a obediência uma
virtude absoluta, quando os padrões são rompidos a punição é insensata e sem explicação, não en-
corajam discussões. Seus filhos tendem a apresentar baixa auto-estima e dependência. Os pais ne-
gligentes são inseguros como educadores, geralmente são afetivos e calorosos mas exercem pouco
controle, como se tivessem medo de serem autoritários, organizam a familia como uma pseudo-
democracia abdicando do poder de decisão e responsabilidade. Seus filhos tendem a ser inseguros,
imaturos e dependentes. Já os pais ausentes manifestam rejeição através da ausência de atenção e
afeto, privando a criança de limites definidos e do alimento afetivo necessário para o reconhecimento
de sua própria existência. Seus filhos têm dificuldades no convívio social e é comum encontrar esse
tipo de característica nos adolescentes usuários de drogas.

Além do desenvolvimento e criação adequada, é no mínimo irresponsável negar o papel da exposi-


ção do indivíduo ao ambiente como elemento influenciador ao estabelecimento da adicção. A mídia
enquanto “mãe substituta” pode modificar comportamentos. Estudos mostram que nos Estados Uni-
dos, uma criança entre 6 e 17 anos gasta 18.000 horas exposta à televisão e 12.000 horas na sala de
aula. Em média, a TV nos EUA veicula por ano 14.000 propagandas com referência sexual, 2.000h
com referência à bebidas alcoólicas e 1.000h com referência a assassinatos, estupros e assaltos. Um
adolescente ouve rádio, em média, 18,5h durante a semana e 12,8h durante o fim de semana. Em
revistas, carros são os primeiros, cigarros os segundos produtos mais anunciados. Bebidas alcoólicas
também são muito divulgadas. Em Washington, 1988, uma pesquisa mostrou que crianças entre 8 a
12 anos conseguiam lembrar de mais nomes comerciais de bebidas do que de presidentes america-
nos.

Várias abordagens psicológicas tentam explicar a dependência química por diversos fatores. Nenhu-
ma delas consegue explicar tal fenômeno na sua totalidade. Talvez, a forma mais compreensível seja
a complementação que uma teoria pode ser à outra. Deve-se compreender a Dependência Química
considerando as teorias como includentes e complementares e não excludentes.

A Psicanálise contribui para a compreensão da gênese dessa condição com algumas hipóteses. São
elas: teoria das gratificações narcísicas, teoria da oralidade, teoria das perversões, e teoria das rela-
ções maníacas.

Não pretendo explorar profundamente cada uma das teorias, mas superficialmente informá-las.

Teoria da Gratificação Narcísica: -Freud, em 1897 escreveu "... comecei a compreender que a mas-
turbação é o grande hábito, o vício primário, e que é somente como seu sucedâneo e substituto dela
que outros vícios - álcool, morfina, tabaco, etc. - adquirem existência.“ -Enfatizava a possibilidade de,
através das substâncias psicoativas, alguém conseguir prazer, sem a necessidade da colaboração de
outra pessoa. Simmel (1930) endossa tal pensamento ao afirmar que " as mães dos toxicômanos,
não raro, são sedutoras e superindulgentes enquanto mãe nutrícia, retirando, elas mesmas, um pra-
zer auto-erótico do amamentar", concorda Knight(1937) acrescentando que: "elas procuram aplacar o
bebê satisfazendo-o constantemente, de modo que o desmame eventual da criança só poderá signifi-
car traição da mãe”. Desta forma a etapa da separação com posterior individuação ( Mahler,1975)
seria comprometida, favorecendo-lhes o envolvimento futuro com as drogas.

Para Rosenfeld (1960) os bebês seriam portadores de inveja primária do seio materno, o que leva o
indivíduo, a precocemente preterir o seio em favor de seu próprio polegar. A droga, nesta perspectiva,
seria um substituto deste polegar.

