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DEPENDÊNCIA

QUÍMICA
A função das terapias de manejo e das
práticas integrativas de intervenção familiar
2. 10.
SUMÁRIO TERAPIAS DE MANEJO

3. 16.
INTRODUÇÃO GRUPOS INTEGRATIVOS
DE INTERVENÇÃO

6.
FAMILIAR

MAPA DA
DEPENDÊNCIA
19.
QUÍMICA CONCLUSÃO

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Introdução

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Introdução

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que drogas lícitas representa fator de risco para o desen-

275 milhões de pessoas utilizam algum tipo de droga volvimento de dependência e aumenta as chances de

mundo afora. O número corresponde a quem consu- consumo em escalada.

miu o produto pelo menos uma vez no ano e equivale

a aproximadamente 5,6% da população global com “Álcool e tabaco não são apenas as drogas de maior

idade entre 15 e 64 anos. prevalência de utilização, também são lícitas, ampla-

mente disponíveis, de fácil acesso. E possuem, ainda,

Entre os mais jovens, aliás, o consumo de álcool e um mercado pouco regulado no Brasil”, observa a

cigarro é uma realidade em diversos países. Ao lado psiquiatra Alessandra Diehl, especialista em depen-

dos medicamentos, o álcool e o cigarro estão entre as dência química.

três principais drogas lícitas consumidas mundo

afora. Apesar disso, não existe consenso se ambos Longe de ser um problema individual, a dependência

são, de fato, portas de entrada para o uso de outras química é questão de saúde pública.

substâncias. O que se pode afirmar é que o uso de

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Introdução

Este e-book tem como objetivo contribuir com o

desempenho de profissionais de saúde para a abordagem

e o manejo de usuários dessas substâncias, assim como o

atendimento a amigos e familiares. O material apresenta,

também, o traba-lho de grupos de mútua ajuda, como

Narcóticos Anônimos (NA) e Naranon, que auxiliam na

otimização do tratamento.

O conteúdo utiliza bases de dados e diretrizes de

entidades como a OMS, o Instituto de Psicologia Aplicada

(Inpa) e o Ministério da Saúde (MS), além de entrevistas

com especialis-tas e artigos dos programas de atualização

em Saúde Mental do Sistema de Educação Continuada a

Distância (Secad). Boa leitura!

Conheça as atualizações profissionais das principais


sociedades brasileiras da área da Saúde Mental

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Mapa da
dependência
química

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Mapa da dependência química

Consumo e letalidade dos principais tipos de drogas

Associado à tradição milenar, o álcool se tornou uma droga

socialmente aceitável. Encontrada com facilidade nos

países do Ocidente, a bebida é consumida por mais da

metade da população das Américas, da Europa e do Pacífi-

co Ocidental.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse

consumo tende a aumentar ainda mais na próxima

década. Assim, a ingestão global de álcool – que mata

mais de 3 milhões de pessoas a cada ano– será maior

também na Ásia. Em especial, nos países do Sudeste, mais

ocidentalizados, como Singapura, Tailândia e Indonésia.

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Mapa da dependência química

No Brasil, a dependência alcóolica atinge 3,6% das ainda, que por ser um estudo probabilístico domi-

mulheres e chega a quase 10% dos homens, de ciliar o Lenad não inclui dados da população em

acordo com o II Levantamento Nacional de Álcool e situação de rua.

Drogas (Lenad). Realizado pelo Instituto Nacional

de Políticas Públicas do Álcool e Drogas (Inpad) da Embora o cigarro ainda seja a droga mais letal (a

Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o OMS estima que sejam registradas cerca de 7

Lenad ainda avalia o uso de cocaína, Ecstasy, esti- milhões de mortes a cada ano), o consumo de

mulantes e outras substâncias nocivas. tabaco vem caindo drasticamente. E o Brasil refle-

te essa realidade: se 35% da população era fuman-

Uma delas é o crack. Ao lado do álcool, a droga te nos anos 1990 – uma em cada três pessoas –

chama atenção pelo alto nível consumo em territó- em 2012 esse número havia reduzido para menos

rio nacional. Pelo menos 1,7 milhão de brasileiros de 17%. As regiões que mais concentram fuman-

adultos já havia experimentado crack até 2012, tes são: Sul (20,2% da população), Sudeste

quando a pesquisa foi concluída. Entre adolescen- (17,7%), Centro-Oeste (17%). Na sequência apare-

tes, foram mais de 108 mil. Deve-se considerar, cem o Norte (14,4%) e o Nordeste (14,2%).

