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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESUMAR – CÂMPUS PONTA GROSSA

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

MARIA ALICE DALA LANA ZIMMERMANN

SAÚDE MENTAL, DEPENDÊNCIA QUÍMICA E REDUÇÃO DE DANOS

PONTA GROSSA
09/07/2021
1.0 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, pesquisadores vêm estudando incessantemente sobre o
campo das dependências. Isso fez com que várias teorias sejam apresentadas,
muitas vezes conflitando entre elas. Apesar das divergências, essa discussão torna-
se imprescindível, pois é a partir desses estudos que a política de prevenção,
metodologia e estratégias serão definidas.
Sobre esses estudos no campo das dependências, Bernardo (2014) destaca três
modelos de estudos: o modelo acadêmico, o modelo de doença e o modelo social. O
modelo acadêmico, “explica que a dependência química é causada pela adaptação
do corpo aos efeitos tóxicos das drogas em nível bioquímico e celular.”
(BERNARDO, 2014, p.11), ou seja, determinada quantidade de droga em certo
período de tempo gera mudanças nas células, causando dependência. A autora cita
quatro mudanças que caracterizam esse processo: a primeira delas é a tolerância –
precisar sempre de mais quantidade de droga para gerar o efeito esperado –
seguido pela necessidade do corpo em consumir a substância, a terceira é
caracterizada pela abstinência e por fim, a dependência psíquica, que Bernardo
(2014, p.12) explica: “Resulta da influência direta das drogas na química cerebral,
condicionando o usuário aos efeitos prazerosos proporcionados pelas substâncias.”.
O segundo modelo explanado pela autora é o modelo de doença. Aqui, a
dependência é considerada uma doença primária, progressiva, crônica e
potencialmente fatal. Já o último modelo descrito é o modelo social, e é nesse
modelo que se discute sobre como a “pressão de grupos, o estresse
físico/emocional e outros fatores ambientais levam os indivíduos a buscar, usar e
manter contínua dependência de drogas.” (BERNARDO, 2014 p. 13-14).
Um modelo muito utilizado na psicologia e na psiquiatria para combater a
dependência química é a redução de danos. Lancetti (2005) em seu livro a clinica
peripatética aborda esse tema. A redução de danos começou a ser implantada no
Brasil em setembro de 1996 e “é um programa que produz uma mudança na relação
do sujeito com a droga, sem optar pela via da abstinência” (LANCETTI, 2005, p.57).
Ou seja, aqui o princípio não é fazer guerra contra as drogas.
A redução de danos é uma política e uma prática de saúde pública e está
fundamentada em uma ideia muito simples: “minorar o efeito deletério do consumo
de drogas.” (LANCETTI, 2005, p.77).
A ideia da redução de danos é se aproximar da camada da população que é
usuária, antes mesmo de promover campanhas de combate às drogas. Se
aproximar para então intervir. Lancetti (2005, p. 61) comenta que “Mesmo que essa
estratégia não seja a mais adequada para os padrões de saúde pública ou de
convivência social, é assim que tem funcionado.”.
Outra discussão que o autor faz é sobre a cura pela abstinência. Ou seja, a ideia
de que reprimir a vontade do sujeito irá curá-lo da dependência. Mas, depois de um
tempo, essa vontade reaparece. Logo, essa estratégia não promove mudanças
fundamentais na história desse sujeito. Na hora de voltar para a realidade, encarar
uma sociedade que vive com drogas, uma vida angustiante, a recaída acontece,
porque a pessoa não aprendeu a conviver consigo mesma, não aprendeu a parar
para pensar sobre sua dependência.
A redução de danos, como já mencionado, não visa à abstinência. O autor
comenta que “pessoas que aplicaram princípios de redução de danos na própria
vida, foram diminuindo o uso de drogas e foram melhorando a qualidade do
consumo de drogas, mas muitas delas ainda não deixaram totalmente de usar
drogas.” (p.63). Além disso, compara a abstinência com a redução de danos: “a
proposta de abstinência é uma proposta que valoriza a possibilidade eminente de
fracasso e a redução de danos valoriza a possibilidade de vitória.”. (LANCETTI,
2005, p.67).
Diante do exposto, Lancetti (2005) afirma que redução de danos é tratamento
para o HIV, para a AIDS, para dependência química, para a delinquência, a violência
e para todos os itens que compõe o mundo das drogas. Além disso, o autor comenta
sobre a responsabilidade que as pessoas da sociedade padronizada têm sobre a
saúde mental dos periféricos, sobre como eles carregam um peso na sociedade que
todos deveriam carregar.
A redução de danos diz respeito à liberdade, a busca de autonomia, fazer por si
mesmo. “São elas que têm de se responsabilizar pela própria vida e ver que tem
muita coisa par se fazer, além de ficar o tempo todo tomando uma injeção ou
fumando ou pipando crack.”. (LANCETTI, 2005, p.75). A redução de danos é viável
por conta de ser uma possibilidade real, onde cada um traça sua própria história.
Por fim, o autor comenta sobre a guerra as drogas e como essa é fadada ao
fracasso, embora seja discurso de tantos políticos e tantos votos sejam computados
com essa justificativa. Lancetti defende a luta pela liberdade das pessoas, onde
todos devem estar deste lado. “Quando as pessoas têm autonomia, buscam por
liberdade, essa questão eleitoral fica mais fraca e a eleição nada mais é do que dar
aos outros a responsabilidade que é nossa, e fazendo isso, vamos nos frustrar
sempre.” (LANCETTI, 2005, p.76).
2.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNARDO, Maria Heloísa. A dependência química. Capivari – SP: Independa,


2014.

LANCETTI, A. Clínica Peripatética. São Paulo: Hucitec, 2005

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