Em 1987, Olievenstein e seus colaboradores, concentraram seus estudos na questão da falta. Se-
gundo estes autores, há a possibilidade do sentimento da falta propiciado pela maternagem inade-
quada se sobrepor ao prazer narcísico associado às drogas. As mães insuficientemente boas gerari-
am um estado de crônica falta. Uma falta descomunal e jamais saciável. Nessa perspectiva, o depen-
der de drogas seria o resultado do deslocamento deste sentimento de falta para um objeto, com a
vantagem de este ser alcançável em qualquer esquina do mundo.

Teoria da Oralidade: Freud (1905) destacou a presença de fixações orais em dependentes químicos.
Escreveu em seus três ensaios sobre a teoria da sexualidade: "...da importância erógena da região
labial, constitucionalmente determinada. Se esta importância persistir, estas crianças quando cresce-
rem, torna-se-ão epicuros do beijo, inclinar-se-ão ao beijo pervertido, ou, se do sexo masculino, terão
poderoso motivo para beber e fumar."

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Teoria das Relações Maníacas: Sob o efeito das substâncias psicoativas, o indivíduo experimenta
sensações de enaltecimento pessoal, com conseqüente reforço da onipotência, fato que sempre
chamou a atenção dos vários psicanalistas, que tentaram melhor entender a psicodinâmica dos de-
pendentes químicos. Assim é que Freud (1917,1927) destacou a relação entre a elação alcóolica e a
mania.

Para Rosenfeld (1960) "a toxicomania intimamente se relaciona à doença maníaco-depressiva, con-
quanto não lhe seja idêntica... o ego dos toxicômanos é fraco e não dispõe de força para suportar o
peso da depressão e, por isso, recorre, com facilidade, aos mecanismos maníacos, mas só alcança a
reação maníaca com o auxilio das drogas ...Caracteristicamente defendem-se com idealizações,
identificações com o objeto ideal e o controle onipotente dos objetos".

Clark (1919) direcionou sua atenção para a importância do exame da relação entre depressão e de-
pendência química. Nisto foi seguido por uma infinidade de outros pesquisadores que tiveram sempre
o desafio de tentar separar qual condição determinaria a outra.

Seja, no entanto, mania ou depressão, do ponto de vista destas contribuições, estas seriam condi-
ções prévias, onde o uso de substâncias psicoativas apareceria como subproduto.

Teoria das Perversões: Desde 1912, (Freud) a psicanálise estuda a relação da dependência química
de uma forma geral, e do alcoolismo em especial, com fantasias homossexuais. Para Freud o álcool
seria capaz de levantar as inibições e desfazer o trabalho da sublimação. Em conseqüência disto a
libido homossexual se liberaria.

Abraham (1908) concorda com isso, sustentando que o comportamento, muitas vezes criminoso, de
alcoolistas se daria devido a liberação, pelo álcool, de perversões como o sadismo e o masoquismo.

A Dependência química é uma doença crônica com danos lentos e irreversíveis física e psicologica-
mente. No DSM-IV-TR (Diagnostic and Statistical manual of mental disorders) aparece como transtor-
nos relacionados a substâncias.

Cada classe de drogas conduzirá, no decorrer do tempo, a diferentes danos pois afetará diferentes
sistemas de neurotransmissores.

Robinson e Berridge (1993) estudaram os diversos efeitos das drogas no organismo e concluíram
que substancias psicoestimulantes levam a uma concentração maior de dopamina no núcleo accum-
bens resultando em um comportamento psicótico com alucinações e delírios.

Alterações comportamentais como agressividade exacerbada, comportamento anti-social e perda de


memória, perda de valores morais e éticos são implicações comuns do abuso de substâncias.

Ernest Simmel (1947) afirma que o supereu é solúvel em álcool, ou seja, o superego do alcoolista,
sob o abuso da substância, se torna menos permeável à censura, perdendo referências morais e
éticas.

As mudanças comportamentais do adicto ocorrem na esfera bio-psicossocial. Na esfera física podem


se evidenciar episódios amnésicos, sintomas de abstinência, acidentes freqüentes, reações tóxicas
agudas (vômitos, estado confusional, convulsões, dores abdominais), preocupação excessiva com a
saúde geral. No âmbito escolar pode-se observar queda no rendimento escolar, aumento do número
de faltas, dificuldade de memória e concentração, problemas disciplinares.

