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COMPREENSÕES PSICOLÓGICAS
SOBRE A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

RESUMO

Este estudo investiga as compreensões de algumas abordagens psicológicas sobre o


uso abusivo de substâncias psicoativas, ou para fins deste trabalho, a
dependência química. Inicialmente, apresentamos o desenvolvimento deste conceito por
refletir as transformações do entendimento sobre fenômeno, influenciado por fatores que não
se restringiam somente à esfera biológica. Entre os estudos encontramos hipóteses
formuladas por abordagens baseadas na teoria sistêmica, fenomelógico-existencial,
cognitiva e comportamental, antecedidas por compreensões de disciplinas como a
medicina e a sociologia. No entanto, no campo das compreensões psicológicas, a teoria
psicanalítica foi a que mais se deteve sobre o tema, refletindo numa extensa produção, e
portanto, sendo trazida com maior ênfase. Para tal, empreendemos uma revisão
bibliográfica expositiva, servindo-se de obras de referência e artigos indexados nas bases de
dados SciELO, LiLACS, PePSIC, tendo como critério a seleção dos trabalhos sua
contribuição para a identificação dos conceitos de dependência, das hipóteses etiológicas.

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1. INTRODUÇÃO

O II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, realizado em


2005, aponta que 12,3% das pessoas pesquisadas, com idades entre 12 e 65 anos, preenchem
critérios para a dependência do álcool (BRASIL, 2005). Frente a esse e outros resultados, de
pesquisas nacionais e internacionais, é necessário nos perguntarmos: de qual fenômeno estamos
falando?

Uma relação de dependência se estabelece quando há um investimento desproporcional do


sujeito sobre um objeto específico, de tal forma que, esse envolvimento prejudique a participação
em outras esferas da vida do sujeito (laboral, afetiva, social) (MORGADO, 1985).
No caso da dependência de substâncias psicoativas, estamos diante de um fenômeno que se
constitui a partir de três elementos: a substância, o indivíduo e o contexto sócio-cultural
(SILVEIRA, 1996). O que nos leva a considerar cada vez mais, a impossibilidade de uma única
instância ser capaz de fornecer o conhecimento sobre etiologia, seja ela biológica, psicológica ou
social (MOTA, 2007).
Inicialmente, a medicina ocupou o lugar central na tentativa de dar respostas ao uso massivo
de opiáceos, cocaína, álcool, considerando suas implicações para a saúde, a economia e a política,
num momento em que essa era uma questão abordada por julgamentos morais e respostas penais.
A aquisição de status que a profissão ganhava, especializando-se e reivindicando o reconhecimento
de sua autoridade científica, contribuiu para que o discurso médico assumisse uma posição de
destaque em relação à adição (BERRIDGE, 1994; MACRAE, 2001).
No que se refere à psicologia, não há uma teoria comum sobre as causas da dependência, mas
explicações construídas a partir de abordagens distintas, com enfoques diferentes. Nesse contexto,
as teorias da personalidade (modelo psicanalítico) e de aprendizagem (modelo comportamental) se
destacaram na produção de possíveis explicações para uma conduta adicta (MOTA, 2007). As
primeiras em decorrência do papel decisivo que teve para a refutação das teorias da degeneração
hereditária e também, por expandir o foco da psiquiatria para além de um público restrito
(indigentes, dementes e degenerados) (BERRIDGE, 1994). No segundo caso, a conformação com
o método científico, confere um lugar dentro dos debates intelectuais e maior aceitabilidade entre
os modelos biológicos que estudam o problema (SONENREICH; ESTEVÃO; FILHO, 2001).

Tendo em vista a dimensão psicológica, o presente trabalho visa investigar como a psicologia
compreende a dependência química, através de um enfoque na teoria psicanalítica. Para tal, a
experiência de estágio em um centro de convivência que tinha como objetivo facilitar o acesso à

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rede de serviços (saúde e sociais) foi de fundamental importância para despertar a curiosidade
sobre as particularidades que estão encobertas pelo rótulo da dependência química. Como
estudante de psicologia, me interessou a compreensão sobre os sentidos e as funções que as drogas
(como são conhecidas as substâncias psicoativas), ocupavam na vida das pessoas. No entanto, ao
entender que nem todo consumo de substância psicoativa, resulta em um problema para o sujeito,
é importante esclarecer que neste trabalho, nosso objetivo é investigar o uso na sua forma mais
problemática, ou seja, a dependência.
Para tal, utilizamos como metodologia, a revisão bibliográfica expositiva, selecionando
textos encontrados em obras de referência e artigos indexados nas bases de dados SciELO,
LILACS e PePSIC. O critério de seleção foi a relevância da obra e sua possível contribuição para
a identificação dos conceitos, das hipóteses etiológicas e das hipóteses comportamentais e
psicodinâmicas da dependência. Selecionamos trabalhos que apresentavam: a evolução dos
conceitos de dependência e suas possíveis etiologias, as perspectivas sociológicas sobre o
problema, as contribuições no campo da psicologia e a abordagem da Organização Mundial da
Saúde, órgão responsável para tratar dos assuntos relacionados ao consumo de substâncias
psicoativas (BERRIDGE, 1994; BABOR, 1994; MORGADO, 1985; MOTA, 2007;
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004).

O consumo de substâncias psicoativas nem sempre foi entendido como uma doença. Até o
séc. XIX atrelava-se à uma deficiência de caráter, cujo indivíduo tinha o poder de escolha entre o
consumo ou não. No entanto, com a distinção entre o controle sobre o uso e a falta dele, a
concepção de doença sobre este último, passa a ser largamente adotada. Dessa maneira, por ser
considerada como doença, diversos investimentos são feitos com o objetivo de identificar a(s)
causa(s) da dependência (BERRIDGE, 1994; GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006).

Na década de 50, a influência das tendências científicas enfatizava o nível bioquímico da


dependência, acarretando num postulado que atrelava, em grande parte, os fenômenos da
dependência às propriedades farmacológicas das substâncias psicoativas (BERRIDGE, 1994;
MORGADO, 1985).
No entanto, ao dispor de recursos teóricos imprescindíveis, a abordagem sociocultural
contribuiu para uma compreensão interdisciplinar da questão através das análises sociais e
históricas, que devem ser estudadas em consonância com as interpretações biológicas e
psicológicas, evitando assim uma abordagem unidimensional (BUCHER, 1992).

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2. DEPENDÊNCIA QUÍMICA: A EVOLUÇÃO DO CONCEITO

Uma relação de dependência se estabelece quando há um investimento desproporcional do


sujeito sobre um objeto específico, de tal forma que, esse envolvimento prejudique a participação
em outras esferas da vida do sujeito (laboral, afetiva, social) (MORGADO, 1985).
Ao se tornar o órgão responsável pelos assuntos relacionados às substâncias psicoativas, a
Organização Mundial de Saúde (OMS), antes de buscar medidas para lidar com o problema da
dependência, deu início a produção de definições que objetivavam designar o consumo compulsivo
de uma determinada substância e suas características. A partir dessas definições, surgiam também,
formas diferentes de abordar o fenômeno (BERRIDGE, 1994).

Inicialmente, houve uma separação dos conceitos de hábito e vício, e posteriormente sua
substituição pelo conceito de dependência, devido à conotação moral imbuída no termo vício.
Surge então, a proposta de diferenciar as drogas que produziam apenas dependência física, das que
produziam apenas dependência psicológica. Por observar o consumo compulsivo de substâncias
que aparentemente não produziam dependência, bem como, casos em que ocorriam a interrupção
do uso, sem grandes dificuldades, de substâncias como a morfina, que se associavam a grave
dependência física (CRUZ, 2002).

Duas situações específicas nos servem para ilustrar a diferenciação feita sobre as
dependências físicas e psicológicas. Durante a Guerra de Trincheira, o tratamento das neuroses de
guerra motivou pesquisas que levaram ao reconhecimento dos fatores psicológicos envolvidos na
dependência. Refutando o argumento sustentado pelas teorias da degeneração hereditária, que
defendiam a existência de uma causa orgânica, transmitida hereditariamente. Influência que se
manteve presente durante várias décadas no pensamento psiquiátrico (DRUMONND, 1992;
STONE, 1985 apud BERRIDGE, 1994).
Da mesma maneira, um estudo emblemático realizado com soldados enviados à Guerra do
Vietnã, constatou que durante o período da guerra, 43% da amostra (13.760 soldados) consumia
alguma substância psicoativa, e dentro desse percentual, 20% tornou-se dependente de heroína,
reconhecida pela alta capacidade de causar dependência. No entanto, ao contrário do esperado, ou
seja, a permanência dessas taxas após o regresso da tropa, o que ocorreu foi que dos 20% de
soldados que haviam se tornado dependentes, apenas 1% manteve-se nessa condição. Esses
resultados apontaram para a evidente importância do contexto sociocultural, no estabelecimento
de relações de dependência com determinada substância psicoativa (ROBIN e col. 1974 apud
MORGADO, 1985).

Ainda assim, mesmo com as descobertas envolvendo a dependência, as mudanças das


definições oficiais adotadas não representavam as evoluções obtidas no entendimento do

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fenômeno, já que mantiveram o postulado de que eram as propriedades farmacológicas que
engendravam a dependência (MORGADO, 1985).

Na década de 50, a influência das tendências científicas enfatizava o nível bioquímico da


dependência, acarretando num postulado que atrelavam, em grande parte, os fenômenos da
dependência às propriedades farmacológicas das substâncias psicoativas (BERRIDGE, 1994;
MORGADO, 1985). Por sua vez, as críticas embasadas por evidências que invalidavam esse
pensamento, impulsionaram a continuidade na formulação de conceitos que visassem abranger
todos os fatores (biológicos, psicológicos e sociais) envolvidos no desenvolvimento e
estabelecimento do problema (CALANCA, 1991).
Frente a essa situação é importante trazermos as tentativas sociológicas de definir a
dependência, que nos ajudam a ampliar o entendimento do problema, para além do sujeito em sua
dimensão biológica.

As perspectivas mediacionais, destacavam as desigualdades das estruturas sociais, que


criariam condições para o desenvolvimento e manutenção da dependência. Na perspectiva
construcionista, a dependência é entendida como um conceito cultural, que envolve uma variedade
de significados e funções, independente das sequelas fisiológicas que muitas definições apresentam
(BABOR, 1994). De acordo com essa compreensão, não existiriam droga a priori, pois são a
atividade simbólica e o conjunto das motivações do consumidor, que transformariam uma
substância psicoativa em droga. Esta perspectiva privilegia a noção do sujeito ativo e não,
necessariamente, dotado de uma personalidade patogênica (BUCHER, 1992; MACRAE, 2001).
A terceira e última perspectiva chamada é chamada de rotuladora, e se relaciona com a
anterior (construcionista), ao apresentar a dependência em termos do que seria o papel do doente,
criado pelas expectativas sociais. Essas expectativas interfeririam no comportamento, no padrão
de uso e no estabelecimento da dependência, a medida em que o sujeito que faz o uso de alguma
substância psicoativa, aceitasse o rótulo que lhe é conferido. (BABOR, 1994).

Ao dispor de recursos teóricos imprescindíveis, a abordagem sociocultural contribuiu para


uma compreensão interdisciplinar da questão através das análises sociais e históricas, que devem
ser estudadas em consonância com as interpretações biológicas e psicológicas, evitando uma
abordagem unidimensional (BUCHER, 1992).
No conceito de farmacodependência, desenvolvido em 1969, os fatores sociais ainda não são
mencionados entre causas:

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sempre incluem um impulso a utilizar a substância de modo contínuo ou periódico, com
a finalidade de experimentar seus efeitos psíquicos e, algumas vezes, de evitar o
desconforto da privação. A tolerância pode estar presente ou não (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 1969 apud SILVEIRA, 1996).

Atualmente, a mudança é percebida nos fatores considerados pela OMS - prejuízos sociais,
ocupacionais e psicológicos, além dos fisiológicos – para o estabelecimento do diagnóstico de
dependência. Porém, o reconhecimento da complementaridade entre os fatores biopsicossociais,
na configuração de um consumo compulsivo de uma ou mais substâncias, não foram suficientes
para mudar o pensamento hegemônico, de que cabem as abordagens biológicas (médicas e
farmacológicas) o papel de tratar a questão (CRUZ, 2002).

2.1 Hipóteses etiológicas


O consumo de substâncias psicoativas nem sempre foi entendido como uma doença. Até o
séc. XIX atrelava-se à uma deficiência de caráter, cujo indivíduo tinha o poder de escolha entre o
consumo ou não. No entanto, com a distinção entre o controle sobre o uso e a falta dele, a
concepção de doença sobre este último (sem controle), passa a ser largamente adotada. Dessa
maneira, por ser considerada como doença, diversos investimentos são feitos com o objetivo de
identificar a(s) causa(s) da dependência (BERRIDGE, 1994; GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006).
Nas ciências biológicas, as hipóteses etiológicas, baseiam-se na ideia de predisposição
orgânica e hereditária de alguns sujeitos, que interferem na vulnerabilidade para o desenvolvimento
da dependência. Essas concepções surgiram num contexto em que as ciências positivistas,
ganhavam notoriedade ao propor medidas combativas para os problemas sociais, a exemplo da
criminalidade, do alcoolismo e da prostituição (MOTA, 2007).

No trecho abaixo, podemos vislumbrar o entendimento do fenômeno, no século XIX, através


das ideias da predisposição fisiológica:

[...] a insanidade hereditária deve-se à transmissão de pai para filho, não de pensamentos
anormais, mas sim do próprio tecido cerebral mórbido, onde originam-se tais pensamentos.
De maneia similar, o bebedor não transmite a sua prole o desejo intenso pelo álcool, mas
sim o tecido corporal orgânico anormal, que dá origem a este desejo (HARLEY, 1884 apud
BERRIDGE, 1994, p. 18).

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A medicina foi uma das disciplinas que se entusiasmaram, com as possibilidades de resolução
dos problemas sociais, através da aplicação dos conhecimentos hereditários, que caracteriza a
eugenia, utilizando-as para fundamentar suas práticas (MOTA, 2007).
Seguindo essa tendência, as associações entre a hereditariedade e a dependência continuam
a ser pesquisados, com vistas a esclarecer os enigmas da etiologia que as categorias diagnósticas
psiquiátricas, não foram capazes de solucionar. Para tal, emprega-se o modelo epigenético que
“compreende a herança genética das vulnerabilidades e sua modulação ao longo dos anos pelos
efeitos ambientais” (p.55) Por seu caráter complexo, a dependência química é comparada a doenças
como a diabetes e a hipertensão, em decorrência do seu efeito genético ser proveniente de vários
genes que atuam em conjunto, gerando uma situação de vulnerabilidade, junto à ação ambiental
(MESSAS; VALLADA FILHO, 2004).
No relatório de neurociências sobre o consumo e a dependência de substâncias psicoativas,
produzido pela OMS, a dependência é vista como um transtorno cerebral, que causa alterações nas
funções cerebrais, desde o nível molecular e celular até alterações em processos cognitivos
complexos. A possibilidade de herança genética, que venha a explicar as variações de consumo
também é abordada no documento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004).
Além da perspectiva dos determinantes hereditários, as ciências biológicas se valeram de
outro modelo explicativo, baseado nas descrições dos quadros explicativos da abstinência, que
justificavam o uso contínuo de uma substância, para evitar o sofrimento causado por sua falta no
organismo. Mesmo não sendo corroborada pela prática, a ideia da abstinência como suficiente para
explicar a causa da dependência e outras questões do uso de drogas, foram e são até hoje, bastante
difundidas (CRUZ, 2002; GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006).
A compreensão do fenômeno da dependência, pelo modelo biológico de doença é criticável
na medida em que:

[...] baseia-se em modelos genéticos controversos e em generalizações questionáveis de


determinados experimentos para o fenômeno da dependência como um todo; não descreve
uma história natural da relação do indivíduo com o produto, prescindindo, portanto, de uma
teoria da dependência; não abrange grande contingente de casos que, embora não
preencham critérios para sua inclusão nesta categoria nosológica, correlacionam-se com
taxas de morbidade e mortalidade diretamente ligadas ao consumo de álcool e drogas
(SILVEIRA, 1996 p.11).

Se por um lado, a ideia de doença implica na ausência ou abrandamento da responsabilidade


do sujeito sobre seus atos, principalmente sobre a condição de estar doente, acompanhado por

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concepções que perpetuam a noção de incurabilidade e impotência diante do mal (CRUZ, 2002).
O compartilhamento massivo da perspectiva que analisa o problema através de suposições sobre
distúrbios de personalidade, oriundos de causas orgânicas, endossam o imaginário de que o
contexto social, pouco tem a ver com o desenvolvimento e a manutenção da condição de
dependente (MOTA, 2007).

3. COMPREENSÕES PSICOLÓGICAS

Formada por sistemas teóricos distintos, a psicologia não dispõe de uma teoria comum sobre
a (s) causa (s) da dependência de substâncias psicoativas. Como resultado, encontramos a
elaboração de diferentes hipóteses, que dão destaque a determinados elementos, de acordo com
sua leitura acerca do funcionamento psíquico e/ou as relações estabelecidas entre os homens e o
meio. Contudo, as teorias da personalidade (modelo psicanalítico) e de aprendizagem (modelo
comportamental) se destacaram na produção de possíveis explicações para uma conduta adicta. De
forma resumida, nos modelos psicanalíticos, a dependência é compreendida como um sintoma e
não necessariamente como causa. Na tentativa de viver continuamente sobre o domínio do
princípio do prazer, o sujeito incorpora a sua rotina um hábito de consumo de substâncias
psicoativas que vem a gerar a dependência (MOTA, 2007).
Por sua vez, no modelo inspirado nas teorias de aprendizagem, a dependência se originaria a
partir de uma estratégia habitual de automedicação, na tentativa de debelar sentimentos como
ansiedade, raiva ou depressão (MOTA, 2007).

Neste capítulo, apresentaremos as concepções psicológicas sobre o fenômeno, baseadas em


aportes teóricos distintos, para em seguida, nos determos sobre as perspectivas comportamentais e
psicanalíticas.
Na abordagem sistêmica, o foco da atenção terapêutica recai sobre as relações interpessoais
que se dão no seio familiar, entendida como um sistema de forças (SEADI, 2007). Nessa
perspectiva, o conceito de dependência é entendido enquanto um mecanismo natural de adaptação,
em que o sujeito busca uma solução para questões que exigem uma resposta adaptada. Desta
maneira, recorre-se a droga como algo que irá conferir ao sujeito uma competência relacional que
lhe falta em determinados contextos (SUDBRACK, 2000).
Outra visão, dentro da abordagem sistêmica, enxerga o sujeito dependente como portador do
sintoma da disfunção familiar, que contribui para a manutenção da mesma, na medida em que seu
consumo retira o foco dos problemas relacionais existentes entre os outros membros da família
(ORTH, 2005).

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Na abordagem fenomenológico-existencial, a dependência constitui-se como uma
possibilidade de escolha dentre as possíveis disponíveis no mundo. Essa escolha, pelo uso de
psicoativos, é tida como inautêntica e deliberada, ao transferir para a droga o seu projeto de existir
(OLIVEIRA, 2007). Para a Gestalt-terapia, de base fenomenológica- existencial, as pessoas
reconhecidas como dependentes, estão fora de seu equilíbrio ótimo, frequentemente incapazes de
perceber quais as suas necessidades. Ocorrendo então, alterações nos processos funcionais de
contato e afastando, distorcendo a existência do sujeito enquanto ser unificado (TELLEGEN, 1984;
PIMENTEL, 2003 Apud OLIVEIRA, 2007).

Com o foco na reestruturação de cognições disfuncionais, a teoria cognitiva acredita que a


dependência é resultado da interação entre o contato inicial com a droga e as cognições que se
formarão por influência das crenças básicas (SILVA; SERRA, 2004).
A partir de crenças básicas disfuncionais, o sujeito faz suposições de como deverá agir diante
de situações específicas, criando uma espécie de ciclo, repetindo o mesmo comportamento em
ocasiões similares. Para aliviar o desconforto, em decorrência dos sentimentos suscitados pela
crença básica disfuncional, criam-se então as chamadas estratégias compensatórias. Nesse caso o
consumo de uma substância psicoativa, como estratégia compensatória, poderá desenvolver um
novo grupo de crenças que manterá relação com a crença básica (SILVA, 2004).

Por representarem os modelos que mais contribuíram para o entendimento da dependência,


iremos discorrer sobre as hipóteses comportamentais mais atuais para a etiologia do problema.

3.1 Perspectiva comportamental


Para a teoria comportamental, todo comportamento é conseqüência da interação do indivíduo
com seu ambiente. São os eventos ambientais que determinam o comportamento, e não a
consciência e o autocontrole. No modelo do reforço, a manutenção e a extinção de determinados
comportamentos são explicadas pelos conceitos de reforço e punição.

Pensando no consumo de substâncias psicoativas, estas são entendida como um estímulo cuja
função dependerá das consequências produzidas e do contexto em que é administrada. A repetição
do consumo ocorreria pelo papel reforçador da substancia, ou seja, a substancia pode desempenhar
um papel de reforçador positivo, onde o aumento da probabilidade de repetir o uso estaria
relacionado às consequências recompensadoras, prazerosas, desse consumo. Na função de
reforçador negativo, o aumento do consumo da substância se justificaria pela retirada de algo
aversivo, desagradável, à exemplo, afastar/ aliviar os sintomas da abstinência (GARCIA-
MIJARES; SILVA, 2006).

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Entretanto, o modelo do reforço possui restrições para explicar a dependência. Se o
comportamento não é controlado somente pelos reforçadores, mas também pelos punidores (que
diminuem a probabilidade do comportamento), como justificar a manutenção do comportamento
de consumir substâncias psicoativas, quando as conseqüências aversivas (na saúde, trabalho,
família) são maiores do que os reforços propiciados pelo consumo (GARCIA-MIJARES; SILVA
2006)?

Frente a essas objeções, teorias atuais da dependência que entendem o problema como
resultante de um processo de aprendizagem, onde a substância e os estímulos associados a seus
efeitos adquirem controle potente sobre o comportamento, são propostas para explicar a etiologia
da dependência. Apresentaremos essas teorias, que se diferenciam quanto aos processos de
aprendizagem envolvidos (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006).
A teoria comportamental como escolha, desenvolvida por Heyman (1996 apud GARCIA-
MIJARES; SILVA, 2006), entende que a dependência é um processo em que o consumo repetido
da substância, diminui progressivamente o valor reforçador de outras atividades, por serem as
substâncias psicoativas um reforçador atípico (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006).

A estratégia de escolha que controla o comportamento do indivíduo é base da explicação


para o desenvolvimento da dependência. Nesses casos, o sujeito se vale da estratégia de melhoração
(sic), que tem como objetivo obter o maior benefício no momento, ou seja, escolhem-se as
alternativas, que possuam maior taxa de reforço local. A escolha em recorrer a essa estratégia varia
de acordo com as contingências. (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006).
Outra teoria que visa explicar a dependência é a teoria da sensibilização, que propõe que a
dependência acontece porque a administração repetida de uma substância psicoativa causa
mudanças cerebrais (sensibilização neural), que tornam os sistemas associados à motivação,
hipersensíveis aos efeitos das substâncias. Desta forma, qualquer estímulo associado à substância
psicoativa acarretará num comportamento de procura e consumo da substância (GARCIA-
MIJARES;SILVA, 2006).
Por fim, a teoria neurobiológica de Kalivas e outros (2005 apud GARCIA-MIJARES;
SILVA, 2006), integra as duas primeiras, descrevendo as mudanças no circuito do reforço que
acontecem no processo de dependência. O consumo repetido de psicoativos produziria mudanças
no sistema nervoso, em vias dopaminérgicas e glutamatérgicas especificas, que ocasionariam a
diminuição do valor reforçador de estímulos naturais, com o aumento da resposta à estímulos
associados com a substancia, alterando o comportamento de escolha (GARCIA-MIJARES;
SILVA, 2006).

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No que concernem as técnicas, a abordagem comportamental possui grande reconhecimento
no tratamento da dependência, sendo largamente recomendados por guias terapêuticos médicos,
pela sua aceitabilidade na área psiquiátrica (SONENREICH; ESTEVÃO; FILHO, 2000).
É importante ressaltar a existência de diversas terapias denominadas cognitivo-
comportamentais, havendo em comum entre elas a influência da cognição sobre o comportamento
e a modificação do comportamento que pode ser realizado por mudanças cognitivas (MARQUES;
SILVA, 2000).
Entretanto, mesmo com o reconhecimento e a recomendação sobre a utilização das técnicas
oriundas das teorias comportamentais e cognitivas, nos casos de dependência de álcool, cerca de
50 a 60% dos pacientes não se beneficiam desses procedimentos (RAMOS; WOITOWITZ, 2004).
Para nós, esse tipo de dado é importante na medida em que aponta para a necessidade de produção
de explicações plurais, que explorem elementos distintos do fenômeno, e assim, contribuam na
construção de propostas terapêuticas capazes de agregar aqueles que não se beneficiem dos
métodos padrões.

3.2 Perspectiva psicanalítica


O foco deste trabalho na compreensão da teoria psicanalítica, em relação ao fenômeno da
dependência, se deu em virtude do reconhecimento da influência fundamental da psicanálise, para
a clínica psicológica. O método psicanalítico, operou uma mudança em relação aos métodos
terapêuticos da clínica médica, ao dar à escuta o lugar central na busca diagnóstica, em contraponto
às observações e uso de complexas tecnologias, lançados mão pela clínica biomédica (MOREIRA
et al., 2007).
A tarefa diagnóstica passou a objetivar o conhecimento e reconhecimento das formas de
aparecimento dos transtornos, indo além da identificação categórica, mas detectando e
interpretando o funcionamento de organizações psíquicas inconscientes, próprias das alterações
manifestas (SAURÍ, 2001).
Para a investigação de um consumo prejudicial de substâncias psicoativas (dependência), o
método psicanalítico foi além das constatações biológicas e observáveis através do comportamento
do sujeito. Pois, diante das particularidades que diferenciam as toxicomanias dos outros fenômenos
psicopatológicos, o conhecimento sobre este, só se dá a partir da fala do sujeito identificado como
toxicômano (BUCHER, 1992).

Então, à constatação de que a dinâmica inconsciente possuía um papel importante no


desenvolvimento da dependência, abriu-se espaço para a produção de várias teorias dinâmicas
sobre a gênese dos comportamentos aditivos (MOTA, 2007).

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A produção dessas teorias não garantiu à psicanálise um corpus teórico consistente, que se
atenha sobre a drogadição, em suas diversas formas de uso, incluindo a toxicomania. Essa
constatação é vista com surpresa, tendo em vista que o fenômeno pode suscitar diversos
questionamentos passíveis de serem explorados pela psicanálise (BUCHER, 1992).

No entanto, as críticas apresentadas por Bucher (1992), sobre a escassez de estudos na teoria
psicanalítica sobre a toxicomania, não desconsidera as reflexões psicanalíticas sobre o assunto,
mas a falta de articulação entre as hipóteses desenvolvidas pelas diversas escolas.
Porém, antes de expor algumas interpretações, é preciso fazer algumas considerações sobre
o termo toxicomania, que nasceu no campo médico, no fim do século XIX, associado aos sentidos
de degenerescência, imoralidade e paixão. A psicanálise passa a utilizá-lo para se referir à
intoxicação crônica de substâncias psicoativas (BENTO, 2006; RIBEIRO, 2008).
As primeiras investigações de Freud, sobre as substâncias psicoativas, em especial a cocaína,
foram realizadas enquanto atuava como neurologista. Seu interesse era em relação aos possíveis
benefícios da cocaína ao organismo. Desde este momento que podemos chamar de pré-
psicanalíticos, a abordagem empreendida por Freud ia de encontro com as formulações
psiquiátricas da época, que creditavam à cocaína a causa por alguma espécie de lesão funcional
(RIBEIRO, 2008).

Inicialmente, as hipóteses freudianas sobre o consumo de cocaína, acreditavam que o


organismo poderia ser capaz de realizar uma maior quantidade de trabalho com um menor gasto
de energia, promovendo um efeito econômico. Em seguida, surgiu a proposição de que os efeitos
da cocaína seriam diferentes para cada pessoa. A semelhança entre os efeitos da cocaína e os efeitos
da libido, que intoxicam o corpo, produzindo o efeito da economia da energia, também é observada
nas formulações pré-psicanalíticas e são reconsideradas quando, uma possível relação entre as
toxicomanias e o narcisismo são propostas. Foi a partir da fundação da psicanálise, que Freud
passou a enfatizar o papel desempenhado pelas substâncias psicoativas na economia psíquica
(RIBEIRO, 2008).
Em suas teorizações e constantes mudanças, Freud situou a dependência não na relação do
humano com a substância, mas no vinculo desenvolvido com o objeto, ou ainda, na forma como o
objeto permite ao sujeito relacionar-se com os outros ao seu redor (RIBEIRO, 2008).
Apesar dessas investigações com a cocaína, a problemática das toxicomanias se encontra
escassa no percurso freudiano. Existem referências esparsas à psicose alcoólica e indagações sobre
a relação da mania com a ingestão das drogas estimulantes (BIRMAN, 2005).
Foram as investigações de Radó (1926), com a elaboração do conceito de orgasmo
farmacogênico (apoiado no conceito de orgasmo alimentar do erotismo oral), que tiveram um efeito
marcante no pensamento psicanalítico. O consumo da substância psicoativa é articulado no registro

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da oralidade, de forma que o sujeito toxicômano viveria a demanda repetida da incorporação de
um objeto capaz de lhe restituir a completude perdida do orgasmo alimentar. (BUCHER, 1992;
BIRMAN, 2005).
A influência dessa perspectiva fez com que surgissem interpretações que abordam uma
relação materna insatisfatória, como se o toxicômano buscasse com a substância psicoativa, uma
figura materna preenchedora, que lhe faltou na história infantil (BUCHER, 1992; BIRMAN, 2005;
MOTA, 2007).
As críticas direcionadas a essa interpretação da toxicomania, se dão pela falta de relação com
uma dimensão estrutural dessa modalidade de funcionamento mental (BIRMAN, 2005). A busca
por uma estrutura exclusiva da toxicomania provoca discordância entre os trabalhos pós-
freudianos, Zafiropoulos (1984) e Olivenstein (1983) pressupõem uma estrutura, ou uma
preexistência para a toxicomania, que é de difícil definição (BUCHER, 1992). Por outro lado,
Melman (1989), acredita que é a droga que cria o estado de adição por provocar “a suspensão da
existência” (MELMAN, 1989 apud BUCHER, 1992). Ao questionar essa ideia, Freda (1989),
endossa o lugar do sujeito no desenvolvimento de uma dependência, dizendo que “é o toxicômano
que faz a droga”, pois conceder aos efeitos das substâncias psicoativas a preeminência sobre o
desenvolvimento da toxicomania é concordar com um determinismo mecânico que torna inviável
uma concepção de sujeito (FREDA, 1989 apud BUCHER, 1992).
Sem chegar a uma resposta final, sobre a existência ou não de uma quarta estrutura,
permanece a ideia de que a manifestação toxicomaníaca, não é exclusiva de uma das três estruturas
propostas (neurose, psicose, perversão). Sendo a importância de cada estrutura, na relação
estabelecida com o objeto droga (GIANESI, 2005).
A manutenção das hipóteses do estado-limite e a hipótese da problemática narcísica, por
considerá-las mais cautelosas, críticas, autocríticas e mais adequadas para passarem pelo “crivo da
experiência clínica” (BUCHER, 1992 p.281), é defendida por Bucher (1992), tendo o estado atual
da questão. A primeira, desenvolvida por Glover (1932), postula que tal estado é criado por uma
reação específica em decorrência de fantasias sexuais primitivas. Estas operariam uma transição
entre a fase psicótica precoce e a fase neurótica (BUCHER, 1992).
A referência ao narcisismo, concebida por Freud, destaca as substâncias psicoativas como a
alternativa mais interessante na tentativa de amenizar o mal-estar, causado pela renúncia da
satisfação total dos desejos. Essa característica dos psicoativos passou a ser vista, como capaz de
promover um redirecionamento da libido investida nos objetos, para o eu (ego), de tal forma que
há um desinvestimento do mundo externo, que quando bem-sucedido, ocasiona o abandono de
outras atividades (RIBEIRO, 2008).

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Por fim, o recurso da droga pode ser usado para lidar com a dor de existir, o sofrimento de
sua divisão subjetiva, o insuportável do impossível da relação sexual e o mal-estar existente na
cultura e nos laços sociais. E é essa diversidade de objetivos, para os quais as substâncias
psicoativas podem ser utilizadas, que denotam as singularidades que cada sujeito irá estabelecer
com as drogas (OLIVEIRA, 2010).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, percebemos que as investigações sobre a etiologia da dependência


química encontram diversos caminhos a serem trilhados, até mesmo dentro de uma disciplina,
como é o caso da psicologia, bem como de um campo, pensando então na psicanálise.
A própria definição do conceito, serve para exemplificar a diversidade de entendimentos que
se construíram ao longo dos anos. O lugar, antes ocupado pela medicina, ainda precisa ser
questionado, não no intuito de deslegitimar os avanços conferidos por esse discurso, mas para abrir
espaço para outros saberes que ampliam a compreensão de um fenômeno de bastante
complexidade, e consequentemente, passível de leituras diversas.
Longe de esgotar o assunto, buscamos contribuir para a difusão do pensamento de que, em
se tratando de dependência de drogas, uma única resposta não é possível. Sendo necessária a
consideração de diversos fatores que configuram o problema e que estão para além da dimensão
biológica do sujeito.

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Inserção do psicólogo na atenção básica: uma visão integral
na atenção a usuários de álcool e drogas

(Psychologist insertion in primary care: a comprehensive view on


the attention to alcohol and drug users)

Resumo. Este capitulo, através de revisão bibliográfica, aborda o


crescimento de problemas individuais e coletivos relacionados ao consumo
de álcool e drogas. A Atenção Básica através da Estratégia de Saúde da
Família é a estrutura do SUS mais viável para apoiar a reinserção social
do dependente químico, pois a mesma coexiste na realidade do mesmo.
Considera-se relevante a abertura de espaços para se repensar e pesquisar a
função do psicólogo na saúde pública, em especial na atenção básica. Conclui-
se que, através do trabalho do psicólogo junto a equipe na atenção básica pode-se
reconhecer as necessidades e subjetividades do ser humano a ser atendido
embasado em uma abordagem integral e humanística.

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Introdução

A progressiva descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS) exige que se aplique


e reflita em relação ao principio da integralidade. Entendemos a integralidade no cuidado de
pessoas, grupos e coletividade tendo o usuário como sujeito histórico, social e político,
articulado ao seu contexto familiar, ao meio ambiente e a sociedade na qual se insere
(MACHADO, 2007). Nessa lógica, o desenvolvimento de pesquisas, no reconhecimento dos
aspectos biológicos, psicológicos e sociais relativos à saúde da população, viabilizando dentro
da realidade a objetividade do atendimento oferecido à mesma, é de grande relevância. Nessa
perspectiva, este artigo pretende discutir aspectos da saúde mental na Atenção Básica e
atuação do psicólogo dentro desse contexto, focalizando essa integralidade e busca de
soluções concretas de intervenção para maior eficácia na reinserção social de dependentes
químicos após internação em instituições terapêuticas especializadas.
A diversidade e constante crescimento de problemas individuais e coletivos da
sociedade relacionados ao consumo de drogas permite dizer que o uso compulsivo/obsessivo
de substâncias psicoativas é um fator de altíssima relevância dentro dos estudos sobre a saúde
pública, pois a mesma necessita de maior intervenção nas ações de prevenção, tratamento e
principalmente, reinserção social destes usuários (BRASIL, 2006). Segundo o Relatório
Mundial sobre Drogas de 2015 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes
(UNODC) estima-se que um total de 246 milhões de pessoas - um pouco mais do que 5% da
população mundial com idade entre 15 e 64 anos - tenha feito uso de drogas ilícitas em 2013.
Cerca de 27 milhões de pessoas fazem uso problemático de drogas, das quais quase a metade
são pessoas que usam drogas injetáveis (PUDI). Estima-se que 1,65 milhão de pessoas que
injetam drogas estavam vivendo com HIV em 2013. Homens são três vezes mais propensos
ao uso de maconha, cocaína e anfetamina, enquanto que as mulheres são mais propensas a
usar incorretamente opióides de prescrição e tranquilizantes. A ONU enfatiza em seu
relatório que o Brasil é um país vulnerável ao tráfico de cocaína, devido à sua geografia
estratégica no tráfico para a Europa, e também ao fato de ser um mercado consumidor devido
à grande população urbana. Citando dados da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre
Drogas), o estudo indica que 3% dos estudantes universitários, de todas as idades, usam
cocaína.

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Metodologia

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, estudo descrito e exploratório, relacionado à


atuação do psicólogo em situações envolvendo álcool e drogas através da integralidade das
ações na atenção básica. Foi realizado levantamento bibliográfico nas bases de dados
SCIELO e Google Acadêmico e sites específicos de programas governamentais.
As palavras chaves utilizadas foram: serviços de saúde mental, atenção básica,
psicologia

Referencial Teórico

Políticas Públicas direcionadas a álcool e drogas no Brasil

Estrategicamente, as ações do governo para reduzir as consequências do uso de


entorpecentes estão vinculadas, basicamente, em ações de segurança pública, no combate ao
tráfico e redução da oferta; ações em saúde e assistência social, na recuperação dos indivíduos
com transtornos mentais e comportamentais relacionados ao uso; e ações em educação e
informação, focadas na prevenção do uso (BRASIL, 2013).
Muitas são as instituições junto à sociedade civil que têm se proposto a desenvolver
um trabalho de assistência e tratamento a dependentes químicos: grupos anônimos, clínicas ou
casas de recuperação, hospitais, etc. O número delas cresce à medida em que a demanda
aumenta, levando grupos, comunidades, associações, clubes de serviços e igrejas a
organizarem trabalhos de atendimento a esse segmento. As propostas oferecidas para o
atendimento a essa população específica variam de acordo com a visão de mundo e
perspectiva ideológica e religiosa dos diferentes grupos que propõe alternativas de tratamento.
O atendimento a pessoas com problemas resultantes do uso e/ou abuso de substâncias
psicoativas e portadores de outros transtornos psiquiátricos, devem seguir o modelo
psicossocial, padrão este estabelecido pela Resolução – RDC nº 101, de 30 de maio de 2001
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. O modelo psicossocial é entendido
como sendo:

Serviços de atenção a pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de


substâncias psicoativas (SPA), em regime de residência ou outros vínculos de

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um ou dois turnos, segundo modelo psicossocial, são unidades que têm por
função a oferta de um ambiente protegido, técnica e eticamente orientados,
que forneça suporte e tratamento aos usuários abusivos e/ou dependentes de
substâncias psicoativas, durante período estabelecido de acordo com programa
terapêutico adaptado às necessidades de cada caso. É um lugar cujo principal
instrumento terapêutico é a convivência entre os pares. Oferece uma rede de
ajuda no processo de recuperação das pessoas, resgatando a cidadania,
buscando encontrar novas possibilidades de reabilitação física e psicológica, e
de reinserção social (ANVISA, 2001, p.2).

