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Acolhimento aos Usuários


de Álcool e Drogas
Diretrizes Clínicas Protocolos Clínicos

Estabelecido em: 10/08/2013

Responsável / Unidade
Vanuza Fortes Ribeiro – Médica | CCPC

Colaboradores
Eliane Mussel – Médica | HGV
Guilherme Freire Garcia – Médico | CCPC

Validadores
Equipe assistencial do HGV e IRS

Disponível em www.fhemig.mg.gov.br
e intranet
INTRODUÇÃO / RACIONAL

Estudo do Ministério da Saúde de 2013 informa que 21% dos acidentados no trânsito e 49%
dos episódios de agressão estão relacionados ao uso de álcool. O IBGE publicou no último
Estudo Nacional de Saúde Escolar-2009 que 71,4% dos estudantes já haviam experimentado
álcool; 24,3% já haviam experimentado fumo e 8,7% já haviam experimentado drogas ilícitas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde -OMS o número total de doenças atribuídas ao uso
de álcool e drogas ilícitas no mundo representa 5,6% da carga total de doenças no mundo além
de estar associado à violência, negligência e maus tratos a crianças e absenteísmo. De acordo
com os dados da OMS em 2010 existiriam em torno de 230 milhões de adultos utilizando
drogas ilícitas no mundo, e entre eles cerca de 27 milhões de pessoas com problemas severos
devido ao abuso de drogas. E reafirma a existência de intervenções e estratégias eficazes para
prevenir e tratar as desordens relacionadas ao uso abusivo de drogas.

A OMS lançou em 2011 o pacote ASSIST (ANEXO I) desenvolvido para ajudar os profissionais de
saúde a detectar e gerenciar o uso nocivo de substâncias psicoativas em ambientes de cuidados
de saúde. Este pacote inclui também um guia desenvolvido para auxiliar o paciente a avaliar e
alterar comportamento de risco em relação ao uso destas substâncias, utilizando estratégias de
auto-ajuda (ASSIST, Brief interventions-linked brief intervention for hazardous and harmful
substance use: a manual for use in primary care and Self-help strategies for cutting down or
stopping substance use: a guide. – março de 2011). Recentemente foi lançado no Brasil o site
www.informalcool.org.br, ferramenta que divulga as políticas, estratégias, abordagens de
tratamento no Brasil em conformidade com as orientações da OMS.

Os usuários de álcool e drogas podem apresentar uma série de complicações sociais, jurídicas,
clínicas e psiquiátricas. O uso destas drogas leva à busca de serviços médicos em vários
momentos: nas intoxicações, durante o uso habitual ou crônico e nos períodos de
desintoxicação. Este protocolo pretende orientar o profissional que atende em urgências
clínicas e psiquiátricas pacientes com diversos quadros devido ao uso/abuso de álcool e outras
drogas.

OBJETIVOS

• Reconhecer e distinguir os diversos graus de uso, intoxicação, dependência e abstinência


de substâncias psicoativas(ANEXO I);
• Realizar avaliação clínica e psiquiátrica adequada e qualificada;
• Orientar o atendimento multidisciplinar;
• Implementar atuação preventiva (entrevista motivacional);
• Implementar a articulação com o sistema nacional de saúde.

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SIGLAS

ASSIST:Alcohol, Smoking and Substance MOV: Maternidade Odete Valadares


Involvement Screening Test; NIDA: National Institute on DrugsAbuse
CAPSad: Centro de Atenção Psicossocial OMS: Organização Mundial de Saúde;
para usuários de álcool e outras drogas; PA: Pressão Arterial;
CMT: Centro Mineiro de Toxicomania PD: Permanência-Dia;
DQ: Dependente Químico; SOU: Serviço de Orientação ao Usuário;
DST: Doenças Sexualmente Transmissíveis SPA: Substância Psicoativa;
FC: Frequência Cardíaca; SPP: Serviço de Prontuário de Pacientes;
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia SUS: Sistema Único de Saúde;
e Estatítica; Tax: Temperatura axilar.
IMC: Índice de Massa Corporal;

MATERIAL / PESSOAL NECESSÁRIO

 Enfermeiro;
 Técnico de Enfermagem;
 Médico Clínico;
 Médico Psiquiatra;
 Assistente Social;
 Formulário do exame de enfermagem;
 ASSIST;
 Exames laboratoriais/ imagem;
 Material assistencial: balança,esfigmomanômetro, termômetro, estetoscópio,
eletrocardiógrafo.