Em áreas legais nota-se maior incidência de acidentes/ multas de trânsito, amigos com história crimi-
nal, atividades criminais. Na atuação familiar: conflitos pais/filhos, afastamento das atividades da fa-
milia, desaparecimento de dinheiro ou objetos da casa. E ainda é possível constatação através de
evidências laboratoriais, como a exemplo, pode-se dosar na urina até um certo tempo após o uso,
que varia de acordo com a droga. Assim: cocaína – presente na urina de 8 a 48h. Opiáceos – presen-
tes até 84h. Maconha – de 7 a 34 dias depois do consumo.

Frequentemente os familiares protelam ou utilizam-se do mecanismo de defesa de negação para não


aceitar a possibilidade de ter um de seus membros envolvidos com drogas.

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Dependendo do tempo de uso e da instalação da dependência química, muitas vezes o único trata-
mento possível é a internação clínica, a qual, na maior parte das vezes é involuntária num primeiro
momento.

De acordo com a Federação Brasileira de Comunidades terapêuticas (FEBRACT), no estado de São


Paulo, há filiação de 46 instituições, entretanto, por não ser um órgão de filiação obrigatória, é esti-
mado a existência de um número bem maior, sem contar as clínicas e hospitais médicos especializa-
dos no tratamento da dependência química.

Escolher uma instituição que ofereça uma proposta terapêutica eficaz, que tenha instalações ade-
quadas com profissionais devidamente treinados e ofereça uma estrutura real de trabalho terapêutico
e reinserção social é, para os familiares leigos do tema e surpresos pelo acometimento da doença,
um desafio que muitas vezes premedita o fracasso do objetivo a que se propõe uma internação para
reabilitação.

Há, entretanto, alguns critérios que devem ser levados em conta, na escolha de uma instituição ade-
quada. Os familiares devem preceder uma visita antes de uma escolha definitiva, quando se observa
itens básicos como instalações e acomodações para o interno, higiene, estrutura de lazer, presença
de profissionais diversos da área de saúde tais como psicólogos, psicanalistas, terapeutas, assistente
social, monitores, professor de educação física, médico psiquiatra e médico clínico geral, possibilida-
des e recursos de atendimento a emergências clínicas, plano e rotina diária de atividades, cardápio
diferenciado para dietas hipocalóricas ou hipoglicêmicas, programas de ressocialização na etapa final
da internação, programa de assistência familiar e acompanhamento pós-internação. São critérios que
determinam ou não o sucesso do tratamento.

A maioria das instituições fundamentam seus projetos terapêuticos nos passos das Irmandades
Anômimas, o que tem se mostrado muito eficiente e eficaz para o sucesso do tratamento.

O primeiro momento do interno, geralmente conturbado e de maior vigilância é a desintoxicação.


Nessa etapa diversos fenômenos físicos se manifestam na síndrome de abstinência. O paciente ge-
ralmente estará mais irritadiço e agressivo e deverá ser acompanhado por um médico clínico geral ou
psiquiatra. O uso de neurolépticos pode abrandar os sintomas de desconforto da síndrome de absti-
nência e assegurar a integridade física do paciente, geralmente prescritos pelo médico psiquiatra.
Uma segunda etapa deverá ser firmada no objetivo da sensibilização e conscientização concentrada
num número maior de atendimentos psicológicos e psicanalíticos individuais e grupais.

A terceira etapa é a de reabilitação, na qual objetiva-se a mudança comportamental e o planejamento


para o futuro. Na fase seguinte, a ressocialização, assistido por profissionais, o interno deverá ser
reinserido gradualmente no seu mundo e consolidar as mudanças comportamentais. A ultima etapa é
o acompanhamento do paciente no seu mundo. Paralelamente ao trabalho com o interno, a família
poderá ser assistida e orientada quanto a atendimentos psicoterapêuticos familiares com o propósito
de gerar mudanças que quebrem o padrão de co-dependência inconscientemente instalado nos cui-
dadores. É um trabalho de preparação para a reinserção futura do membro internado. Não existe um
tempo determinado para cada etapa do tratamento, entretanto a singularidade do indivíduo, a com-
plexidade da patologia e estruturação familiar deverão ser consideradas na determinação do tempo
de duração de cada etapa.

