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Dependência química

e Saúde Mental

Conceitos de dependência química

Antes de conceituar a dependência química, é importante


caracterizar aquilo que a gera: a droga. Assim, tem-se que são
substâncias utilizadas para produzir mudanças nas sensações, na
consciência e nas emoções. E estas alterações variam de acordo
com o indivíduo, a droga utilizada e as circunstâncias que a pessoa
utiliza a substância.

Ainda, é importante citar que de acordo com o efeito que a


substância promove no sistema nervoso, as drogas podem ser
depressoras, estimulantes e perturbadoras.

Quando as pessoas consomem uma droga de forma corriqueira, e,


por conseguinte nociva, tem-se um caso de abuso das drogas.
Quando o uso é compulsivo, gerando perda de controle e
complicações à vida do usuário, estamos retratando o conceito de
dependência química. Ainda, para a dependência é possível
observar os fenômenos de tolerância à substância, o que faz
necessitar de doses maiores para provocar o efeito esperado; e a
síndrome de abstinência, que é vista em ausência daquela
substância com sintomas de ansiedade, inquietação e dores de
cabeça. Ademais, outros elementos característicos é o desejo
persistente ou esforços mal-sucedidos para reduzir ou controlar a
dependência química, mesmo reconhecendo os problemas físicos
ou psicológicos, bem como a redução ou abandono de atividades
sociais, ocupacionais ou recreacionais.

De acordo com a OMS, sugere-se que as pessoas mais sujeitas à


dependência química são aquelas que não têm acesso adequado a
informações sobre efeito das drogas, que estão insatisfeitas com
sua qualidade de vida, é pouco integrada na família e na
sociedade, ou com fácil acesso às drogas. Tal dependência ainda
traz complicações legais e dificuldades nos âmbitos escolar,
profissional, social e familiar.
Drogas lícitas e ilícitas

As drogas podem ser substâncias naturais ou sintéticas, e


possuem diversas formas de serem classificadas. Para esta seção
em específico, trataremos quanto ao critério de legalidade perante
a Lei: drogas lícitas e ilícitas.

As drogas lícitas ou legais são permitidas por lei, onde existe a


liberação para consumo e comercialização, como o álcool, nicotina,
cafeína e fármacos permitidos mediante receita médica.

O álcool é a droga lícita de maior aceitação social, com efeitos


iniciais de segurança e prazer. Depois, os efeitos depressores
tomam conta, como falta de coordenação motora e sonolência.
Quanto à nicotina, fazemos uso dela a partir do cigarro. Por ser
uma substância estimulante, causa uma leve sensação de euforia e
relaxamento. Contudo, o uso contínuo acarreta numa série de
prejuízos, levando a doenças fatais como o câncer de pulmão e
enfisema. No que diz respeito à cafeína, ela é encontrada
principalmente no café e considerada uma droga estimulante, cujos
efeitos são menores e o consumo em quantidades normais não é
perigoso.
Sobre as drogas ilícitas ou ilegais, o uso, produção e
comercialização não está permitido pelas leis do país. No rol das
drogas ilícitas, a maconha é a mais consumida. Ela causa
perturbação no sistema nervoso e é obtida da planta do cânhamo
chamada Cannabis sativa, cujo princípio ativo é o
tetrahidrocanabinol. Já a cocaína, droga estimulante, é obtida das
folhas de coca Erythroxylum coca. Os seus efeitos a curto prazo no
indivíduo e a sensação de euforia e energia. Contudo, a longo
prazo pode gerar ansiedade, estresse e paranoia. Outros exemplos
de drogas ilícitas são o MDMA ou ecstasy, Heroína, LSD, Cetamina
e os cogumelos alucinógenos.

Epidemiologia do consumo de drogas

Epidemiologia é considerada o estudo da frequência, da


distribuição e dos fatores que determinam eventos relacionados à
saúde em populações específicas. E, com base nos resultados
obtidos, tem-se a aplicabilidade no controle dos problemas de
saúde.
Para o consumo de drogas, a importância dos estudos
epidemiológicos reside em predizer a ocorrência do uso, abuso e
dependência em populações, explicar a etiologia da dependência,
além de identificar fatores de risco que levam ao uso, abuso e
dependência de drogas. Com isso, ao se ter dados sólidos sobre a
utilização das drogas, é possível criar programas de prevenção,
intervenção e tratamento, bem como avaliar se os programas estão
surtindo o efeito desejado. Outrossim, é possível traçar indicadores
para quais drogas a prevenção deve ser enfatizada, idade ideal
para iniciar prevenção, qual o sexo mais propenso a usar certas
drogas, entre outros.

