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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE


Curso de Psicologia

ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO “ESTAMIRA”

Jamile Bueno Garibe - TIA: 32094981


Maria Fernanda Doniani -TIA: 32094493
Rafaela Luiz Diniz - TIA: 32086474
Sofia Martareli Picolo – TIA: 32087136

TURMA 05L

SÃO PAULO
5°/2022
O filme Estamira, de direção de Marcos Prado, é uma produção nacional de 2004 que
demorou quatro anos para ser concluída e conta a história de Estamira, uma trabalhadora do
Lixão de Jardim Gramacho (Duque de Caxias – RJ) Foi depois que Estamira disse a Marcos
Prado que sua missão era a de revelar a verdade que o diretor decidiu produzir um documentário
sobre a vida desta mulher, a qual, além de trabalhadora do Lixão, tem uma visão de mundo
bastante peculiar e intensa (CLEBER, 2012).

Estamira Gomes de Sousa foi uma senhora que vivia e trabalhava no aterro sanitário de
Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Nasceu na pobreza e sua infância foi marcada por
ambientes conturbados e diversos eventos traumáticos. Estamira conta que perdeu seu pai muito
cedo e que é filha única. Segundo ela, seu avô materno estuprou sua mãe e também a abusava.
Sua mãe sofria de delírios e perturbações, o que a levou para uma internação em um hospital
psiquiátrico. Depois de alguns anos, Estamira tira sua mãe da instituição. Esse episódio gerou
muito sofrimento para a família e, segundo Carolina, eles ressentiam colocar sua mãe, Estamira,
na mesma situação de sua avó.

Ao longo de sua vida, Estamira vivenciou diversas situações conturbadas. Aos 12 anos,
seu avô a levou para trabalhar em um bordel, onde ela se prostituiu durante algum tempo. Ela
foi casada duas vezes, tendo um filho com cada marido e foi traída por ambos. Estamira teve
uma terceira filha, Maria Rita, a qual por decisão de seu filho mais velho, foi “doada” a uma
família com melhores condições de vida. Quando adulta, Estamira sofreu dois estupros e,
segundo sua família, foi a partir deste momento que os sintomas psicóticos foram
desencadeados.

Estamira se considerava uma mulher religiosa, porém, após o surgimento dos sintomas
psicóticos, passa a ter uma relação com Deus extremamente hostil, culpando-o pelo fato dEle
não ter a salvado do estupro e por todos os outros acontecimentos ruins. Demonstrava sentir
ódio por Ele. Quando citado durante uma conversa, Estamira se mostra irritada e eleva o tom
da voz, dizendo que Deus é sujo, estuprador, assaltante, arrombador de casa e vê o homem e os
animais como melhores que Ele.

Carolina conta que sua mãe passou a apresentar alguns sintomas psicóticos, como
delírio, no dia em que ela chegou em casa, viu um trabalho de macumba em seu quarto e, em
seguida, chutou e espalhou tudo. Os primeiros sintomas foram de delírio persecutórios: achava
que estava sendo perseguida e vigiada pelo FBI e pela polícia; acreditava que as pessoas
estavam filmando ela de dentro do ônibus. Além disso, comportava algumas alucinações: como
escutar vozes (acreditava que fossem dos “astros”); falava que via espíritos brancos pela sua
casa. Estamira apresentava distúrbios de linguagem, alterações de pensamento e uma certeza
delirante, uma vez que dizia “eu sou perturbada, mas sei distinguir a perturbação”. Em função
disso, ela passa por uma médica que a descreve como portadora de quadro psicótico de evolução
crônica, apresentando os seguintes sintomas: delírio, alucinações auditivas, ideias e discursos
de influência mística. Apresenta também discurso megalomaníaco, como se obtivesse todo o
poder e manifesta caráter paranoico.

Entende-se que Estamira usa um dos principais e mais conhecidos mecanismos de


defesa: a clivagem, o maior mecanismo dentro do conjunto de mecanismos primitivos contra a
angústia. No ego ou nos objetos, a clivagem causa um efeito de cisão: permite como se fosse
uma separação em duas partes, uma totalmente boa e outra totalmente ruim, não existe meio
termo para as pessoas, objetos ou si mesmo. Isso acontece originalmente de uma angústia
extrema da pessoa. É possível explicar tal situação tendo em vista um ponto primordial da
história de Estamira, já mencionada em partes no presente texto: entre os dois estupros que a
mulher sofreu, houve um que foi um estupro anal, neste ela pediu “pelo amor de Deus” para o
homem parar e ele respondeu “que Deus, o quê!”, essa situação foi uma virada de chave em sua
vida e ela tem raiva extrema de Deus, para ela Ele é estuprador, traidor, sujo. A protagonista
não se aguenta nem diante de seu neto pequeno lendo a bíblia, ela o xinga, não suporta nada
que falem de bom Dele ou idolatre. Desde então é, praticamente, tudo assim. Alguns exemplos
no documentário, como: “Não tem mais inocente, tem esperto ao contrário”; ou a igualdade
(comunismo) ou nada; Estamira se vê como perfeita; homem superior e Deus horroroso.

Uma frase do documentário que marca e demonstra sua angustia absurda é quando usa
a metáfora comparando as ondas do mar com a sua cabeça em “movimento”: “Minha cabeça
bate igual água do mar: tchá, tchá, tchá...Eu tô desgovernada: nervosa, querendo falar sem
poder, agoniada.”

Perante os sintomas apresentados, a médica orienta que Estamira permaneça em


tratamento psiquiátrico. Entretanto, ela demonstra aversão a sua medicação, diz que a Dra. está
dopando ela e que a mesma faz parte de uma quadrilha e é “copiadora”. Mostrou o desejo de
parar com a medicação de uma vez e se queixa de efeitos colaterais que apresenta após ingeri-
los. Tendo em vista os sintomas apresentados e, sobretudo, a fala incoerente e delirante,
chegamos na hipótese diagnóstica como sendo Esquizofrenia, por provavelmente ter uma pré-
disposição hereditária ao transtorno, levando em consideração o histórico de sua mãe que, de
acordo com Estamira, também tinha "perturbações" e que já chegou a ser internada em um
hospital psiquiátrico. Além dessa pré-disposição, outro fator que pode ter influenciado o
surgimento da doença, foram as experiências traumáticas vividas por Estamira durante sua vida.
A respeito da terapêutica, por mais que seja um transtorno sem cura, é recomendado para um
paciente diagnosticado com Esquizofrenia, acompanhamento terapêutico de boa qualidade e
medicação adequada, uma vez que é possível que sujeitos psicóticos tenham uma estabilização.
É necessário que o terapeuta fique em um lugar suplementar, como o que estabiliza o sujeito.
É importante também que o terapeuta não fique no lugar do Outro, na posição de suposto saber,
já que é uma posição muito invasiva para esses sujeitos e também, não faça interpretações que
invoquem o simbólico, já que essas são atitudes que podem desestabilizar o sujeito.

Referências Bibliográficas

BELO, Fábio. Estamira, 2021

BERGERET, Jean. A Personalidade Normal e Patológica (3 edição). Artmed Editora, 2015

MCWILLIAMS, Nancy. Diagnóstico Psicanalítico: Entendendo a Estrutura da Personalidade


no Processo Clínico-2. Artmed Editora, 2014.

SOUZA, Igor. Estamira - (quase) dez anos depois, 2013

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