A internação, em qualquer de suas modalidades, só será iniciada quando os recursos


extra-hospitalares se mostrarem insuficientes (BRASIL, 2001). O tratamento em regime de
internação, de acordo com a lei, será estruturado de forma a oferecer assistência integral à
pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social,
psicológicos, ocupacionais, de lazer e outros.
A Lei No 10.216, de 6 de abril de 2001 (BRASIL, 2001), diz ainda, que a internação
para tratamento da dependência química somente será realizada mediante laudo médico
circunstanciado que caracterize os seus motivos. São considerados os seguintes tipos de
internação: voluntária (aquela que se dá com o consentimento do usuário); involuntária
(aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro); e compulsória
(aquela determinada pela Justiça).
Em decorrência, ao término do tratamento, o que geralmente dura 6 meses, o sujeito
recuperado se vê diante de outro desafio: o retorno ao meio sócio-familiar. Trata-se do
reinicio das relações no âmbito da família, do trabalho, da escola. Essa é a chamada
reinserção social. Etapa decisiva para o seu retorno ou não do individuo ao consumo de
drogas. Dependerá de como essa reinserção é trabalhada, enfrentada e assumida por todos os
envolvidos nesse processo: profissionais, egressos e familiares.
O Art. 4o.§ 1o diz, “O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção
social do paciente em seu meio”.
Em seus 12 artigos, a Lei 10.216/01 estabelece que o tratamento dos portadores de
transtornos mentais visará como finalidade permanente a reinserção social do paciente em seu
meio. A norma estabelece que é obrigação do Estado o desenvolvimento da política de saúde
mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais,
com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento
de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em
saúde aos portadores de transtornos mentais (BRASIL, 2001).

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No atual contexto social, a Reinserção Social tem sido considerada central nas ações e
preocupações de vários agentes da rede de intervenção na área da toxicodependência. A
Reinserção exige uma intervenção de carácter multi, inter e transdisciplinar. Essa intervenção
inicia-se quando o indivíduo toma consciência do seu problema e recorre a qualquer espécie
de ajuda, prolonga-se durante todo o tratamento e só se apresenta eficaz quando em todas as
suas dimensões, biológica, psicológica, afetiva, cultural e social, esse indivíduo consegue
estabelecer um quadro de vida com autossuficiência e satisfação pessoal.
Em virtude das características de heterogeneidade relacionadas ao abuso de
substâncias psicoativas, uma vez que a dependência afeta as pessoas de diferentes maneiras e
por inúmeras razões, nos mais diversos contextos e circunstâncias, uma política de atenção
deve privilegiar as necessidades dos usuários, que, muitas vezes, não correspondem às
expectativas dos profissionais de saúde com relação à abstinência, fator esse que dificulta a
adesão ao tratamento, bem como as práticas preventivas ou de promoção voltadas aos
usuários que não se sentem acolhidos em suas diferenças (BRASIL, 2004):

Reconhecer o consumidor, suas características e necessidades, assim como as


vias de administração de drogas, exige a busca de novas estratégias de contato
e de vínculo com ele e seus familiares, para que se possa desenhar e implantar
múltiplos programas de prevenção, educação, tratamento e promoção,
adaptados às diferentes necessidades. Para que uma política de saúde seja
coerente, eficaz e efetiva, deve-se levar em conta que as distintas estratégias
são complementares e não concorrentes, e que, portanto, o retardo do consumo
de drogas, a redução dos danos associada ao consumo e a superação do
consumo, são elementos fundamentais para sua construção (BRASIL, 2004,
s/p.).

A Estratégia Saúde da Família (ESF), eixo estruturante da Atenção Básica à Saúde,


concebe a família de forma integral e sistêmica, como espaço de desenvolvimento individual
e grupal, dinâmico e passível de crises, inseparável de seu contexto de relações sociais no
território em que vive (BRASIL, 2013). Para que haja uma reinserção social dentro dos
pressupostos citadas, a Atenção Básica com a ESF é a estrutura do SUS mais viável para
apoiar a reinserção social do dependente químico, pós-internação em instituição
especializada, pois a mesma coexiste na realidade do mesmo.

Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) e a Saúde mental

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A constituinte de 1988, no capítulo VIII da Ordem Social e na secção II referente
à Saúde, define, no artigo 196 que:

A saúde é direito de todos e dever do estado, garantindo mediante políticas


sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos, e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988, s/p.).

Nos anos 80 e 90 a população brasileira era muito envolvida em questões sociais e


diante desse contexto se deu a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Com o objetivo de
melhorar a qualidade no atendimento houve a iniciativa da criação da Política Nacional de
Atenção Básica (PNAB), para se enquadrar aos princípios do sistema. Com os avanços fez se
necessário a criação de um Programa de Saúde da Família (PSF) que mais tarde se tornou
Estratégia de Saúde da Família (ESF) que tem por finalidade organizar a atenção básica nos
pais, e torna a família o foco principal. A saúde mental por sua vez, começa na Atenção
Básica, que é a porta de entrada ao sistema.
Diante do contexto acima citado, podemos estabelecer uma relação entre a atenção
básica e a saúde mental, visto que para tal encontramos grandes desafios e limites
principalmente por conta do modelo de assistência manicomial pré estabelecido há décadas,
atitude essa que ao longo dos anos vem sendo alvo de discussões e através destas, originou-se
a chamada Reforma Psiquiátrica.
A reforma da assistência psiquiátrica, ou seja, a extinção de manicômios e a
substituição por outros recursos assistenciais, de acordo com a lei federal 10.216/01 (Dispõe
da Reforma psiquiátrica) e da portaria 224/92 (Dispõe sobre as diretrizes e normas para a
oferta de serviços de saúde mental) defende diferentes pensamentos no processo saúde/doença
mental /cuidado e deseja mudança de doença para *existência-sofrimento*, buscando
exercício de cidadania. No entanto quando escolhe o território como estratégia, aumenta a
participação na comunidade às redes social em que se inserem, assumindo responsabilidades
na atenção e tomando atitudes terapêuticas, baseando no contato, cuidado e acolhimento
(CABRAL, 2001 apud COIMBRA, 2005).
O que se espera da reforma psiquiátrica não é apenas a retirada dos pacientes
portadores de transtornos mentais dos hospitais, deixando-os sob cuidados de um cuidador ou
até mesmo esperar que ele possa cuidar-se sozinho. Na verdade o objetivo é que este possa se

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resgatar e se estabelecer como cidadão e o respeito a sua individualidade transforma-o numa
peça fundamental para o sucesso de próprio tratamento (GONÇALVES; SENA, 2001).
A Atenção Básica que se caracteriza como porta de entrada preferencial do SUS é
onde ocorre a abordagem inicial ao dependente que será encaminhado para as entidades
cadastradas nos Programas públicos de tratamento a dependência química. Esse trabalho
inicial é executado pelas secretarias de saúde e promoção social dos municípios. Se o
município não possuir vagas conveniadas, pode acionar a rede de acolhimento social
disponível no Estado pelos centros de referências de assistência social e saúde mental,
conhecidos como CRAS, CREAS e CAPS. Essas estruturas referenciam o sujeito, após
triagem, para uma entidade cadastrada dentro das delimitações geográficas pré-determinadas.
(PROGRAMARECOMEÇO – 2016)
No Brasil, assim como em vários países, além da estigmatização desta clientela,
podemos ver dificuldades no acesso ao serviço de saúde e na estruturação destes serviços para
apoio e reinserção social. Esta categoria da população é excluída, o que a afasta dos serviços
de saúde, algumas vezes por não ter profissionais com treinamento mínimo necessário para
que possam realizar os cuidados básicos e o encaminhamento adequado (CARNEIRO
JUNIOR, 1998).
As estruturas da atenção básica que referenciaram o sujeito para a entidade recebe
novamente o mesmo. Ela deviria fazer o trabalho de apoio para a reinserção social do
individuo. A pergunta que surge é a seguinte: Será que a Atenção Básica está preparada para
receber e fazer o trabalho de apoio a reinserção social desse individuo em especial?
Segundo Brêda e Augusto (2005), os profissionais das equipes da Estratégia Saúde da
Família (ESF) têm grande dificuldade de identificar e/ou interferir no processo saúde-doença,
em meio à situação de dependência química nas comunidades. Existe necessidade de estudos
mais profundos que possam apontar estratégias para a resolutividade e eficácia da assistência
aos usuários de drogas no Programa Saúde da Família. Percebe-se também que há muitas
questões a serem exploradas quanto à temática que envolve os usuários de drogas e as
possíveis contribuições do Programa de Saúde da Família (BRASIL, 2003). À área da saúde
cabe refletir sobre como este grupo social concebe em seu próprio corpo a relação entre
saúde/doença/meio ambiente/modos de viver e como pensam a relação profissionais-
pacientes-instituição e seu papel nesta dinâmica (SUPERA, 2009).

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Para que a relação entre a Saúde Mental e a Atenção Básica seja efetiva, é necessário que
os profissionais tenham maior proximidade com clientes e suas famílias, considerando-o sem
seus vários aspectos (credos, valores, cultura), só assim o antigo modelo de tratamento
manicomial com referência hospitalar, pode ser instinto. (RIBEIRO, et. al, 2009).
Um dos maiores obstáculos encontrados para efetivação das ações de saúde mental na
Estratégia Saúde da Família, é oferecer atendimento integral a este público, pois apesar da
similaridade de conceitos e diretrizes teóricas, as práticas têm sido divergentes. (NEVES, et.
al, 2010)
Silva e De Sena (2008) nos apresentam uma definição muito clara do conceito de
integralidade:

No Brasil, um dos pilares da atenção básica é o princípio da integralidade,


que se baseia em ações de promoção, prevenção de agravos e recuperação da
saúde. A integralidade permite a percepção holística do sujeito, considerando
o contexto histórico, social, político, familiar e ambiental em que se insere.
(p.48)

Portanto, qualquer tentativa de tratar o indivíduo isoladamente é inútil, pois para que
ocorra um tratamento com sucesso, deve-se ocorrer um planejamento conforme o contexto
familiar, porque quando a individuo sofre algum transtorno mental a família e todos ao redor
sentem também a situação do doente. (SARACENO, 1999 apud MACHADO; MOCINHO,
2003).
Segundo Brêda et al (2005), os profissionais das equipes da Estratégia Saúde da
Família (ESF) têm grande dificuldade de identificar e/ou interferir no processo saúde-doença,
em meio à situação de dependência química nas comunidades. Existe necessidade de estudos
mais profundos que possam apontar estratégias para a resolutividade e eficácia da assistência
aos usuários de drogas no Programa Saúde da Família. Percebe-se também que há muitas
questões a serem exploradas quanto à temática que envolve os usuários de drogas e as
possíveis contribuições do Programa de Saúde da Família (BRASIL, 2003). À área da saúde
cabe refletir sobre como este grupo social concebe em seu próprio corpo a relação entre
saúde/doença/meio ambiente/modos de viver e como pensam a relação profissionais-
pacientes-instituição e seu papel nesta dinâmica (SUPERA, 2009).

O psicólogo nas ações de saúde mental na atenção básica

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Psicólogos são especialistas que tem como objeto de estudo de estudo o
comportamento humano e toda subjetividade que compõem o mesmo; usam métodos
científicos para estudar os fatores que influenciam o modo como as pessoas sentem, agem,
aprendem e pensam, bem como estudam as estratégias e intervenções baseadas em evidências
para ajudar as pessoas a superar suas queixas.
O psicólogo se configura a partir de uma ação multifacetada, isto é, possui vários
modelos de trabalho em uma única ciência, cada abordagem com sua especificidade e seus
objetivos particulares. Assim, a Psicologia encontra-se nos mais diversos setores atendendo às
demandas sociais “tradicionais” e “emergentes” que surgem no dia-a-dia. O diferencial da
Psicologia é seu caráter único, seu objeto de estudo e seu fazer que se desvela a partir de uma
ótica ampliada frente às várias realidades que se apresentam no contexto contemporâneo.
Vivemos um momento de construção e consolidação do lugar do psicólogo nos
serviços públicos de saúde, mais especialmente na atenção básica, assim, consideramos de
extrema importância a abertura de espaços para se repensar e pesquisar a função da Psicologia
e do psicólogo na área de assistência pública à saúde, em especial dos profissionais
responsáveis pela atenção básica, bem como tomar conhecimento dos paradigmas que
embasam suas práticas nessas instituições. Para tanto, compreender a adequação/reinvenção
dos mesmos a um modelo assistencial que responda às premissas da integralidade e qualidade
nos serviços de saúde, respondendo de fato às necessidades dos usuários.
O psicólogo, enquanto profissional no Brasil, tem uma história muito recente. Apesar
de o ensino da Psicologia ser feito desde os anos 1930 nas escolas normais dos Institutos de
Educação do país e, em 1956 ter sido implantado um curso de formação de psicólogo na
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e em 1957 na Universidade de São Paulo,
foi somente em 1962 - por força da Lei Federal n° 4.119 - que a Psicologia passou a existir
como profissão. No ano de 1964 foi regulamentada a formação do psicólogo e seu exercício
profissional pelo Conselho Federal de Educação com o Decreto n° 53.464. Com isso o Brasil
tornou-se um dos poucos países a adotar uma legislação reguladora da profissão em todo
território nacional.
A inserção do psicólogo nos serviços públicos de saúde no Brasil tem se dado mais
claramente a partir do final dos anos 70 e início dos anos 80. Sua entrada neste campo de
atuação se deu em decorrência de transformações da sociedade brasileira em geral, e no

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campo da saúde, em especial. De um lado, a crise econômica e social que afastou os clientes
dos consultórios privados, forçando os psicólogos a buscarem outros contextos de atuação. De
outro lado, as políticas de saúde mental que promoveram a ambulatorização dos serviços e a
multiprofissionalidade na atenção dos portadores de sofrimento psíquico (DIMENSTEIN;
SANTOS, 2005).
Contudo, este novo contexto de atuação profissional exige outras posturas do
psicólogo que tem que enfrentar uma nova realidade para a qual não havia sido preparado
durante a graduação na universidade. Assim, a Psicologia aos poucos tenta construir o seu
lugar no campo da saúde. Conforme (SPINK; LIMA, 1999).

A psicologia chega tarde neste cenário e chega „miúda‟, tateando, buscando


ainda definir seu campo de atuação, sua contribuição teórica efetiva e as
formas de incorporação do biológico e do social ao fato psicológico,
procurando abandonar os enfoques centrados em um indivíduo abstrato e a-
histórico tão freqüentes na psicologia clínica tradicional (SPINK, 2003, p.
30).

Esta defasagem entre a formação do psicólogo e as necessidades atuais da saúde


pública no Brasil tem levado os psicólogos que atuam nessa área ao enfrentamento de
inúmeros desafios, tais como o desconhecimento do SUS e da realidade das instituições de
saúde pública. Este desconhecimento tem promovido uma atuação profissional indiferenciada
segundo os objetivos de cada um dos níveis de atenção, comprometendo a eficiência e a
eficácia do trabalho realizado. (OLIVEIRA, 2005)
Em um estudo sobre a atuação do psicólogo na Estratégia Saúde da Família (ESF),
Diógenes e Pontes (2016) observaram que abordagens psicológicas que trazem visões de
mundo e de homem que se aproximam do que preconiza a ESF, facilitam o trabalho. A ênfase
dada pelos autores é nas abordagens humanistas, ainda assim, afirmam que “...todos os
entrevistados relataram intervenções que partiam sempre das demandas que indivíduos ou
coletivos expressavam e só depois da sua compreensão, essas intervenções eram postas em
prática” (p.169). Isto indica que o trabalho da Psicologia, que normalmente é representante da
saúde mental na atenção básica, não é engessado e sim dinâmico e que atende as necessidades
reais da população atendida.
Moraes (2014) atenta para o papel da Psicologia na questão da saúde mental:

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Penso que nosso papel (psicólogos e psicólogas) é ter um compromisso
ético-político engajado nas questões sociais e na luta pelos direitos humanos.
É ter uma postura crítica frente às relações de poder observadas, tanto nas
intersubjetividades do cotidiano, quanto nas macrorrelações políticas,
econômicas e sociais. Independente de teoria psicológica, religião e cultura,
nossa compreensão de sujeito deve abarcar o sujeito psicológico e social que
vive em uma sociedade marcada por relações que seguem a lógica
excludente do capitalismo (lucro a qualquer custo, vaidade acima da vida
humana etc). Os psicólogos e psicólogas devem ser criativos e encontrar
maneiras de potencializar os seres humanos que estão em sofrimento ético-
político e de lutar contra todas as formas de maus tratos e exclusão
(MORAES, 2014, p.159).

Neste contexto de saúde mental na atenção básica, é imprescindível a compreensão do


sujeito, a partir do que Moraes (2014) chama de sofrimento ético-político. Este modo de
enxergar a pessoa deve introduzir os conceitos de afetividade e sofrimento na análise da
dialética exclusão/inclusão social, o que desestabiliza análises em que o sujeito é visto como
número. Isto permite ainda a não culpabilização daquele que sofre, entendendo que as formas
de exclusão estão nas relações intersubjetivas delineadas socialmente. Atuar nesta perspectiva
é promover bons encontros que potencializam ações e respeitam as pessoas enquanto seres
humanos que tem infinitas possibilidades e sonhos (SAWAIA, 2011).

Conclusão

Os psicólogos junto às equipes de saúde da família e demais equipes da atenção


básica, reinventam o modo de enxergar e, sobretudo, de promover cuidado aos cidadãos com
necessidades de enfrentamento a distúrbios relacionados a álcool e drogas e demais agravos
em saúde mental.
Ao construir a integralidade das ações em saúde mental, é importante não perder de
vista os aspectos individuais e coletivos dos sujeitos envolvidos nas ações de saúde mental
sob a ótica do enfrentamento de situações relacionadas a álcool e drogas.
Através do trabalho do psicólogo junto a equipe na atenção básica pode-se reconhecer
as necessidades e subjetividades do ser humano a ser atendido embasado em uma abordagem
integral e humanística.
Dessa forma faz-se necessário a união de esforços junto a equipe multiprofissional e
interdisciplinar para enfrentamento deste problema de saúde pública.

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DEPENDÊNCIA QUÍMICA E
TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS:
ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA
A PARTIR DE 1999

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1. Resumo
O uso de drogas atualmente é considerado um grave problema social e de
saúde pública, sendo que uma em cada cinco pessoas que fazem uso de substâncias
químicas possuem tendência à diagnóstico de dependência. O objetivo do presente
trabalho foi fazer uma análise da produção científica sobre o tema da síndrome da
dependência e abuso de substâncias químicas, com um direcionamento para o
impacto psicológico que pode vir a causar transtornos mentais ao indivíduo. Foi
realizada uma pesquisa nas bases de dados LILACS, Google Acadêmico, Pepsic e
SciELO. Após a seleção dos artigos, foi utilizada uma ficha de avaliação atendendo
aos objetivos específicos propostos. Neste estudo foram analisados 33 artigos
científicos, escritos por 103 autores. Os artigos trazem 18 transtornos mentais, sendo
que 9 deles foram efetivamente constatados, indicando correlação com a dependência
química. Os resultados apontam que não houve correlação significativa entre a
dependência química e os transtornos de Fobia, Pânico, Esquizofrenia e
Hiperatividade, estando mais fortemente relacionados aos transtornos depressivos e
ao transtorno de Personalidade Dissocial. Estes resultados indicam que ainda existem
muitas dúvidas em relação aos impactos físicos e psicológicos que a dependência
química pode causar, uma vez que muitos dos sintomas apresentados não possuem
evidências suficientes para sustentar uma afirmação categórica a respeito de sua
relação com o abuso de drogas.

2. Introdução
O abuso de substâncias químicas tornou-se um grave problema de saúde
pública, e pode estar associado com comportamentos violentos e criminais, como
acidentes de trânsito e violência familiar (Scheffer, Pasa, & Almeida, 2010). Nos
últimos vinte anos, devido ao progresso das produções científicas, a dependência
química passou a ser entendida como um sério problema de saúde, que afeta o
cérebro e, consequentemente, o comportamento (Scheffer et al. 2010). Como
explicado por Sintra, Lopes e Formiga (2011) “A toxicodependência surge na
encruzilhada de múltiplas dimensões inclusa na via humana, designando, na maioria
das vezes, uma representação de usos nocivos, autodestrutivos e alienantes.”.

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Cerca de uma em cada cinco pessoas que faz uso de drogas ilícitas possui
critério para diagnóstico de dependência (Claro et al., 2015). De acordo com a
Organização Mundial da Saúde [OMS] (n.d.), a síndrome da dependência é definida
por:

Conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se


desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente
associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o
consumo, à utilização persistente apesar das suas consequências nefastas, a uma
maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e
obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de
abstinência física. (OMS, n.d.)

O uso de substâncias químicas pode estar relacionado à comorbidade entre a


síndrome da dependência e diferentes quadros de transtorno mental (Hess, Almeida
& Moraes, 2012). Um transtorno mental é uma síndrome caracterizada por
perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no
comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos
psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento
mental. (American Psychiatric Association [APA], 2013).

O uso crônico de algumas substâncias, como o álcool, a cocaína e o crack,


pode ser um fator desencadeante ou consequente de transtornos mentais,
especialmente Transtornos do Humor, como: Episódio Depressivo Maior e Risco de
Suicídio (Scheffer et al. 2010). Pode também estar associado com prejuízos nas
habilidades sociais, aspectos cognitivos, e sintomas indicativos de ansiedade e
depressão (Wagner, Silva, Zanettelo & Oliveira, 2010).

No estudo feito por Hess et al. (2012) ao investigar a frequência de comorbidades


psiquiátricas em adultos dependentes químicos, observou-se a presença do
Transtorno de Personalidade Anti-social [TPAS] nos grupos de consumidores de
Álcool, maconha, crack/cocaína e no grupo de dependentes de múltiplas substâncias
psicoativas.

De acordo com Costa & Valerio (2008):

-dados indicam uma forte correlação entre transtornos por uso de substâncias e
Transtorno de Personalidade Anti-social, demonstrada por marcadores biológicos e

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fatores de riscos ambientais em comum, agravamento do quadro clínico,
significativos prejuízos aos indivíduos em longo prazo e necessidade de tratamento
em maior extensão. (Transtorno de personalidade anti-social e uso de substâncias
section, para. 8).
O transtorno de Personalidade Dissocial é definido pela OMS como “Transtorno de
personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, falta de
empatia para com os outros” (OMS, n.d.). Este transtorno é intitulado de “Transtorno
da Personalidade Antissocial” pelo DSM-V (APA, 2013).

Dependentes de substâncias químicas como o crack, o cannabis, o álcool, o tabaco,


a cocaína e outras drogas também podem apresentar sintomas depressivos (Alves,
Kessler & Ratto, 2004; Andrade & Argimon, 2006; Degenhardt, Hall, Lynskey, Coffey
& Patton, 2004; Silva, Kolling, Carvalho, Cunha, & Kirstensen, 2009)

Segundo a OMS, nos episódios depressivos:

-o paciente apresenta um rebaixamento do humor, redução da energia e


diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer,
perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em
geral à fadiga importante, mesmo após um esforço mínimo (OMS, n.d.).

A intoxicação por Cannabis pode causar a depressão indiretamente ao prejudicar o


ajustamento psicológico no indivíduo. (Degenhardt et al., 2004). Além disso, pode
afetar a serotonina e outros neurotransmissores, de maneira a produzir sintomas
depressivos (Degenhardt et al., 2004).

O álcool também pode produzir sintomas de depressão, ansiedade, agitação e


hipomania/mania durante a intoxicação e a abstinência (Alves, et al., 2004).

Para Scheffer, et al. (2010) “É importante o conhecimento de alterações emocionais


para um melhor planejamento de programas preventivos, buscando uma metodologia
mais eficaz para dependentes de drogas” (p. 539). O objetivo deste trabalho foi fazer
uma análise de produções científicas realizadas na área da saúde que investigam o
tema da síndrome da dependência e abuso de substâncias químicas com um
direcionamento para o impacto psicológico que podem causar transtornos ao
indivíduo.

3. Objetivos:

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O objetivo geral foi realizar uma revisão sistemática das produções científicas
publicadas nas bases de dados LILACS, Google Acadêmico, Pepsic e SciELO, sobre
a temática “Dependência Química: Perfil de usuários e seus Transtornos
Psicológicos”.

Especificamente, objetivou-se avaliar as seguintes variáveis: autoria (única, coautoria,


múltipla); gênero (masculino, feminino, indefinido); tipo de pesquisa; substâncias e
transtornos psicológicos pesquisados pelos autores dos trabalhos.

4. Metodologia

Trata-se de uma revisão de literatura de estratégia documental para a produção


cientifica. Segundo Campos (2001), a pesquisa documental tem como objetivo colocar
o pesquisador em contato direto com tudo o que foi dito, escrito ou filmado sobre
determinado assunto.

5. Desenvolvimento

Foi realizada uma busca por artigos científicos sobre “Dependência Química e
seus Transtornos Psicológicos” nas bases de dados LILACS (Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Google Acadêmico, Pepsic
(Periódicos Eletrônicos de Psicologia) e SciELO (Scientific Electronic Library Online).

Não foram utilizados limitadores temporais. Dessa forma todo o conteúdo das
bases consultadas contendo as palavras utilizadas para a busca foi contemplado.

5.1 Levantamento de Dados

Para o levantamento dos dados no presente estudo, foram utilizadas as


seguintes palavras-chave “transtornos, dependência química, drogas, crack, perfil,
usuários, psicológico, produção científica” e foram obtidos trabalhos do período de
Dezembro de 1999 até Novembro de 2015, limitado ao idioma Português do Brasil.
Foram incluídos estudos realizados no Brasil, contendo textos completos e tema
compatível ao pesquisado. A partir desses critérios, foram identificadas 57
publicações pela leitura dos resumos. A primeira seleção foi retirar a duplicidade nas
bases de dados, das quais sobraram 46 artigos. Destes, após leitura na integra foram
excluídos 12 que não abordavam o tema compatível ao pesquisado ou aqueles que
não atendiam ao objetivo. Ao final do levantamento, totalizaram-se 33 artigos
científicos (Figura 1).

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Figura 1. Fluxograma da seleção dos estudos sobre o Tema Dependência química e
seus transtornos mentais.

5.2 Análise dos Artigos

Após a seleção dos artigos, foi utilizada uma ficha de avaliação atendendo aos
objetivos específicos propostos. Esta ficha continha dados pertinentes ao tema,
autoria, resumo e tipo de estudo. Também foram registradas todas as substâncias
químicas que os autores pesquisaram em seus artigos e analisadas as anormalidades
psíquicas que possivelmente eram causadas pela sua dependência.

5.3 Análise Estatística

Os dados foram digitados em planilha eletrônica e apresentados em formato de


tabelas e gráficos. Para descrever os dados, foram utilizados a frequência e
porcentagens bem como média e desvio padrão. A análise estatística foi feita com o
software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science), versão 21.0.

6. Resultados

Neste estudo foram analisados 33 artigos científicos, escritos por 103 autores,
em média 3,1 por artigo, com desvio padrão de 1,5.

Quase todos foram estudos de levantamento ou correlacional (tabela 1), o


mesmo foi observado no estudo de Ferreira e Oliveira (2007) que classificaram Estudo
de levantamento ou correlacional como “Pesquisa” e os estudos de revisão de

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literatura como “teórico”, podemos verificar que os dois temas, sendo um sobre o
Autismo e este sobre Dependência Química e transtornos mentais, têm a prevalência
de estudos de levantamento ou correlacional.

Tabela 1
Frequência e porcentagem do tipo de estudo dos artigos
Tipo de estudo N %
Estudo de levantamento ou correlacional 28 85
Revisão de literatura 5 5
Total 33 100

No total, os 33 artigos investigam a relação de 15 tipos de substâncias com


diversos transtornos psicológicos. Houve um alto índice de estudos sobre
dependência em Cigarro, Álcool, Maconha, Cocaína e Crack e uma minoria optou por
pesquisar sobre os demais psicotrópicos (Tabela 2).

Tabela 2
Frequência e porcentagem de drogas estudadas nos artigos
Descrição N %
Álcool 20 60,6
Cocaína 16 48,5
Maconha 14 42,4
Cigarro 8 24,2
Crack 8 24,2
Heroína 3 9,1
Anfetaminas 3 9,1
Ansiolítico
3 9,1
Inalantes
Ópio 2 6,1
Estab. de humor 2 6,1
Antidepressivo 2 6,1
Solventes 2 6,1
Alucinógeno 1 3
Anabolizantes 1 3

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Sedativo 1 3

Os artigos trazem 18 transtornos mentais que são especificados pela


OMS(n.d.) e APA(2013). Entretanto, os resultados dos artigos analisados mostram
que apenas 9 transtornos têm correlação com a dependência química dos
participantes, e destes a maior ocorrência são os transtornos de Depressão e de
Personalidade Dissocial. Enquanto que, dos transtornos, os que mais foram
apontados pelos artigos de que não há relação significativa com a dependência de
substancia químicas são de Fobia, Pânico, Esquizofrênico e Hiperatividade. O uso da
maconha, sendo uma das substâncias mais estudadas, pode estar relacionado com a
depressão, como mostra o estudo de Sanches e Marques (2010). O álcool também é
comumente associado à depressão, cerca de 23 a 70% dos pacientes dependentes
de álcool sofrem de transtornos depressivos. (Alves, et al., 2004). Substâncias, como
o Crack, o tabaco e a cocaína, também podem estar relacionadas com episódios
depressivos. (Andrade & Argimon, 2006; Silva, Kolling, Carvalho, Cunha, &
Kirstensen, 2009). Como citado na introdução, o estudo de Costa e Valerio (2008)
verificou uma forte correlação entre transtornos por uso de substâncias e transtorno
de personalidade anti-social. Os estudos feitos por Hess, et al. (2012) e Scheffer et al.
(2010) respectivamente, verificaram a frequência de comorbidade psiquiátrica entre a
síndrome da dependência e o TPAS em grupos de usuários de substâncias como o
álcool, a maconha, o crack e a cocaína.

Tabela 3
Frequência e porcentagem de transtornos mentais específicos que são
correlacionados ou não com a dependência química

Descrição Não há correlação Há correlação


N % N %
Depressão 1 3 11 33,3
Personalidade dissocial 4 12,1
Bipolar 1 3 1 3
Cleptomania 1 3
Estresse Pós Traumático 1 3

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Fobia especifica 4 12,1
Hiperatividade (TDAH) 2 6,1
Hipocondria 1 3
TOC 1 3
Alimentares (não especificados) 1 3
Humor 1 3 3 9,1
Delirante 1 3
Distímico 1 3
Esquizofrênico 3 9,1
Somatização 1 3
Memoria 3 9,1
Desesperança 1 3
Pânico 4 12,1

7. Considerações Finais

Ao final da análise sobre a produção científica na temática “Transtornos


Mentais Causados pela Dependência Química”, foi verificado o predomínio de
trabalhos do tipo pesquisa em relação a trabalhos teóricos.

Os resultados apontam que, das substâncias estudadas, não houve correlação


significativa entre sua dependência e os transtornos de Fobia, Pânico, Esquizofrenia
e Hiperatividade, estando mais fortemente relacionadas aos transtornos depressivos
e ao transtorno de Personalidade Dissocial. Os resultados indicam que ainda existem
muitas dúvidas em relação aos impactos físicos e psicológicos que a dependência
química pode causar, uma vez que muitos dos sintomas apresentados não possuem
evidências suficientes para sustentar uma afirmação categórica a respeito de sua
relação com o abuso de drogas.

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HABILIDADES SOCIAIS, DEPENDÊNCIA QUÍMICA E ABUSO DE

DROGAS: UMA REVISÃO DAS PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS

RESUMO
O presente estudo tem como objetivo uma revisão bibliográfica dos assuntos habilidades
sociais, dependência química e abuso de drogas. Para a realização desta pesquisa foram
pesquisadas as bases de dados da Biblioteca Virtual de Psicologia - Bvs-Psi, da
Scientific Electronic Library Online – Scielo e o Portal de periódicos da PUC/RS na
revista Psico. As expressões buscadas foram “abuso de drogas”, “dependência
química”, “habilidades sociais e dependência química”. Concluiu-se que a literatura
revisada apresentou concisas evidências de que indivíduos abusadores e dependentes de
substâncias psicoativas podem apresentar déficits nas habilidades sociais, independente
da substância utilizada e do transtorno relacionado - abuso ou dependência química.

INTRODUÇÃO
A dependência química é uma mazela que cresce rapidamente e este fenômeno
pode ser observado analisando os dados dos Levantamentos Domiciliares, onde
correlacionando as pesquisas de 2001 e 2005, observa-se que no ano de 2001, 19,4% da
população das 108 cidades com mais de 200 mil habitantes, já fizeram uso na vida de
drogas ilegais sendo que esta porcentagem corresponde 9.109.000 de brasileiros. No
ano de 2005, respectivamente, 22,8% e 10.746.991 de pessoas. Desta forma pode-se
ilustrar a dimensão desta doença e sua rápida progressão (CARLINI et al, 2006).
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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dependência química
é atualmente reconhecida como doença; no entanto, a mesma destaca que a dependência
química deve ser tratada concomitantemente como uma doença médica e como um
problema social (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2001).
Dentre as diversas formas de compreensão do abuso e dependência de drogas,
investigar o papel das habilidades sociais para conhecer os fatores que influenciam esta
doença é imensamente relevante, visto que as habilidades sociais compreendem o
estudo das várias classes de comportamentos sociais, e estes comportamentos
contribuem para a qualidade e a efetividade das interações que o indivíduo estabelece
com as outras pessoas. Desta forma as habilidades sociais, podem auxiliar o indivíduo a
apresentar melhores repostas sociais quanto ao enfrentamento de situações de risco,
auxiliando como fator de proteção ao abuso e dependência de drogas (DEL PRETTE &
DEL PRETTE, 1999; ZANELATTO, 2013).
Deste modo, observa-se que este fenômeno está cada vez mais presente nas
famílias brasileiras, envolvendo novas formas de resolução, entrelaçando as mais
diversas áreas do conhecimento em seu tratamento. Sendo assim, o objetivo deste artigo
é a revisão bibliográfica em publicações científicas que abordem os assuntos:
habilidades sociais, dependência química e abuso de drogas, nas as bases de dados da
Biblioteca Virtual de Psicologia - Bvs-Psi, da Scientific Electronic Library Online –
Scielo e o Portal de periódicos da PUC/RS na revista Psico, nos últimos cinco anos
(2007 -2012).

REVISÃO DO TEMA

Dependência Química e Abuso de drogas: diagnóstico e nomenclatura

A Dependência Química é fenômeno que envolve um conjunto de aspectos


físicos e mentais, sendo resultado da ingestão do uso contínuo de substâncias
psicoativas, geralmente caracterizada por reações comportamentais como busca
incontrolável pela substância utilizada, apesar das conseqüências danosas, buscando ora
para aliviar o desconforto da sua falta, ora para gerar novamente a sensação de prazer
obtida em sua primeira experiência com a substância.
Ainda, Silva (2011) aponta que a dependência procede de uma inter-relação
complexa entre a cognição, comportamentos, emoções, relações familiares, relações

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sociais, influências culturais, processos biológicos e fisiológicos, portanto, uma doença
multifatorial.
Por ser uma doença multifatorial, seu diagnóstico envolve uma minuciosa
observação entre as classificações: uso, abuso e dependência para compreender melhor
os critérios diagnósticos e as formas clínicas da dependência, pois nem todo o indivíduo
que ao experimentar uma substancia psicoativa (SPA) torna-se dependente da mesma
(REZENDE; RIBEIRO, 2013).
De acordo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-
IV-TR (APA, 2002), o indivíduo pode encontrar-se na classificação do abuso de SPA
ou na dependência. Quanto ao abuso de substâncias psicoativas, o DSM-IV define que
deve ser observado se há um padrão mal adaptativo de uso de substâncias, que leva ao
prejuízo ou sofrimento significativo, dentro do período de 12 meses. Nestes indivíduos,
o uso de substância gera um fracasso em cumprir obrigações importantes como
trabalho, escola ou tarefas em casa; o uso da substância é recorrente mesmo em
situações de perigo físico, os problemas legais estão relacionados ao uso da substância e
ao uso da substância persistente, apesar de problemas sociais ou interpessoais causados
ou acentuados pelos efeitos da substância.
No entanto, para se considerar abuso e não dependência, os sintomas
apresentados pelo paciente jamais devem preencher os critérios para dependência de
substância que são, segundo o DSM IV-TR (APA, 2002), um padrão de repetição de
uso de SPA, que em sua maioria resulta em tolerância, abstinência e comportamento
compulsivo do seu consumo. Sendo a tolerância definida como uma necessidade de
ingestão de quantidades cada vez maiores para adquirir o efeito desejado, com uma
acentuada redução do efeito desejado com o uso da mesma quantidade de SPA.
Deste modo, para que ocorra a abstinência é necessário observar se ocorre a
síndrome de abstinência ou se o consumo da SPA tem como finalidade aliviar ou evitar
sintomas de abstinência. Também é necessário verificar se o indivíduo faz uso da
substância de forma mais frequente e em maiores quantidades ou por um período mais
longo do que o pretendido por ele, se existe um desejo persistente e mal-sucedido no
sentido de reduzir ou controlar o uso da substância, se ele gasta muito tempo em
atividades necessárias para a obtenção da substância, na utilização da substância ou na
recuperação de seus malefícios. Observa-se declínio ou abandono de importantes áreas
de sua vida devido ao uso da substância, que continua, apesar da consciência de ter um
problema físico ou psicológico (APA, 2002).