As instituições terapêuticas para dependentes químicos têm uma ampla gama de atividades que po-
dem ser psicoterapia individual e grupal, psicanálise individual e grupoanálise, grupos de reflexão,
grupos de AA e NA, grupos de partilha de sentimentos, palestras, videoterapia, educação física, artes
marciais, laborterapia, grupos de práticas espirituais, etc.

O objetivo da internação é a priori, a quebra de padrão de abuso da substância, mas também uma
preparação para a reinserção do indivíduo na sociedade, no exercício da sua cidadania e do seu pa-
pel familiar, conscientizando o de sua enfermidade e de sua cronicidade e colocando-o na posição de
responsável pela manutenção constante da sua recuperação.

Findado o período de internação, faz-se importante a manutenção do tratamento através da assistên-


cia psicoterapêutica ou psicanalítica, dos grupos de apoio externos para o indivíduo e familiares, as-
sim como acompanhamento psiquiátrico periódico.

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A terapia medicamentosa poderá ser eficaz durante e pós-internação. Poderá ser o uso de neurolép-
ticos para contenção dos impulsos e da compulsão ou também o uso de drogas aversivas específicas
para o alcoolismo. Embora o Dissulfiram tenha sido, no passado, usado por muitos profissionais no
combate ao alcoolismo, mostrou-se com o tempo, perigosa e obsoleta. Hoje, a industria farmacêutica
oferece a naltrexona e o acamprosato no tratamento de alcoolismo. Não se tem uma evidência con-
creta da eficácia dessas drogas, os dados até então encontrados são inconsistentes.

A manutenção da recuperação tende a ser bem sucedida quando orientada por profissionais experi-
entes, mas outros fatores têm se mostrado relevantes nesse processo, tais como o apoio e o acolhi-
mento familiar; a criação de um ambiente propício à expressão de sentimentos e à pedidos de ajuda,
quando necessários; a valorização do indivíduo e o respeito pelos seus direitos e liberdade e a esti-
mulação à responsabilidade do indivíduo pelos seus atos.

A dependência química é uma doença crônica que leva o caos à estrutura familiar e que pode ser
destrutiva e auto-destrutiva, portanto requer tratamento especializado e participação de todos os
membros cuidadores.

DEPENDENCIA QUIMICA – DUVIDAS E INFORMAÇÕES

Alcoolismo

A dependência de álcool, droga mais popular, atinge 12% dos adultos brasileiros e responde por 90%
das mortes associadas ao uso de outras drogas. Ou seja, o álcool mata muito mais do que as drogas
ilícitas.

Apesar de ser uma doença sem cura, o alcoolismo pode ser totalmente controlado. O Brasil tem mi-
lhares de instituições de ajuda ao usuário de álcool com problemas. Elas atuam com prevenção, tra-
tamento e ações de redução de danos.

O modelo de prevenção mais comum é a educação afetiva. Nessa abordagem, valorizar a autoestima
do paciente, ensiná-lo a controlar sua ansiedade e ajudá-lo a recuperar a capacidade de decidir e se
relacionar é mais útil do que enfatizar as consequências negativas do abuso de álcool. Nesse sentido,
as palestras são ferramentas educativas importantes, pois trazem informações e funcionam como um
espaço reservado à reflexão.

Quando o abuso de álcool se torna um problema que interfere na dinâmica familiar, na participação
social e nas atividades de trabalho, o tratamento indicado ainda é o voluntário. Ou seja, somente com
a concordância do paciente. Segundo os Alcoólicos Anônimos, a decisão de optar por se tratar pode
demorar, mas só pode ser tomada pelo próprio alcoólatra. A psicoterapia, individual, familiar ou em
grupo, é a forma de tratamento mais comum.