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Mapa da dependência química

O consumo de substâncias sintéticas ladas, segundo o relatório. No Brasil, a

também preocupa. Segundo o último droga atende por nomes como Cristal,

relatório de consumo de drogas divul- speed ou simplesmente meth.

gado pelo Escritório das Nações

Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), Em relação às drogas injetáveis, é cada

em 2017, 37 milhões de pessoas vez maior a preocupação quanto ao

haviam feito uso de anfetaminas em risco de contração de doenças facil-

2015. Naquele ano, foram produzidas mente associáveis. Pelo menos 1,6

52 toneladas da droga. Estimulante milhão de pessoas que utilizaram

do sistema nervoso central, a anfeta- drogas injetáveis estão vivendo com

mina é usada em remédios controla- HIV no mundo, enquanto 6,1 milhões

dos, como os para tratamento de obe- têm hepatite C atrelada ao uso de

sidade e antidepressivos. drogas. Ainda segundo o estudo, cerca

de 1,3 milhão de pessoas vive com HIV

Já a metanfetamina, que é ilícita, teve e hepatite C.

produção ainda maior: foram 132 tone-

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Terapias
de manejo

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Terapias de manejo

Estratégias e medicamentos para tratamento dem ao círculo social. Empatia e compreensão, em

da dependência casos assim, devem ser utilizadas para aproxima-

ção e acolhimento do usuário.

As técnicas e estratégias de tratamento da depen-

dência química precisam ser amplamente domina- “Uma das condutas profissionais comumente rele-

das pelos profissionais de saúde mental. Isso gadas é acreditar que dependentes químicos não

porque, durante a abordagem, deve entrar em cena a são merecedores de cuidados”, afirma a psiquiatra

capacidade de identificação de outros transtornos e Alessandra Diehl. O estigma e a discriminação,

comorbidades psiquiátricas associadas ao uso da segundo a especialista em dependência química,

droga. Aí está a garantia de que o manejo clínico terá estão entre os principais obstáculos para a preven-

condições de ser bem-sucedido. ção, o tratamento e o cuidado. “Outra crença fre-

quente é a de que os usuários de crack e outras

Quando um paciente recorre ou é levado até o profis- drogas apresentam ‘comportamento indisciplinado’.

sional, em geral, o quadro de dependência química Por isso, são sujeitos ‘marginais e criminosos’.”

está estabelecido e apresenta danos que se esten-

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Terapias de manejo

Tratamento medicamentoso

Como se sabe, os medicamentos para dependência quí-

mica pertencem a classes variadas e nem todos são

específicos para os transtornos decorrentes do uso de

drogas. A abstinência de substâncias como a maconha e

o crack nem sempre pode ser atenuada por um único me-

dicamento.

Evidências científicas, no entanto, asseguram a eficácia

completa de alguns medicamentos. É o caso do trata-

mento da fissura pelo álcool com o naltrexona, da fissura

pela nicotina com a vareniclina e da metadona para a

abstinência de opioides.

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Terapias de manejo

A escolha pelo tipo de terapia também pode variar, sendo

estabelecida depois das entrevistas e da investigação de

história clínica. Além das Terapias Cognitivo-Comporta-

mentais (TCCs), algumas modalidades vêm sendo utili-

zadas com mais frequência atualmente. São elas:

Entrevista Motivacional

Utiliza a conversa colaborativa como técnica para moti-

var o paciente, instigando-o à mudança. A Entrevista Mo-

tivacional (EM) é realizada por meio de quatro etapas que

promovem engajamento, foco, evocação e planejamento

para a aplicação da metodologia “PARR” – a sigla de per-

guntas abertas, afirmação, reforço positivo e reflexões.