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Corroborando com estes dados, o Código Internacional de Doenças - CID 10
(1993 p.74) aponta como dependência o seguinte critério:

Síndrome de dependência

Conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e


cognitivos no qual o uso de substância ou uma classe de substâncias alcança
uma prioridade maior pra um determinado indivíduo que outros
comportamentos que antes tinham maior valor. Uma característica descritiva
central da síndrome de dependência é o desejo (frequentemente forte,
algumas vezes irresistível de consumir drogas psicoativas ( as quais podem
ou não sido prescritas) álcool ou tabaco. Pode haver evidência que o retorno
ao suo da substância após um período de abstinência leva a um
reaparecimento mais rápido de outros aspectos da síndrome de que o que
ocorre com indivíduos não dependentes.

Diferentemente, na CID-10 (1993) é possível classificar e diferenciar entre os


critérios de uso nocivo para a saúde (exclusivo da CID-10), intoxicação aguda,
síndrome de dependência, síndrome de abstinência, síndrome de abstinência com
delirium, transtorno psicótico, síndrome amnésica, transtorno psicótico residual ou de
instalação tardia, outros transtornos mentais ou comportamentais e transtorno mental ou
comportamental não especificado. Esta normatização não possui a classificação quanto
ao abuso de substância especificadamente, mas é consenso no âmbito médico que pode
ser compreendido dentro dos critérios do uso nocivo (GIGLIOTTI; BESSA, 2004).
Quanto à nomenclatura, na literatura atual coexistem diversas conceituações,
dentre elas, dependência química, toxicomania, drogadição e adicção. Conforme
apontam Rodrigues e Nuno (2005), adicção, vem do termo inglês addiction que
significa uma dedicação total, apego ou inclinação de alguém por algum fato ou objeto e
toxicomania é originária da palavra grega toxicon, veneno no qual as flechas eram
embebidas; comportamento de dependência em relação a uma ou mais substâncias
psicoativas. Drogadição é a adição de drogas no organismo (REZENDE; RIBEIRO,
2013).
Dependência química é o transtorno mental causado pelo uso de SPA, sendo
que o termo dependência passou a ser recomendado em 1964, pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) para substituir a nomenclatura pejorativa de vício
(BENFICA; VAZ, 2003).

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Desta forma, estes são apenas alguns dos termos utilizados para nomear esta
doença multifatorial. Possivelmente esta miríade de nomenclaturas aponta que esta é
uma área que traz em si uma multiplicidade de concepções e ideologias. No entanto,
para este artigo será escolhida a nomenclatura dependência química, sendo que o abuso
de drogas pertence a uma classificação quanto ao transtorno relacionado a substancia e
não quanto à nomenclatura, visto que, refere-se ao mesmo transtorno ora apresentando-
se de forma mais grave ora moderado.
Corroborando os apontamentos até este momento, é necessário elucidar que
como doença multifatorial, seu tratamento é também multi e interdisciplinar e dentre as
diversas técnicas de tratamento, o treinamento de habilidades sociais pode ser um
importante fator de proteção ao consumo de drogas (WAGNER, 2010; RIBEIRO;
YAMAGUCHI; DUAILIBI, 2012).

Habilidades Sociais

Para compreender as Habilidades Sociais (HS) é necessário compreender o


Treinamento de Habilidades Sociais (THS), e como surgiram seus estudos.
Segundo Del Prette e Del Prette (1999), há muitos indícios que o movimento do
THS pode ter iniciado com Salter em 1949, que retomou os achados de Pavlov acerca
do reflexo condicionado, compreendendo que a vida era regida por três leis: excitação,
inibição e desinibição. Posteriormente, Wolpe publicou em 1976 o livro “A Prática da
Terapia Comportamental”, e cunhou a expressão Treinamento Assertivo utilizando-o
para tratar a ansiedade. Em meados da década de 80 iniciaram as publicações acerca do
Treinamento de Habilidades Sociais e observou-se um declínio das publicações sobre
Treinamento Assertivo. Desta forma conhece-se quando iniciou este movimento tão
importante.
Diversas correntes teóricas, como Humanismo, Teoria Sistêmicas, Teoria
Cognitiva Comportamental, Psicanálise entre outras, utilizam-se desta ferramenta.
(CABALLO, 2008; DEL PRETTE & DEL PRETTE, 1999). No entanto, a Teoria
Cognitiva Comportamental (TCC) apresenta maior repertório de técnicas, que
compreendem a reestruturação cognitiva, o manejo da ansiedade e o treinamento em
resolução de problemas (CABALLO, 2002).
Sakiyama e Zanelatto (2011) apontam que o objetivo do THS é aumentar a
assertividade do indivíduo em relação ao manejo das situações sociais cotidianas.

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Caballo (2008) aponta que as HS são comportamentos que ajudam o indivíduo a lidar
com situações sociais de relacionamento interpessoal, onde a meta é chegar ao resultado
desejado, conservando sua autoestima e sem denegrir o outro.
Corroborando estes dados, Del Prette e Del Prette (1999, p. 47), apontam que as
habilidades sociais podem ser definidas como "um constructo descritivo do conjunto de
desempenhos apresentados pelo indivíduo diante das demandas de uma situação
interpessoal". Deste modo, as habilidades sociais se referem aos comportamentos
necessários para ocorrência de uma relação interpessoal bem sucedida.
As habilidades sociais são aprendidas no decorrer da vida e seu desempenho
varia de acordo com o desenvolvimento de cada indivíduo, onde aqueles que
desenvolvem um repertório social saudável, apresentam comportamento como iniciar e
manter conversas, falar em público, fazer elogios, pedir favores e aceitar uma resposta
negativa, aceitar elogios, expressar sentimentos positivos e negativos, defender os
próprios direitos, receber e fazer críticas, recusar pedidos, desculpar-se, entre outros
(DEL PRETE & DEL PRETE, 2001).
Portanto, apresentar melhores respostas sociais, sendo um indivíduo socialmente
habilidoso frente às situações de risco, pode auxiliar a diversificar os fatores de proteção
e de resiliência do indivíduo colaborando com o desenvolvimento humano e
promovendo saúde e qualidade de vida (MURTA, 2005; ZANELATTO, 2013).

Correlação entre Habilidades Sociais, Dependência Química Abuso de Drogas

O abuso de drogas e a dependência química compõem o ranking de terceiro


transtorno psiquiátrico mais prevalente, estando associado aos mais diversos problemas
sociais, familiares e de saúde. O tratamento para este transtorno multifatorial deve
abranger diversas áreas, porém, os achados na literatura atual apontam que as
intervenções que utilizam os modelos cognitivos comportamentais possuem maior
eficácia, dentre elas o treinamento das habilidades sociais (MIGUEL; GAYA, 2013).
Pesquisas mostram que a falta de habilidade para lidar com algumas situações
está associada ao maior consumo de drogas e as principais dificuldades de habilidade
encontram-se relacionado aos seguintes comportamentos e pensamentos: sentimentos
negativos, pouca assertividade, baixo senso crítico, dificuldades em receber críticas,
problemas na comunicação (interior e exterior), recusa de droga, dizer não a si e aos
demais, socializar-se, baixa tolerância a frustrações, adiar prazeres, problemas em

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reconhecer e enfrentar situações de risco, problemas no manejo da fissura, falta de
planejamento, entre outros (PINHO; OLIVA, 2007; ZANELATTO, 2013).
Observando estudos específicos com adolescentes, encontram-se relevantes
evidências de que adolescentes dependentes de substâncias psicoativas, podem também
apresentar déficits nas habilidades sociais (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2001;
ZANELATTO, 2013; PADIN, RIBEIRO E SAKIYAMA, 2012).
Miguel e Gaya (2013) e Del Prette e Del Prette (1999), apontam que a
capacidade do indivíduo de adaptar-se ao meio social depende das estratégias que ele
utiliza nas situações do cotidiano; se neste processo houver brechas devido a fatores
extrínsecos ou intrínsecos, podem surgir estratégias de enfrentamento disfuncionais que
desencadearão déficits nas habilidades sociais, e estes, por sua vez, podem estar
associados aos transtornos psicológicos e psiquiátricos. Sendo assim, essas dificuldades
podem levar o individuo a uma “fuga” através da utilização de SPA, posteriormente a
essa decisão, isto irá ocasionar ainda mais disfunções em seu desempenho social
(SCHEIER; BOTVIN; DIAZ; GRIFFIN, 1999).
Os déficits em habilidades sociais podem estar presentes quando observados
comportamentos como a baixa competência social e dificuldades específicas, como de
enfrentar situações de risco a integridade física e psíquica e na resolução de problemas
(MIGUEL; GAYA, 2013).
Em relação a habilidades sociais em dependentes químicos, Caballo (2006)
enfatiza que a falha nas HS pode contribuir para dependência, principalmente pelo fator
de agregador ao grupo que as drogas aparentam propiciar em contextos sociais diversos.
Miguel e Gaya (2013) observam que não possuir as habilidades sociais
necessárias para um desempenho social saudável pode estar relacionado ao uso ou
abuso de drogas. Desta forma, independente do motivo que ocasionou o déficit nas
habilidades sociais, o uso de drogas é associado, por este indivíduo, como um meio para
enfrentar a rotina, fortes pressões externas, frustrações entre outros.
Como refere Murta et al (2009), os fatores de risco e proteção para o consumo
de drogas abrangem os fatores psicológicos, influências do grupo, fatores externos
como baixo nível sócio-econômico, famílias desestruturadas ou com familiares
dependentes químicos, o que foi corroborado por Feldens (2009), que concluiu em sua
pesquisa que familiares usuários de álcool são fatores de risco para os adolescentes, que
através da observação e modelagem vicária iniciam o consumo de SPA, portanto estas

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famílias repassam às suas gerações este modelo de habilidades sociais, influenciando
negativamente o repertório destes jovens.
Ainda sobre os fatores externos, Del Prette e Del Prette (1999), elucidam que
crianças que não desenvolveram inicialmente em seus lares habilidades de interagir
socialmente de uma forma assertiva, podem ter dificuldades em lidar com o fracasso do
ingresso ao grupo social desejado e acabar se envolvendo em comportamentos
disfuncionais como violência e uso de drogas.
Portanto, observando sob a perspectiva da promoção da saúde, os programas
preventivos focalizam-se no treinamento das habilidades sociais como estratégia para
aumentar a autoestima dos jovens, ensinando um novo repertório de estratégias sociais,
que perpassam pela habilidade de comunicação, de habilidades de negar convites ao
uso, habilidades de enfretamento ao fracasso entre outros (WAGNER; OLIVEIRA,
2009)
Considerando estes aspectos, compreende-se a necessidade de que os
dependentes químicos sejam instruídos quanto à importância do manejo destas
habilidades sociais, principalmente sobre aquelas que os aproximam dos fatores de
proteção e os afastam dos fatores de risco.

MÉTODO

A presente pesquisa é uma revisão bibliográfica em publicações científicas nos


últimos seis anos. Para a realização desta pesquisa bibliográfica, foram pesquisadas as
bases de dados da Biblioteca Virtual de Psicologia - Bvs-Psi, da Scientific Electronic
Library Online – Scielo e o Portal de periódicos da PUC/RS na revista Psico. O acesso
ocorreu entre outubro de 2012 e abril de 2013 e utilizou-se na busca as seguintes
expressões: “abuso de drogas”, “dependência química”, “habilidades sociais” e
“dependência química e habilidades sociais”.
Quanto aos critérios de inclusão foram escolhidos os seguintes: ser escrito em
língua portuguesa, ser uma publicação científica em periódico indexado publicado no
intervalo dos anos de 2007 a 2012 e artigos com título e/ou resumo com referência ao
abuso, dependência química e habilidades sociais. Como critérios de exclusão,
publicações onde o objetivo era o estudo dissociado da dependência química ou das
habilidades sociais e estudos que abordem o tema habilidades de vida ou de
enfrentamento.

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Os critérios de inclusão e exclusão obedeceram ao objetivo do artigo de
pesquisar nos últimos seis anos publicações científicas que inter-relacionem as HS, o
abuso de drogas e a dependência química, sendo que estes critérios correspondem ao
delineamento proposto por Alves-Mazzotti, e Gewandsznajder (1998) onde a inclusão
de artigos na pesquisa tem como objetivo conhecer e analisar a forma como o assunto
pesquisado já foi abordado em outras publicações e selecionar estudos que tenham
relevante impacto na área estudada ou maior proximidade com o problema. A exclusão
objetivou a eliminação das publicações que não teriam inter-relação entre os assuntos,
visto que os assuntos habilidades sociais, abuso de drogas e dependência química
quando analisados separadamente, tem outra conotação e possuem diversas abordagens,
linhas de pesquisa e objetivos que não fazem parte do universo deste artigo.
Conforme a ilustração abaixo, para a análise dos dados foram observados os
seguintes indicativos: autor/ano, objetivo, metodologia, participantes, instrumentos,
conclusão do artigo científico e de qual revista e periódico pertence. Dentro deste
universo surgiram três subcategorias pelo tipo de substância: Habilidades Sociais e o
Tabagismo, Habilidades Sociais e a Maconha e Habilidades Sociais e o Alcoolismo.
Fluxograma – 1 Análise dos dados.

DADOS GERAIS
Autor/ Ano, Objetivo, Metodologia, Participantes, Instrumentos,
Conclusão do Artigo Científico e Revista/ Periódico.

HS e Tabagismo HS e Maconha HS e Alcoolismo

Pinho e Oliva Wagner e Alvarez (2007)


(2007) Oliveira (2007)
Cunha et al
Rodrigues e Wagner e (2007)
Silva (2011) Oliveira 2009)
Santos e Veloso
Wagner et al (2008)
(2010)
Silva e Padilha
(2011)

Cunha, Peuker e
Bizarro (2012)

Fonte: Autoria própria.

LIFE PSICOLOGIA ®.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A busca nos periódicos resultou em 83 artigos científicos e após descarte dos


artigos que não contemplavam os itens de inclusão, restaram 31 artigos que, após leitura
e comparação com os critérios de exclusão, restaram 10 artigos.
Dos 10 artigos, cinco deles fazem referência as HS e o Alcoolismo, três inter-
relacionam HS e Maconha, dois HS e Tabagismo.
No apêndice se encontra a Tabela 1 - Resumo da análise dos artigos, com os
autores e os dados gerais discriminados resumidamente para facilitar a compreensão e
elucidação dos resultados.

Habilidades Sociais e Alcoolismo

Atualmente, a literatura aponta a tendência de que o alcoolismo tenha causas e


tratamentos relacionando com o THS, no entanto alguns estudos já assinalam que esta
correlação ocorre e pode ser mensurada (RAMOS; BERTOLOTE, 1997). Sendo assim
como objeto de interesse para este estudo foram selecionados os cincos artigos
científicos abaixo.

Tabela 2 - Relação de autores (ano) e artigos selecionados

Autor Título da pesquisa


Alvarez (2007) Fatores de risco que favorecem a recaída no
alcoolismo
Cunha et al (2007) Habilidades sociais em alcoolistas: um estudo
exploratório
Santos; Velôso (2008) Alcoolismo: representações sociais elaboradas por
alcoolistas em tratamento e por seus familiares
Silva; Padilha (2011) Atitudes e comportamentos de adolescentes em
relação à ingestão de bebidas alcoólicas
Cunha; Peuker; Bizarro (2012) Consumo de Álcool de Risco e Repertório de
Habilidades Sociais entre Universitários
Fonte: autoria própria

Entre os cinco artigos científicos que estudaram as HS e Alcoolismo, quanto ao


ano das publicações, duas ocorreram em 2007 (40% do total pesquisado)
respectivamente, uma em 2008 (20%), uma em 2011 (20%) e uma em 2012 (20%).
Neste aspecto é possível observar o decréscimo no crescimento das publicações; este
evento fica ainda mais evidente quando comparadas todas as dez publicações do

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presente artigo. Entretanto Fumo et al (2009) apontam que houve um crescimento das
publicações sendo que apenas no ano de 2007 houve o decréscimo nas publicações em
HS.
Quanto à metodologia, quatro foram qualitativas e uma quantitativa. Os
instrumentos utilizados nas pesquisas pelos autores foram: questionário CAGE,
questionário Fatores de Recaída, criado por Fernández (2006) e questionário Razões
para Beber, criado por González (2004) na pesquisa realizada por Alvarez (2007). Na
pesquisa de Cunha et al (2007) foram utilizados o Inventário de Habilidades Sociais -
IHS e o Inventário de Expectativas e Crenças Pessoais acerca do Álcool (IECPA). Os
autores Santos e Velôso (2008) e Silva e Padilha (2011) utilizaram questionários criados
pelos autores e Cunha, Peuker e Bizarro (2012) utilizaram o AUDIT - Alcohol Use
Disorders Identification Test e o Inventário de Habilidades Sociais – IHS.
Possivelmente não foram todos os autores que utilizaram o IHS para mensurar os
escores das HS, pois, nas pesquisas de Santos; Velôso (2008) e Silva; Padilha (2011)
suas conclusões foram indiretas, visto que suas pesquisas tinham como objetivo
respectivamente comparar as representações sociais sobre o alcoolismo elaboradas pelos
pacientes em tratamento com as de seus familiares e analisar as atitudes dos
adolescentes diante da ingestão de bebidas alcoólicas.
Desta forma, a correlação com esta pesquisa ocorreu, visto que em seus
resultados ambos concluíram que beber sem controle foi associado pelos pacientes com
repertório empobrecido para responder aos adventos do cotidiano satisfatoriamente
ocasionando “um refúgio, um desabafo, uma fuga” resposta no questionário na pesquisa
de Santos e Veloso (2008, p. 63). Complementando este fato, a resposta na pesquisa de
Silva e Padilha (2011, p. 1066) “Eu consumo cerveja. Nas festas eu costumo beber
pouco, mas quando brigo com meu namorado ou com minha mãe bebo muito, bebo
porque fico magoada e para esquecer os problemas.”
Edwards, Marshall e Cook (2005), Bertolote e Ramos (1997) observam que a
associação entre abuso e dependência do álcool, tem influência no estado emocional do
indivíduo. Problemas relacionados a essa área são pesquisados há algum tempo, mas
estes apontamentos relacionados às inabilidades em situações sociais são inovadores
quanto ao tratamento e prevenção do abuso e dependência do álcool.
No âmbito dos periódicos publicados, as bases do Scielo forneceram 4 das 5
publicações científicas. Sendo a quinta obtida nas bases dos periódicos PUC/RS.
Quanto às revistas onde foram encontrados estes artigos, Interface, Jornal Brasileiro de

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Psiquiatria, Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, Revista da Escola
Enfermagem/USP e PSICO da PUC/RS.
Os dados apontam a pluralidade destes temas, e contradizem os achados de
Murta (2005) que apontou que estes estudos estão em sua maioria, em revistas da
Psicologia; portanto, encontrar estes temas em outras áreas demonstra a importância
deste assunto para diversas áreas do conhecimento.
Com relação às conclusões obtidas, como ocorre nas publicações científicas, as
conclusões não são maneiras de correlacionar diretamente um assunto ao outro, mas
apontam possíveis correlações. Alvarez (2007) observa que emergiram de sua pesquisa
os três maiores fatores de recaída, apontados pelos sujeitos: autoestima baixa,
assistência a festas e necessidade de beber. No entanto como eles poderiam escolher
mais de um fator, 54% destes sujeitos escolheram também outros 20 fatores, passando
assim a conclusão que a recaída é multifatorial como já apontavam Padin, Ribeiro e
Sakiyama (2012).
Silva e Padilha (2011) concluíram que o consumo da bebida alcoólica está
associado a um modo de não pensar nos problemas e entre os adolescentes, o álcool
favorece a socialização e o prazer e isso pode levar ao uso abusivo e contato com outras
drogas, funcionando como porta de entrada para as drogas ilícitas, como a maconha, a
cocaína e o tíner (SAKIYAMA ; ZANELATTO, 2011). Para Santos e Velôso (2008) as
conclusões se referem aos fatores que levaram os sujeitos à dependência química; a
maioria dos entrevistados atribui a dependência a problemas vividos na família e às
amizades, corroborando estes dados Zanelatto (2013) e Feldens (2009) observam que
um ambiente familiar caótico é preditor de um comportamento de risco, influenciando o
individuo seja pela modelação do ambiente, seja pelo exemplo modulador dos
cuidadores.
No entanto, apesar de algumas conclusões pouco precisas, Cunha et al (2007) e
Cunha, Peuker e Bizarro (2012) apontam de maneira mais concisa suas conclusões
quanto a inter-relação entre abuso de drogas, DQ e HS. Cunha et al (2007) assinalam
que o estudo conclui que há prejuízos no repertório e desempenho social dos pacientes
alcoolistas investigados, que entre os participantes, os maiores prejuízos estão nas áreas
da auto-afirmação, sentimento positivo, conversação e desenvoltura social, bem como a
presença de crenças e expectativas de facilitação nas interações sociais através do uso
do álcool.

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Cunha, Peuker e Bizarro (2012) concluem que há associação entre beber
problemático e o padrão binge como déficit em habilidades sociais. Estes dados
confirmam a literatura atual que aponta a eficácia no tratamento do abuso e dependência
química com intervenção do treinamento de habilidades sociais (DEL PRETTE & DEL
PRETTE, 1999; ZANELATTO, 2013).

Habilidades Sociais e Maconha

Com relação a este tipo de substância psicoativa, houve estudos que


relacionaram dependentes e abusadores desta substância, foram encontrados três artigos
que correspondiam com os critérios de inclusão e exclusão. Estão relacionados abaixo
os autores, ano e título das publicações.

Tabela 3 - Relação de autores (ano) e artigos selecionados

Autor Título da pesquisa


Wagner e Oliveira (2007) Habilidades sociais e abuso de drogas em adolescentes.
Wagner e Oliveira (2009) Estudo das habilidades sociais em adolescentes usuários
de maconha.
Wagner et. al. (2010) O uso da maconha associado ao déficit de habilidades
sociais em adolescentes.
Fonte: Autoria própria

A metodologia de Wagner e Oliveira (2007) foi uma revisão bibliográfica e as


demais pesquisas foram estudos quantitativos. Com relação ao período das publicações,
devido ao pequeno número da amostra, não há comparações significantes.
Os objetivos dos artigos respectivamente, respeitando a ordem da tabela 3
foram: revisão da literatura sobre habilidades sociais e abuso de substâncias, avaliação
das habilidades sociais de adolescentes usuários e dependentes de maconha comparando
seu desempenho com o de não-usuários/dependentes e descrição dos dados sobre a
avaliação das habilidades sociais de uma amostra de adolescentes usuários e
dependentes de maconha, comparados com adolescentes não usuários/dependentes da
mesma substância.
Os periódicos foram encontrados no Scielo e no Pepisc, onde no Scielo a
publicação das autoras Wagner e Oliveira (2007) e no Pepsic as demais publicações.
Quanto às revistas, elas pertencem respectivamente conforme a tabela 3, à Psicologia

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Clínica (Scielo), Psicologia em Estudo (Pepsic) e SMAD - Revista Eletrônica Saúde
Mental Álcool e Drogas (Pepsic).
Quando observada a população alvo destes estudos, verifica-se que eles não se
dirigiam apenas a usuários de Cannabis Sativa, conhecida popularmente pelo nome de
Maconha, mas também a dependentes, como está descrito no título da publicação,
quando analisada a amostra do estudo ela inclui abusadores e dependentes.
No estudo de Wagner e Oliveira (2009), a amostra foi constituída por 98 sujeitos
do sexo masculino, divididos em dois grupos: um grupo composto de adolescentes
usuários de maconha com diagnóstico de dependência ou abuso dessa substância e um
grupo de adolescentes não usuários de maconha. Também na publicação de Wagner et
al (2010), foram pesquisados 30 sujeitos, sendo 15 adolescentes usuários ou
dependentes de maconha e 15 não usuários.
Conforme já ilustrado, a pesquisa de Wagner e Oliveira (2007) é uma revisão
bibliográfica; delimitaram sua pesquisa nas línguas português e inglês, pesquisando nas
bases de dados Cochrane Library, Lilacs, Medline, Proquest, PsycINFO e Web of
Science, no intervalo dos anos de 1996 a 2006. Os descritores na língua inglesa foram:
social skills, social skills training, social competence, assertiveness, adolescents,
teeenagers, substance abuse, drug abuse, cannabis e marijuana e na língua portuguesa:
habilidades sociais, treinamento em habilidades sociais, assertividade, adolescentes,
abuso de substâncias, drogas e maconha. Os autores também analisaram livros e artigos
que não se encontravam indexados.
Para a realização das pesquisas de Wagner et al (2010) e Wagner e Oliveira
(2009) os instrumentos utilizados foram o Inventário de Habilidades Sociais – IHS,
Screening Cognitivo das Escalas Weschler de Inteligência WISC-III e WAIS-III e
Inventários de Ansiedade e Depressão de Beck, sendo que, para apontar abuso ou
dependência foram utilizados os critérios do DSM-IV-TR. Provavelmente foram os
mesmos instrumentos por serem, em parte, os mesmo autores, visto que as publicações
não têm como objetivo a continuidade entre elas, mas servem como comparativo
quando analisadas longitudinalmente.
As conclusões de cada artigo refletem seus objetivos iniciais, Wagner e Oliveira
(2007) constataram que a literatura revisada mostrou fortes evidências de que
adolescentes abusadores e dependentes de substâncias psicoativas, podem apresentar
déficits nas habilidades sociais. No estudo de Wagner e Oliveira (2009), os autores
concluíram que mesmo não apresentando dados expressivos, houve comprovação de

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que as áreas mais deficitárias nos sujeitos pesquisados relacionavam-se ao
enfrentamento de situações novas e a inabilidade em lidar com sentimentos e reações de
agressividade. Enquanto Wagner et al (2010) apontou em sua conclusão que a área mais
deficitária encontra-se no autocontrole da agressividade em situações que o indivíduo
compreende como negativa, denotando que adolescentes que fazem uso de substâncias
psicoativas tendem a apresentar maior inabilidade para lidar com sentimentos e reações
gerados nas situações sociais, o que pode contribuir para a busca da substância como
comportamento não assertivo de enfrentamento destas situações. Confirmando os
achados nas publicações Caballo (2008) e Zanelatto (2013), observam que ser inábil
frente situações sociais, podem acarretar a buscar por outros meio de ser aceito
socialmente; este indivíduo pode ter consequências psicológicas como depressão e
ansiedade, entre outros transtornos causados pela dificuldade em ser assertivo nas
diversas áreas sociais como escola, trabalho, família entre outros.

Habilidades Sociais e Tabagismo

O tabagismo juntamente com a dependência do álcool lidera as pesquisas quanto


ao abuso e dependência de SPA, no entanto pesquisas relacionadas com HS e
Tabagismo são escassas (CARLINI et al, 2006; RODRIGUES; SILVA; OLIVEIRA,
2011). Foram selecionadas duas publicações que se adequavam aos critérios de seleção
do presente artigo e estão relacionadas abaixo.

Tabela 4 - Relação de autores (ano) e artigos selecionados

Autor Título da pesquisa


Pinho e Oliva (2007) Habilidades sociais em fumantes, não fumantes e ex-
fumantes.
Rodrigues, Silva e Habilidades sociais e tabagismo: uma revisão de
literatura
Oliveira (2011)

Fonte: Autoria própria

Quanto aos métodos de pesquisa, Pinho e Oliva (2007), apresentam uma


publicação de caráter quantitativo enquanto Rodrigues, Silva e Oliveira (2011) realizam
uma revisão bibliográfica. Desta forma os objetivos dos estudos são respectivamente,
revisão da literatura sobre habilidades sociais em tabagistas e conhecimento preliminar

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da relação entre habilidades sociais e a condição de ser fumante, não-fumante ou ex-
fumante.
A amostra do estudo quantitativo pelo método da probabilidade acidental foi
inicialmente de 150 pessoas. Foram descartados dois participantes por não terem a
escolaridade exigida, os demais foram alocados em grupos de acordo com a
dependência; assim foram: 51 não-fumantes, 43 ex-fumantes, 45 fumantes regulares e
nove fumantes ocasionais. O instrumento utilizado foi o Questionário de Habilidades
Sociais (IHS) e um questionário estruturado fechado, criado pelas autoras.
Quanto às bases de pesquisa, Pinho e Oliva (2007) publicaram seu artigo na
Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, indexado nas bases de dados do Scielo
Rodrigues, Silva e Oliveira (2011), na revista dos Arquivos Brasileiros de Psicologia
indexada na Pepsic, corroborando com a pesquisa de Murta (2005) que as publicações
nacionais podem ser mais facilmente encontradas em revistas da psicologia.
Nos resultados das autoras Rodrigues, Silva e Oliveira (2011), concluíram que
os dados disponíveis na literatura sugerem que a relação de déficit de habilidades
sociais em tabagistas merece ser mais investigada e recomendam a implementação de
programas de prevenção e tratamento ao tabagismo, sendo que seja observada a
importância do THS nesse processo.
Os resultados da pesquisa de Pinho e Oliva (2007) apontaram que referente à
classificação de repertório deficitário o percentual obtido foi de 16,7% no grupo de
fumantes e 11,6% no grupo de ex-fumantes e quanto à classificação de repertório
elaborado emergiu um percentual de 37% no grupo de fumantes e 48,8% no grupo de
ex-fumantes. Outro dado apontado na conclusão diz respeito à combinação álcool e
tabaco na qual 50% dos fumantes responderam que fazem uso da bebida alcoólica. Este
dado é corroborado por Ramos e Bertolote (1997) que apontam que em sua maioria,
tabagistas também são alcoolistas ou fazem abuso desta substância.
Portanto melhorar as aptidões gerais como habilidades de recusa, fortalecimento
emocional e as habilidades sociais como um todo, podem ocasionar melhoras nas
avaliações perante o uso iminente de drogas ou ainda auxiliar em situações de risco de
recaída, visto que ser habilidoso socialmente pode ocasionar novas respostas de
enfrentamento a drogadição.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura revisada mostrou fortes evidências de que indivíduos abusadores e


dependentes de substâncias psicoativas podem apresentar déficits nas habilidades
sociais, sendo que alguns artigos de maneira menos específica, outros de forma mais
incisiva, dependendo da metodologia da pesquisa e número da amostra, todos tiveram
resultados de que ser inábil socialmente ocasiona piores respostas frente à drogadição.
Outro dado relevante apontado por esta revisão bibliográfica refere que
independente do nível de adesão às SPA, abuso ou dependência, ter melhor repertório
de habilidades sociais auxilia na resolução de situações-problemas frente a estas
questões. Também foi determinado que independente da substância utilizada, álcool,
tabaco ou maconha, ter piores respostas sociais é parte de um grupo de risco, e que
provavelmente se os abusadores e dependentes têm resultados ruins quanto às
habilidades sociais e o grupo de não-usuários tem respostas melhores, possivelmente
incluir o THS no tratamento da dependência química ocasione melhoras e possa
prevenir o uso.
Sendo assim, a prevenção ao uso diariamente é assunto de maior interesse por
parte das políticas públicas em saúde e cada vez mais pesquisadores estão interessados
em propor ou descobrir novas estratégias preventivas ao uso de drogas. Nessa
perspectiva, percebe-se que as publicações atuais abordam o desenvolvimento de
habilidades sociais e, mais especificamente, de habilidades de recusa às drogas como
uma das formas de prevenção.
Obstáculos encontrados neste trabalho dizem respeito aos poucos artigos
encontrados, algo natural, conforme Murta (2005) que realizou uma pesquisa analisando
a produção nacional em THS e reconheceu que os estudos nacionais nessa área têm
início recente.
Outra questão a ser mencionada, mas como sugestão aos novos trabalhos, é
referente ao tipo de substância psicoativa, pois nesta revisão não foram incluídas as
substâncias psicoativas cocaína, LSD e crack, por não haver publicações
correlacionando com as habilidades sociais. Seria imensamente auxiliador no campo de
pesquisa e prática ter estudos que abrangessem os demais tipos de drogas.
Portanto pesquisas adicionais, utilizando outros veículos de publicações como
dissertações, jornadas científicas e livros e utilizando outros critérios de inclusão do uso
de substâncias podem complementar pesquisas nessa área que apesar de atualmente ser
pequena está em crescimento.

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OS AFETOS E A MOBILIZAÇÃO DA CONDUTA: A
MOTIVAÇÃO PARA O TRATAMENTO DA
DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Resumo
Nesta parte configura-se como um estudo teórico que busca examinar a motiva-
ção para o tratamento em dependência química à luz da teoria piagetiana.
Assim, compreendemos que a motivação para a conduta tem suas bases na
afetividade. Os afetos são o combustível que movem a ação. Partindo dessa
premis-sa, investigamos o mecanismo de motivação proposto por Piaget
(1954/2014a). Partindo dessa perspectiva, examinamos a relação entre um
sujeito e uma droga que se estabelece em casos de dependência química.
Compreendemos que há aí uma relação de exclusividade na qual se atribui
intenso valor a um único objeto: a droga. O rompimento dessa relação
envolve alguns sentimentos, tais como vontade, tristeza, culpa, vergonha e
medo, que tanto podem motivar o rompi-mento quanto a manutenção do
consumo de drogas. Assim, observamos que é possível afirmar que os
sentimentos motivam a ação, embora não seja possível realizar um controle
sobre qual será a conduta motivada por determinado sen-timento.

Palavras Chave: afetividade; motivação; dependência química.

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Introdução

Abordaremos a DQ como uma relação de um sujeito com um objeto de


consumo a droga (CONTE et al., 2007; PIMENTA;

CREMASCO; LESOURD, 2011; RIBEIRO et al., 2012; ROMANINI; ROSO,


2012a;
SANTIAGO, 2001; SANTOS; COSTA-ROSA, 2007). Isto é, o nosso foco não está
na substância e nos efeitos que ela pode causar, mas em um modo de relação
que o sujeito estabelece com os seus objetos de consumo (SANTIAGO, 2001).
Seguimos, assim, a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS, 1974,
p. 15),segundoaqualafarmacodependênciaéumestado“causadopelaintera-
çãoentreumorganismo vivoeumfármaco”.

Na DQ, a droga é tomada como um objeto sedutor (BAUS et al.,


2002), no qual é possível encontrar uma satisfação completa e imediata (CU-

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NHA; SILVEIRA; PAIVA FILHO, 2012; GIACOBONE; MACEDO, 2013;
RAUPP; MILNITSKY-SAPIRO, 2009; SANTOS; COSTA-ROSA, 2007). Se vive-
mos na sociedade do hiperconsumo, que privilegia a busca pela satisfação com
objetos de consumo, a dependência química ocorre na esteira desse modo de
viver (LIPOVETSKY, 2004).

A parceria com a droga pode ser também entendida como um modo


de lidar com o sofrimento (PRATTA; SANTOS, 2012; REZENDE; PELICIA,
2013; RIGOTTO; GOMES, 2002; SOUSA et al., 2013). Diante do mal-estar impos-
to pelos acontecimentos da vida, a droga se apresenta como um objeto sedutor
que tem a potência de amenizá-lo (BAUS et al., 2002). Entretanto, de forma pa-
radoxal, essa parceria que promete alívio para o mal-estar, cumpre sua promes-
sa de modo intenso, mas apenas no instante do consumo da droga. No momen-
to seguinte, já emerge o sofrimento. É o que caracteriza o ciclo da DQ: o prazer
no momento do consumo é seguido pelo sofrimento no momento da sobriedade
(OLIVENSTEIN, 1980; PEREIRA; MIGLIAVACCA, 2014). É o paradoxo dos
tempos hipermodernos: a felicidade que se busca por meio de objetos de con-
sumo concretiza-se em um prazer evanescente, que logo se transforma em mal-
estar (LIPOVETSKY, 2004).

Na busca por uma satisfação cada vez mais intensa e constante, o su-
jeito, em sua DQ, faz com a droga um laço de exclusividade que o impede de
estabelecer outras parcerias. E, por vezes, leva à perda de laços sociais e afetivos
já estabelecidos (PIMENTA; CREMASCO; LESOURD, 2011; ROMANINI; RO-
SO, 2012b; SANTOS; COSTA-ROSA, 2007). Além disso, o consumo prolongado
de drogas causa danos tanto à saúde psíquica quanto à física (CUNHA et al.,
2004; INCIARDI et al., 2006; MARSDEN, 2009; PECHANSKY et al., 2006; RI-
BEIRO; SANCHEZ; NAPPO, 2010; RIBEIRO et al., 2006).

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Diante dessas características d a DQ, uma questão se impõe: o que
pode motivar um dependente químico a romper a parceria com a droga? Procu-
rando responder a esse questionamento, vamos recorrer a teoria acerca da enér-
gica da ação elaborada por Piaget (1954/2014a). Sendo assim, assumimos que
toda ação é mobilizada pelos afetos, isto é, os sentimentos. Propomos neste arti-
go examinar a participação dos sentimentos na motivação para o rompimento
da relação com a droga.

A mobilização da conduta e os sentimentos.

Reconhecido por seus estudos sobre o desenvolvimento cognitivo,


Piaget (1954/2014a) também se dedicou às relações entre inteligência e afetivi-
dade. Sem sobrepujar afeto ou cognição, aponta que na conduta concreta, afeto
e cognição são indissociáveis: “não há mecanismo cognitivos sem elementos
afetivos” (p. 39). E atribui à afetividade a função de energética que nos impulsi-
ona à ação. Ao observar uma conduta de repetição, questionou: “O problema
afetivo é então o seguinte: porque tal resultado tem valor aos olhos do sujeito?
Quais são as motivações de uma conduta desse gênero?” (PIAGET, 1954/2014a,
p. 98, grifo nosso). Partindo dessa perspectiva, pretendemos examinar a moti-
vação para uma conduta. Especificamente, pretendemos refletir sobre o que
motiva alguém a modificar sua conduta e procurar tratamento para a DQ.