Transtornos em dependentes químicos

A dependência química é um problema de saúde mental, que,


quando não tratado, segue de maneira crônica e progressiva,
atingindo milhões de pessoas mundialmente. Ademais, esse
transtorno não afeta apenas ao indivíduo acometido. As pessoas
ao seu redor também são prejudicadas. Outrossim, uma
característica intrigante da dependência química é a capacidade
que ela tem em facilitar o surgimento de outros problemas mentais
ou vice-versa. Ou seja, um caso de comorbidade, onde dois ou
mais transtornos mentais podem coexistir.

Um exemplo acerca da comorbidade é apresentado no Estudo


sobre Área de Captação Epidemiológica de Saúde Mental – ECA
(Epidemiological Catchment Area). Este relata que dentre as
pessoas que relatam transtornos do humor, 32% delas declaram
que possuem algum tipo de dependência química envolvendo
álcool/drogas. Já uma outra pesquisa realizada pela Universidade
de Harvard relatou que a dependência química por drogas na
população adulta geral é em torno 7,5%. Por conseguinte, quando
se soma a dependência química com os transtornos de humor esse
percentual sobe para 19,3% da população avaliada.

Dentre as comorbidades mentais mais comumente encontradas


entre as pessoas dependentes químicas destacam-se os
transtornos depressivos, ansiosos e os transtornos de
personalidade.
Métodos de abordagem

Os métodos de abordagem têm uma importante função de


identificar qual o melhor tipo de intervenção e tratamento para
reabilitar o dependente. Essa necessidade da escolha do melhor
método acontece pois uma doença não se exibe da mesma
maneira para as pessoas, de tal maneira que é necessário
entender as singularidades. Assim, os dependentes químicos
devem ser tratados de maneira enquanto pessoas singulares e de
forma humanizada.

Os métodos de abordagem podem acontecer em diversos


momentos:

(1) durante a procura por ajuda especializada, onde a dependência


precisa ser tratada através da perspectiva multiprofissional, com
vias de definir o melhor tratamento;
(2) Durante a desintoxicação, com a finalidade de promover uma
reestruturação das funções orgânicas que foram alteradas e
redução dos sintomas da abstinência;

(3) No pós-tratamento, para que a pessoa mantenha os hábitos


que foram desenvolvidos para que continue livre das drogas;

(4) No núcleo familiar, pois além de sofrer junto com o dependente


químico, eles podem ser um alicerce para superação de desafios
no processo de reabilitação;

Tipos de Tratamento

Para que se tenha um tratamento adequado é importante que a


equipe multidisciplinar esteja bem treinada, para agir conforme a
doença se apresenta no indivíduo. Além disso, os profissionais
atuam em transmitir informações verídicas acerca da doença.
No que tange ao tipo de tratamento, este pode acontecer sob
diferentes formas, a depender de qual será a melhor indicação para
o dependente químico. Assim, o tratamento pode exigir a
combinação de diferentes intervenções conforme a necessidade de
cada pessoa. Ainda, um fator importante é identificar quais são os
gatilhos que ocasionam a dependência e propor soluções eficazes.

Neste sentido, alguns tipos de tratamentos empregados são a


desintoxicação, a psicoterapia, a utilização de medicamentos e a
internação.

A desintoxicação funciona com a finalidade de reestruturação das


funções metabólicas, o que pode influenciar na estabilidade
emocional da pessoa. Além disso, pode combinar com terapias que
preconizem a reversão dos prejuízos orgânicos e na minimização
dos sintomas da abstinência. Por sua vez, a psicoterapia propõe a
combinação de terapias de suporte psicológico com medicamentos.
O tratamento medicamentoso é criteriosamente escolhido e
monitorado pela equipe a fim de auxiliar no combate da
dependência e minimizar a síndrome de abstinência. Por fim, a
internação é indicada quando o indivíduo não consegue superar a
dependência sozinho, de maneira que o propósito é afastar este
paciente dos ambientes e pessoas que remetam ao uso
compulsivo das drogas.

Atividade Extra

Sugiro que assistam ao filme “Querido menino” (ano de lançamento


2018).

O filme retrata a história real do jornalista David Sheff que vive com
seu filho mais velho e viciado em metanfetamina. Sem motivos
óbvios para que ele se afunde no vício, visto que sempre foi um
bom aluno e com um núcleo familiar em equilíbrio, a história do
filme se desenrola na tentativa do pai compreender os motivos que
o levaram à dependência, além de retratar os diversos momentos
que o filho luta contra a droga e recair no vício. Assim tem-se claro
as diversas maneiras que a dependência química abala com a
saúde mental não somente da pessoa dependente da substância,
como também das pessoas que estão ao seu entorno.

Referência Bibliográfica

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos


transtornos mentais. 2.ed. Porto Alegre, Artmed, 2008.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde.


Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde
mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Ministério da
Saúde, 2004.
SADOCK, B. J.; SADOCK, V. A. Compêndio de psiquiatria:
ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 9.ed. Artmed,
2007.

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