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Terapias de manejo

Manejo de Contingências

Fundamentada na teoria comportamental, a terapia

admite que o reforço positivo a comportamentos

desejados propicia o surgimento de novos comporta-

mentos desejados. O mesmo ocorre com a manifes-

tação e a redução de comportamentos indesejados. O

Manejo de Contingências (MC) é realizado a partir de

três etapas: seleção e monitoramento do comporta-

mento desejado; reforço do comportamento deseja-

do; e eliminação do ato reforçador, caso o objetivo

inicial não seja alcançado.

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Terapias de manejo

Prevenção de Recaída Treinamento de Habilidades Sociais

A Prevenção da Recaída (PR) utiliza a capacidade indi- A terapia utiliza a compreensão das dificuldades

vidual para modificação de comportamentos aditivos. sociais do paciente como estratégia para a melhoria de

Nela, os pacientes são estimulados a reconhecer seus suas habilidades. Baseadas na análise funcional do

padrões de dependência, aprendendo a lidar com gati- comportamento, o Treinamento de Habilidades Sociais

lhos que podem resultar em recaída. Exposição ao (THS) recorre à história clínica do paciente e desenvol-

risco e estratégias de resolução de conflitos também ve um novo modelo de comportamento.

são trabalhados nessa terapia.

Vale destacar que as terapias de terceira onda também

têm sido cada vez mais empregadas em associação ao

tratamento da dependência química.

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Grupos
integrativos de
intervenção
familiar

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Grupos integrativos de intervenção familiar

O papel da rede de apoio e proteção para o afasta-

mento das drogas

As questões que permeiam a dependência química e

a consequente alteração da estrutura familiar devem

ser contempladas no atendimento terapêutico. A

intervenção, nesse sentido, busca ampliar o foco da

ação terapêutica além do dependente, expandindo-o

para o sistema familiar. Somente assim será possí-

vel restabelecer a funcionalidade do convívio e do

vínculo social.

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Grupos integrativos de intervenção familiar

Durante e após o tratamento psicológico, os dependentes Os grupos de apoio, segundo Alessandra, constituem

químicos podem contar com o suporte das terapias inte- recursos significativos para o processo de manutenção da

grativas. Cabe ao profissional de saúde sugerir os grupos abstinência e de recuperação da autoestima. Por isso, a

como parte do tratamento, que também deve contemplar psiquiatra recomenda que os profissionais de saúde se

amigos e familiares. “Convencê-los a buscar ajuda e fazê- aproximem desses recursos e passem a indicá-los aos

-los compreender que a família inteira necessita de trata- pacientes. “Obviamente não existe um modelo que funcio-

mento e recuperação é um dos maiores desafios dos pro- ne para todos, mas durante meus anos de profissão pude

fissionais”, explica Alessandra. ver de perto e aprender muito com todos eles”, explica.

Grupos como Narcóticos Anônimos (NA) e Alcoólicos Os centros de atenção psicossocial álcool e drogas (caps

Anônimos (AA) – que atua no Brasil desde 1952 – promo- ad) e as comunidades terapêuticas credenciadas junto ao

vem o apoio, o bem-estar e a reaproximação dos depen- Ministério da Saúde representam espaços inovadores de

dentes químicos com a sociedade. Há, ainda, outras promoção da saúde. Neles, a atenção humanizada busca

irmandades, como Amor Exigente, Nar-anon, Al-Anon, que promover a recuperação integral dos indivíduos.

funcionam como uma rede de apoio que se estende a

amigos e familiares.

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Conclusão

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Conclusão

Os tratamentos associados, que combinam tera- Igualmente importante é o tratamento dos familia-

pia, medicação e práticas integrativas, costumam res envolvidos no processo de recuperação do

apresentar resultados entre dependentes quími- dependente químico.

cos. A eficácia do tratamento, no entanto, está

diretamente ligada ao desempenho e à conduta Nesse sentido, a atualização profissional e o exercí-

profissional. cio da compreensão e da empatia são mais do que

exigências da atividade: são estratégias de promo-

O desempenho adequado da rede de cuidados, ção de saúde e bem-estar para indivíduos que

formada por amigos e familiares do dependente quí- demandam cuidado técnico, amparo e proteção.

mico, bem como a garantia de acesso a serviços de

qualidade, também fortalece o autocuidado e a Leia mais: Entenda o que a educação continuada
pode fazer pela sua carreira!
determinação para preservação da abstinência.

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