Ainda acerca da passagem anteriormente citada, observamos que, na


versão francesa, encontra-se o seguinte: “Le problème affectif est alors le sui-
vant: pourquoi un tel résultat a-t-il de la valeur aux yeux du sujet? Quels sont
les mobiles d’une conduit de ce genre?” (PIAGET, 1954/2006, p. 40, grifo nos-
so). Se nos lembrarmos de que a obra do filósofo Immanuel Kant foi uma cons-
tante inspiração para Piaget (como apontam: QUEIROZ; RONCHI; TOKUMA-
RU, 2009), podemos recorrer à Crítica da razão prática, na qual encontramos este
mesmo termo: “mobile” (KANT, 1788/1989, p. 245). Ele surge quando Kant in-

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vestiga o que pode motivar uma ação para que ela seja caracterizada como mo-
ral. Na versão brasileira, termo mobiles encontra-se traduzido como “impulsio-
nadores” e mobil é traduzido por “motor” (KANT, 1788/2004, p. 57). Para Kant,
um móbil é o “princípio subjetivo que determina a vontade” (p. 57). A vontade,
por sua vez, determina a ação. Assim, podemos ler o termo móbil como um
princípio subjetivo que determina a ação. Isso porque a ação só ocorre se, em
um primeiro momento, um móbil tiver determinado a vontade. Nesse sentido,
compreendemos que é possível equiparar os termos mobilizar e motivar. Visto
que, onde na versão brasileira encontra-se o termo “motivações”, na versão ori-
ginal, em francês, encontra-se “móbiles”.

Aproximando-se a essa referência kantiana, e ampliando a ação do


móbil, Piaget também propõe a existência de um princípio subjetivo que impul-
siona a conduta. Em suas próprias palavras: “a energética da conduta provém
da afetividade” (1954/2014a, p. 47). Isto é: portamos certo motor afetivo que nos
impulsiona à ação. Sendo que, a afetividade compreende os sentimentos, as
emoções, em particular a vontade. Assim, quando apontamos que os sentimen-
tos mobilizam a ação, assumimos que os sentimentos têm a potência de atuar
como combustível para uma conduta. Desse modo, ao lançarmos uma investi-
gação sobre a motivação, pretendemos investigar a afetividade como o motor
da ação, como móbile que impulsiona a ação.

Interpretar o motor afetivo como motivação é algo que já foi apresen-


tado anteriormente (OLIVEIRA, 2001). De modo semelhante, propor um estudo
sobre motivação baseado na obra de Piaget também não é uma novidade, posto
que é possível encontrar outros estudos com tal proposta (BASKALE et al.,
2009; CARDOSO; COLINVAUX, 2000; GODOI, 2002; GODOI; FREITAS; CAR-
VALHO, 2011). No entanto, eles estão voltados ou para questões que envolvem
aprendizagem ou mesmo para questões organizacionais. O que diferencia nossa

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pesquisa é a possibilidade de abrir novos caminhos para a aplicação da teoria
piagetiana.

Acrescentamos, ainda, que se Piaget (1954/2014a) examinou a moti-


vação para uma ação que se repete, nós investigamos o que motiva o cessar da
repetição. Em suma: qual é o motor afetivo que desencadeia o cessar da ação que
é repetida? Entendemos que o cessar da repetição também pode ser compreen-
dido como uma conduta, pois “toda conduta é uma adaptação, e toda adapta-
ção, o restabelecimento do equilíbrio entre o organismo e o meio. Nós só agi-
mos quando estamos momentaneamente desequilibrados [...]. A conduta chega
ao final quando a necessidade está satisfeita” (p. 41). A necessidade, por sua
vez, “é sempre a manifestação de um desequilíbrio. Ela existe quando qualquer
coisa fora de nós ou dentro de nós [...] se modificou, tratando-se, então, de um
reajustamento da conduta em função desta mudança” (PIAGET, 1964/2014b, p.
6). Desse modo, quando o dependente químico se engaja no tratamento, é pos-
sível que ele esteja em busca de um equilíbrio que foi perdido em função da
relação de exclusividade com a droga. Assim, é possível compreender que o
dependente químico, ao realizar o tratamento, está apresentando uma nova
conduta.

A relação sujeito-objeto, típica da DQ, (CONTE et al., 2007; PIMEN-


TA; CREMASCO; LESOURD, 2011; RIBEIRO et al., 2012; ROMANINI; ROSO,
2012a; SANTIAGO, 2001; SANTOS; COSTA-ROSA, 2007) foi abordada por Pi-
aget (1954/2014a, p. 100) por meio do conceito de valor; compreendido por co-
mo uma ligação afetiva entre um objeto e um sujeito, na qual o sujeito projeta
“um conjunto de sentimentos” sobre o objeto. Todavia, o valor não é atribuído a
um objeto qualquer, apenas àqueles que julgamos necessários. Essa não é uma
necessidade fisiológica, como fome e sede. É uma necessidade que surge diante
do desequilíbrio: “a necessidade [...] é essencialmente a tomada de consciência

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de um desequilíbrio momentâneo, e a satisfação da necessidade é tomada de
consciência da volta ao equilíbrio” (p. 105). Considerando que os tratamentos
oferecidos no Brasil exigem abstenção em relação às drogas ilícitas (MACHA-
DO; BOARINI, 2013), levantamos a hipótese de que, ao iniciar o tratamento, o
sujeito fez uma escolha, ainda que momentânea, de interromper o consumo de
drogas. Assim, a necessidade de realizar o tratamento pode indicar que houve a
tomada de consciência de um desequilíbrio provocado pela relação com o obje-
to droga.

Prosseguindo com a proposta de Piaget (1954/2014a), entre a neces-


sidade e a satisfação encontramos o interesse. No entanto, podem haver muitos
objetos de interesse. Quando nos deparamos com um dilema frente a diversos
objetos de interesse, a vontade pode intervir a fim de dissolver o dilema. Assim,
a vontade é um indício de que houve um conflito afetivo no qual uma força
mais fraca, por meio de uma descentração afetiva, torna-se mais forte. Já a des-
centração é uma ampliação do “campo de comparação” (p. 247). Essa ampliação
do campo permite que o sujeito que se encontra diante de um dilema possa
comparar os valores que ali estão em cena com outros que, a princípio, não se
apresentavam. É por meio dessa ampliação que uma força menor, vista de outra
perspectiva, torna-se maior.

A vontade merece atenção quando tratamento da DQ, pois no de-


pendente químico, “a vontade está doente, ela só trabalha para que haja auto-
nomia para a droga” (OLIVENSTEIN, 1980, p. 69). Observando as altas taxas de
abandono do tratamento (LARANJEIRA et al., 2001; SCADUTO; BARBIERI,
2009), levantamos a hipótese de que a vontade de permanecer na relação com o
objeto droga é maior que a vontade de rompê-la. Como vimos anteriormente, a
droga é encarada como um objeto sedutor, que porta a possibilidade de um en-
contro com a satisfação completa e imediata. É possível que, para as pessoas

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que estabelecem uma relação de exclusividade com a droga, seja difícil encon-
trar algo que tenha mais valor que ela. No entanto, muitos buscam o tratamen-
to. Assim, existem indícios de que, em alguns momentos, ao observar os danos
físicos, psíquicos e sociais causados pela DQ (CUNHA et al., 2004; INCIARDI et
al., 2006; MARSDEN, 2009; PECHANSKY et al., 2006; PIMENTA; CREMASCO;
LESOURD, 2011; RIBEIRO et al., 2006; ROMANINI; ROSO, 2012b; SANTOS;
COSTA-ROSA, 2007), o valor dado à droga pode diminuir. Isto é: quando o
campo de comparação é ampliado para além do prazer proporcionado pela
droga, e os seus prejuízos são considerados, abre-se uma nova possibilidade.
Diante da qual, um dilema se instala: permanecer com a droga ou romper com
ela?

Para Piaget (1954/2014a), só é possível afirmar que houve atuação da


vontade num momento depois da conduta. É então que podemos identificar se
a opção de menor valor inicial tornou-se a eleita. No caso da DQ, se a opção por
começar um tratamento torna-se valorosa aos olhos do sujeito, há aí um indício
da atuação da vontade. Quando, mesmo diante do dilema, o consumo de dro-
gas é mantido, não houve a atuação da vontade, pois foi mantida a opção que
desde o início era a mais valorosa.

É notável que a vontade tenha sido encontrada no discurso dos de-


pendentes químicos: tanto a vontade de consumir droga (CRAUSS; ABAID,
2012; RIGOTTO; GOMES, 2002; SILVA; SERRA, 2004; SOUZA; MATTOS, 2012)
quanto a vontade de parar de consumir (RIGOTTO; GOMES, 2002; SOUZA;
MATTOS, 2012). Em um estudo, encontrou-se um discurso predominante se-
gundo o qual, para abandonar o uso, basta que o sujeito tenha vontade (VAR-
GAS; LUIS, 2008). Vale ressaltar que a vontade não envolve a atuação de uma
força nova. Ela apenas é uma regulação de forças (PIAGET, 1954/2014a). No
senso comum é frequente a ideia de que para alcançar objetivos basta ter “força

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de vontade”, mas isso está muito distante da proposição piagetiana. Como vi-
mos, ele apresenta um mecanismo por meio do qual os afetos motivam uma
ação, que sempre tem início com um desequilíbrio. Este, por sua vez, gera uma
necessidade, levando ao interesse pelo objeto que sacia a necessidade, ainda que
momentaneamente. A vontade apenas se interpõe quando há um dilema. Ou
seja, quando existem ao menos dois objetos valorosos que têm a potência de
satisfazer o interesse, saciar a necessidade e restabelecer o equilíbrio. Quando
vemos todas as notícias que são veiculadas pela mídia sobre o uso de drogas e,
mais especificamente, o consumo de crack (CUNDA; SILVA, 2014; MACHADO;
BOARINI, 2013; ROMANINI; ROSO, 2012b), tendemos a acreditar que o de-
pendente químico está sempre em desequilíbrio. Porém, se para o sujeito a dro-
ga satisfaz as suas necessidades, da sua perspectiva, ele pode estar em equilí-
brio. Desse modo, se não houver a percepção do desequilíbrio, todo o mecanis-
mo de motivação da ação não será desencadeado, logo, não haverá atuação da
vontade.

Outros sentimentos

Como vimos, Piaget (1954/2014a) não se dedica a descrever a ação


isolada de cada sentimento na motivação. O que ele faz é descrever o mecanis-
mo geral da mobilização da ação. Diante disso, buscamos, na literatura que
aborda a DQ, estudos que abordam a participação dos sentimentos na DQ. De
forma geral, os estudos reconhecem a participação da afetividade tanto na mo-
tivação para manter a relação com a droga quando para rompê-la. Por vezes, o
mesmo sentimento atua em ambas as direções. Entre os sentimentos abordados,
encontramos: prazer, tristeza, culpa, vergonha e medo.

Prazer

Inicialmente, vamos examinar o sentimento que ocorre no momento


do consumo de drogas: o prazer (ALARCON; JORGE, 2012; BUCHER; OLIVEI-

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RA, 1994; PRATTA; SANTOS, 2006; 2012; ROBINSON; BERRIDGE, 2003; SAN-
CHEZ; NAPPO, 2002). Há uma vasta discussão sobre a diferença entre prazer e
felicidade. De forma breve, a felicidade é temporalmente mais ampla que o pra-
zer, envolvendo-o, mas não se restringindo a ele. Dito de outro modo, se o pra-
zer ocorre momentaneamente, a felicidade permanece com o passar do tempo
(LA TAILLE, 2006).

Esse instante de prazer encontrado no consumo da droga é compre-


endido como principal causa da dependência química: a “[...] dependência vi-
vida por tais sujeitos liga-se mais aos efeitos prazerosos produzidos pela droga
do que a significação que esta tem em sua vida” (ARTEIRO; QUEIROZ, 2011, p.
1594). Assim, a tônica da dependência química é colocada nas potencialidades
da substância, nos efeitos produzidos pelo objeto droga. A despeito disso, con-
cordamos com a OMS (1974) e priorizamos a interação entre um determinado
organismo e a substância.

O prazer, situado nesse encontro com o objeto droga, é componente


importante para o estabelecimento da dependência. Entretanto, é preciso consi-
derar que o consumo da droga é também um modo de tentar lidar com o sofri-
mento (GOEDERS, 2004; PRATTA; SANTOS, 2012; REZENDE; PELICIA, 2013;
RIGOTTO; GOMES, 2002; SOUSA et al., 2013; WISE; KOOB, 2014). Além disso,
não podemos isolar o consumo de drogas das características que dominam o
cenário da civilização que nos é contemporânea: vivemos na sociedade do hi-
perconsumo (LIPOVETSKY, 2004). Desse modo, o consumo desenfreado de
substâncias psicoativas também cumprem seu papel civilizatório. É nessa mo-
dalidade de consumo que se busca a satisfação imediata e constante (CUNHA;
SILVEIRA; PAIVA FILHO, 2012; GIACOBONE; MACEDO, 2013; RAUPP; MI-
LNITSKY-SAPIRO, 2009; SANTOS; COSTA-ROSA, 2007). O que muitas vezes
se encontra, porém, é um sofrimento ainda mais intenso. Como veremos a se-

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guir, os sentimentos que mais são encontrados na literatura indicam um sofri-
mento: tristeza, culpa, vergonha, medo.

Tristeza

A tristeza é comumente abordada pelos estudos acerca da dependên-


cia química (GABATZ et al. 2013; GONTIJO; MEDEIROS, 2009; HALLAL, 1998;
LEHNEN, 1996; MARSDEN, 2009; OLIVENSTEIN, 1980; PIMENTA; CRE-
MASCO; LESOURD, 2011; RIGOTTO; GOMES, 2002; ROCHA; PEREIRA; DIAS,
2013; SAIDE, 2011). É interessante notar que, em alguns casos, ele é apontado
como resultado do estudo, mas o dado não é discutido (DIETZ et al., 2011; RI-
GOTTO; GOMES, 2002; SILVA, 2012). Esse sentimento é abordado por Piaget
(1954/2014a) ao afirmar que uma conduta não se encerra em si mesma. É preci-
so uma regulação energética posterior à ação, e, quando uma conduta leva ao
fracasso, ela pode gerar tristeza. De modo similar, para Olivenstein (1980), a
tristeza faz parte do ciclo da DQ e surge após o consumo da droga, quando o
sujeito tem condições de avaliar os danos que sua dependência causa. Desse
modo, é possível considerar que a tristeza finaliza, ainda que momentaneamen-
te, a conduta de consumir droga.

Considerando que a DQ é marcada pela repetição, após o prazer em


função do consumo, pode aparecer a tristeza, que, concomitantemente, encerra
uma conduta e marca o início de um novo ciclo de consumo (ROMANINI; RO-
SO, 2012b). Essa hipótese é corroborada por um estudo que mostrou que ela
está presente tanto antes do consumo quanto depois, atenuando-se ao longo
dele (MEINER et al., 2005). Confirma, ainda, indicativos de que o consumo de
drogas tem a função de impedir o contato com a tristeza. Assim, sempre que ela
se apresenta, inicia-se um ciclo de consumo. Desse modo, esse sentimento atua-
ria como motivador para o consumo (GONTIJO; MEDEIROS, 2009; LEHNEN,
1996; REZENDE; PELICIA, 2013; VIEIRA et al., 2008). Como já vimos, o consu-

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mo de drogas pode ser uma tentativa de atenuar um mal-estar (PRATTA;
SANTOS, 2012; REZENDE; PELICIA, 2013; RIGOTTO; GOMES, 2002; SOUSA
et al., 2013). Quando a tristeza é sentida como um mal-estar, um sofrimento, o
uso de drogas pode ocorrer no intuito de impedir o contato com esse sofrimen-
to.

Por outro lado, a tristeza também é apontada como fator importante


no rompimento da relação com a droga. Para romper a relação com a droga, é
necessário atravessar um período de luto, do qual o sentimento de tristeza é
uma consequência (HALLAL, 1998). Esse dado é ratificado por um relato de
caso clínico em que o sujeito adere ao tratamento após ter passado por uma
perda afetiva (o rompimento de uma relação amorosa), o que lhe causou uma
grande tristeza (NERY FILHO et al., 2009). Desse modo, a tristeza tanto pode
ser um sentimento que mobiliza o sujeito a romper a relação com a droga quan-
to fortalece o laço com ela.

Culpa

Com o sentimento de culpa novamente também não encontramos


unanimidade quanto à sua ação. Se alguns estudos apontam que ele não tem a
potência de motivar uma mudança no consumo de drogas (BAUS et al., 2002;
DEARING, STUEWIG; TANGNEY, 2005; SANTOS; COSTA-ROSA, 2007), ou-
tros indicam que a culpa pode atuar como motivador para o tratamento (CON-
NER; LONGSHORE; ANGLIN, 2009; GOODMAN; PETERSON-BADALI;
HENDERSON, 2011).

A culpa é compreendida como um dos sentimentos que atua de mo-


do a motivar o sujeito a avaliar os seus atos, e assim, buscar uma mudança
(BAUS et al., 2002; RIGOTTO; GOMES, 2002). Muitas vezes, a mudança é a bus-
ca pelo tratamento com posterior manutenção da abstinência (CONNER;
LONGSHORE; ANGLIN, 2009; GOODMAN, 2009). Também de forma similar

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ao que ocorreu com a tristeza, alguns estudos encontraram o sentimento de
culpa relatado por participantes que se encontravam em tratamento para de-
pendência, mas o dado não foi discutido (MERCANTE, 2009; PIMENTA; CRE-
MASCO; LESOURD, 2011; SILVA, 2012; SILVA; SERRA, 2004)

Piaget não aborda o sentimento de culpa. É em La Taille (2002), que


investiga os móbiles da ação moral, que encontramos o conceito do sentimento
de culpa. Para ele, a culpa decorre de uma ação considerada negativa por aque-
le que age, em função de um prejuízo causado a outra pessoa. Assim, para que
ocorra a culpa, as consequências negativas da ação devem incidir não sobre
quem age, mas sobre outrem. Isto é: ao se presentificar a culpa, sempre há uma
vítima. Considerando essa proposição, a culpa não atuaria como móbile da
ação, pois ela procede de uma ação. Para funcionar como motivador, ela preci-
saria preceder a ação. Em estudo realizado por Koob e outros (2004), por exem-
plo, eles mostram que na dependência química segue um modo de funciona-
mento em que há um impulso para o uso, seguido de um prazer ou alívio, e, só
então aparece a culpa. Ou seja, após a ação.

Sendo assim, para motivar uma ação, a culpa deveria ligar-se a al-
gum sentimento que atuasse como motivador. Dentre os sentimentos propos-
tos, estão: amor, compaixão e simpatia. Além disso, quando a culpa ocorre após
a transgressão de uma regra, compreende-se que há aí a legitimação de tal re-
gra. De tal maneira que pode advir a necessidade de reparação do dano causa-
do a outrem (LA TAILLE, 2002, p. 146). Nesse caso, podemos compreender que
o sentimento de culpa pode sim motivar uma ação: aquela que visa a reparação
do dano.

Como se sabe, no Brasil, o tratamento para dependência química tem


sido amplamente realizado em comunidades terapêuticas, que tem como base o
aspecto religioso, especificamente, vinculado a religiões cristãs (SCADUTO;

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BARBIERI; SANTOS, 2014). Esses tratamentos têm sido alvo tanto de críticas
como de elogios. Um dos aspectos geradores de críticas está relacionado à pos-
sibilidade desse tipo de tratamento produzir culpa (FOSSI; GUARESCHI, 2015).
Considerando que a doutrina cristã é baseada na culpa pelos pecados cometi-
dos (BENEDICT, 1967), é possível que um tratamento coerente com seus ensi-
namentos acarrete o sentimento de culpa e a busca pela redenção dos pecados.
Não nos esqueçamos, porém, que a culpa apenas ocorre quando há a noção do
prejuízo causado a outrem (LA TAILLE, 2002). Assim, se o sujeito compreender
que a ação de consumir drogas gera danos apenas a ele mesmo, não haveria
razão para o sentimento incidir sobre essa ação. Outro fator que também pode
ter participação no aparecimento da culpa é o rompimento da relação com a
droga, propiciada pelo tratamento. Se durante o consumo da droga estabelece-
se uma relação de exclusividade, não há a possibilidade de que outrem seja
considerado. Assim, é improvável que o dependente químico, sob os efeitos da
droga, faça uma avaliação dos prejuízos que sua ação está causando àqueles
que estão à sua volta. Quando essa relação com a droga é rompida e outros la-
ços afetivos são restabelecidos, constitui-se, então, uma situação favorável à
ocorrência da culpa. Essa suposição é corroborada por pesquisas que apuraram
o sentimento de culpa em participantes que estavam em um tratamento que não
tinham esse vínculo com instituições religiosas (MERCANTE, 2009; SANTOS;
COSTA-ROSA, 2007; SILVA; SERRA, 2004). Compreendemos, portanto, que o
discurso religioso pode ser um fator que contribui para o aparecimento da cul-
pa, não é o único fator atuante.

Vergonha

Alguns estudos que apontam a culpa como motivador para o rom-


pimento da relação com a droga trazem-na vinculada à vergonha, sem fazer
uma distinção entre os sentimentos (GOODMAN, 2009; SILVA, 2012). Eles sen-
timentos podem mesmo ser confundidos em função de ambos ocorrerem em

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situação de transgressão (LA TAILLE, 2002). No entanto, existem diferenças
fundamentais entre eles, e, por conseguinte, é preciso abordá-los separadamen-
te. De forma sucinta, podemos dizer que a culpa incide sobre a ação, enquanto a
vergonha sobre o eu (DEARING, STUEWIG; TANGNEY, 2005; LA TAILLE,
2002).

Para Piaget (1932/1994), a vergonha é uma espécie de medo de de-


cair diante dos olhos de outra pessoa a quem respeitamos. La Taille (2002) vai
além e aponta outros componentes da vergonha. Para ele, a vergonha é um sen-
timento penoso que ocorre em virtude da união de duas conjunturas passionais:
a exposição e o sentimento de inferioridade gerado pela união de dois juízos – o
autojuízo e o juízo alheio. Tanto a exposição quanto o juízo alheio podem ser
apenas virtuais, isto é, imaginados por aquele que se sente envergonhado. O
juízo alheio só é capaz de participar dessa conjuntura quando o envergonhado
atribui legitimidade àquele que julga. O sentimento de vergonha coloca em
questão a imagem que o sujeito faz de si mesmo, bem como aquela que ele ima-
gina que os outros fazem dele. Desse modo, tanto na vergonha quanto na culpa
há a participação de outrem, mas na vergonha há a necessidade de um juiz, en-
quanto na culpa, de uma vítima. Isso quer dizer que um indivíduo pode sentir
vergonha por ser um dependente químico. Por outro lado, pode sentir culpa por
cometer furtos para consumir drogas.

Não há unanimidade quanto ao papel desempenhado pela vergonha


na motivação para o tratamento. Alguns estudos acerca da DQ indicam que a
vergonha pode servir como um motivador para o tratamento (GOODMAN,
2009; KOLLING; PETRY; WILSON, 2011; ROSENKRANZ et al., 2012), mas
também já foi apontado como motivador para o uso de drogas (SILVA et al.,
2009).

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Para que a vergonha atue como mobilizador da ação de buscar tra-
tamento é necessário que o dependente químico tenha a possibilidade de fazer
uma avaliação não só de suas ações e dos danos causados por elas, como ocorre
na culpa, mas essencialmente uma avaliação de si mesmo. Na vergonha, é o ser
e o conjunto de suas autoimagens e das imagens que os outros fazem dele que
são colocados em questão (LA TAILLE, 2002). Por isso, essa avaliação do sujeito
é fundamental para que desencadeamento da vergonha e sua posterior mobili-
zação da ação.

Diante disso, surge uma questão: como é possível propiciar a um de-


pendente químico essa avaliação sem que isso decorra de uma humilhação? Isto
é: sem que outrem faça um juízo negativo sobre ele que venha acompanhado de
violência (LA TAILLE, 2002). Os momentos de sobriedade, entre um ciclo de
consumo da droga e outro, são momentos propícios para essa reflexão. Esses
momentos, em que o prazer pelo consumo já se encontra distante, muitas vezes
são vividos com intenso sofrimento. É aí que se abre a possibilidade de uma
intervenção (OLIVENSTEIN, 1980; PEREIRA; MIGLIAVACCA, 2014; RIGOT-
TO; GOMES, 2002). Ou seja, é nessas circunstâncias que podemos fornecer um
espaço para que o dependente químico possa, ele mesmo, fazer suas auto-
avaliações.

Medo

De acordo com a proposta de Piaget (1932/1994), seguida por La Tai-


lle (2006), o medo ocorre em situações de heteronomia. Ou seja, segue-se uma
regra não por estar de acordo com ela, mas por medo de quem a emite; por me-
do da consequência que uma ação repreensível pode gerar. Assim, o medo não
está estritamente vinculado ao respeito a uma regra, ou lei.

Essa perspectiva não foi apresentada nos estudos sobre a motivação


na DQ. Algo que podemos notar quando observamos os objetos do medo rela-

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tados na literatura: recaída, perda de laços afetivos, maus tratos durante o tra-
tamento. Eles não têm relação direta com uma ação danosa, como ocorre no
sentimento de culpa, ou com uma imagem, no caso da vergonha. De forma ge-
ral, o sentimento de medo está vinculado a um perigo iminente. Assim, comu-
mente ocorre durante o consumo de drogas, em função de alguns comporta-
mentos que envolvem risco. Por exemplo, algumas práticas criminosas, como
furto e roubo, ou mesmo o comércio de drogas ilícitas. Mesmo nessas situações,
ele não se refere à transgressão da lei propriamente dita, mas aos riscos aos
quais se expõem. Além disso, também é relatado o medo em função do risco de
prejuízos à saúde por causa do consumo de drogas (RIBEIRO; SANCHEZ;
NAPPO, 2010). O medo diante desses riscos, bem como o medo de perder laços
afetivos, (CARVALHO et al., 2011; CONNER; LONGSHORE; ANGLIN, 2009) e
medo dos danos causados tanto a si quanto a outrem (SILVA; QUEIROZ; MI-
RANDA, 2016) são apontados como motivadores para o tratamento.

Novamente, não encontramos unanimidade quanto à função do me-


do na motivação. O medo de recaída, por exemplo, poderia servir como barrei-
ra contra o consumo de drogas, uma vez que poderia levar o indivíduo a man-
ter-se distante do seu objeto. No entanto, na literatura ele é considerado um mo-
tivador para o uso (FONTANELLA; TURATO, 2002; NERY FILHO et al., 2009).
É válido lembrar que os índices de recaída no consumo de drogas são elevados
(REZENDE; PELÍCIA, 2013). Como no Brasil a maior parte dos tratamentos
preconiza a abstinência total (MACHADO; BOARINI, 2013), um único contato
com a droga pode gerar uma frustração que favorece a manutenção do ciclo do
consumo.

Considerações finais

No que diz respeito à atuação dos sentimentos na motivação, não há


uniformidade quanto à direção em que eles atuam. De tal modo que os mesmos

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sentimentos podem atuar tanto na direção de motivar o rompimento da relação
com a droga, quanto na direção de motivar o consumo. No entanto, em ambos o
caso, o mecanismo de atuação dos sentimentos enquanto móbiles da ação é cor-
roborada. Dito de outro modo, tese apresentada por Piaget (1954/2014a), se-
gundo a qual o afeto é o móbile da ação, pode ser sustentado com base na litera-
tura acerca da DQ examinada neste trabalho.

Embora nos empenhemos para traçar linhas gerais que possam con-
tribuir para o tratamento da DQ, não perdemos a perspectiva do caso a caso e
da singularidade com que cada sujeito estabelece sua relação com determinada
droga. Em função disso, quando apontamos que a afetividade é a base da moti-
vação para o tratamento da DQ, não estamos sugerindo que o psicólogo atue a
fim de motivar o seu paciente. Observamos apenas que cabe ao psicólogo ofere-
cer um lugar de escuta e acolhida que dê espaço à afetividade. Oferecendo, as-
sim, a oportunidade para que, diante das reflexões realizadas pelo paciente,
emerjam afetos que mobilizam a ação.

Reiteramos, assim, a delicadeza com a qual devemos abordar os sen-


timentos manifestados nesses casos. Em uma abordagem terapêutica, não te-
mos, e é desejável que assim o seja, poder sobre como se dará a ação dos senti-
mentos, já que, como vimos, eles podem atuar de maneira dupla. Nesse sentido,
uma ação imperativa por parte do psicólogo, visando causar no paciente de-
terminado sentimento, pode ser mais prejudicial do que benéfica.

Ao longo deste trabalho, verificamos que, embora os sentimentos se-


jam comumente apresentados como resultados de estudos no campo da DQ,
muitas vezes o dado não vem acompanhado de uma discussão.
Consideramos que isso é representativo do modo como evitamos lidar com as
questões afeti-vas. Ao mesmo tempo, demonstra a necessidade de que mais
trabalhos assu-mam essa perspectiva. Abordamos aqui os sentimentos que
aparecem com frequência na literatura. É possível que na prática, durante o
tratamento, outros
sentimentos sejam manifestados. Como sugestão para trabalhos futuros,
segue a necessidade de verificar empiricamente se os dados de literatura aqui
apresentados têm respaldo.
LIFE PSICOLOGIA ®.
Dependência química: uma abordagem logoterapêutica

LIFE PSICOLOGIA ®.
Dependência química: uma abordagem logoterapêutica

Resumo
A dependência química é uma doença crônica resultante de efeitos prolongados da
droga no cérebro. A incidência do uso do crack intensifica-se a cada instante entre
outras drogas, provocando sofrimento, dor, angústia, vazio existencial, doenças e
morte.
A Logoterapia é a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia que intensiona
fundamentalmente possibilitar ao ser humano a descoberta de um sentido na vida.
Constatou-se, por meio de investigação, que a dependência química é, entre outras
razões, a ausência de um propósito na vida.
A pesquisa bibliográfica, focando a inter-relação dependência química com a
abordagem logoterapêutica, permitiu concluir que a Logoterapia pode ajudar muito o
ser humano a encontrar um sentido na vida, distanciando-os das drogas e tornando-
o responsável, livre, esperançoso e assim por meio do sofrimento, da dor, do amor,
ou também criando um trabalho, descubra um sentido para a vida.

LIFE PSICOLOGIA ®.
1 Introdução

O tema da dependência química sempre me despertou curiosidade e intensa


reflexão devido o fato dos seres humanos viverem a vida de extrema dependência,
por ser um aspecto definitivo da condição humana. Os seres humanos são
dependentes de objetos, não somente das drogas, mas também de jogos, pessoas,
religião, esportes, comidas e, até na própria velhice, a maioria dos seres humanos
também termina a vida em situação de dependência.
A incidência da dependência química vem crescendo a cada dia. Portanto,
vejo grande necessidade de profissionais qualificados incorporarem certas
qualidades humanas que nem sempre a graduação possibilita, mas sim um
conhecimento em nível pessoal que toca na sua existência, sendo eles: competência
científica qualificada, postura ética íntegra e formação humana.
Trabalhando no Programa de Medidas Sócio-educativas, da Secretaria da
Criança e do Adolescente, estabelecido no Fórum da cidade de Itajaí, no Estado de
Santa Catarina, com adolescentes em conflito com a lei, constatei como é alarmante
o número daqueles que usam substâncias psicoativas, especialmente o crack. Esta
é uma droga acessível financeiramente e de difícil interrupção de uso, e mesmo
saindo de eventual internação, é recorrente a recaída. São nesses momentos que
surge a pergunta: Qual o sentido da vida para esses adolescentes? Para quê viver
neste mundo sendo um ser sempre dependente de algo para viver?
Essa falta de sentido pode levar o indivíduo a fazer uso de drogas na tentativa
de substituir um vazio existencial pela sensação de prazer, esquecer por alguns
momentos os sofrimentos e angústias, querendo fugir de situações que não
conseguem lidar e nem ao menos quer entrar em contato com ela. Podendo levar o
adolescente à depressão, ao suicídio, ao roubo e, às vezes, até matar alguém para
conseguir a droga.
De acordo com a Logoterapia, cada pessoa é chamada a ser responsável
pela sua liberdade, tomando atitudes e fazendo suas escolhas, ainda que seja nos
momentos de dor e sofrimento. Por maiores que sejam os sofrimentos, quando o ser
humano possui um sentido na vida, um “para quê” viver, ele suporta qualquer dor e
se mantém vivo. Partindo do ponto que a Logoterapia é a psicoterapia que se
consegue por meio do encontro do logos ou do sentido da vida e sendo ela centrada

LIFE PSICOLOGIA ®.
na busca do sentido vital, pretendo trabalhar com adolescentes usuários de
substâncias psicoativas, na prevenção e tratamento destes, despertando-os para a
descoberta de um sentido na vida, por meio da abordagem logoterapêutica.

LIFE PSICOLOGIA ®.
2 Drogadição: aspectos gerais

Droga é qualquer substância capaz de modificar o funcionamento dos


organismos vivos, resultando em mudanças comportamentais ou fisiológicas. A
droga afeta o funcionamento mental e corporal do indivíduo, pode causar
dependência, tolerância, intoxicação e levar o indivíduo à morte.
A droga pode ser lícita ou ilícita. Dentre as lícitas estão o tabaco e o álcool e
dentre as ilícitas: maconha, cocaína, crack, heroína, ácido lisérgico (LSD), ecstasy,
plantas alucinógenas, opióceos e tranqüilizantes, sendo que os dois últimos anos
podem ser adquiridos por prescrição médica.
O primeiro termo empregado para referir-se à dependência de drogas foi a
toxicomania. O uso abusivo de substâncias psicoativas aumentou significativamente
no final do século XX e os usuários deixaram de serem chamados de marginais no
contexto social e passaram a serem identificados como nossos parentes, amigos,
colegas, vizinhos, enfim, como qualquer indivíduo, independente da sua classe
social.
O uso de substâncias psicoativas não é um fenômeno exclusivo da época em
que vivemos, pois as drogas foram utilizadas há tempos para fins medicinais,
culturais e de prazer. O que diferencia o uso das drogas do passado e o uso atual, é
que atualmente aumentou a variedade e quantidade de drogas existentes e ainda a
facilidade para aquisição das mesmas é maior, sendo estes os principais elementos
que contribuem para a diferenciação.
Para o DSM IV, dependência de substâncias corresponde a presença de um
conjunto de sintomas cognitivos, fisiológicos e comportamentais e evidência que o
indivíduo continua a utilizar uma determinada substância, apesar dos problemas
significativos relacionados a mesma.
A dependência química é uma doença crônica, resultante de efeitos
prolongados da droga no cérebro e é provocada pela ação direta da droga nas
diversas regiões cerebrais. As alterações do comportamento tornam-se
inadequadas, mal adaptativas, levando a nova administração da droga. Essa
alteração de comportamento, da motivação e da capacidade são sinais e sintomas
psicopatológicos que se originam do abuso das drogas.

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A continuidade do uso de drogas está relacionada a sensação prazerosa de
bem-estar e de alegria momentâneos, sendo conhecida na literatura como reforço
positivo. Há também procura pela droga quando há envolvimento de sensações de
tristeza, depressão ou ansiedade e o usuário busca alívio destas sensações ruins,
neste caso procuram na droga o reforço negativo.
Há vários tipos de dependência, entre elas: a dependência psíquica, física e
psicológica.
A dependência psíquica ocorre quando a droga produz um sentimento de
satisfação e um impulso psicológico que requer o uso contínuo da droga para
produzir prazer. Esta dependência dificilmente leva à morte, mas pode trazer
sofrimentos tão intensos quanto à dependência física.
A dependência física ocorre devido a tolerância e a síndrome de abstinência,
que pode levar à morte. Esta síndrome é decorrente dos sintomas que o dependente
sente por não alimentar seu vício e mesmo que já não queira mais fazer uso da
droga, muitas vezes acaba fazendo, para não sentir mais os sintomas causados pela
abstinência.
Os indivíduos dependentes de drogas, com tolerância, podem consumir
quantidades elevadas de narcóticos e sedativos sem mostrar efeitos nocivos. A
tolerância ocorre como uma tentativa do corpo de resistir e compensar os efeitos da
droga. Neste caso, uma concentração maior da droga deve ser usada para superar a
defesa fisiológica do corpo e produzir os efeitos desejados.
A dependência psicológica é a alteração do estado cognitivo e
comportamental. Inclui uma compulsão dirigida à droga, onde a ausência desta
causa ao indivíduo uma sensação de desconforto. A pessoa pode se livrar desta
dependência, mas é bastante difícil. Isso vai depender de quanto a sua saúde
psíquica está comprometida, pois quanto maior envolvimento, maior a dificuldade de
recuperação.
Segundo Pratta (2006), estudos tem apontado atualmente um consumo
crescente de drogas entre adolescentes, sendo este cada vez mais precoce. A
adolescência é a etapa mais suscetível ao desenvolvimento de uma drogadição. É
na fase da adolescência que o primeiro contato com a droga geralmente ocorre. A
adolescência é marcada por mudanças tanto físicas quanto psíquicas e é nesta fase
que o adolescente se torna mais vulnerável.