No método dos 12 passos, por exemplo, usado pelos Alcoólicos Anônimos, os veteranos que já para-
ram de beber dão conselhos a quem quer interromper o vício. Em reuniões abertas ou fechadas, ca-
da um relata como foi parar ali e descobre como sua história é parecida com a de todos os outros. O
sucesso do tratamento é atribuído a essa franca troca de experiências.

Em geral, espera-se que a família participe e apoie o tratamento. Em alguns lugares, há também as-
sistência religiosa. Para os casos mais graves, algumas instituições fazem internações terapêuticas,
outras fazem apenas atendimento ambulatorial.

A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) tem cadastrados Centros de Atenção Psi-
cossocial de Álcool e Drogas (CAPSad), clínicas particulares, hospitais, universidades, comunidades
terapêuticas, residências terapêuticas, grupos de auto-ajuda, entre outras instituições de assistência
ao dependente de álcool.

Drogas

As drogas psicoativas fazem parte da história da humanidade. Apenas reprimir o uso não resolve o
problema. Por isso, as políticas públicas estão mais orientadas à redução de danos. A ideia é infor-
mar e orientar o dependente químico para evitar as consequências ruins do mau uso dessas drogas.

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Cerca de 22% dos brasileiros acima de 18 anos já usaram drogas psicoativas além do álcool e do
cigarro alguma vez na vida. Entre os estudantes, o uso frequente de drogas (20 ou mais doses por
mês) é de 3,6%. A maconha é a mais usada das drogas ilícitas. Veja quais são as outras:

• Alucinógenos
• Anticolinérgicos (medicamentos e chás com plantas que possuem atropina e a escopolamina)
• Barbitúricos (sedativos)
• Benzodiazepínicos (medicamentos que induzem o sono)
• Cocaína
• Crack
• Esteroides anabolizantes
• Estimulantes (inclusive remédios para emagrecer)
• Heroína
• Merla (pasta-base da cocaína)
• Opiáceos (à base de ópio)
• Orexígenos (medicamentos estimuladores de apetite)
• Solventes (cola de sapateiro, lança-perfume, loló)
• Xaropes (codeína)

Embora muitas pessoas consigam viver bem usando essas substâncias, todas apresentam riscos
potenciais de danos à saúde. O uso contínuo pode levar à tolerância (a pessoa fica acostumada à
droga e precisa aumentar a dose para obter o efeito inicial) e dependência.

Onde procurar ajuda

Milhares de instituições, muitas não-médicas, formam uma rede nacional de assistência com ações
de promoção, prevenção e proteção à saúde dos usuários. A maioria (70%) são instituições de autoa-
juda, como os Alcoólicos Anônimos (AA). O SUS tem os Centros de Atenção Psicossocial para álcool
e drogas (CAPSad), de atendimento diário, com atividades laborais, de lazer e de cidadania.

A internação em hospital psiquiátrico não é a principal forma de tratamento. Quando necessária, a


diretriz é que seja curta e aconteça preferencialmente em hospitais gerais, com acompanhamento
pelos CAPS.

As ações de redução de danos à saúde, desenvolvidas em mais de 600 instituições pelo Brasil, já
reduziram o número de casos notificados de Aids entre usuários de drogas injetáveis, sem aumentar
o consumo de drogas injetáveis.

Tabagismo

O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte
evitável no mundo. A organização estima que um terço da população mundial adulta, isto é, cerca de
1 bilhão e 200 milhões de pessoas, sejam fumantes. Pesquisas comprovam que aproximadamente
47% de toda a população masculina mundial e 12% da feminina fumam.

A fumaça do cigarro tem mais de 4,7 mil substâncias tóxicas. O alcatrão, por exemplo, é composto de
mais de 40 compostos cancerígenos. Já o monóxido de carbono (CO) em contato com a hemoglobina
do sangue dificulta a oxigenação e, consequentemente, ao privar alguns órgãos do oxigênio causa
doenças como a aterosclerose (que obstrui os vasos sanguíneos). A nicotina é considerada pela Or-
ganização Mundial da Saúde (OMS) droga psicoativa que causa dependência. Ela também aumenta
a liberação de catecolaminas, que contraem os vasos sanguíneos, aceleram a freqüência cardíaca,
causando hipertensão arterial.