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Os principais fatores que levam os adolescentes e outros indivíduos a usarem
drogas são: amigos, comunidades, ambientes de convívio social, família, sociedade
e escola. A droga é utilizada como forma de fugir e esquecer os problemas, aliviar
um vazio interno, se isolar da realidade onde vive, não querer ser careta na turma da
escola, aliviar sofrimentos ou até mesmo por forma de prazer.
Os fatores e experiências familiares durante a infância e adolescência são
importantes no que diz respeito ao uso de drogas tanto na adolescência como na
fase adulta. Aspectos como fortes vínculos familiares, o relacionamento positivo, o
estabelecimento de regras e limites claros e coerentes, o apoio, a negociação, a
comunicação, carinho, amor e equilíbrio são considerados como fatores que
protegem o adolescente do uso de drogas.
Enfim, a qualidade da vida familiar é que estabelece o comportamento do
jovem frente às substâncias psicoativas e sem dúvida nenhuma, a escola também
precisa resgatar a sua ação protetiva, articulando elementos como prevenção, ação
e diálogo no contexto da realidade de adolescentes usuários de drogas.
A dependência química é uma das causas do vazio existencial, da dor, da
angústia e do sofrimento humano. É uma das maneiras que o individuo encontra
para fugir da sua realidade de vida e isso se dá quando ele não tem mais uma razão
para viver, um sentido de vida, uma missão para cumprir.
Muitas vezes, a razão para este indivíduo viver é a droga. Esta passa a ser o
seu sentido na vida, vive para isso e a droga ocasiona uma sensação de prazer. Mas
com o passar do tempo, quando ele começa a perder dinheiro, família, trabalho,
amigos, perder a consciência, não conseguindo mais controlar seus
comportamentos, emoções e desejos, tornando-se um verdadeiro escravo da droga,
ele vê o mundo caindo na sua cabeça, e pensa: “E agora, o que eu faço?”.
Mas também a falta de sentido pode levar o indivíduo a fazer uso de drogas
na tentativa de substituir um vazio existencial pela sensação de prazer, esquecer por
alguns momentos os sofrimentos e angústias, querendo fugir de situações que não
consegue lidar e nem ao menos quer entrar em contato com ela. Esses fatores
podem levar o adolescente à depressão, ao suicídio, ao roubo e, às vezes, até matar
alguém para conseguir a droga.

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2.1 Crack

O uso da cocaína começou há mais de 2000 anos nos países andinos como
Peru, Bolívia, Colômbia e Equador. O uso da cocaína tornou-se popular, e os seus
efeitos negativos acabaram sendo descobertos.
Nos Estados Unidos, proibiram o uso da cocaína e esta quase desapareceu
no começo do século XX. Na década de 1980, o consumo da cocaína aumentou
significativamente, devido ao aumento da procura, e esta além de aspirada, passou
a ser injetada e fumada (crack).
A cocaína é extraída das folhas de uma planta denominada Erythroxylon
coca (anexo 1), também conhecida como epadú ou coca, sendo esta uma
substância natural. A cocaína pode ser usada sob a forma de sal, o cloridrato de
cocaína, se apresentando na forma de grânulos brancos, pó, farinha, branquinha,
etc. Desta maneira, é solúvel em água e serve para ser aspirada. A outra forma da
cocaína, sob forma de uma base, é o crack (anexo 2). O crack é cocaína alcalina e
apresenta um aspecto de pedra, e é o resultado da mistura da cocaína com o
bicarbonato de sódio. O sal da cocaína precisa retornar a forma de base,
neutralizando-se o cloridrato. É insolúvel em éter e pouco solúvel em água, etanol e
clorofórmio; por esse motivo, não pode ser injetado. Mas que se volatiliza quando
aquecido e, portanto, é fumado em cachimbo (anexo 3).
Esta droga também pode ser colocada no cigarro de tabaco, na maconha ou
fumada com outras substâncias. Utilizada na forma de cigarros, constitui-se numa
mistura de baixo teor de cocaína, mas de alta toxicidade, levando a deterioração
mental e biológica em pouco tempo no indivíduo.
O crack é cocaína alcalina. A sua fórmula química é 3-benzoiloxi-8-metil-8-
azabiciclo octano-4-carboxílico ácido metil éster. O principal mecanismo de ação do
crack é o bloqueio da recaptação pré sináptica e a liberação de monoaminas,
principalmente a dopamina e também a noradrenalina e a serotonina.
A dopamina, serotonina e noradrenalina são neurotransmissores cerebrais
que são secretados para a sinapse, de onde são recolhidos outra vez para dentro
dos neurônios por esses transportadores inibidos pelo crack. Além de bloquear, o
crack pode também liberar dopamina, serotonina ou noradrenalina por reverter a
ação do transportador, ocorrendo então o retorno dos neurotransmissores para fora

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do neurônio pré-sináptico por meio de transportadores monoaminérgicos (GRAEFF,
2005).
A elevação desses três neurotransmissores causa euforia (dopamina),
energia (noradrenalina) e confiança (serotonina) associada à droga.
A dopamina proporciona sensação de prazer e está relacionado a
comportamentos motivacionais, de desejo, como: fome, sede e sexo. A serotonina e
noradrenalina estão relacionadas às funções como, controle de humor, motivação,
percepção e cognição.
O crack não é uma droga nova, mas é uma forma nova de consumir cocaína.
O crack se tornou popular nos EUA, em meados da década de 1980. O uso do crack
era relatado em jornais e televisão como “epidemia” e “praga”. Nos Estados Unidos,
o crack é extraído do cloridrato da cocaína.
Na década de 1990, o consumo de crack teve início no Brasil, na cidade de
São Paulo. No Brasil e alguns países sul-americanos, o crack é preparado da pasta
da cocaína. A história do crack no Brasil começou como estratégia de traficantes,
pois o crack era ofertado a usuários de drogas como única alternativa. Os usuários
de drogas buscavam maconha ou cocaína em pó, mas só encontravam o crack. Os
traficantes estavam seguros do retorno do usuário por ser uma droga de altos
poderes viciantes e conseqüente dependência.
Recentemente, o I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas
Psicotrópicas no Brasil - 2001 (Carlini, Galduróz, Noto & Nappo, 2002) apontou a
Região Sul, dentre todas as regiões brasileiras, apresentando a maior prevalência
de “uso na vida” de cocaína aspirada e de crack.
Um levantamento realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas (CEBRID), setor do Departamento de Psicobiologia da EPM, parece nítido o
aumento do crack no Brasil entre estudantes e meninos de rua nas cidades de São
Paulo e Rio de Janeiro.
Para NAPPO, (s/d, p.20), a fissura, necessidade incontrolável de usar o crack,
favorece a prostituição e esse desespero pela droga e comércio do corpo pode ser
muito perigoso, pois, na maioria das vezes, as usuárias trocam o corpo para obter a
droga e acabam não usando preservativo e fazendo sexo oral para agradar o cliente
e conseguir dinheiro para comprar o crack.
Extraímos de NAPPO (s/d), os seguintes depoimentos, para enriquecer o
trabalho:

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“Durante a fissura faço qualquer coisa para ganhar dinheiro, ficar sem crack é
que não fico”. (ZG19).
“Saio pra rua e qualquer programa baratinho eu faço pra poder comprar a
droga. Eu procuro, eu vou atrás, se aparece um cara que quer me dar uns 10 ou 5
reais, eu vou, faço até por menos pra poder comprar” (AR27).
“Eu prefiro dinheiro porque eu mesma vou buscar, eu mesma vou na boca.
Trocar pela droga eu não sei o que o cabra é, não sei o que ele ta me passando.”
(YK22)
“Não, a troco de droga não, mas a troco de dinheiro sim, pode ser pouco
dinheiro, muito dinheiro, pode ser o dinheiro para uma pedra, mas ter que ser com
dinheiro, se for a droga não faço.” (YF23)
“Eu prefiro a droga e rapidinho. Dava uma rapidinha, catava meu bagulho e já
começava a fumar.” (RN24).
“ O tanto de homem que aparecer eu vou. Já cheguei a fazer nove programas
numa noite.” (RF17)
“Nunca usei camisinha. Acho que a droga sobe na cabeça e eu não ligo pra
camisinha. Nunca me liguei em camisinha.” (ZS21).
“Se o cara chegar e disser: olha sem camisinha eu te pago em dobro, eu
aceito poque o que eu quero é usar a minha pedra”. (YP25)
“Acho que sexo oral e sexo anal não precisa camisinha. É só quando é na
vagina” (YP20).
“Eu cobro R$ 10,00, mas ainda tenho o quarto que é 3, então sobra 7 prá
mim”. (FD27).
O uso do crack aumenta o número de comportamentos sexuais de risco para
HIV devido a troca de parceiros, a utilização do mesmo cachimbo e a falta de uso de
preservativos.
Com o uso do crack o indivíduo torna-se mais violento. Sob o efeito da droga
ficam mais fortes e valentes e a violência aumenta. As mulheres se prostituem com
usuários e acabam sendo violentadas muitas vezes pelo efeito da droga ou também
pela falta dela.
Quando o crack é queimado no cachimbo a temperatura aproximada é de
95ºC, ainda nessa temperatura, o crack sofre sublimação e os vapores produzidos
são absorvidos pelos pulmões, alcançando rapidamente o cérebro.

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O cachimbo é denominado qualquer objeto que utilizem para fumar a pedra
do crack. Os tipos de cachimbos são: lata de cerveja, lata de refrigerante, copo de
água, embalagem de Yakult, caneta BIC, pedaço de cano de ferro, pedaço de
isqueiro, torneira, entre outras. (anexo 3).
A pedra do crack necessita da brasa do cigarro, pois não sofre combustão.
Em uma pesquisa, realizada por NAPPO (s/d, p.81-82), as entrevistadas falam que a
lata de cerveja ou de refrigerante é a mais prática, pois acham nas ruas e podem
usá-la como cachimbo.
“Eu faço na hora...já arrumo uma latinha no chão...enquanto a gente tá indo
eu já preparei...” (AR 33).
Como o uso da lata não oferece proteção, queixam-se da facilidade com que
se queimam e mencionam que quando usam a mesma lata várias vezes, obtêm-se
um resíduo que se concentra no interior e que fumado obtém-se maior efeito.
“Se o cara fumar só na lata, no final de semana ele corta a lata, raspa tudinho
aquele negócio dentro da lata e fuma aquele pozinho. Fica mais louco ainda. “
(FP34).
“Uso copo de Yakult. Gasto pelo menos um por dia. Não bebo Yakult. O moço
da padaria fala: Nossa como você é vitaminada. É que todo dia compro um. Furo a
tampa de alumínio com uma agulha e bombo o líquido para jogar fora. Não tiro o
papel do alumínio, só furo esse alumínio e vou bombando pra jogar fora todo o
líquido. Seco todo alumínio, faço um furo onde está escrito Lactobacilus. Furo com
cigarro, derreto o plástico e faço esse buraco que serve pra eu colocar a boca. No
alumínio coloco a cinza de cigarro e a pedra pra queimar e eu puxar pelo buraco.”
(FD27).
“A gente usa pedaço de cano, aquele cotovelo que liga um cano no outro,
entendeu? Compra um material de construção. Enrola em papel de alumínio para
não esquentar muito e numa das pontas a gente faz uns furinhos e coloca cinza de
cigarro no papel alumínio junto com a pedra e coloca fogo. Do outro lado a gente
puxa a fumaça, segura e depois de uns segundos já sente o efeito.” (YK22)
Pode-se perceber nas entrevistas que o material usado como cachimbos é
inapropriado para protegê-las do calor provocado pela alta temperatura necessária
para sublimar o crack.
“Esquenta, queima toda a boca, sai bolha.” (ZL19)
“Queima, chega a deixar em carne viva”. (ZM40)

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“Queima, faz borbulha... que nem você pegar o cigarro e encostar... aí vira
ferida se estourar aquela borbulha. Mas à maioria você fura porque fica mordendo.
Aí vira ferida”. (AS32)
As entrevistadas não se importam com as bolhas e sangramentos, como a
fissura é muito grande, esse desconforto não as impede de fumar. Não sentem dor
no início e a dor desaparece a medida que continuam fumando e só sentem dor
após ter parado de fumar, no outro dia.
As queimaduras atingem a boca, dedos e nariz, e tornam-se sinais
identificadores de um usuário de crack, sendo fatos que geram receio de serem
denunciadas como usuárias de crack a um policial.
Na fase inicial do uso do crack, as usuárias usam o mesmo cachimbo pela
dificuldade de confeccioná-lo e também pela falta da droga. Mas na fase mais
compulsiva, usam o cachimbo sozinhas, pois evitam certa proximidade com outras
pessoas, apresentando paranóia e medo de serem violentadas.
O crack é uma droga ilícita, e tem sido a droga de maior incidência na
atualidade, sendo causadora de dependência química rápida e danos irreversíveis,
que podem levar o usuário à morte. O termo de gíria “crack” derivou-se do estalo
ouvido quando está forma de cocaína é acesa para fumar, pela quebra da pedra.
O crack fumado é mais barato que as outras formas de cocaína. Mas como
seu efeito dura pouco tempo, acaba sendo usado em maiores quantidades, tornando
o vício muito caro, pois seu consumo passa a ser cada vez maior.
Para conseguir sustentar este vício, o usuário começa a usar qualquer
método para comprar a droga. Às vezes, submetidos às pressões de traficantes,
começam a traficar drogas, assaltar, roubar, matar e até se prostituir para conseguir
sustentar o vício. A maioria dos usuários passa a usar o crack para atingir efeitos
mais fortes do que as outras drogas. É uma droga de mais altos poderes viciantes.
As pessoas que experimentam sentem um desejo incontrolável de usá-la
novamente.
Produzir crack a partir da pasta da cocaína é muito simples. Basta misturar as
folhas de coca em qualquer solvente, por exemplo, a gasolina. Por isso que está
droga tão pesada tem uma grande aceitação nas classes menos desfavorecidas e
marginalizadas.

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No passado, o uso de drogas estava limitado a uma camada específica da
população, mas hoje, atinge a todos, independentemente de raça, idade, sexo,
nacionalidade, crença religiosa ou camada social.
A via de administração da cocaína utilizada na forma do crack é pulmonar. A
absorção da cocaína vaporizada e fumada é rápida. Os pulmões provém uma
grande área e a circulação do sangue até o cérebro ocorre entre dez e quinze
segundos e os primeiros efeitos ocorrem imediatamente. Depois que a droga
penetra no cérebro é rapidamente redistribuída para outros tecidos e se concentra
no baço, rins e cérebro.
O crack é queimado e sua fumaça aspirada passa pelos alvéolos pulmonares,
seguido para a circulação e atingindo o cérebro. A excreção do crack ocorre
principalmente pela via urinária.
Para NAPPO, (s/d), O usuário de crack, até o início da década de 1990, era
identificado como jovem e do sexo masculino, entre dezoito e vinte e nove anos.
Porém, as mulheres começaram a usar o crack e o eleger como a droga
preferencial.
Estudos com mulheres usuárias de crack mostram que a escolaridade é
baixa. Verifica-se que a maioria não vai além do ensino fundamental. As
necessidades da droga, de estudar, trabalhar e algumas vezes a gravidez precoce
são os motivos para esse atraso.
“Eu ia para escola, mas chegava na porta eu cabulava aula para fumar
maconha, ficava na rua...” (YA19)
“Eu parei de estudar porque me envolvi com um cara (ele está preso até hoje)
que usava droga e eu comecei a usar e não consegui ir mais para a escola.” (YL37)
Nas entrevistas com usuárias, percebe-se que elas começam pela maconha,
álcool, cocaína aspirada e terminam no crack e conseqüentemente perdem o
estímulo para estudar.
Apesar de serem jovens, os estudos mostram que a maioria das usuárias tem
filhos. Umas das entrevistadas, NAPPO, (s/d, p/35), tem trinta anos e nove filhos, e
outra, com trinta e seis anos e treze filhos. Estes resultados apresentam evidentes a
prática não segura de sexo. Em geral, os filhos são de pais diferentes e a
paternidade irresponsável é característica nesta pesquisa.
As usuárias de crack, pela dependência da droga, por falta de condições
financeiras, por não ter vontade de estudar e trabalhar e também pela prostituição

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acabam largando as suas crianças indesejadas pelo mundo ou deixam com as suas
famílias. Apesar de jovens, as usuárias não conseguem evitar a chegada de filhos, e
o aborto é praticado como solução para esse problema.
“Tenho três filhos. Esse último ”peguei” com um traficante. Cada um ta num
canto, não moram comigo. Eu tava fumando droga e fui presa. Pegaram meus filhos
para não ficarem jogados na rua”. (ZR30)
Há casos que o filho é resultado de um programa sexual que a usuária fez e
nem lembra com quem e onde está este parceiro.
“Eu tenho nove filhos e estou esperando o décimo. Conheci um cara no
ponto, aí aconteceu. Quando eu fui ver, já não descia mais a menstruação e eu
estou grávida de novo. É... a criança é de um programa, eu nem sei quem é o cara,
eu não vi mais, ele sumiu. Eu vou ser a mãe dele e pai é Deus. “ (CT30)
A grande maioria de usuárias não trabalha, e o motivo principal é a droga.
Roubos no local de trabalho, ausências de trabalho e a falta de interesse e
motivação, impedem-nas de dar seqüência a um emprego fixo.
“O crack atrasa demais a vida. Você usa e no outro dia não consegue
levantar, não tem força no corpo, seu corpo dói, seus ossos também, parece que
você levou uma surra. Se você usa, você quer beber...se você bebe, tem ressaca de
tanto álcool e do crack também. É impossível trabalhar desse jeito”. (ZS21).
“Eu trabalhava de balconista na Rua 25 de Março, me envolvi com crack e
comecei a roubava no trabalho. Roubava os doces para vender fora de lá. Me
pegaram e eu perdi o serviço. Meu patrão teve consideração comigo, não chamou a
polícia”.(ZS24).
As mulheres usuárias de crack saem de casa muito cedo, desligam-se da
família de origem, engravidam e acabam casando para suprir certas necessidades.
Às vezes são violentadas pelo companheiro, acabam se separando e tomam um
rumo equivocado na vida.
Estudos mostram que 80% de mulheres relatam ter tido sua primeira
experiência sexual antes dos 15 anos. Apenas 6% informaram ter usado
preservativos nas suas relações sexuais durante a vida. Estes dados são
alarmantes, pois o comportamento de risco de mulheres usuárias de crack em
relação às DST (doenças sexualmente transmissíveis) são altos.
Porém, a vontade incontrolável de usar o crack, leva-as a práticas de
qualquer ato para conseguir a droga. Tentam outras estratégicas para conseguir

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parar de usar o crack, como beber e fumar maconha, porém não obtém sucesso. É
por meio da venda do corpo que as usuárias conseguem a maior parte de recursos
financeiros para aquisição do crack. Apesar de detestarem prostituir-se por droga,
passa a ser um trabalho “limpo” para as usuárias.
Os principais efeitos físicos causados pelo uso agudo do crack são: aumento
do tamanho da pupila, sudorese, diminuição do apetite e diminuição da irrigação
sanguínea dos ossos.
Os principais efeitos psicológicos do uso agudo do crack são: euforia,
sensação de bem-estar, estimulação mental e motora, aumento da auto-estima,
agressividade, irritabilidade, inquietação e sensação de anestesia.
Segundo Bordin; Fligie; Laranjeira, (2004), o crack pode produzir alterações
no sistema cardiovascular, aumentando os níveis de adrenalina e provocando
vasoconstrição. Os efeitos iniciais são taquicardia e aumento da pressão arterial. Ao
mesmo tempo em que o coração está sendo estimulado a trabalhar mais, os efeitos
vasoconstrição privam o músculo cardíaco do sangue necessário.
Essa combinação pode causar grave arritmia ou colapso cardiovascular,
mesmo em usuários jovens. Outros processos degenerativos no coração e vasos
sangüíneos foram descritos em usuários crônicos. Além disso, a vasoconstrição
pode causar danos a outros órgãos, como por exemplo: aos pulmões nos indivíduos
que fumam cocaína, destruição da cartilagem nasal daqueles que a aspiram e danos
ao trato gastrintestinal.
O crack provoca um estado de excitação, hiperatividade, insônia, perda da
sensação do cansaço e em menos de um mês o usuário perde muito peso, de oito a
dez quilos.
A toxicidade do Sistema Nervoso Central pode causar dores de cabeça,
convulsões, perda da consciência temporária, tiques, coordenação motora
diminuída, AVC (acidente vascular cerebral), taquicardia, hipertensão, hipertemia,
depressão respiratória,desmaio, tontura, tremores, tinido no ouvido, visão
embaraçada, podendo levar à morte, devido ao aumento da temperatura corporal
causada pela droga.
O uso do crack aumenta o risco de suicídio, traumas maiores, crimes
violentos, perda do interesse sexual. O uso crônico desta pode levar a uma
degeneração dos músculos esqueléticos, chamada rabdomiólise.

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O crack provoca incapacitação social, isolamento, desinibição, prejuízo da
capacidade de julgamento, da memória, do controle do pensamento, prejuízo da
capacidade do trabalho e perda de vínculos escolares e familiares.
Os usuários de crack apresentam também uma maior incidência de transtorno
bipolar, crises de pânico durante a intoxicação ou fase de abstinência, transtornos
de personalidade anti-social, bonderline e narcisista e a prevalência de esquizofrenia
entre usuários de crack é maior do que aquela encontrada na população geral.
Para Rodrigues; Caminha; Horta (2006), os déficits cognitivos em usuários de
crack perduram por longo prazo e podem ser irreversíveis. O uso do crack afeta todo
o corpo humano e pode ocorrer prejuízo das funções cognitivas do indivíduo, como
déficits de memória, atenção, concentração, aprendizagem, habilidades viso-
espaciais, formação de conceitos e funções executivas.

3 A Logoterapia

A Logoterapia é uma teoria abrangente, pois se dirige a pessoas sadias,


doentes, jovens e velhos, em todas as situações de vida. A Logoterapia quer
preparar um caminho para uma vida plena de sentido, centrada no sentido,
descobrindo possibilidades deste sentido no dia-dia e fazer renascer a esperança
que existe dentro de todos. É a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, sendo
ela, uma proposta de rehumanizar as psicoterapias.
O criador da Logoterapia chama-se Viktor Emil Frankl (1905-1997). Ela é
conhecida como psicoterapia do sentido da vida, sendo escola psicológica de
caráter fenomenológico, existencial e humanista.
Este foi discípulo de Sigmund Freud (1855 – 1939), mas rompeu com ele,
porque não acreditava que a pessoa humana andava pelo mundo sob força dos
impulsos e sim acreditando que o indivíduo é livre, responsável e tem consciência
desta liberdade.
Para Frankl, o ser humano é incondicionado, age involuntariamente em tudo,
tem uma intencionalidade nas suas atitudes, possui uma dimensão noética, uma
capacidade de transcender, de elevar-se. Portanto, busca um sentido para a sua
vida e traz dentro de si um Deus insconsciente.

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Frankl juntou-se com Alfred Adler (1870 – 1937), pois achava que a proposta
da sua Psicologia Individual estava mais próxima da concepção do ser humano. Mas
por Adler achar que o ser humano estava em busca no mundo de poder e de
conquista com a superioridade, ocorre a separação de ambos. Para Frankl, é preciso
compreender o homem na sua totalidade: psiquíca, corpórea e noética.
Nasce a Logoterapia, que se afirma e consolida principalmente após as
experiências cruciais que Frankl viveu nos campos de concentração durante a
Segunda Guerra Mundial, sendo ele, o primeiro psicólogo a viver e sobreviver num
campo de concentração. A principal tarefa de Frankl no campo de concentração foi
resgatar a esperança e sentido vital, pois apesar de muita dor, sofrimento e tortura,
ele não queria morrer e com isto, surgia uma força que tornava o sofrimento
suportável e o encorajava para agüentar este momento que estava passando. Tinha
esperança de sair e completar uma missão inacabada.
Toda a família de Frankl, exceto a sua irmã, morreram nos campos de
concentração. Ele passou muita fome, humilhação, sofrimento, agonia, medo e
profunda raiva das injustiças no campo de concentração e foi aí que ele percebeu
que “quem tem algo por que viver é capaz de suportar qualquer como”. Foi também
nos campos de concentração que Frankl viu o que ninguém pode tirar de um
homem: a liberdade humana, a escolha de atitude pessoal para decidir o seu próprio
destino e caminho.
Para Frankl, precisamos aprender e também ensinar as pessoas em
desespero, pois não importa o que nós temos que esperar de nossas vidas, mas sim
o que a vida espera de nós. Viver é arcar com a responsabilidade de responder às
perguntas da vida e a vida é algo concreto, de modo que as exigências que a vida
faz sempre são bem concretas. Toda e qualquer situação se caracteriza por um
caráter único e exclusivo que permite uma única resposta correta a pergunta feita na
situação. O destino de cada ser humano é sempre algo singular e único, nenhum
destino e nenhum ser humano podem ser comparados com outro e nenhuma
situação se repete.
Mesmo diante de um sofrimento na vida, quando o indivíduo descobre que
seu destino lhe reservou um sofrimento, deve-se assumir este sofrimento, pois
ninguém pode substituir a pessoa no sofrimento e ninguém pode assumir o destino
desta pessoa. Mas na medida em que o indivíduo suporta este sofrimento, há uma
possibilidade de realização única e singular.

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Na crença no homem como ser noético, a Logoterapia percebe o ser humano
como um ser bio-psico-sócio-noético. O ser humano é livre, consciente, possui livre-
arbítrio, é um ser único, raro, puro e irrepetível neste mundo em que vivemos. A
partir do momento em que somos atirados neste mundo, a vida já tem um sentido.
Esse sentido já existe, falta descobrirmos.
No campo de concentração, em um dia terrível onde o campo inteiro ficou o
dia todo de jejum, Frankl, mesmo desanimado e irritado, juntou forças e aproveitou a
oportunidade única e pediu àquelas pessoas que o escutassem no meio da
escuridão do barracão, que olhassem de frente para esta situação, por mais difícil
que ela fosse não desesperassem e recobrassem o ânimo e a esperança, pois
mesmo que a luta já estivesse perdida, os esforços de todos não perderiam seu
sentido e dignidade. Dar a vida naquele barracão àquela hora, naquela situação
praticamente sem saída, foi o propósito das palavras de Frankl.
A busca de sentido na vida da pessoa, para a Logoterapia, é a principal força
motivadora no ser humano. Somente este sentido assume a importância que
satisfará a sua própria vontade de sentido. Está vontade de sentido também pode
ser frustada. A frustração existencial pode resultar em neuroses, sendo as neuroses
noogênicas. Este conceito significa qualquer coisa pertinente à dimensão humana
que surgem de problemas existenciais, por exemplo, a frustração da vontade de
sentido.
O sofrimento pode ser também uma realização humana. O sofrimento não é
sempre um fenômeno patológico. O desespero da pessoa sobre sua vida se vale a
pena ser vivida ou não é uma angústia existencial. A Logoterapia se preocupa com
as realidades existenciais.
A busca por sentido pode causar tensão interior, tensão por aquilo que já
alcançou, ou aquilo que quer alcançar. Esta tensão está relacionada à saúde mental,
indispensável ao bem-estar mental. O ser humano não precisa de equilíbrio, mas
sim de noodinâmica, pois a dinâmica existencial num campo polarizado de tensão,
onde um pólo está representado por um sentido a ser realizado e outro pólo pela
pessoa que realizar.
A partir de um estado de tédio, o vazio existencial se manifesta. Ao preencher
o vazio existencial, o indivíduo estará prevenido contra recaídas futuras. As pessoas
geralmente se perguntam: Qual é o sentido da minha vida? Mas ela só vai responder

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à vida, respondendo por sua própria vida, sendo responsável. Para a Logoterapia, a
responsabilidade é a essência da existência humana.
O verdadeiro sentido da vida deve ser descoberto no mundo e não dentro da
psique humana. Quanto mais uma pessoa servir uma causa ou amar uma pessoa,
conseguindo esquecer de si mesma, mais humana esta pessoa será e
consequentemente mais ela se realizará. O sentido da vida jamais deixará de existir
e podemos descobrir este sentido na vida de três formas diferentes: praticando um
ato ou criando um trabalho; encontrando alguém ou experimentando algo como a
bondade e o amor; o sentido pode ser encontrado pelo sofrimento humano.
O terceiro caminho é o mais importante, porque mesmo a pessoa numa
situação de dor e sofrimento e sem esperança, enfrentando uma situação em que o
destino não pode mudar, mesmo uma vítima desamparada, pode criar coragem,
crescer para além de si mesma e, assim, mudar-se assim mesma.
Podem dar sentido à vida, transformando a tragédia e sofrimento em triunfo,
amor e felicidade.
De acordo com Gomes (1992, p. 38) ”o sentido da vida, um para quê viver é a
questão fundamental da existência, e a doença mental pode ser compreendida como
vazio existencial ou falta de um direcionamento no mundo, não um direcionamento
externo, mas uma busca interna, partindo da responsabilidade pessoal, assumindo e
pilotando livremente o projeto de vida.”
Não é homem quem faz a pergunta sobre o sentido da vida, mas sim é o
próprio homem que deve responder que deve dar respostas às perguntas que a vida
lhe oferece. E é através da nossa ação e de nossos atos que poderão ser
verdadeiramente respondidas. Isso acontecerá pela responsabilidade assumida pela
nossa existência, pois a existência só poderá ser nossa se for responsável. A
responsabilidade da existência é sempre uma responsabilidade de determinada
pessoa numa determinada situação, necessariamente no aqui e agora. Na análise
existencial, algo precisa tornar consciente. O ser responsável é a base fundamental
do homem enquanto noético.
O ser humano pode ser verdadeiramente ele próprio também nos seus
aspectos inconscientes, quando ele é responsável.
O ser humano não é somente um ser que decide, mas também um ser
separado. O ser humano está sempre centrado em algo, centrado em um meio, em

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torno do seu próprio centro. O ser humano é um ser integrado, pois somente a
pessoa noética estabelece a unidade e totalidade do ente humano.
A consciência moral constitui algo que ainda vai se tornar real, que terá que
ser realizado. Poderá ser realizado se não for antecipado espiritualmente. Esta
antecipação espiritual ocorre num ato de visão, através da intuição. Quando a
consciência for antecipar aquilo que terá que realizar, a consciência deverá intuí-lo.
A consciência é a voz da transcendência, ela se origina dentro da
transcendência e só pode ser compreendida a partir da transcendência, constituindo
um fenômeno transcendente. Pode-se dizer que a consciência é o órgão que escuta
a voz da transcendência, e esse processo de escutar envolve o silêncio, reflexão,
meditação e um tempo de recolhimento.
Somente o caráter transcendente da consciência faz com que possamos
compreender o homem, num sentido mais profundo. O homem que não possui
religião considera a consciência como algo último, pois não vai para além da
consciência, não pergunta pelo que é responsável e é aquele que ignora esta
transcendência da consciência.
Segundo Frankl, Deus espera que saibamos sofrer e morrer com orgulho e
não miseravelmente, Deus espera que não o decepcionemos. O tratamento
psicoterapêutico na Logoterapia permite liberar a fé primordial reprimida no
inconsciente. Todos temos segundo o autor, um estado inconsciente de relação com
Deus, uma presença ignorada de Deus.
Para a Logoterapia, o alvo da psicoterapia é a cura da alma. A Logoterapia
não faz julgamentos sobre a ausência de sentido ou um desvalor, pois o sentido não
pode ser dado a uma pessoa, mas sim o sentido precisa ser encontrado e nesta
procura pelo sentido é a consciência que orienta a pessoa.
Para Frankl, a fé não pode ser um objeto de um ditame da vontade, pois ela é
um ato intencional, um ser crê em algo, ou não se crê. Já uma relação com algo
pode ser mantida por um ato de vontade. A fé se realiza quando uma pessoa é
merecedora de fé.
Na vida, quanto mais buscamos satisfação, bem-estar, sucesso,
reconhecimento e vantagens pessoais, menos conseguimos esses objetivos, porque
quem ama para ser amado, não é alguém que ama de verdade.
Para Lukas (2002), o segredo mais profundo da superação de um vício, pode-
se afirmar, é a confiança num sentido para a vida e a renúncia para desfazer-nos do

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que nos degrada. Para o usuário de drogas, o desenvolvimento de uma confiança
fundamental e de uma atitude de renúncia dotada de sentido é de grande
importância tanto para vencer o vício como para prevenir vícios.
Confiar quer dizer algo em que alguém confia, em que alguém crê, supõe algo
acima de si mesmo, ao qual pode-se dizer sim. Na Logoterapia, fala-se da
capacidade de transcendência, que quer dizer a ultrapassagem do limite em direção
a algo em que ama e também crê. Renunciar quer dizer que a pessoa pode se
afastar, ficar distante de tais impulsos e dizer não. Supõe algo dentro da pessoa.
Fala-se da sua capacidade de autodistanciamento, formar-se a si mesmo sob o
aspecto da valorização do amor.
O homem só se torna homem quando esquece de si mesmo em dedicação a
uma causa, tarefa ou um amor. Se o homem ver no prazer todo o sentido de vida, a
vida se tornará uma vida sem sentido. Na dependência química, o usuário não
reconhece os seus valores e dificilmente vê a necessidade de uma renúncia ao
prazer ou à eliminação do desprazer. E usar drogas é apenas uma sensação
agradável de curta duração e o prazer faz com que seja desejado e esta breve
duração de usar certa droga pode causar a dependência no indivíduo. No início as
pessoas usam drogas por prazer, pela sensação agradável, por querer fugir de
certos problemas e dificuldades da vida, por querer ser forte e corajoso. Mas assim
que acaba essa sensação agradável, será necessário aumentar a dose cada vez
mais, caso contrário, a sensação agradável de pleno prazer pela droga passa ser
uma sensação desagradável. Dessa maneira ocorre o fenômeno de tolerância.
Se a pessoa quiser sentir-se menos inútil na vida, basta fumar uma pedra de
crack, que logo terá uma sensação de alívio. Mas, ao contrário, se a pessoa quiser
ser útil na vida, esta precisa assumir uma tarefa, uma causa, um trabalho que tenha
sentido e fazê-la sua e não importa o que for, importa que faça. O que importa na
vida é fazer algo que seja bom e não o que nos dê uma sensação boa, pois a
sensação boa uma hora passa e fazer algo bom, deixa marcas para nós e para a
pessoa que recebe.
O homem não quer obter a felicidade, mas sim ter um motivo para ser feliz e
viver plenamente. A vontade de sentido no ser humano orienta para uma realização
de sentido, ao qual acaba por prover uma razão para ser feliz. Quando temos uma
razão para viver, para ser feliz, a felicidade surge espontânea e automaticamente em
nossas vidas.

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É na adolescência que a maioria das pessoas começa a usar droga, e é nesta
época que o adolescente quer descobrir e conhecer tudo que acontece a sua volta,
abusando de tudo, como por exemplo: drogas, sexo, festas, velocidade etc. Com
isto, acarretando em acidentes, gravidez indesejada, doenças às vezes sem cura e o
vício das drogas.
Na maioria das vezes, o usuário fala que não é dependente da droga,
dizendo: “Eu paro quando quiser”. Mas, na verdade, os usuários que já apresentam
síndrome de abstinência acabam usando a droga não por vício, mas porque não
suportam os sofrimentos causados pela falta da droga.
Esses sofrimentos são de ordem psicológica, como a ansiedade, angústia,
frustração de não suportar a ausência da droga. Tudo isto leva o usuário a tornar-se
instável, agressivo, irritável e entrar em profunda depressão, devido ao vazio
existencial que está vivendo neste momento.
Diante desta ausência da descoberta de um sentido da vida, o ser humano
começa também a buscar por meio das drogas um motivo para matar seus
sentimentos, evitar pensar na vida, tendo em vista que refletir sobre a sua vida
significa deparar-se com a sua verdadeira realidade.
O ser humano pode encontrar no sofrimento um sentido para a vida. Pois a
vida é sofrimento, e sobreviver é encontrar sentido na dor. Dar sentido maior a sua
dor é descobrir o sentido maior da sua existência. Todos sabemos que as drogas
não fazem bem para a nossa saúde. Somos livres, temos consciência e
responsabilidade para seguir nossas vidas de maneira correta. Mesmo que a pessoa
não assuma tal responsabilidade que deva assumir, esta teve a liberdade e tomou
atitude de não tomar atitude.
Estudos mostram que as pessoas que procuram ajuda de Deus, usam menos
drogas, são menos violentas e vivem melhor. A Logoterapia, não é uma religião,
teologia ou culto-esotérico. Mas acredita num Tu-eterno, num Deus inconsciente que
existe dentros de nós. A Logoterapia pode contribuir muito para o tratamento de
usuários e também para fazer com que esses encontrem um sentido, desenvolvam
um projeto de vida e cumpram a sua a missão na terra.
Na medida em que o homem preenche um sentido na vida, no mundo, é que
ele se realizará a si mesmo. Frankl cita depoimentos de alguns presidiários que lhe
escreveram dizendo que apesar da miséria do passado e o fracasso do presente,
encontraram um sentido da própria vida e apesar de estarem naquelas

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circunstâncias e que mesmo perto da cadeira elétrica, estavam muito felizes e que
sempre há uma possibilidade de desenvolvermos para além de nós mesmos.
Para Frankl, a violência é desumanizadora. Quer dizer empobrecimento e
descaracterização do ser humano e é pela autotranscendência que a violência deve
ser superada. A violência e agressividade estão vinculadas a uma falta
transcendente.
Para o autor, não existe sentido na violência, sendo um sentimento
subhumano. O homem tem causas para violência, sendo elas causas psíquicas,
econômicas, emocionais, fisiológicas e psicológicas, mas não existe uma
intencionalidade como amor e ódio, que ambos tem uma razão. A falta de sentido na
vida e a falta de liberdade responsável encontram-se na violência. A violência é esta
ausência de sentido para a constituição da relação com o outro. Um norte para a
superação da violência é a humanização do ser humano.
A moral é algo interno e pessoal que pertence à dimensão singular do
homem, pois somente a consciência moral pode desvelar os valores humanos, se
direciona para o alcance de todos. Segundo Frankl, o amor é irracional e intuitivo,
portanto, o amor se realiza de uma forma semelhante à da moral. O amor e a
consciência moral revelam-se hábeis a apreender as possibilidades ontológicas, mas
apresentam diferenças em torno da experiência existencial. O ser humano por meio
do amor procura uma potencialidade existencial, um ser-que-poderia-ser e que ainda
não é. Já a consciência moral não quer uma revelação de um ser-que-deveria-ser,
mas que deverá sê-lo.
A moralidade para Frankl é transformação da possibilidade do ser em
necessidade de realização, é um fenômeno singular do ser, processo primário,
intuitiva e intencional, inconsciente, pré – lógica e não é compreendido como
impulso determinista da atividade psíquica, mas sim como uma intencionalidade da
existência do ser humano. Portanto, moralidade é uma expressão de
autotranscendência.
O que marca a experiência humana é a sociabilidade em busca de um sentido
mediante o caráter autotranscendente, pois a sociabilidade é um anseio humano
para encontrar um sentido na vida e o homem encontra sentido de sua existência em
sua experiência social.
O ser humano só existe em relação ao outro ser, o sentido pessoal possui
sentido próprio, assim como o todo também possui sentido próprio. A vida do ser

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humano só adquire sentido quando este transcende a sua existência, quando este
se supera.
Nos dias de hoje as pessoas estão sofrendo muito com depressão,
violência, dependência de drogas, álcool e isso tudo leva as pessoas a adoecer ou
ao suicídio. Este vazio existencial leva o indivíduo a perder o sentido na vida.
Sendo assim, a Logoterapia atua no sentido de promover saúde na busca de
um sentido na vida, buscando o enfrentamento de qualquer situação, por exemplo, a
dependência química. Para Gomes, (1987) uma das preocupações essenciais do ser
humano é o isolamento existencial, onde o indivíduo se isola e não consegue
compartilhar com o outro o que há de mais íntimo.
Quando o indivíduo se envolve com drogas, começa a se isolar das outras
pessoas, especialmente quando usa o crack. O dependente químico começa a
achar que está sendo perseguido pela polícia, pelos traficantes, “bandidos” e até
mesmo amigos e família. Vivem em um mundo isolado, não conseguem mais
interagir, conversar, trabalhar e amar. Este isolamento existencial leva o dependente
químico a sentir solidão e desespero.
Estudos científicos apontam que os dependentes de drogas apresentam
melhor tratamento e recuperação quando o tratamento está ligado à religiosidade e
espiritualidade, pois a pessoa que procura um culto religioso, que tem fé e acredita
em Deus, está menos propensa a usar drogas lícitas e ilícitas (Sanchez; Nappo,
2007).
A religiosidade está ligada ao bem-estar físico e mental do ser humano e com
isto pode estar ajudando na prevenção do consumo de drogas. Os dependentes de
drogas são portadores de doença crônica e vivem momentos traumáticos nos
momentos de recuperação ou também nos momentos que desejam muito parar de
usar a droga, mas não conseguem. Diante disso, se o indivíduo pertence a uma
igreja, participa, ora e acredita em Deus, vai levar a usar menos drogas, prevenir ou
conseguir fazer um tratamento sem recaída.
Cinco técnicas psicológicas foram desenvolvidas pela Logoterapia para
atuação prática. As técnicas são: Derreflexão, Intenção Paradoxal, Apelação,
Técnica do denominador comum e do Diálogo Socrático.
A Logoterapia pode ajudar muito o dependente químico no sentido de
resgatar a esperança e também de diminuir o consumo e encorajá-lo, utilizando a
técnica de derreflexão. A derreflexão é uma técnica da Logoterapia que acontece

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quando o indivíduo consegue deslocar a sua atenção do sofrimento que está
vivendo naquele momento para o futuro, para então concluir tarefas interrompidas.
Quando o indivíduo luta contra a doença o tempo todo, usa-se a derreflexão
com o objetivo de deslocar a atenção do indivíduo que está preocupado com a sua
doença, para algo mais significativo de sua vida que esteja no futuro e não no aqui e
agora, procurando dar sentido maior a sua dor.
Frankl utiliza a Intenção paradoxal desde a década de 1930 e esta técnica é
uma das mais importantes e acabou sendo incorporada em quase todas as linhas de
tratamentos clínicos. Esta técnica ajuda no tratamento de fobias, neuroses
obsessivas e dificuldades sexuais. É funcional e rápida. A intenção paradoxal
prescreve ao cliente o sofrimento que ele já possui. O terapeuta propõe ao cliente
manter o sintoma que está incomodando como estratégica para conseguir eliminá-lo.
A apelação é uma técnica que procura mostrar para o cliente que ele possui
uma capacidade de sentir e isso só é possível com muita criatividade, em um clima
de intenso calor humano, com muito humor, amor e participação do terapeuta.
O diálogo socrático é a técnica da Logoterapia utilizada no processo
terapêutico aproximadamente 95% do tempo de duração de cada atendimento. O
restante do tempo utiliza-se apelação, derreflexão e intenção paradoxal. O diálogo
socrático é a conversa sobre o autoconhecimento que ajuda os clientes a descobrir
o seu Deus inconsciente, ignorado, permitindo entrar em contato com seu
inconsciente noético. Ajuda na descoberta do verdadeiro eu, escondido em sua
intimidade, a sua parte noética.
A quinta técnica da Logoterapia tende trabalhar com a capacidade do cliente
de tomar decisões responsáveis e é chamada de técnica de denominador comum.