O tabagismo está relacionado a mais de 50 doenças sendo responsável por 30% das mortes por
câncer de boca, 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença do coração,
85% das mortes por bronquite e enfisema, 25% das mortes por derrame cerebral. Segundo a Organi-
zação Mundial da Saúde (OMS), todo ano cinco milhões de pessoas morrem no mundo por causa do
cigarro. E, em 20 anos, esse número chegará a 10 milhões se o consumo de produtos como cigarros,
charutos e cachimbos continuar aumentando.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o tabaco também tem relação com a impotência se-
xual e infertilidade masculina pois, segundo estudos, prejudica a mobilidade do espermatozóide. Os

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TRATAMENTO E PREVENÇÃO DA DEPENDENCIA QUIMICA

mesmos prejuízos também são atribuídos ao cachimbo e ao charuto. Apesar de não serem tragáveis,
possuem uma concentração de nicotina maior, que é absorvida pela mucosa oral.

Não só o fumo ativo, mas o passivo também aumenta os riscos de doença. Sete não fumantes mor-
rem por dia em consequência do fumo passivo. O tabagismo passivo aumenta em 30% o risco para
câncer de pulmão e 24% o risco para infarto.

Tratamentos e benefícios

Os tratamentos mais eficazes unem apoio medicamentoso com mudanças de hábitos. A combinação
é importante porque o tabaco causa dependência física, psicológica e comportamental, veja os deta-
lhes:

Física: Cada tragada tem 4.730 substâncias e, com o tempo, o corpo do fumante passa a precisar do
cigarro para funcionar. Quando se tira essas substâncias, particularmente a nicotina, o corpo vive
uma espécie de curto-circuito e entra em síndrome de abstinência. Os principais sintomas são ansie-
dade, inquietação, sonolência ou insônia, e prisão de ventre.

Psicológica: O cigarro torna-se uma “bengala” para o dependente, que passa a fumar mais quando
está estressado, triste e se sentindo sozinho.

Comportamental: O fumante tem uma rotina com o cigarro. Há momentos em que o fumar é um hábi-
to automático. Depois da refeição, com o cafezinho, após ir ao banheiro, etc.

Especialistas aconselham as pessoas a marcar uma data para largar o vício. Há dois métodos para
parar de fumar: imediatamente ou gradualmente. O método mais adequado é a parada imediata, no
qual você marca uma data e, a partir desse dia, não fuma mais nenhum cigarro. Esta deve ser sem-
pre sua primeira opção. Outra alternativa é parar gradualmente, reduzindo o número de cigarros ou
retardando a hora do primeiro cigarro do dia. Mas você não deve gastar mais de duas semanas, pois
pode se tornar uma forma de adiar, e não de parar de fumar.

Para reduzir o número de cigarros, diminua um pouco a cada dia. Por exemplo, uma pessoa que fu-
ma 30 cigarros por dia, no primeiro dia fuma os 30 cigarros usuais, no segundo dia 25, no terceiro 20,
no quarto 15, no quinto 10 e no sexto fuma apenas 5 cigarros. O sétimo dia é a data para deixar de
fumar e o primeiro dia sem cigarros.

Ao retardar a hora do primeiro cigarro, o fumante deve proceder com o mesmo método gradual. Por
exemplo, no primeiro dia você começa a fumar às 9h, no segundo às 11h, no terceiro às 13h, no
quarto às 15h, no quinto às 17h e no sexto às 19 h. O sétimo dia é a data para deixar de fumar e o
primeiro dia sem cigarros.

Lembre-se também que fumar cigarros de baixos teores não é uma boa alternativa. Todos os tipos de
derivados do tabaco (cigarros, charutos, cachimbos, cigarros de Bali, etc.) fazem mal à saúde. Cuida-
do com os métodos milagrosos para deixar de fumar. Caso não consiga parar de fumar sozinho, pro-
cure orientação médica.

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