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4 Considerações Finais

Esta presente Monografia estruturou-se a partir de alguns objetivos. O


objetivo geral foi investigar a ausência da descoberta de um sentido para vida na
dependência do crack. Sendo assim, esta monografia conseguiu abranger o objetivo
geral que se propunha investigar e também pode-se afirmar que foi possível
responder a pergunta de pesquisa: A dependência química é também a ausência da
descoberta de um sentido para a vida.
Os objetivos específicos foram: Especificar os efeitos no organismo humano
do uso do crack, descrever a abordagem logoterapêutica, analisar a contribuição da
abordagem logoterapêutica na dependência do crack e propor medidas
psicoterapêuticas à superação da dependência do crack.
Diante das leituras em livros, artigos da internet e entrevistas com usuários de
drogas, especialmente o crack e adolescentes que estão em recuperação e outros
que já usaram, mas, felizmente conseguiram parar de usar a droga, pode-se
assegurar que há diferentes tipos de usuários de drogas. Sendo eles: o
experimentador, que começa pelo álcool e cigarro e depois fuma maconha e
continua experimentando várias drogas, por curiosidade, pressões do grupo onde
vive ou até mesmo para não ser o careta da turma. Mas geralmente, o
experimentador de várias drogas tem o desejo de novas experiências. Pode
acontecer um evento na sua vida, como encontrar um amor, ou realizar uma tarefa,
que ele caí em si e não dá continuidade no uso de drogas.
Há os usuários casuais, que usam certas drogas, dependendo da ocasião e
do acesso disponível da droga. Por meio de relatos, pode-se perceber que na vida
destes usuários, não há dependência e também quando usam, não alteram as suas
relações sociais.
Já os usuários dependentes vivem exclusivamente pela droga. Os vínculos
sociais, afetivos e profissionais são rompidos, provocando a dependência física,
dependência psicológica, tolerância, isolamento, angústia, vazio existencial,
sofrimento, dor, baixa auto-estima, falta de amor próprio, incapacidade de amar o
próximo, marginalização, roubos, assaltos, mortes, tráficos e também há uma
ausência da descoberta de um sentido para vida.
Nota-se que hoje em dia, a dependência química atinge a todos,
independentemente de raça, idade, sexo, nacionalidade, crença religiosa ou camada

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social. E o começo do uso de drogas inicia-se na adolescência. Portanto, é muito
importante a presença e o bom contato da família nesta fase de vida. A família é
importante em todas as fases da vida do indivíduo, tanto na adolescência para
prevenção de drogas, como também na recuperação e tratamento de drogas. É
essencial a postura de diálogo, aconselhamento e acolhimento da família nestas
situações.
Pode-se perceber que o dependente químico está começando a usar a droga
nas escolas tanto privadas, como públicas. Nesse sentido, devem ser desenvolvidas
campanhas de prevenção nas escolas e na mídia, visando informar o não-usuário
sobre o risco das drogas e o usuário sobre as doenças associadas.
Felizmente, pessoas que apresentam uma religiosidade e espiritualidade e
que freqüentam culto religioso, oram e acreditam em Deus, apresentam um melhor
tratamento e recuperação de drogas. Pessoas que praticam esportes, como
caminhadas, academia, futsal, vôlei, etc, estão menos propensas ao uso de drogas.
O ser humano é consciente e possui uma intencionalidade em suas atitudes e
só as faz por terem sentido, e é através da consciência, que o homem se humaniza
e passa a tomar atitude, tendo uma liberdade pessoal para assumir uma posição
responsável frente à vida e ao sentido desta.
A liberdade oferece ao ser a oportunidade de mudar, renunciar ao seu eu e
enfrentá-lo. O homem consciente não precisa dos limites que o mundo impõe. Ele
constrói seus limites de acordo com a sua própria consciência que reconhece até
que ponto o mundo pode tolerar seu processo de libertação. Portanto, cada pessoa
é chamada a ser responsável pela sua liberdade, tomando atitudes frente à vida,
ainda que ela seja de dor e sofrimento.
Por maiores que sejam os sofrimentos, dores e angústias, quando o indivíduo
tem um sentido na vida, “um para quê” viver, ele suporta qualquer dor e se mantém
vivo. O ser humano é capaz de suportar os mais intensos sofrimentos, quando tem
um sentido para a vida, uma missão ou tarefa cobrando realização. Quando a
pessoa consegue ressuscitar a esperança que existe dentro dela, o sofrimento
ganha sentido, tornando-se suportável.
O objetivo do sofrimento humano é transformá-lo em outra pessoa, o
sofrimento só tem sentido quando quem sofre muda para melhor. Uma coisa é
descrever o sofrimento, outra é viver o sofrimento. Grande parte do sofrimento do
ser humano vem do ressentimento de uma pessoa, e a experiência do sofrimento é

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sempre individual. Toda e qualquer situação se caracteriza por um caráter único e
exclusivo que permite uma única resposta correta a pergunta feita na situação. O
destino de cada ser humano é sempre algo singular e único. Nenhum destino e
nenhum ser humano podem ser comparados com outro e nenhuma situação se
repete.
O sofrimento dificulta as manifestações das potencialidades, porque tem
medo de existir, medo de ser, medo de assumir as suas potencialidades, capacidade
de resistir às pressões sociais e lutar por uma causa.
A Logoterapia vai ajudar o dependente químico por meio da conversação, por
exemplo, fazendo com que o indivíduo encontre um sentido na sua vida,
transformando sentimentos como culpa, ressentimento, mágoa, dor, em aspectos
positivos. A vontade de sentido é o ponto de partida para curar o dependente. A
Logoterapia vai conscientizar o dependente, mostrando as qualidades e
potencialidades que existem dentro deles.
A psicoterapia possibilita no ser humano a tentativa de promover a esperança.
Só pode haver “esperança” numa possibilidade de libertação. O objetivo da
Psicologia como ciência e profissão é dar ao ser humano uma vida digna, qualificada
com liberdade e esperança.
A psicoterapia ameniza a dor, mas não a retira, pois se retirá-la, outro
sofrimento se apresentará, pois isto é a condição. Pode-se compreender, conversar,
ajudar a compartilhar a dor, colocar a disposição para ajudá-lo numa dor
insuportável, mas não pode retirar essa angústia e sim só ameniza-lá, pois o
sofrimento jamais sairá da condição humana.

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O SENTIDO DA VIDA EM SUJEITOS DEPENDENTES
QUÍMICOS EM SITUAÇÃO DE RUA

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RESUMO

A dependência química pode ser caracterizada como a auto administração da manutenção


do uso de determinada substância psicoativa, apesar de evidências indicarem prejuízos no
âmbito biopsicossocial. Dentre estes danos, cita-se a deterioração social, que pode levar
sujeitos a viverem em situação de rua. Sujeitos dependentes químicos em situação de rua
podem experienciar invisibilidade e exclusão social, que atreladas a condições precárias de
vida os deixam suscetíveis a sofrimento físico e psíquico. Para a Logoterapia, teoria fundada
por Viktor Frankl, o sujeito é capaz de se adaptar e superar qualquer situação de dor, desde
que haja um sentido de vida. Esta pesquisa tem como objetivo geral identificar possíveis
implicações de sujeitos dependentes químicos em situação de rua relacionadas ao sentido da
vida. Como objetivos específicos, apresenta-se a conceituação do sentido da vida, segundo
a Logoterapia; a caracterização da dependência química; e, a apresentação dos aspectos
fundamentais acerca de pessoas em situação de rua. Para atingir os objetivos, a revisão de
literatura foi fragmentada em três temáticas: Logoterapia e sentido da vida, Dependência
química e Aspectos fundamentais acerca de pessoas em situação de rua. Este trabalho foi
estruturado com base em uma pesquisa bibliográfica qualitativa de cunho exploratório e
interpretativo. Como fonte, foi utilizado o livro autobiográfico Há vida depois das
marquises, que relata o contexto vivenciado por um sujeito dependente químico em situação
de rua, o que o levou a morar nas ruas do Rio de Janeiro e os sentidos encontrados para
modificar sua trajetória. Como instrumento, foi utilizada uma tabela composta por recortes
de trechos do livro, descritos e categorizados. Como referencial de análise, foi utilizado o
referencial de análise de conteúdo proposto por Laville e Dionne, através da técnica de
emparelhando, associando os recortes do artefato escolhido com o aporte teórico, e do
modelo aberto, cujo as categorias não são definidas previamente, mas são moldadas a
posteriori. Emergiram as seguintes categorias: Dependência Química, com as subcategorias
Baixo Controle e Frustração Existencial; Deterioração Social; e Sentido da Vida, com as
subcategorias: Valores de Vivência, Valores de Atitude e Valores de Criação. A partir disso,
foi possível compreender aspectos abarcados na dependência química e na relação dessa
patologia com a situação de rua, bem como, fatores que influenciam no encontro de sentido
de vida, por parte desses sujeitos.

Palavras-chave: sujeitos dependentes químicos, situação de rua, sentido de


vida, Logoterapia.

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INTRODUÇÃO

A motivação para realizar uma pesquisa sobre o sentido da vida de dependentes


químicos em situação de rua advém do desejo de uma melhor compreensão sobre essa
intersecção, somando-se a diversos estudos ao longo da graduação. A disciplina de
Deontologia evidenciou a invisibilidade social que acomete pessoas em situação de rua;
Psicofarmacologia, possibilitou o estudo da ação de substâncias químicas no sistema nervoso
central, as bases neuroquímicas da dependência de diversas drogas de abuso e ressaltou a
importância do tratamento com fármacos associados à psicoterapia; Psicologia e
Psicoterapia Humanista e Existencial embasou a teoria escolhida, a Logoterapia, criada por
Viktor Frankl e fundamentada no sentido da vida; Os Estágios em Clínica Ampliada I e II,
realizados no CAPS Reviver (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas - Caps III
AD) em Caxias do Sul, possibilitaram o contato com a realidade de pessoas que apresentam
dependência ou uso prejudicial de drogas, havendo no Serviço, prevalência de usuários em
situação de rua. O mesmo também proporcionou vivências no projeto Consultório de Rua,
propiciando contato direto com sujeitos dependentes químicos em situação de rua e com os
fenômenos que abarcam esse contexto.
Sob um rápido olhar, percebe-se na cidade e na mídia uma grande quantidade de
sujeitos dependentes químicos vivendo em situação de rua. Estes podem estar
desempregados, vulneráveis, sem fonte de renda para sequer alimentar-se, sem vivência com
a família ou rede de apoio. Ademais, têm uma dependência na qual não há dinheiro
disponível para suprir, vivenciando violências sociais e manifestações de sintomas
abstinentes quando não há forma de conseguir a droga. Mas, apesar disso, algo os mantém
motivados a não desistir de viver.
Sobre a relevância da presente pesquisa, o Ministério da Saúde (2014) afirma que a
invisibilidade das pessoas em situação de rua é considerada um grave problema que dificulta
que esses sujeitos tenham seus direitos reconhecidos. Essa invisibilidade se torna notória
quando se pensa que a Política Nacional para População em Situação de Rua foi instituída
em 2009, ou seja, o reconhecimento do direito legal destes cidadãos ainda é recente.
Conforme estimativa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA), em 2016 existiam cerca de 101.854 pessoas vivendo em situação de rua no Brasil
(http://www.ipea.gov.br). Os censos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) não constam dados acerca da condição situacional de moradores de rua,
entretanto, a Justiça determinou que esse grupo seja incluso no censo demográfico de 2020,
prevendo a contagem atual dessa população (Richter, 2019). O que enfatiza, mais uma vez,

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o recente reconhecimento dessas pessoas. Em Caxias do Sul, dados divulgados pela
Fundação de Assistência Social, estimam que em 2019 mais de 700 pessoas viviam em
situação de rua na cidade. A faixa etária prevalecente dessa população é de 18 a 39 anos,
sendo que 89,90% são homens e 10,20% mulheres
(http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2020/02/mais-de-700-pessoas-vivem-em-
situacao-de-rua-em-caxias-do-sul-12187510.html).
A situação de rua é considerada uma crise mundial de direitos humanos. Ao mesmo
passo que se trata de uma vivência particular de pessoas mais vulneráveis socialmente, que
enfrentam falta de moradia, abandono, desespero, problemas de saúde, trata-se também, da
identificação de um grupo social. Essa identidade estabelecida socialmente, atrelada a
negação de direitos dessas pessoas se refletem por meio de estigmatização e exclusão social
(Organização das Nações Unidas, 2016). Morar na rua é “consequência de uma reação em
cadeia, relacionado com a reestruturação produtiva, globalização, altos índices de
desemprego, aumento da informalidade, rebaixamento salarial, uso de drogas, violência
urbana etc., revelando um quadro político, econômico e social desumano, injusto e
destrutivo” (Gibbs, 2015, p.2). Assim, entende-se a situação de rua como o reflexo de uma
questão social de desigualdade, produzida pelo capitalismo.
A Política Nacional para População em Situação de Rua (2009) cita que no ano de
2007 o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome realizou uma pesquisa
nacional acerca da população em situação de rua e a partir disso foi possível investigar as
principais motivações que levaram essas pessoas a morar na rua: problemas com alcoolismo
e/ou drogas (35,5%), desemprego (29,8%), e desavenças com pai/mãe/irmãos (29,1%). Dos
entrevistados, 71,3% relataram ao menos um dos três motivos citados, podendo haver
correlações. Percebe-se a prevalência da drogadição como o principal motivo que leva à
situação de rua. Pesquisas indicam que há uma consistente relação entre o uso de drogas e
fatores sociais (Machado, Oliveira, Metz, Schwidersk & Machado, 2016).
A dependência química leva à fragilização e rompimento de vínculos familiares e
sociais, influenciando também no desenvolvimento de atividades laborais. Como resultado,
se tem uma população que vive em uma situação precária e recorre à rua como sendo uma
exclusiva alternativa de moradia e sobrevivência (Mendes & Horr, 2014). Em algumas
situações, essas pessoas têm possibilidade de acesso a albergues e casas de apoio social, no
entanto, esses locais não admitem a entrada sob efeito de substâncias, o que faz com que
permaneçam nas ruas.
A busca de drogas tem como objetivo principal a busca pelo prazer ou alívio de
tensão e, geralmente, o uso de substâncias psicoativas por pessoas em situação de rua advém

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do desejo de fuga do sofrimento vivenciado (Matos, 2018). Ademais, as pessoas em
situações de rua vivenciam uma realidade árdua que causa exaustão física e psicológica,
perante isso, as drogas são geralmente consumidas no intuito de fugir das adversidades
corriqueiras (Matos, 2018). Para a Logoterapia, o sujeito é capaz de se adaptar e sobreviver
a qualquer eventualidade da vida, desde que haja uma razão para suportar o sofrimento
vivenciado, desde que haja um sentido de vida (Frankl, 1946/1989). A partir do que foi
exposto, o presente estudo tem por objetivo responder ao seguinte problema de pesquisa:
Quais as possíveis implicações de sujeitos dependentes químicos em situação de rua,
relacionadas ao sentido da vida?

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OBJETIVOS

Objetivo geral
Identificar possíveis implicações do sentido da vida em sujeitos dependentes
químicos em situação de rua.
Objetivos específicos
Conceituar o sentido da vida, segundo a Logoterapia.
Caracterizar a dependência química.
Apresentar aspectos fundamentais acerca de pessoas em situação de rua.

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REVISÃO DA LITERATURA

Logoterapia e sentido da vida


Viktor Frankl fundou a Logoterapia, também conhecida como a Terceira Escola
Vienense de Psicoterapia, após a Psicanálise de Sigmund Freud e a Psicologia Individual de
Alfred Adler (Kroeff, 2014). Teorias as quais reconheceu como importante e seguiu
inicialmente, mas identificou necessidade de prosseguir a caminhada. Enquanto a teoria
freudiana deu enfoque à sexualidade e a vontade orientada ao prazer, Adler ressaltou que o
fator que impulsiona a ação humana está no intuito de compensar desejos de inferioridade,
ou seja, na vontade de poder, e Frankl acentuou o desejo de sentido como fonte de
significação vital e realização (Frankl,1946/2013; Frankl, 1969/2011; Lukas,2005; Kroeff,
2014).
De modo algum, a Logoterapia ilegítima estudos relevantes de nomeados pioneiros
como Freud, Adler, Pavlov, Watson, Skinner (Frankl, 1978/2000). É considerada um sistema
aberto, uma orientação de busca, de cooperação ativa com outras teorias psicológicas e
evolução interna de si mesma, ou seja, representa um diálogo com todas as escolas de
psicoterapia, visando receber contribuições para o seu aperfeiçoamento (Fizzotti em Kroeff,
2014).
O termo Logoterapia se origina da palavra grega logos, que significa sentido. (Frankl,
1946/2013). Uma possível tradução do termo literal é “terapia através do sentido”, assim
sendo, a teoria criada por Frankl pode ser considerada um (psico) terapia centrada no sentido
da existência humana e na busca da pessoa por este sentido (Frankl, 1978/2000, 1946/2013;
Carrara, 2016). Considera-se uma psicoterapia ancorada numa teoria psicológica da pessoa
humana, autotranscendente, embasada em um conceito antropológico de pessoa que valoriza
diversos aspectos humanos, tendo como principais influências as linhas da Psicologia
Existencial e da Psicologia Humanista (Xausa, 1988).
Frankl elaborou o modelo ontológico humano, no qual a pessoa é compreendida
como um ser tridimensional, constituído por três dimensões fundamentais que se integram,
a biológica, a psicológica e a noética ou espiritual, formando uma identidade bio-psico-
espiritual (Xausa, 1988; Penedo, Campos & Davico, 2018). A dimensão biológica é
representada pelo somático, abrangendo os fenômenos corporais e é natural a todos os seres
vivos. A dimensão psicológica representa o estado mental da pessoa e atua por meio das
emoções. Tal dimensão também é compartilhada com todos os seres vivos, visto que os
animais também têm emoções, mesmo que de forma instintiva e mais rudimentar. A
dimensão noética é exclusiva ao ser humano e é considerada por Frankl como o órgão do

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sentido (Frankl, 1946/2017; Penedo et al., 2018). Essa dimensão não se restringe a aspectos
de cunho religioso, tampouco sobrenatural, e sim à totalidade do sujeito munido de senso de
valor, ética, tomada de posição, liberdade, responsabilidade, criatividade, consciência,
intencionalidade e preocupação com o sentido da vida (Xausa, 1988; Guedes & Gaudêncio,
2012; Santos, 2016). A consciência e a responsabilidade são dois aspectos indispensáveis à
existência humana. A teoria logoterapêutica tem a concepção de ser humano consciente e
responsável, mesmo diante de limitações biológicas, psicológicas, econômicas e sociais (Frankl,
1978/2005, 1946/2013).
Ademais, para a Logoterapia o conceito de pessoa é também fundamentado em três
pilares: a liberdade da vontade; a vontade de sentido; e o sentido da vida (Frankl, 1969/2011;
Meireles, 2018). A liberdade de vontade opõe-se ao pandeterminismo, considerando o
homem livre para escolher as atitudes a tomar diante de qualquer situação lhe apresentada,
por meio da dimensão noética (Frankl, 1969/2011, Kroeff, 2014). Mesmo que sua liberdade
sofra limitações e condicionamentos, o ser humano é livre e, assim, consciente/responsável
por suas escolhas, portanto, nesse sentido, o que ele é e o que ele será, depende apenas dele,
tornando-se construtor de si mesmo e de sua existência (Frankl, 1946/2013; Kroeff, 2014).
O segundo pilar da Logoterapia, a vontade de sentido, é caracterizado como sendo a
força primária, o esforço mais básico que motiva o ser humano a encontrar e realizar sentidos
e propósitos para sua vida (Frankl, 1976/1991, 1978/2000; Santos, 2016). O sujeito não
busca a felicidade diretamente, mas uma razão constante para ser feliz (Kroeff, 2014) e isso
“o induz a envolver-se com todo o empenho em tarefas importantes, dispondo-se a sacrificar-
se, se necessário, para servir as pessoas que ama, para transformar em ações seus
sentimentos, para ocupar-se com áreas de seu interesse” (Lukas, 2005, p.147-148).
Para a Logoterapia, o que realmente impulsiona o ser humano não é a vontade de
prazer, defendida por Freud, nem tampouco a vontade de poder, advogada por Adler, mas
sim a vontade de sentido, a razão para ser feliz (Xausa, 1988; Santos, 2016). Os dois últimos
princípios partem do pressuposto homeostático, ou seja, do ser humano como alguém que
precisa reduzir suas tensões para manter o equilíbrio (Santos, 2016). Na teoria de Frankl, o
ser humano necessita de uma tensão interna entre o que alcançou e o que deve alcançar para
mover-se do ser ao dever-ser (Frankl, 1978/2000). Essa tensão, é denominada noodinâmica
e trata-se da tensão de um campo polarizado com dois pólos, onde de um lado há um sentido
a ser alcançado e no outro a pessoa que deve alcançá-lo (Frankl, 1946/2013). Uma
quantidade moderada e não excessiva de tensão, que desafie o ser humano a mover-se na
busca de um sentido é considerada pré requisito para a saúde mental (Frankl, 1978/2000;
Santos, 2016).

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A vontade de sentido, quando frustrada, gera, principalmente, um estado de tédio,
com sensação de inutilidade e um profundo sentimento de que a vida não tem sentido,
denominado como vazio existencial (Frankl, 1946/2013; Xausa, 1988). O vazio existencial
acomete cada vez mais o sujeito contemporâneo, devido ao processo de evolução e à perda
de tradição. Há abundância do ócio sem nada que o ser humano possa considerar como fonte
de sentido neste tempo livre, visto que está sem instinto e tradição que lhe digam o que deve
fazer (Frankl, 1978/2000, 1946/2013; Xausa, 1988; Ramos & Rocha, 2018). Ressalta-se que
o vazio existencial não é uma doença em si, nem tem causa patológica, bem como, nem todo
adoecimento neurótico é noogênico (Frankl, 1946/2013). O sujeito pode ser saudável na
dimensão biopsicossocial e ser frustrado existencialmente (Santos, 2016; Frankl,
1946/2017).
Quando o sujeito dá-se conta da falta de sentido em sua vida, ao cessar de suas tarefas
cotidianas, e o vazio interior se torna manifesto, surge uma espécie de depressão,
conceituada na Logoterapia como neurose dominical
É o vazio espiritual que conduz à neurose dominical em permanência, e
podemos encontrá-lo atrás de uma laboriosidade profissional excessiva,
no refúgio de uma atividade desportiva, na fuga neurótica para o mundo
dos romances ou televisão, nos fenômenos psicológicos de massa, no
decaimento psicofísico dos aposentados, na necessidade de nunca se
deixar descansar ou na febre de novas ações e novas experiências,
especialmente na agressividade, na adição e no alcoolismo (Xausa, 1988,
p. 149).
O sentimento de vazio existencial é resultante de frustrações pessoais/existenciais. O
ser humano se esforça e luta intensamente por uma vontade de sentido última, mas esta
vontade de sentido pode frustrar-se e esta situação chama-se frustração existencial (Frankl,
1978/2000). O sentimento de perda de sentido vem crescendo e se difundindo a ponto de ser
chamado de neurose de massa, a qual é manifestada pela tríade: depressão; agressão; e
dependência química (Frankl,1978/2000; Ramos & Rocha, 2018). Diante da frustração
existencial, a dependência química pode ser considerada um meio de busca de prazer através
do entorpecimento da existência, refugiando-se em um mundo ilusório (Frankl, 1946/1989;
Lukas, 1992). A apatia perante a vida oferta o alicerce para a instauração da dependência, o
que não nega, de forma alguma, a existência de fatores intrapsíquicos como fonte dessa
patologia (Carrara, 2016). Ademais, a sensação de vazio existencial costuma ser
experienciada por sujeitos dependentes químicos, que expressam o sentimento por meio de
frases como: “sinto-me desorientado”; “sinto vontade de fugir, mas não sei para onde”; “não

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vejo sentido”; “não me reconheço”; “não sei quando me tornei isso” (Ortiz, 2009). O
tratamento da dependência química, com viés logoterapêutico, visa estabelecer um projeto
de vida no qual o sujeito possa buscar e encontrar sentidos de vida (Ortiz, 2009). Visto que,
mesmo um suicida acredita em algum sentido, talvez não do viver, mas ao menos no sentido
do morrer, da morte. Pois, ele não seria capaz de mover-se, de cometer suicídio, se não cresse
em algum sentido (Frankl, 1946/1989).
O sentido da vida, terceiro pilar da Logoterapia, não é único para o sujeito, mas é
exclusivo e singular de cada pessoa, mutando-se constantemente, de um dia para o outro.
Esse sentido é uma necessidade específica, subjetiva e intransferível, não havendo um
sentido universal, mas sentidos únicos de situações individuais (Frankl, 1978/2000,
1946/2013). Os sentidos não faltam nunca, ou seja, a vida não deixa jamais de ter sentido,
mesmo nas circunstâncias mais difíceis o ser humano tem como motivação básica o alcance
dos sentidos, por meio da realização de valores (Frankl, 2000; Kroeff, 2014).
Apesar de não haver um sentido definido para a vida, a Logoterapia pressupõe que o
sentido não pode ser dado e sim encontrado pela própria pessoa por meio de três caminhos
principais: valores de criação, valores de vivência e valores de atitude (Xausa, 1988; Kroeff,
2014). Valores de criação acontecem por meio de criações as quais são consideradas
importantes para si e/ou criações que podem ser oferecidas ao mundo, seja criações
intelectuais, artísticas, de trabalho, realização profissional, atos que contribuem com o
universo de modo insubstituível (Xausa, 1988; Kroeff, 2014).
Os valores de vivência são compreendidos como a descoberta de que o sujeito pode
também receber algo do mundo, como a bondade, a verdade, a beleza, a natureza, a cultura,
o amor (Frankl, 1946/2013; Xausa, 1988; Kroeff, 2014). Os valores de atitude são
constituídos pelas atitudes tomadas perante um sofrimento inevitável, que não pode ser
modificado, assim, o valor de atitude é a possibilidade de o sujeito mudar de posicionamento
frente a tríade trágica (Kroeff, 2014; Xausa, 1988).
A tríade trágica é composta por três elementos: sofrimento, culpa e morte. É a partir
da atitude adotada frente ao sofrimento que o sujeito pode transformar uma tragédia pessoal
em um triunfo (Frankl, 1946/2013; Pereira & Pinheiro, 2018). Ressalta-se que o sofrimento
não é, de modo algum, necessário para encontrar sentido (Kroeff, 2014), mas Frankl
acreditava que se o sofrimento é inevitável à vida, que é significativa, deve então haver
significado também no sofrimento, na atitude tomada perante o sofrimento o sujeito
encontrará um sentido (Xausa, 1988). Assim, o sofrimento pode oportunizar o
desenvolvimento de uma maturidade plena e a obtenção de uma maior consciência de sua
dignidade (Frankl em Kroeff, 2014).

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A culpa é caracterizada como um tipo de sofrimento, visto que o sujeito se julga
responsável por infringir seus valores. O ser humano conscientiza-se que fez algo
inadequado e culpa-se por isso (Kroeff, 2014). “É prerrogativa do homem tornar-se culpado
e responsabilidade superar a culpa” (Frankl em Kroeff, 2014, p.64). Assim, na medida em
que a pessoa avalia-se como culpada, deve tentar reparar as falhas e transformá-las em
mudanças, alterando suas atitudes futuras e visando um novo sentido para sua vida (Kroeff,
2014).
No que tange à morte, é considerada como sendo o limite para a possibilidade de
realizar sentidos, o término de um processo evolutivo que inicia no nascimento. A
consciência de finitude o leva a aproveitar o tempo de vida limitado que dispõe, evitando
desperdiçar ocasiões únicas e sendo impulsionado para um fazer responsável em sua
existência finita (Frankl, 1946/1989; Kroeff, 2014). No entanto, a morte somente tem sentido
de ser pensada em relação com o significado que tenha para a vida, permitindo a reflexão
sobre o que esse fenômeno vai interromper caso a vida não tenha continuidade (Kroeff,
2014).
Ademais, para a Logoterapia, o ser humano apresenta duas características essenciais:
o autodistanciamento e a autotranscendência. A primeira, o autodistanciamento, é
compreendido como a capacidade humana de distanciar-se de si próprio, proporcionando
uma melhor percepção das circunstâncias entrelaçadas em sua existência, permitindo uma
tomada de posição (Frankl, 1946/2013; Kroeff, 2014). Distanciar-se da situação,
principalmente se esta é fonte de sofrimento, permite uma compreensão de que o sujeito não
é a aquela situação, não é sua limitação. O autodistanciamento também relaciona-se com a
autocompreensão, visto que quanto mais a pessoa compreende a si própria, mais será capaz
de se distanciar dela mesma (Santos, 2016).
A segunda característica, a autotranscendência, se refere ao fato de o ser humano
transcender, ou seja, sua essência de existência não está em si próprio, mas sim, na relação
com alguma causa ou alguém que ama, no mundo (Frankl, 1946/2013; Santos, 2016).
Significa que o ser humano está direcionado para o mundo, por meio do qual busca um
sentido e quanto mais a pessoa esquece de si mesma em prol a uma causa ou a alguém, mais
humana se torna (Frankl, 1978/2000, 1946/2017; Santos, 2016). “É como o olho que, para
cumprir a sua função de ver o mundo, não pode ver a si mesmo” (Frankl, 1976/1991, p.123).
Para a Logoterapia, "o homem não é apenas um ser que reage e ab-reage, mas também
que se auto-transcende" (Frankl, 1990, p. 29). A relação transcendental pode se dar por meio
da vivência do diálogo, no qual o transcendente é caracterizado como um “Tu”. E, o sujeito
que passa por tal vivência é denominado como homo religiosus (Frankl, 1990; Moreira &

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Holanda, 2010). Para a Logoterapia, a religião pode ser compreendida como um objeto (não
uma posição) de trabalho, no qual tanto a religião como a irreligião são percebidas diante de
um posicionamento neutro (Frankl, 1943/2017). O objetivo do tratamento psicoterapêutico
é a cura psíquica, enquanto da religião é a salvação da alma. A segunda é uma dimensão
mais elevada que a primeira e o acesso a ela não se dá pelo conhecimento, mas pela fé
(Frankl, 1943/2017).
O fenômeno da fé é concebido como uma crença ampliada no sentido, não se
ocupando apenas da vontade de sentido, mas também com a vontade de um sentido último,
chamado supersentido. Ademais, "crer em Deus significa ver que a vida tem um sentido"
(Frankl, 1990, p. 58). Frankl (1943/2017) define Deus como sendo o companheiro do homem
em seus monólogos mais íntimos, ou seja, sempre que estiver dialogando consigo mesmo,
amparado por solidão e honestidade, o parceiro deste solilóquio pode ser nomeado de Deus,
independente se o sujeito é crente em Deus ou ateu. Essa diferenciação torna-se irrelevante,
visto que para alguns será compreendido como um simples monólogo, enquanto para outros,
consciente ou inconscientemente, como um diálogo com alguém dessemelhante a si e essa
relação pode influenciar no processo de transcendência humana (Frankl, 1943/2017).
Em suma, os valores de criação, valores de vivência, valores de atitude, o sofrimento,
a culpa, a morte, a capacidade de autotranscender-se e de autodistanciar-se podem contribuir
para que o ser humano alcance um real e subjetivo sentido para sua vida (Kroeff, 2014).

Dependência química
Droga pode ser caracterizada como qualquer substância não fabricada pelo
organismo humano e que atua sobre um ou mais sistemas do corpo, sendo capaz de produzir
alterações em suas funções, sentidos, pensamentos e comportamentos (Silva, Moll &
Ventura, 2018; Targino & Hayasida, 2018). Na contemporaneidade, usa-se o termo
substância psicoativa para descrever “droga” (Silva et al., 2018). Desde os primórdios da
humanidade, as substâncias psicoativas têm sido utilizadas para diversas finalidades, como
o uso medicinal, religioso, recreativo, para promover alterações de realidade ou sensação de
prazer (Targino & Hayasida, 2018). Inúmeras drogas existem no mundo, muitas têm efeitos
benéficos para a saúde e são utilizadas sob prescrição médica. Mas quando se institui um
abuso, causam alterações no Sistema Nervoso Central (SNC) e podem causar dependência,
o que torna-se agregado a uma problemática de saúde pública (Zeferino et al., 2015; Silva et
al., 2018). É, particularmente, esse tipo de substância a que se refere este trabalho ao utilizar
o termo droga.

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Para uma melhor compreensão dos fenômenos, é necessário distinguir os conceitos
envolvidos na drogadição. O uso é caracterizado como o ato de experimentar ou consumir
eventualmente, não causando prejuízos devido a isso, e o abuso, refere-se ao uso no qual
existem consequências prejudiciais, sejam de nível biológico, psicológico ou social. Na
dependência, os prejuízos tornam-se mais evidentes e não há controle no consumo (Cordeiro,
2013).
A dependência de substâncias psicoativas está ligada à auto administração da
manutenção do consumo de determinada droga, apesar da evidência de problemas
relacionados ao uso em aspectos pessoais, sociais e de saúde, geralmente, resultando em
tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de busca pela droga (Schlindwein-
Zanini, Almeida, Helegda & Fernandes, 2014). Pode ser compreendida como uma patologia
mental e comportamental incluída no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-V), o qual traz que todas as substâncias psicoativas que são utilizadas
excessivamente ativam o sistema de recompensa do cérebro e essa ativação é tão acentuada
que o sujeito pode passar a negligenciar atividades cotidianas (DSM-V, 2014).
Dentre os critérios que caracterizam o diagnóstico de um transtorno por uso de
substâncias, o DSM-V (2014) indica: baixo controle, deterioração social, uso arriscado e
critérios farmacológicos. O baixo controle implica no consumo em quantidade ou período
maior que o pretendido e apesar do desejo de reduzir o uso, relata esforços fracassados. Há
manifestação de fissura, na qual há um desejo intenso de consumir a droga (DSM-V, 2014).
A deterioração social caracteriza-se como o fracasso em realizar as funções no
trabalho, escola ou lar. O sujeito permanece no uso da droga, apesar dos evidentes problemas
sociais ou interpessoais aumentados devido aos efeitos da substância. Ademais, pode haver
o abandono ou redução de atividades de natureza social, profissional ou recreativa. O uso
arriscado da substância é considerado quando o indivíduo consome a droga de forma
recorrente, a ponto de colocar em risco sua integridade física e continuar o uso, mesmo
estando a par da apresentação de um problema físico ou psicológico que foi originado ou
exacerbado pela substância (DSM-V, 2014).
Os critérios farmacológicos são compreendidos como o desenvolvimento de
tolerância e a síndrome de abstinência (DSM-V, 2014). Quando uma droga é consumida
repetidamente, há a perda ou redução da sensibilidade aos efeitos iniciais, diz-se que o
sujeito está tolerante. A tolerância faz com que seja necessário doses cada vez maiores para
obter o prazer proporcionado pela substância (Ministério da Justiça e Cidadania, 2017). A
síndrome de abstinência ocorre quando a interrupção ou diminuição do consumo da droga
desencadeia sintomas físicos e psíquicos desagradáveis. Quanto maior for o nível de

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dependência, mais exacerbado serão os efeitos sintomáticos da ausência da droga no
organismo, sendo que cada tipo de substância acarreta em diferentes sintomas, entre eles:
tremores, náuseas, vômito, ansiedade, irritabilidade, alucinações, paranóia, insônia, raiva,
ansiedade, sudorese (Cordeiro, 2013; Duailibi, 2013; Ministério da Justiça e Cidadania,
2017). A tolerância instiga o indivíduo a consumir doses cada vez maiores e a síndrome de
abstinência dificulta o cessamento do consumo da droga, assim ambas contribuem para o
desenvolvimento da dependência química.
Durante o período de abstinência é comum que haja a manifestação de fissura pela
droga ou craving, um dos fatores que mais contribuem na recaída, a qual é “desencadeada
pelo estresse, pelo ambiente e possivelmente por ansiedade e sentimentos disfóricos, ou seja,
pelo ambiente interno” (Fonseca & Lemos, 2011, p. 31). Outro aspecto que influencia na
retomada do uso, é a tendência de sujeitos dependentes químicos em buscar manter um
consumo mais leve, se comparado ao habitual (Ferreira & Bortolon, 2016). Entretanto, por
se tratar da dependência química, uma condição biopsicosociocultural, as motivações que
instigam o sujeito a buscar novamente a droga relacionam-se com a subjetividade de cada
pessoa (Santos, Rocha & Araújo, 2014).
No Brasil, o consumo de substâncias psicoativas é considerado uma questão de saúde
e segurança pública que se atenua com o passar do tempo (Schimith, Murta & Queiroz,
2019). No país, há relação entre o consumo de drogas com o encadeamento de diversos
problemas de saúde, como acidentes de trânsito, comportamentos hostis, transmissão de
doenças sexuais, distúrbios de conduta, entre outros (Zeferino et al., 2015).
Sujeitos dependentes químicos são percebidos como pessoas que burlam o controle
das leis legais, morais e sociais. Os usuários de substâncias ilícitas, principalmente, escapam
do comércio autorizado e tributado, inserindo-se em um contexto clandestino e
transformando-se em uma ameaça para o sistema (Melo & Maciel, 2016). Usuários de drogas
são percebidos, por meio de um imaginário social, como indivíduos que agem pelo gozo,
afrontam os costumes sociais, são irresponsáveis, marginais e delinquentes (Scislesk &
Galeano, 2018). Em razão disso, a sociedade em geral não acolhe as vivências dessas pessoas
de modo empático, fazendo com que suas demandas e sofrimentos tornem-se invisíveis
(Nunes, Santos, Fischer & Güntzel, 2010).
O status de ilegalidade da substância é projetado na personalidade do
usuário. Essa representação traz uma série de implicações que
solidificam a exclusão social do usuário. Ela estimula o seu isolamento
social, aumentando a dificuldade de conseguir tratamento médico para

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deixar a dependência da droga ou para tratar os efeitos do seu uso
abusivo (Melo & Maciel, 2016).
Portanto, torna-se necessário refletir acerca dos fatores protetivos, que podem
diminuir a probabilidade de uma pessoa usar drogas, e fatores de risco, que em contrapartida
aumentam as possibilidades de consumir drogas (Ferro & Meneses-Gaya, 2015). Os fatores
de risco relacionados ao consumo de substâncias psicoativas podem ser individuais:
insegurança, insatisfação, sintomas depressivos, ansiedade; familiares: pais que usam
drogas, apresentam transtornos mentais, são autoritários, violência intrafamiliar; escolares:
baixo rendimento acadêmico, exclusão, ausência de vínculos; sociais: ambiente hostil, falta
de oportunidade de trabalho, falta de recursos preventivos; e relacionados à droga:
disponibilidade para compra, mídia demonstrando unicamente o prazer (Macedo, Aygnes,
Barbosa & Luis, 2014). Os fatores protetivos englobam os mesmos aspectos em
contrapontos diferentes sendo individuais: boa autoestima, relacionamentos saudáveis;
familiares: envolvimento afetivo entre os membros, ações e normas claras; escolares: bom
desempenho acadêmico, prazer em estudar; sociais: lazer, boa relação com a comunidade; e
relacionados a drogas: vivência com as consequências negativas do consumo de drogas
e informações preventivas quanto ao uso (Macedo et al., 2014).
Fatores protetivos e de risco variam de acordo com aspectos culturais, sociais e
econômicos. O consumo de droga pode ter influências advindas da família, religião,
entretenimento e grupos sociais, porque esses ambientes podem proteger o sujeito, bem
como o compelir a responder pressões sociais e/ou a receber reconhecimentos sociais
(Zeferino et al., 2015). Torna-se importante ressaltar que o uso abusivo de drogas é um dos
principais fatores que levam os sujeitos a viver em situação de rua (Ministério do
Desenvolvimento Social, 2009), o que pode potencializar a presença de fatores de risco e,
consequentemente, reduzir aspectos de cunho protetor (Zeferino et al., 2015).

Aspectos fundamentais acerca de pessoas em situação de rua


A existência de pessoas em situação de rua não é considerada um fenômeno novo,
visto que a sociedade pré-industrial era constituída pela onipresença de pessoas em situação
de rua. Para sobreviver, essas pessoas mendigavam, cometiam pequenos furtos e
prostituíam-se (Snow & Anderson, 1998). A constituição desse fenômeno social é o
resultado de múltiplos fatores, cujas características, os tornam de suma importância na
composição da pobreza nas sociedades atuais.
No Brasil, não há documentação que explicite fatos ou dados relevantes acerca da
história dos moradores de rua no país. Mas, pode-se apontar dados mundiais que foram

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marcantes para o surgimento da população em situação de rua em meio à sociedade
brasileira. Dentre estes, a industrialização e o cercamento das terras comunais influenciaram
diretamente no crescimento da população de rua e o capitalismo faz com que esse progresso
seja contínuo (Tiengo, 2018). No período feudal, as áreas usadas como meio de subsistência
dos servos foram cercadas para criação de carneiros, com o objetivo de obter um grande
retorno financeiro com a lã e, então, as pessoas que moravam nessas terras passaram a viver
nas ruas (Tiengo, 2018).
Sem moradia e trabalho, obrigaram-se a trocar sua força de trabalho nas indústrias
nascentes. Os que não conseguiam inserção nas fábricas ou não se adaptavam às patogênicas
condições de trabalho iam para as ruas. Neste período houve uma classificação dessas
pessoas, em aptos e inaptos para o trabalho. Os considerados inaptos recebiam caridades e
os aptos que andarilhavam mendigando pelas ruas eram percebidos como vagabundos e
mereciam punição. Era uma forma de forçar os trabalhadores a se sujeitarem às condições
vulneráveis oferecidas nas fábricas (Tiengo, 2018).
A pobreza tem relação direta com o status dessas pessoas, visto que, o número de
pessoas excede a capacidade de absorção pelo capitalismo (Silva, 2009). Assim, “o modo de
produção capitalista produz, desde seu surgimento, miséria proporcional ao crescimento da
riqueza; quanto mais se desenvolve, maior é a produção de riqueza e a produção da miséria”
(Tiengo, 2018, p. 139).
No Brasil, bem como em diversos países no mundo, é possível perceber um vasto
número de pessoas vivendo em situação de rua, excluídos da sociedade e batalhando
diariamente para sobreviver (Sicari & Zanella, 2018). Uma quantidade tão vasta de pessoas
vivendo em situação de rua no país é resultante de questões sociais agravadas. Inúmeros
aspectos contribuem para o aumento de pessoas nessa situação, como a urbanização
acontecida no século XX, a desigualdade social, a pobreza, o desemprego, o preconceito
social, a falta de políticas públicas, entre outros (Ministério da Saúde, 2014).
Essa parte da população brasileira é acometida por invisibilidade e exclusão social,
fazendo com que os direitos desses sujeitos não sejam reconhecidos como deveriam
(Ministérios da Saúde, 2014; Abreu & Salvadori, 2015). A exclusão social é caracterizada
como um processo que abarca caminhos de vulnerabilidade, fragilidade, precariedade e
cessação de vínculos em, principalmente, cinco dimensões sociais: trabalhista;
sociofamiliar; cidadania e política; representações e relacionamentos; vida humana (Escorel,
em Leal, 2011). Na dimensão trabalhista, a fragilização dos laços sociais causa o desemprego
ou a inserção em empregos precários e isso fortalece o pensamento de que esses sujeitos não
são necessários economicamente. Na dimensão sociofamiliar, as relações básicas são

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fragilizadas e o sujeito é acometido por isolamento e solidão. Na dimensão da cidadania e
da política, é retirado do indivíduo o poder de ação e representação, privando-o deste direito.
Nas representações e relacionamentos com o outro, a exclusão é concretizada por meio de
preconceitos, estigmas, discriminações que podem negar a humanidade do outro. Na esfera
da vida humana, esses sujeitos restringem-se a buscar meios de sobrevivência e são
excluídos da categorização dentro da humanidade (Leal, 2011).
A Política Nacional para a População em Situação de Rua (2009) define os sujeitos
que vivem nessa condição como
O grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza
extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a
inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os
logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e
de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades
de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória
(Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009, p.8)
São muitos os fatores que levam o sujeito a viver em situação de rua, dentre elas:
desemprego, conflitos familiares e problemas com alcoolismo e/ou drogas (Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009). A situação de rua tem predominante
relação com o uso de drogas e a dependência química, condição que se atrela a fatores como
inexistência de regras sociais, núcleo familiar disfuncional, baixa renda e falta de emprego.
Ademais, os efeitos causados por substâncias psicoativas podem minimizar o sofrimento
advindo desse contexto, sendo consolo em momentos difíceis (Sicari & Zanella, 2018).

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MÉTODO

Delineamento
O delineamento é compreendido como a dimensão mais ampla do planejamento de
uma pesquisa, englobando estratégias, planos e operações a serem adotados para buscar o
contraste entre teoria e fatos (Gil, 2008). O presente estudo possui como delineamento uma
pesquisa bibliográfica qualitativa de cunho exploratório e interpretativo.
A pesquisa qualitativa mensura dados reais e perceptíveis à sociedade humana e, que
devido à complexidade que abarcam, não podem ser medidos com exatidão por meio de
outros métodos, como por exemplo, aspectos psicológicos, ideias, princípios, crenças,
sentimentos (Walliman, 2015). Ademais, utiliza-se a pesquisa qualitativa “visando
compreender o significado que os acontecimentos e interações têm para os indivíduos, em
situações particulares” (Silva, Gobbi & Simão, 2005, p. 71).
Neste trabalho, apresenta-se uma pesquisa que, além de qualitativa, é também de
caráter exploratório, uma vez que esta tem como objetivo principal o desenvolvimento, o
esclarecimento e a modificação de ideias existentes, visando formular problemas de
maneiras mais precisa ou hipóteses que possam ser utilizáveis em estudos futuros (Gil,
2008). Visa novas descobertas, apresenta um planejamento com menor rigidez e maior
flexibilidade em relação a outros tipos de pesquisa, investigando de modo amplo e
proporcionando uma visão geral do fato estudado e dos fenômenos envolvidos (Dalfovo,
Lana & Silveira, 2008; Gil,2008).
Quanto à pesquisa de caráter interpretativo, é caracterizada pela ligação entre os
significados e as interpretações efetuadas pelo pesquisador, ou seja, a relação dos dados
coletados com os conhecimentos obtidos por meio de estudos empíricos (Gil, 2008). A
discussão deste trabalho tem como foco a relação entre os trechos do artefato escolhido e o
aporte teórico construído, a partir da interpretação do pesquisador acerca dos dados.

Fontes
Como fonte de pesquisa para o presente trabalho, utilizou-se um artefato cultural
considerado possível de ilustrar algumas implicações de sujeitos dependentes químicos em
situação de rua, relacionadas ao sentido da vida, bem como os aspectos fundamentais acerca
dessas pessoas. Visando isso, será usado o livro autobiográfico Há vida depois das
marquises escrito por Leo Motta.
O livro foi publicado em dezembro do ano de 2018 e relata a história de vida de Leo
Motta. Natural do Rio de Janeiro, o autor foi fruto do relacionamento de um jovem casal que

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não planejou ter o filho. Foi criado pelos avós e por uma das tias, com muito carinho e “com
tudo que uma criança pobre poderia ter de melhor” (p.7). Aos 14 anos, teve seu primeiro
contato com álcool e cigarro. Com 15 anos começou a namorar Evelin e com 16 teve a
notícia que seria pai pela primeira vez, de um menino chamado Yan. Então, o casal foi morar
junto à mãe de Leo e nessa mesma época ele iniciou o uso de maconha. Aos 17 anos, saiu
do trabalho e inseriu-se na vida do crime, traficando e fazendo vigia para traficantes maiores.
Pouco tempo depois, o relacionamento com Evelin teve fim e em uma noite de vigia ele usou
cocaína pela primeira vez, prosseguindo com o consumo.
Aos 21 anos conheceu Denise, mulher com quem teve seu segundo filho, Jonathan.
Devido ao intenso uso de cocaína, a relação do casal foi distanciando-se até se separarem
quando a criança tinha quatro meses. Um mês depois, Denise assassinou o filho do casal e
isso foi avassalador para Leo, que se afundou cada vez mais no consumo de álcool e cocaína.
A entrada e saída do crime ocorriam constantemente.
Com 23 anos de idade conheceu Priscila, com quem teve mais dois filhos: Poliana e
Ariel. O relacionamento foi marcado por idas e voltas do casal e infidelidades por parte do
marido. O consumo de drogas de Leo o fez perder diversas oportunidades de emprego e por
mais que tentasse mudar de bairro e cidade, para fugir do vício, o prazo máximo em que se
manteve abstinente foi de cinco anos. Quando recaiu, intensificou o uso e divorciou-se de
Priscila.
Depois de doze anos separado de Evelin, mãe do primeiro filho e mulher da sua vida,
Leo reatou a união com a companheira. Mas, devido ao intenso uso de drogas o
relacionamento não durou muito. Na busca de diminuir seu sofrimento teve seu primeiro
contato com o crack. Apesar da percepção acerca dos danos causados pelo consumo de
drogas, ele não conseguia controlar o uso. Entregando-se a dependência química e a
frustração de viver nessa situação, ele tentou suicídio, mas não obteve sucesso pois dois
homens lhe salvaram.
Aos 35 anos e dependente químico, perdeu a última oportunidade de ter um teto, que
havia lhe sido concedido pelo irmão com a condição de que ele “tomasse jeito”, o que não
conseguiu fazer. Então, decidiu que preferia sofrer só ao invés de ver a mãe sofrer e foi viver
nas ruas do Rio de Janeiro. O uso de drogas, a fome, a invisibilidade, a humilhação e o
sofrimento de viver nessa situação, tornaram-se aspectos corriqueiros na vida dele. Até que
em uma segunda tentativa de tratamento à dependência, após sete meses em situação de rua,
ele captou o sentido para mudar sua vida e recomeçar sua história.

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Instrumentos
Utilizou-se, neste trabalho, uma tabela como meio de organizar os recortes de trechos
do artefato cultural, com o intuito de possibilitar uma melhor visualização dos fenômenos
analisados. Esse modo de organização mostra-se como uma ferramenta essencial, única em
seu sentido, que exige cautela em sua elaboração e deve ser completo em si mesmo,
integrando e explicitando os aspectos relacionados com o texto (Laville & Dionne, 1999).

Procedimentos
Para a realização desta pesquisa, primeiramente, realizou-se uma busca pelo material
bibliográfico passível de sustentar os objetivos propostos e responder ao problema
apresentado. Para isso, foram utilizados livros de autores clássicos que contemplam estudos
da Logoterapia e artigos científicos contemporâneos.
Posteriormente, buscou-se um artefato cultural capaz de ilustrar uma relação com os
dados obtidos a partir do material bibliográfico. Foi escolhido o livro autobiográfico Há vida
depois das marquises, lançado no ano de 2018 e escrito por Leo Motta, ex morador de rua e
dependente químico em reabilitação. O livro foi lido diversas vezes no intuito de realizar
uma análise minuciosa e detalhada dos fenômenos relacionados ao tema da pesquisa. Em
seguida, os trechos que mais respondem ao problema de pesquisa foram selecionados,
recortados e transcritos em uma tabela, com o objetivo de apresentar as ideias de forma
coerente e objetiva. Na sequência, os recortes foram analisados, agrupados e categorizados
de acordo com sua relevância e, posteriormente, discutidos embasando-se no referencial de
análise de Laville e Dionne (1999).

Referencial de análise
Para o desenvolvimento da presente pesquisa, optou-se como referencial de análise,
a análise de conteúdo de Laville e Dionne (1999). De acordo com os autores, a análise de
conteúdo não é um método rígido e consiste em um conjunto de vias possíveis para revelar
o sentido de um conteúdo. Aborda uma grande variedade de objetos de investigação, assim,
pode ser aplicada a uma grande diversidade de materiais (Laville & Dionne, 1999). Foi
realizada uma análise qualitativa de conteúdo, no qual o pesquisador ressaltou às nuanças de
sentidos existentes entre as unidades.
Laville e Dionne (1999) caracterizam três estratégias de análise e de interpretação
qualitativa: análise histórica, construção iterativa de uma explicação e emparelhamento. O
último, o emparelhamento, estratégia escolhida para a realização desta pesquisa, consiste em
emparelhar dados, ou seja, fazer associações entre os elementos selecionados para o estudo

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com o aporte teórico, visando compará-los e responder o problema apresentado no presente
estudo.
Os autores ainda apresentam três modelos para definição das categorias analíticas:
modelo aberto, no qual as categorias não são definidas no início, mas tomam forma no
decorrer da análise; modelo fechado, no qual, contrariamente, as categorias são definidas a
priori; e modelo misto, no qual, as categorias são selecionadas no início, mas o pesquisador
pode modificá-las de acordo com o que a análise aporta. Neste trabalho, foi utilizado o
modelo aberto, cujo as categorias não são definidas previamente, mas são moldadas a
posteriori, no curso da análise (Laville & Dionne, 1999).

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RESULTADOS

A tabela abaixo apresenta as categorias e subcategorias com seus respectivos trechos


recortados do livro autobiográfico de Leo Motta, Há vida depois das marquises, que é fonte
de análise deste estudo. A escolha da obra se deu pela possibilidade de contemplar os
objetivos deste trabalho a partir de uma história real, ocorrida no Brasil, que abarca o
contexto vivenciado por um sujeito dependente químico, o que o levou a viver nas ruas e os
sentidos de vida encontrados para mudar sua trajetória. Na primeira categoria nomeada como
Dependência Química, tem-se como subcategorias: Baixo Controle e Frustração Existencial;
a segunda categoria foi conceituada como Deterioração Social; e na terceira categoria que
aborda o Sentido da Vida, tem-se como subcategorias: Valores de Vivência, Valores de
Atitude e Valores de Criação.

Tabela 1. Categorias de Análise e Recortes de Trechos do Artefato Cultural

Categorias Descrição de trechos recortados do livro


de análise

• Dependência
Química

1. Aos 21 anos, já não conseguia conciliar o consumo da droga


com o dinheiro que recebia por seu trabalho
“E na sexta-feira, dia de pagamento, lá fui eu guiado pelas mesmas
A. Baixo Controle
pessoas que conheci durante a semana, estava eu com tudo que
havia ganhado ao encontro do que mais me fascinava, tinha até
feito planos de sair com a mulher que comigo passou a noite de
minha chegada. Mas, o meu desejo pela cocaína falou mais alto e
não tive chance de dizer não. Adentrei aquela favela desconhecida
para mim e ali naquela fila deixei tudo que havia ganhado (p.48).”

2. Falta de controle acerca do consumo


“Chegado o fim de semana, mais um fim de semana que eu tinha
prometido a mim mesmo e a Flávia, com quem mais eu era
próximo, que seria diferente. Mais uma vez não me contive e fui

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em busca da minha droga do prazer, mais uma vez me encontrava
com um sacolé de pó na mão (p.49).”

3. Necessidade de consumir mais e mais drogas, chegando a ser


alertado pelo filho
“[...] Com um bom dinheiro em mãos, abasteci meu uso cada vez
mais e mais drogas. Ia eu perdendo o controle, meu filho Yan no
momento com 16 anos vinha me alertando: ‘Pai, você está bebendo
todos os dias e usando muita droga, cuidado’” (p.123).

4. Mesmo após ter tido uma overdose e ter o entendimento


negativo da droga em sua vida, Leo não conseguia frear o uso
“Depois de alguns dias me pôs de pé e fui novamente ao trabalho.
Lembro que eu fiquei alguns dias sem drogas, mas também lembro
que a vontade de usar era mais forte do que eu. Cheguei na boca
de fumo e comprei, meio que com medo sentei na escada e ali mais
uma vez usei, aquilo estava me matando e roubando meus sonhos
e minhas esperanças de novamente ter uma família” (p.134).

5. O desejo pela cocaína era mais forte que ele


“As pessoas não me entendiam, eu usava cocaína porque não
conseguia eu ficar sem, era um desejo maior que eu” (p.150).

6. Pôs em risco sua integridade física para tentar consumir


drogas
“Em meio a outros usuários, de tanto eu pedir drogas, partimos
para brigar. Não sei se foi pelo acaso ou por providência de Deus,
um dos meus irmãos passava em um ônibus, ia ele para o trabalho,
desceu imediatamente e veio a meu socorro, naquele dia eu iria
perder a vida [...]” (p.151).

B. Frustração 7. Droga como forma de tentar fugir do sofrimento de saber


Existencial que sua ex companheira assassinou o filho do casal de 5 meses
“E assim eu fiz, peguei o ônibus em companhia de minha mãe
Cristina e meu irmão, nessa época com 15 anos. Além deles estava
eu acompanhado de uma imensa dor. Cheguei na comunidade

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Santos Rodrigues e caminhei até o ponto de venda com os olhos
inchados de tanto chorar, e ali, a meus antigos companheiros de
crime eu falava o que havia acontecido e logo me deram uma
grande porção de cocaína e me ofereceram uma arma, caso eu
quisesse fazer justiça. No momento não aceitei a arma, mas aceitei
as drogas, era uma maneira de aliviar minha dor. [...]” (p.64).

8. Após o falecimento do filho, associado a sua situação, Leo


passou a desacreditar da vida
“Os dias se passando e eu a cada dia sem esperança e vontade de
viver. Junto comigo meu vício a cada dia mais destruidor, sem
dinheiro, desempregado e desacreditado na vida, eu passava os
dias e noites na porta de um bar” (p.70).

9. Com pouco dinheiro e sem se importar com a vida, Leo


retornou a vida do crime
“[...] Estava bem diferente da outra vez, pois naquele momento,
sem ninguém ao meu lado no uso intenso de drogas e alguns meses
passados com um filho sepultado, não me importava eu com a vida.
E assim eu vivia a noite em um ponto da comunidade e durante o
dia em outro ponto para ganhar mais dinheiro para bancar o meu
nariz. Logo a vida do crime a mim novamente iria se apresentar e
começaram os confrontos. Só que desta vez mais intensos e eu
diferente. Sem medo da morte, ia sempre à frente e disposto a
confrontar a polícia e sem se importar com a vida. [...]” (p.73).

10. A tentativa de suicídio


“Com o passar dos dias eu estava realmente frustrado de tudo que
havia acontecido em minha vida, perdia eu mais um emprego. Aí
realmente passei a me entregar. Em uma das noites de drogas e
bebidas, seguia eu com o desejo de morte, atirei algumas peças de
roupa em uma avenida muito movimentada e me lancei entre os
carros, queria eu um suicídio. Por um milagre, ou coincidência,
passou um homem que correu até a mim e me segurou com toda
sua força enquanto um outro homem parava o trânsito” (p.129).

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11. Apesar do uso intenso de cocaína, sua droga de prazer, não
conseguiu o efeito desejado e precisou de algo mais forte para
tentar sanar seu sofrimento, o que mostra sua tolerância
aumentada em relação à cocaína.
“Fui para casa, antes de entrar, fui até a boca de fumo e comprei
mais cocaína. Ainda sem acreditar, chorei, era muita dor em meu
peito, cheguei no quarto nem roupa dela havia mais. Já movido
pelo desespero e vendo a minha derrota e meu sonho de amor indo
embora, peguei no restaurante o que ainda tinha no bolso e fui em
busca de algo mais forte para anestesiar meu fracasso. Cheguei na
boca de fumo, logo a mim já vieram com algumas cápsulas de
cocaína. Eu neguei, pois queria algo mais forte, então em minha
mão peguei algumas pedras que para mim, com a mente adoecida
e em total fracasso, pensei ser a saída. Foi neste dia que conheci o
crack” (p.126).

• Deterioração
Social

12. Em um passeio com os filhos Leo perdeu o controle e


consome muita droga, mesmo estando com as crianças
“Neste dia eu cheirei e bebi tanto que no final do dia choveu, meu
filho chorava pedindo para ir embora e eu sem dinheiro para pagar
a conta, nossa, como saí dali. Liguei para minha mãe Cristina, ela
me ordenou imediatamente a pegar um táxi com as crianças e se
dispôs a pagar. Era para ser um dia de alegria para um pai normal
ao lado dos filhos, mas realmente eu não era normal, estava sem
controle, minha vida estava sendo movida por um pó dentro de
uma cápsula ou de um saquinho” (p.132).

13. O irmão de Leo havia lhe dado uma última oportunidade e


permitiu que ele morasse em uma casa sua que estava em obra,
desde que “tomasse jeito”. Certo dia o irmão estava indo
trabalhar de ônibus e avistou Léo brigando com outros
usuários de droga, então o levou para a casa de sua mãe. Ele

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estava fedendo, sujo e havia feito necessidades fisiológicas na
roupa
“Minha mãe ao me ver se desesperou e se pôs a chorar: ‘Meu filho,
que ponto você chegou’, meu irmão que havia me cedido o espaço
de imediato falou: ‘Como te avisei, você não tomou jeito, então lá
você não pode mais ficar’. O que fazer? Já tinha feito todos
sofrerem à minha volta, na casa da minha mãe não podia ficar, pois
a todo momento ela se desesperava, já tinha até pensado em me
acorrentar junto a parede em um dos quartos onde eu já tinha sido
feliz na minha vida. Então me decidi, já que é pra sofrer, eu sofro
só, me levantei e lá fui. Por muito tempo já sendo chamado de
vergonha e derrotado. Pelas ruas do Rio de Janeiro, cidade
maravilhosa, mais um cidadão brasileiro, pai de três filhos, 35 anos
e agora morador de rua” (p. 152).

14. O primeiro dia na rua


“E as horas iam se passando e a fome só aumentava e o meu
desespero também, tinha eu que pela primeira vez esmolar. Tentei
em alguns pontos de ônibus e nada aparecia, eu não era visto nem
ouvido por ninguém. Avistei uma loja e nem me importava como
eu estava descalço, magro, abatido e não cheirava bem” (p.154).

15. Perda de identidade


“Em uma ocasião me surgiu uma enorme vontade de ir ao
banheiro, olhei para um lado ao outro e como ir? Fui eu em meio
ao trânsito atrás de uma árvore, me abaixei e nem papel tinha. Era
visto por pessoas, a cada dia estava perdendo minha identidade e
minha ligação com a sociedade” (p.162).

16. Uso da droga como forma de aliviar a dor de morar na rua


“Comecei a caminhar pela areia da praia e ali pedir dinheiro, as
pessoas fingiam não me ouvir, outras até algumas moedas me
davam, foi uma longa caminhada de um lado a outro da praia, por
um instante me sentei na areia de frente ao mar e falei com Deus.
Molhei as mãos, passei no rosto e ali olhei aos céus e falei: ‘Por

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que ainda não tirou minha vida?’ Estava meio que revoltado com
Deus, continuei a pedir até que juntei um pouco de dinheiro, mas
que já seria suficiente para subir a comunidade e comprar mais
uma vez minha droga que por algum momento aliviava minha dor”
(p.158).

17. Conseguiu trabalho morando na rua, mas a dependência


era mais forte que seus objetivos
“Até consegui trabalhar três dias e quando recebi um bom dinheiro
não aguentei, entrei em uma favela e ali fiquei dois dias me
drogando e, claro, perdia mais uma oportunidade. Tinha desejo de
comprar algumas mercadorias e trabalhar como camelô, mas não
tinha forças, a única força que eu tinha era de caminhar até a favela
mais próxima e ali me afundar na cocaína e no crack” (p.168).

18. Invisibilidade
“Dormi nas praias, nas praças, nas calçadas e embaixo das
marquises, andava de um bairro a outro, parecia invisível, subia
nos ônibus mesmo sem pagar passagem e não era incomodado”
(p.178).

• Sentido de Vida

A. Valores de 19. O filho recém-nascido serviu como motivação/ sentido para


Vivência que ele não retornasse ao crime, apesar do desemprego
“A campanha eleitoral chegou ao fim, e eu mais uma vez me
encontrava desempregado e os convites para voltar ao mundo do
crime eram constantes, algo que nem passava em minha cabeça
retornar aquela vida. Estava feliz em ter meu pequeno filho em
meus braços, ficava horas e horas com ele e da nossa laje admirava
a beleza do Cristo Redentor” (p.60).

20. Após a tentativa de suicídio, Leo encontrou sentido em sua


vida por meio de seus dois filhos menores
“Cheguei em casa depois de um banho, me deitei, meus pequenos
filhos me acariciavam e a mim diziam: ‘Pai, não se mata mais não’.

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Depois de alguns comprimidos, consegui adormecer. Eu, de
alguma forma, tinha que continuar a viver, tinha que tentar algum
dinheiro para sustentar meu vício destruidor e também alimentar
meus filhos” (p.130).

21. Desejo de ver os filhos antes de morrer como força motriz


“Aquela noite me deitei sobre o colchão, demorei a dormir,
pensava muito em meus pequenos filhos no interior de Minas
Gerais e também em sua mãe Pricila, já tinha perdido as esperanças
de revê-los, pois eu não via saída na situação que me encontrava.
Eu na rua poucas vezes falava com Deus, muito menos agradecia
pela minha vida porque era difícil a cada dia levantar sem um
nome, sem endereço, mas nessa noite eu pedia: ‘Deus, antes de eu
morrer, deixa eu pelo menos não sei como, mas deixa eu ver meus
filhos” (p.169).

22. Esperança em reencontrar os filhos como motivação


“Era uma tarde de sol no Rio de Janeiro, lanchei e logo conheci
alguns que ali estavam dividindo o mesmo espaço. Era um quarto
grande, eu e mais 19 homens queríamos nos livrar das drogas e
encontrar uma nova vida e quem sabe um dia reencontrar meus
filhos, estava disposto a fazer tudo para isso acontecer” (p.199).

B. Valores de 23. Sofrimento em dar-se conta de sua situação


Atitude “Cheguei na casa em construção, tirei aquele terno, aquele lindo
sapato e me vesti novamente com meus trapos. Não aguentei, caí
em mim e vi que realmente eu não era mais um membro da família.
Me deitei sobre uma tábua, um fino colchão peguei a Bíblia e ali
escrevi a minha carta de despedida. Nesta carta eu confessava os
meus fracassos como homem, como pai e como filho, ali mesmo
no chão deixei a carta e a Bíblia e em cima da cadeira olhava aquela
linda roupa usada em uma noite que por alguns momentos me fez
sair da minha realidade. Deitei em um corredor depois de tanto
chorar e chorar, minha velha camisa chegou a molhar de tantas
lágrimas e ali adormeci” (p.176).

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24. Sofrimento por usar drogas, pelo corpo, pela fome
“Me retirei e logo em uma rua próxima em uma caçamba de lixo
depois de tantas outras nada encontrar, encontrei alguns pacotes de
biscoitos já mofados, mas era a única coisa que eu tinha para
comer. Atravessei a rua já no outro lado da calçada comia e gritava:
‘É isso, Deus, o que você quer para mim? Por que não me mata de
uma vez? Por que tanto poupar minha vida, o que eu fiz para
merecer carregar esse corpo magro e fedido pelas ruas? Nada mais
eu tenho, chega!’. Um casal vendo meu desespero se aproximou,
se ofereceu para me dar um lanche e até dinheiro, o lanche eu
aceitei, mas o dinheiro não. Não aguentava mais usar drogas, sabia
eu que foram as drogas que me colocaram ali naquela vida”
(p.176).

25. Sofrimento em ser humilhado


“Em uma das poucas vezes que pedi novamente foi em uma
padaria, entrei e vi uma senhora de aproximadamente um metro e
meio que já aparentava uma idade avançada, me aproximei e falei:
‘Senhora, por favor, me paga um pão’. Ela se virou não disse nem
sim nem não, apenas cuspiu em meu rosto. Não tive nem reação,
não acreditava naquilo, sem chão, meio tonto, com aquilo me
retirei. Sentei na calçada, ali junto da entrada do estacionamento,
e chorei, lembrava eu da minha infância, das mesas fartas de café
da manhã. Lembrava do amor e do carinho de minha avó Esther
comigo [..] Lembrava dos cafés da manhã na companhia dos meus
filhos, de tantos ao lado da minha tia Lúcia e a lágrima em meu
rosto não cessava. Um senhor que presenciou a cena veio até mim
e eu, mesmo sujo, ele não se importou. Passou a mão em meu rosto,
parecia querer enxugar minhas lágrimas, uma jovem se aproximou
e me deu um grande copo de café com leite e dois pães com
manteiga, eu em silêncio só ouvia as pessoas a minha volta
falarem: ‘Não precisava disso o rapaz, é gente como a gente e tem
sentimentos, ele só está com fome’. Comi os pães e bebi aquele
copo de café com leite, estava difícil de engolir sem nada dizer,

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peguei o meu grande saco de latas que estavam do lado de fora e
revoltado com a vida fui em direção ao ferro velho. Vendi e com
aqueles míseros trocados segui ao lugar que mais me fazia sentir
bem: a boca de fumo. Comprei minha droga do alívio, sentei em
frente ao mar de Copacabana e consumi, era para mim o único
momento que me tirava a dor. Dor do desprezo, dor do descaso,
dor da solidão e a dor da falta de esperança de ter uma vida melhor,
esse era eu um homem desacreditado e afundado na infelicidade,
35 anos, 1 metro e 85 cm, com um corpo de menino e aparência de
um velho. Segui a vida com a esperança de em breve encontrar a
morte” (p.177).

26. Necessidade em mudar perante o sofrimento


“[...] Em uma das minhas andanças já descalço, cabelo grande,
barba por fazer, em um longo dia de sol, já abatido pelas minhas
feridas na alma e uma sede que cortava minha garganta, entrei em
um restaurante enlouquecido de sede e fui posto para fora pelo
segurança. Bem forte e de fala firme me perguntou: ‘O que você
quer doidão?’ Eu ainda de cabeça baixa respondi: ‘Um copo de
água, sinto muita sede’. Ele sorriu e disse: ‘Espera aí, é água que
tu quer? Vou dar.’ Do lado de fora esperei e enquanto esperava
olhava. Olhava os homens lá trabalhando e lembrava nos bons
tempos em que em vários restaurantes trabalhei, depois de esperar
lá veio o segurança em suas mãos um copo me deu. Um grande
copo descartável com água e bastante gelo. Nossa, eu peguei e pus
na boca, me preparando para uma grande golada. Mas infelizmente
só foi uma golada, imediatamente joguei para fora, além de gelo e
água, naquele grande copo tinha sal e lá dentro os mesmos homens
que olhava trabalhar riam de mim, eram gargalhadas sem parar e
ouvi um deles gritar: ‘Vai embora, doidão, some daqui’. Eu,
diferente de quando cuspiram em mim, não chorei e sim me
revoltei, saí dali com ódio e a mim disse: ‘Chega, tenho que tomar
uma decisão’” (p.178).

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27. Pela segunda vez buscando um tratamento, Leo relata que
não aguenta mais sofrer
“Em uma das salas encontrei uma doce senhora de nome Erli que
a mim sorriu e perguntou: ‘E agora, o que quer realmente?’ Eu
disse: ‘Irmã Erli, eu quero realmente mudar de vida, não aguento
mais sofrer’. ‘É, meu filho, se esse é seu sonho, lute por ele”
(p.198).

C. Valores de 28. Coordenar um grupo de oração


Criação “E assim criava eu, da minha maneira, meu grupo de oração e a
partir daquele dia fiz eu um compromisso com Deus e a Bíblia
passava a ser minha melhor companhia” (p.205).

29. Levar a mensagem ao outro


“Lia a Bíblia, levava a mensagem e arriscava até a cantar e quando
me dei conta já estava sentado em frente algumas vezes ao lado da
irmã Maria e outros ao lado do educador Bergue que em uma de
suas mensagens eu levo até hoje comigo” (p.206).

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DISCUSSÃO

A partir dos recortes realizados, inicia-se essa discussão relacionando possíveis


entendimentos acerca da primeira categoria, definida como “Dependência Química” e de
suas respectivas subcategorias: “Baixo Controle” e “Frustração Existencial”. O baixo
controle é um dos critérios que caracterizam um transtorno por uso de substâncias
psicoativas (DSM-V, 2014). O baixo controle acarreta no consumo em quantidade ou
período maior que o pretendido pelo usuário e apesar do desejo de cessar ou diminuir o uso,
as tentativas são fracassadas (DSM-V, 2014). Outro resultante do baixo controle é a
presença de um desejo acentuado de consumir a droga, chamado de fissura. Durante um
período de abstinência, a manifestação de fissura é um dos aspectos que mais influencia na
recaída ao consumo de substâncias psicoativas (Fonseca & Lemos, 2011).
Na primeira subcategoria, pode-se considerar que o recorte 1 retrata a falta de
controle de Leo em relação à droga, manifestando um desejo incontrolável pelo uso e
relatando o consumo excessivo apesar de ter outros planos. O recorte 1 pode estar
relacionado ao recorte 2, visto que os esforços de não buscar a cocaína foram frustrados.
Quando uma substância psicoativa é consumida constantemente, há uma diminuição ou
perda dos efeitos obtidos inicialmente e, então, o sujeito necessita de doses cada vez maiores
para sanar sua satisfação. Esse processo é denominado como tolerância (DSM-V, 2014). O
recorte 3 pode permitir a compreensão de que nesse momento de vida, a tolerância de Leo
em relação ao uso de drogas está aumentando, o que é característico da dependência química
e pode fazer com que o usuário não consiga controlar o uso da substância. O recorte 4 indica
que mesmo após ter tido uma overdose e ter posto em risco sua integridade física, a vontade
de consumir drogas era mais forte do que ele, faltando-lhe forças em prol da sua própria
vida. Os recortes 5 e 6, podem enfatizar o fato de que a vontade de usar cocaína era mais
forte que ele, pois com baixo controle e no intuito de conseguir drogas ele pôs em risco sua
vida, mais uma vez.
No Brasil, há relação entre o uso de drogas com uma série de agravos à saúde, além
de agressões e outras danificações (Zeferino et al., 2015). A dependência de substâncias
psicoativas está vinculada à auto administração da manutenção do consumo de determinada
droga, apesar da evidência de problemas relacionados ao uso em aspectos pessoais, sociais
e de saúde (Schlindwein-Zanini, Almeida, Helegda & Fernandes, 2014). Ao relacionar o
conceito com os recortes citados acima, pode-se concluir que Leo é um sujeito dependente
químico, que não apresenta controle sob seu uso, apesar de perceber os danos causados pela
droga, em diferentes âmbitos de sua vida.

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A segunda subcategoria da “Dependência Química” foi nomeada como “Frustração
Existencial”. No intuito de entendermos a subcategoria, torna-se fundamental a
caracterização do termo “vazio existencial”. O vazio existencial advém do sentimento de
que a vida não tem sentido, de um profundo estado de tédio e sensação de inutilidade (Frankl,
1946/2013; Xausa, 1988). Esse sentimento acomete cada vez mais o sujeito contemporâneo,
que sem instinto e tradição que lhe diga o que fazer, apresenta dificuldades de espelhar sua
subjetividade e não encontra fonte de sentido no ócio e (Frankl, 1978/2000, 1946/2013;
Xausa, 1988; Ramos & Rocha, 2018). O vazio existencial pode se apresentar no sujeito por
meio da tríade: depressão, agressividade/ autoagressividade e dependência química
(Frankl,1978/2000).
A frustração existencial é um sentimento primário de não realização de um sentido e
pode levar ao vazio existencial, ou seja, a um sentimento íntegro de que a vida não tem
sentido. Assim sendo, frustrações existenciais podem levar ao vazio existencial (Frankl,
1978/2000). Os recortes 7, 8, 9, 10 e 11 apresentam momentos que podem indicar frustrações
existenciais da vida de Leo.
Os recortes 7 e 11 mostram o consumo de drogas como possibilidade de aliviar o
sofrimento vivido. No primeiro, visa reduzir a dor de perder o filho e no segundo, após o
divórcio da companheira, ele sentiu necessidade de usar uma substância ainda mais forte
para amenizar os sentimentos negativos que estava vivenciando. Isso pode sinalizar que a
cocaína estava sendo usada como forma de entorpecer a realidade de dor e luto. Visto que,
na Logoterapia, a dependência química pode ser considerada uma via para fugir de
frustrações pessoais e viver um mundo de ilusões, mesmo que momentaneamente (Frankl,
1946/1989; Lukas, 1992).
Os recortes 8 e 9 expressam dois momentos em que as frustrações existenciais de
Leo podem ter se apresentado. Nos segmentos, ele relata situações em que esteve sem
esperança, desacreditado da vida, sem vontade de viver, com o uso intenso de drogas e sem
se importar com a própria vida, o que o levou a voltar para a vida do crime, já que não temia
a morte. Pode-se relacionar a experiência de Leo, descrita no relato, com a ideia de Ortiz
(2009), na qual o autor afirma que a grande maioria dos dependentes químicos, que são
acometidos pela sensação de vazio existencial, expressam esse sentimento por meio de
frases, como por exemplo, “não vejo sentido”, “sinto-me desorientado”, entre outras.
O recorte 10 relata uma noite na qual Leo estava extremamente frustrado,
desempregado, sob efeito de substâncias psicoativas e com desejo de morte. Então, ele
seguiu até uma avenida movimentada e se jogou entre os carros com o intuito de se suicidar,
mas teve sua vida salva por duas pessoas que passavam pelo local e o levaram para sua casa.

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A tentativa de cessar sua existência pode ser compreendida como um episódio no qual ele
não encontrou mais nenhum sentido de vida, ou seja, entende-se que suas frustrações
pessoais o levaram a apresentar sentimentos de vazio existencial, visto que, a agressividade
faz parte da tríade que compõe meios de expressão desse vácuo e pode ser direcionada tanto
para o outro, quanto para si próprio.
Acredita-se na complexidade que abarca o termo vazio existencial, no entanto,
considera-se importante destacar aspectos de sofrimento, considerados como frustrações
pelo próprio protagonista da história. Tais frustrações o levaram a experienciar sentimentos
de que a vida não teria sentido. Entretanto, ressalta-se a concepção de que os sentimentos de
vácuo existencial, ou seja, de que a vida não teria sentido nenhum, se deram no momento
em que buscou suicídio, mas logo ao chegar em casa e receber atenção dos filhos retomou
algum sentido para si, conforme é descrito no recorte 20, que será detalhado adiante.
Ademais, pode-se refletir acerca da ligação da dependência química com o vazio existencial,
a qual acaba tendo uma relação dialética, busca-se drogas no intuito de sanar sentimentos de
vazio e a dependência finda por gerar frustrações e reforçar a sensação de vácuo, devido às
deteriorações biopsicossociais.
A segunda categoria foi definida como “Deterioração Social”, a qual pode ser
considerada um sintoma da dependência química e é caracterizada como o insucesso em
realizar atividades corriqueiras relacionadas ao trabalho, a escola ou lar. A pessoa continua
a consumir substâncias psicoativas, apesar de evidências indicarem problemas sociais e/ou
interpessoais potencializados como consequências do uso (DSM-V, 2014). Desta forma,
alguns acontecimentos descritos no livro podem denotar os impactos que o consumo intenso
de drogas causou à Leo, fazendo com que gradativamente houvesse um deterioramento
social e interpessoal em sua vida.
O recorte 12 relata um passeio frustrado do protagonista com os filhos. Neste dia, ele
consumiu tanta droga que gastou o dinheiro que usaria para lanchar com as crianças e utilizar
o transporte. O que era para ser um dia feliz em família foi marcado pela incapacidade de
controlar o vício pela cocaína, a droga foi priorizada e a relação com os filhos deixada em
segundo plano. Esse acontecimento pode estar mostrando a interferência da droga nas
relações familiares de Leo e a frustração de não ter a situação controlada, podendo evidenciar
um problema social e interpessoal.
O recorte 13 apresenta o desfecho de uma última chance dada pelo irmão. Após
muitas tentativas familiares de ajudar Leo a mudar de vida, o irmão lhe cedeu um espaço
para morar com a condição de que controlasse o uso de drogas e mudasse seu rumo. Pouco
tempo após o ultimato, de tanto pedir drogas a outros usuários, iniciou-se uma briga e, nesse

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momento, o irmão dele passava de ônibus pelo local. O irmão desceu do transporte e o tirou
daquela situação, levando-o para casa. Leo havia feito necessidades fisiológicas na roupa,
estava sujo e fedendo. A mãe ficou desesperada ao ver o filho naquela circunstância e ele,
agora sem ter onde morar, no intuito de cessar o sofrimento alheio, optou por sofrer sozinho,
foi morar nas ruas do Rio de Janeiro.
No Brasil, o consumo excessivo de drogas é um dos principais aspectos que leva
pessoas a viverem em situação de rua (Ministério do Desenvolvimento Social, 2009). Neste
contexto, os fatores considerados protetivos como boa auto estima, lazer e relacionamentos
saudáveis são diminuídos ou até extintos, enquanto os aspectos de risco, como exclusão,
falta de vínculos, ambiente hostil e falta de oportunidade de trabalho são exacerbados e isso
aumenta a possibilidade de consumo de substâncias psicoativas (Macedo et al., 2014; Ferro
& Meneses-Gaya, 2015; Zeferino et al., 2015).
O recorte 14 retrata o primeiro dia de Leo vivendo em situação de rua, com fome,
mal vestido e esmolando, ele não se sentia visto e nem ouvido por ninguém. Isso pode
mostrar a invisibilidade que acomete pessoas que vivem nesse cenário. Essa invisibilidade é
encarada como um impasse ao reconhecimento de direitos desses sujeitos (Ministério da
Saúde, 2014). No país, a legalização do direito dessa população é recente, visto que a Política
Nacional para População em Situação de Rua foi instituída no ano de 2009, ou seja, pouco
mais de uma década. Outro fato que evidencia essa invisibilidade é que os dados acerca
dessas pessoas nunca foram inseridos nas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Por ordem judicial essas informações serão agregadas no censo
demográfico de 2020, realizado pelo IBGE.
No recorte 18, Leo enfatiza a invisibilidade percebida por ele ao andar de ônibus sem
pagar a taxa e nem sequer ser incomodado por outras pessoas. Esse tipo de indiferença pode
estar relacionada não só à situação de rua, mas também ao sujeito dependente químico, que
socialmente é imaginado como alguém que burla o sistema de leis, guia seus
comportamentos pelo prazer, é irresponsável e delinquente (Melo & Maciel, 2016; Scislesk
& Galeano, 2018). Ademais, o status de ilegalidade de substâncias psicoativas é projetado
ao usuário e isso intensifica a invisibilidade e a exclusão desse grupo de pessoas, dificultando
o acesso a meios de tratamento (Melo & Maciel, 2016). Pode-se pensar que Leo torna-se
invisível aos olhos da sociedade por estar sujo, mal vestido e com uma imagem que projeta
a situação de rua aliada à dependência química, tornando-se excluído pelas pessoas a ponto
de não pagar o transporte e não se incomodarem com isso. Seja pela representatividade de
uma marginalização que carrega ou por estar maltrapilho, projetando a imagem de pobreza
extrema. A pobreza, a desigualdade, o preconceito social, a falta de políticas públicas, entre

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outros fatores, contribuem para o aumento de pessoas morando na rua (Ministério da Saúde,
2014).
Supõe-se que o fato de ser excluído socialmente em um contexto tão endurecido pode
causar confusão de identidade nesses sujeitos, uma visão de segregação entre si e o mundo.
O recorte 15 relata uma cena na qual Leo evacua atrás de uma árvore, sendo visto pelas
pessoas que passavam no local e isso fez ele perceber que a cada dia perdia sua identidade e
sua relação com a sociedade. A realidade de pessoas que vivem em situação de rua é repleta
de dificuldades que geram sofrimento físico e psicológico, o qual muitas vezes o sujeito
busca minimizar por meio do consumo de drogas, sendo que a substância torna-se uma
espécie de consolo temporário (Matos, 2018; Sicari & Zanella, 2018). O recorte 16 mostra
um momento em que Leo está pedindo dinheiro, sente-se invisível por algumas pessoas, está
desanimado com a vida, buscando juntar moedas suficientes para comprar drogas e aliviar,
mesmo que momentaneamente, sua dor.
Degenerações no trabalho podem ser consideradas como indicativo de deterioração
social (DSM-V, 2014). Durante sua trajetória de vida, Leo passou por diversos empregos,
mas apresentou dificuldade em manter-se estável devido ao consumo de drogas. Em situação
de rua, não foi diferente. O recorte 17 apresenta uma oportunidade de emprego que teve
morando na rua, mas que não conseguiu manter após receber o pagamento, permanecendo
dois dias se drogando, mostrando que o vício se revelava mais forte do que o objetivo de
mudar sua situação. O desemprego é um dos fatores predominantes que levam pessoas a
morar nas ruas (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009) e a
dependência química pode afetar o desenvolvimento de atividades laborais com sucesso, por
parte do usuário de drogas (DSM-V). Assim, pode-se pensar que o consumo abusivo de
drogas tem relação direta com o fracasso no trabalho e ambos são os principais fatores que
levam à situação de rua. Conforme dados obtidos em uma pesquisa realizada no ano de 2007
problemas com alcoolismo e/ou drogas representam 35,5% das motivações de viver na rua
e o desemprego 29,8% (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009).
Apesar de ser uma pesquisa, relativamente, antiga apresenta a conexão entre os fatores e,
por outro lado, enfatiza a falta de estudos acerca da população de rua.
A deterioração social acomete sujeitos dependentes químicos em diferentes níveis da
vida. Percebe-se, que no caso de Leo, ele passou a pouco se importar com a aparência e
saúde física, a ponto de fazer necessidades fisiológicas na roupa e não tomar banho, mesmo
quando era possível. A questão psicológica também foi afetada, como mostrou o momento
em que opta por morar nas ruas, ao invés de ver a mãe sofrer ou até mesmo quando reluta
para mudar sua situação, mas não tem sucesso, sentindo-se derrotado e fracassado. A

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relações sociais foram influenciadas, a mãe, o irmão e os filhos foram envolvidos em
situações negativas. O âmbito trabalhista era instável e o dinheiro adquirido usado
compulsivamente para sanar o vício.
Ao refletir sobre tais aspectos, pode-se pensar que a dependência química aliada à
deterioração social provoca sofrimento ao sujeito, que, em muitos casos, busca a droga para
sanar sua dor e acaba entrando em um ciclo difícil de ser interrompido, também devido à
invisibilidade social que acomete esse grupo de pessoas. Entretanto, a descoberta ou o
resgate de sentido de vida pode instigar o sujeito a buscar uma recuperação da dependência
química e cessar o ciclo, conforme o que será explanado na terceira categoria, conceituada
como “Sentido de Vida”.
A Logoterapia, fundada por Viktor Frankl, aborda o desejo de sentido de vida como
sendo fonte de realização humana (Frankl,1946/2013; Lukas,2005; Kroeff, 2014). Na
Logoterapia, a concepção de sujeito é embasada em três pilares: a liberdade da vontade; a
vontade de sentido; e o sentido da vida (Frankl, 1969/2011; Meireles, 2018).
A liberdade da vontade compreende a pessoa como livre, consciente e responsável
por suas escolhas independente das limitações e condicionamentos que a vida lhe apresentar,
pois a decisão de como enfrentá-las é totalmente do sujeito e irá construir a sua existência
(Frankl, 1946/2013; Kroeff, 2014). A dependência química é considerada um transtorno que
repercute negativamente em diversos aspectos da vida (DSM-V, 2014). Entretanto, as
relações de teoria e artefato aqui realizadas se dão a partir da concepção de que Leo foi livre
para seguir suas escolhas e, portanto, responsável por elas. Independente das adversidades
surgidas ao longo de sua vida, o posicionamento dele diante disso é que o constituiu
existencialmente. A vontade de sentido é a força primária que leva o ser humano a buscar e
realizar seus sentidos (Frankl, 1976/1991, 1978/2000; Santos, 2016), visando não apenas a
felicidade, mas uma motivação para ser feliz (Kroeff, 2014). Tais conceituações tornam-se
importantes para o entendimento das implicações de sentido de vida na história do
protagonista, Leo Motta.
O sentido da vida, terceiro pilar, é subjetivo a cada pessoa, mas não é único e muta-
se constantemente. O sentido não pode ser dado e sim encontrado pelo próprio sujeito através
de valores de vivência, valores de atitude, valores de criação, autodistanciamento,
autotranscendência (Kroeff, 2014; Xausa, 1988).
Os “Valores de Vivência”, primeira subcategoria deste ítem, representam a
descoberta de que a pessoa pode receber algo bom do mundo, como a verdade, a beleza, a
natureza, a cultura e relações interpessoais que resultem em amor. Alguns trechos podem
indicar valores de vivência percebidos por Leo. Os recortes 19, 20, 21 e 22 mostram

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momentos em que a relação com os filhos pode ter lhe motivado a buscar um sentido de
vida. Os dois primeiros aconteceram enquanto Leo morava com a família e os últimos
quando estava vivendo em situação de rua. O recorte 19 retrata um momento em que estava
desempregado e recebendo constantes convites para voltar ao mundo do crime, mas ter o
filho recém-nascido em seus braços lhe proporcionava felicidade suficiente para não querer
retornar àquela vida perigosa.
Com um consumo intenso de drogas e extremamente frustrado com sua vida, Leo
tentou cometer suicídio, jogando-se contra os carros que circulavam em uma movimentada
avenida, mas teve sua vida salva por dois homens que passavam pelo local. O recorte 20
descreve o que ocorreu depois desse episódio, assim que chegou em sua casa. Os filhos
pediram, carinhosamente, para que ele não se matasse. Pode-se supor que a fala dos filhos e
o afeto recebido lhe deram algum sentido de vida nesse momento. Visto que, mudou sua
percepção e passou a se ver como responsável a continuar a viver para sustentar seu vício e
alimentar os filhos.
O recorte 21 retrata Leo vivendo na rua, sem ver uma saída para sua situação e
mesmo sem esperança de rever os filhos e a mãe das crianças o seu pedido à Deus foi voltado
a solicitar uma última chance de vê-los antes de morrer. Pressupõe-se que o desejo de revê-
los pode ter servido como força motriz para encontrar sentido na vida por meio das relações
interpessoais com os filhos e a ex companheira. A partir disso, entende-se que os filhos
serviram como fonte de sentido à vida e a aspiração de os encontrar novamente como
vontade de sentido. Isso pode ser enfatizado com o recorte 22, que mostra um período de
tratamento à dependência química, no qual ele diz estar disposto a fazer tudo para livrar-se
das drogas, recomeçar a vida e reencontrar os filhos.
“Valores de Atitude”, segunda subcategoria, são constituídos pelas atitudes adotadas
diantes um sofrimento inevitável, ou seja, a possibilidade de a pessoa mudar de
posicionamento frente à tríade trágica (Kroeff, 2014; Xausa, 1988). A tríade trágica é
composta por três elementos: sofrimento, culpa e morte. O último, é encarado como sendo
o limite da possibilidade de encontro de sentido. A reflexão da morte pode proporcionar a
concepção de que a vida tem fim e que é preciso aproveitar cada momento vivido (Frankl,
1946/1989; Kroeff, 2014). Ao ligar o conceito do elemento com a história de Leo, entende-
se que a situação apresentada no recorte 20, além de indicar valores de vivência como já
citado, pode apontar uma possível reflexão acerca da finitude, visto que compreendeu que
não poderia cessar a vida por acreditar que precisava sustentar seu vício e prover alimento
para os filhos . A concepção de morte só tem sentido quando comparada com o conceito de
vida, possibilitando uma reflexão do que será perdido caso a vida tenha fim (Kroeff, 2014).

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A culpa pode ser compreendida como uma espécie de sofrimento, visto que o sujeito
toma consciência de que está infringindo seus valores e julga-se por isso (Kroeff, 2014). O
sofrimento não é necessário para obter sentido, mas por ser inevitável à vida tem significados
e é na atitude adotada perante o sofrimento que é possível encontrar sentido, transformando
uma tragédia em um triunfo (Frankl, 1946/2013; Kroeff, 2014; Pereira & Pinheiro, 2018).
Os recortes 23, 24 e 25 descrevem alguns momentos de sofrimento vivenciados por
Leo, enquanto os recortes 26 e 27 apresentam a necessidade de mudar perante a dor vivida.
No recorte 23, Leo relata o ocorrido após a cerimônia de casamento do irmão. Mesmo em
situação de rua, o irmão lhe convidou para o casamento, lhe forneceu vestimentas adequadas
e deixou que ele dormisse, naquela noite, em sua casa, que estava em construção. No
momento em que chegou na casa, Leo deu-se conta de sua situação e sentiu-se fracassado
como homem, como pai e como filho. Com uma bíblia em mãos, escreveu uma carta de
despedida e se pôs a chorar até adormecer. Entende-se que o sentimento de fracasso pode
estar relacionado a culpa por não estabelecer seus papéis sociais como gostaria.
O recorte 24 conta o que fez quando acordou no dia seguinte ao casamento, comeu
biscoitos mofos do lixo, questionou Deus sobre sua existência. Um casal lhe ofereceu lanche
e dinheiro, ele não aceitou o dinheiro porque não aguentava mais usar drogas, sabendo que
isso foi a motivação de estar naquela situação. O recorte 25 apresenta um momento em que
Leo foi esmolar um pão a uma senhora, essa lhe cuspiu no rosto e isso causou nele muito
sofrimento. Além de chorar, lembrou da infância, de quando a avó servia fartas mesas de
café, dos cafés da manhã ao lado dos filhos e da tia. Outras pessoas se aproximaram e lhe
deram café com leite e pães, mas essa foi uma situação muito dolorosa para Leo, que se
sentiu desprezado, desacreditado, infeliz, com a esperança de logo encontrar a morte.
O recorte 26 relata um dia ensolarado, Leo estava abatido física e mentalmente e
também sentia muita sede. Tentou entrar em um restaurante, mas o segurança o colocou para
fora imediatamente e questionou o que queria. Ele pediu água e o segurança atendeu o
pedido, mas no copo além de água e gelo, colocou sal. No primeiro gole, os homens que
trabalhavam no restaurante começaram a rir dele e um destes ordenou que saísse do local.
Após essa humilhação, diferente de quando foi cuspido, Leo sentiu ódio e disse para si
mesmo que precisava tomar uma decisão e mudar de vida. O recorte 27 mostra o primeiro
dia de Leo no tratamento à dependência química, pela segunda e efetiva vez, e ele diz à Irmã
que quer mudar de vida por não aguentar mais sofrer.
Os recortes 23, 24, 25, 26 e 27 apresentam os acontecimentos dolorosos que
antecederam a decisão de Leo por buscar um tratamento à dependência química e mudar de
vida. A partir destes trechos, pode-se pensar que o sofrimento vivenciado fez com que ele

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tomasse a decisão de mudar suas atitudes, buscando cessar a dor que viver naquela situação
lhe causava e possibilitando um autodistanciamento. O autodistanciamento é caracterizado
como a capacidade da pessoa distanciar-se de si mesma para perceber que ela é resumida
àquela circunstância e, a partir disso, toma novos posicionamentos (Frankl, 1946/2013;
Kroeff, 2014). Supõe-se que por meio do sofrimento foi possível que ele fizesse um processo
de autodistanciamento, distanciando-se da situação para entender que poderia ser modificada
e que, para isso acontecer, era preciso tomar atitudes diferentes. De acordo com a
Logoterapia, um pré requisito para a saúde mental de um sujeito é uma tensão equilibrada
entre o que alcançou e o que necessita alcançar, deslocando-se do ser ao dever-ser (Frankl,
1978/2000). Entende-se que o autodistanciamento perante o sofrimento possibilitou esse
movimento em Leo, que passou a adotar novas condutas para atingir o dever-ser. Mesmo
perante situações limitantes, o ser humano é consciente e responsável em suas escolhas
(Frankl, 1978/2005, 1946/2013). Ademais, o sofrimento pode oportunizar a obtenção de uma
amplitude acerca de sua consciência (Frankl em Kroeff, 2014). A partir disso, pode-se hipotetizar
que o sofrimento possibilitou uma tomada de consciência, que proporcionou o
autodistanciamento realizado e por conseguinte, a mudança de atitude.
Os “Valores de Criação”, terceira subcategoria, advém através do que é percebido
como importante para o sujeito e pelo o que ele pode oferecer ao mundo (Xausa, 1988).
Esses valores podem se dar por meio da realização profissional, do trabalho, criações
intelectuais e através da contribuição ao mundo e ao outro (Kroeff, 2014). No caso de Leo,
pode-se relacionar esse conceito com os recortes 28 e 29, nos quais descrevem que, durante
o tratamento, ele passou a coordenar um grupo de oração dentro da instituição que estava
buscando levar a mensagem divina ao outro. Entende-se que esta foi uma forma de oferecer
algo bom ao outro e que isso pode ter contribuído para o seu encontro de sentido da vida e
para sua autotranscendência.
A autotranscendência é compreendida como a habilidade do ser humano transcender-
se, ou seja, embasar sua existência em uma relação de amor com algo ou alguém, além de si
mesmo (Frankl, 1946/2013; Santos, 2016). O sujeito volta-se para o mundo em busca de um
sentido e quanto mais esquece de si em prol do outro, mais humano se transforma, assim,
“em serviço a uma causa ou no amor a uma pessoa realiza-se o homem a si mesmo” (Frankl,
2015, p.15). Ao refletir acerca dos valores que podem ter contribuído com o encontro de
sentido por Leo, entende-se que o amor pelos filhos e a intenção de transmitir a mensagem
ao outro por meio do grupo de orações possibilitou a autotranscendência, realizando-se a si
mesmo.

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Na Logoterapia, a fé pode ser compreendida como a realização de uma vontade de
sentido último e Deus como o parceiro do sujeito em seus mais íntimos monólogos de solidão
e honestidade (Frankl, 1943/2017). A transcendência pode se dar por meio dessa relação
com um “Tu”, um transcendente (Frankl, 1990). Os recortes 16, 21, 24 e 28 destacam a
relação de diálogo de Leo com Deus. Nos recortes 16 e 24, ele questiona Deus sobre o porquê
de ainda não ter lhe tirado a vida perante tanto sofrimento; no 21 ele pede uma possibilidade
de ver os filhos antes de morrer; no 28 estabeleceu um compromisso com a divindade. A
partir disso, hipotetiza-se que essa experiência de solilóquio em momentos de sofrimento
possa ter influenciado no processo de transcendência dele, lhe permitindo a realização de
uma vontade de sentido.
A partir da categoria “Sentido de Vida”, pode-se refletir acerca de fatores que possam
ter contribuído com o encontro de sentido de vida de Leo, bem como a influência dos
fenômenos abarcados nas subcategorias elencadas: “Valores de Vivência”, “Valores de
Atitude”, “Valores de Criação”. Os valores possibilitaram que Leo pudesse se autodistanciar
do sofrimento vivenciado para autotranscender-se, cessar o sofrimento experienciado pela
dependência química e pela situação de rua, buscando recomeçar sua vida. Ademais, os
diálogos com Deus podem ter fortalecido seu estado psicológico por meio da fé, que lhe
proporcionava reflexões em momentos de dor e esperança, bem como, nas circunstâncias
em que buscava forças para superar a dependência química.
Ao finalizar a relação entre o referencial teórico e o artefato cultural escolhido,
conclui-se que foi possível discutir acerca de fatores englobados na dependência química e
na situação de rua, bem como, aspectos envolvidos no sentido de vida de pessoas que vivem
nessas condições. Ademais, foi corroborada a concepção logoterapêutica de que mesmo
diante de circunstâncias consideradas difíceis, o sujeito é livre para transformar-se, mudar
sua situação e encontrar sentido de vida. Aliás, mesmo nos mais árduos contextos que se
apresentem, sempre, há possibilidade de sentido (Frankl, 1946/1989). Percebeu-se, também,
os princípios envolvidos no processo de encontro de sentido de vida, sendo a Logoterapia de
suma importância para esse entendimento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo geral do presente trabalho possibilitou o estudo das possíveis implicações


de sujeitos dependentes químicos em situação de rua relacionadas ao sentido da vida. Para
isso, foram alinhados três objetivos específicos: conceituar o sentido da vida, segundo a
Logoterapia; caracterizar a dependência química; e, apresentar aspectos fundamentais acerca
de pessoas em situação de rua. No intuito de sanar os objetivos, buscou-se referencial teórico
capaz de sustentar, cientificamente, esta pesquisa. Visando uma melhor percepção, optou-se
por utilizar um artefato cultural que pudesse contemplar os propósitos deste trabalho.
Considera-se que os objetivos foram atingidos e que o artefato cultural escolhido, o
livro Há vida depois das marquises, foi fundamental para a compreensão dos fenômenos
abarcados no sentido da vida de sujeitos dependentes químicos em situação de rua. Entende-
se que o contexto vivenciado por estas pessoas é muito complexo, que cada sujeito é ímpar
e tem sua subjetividade. No entanto, uma fonte autobiográfica que relata uma história de
vida real, de um brasileiro, e os diversos aspectos envolvidos tanto na dependência de
substâncias psicoativas, quanto na situação de rua e nas fontes de encontro de sentido, foi
imprescindível para este estudo. O livro relata a trajetória de Leo, conta sua infância,
adolescência, desde o envolvimento com drogas até a percepção de estar dependente da
substância, o percurso da deterioração biopsicossocial ao ponto de ir viver em situação de
rua, bem como, os sentidos encontrados para transformar sua história, sair das ruas e começar
sua vida. A relação do referencial teórico com o artefato, possibilitou o entendimento
abordado na Logoterapia, de que mesmo diante de sofrimento e adversidades é possível
encontrar sentido de vida. Mostrando, que mesmo um sujeito dependente químico, vivendo
em situação de rua e sofrendo a rigidez do entrelaçamento desse contexto, é capaz de
encontrar sentido em sua vida.
No que tange a limitações, entende-se que inicialmente houveram dificuldades
relacionadas a teoria logoterapêutica, visto que durante a graduação não há aprofundamento
teórico do assunto. Mas, encontrou-se uma vasta quantidade de livros e artigos científicos
que abordam os conceitos mais importantes da teoria fundada por Frankl. Ademais, a
pesquisadora teve a oportunidade de participar do evento O Sentido da Vida - Encontro Sul-
Brasileiro de Logoterapia, ocorrido durante o desenvolvimento do projeto deste trabalho, o
que proporcionou uma significativa elucidação teórica.
Ao realizar a revisão de literatura foi possível concretizar a percepção de que o sujeito
dependente químico em situação de rua é acometido por exclusão social em diferentes níveis.
Desde a sociedade em geral, que por vezes atrela essa condição à marginalização, até a falta

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de políticas públicas voltadas à pessoas em situação de rua. A Política Nacional para a
População em Situação de Rua (PNPR) foi instituída em 2009, ou seja, recentemente, e não
há dados estatísticos atualizados acerca dessa população no Brasil. Por meio de uma ação
judicial, foi decretado que esses números devem ser inseridos no próximo censo
demográfico, o que por um lado mostra a exclusão desse grupo, mas por outro, pode indicar
um marco positivo de reconhecimento. Acredita-se que este estudo poderia ser mais íntegro
se houvessem dados estatísticos atualizados acerca destes indivíduos. Por fim, sugere-se a
continuidade de estudos relacionados à sujeitos dependentes químicos em situação de rua,
tanto no que tange ao sentido de vida, quanto a tantos outros aspectos abarcados na vida
destas pessoas.

REFERÊNCIAS

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Anexos
Anexo 1

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Anexo 2

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Anexo 3

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APÊNDICE

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APÊNDICE

Tabela 1 – Resumo da análise dos artigos

Autores Objetivo Metodologia Conclusão Revista


/Ano
Participante Instrumentos
Alvarez / Conhecer os fatores Sujeitos da pesquisa Responderam ao CAGE e A pesquisa aponta que Jornal
2007 que favorecem as foram 105 alcoolistas os questionários aplicados os três maiores fatores Brasileiro
recaídas. primários de ambos os foram: Fatores de Recaída, de recaída apontados de
sexos. Fernández (2006) e pelos sujeitos foram: Psiquiatria
Razões para Beber, Autoestima baixa, - Scielo
González (2004) assistência a festas e
necessidade de beber.
Cunha et. Avaliar as Participaram deste Os critérios para O estudo conclui que há Revista
al. / 2007 habilidades sociais estudo 26 sujeitos dependência química prejuízos no repertório Brasileira
em alcoolistas, e diagnosticados como foram adotados da CID- e desempenho social de
investigar as crenças dependentes de álcool, 10, dos pacientes Terapias
e expectativas participaram da Foi aplicado o Inventário alcoolistas investigados, Cognitivas
pessoais sobre os pesquisa os pacientes de Habilidades Sociais que entre os - Scielo
efeitos do uso do internos e aqueles que (IHS) e Inventário de participantes os maiores
álcool. realizavam atendimento Expectativas e Crenças prejuízos estão nas
ambulatorial. Pessoais acerca do Álcool áreas da auto-afirmação,
(IECPA). sentimento positivo,
conversação e
desenvoltura social.
Santos e Comparar as Foram pesquisados 6 Entrevistas semi- Concluíram que os Interface
Veloso / representações alcoolistas do sexo estruturadas criadas pelas fatores que os levaram à Botucatu -
2008 sociais sobre o masculino, que se autoras. Foram 12 dependência química, a Scielo
alcoolismo encontravam em entrevistas. maioria dos
elaboradas por tratamento, na época da entrevistados atribui a
alcoolistas em pesquisa e 6 com seus dependência a
tratamento com as de familiares: 5, do sexo problemas vividos na
seus familiares feminino e 1 do sexo família e às amizades.
masculino.
Silvio e Analisar as atitudes Estudo é descritivo- Entrevista semiestruturada Os pesquisadores Revista da
Padilha / dos adolescentes exploratório, com criada pelos autores. concluíram que o Escola
2011 diante da ingestão de abordagem qualitativa. consumo da bebida Enfermage
bebidas alcoólicas. Os sujeitos do estudo favorece a socialização m/USP -
foram 40 adolescentes e o prazer e que isso Scielo
de ambos os sexos, pode levar ao uso
sendo 30 do sexo abusivo e contato com
masculino e 10 do sexo drogas ilícitas, como a
feminino. maconha, a cocaína e o
tíner.
Cunha, Investigar a relação Os participantes foram Questionário com dados Os autores concluíram Pisco –
Peuker e entre abuso ou 113 universitários com sociodemográficos, que há associação entre PUC/RS
Bizarro / dependência de idades entre 18 e 53 Inventário de Habilidades beber
2012 álcool e a ocorrência anos. A amostra foi Sociais (IHS) e problemático e padrão b
de prejuízo em selecionada por Alcohol Use Disorders Ide inge como déficit em ha
habilidades sociais conveniência. ntification Test (AUDIT). bilidades sociais.
em uma amostra de
universitários.

Pinho e Conhecer Amostra não Questionário de As autoras concluíram Revista


Oliva / preliminarmente a probabilista acidental de Habilidades Sociais (IHS) que a dependência ao Brasileira
2007 relação entre 150 pessoas e questionário estruturado tabaco está associada a de
habilidades sociais e fechado. uma interação complexa Terapias
a condição de ser entre diversos fatores Cognitivas
fumante, não fumante bio-psicossociais. - Scielo
ou ex-fumante.

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Autores Objetivo Metodologia Conclusão Revista
/Ano
Participante Instrumentos
Rodrigues, Objetivo é uma Foram revisados artigos As pesquisas apontaram Arquivos
Silva e revisão da literatura publicados nas bases de principalmente déficit Brasileiros
Oliveira/ sobre habilidades dados: Medline em habilidades sociais de
2011 sociais em tabagistas. (Literatura Internacional como fator de risco ao Psicologia
em Ciências da Saúde), início do consumo. - Pepsic
Scielo (Scientific Também foram
Electronic Library encontrados artigos
Online), Psycinfo e sobre tabagistas que
EBSCO (Electronic apresentavam
Journals) no intervalo dificuldade para recusar
dos anos de 1998 a o cigarro.
2008.
Wagner e Revisão bibliográfica Revisão bibliográfica A literatura revisada Psicologia
Oliveira / sobre habilidades em portugês e inglês, mostrou fortes Clínica –
2007 sociais e abuso de elaborado a partir de evidências de que Scielo.
substâncias uma pesquisa nas bases adolescentes abusadores
de dados Cochrane e dependentes de
Library, Lilacs, substâncias psicoativas,
Medline, Proquest, em especial a maconha,
PsycINFO e Web of podem apresentar
Science, no intervalo déficits nas habilidades
dos anos de 1996 a sociais.
2006.

Wagner e Avaliar as A amostra foi Os critérios para Conclui-se que mesmo Psicologia
Oliveira / habilidades sociais de constituída por constatação da não apresentando dados em Estudo
2009 adolescentes usuários 98 sujeitos do sexo dependência e/ou abuso expressivos, houve - Pepsic
de maconha e masculino. são do DSM-IV-TR. comprovação que as
comparar seu Entrevista e dados áreas mais deficitárias
desempenho com o sociodemográficos na população estudada
de não-usuários Os instrumentos utilizados relacionam-se ao
foram:IHS; WISC-III, enfrentamento de
WAIS-III, Inventários de situações novas e a
Ansiedade e Depressão de inabilidade em lidar
Beck. com sentimentos e
reações de
agressividade.

Wagner et. Estudo comparativo, A amostra foi composta Os critérios para A área mais deficitária SMAD -
al. 2010 a partir da descrição por 30 sujeitos, sendo constatação da na população de Revista
de dados de avaliação 15 adolescentes dependência e/ou abuso usuários de maconha Eletrônica
das habilidades usuários de maconha e são do DSM-IV-TR. relaciona-se ao Saúde
sociais de uma 15 não usuários da Os instrumentos utilizados autocontrole da Mental
amostra de mesma substância foram: IHS Screening agressividade. Álcool e
adolescentes. Cognitivo das Escalas Drogas /
Weschler de Inteligência e Pepsic
Inventários de Ansiedade
e Depressão de Beck.

Legenda:

HS e Alcoolismo
HS e Tabagismo
HS e Maconha

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