ATIVIDADES ESSENCIAIS

A OMS divulga orientações gerais para os programas de atendimento a usuários de drogas lícitas
e ilícitas que preconizam a necessidade de acolhimento destas pessoas, isto é, atendimento a
qualquer momento sem preconceitos, sem confrontação, compreensivo e multidisciplinar com o
objetivo de atender a todas as demandas e necessidades e não apenas às questões de saúde.

O acolhimento é o primeiro contato do usuário com o serviço de saúde. Segundo os critérios do


Humaniza SUS é um momento de acolhida qualificada, escuta subjetiva, ambiência adequada e
simpatia. No caso do usuário de droga é um momento muito privilegiado, crucial para avaliação
clínica, intervenção terapêutica e formação de aliança terapêutica. Devido à multifatoriedade do
desenvolvimento da Dependência Química o tratamento deve ser interdisciplinar, dirigido às
diversas áreas afetadas: física, psicológica, social,questões legais e qualidade de vida. O objetivo é
iniciar a abstinência e prevenir as recaídas conforme as diretrizes gerais do CFM e NIDA para a
assistência integral ao dependente do uso de crack (ANEXO II).

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1) Classificação de Uso

O uso de drogas atinge as pessoas de diferentes maneiras. Todas as populações e todas as


culturas fizeram uso de drogas. Várias são as maneiras de classificar o uso de drogas psicoativas.

Tabela 1- Classificação de Uso

Nomenclatura Forma de Consumo


Qualquer consumo de substância psicoativa para experimentar,
Uso recreativo
esporádico ou episódico.
Padrão que eleva o risco para o usuário e aqueles que estão à sua volta,
Uso de risco
mas ainda não trouxe danos diretos à saúde deste usuário.
Abuso ou uso
Consumo associado a algum prejuízo (biológico, psíquico ou social).
nocivo
Consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para
o usuário de diferentes graus. A dependência é caracterizada pelos
fatores abaixo que precisam sempre ser investigados:
• Desejo acentuado do uso da droga;
• Necessidade de doses crescentes para obter o mesmo efeito;
• Dificuldade para controlar o uso tanto em termos de início quanto
Dependência de dose;
• Estado fisiológico desagradável que induz ao uso da droga com
objetivo de aliviar os sintomas;
• Negligência crescente pelos interesses e prazeres alternativos com
abandono de atividades do dia a dia, tudo visando a obtenção de
novas doses ou recuperação após o uso;
• Persistência do uso mesmo com efeitos nefastos do uso da droga
reconhecidos.
Consumo episódico de doses excessivas, muitas vezes levando à
Binge
intoxicação.
Consumo num único episódio de dose acima daquela que o organismo
Intoxicação ou
é capaz de metabolizar causando sintomas graves de descompensação
overdose
podendo levar até à morte.
Conjunto de modificações orgânicas que se dão em decorrência da
Síndrome de
interrupção abrupta ou redução do aporte de substância após uso
Abstinência
prolongado e desenvolvimento de dependência à droga

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2) Cocaína / Crack

a) Elementos da Síndrome de Intoxicação - (Protocolo Clínico 041- Manejo Clínico do Usuário


de Crack)

Sintomas físicos: Perda de peso, hipertermia (estimulação sistema simpático), acidose


metabólica, rabdomiólise, hipercalemia e hipocalcemia, rompimento da placenta, aborto
espontâneo.

Humor disfórico: irritabilidade e


ansiedade, agitação, elação ou euforia,
elevação da sociabilidade,
comportamento sexual Comportamento de busca,
impulsivo.Ansiedade crescente, ataques inquietação, agitação,movimentos
de pânico, apreensão e desconfiança estereotipados, tremores e
crescente até o surgimento de paranóia, discinesias. Cefaléia e convulsões
sintomas psicóticos, alucinações, delírios,
perda de juízo crítico (psicose
cocaínica), insônia

Pupila dilatada

Náuseas, perda de apetite

Queimaduras da faringe, pneumotórax,


Taquicardia, hipertensão, aumento
pneumomediastino, pneumopericárdio,
da demanda cardíaca,
broncoespasmo, respiração ofegante,
tromboembolismo, vasoconstrição
pneumonite, tromboembolismos
coronariana e angina. Em altas
doses pode causar efeito
inotrópico negativo, depressão da
função ventricular esquerda,
falência cardíaca, arritmias
Colite, infarto intestinal, infarto
cardíacas (supraventriculares e
esplênico e renal
ventriculares) e até em casos raros
rompimento de aorta

CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO CLÍNICA


• Alterações persistentes do estado mental, hipertermia significativa ou rabdomiólise,
coagulopatias, acidose metabólica, hipertensão severa, dor torácica sugestiva de
isquemia do miocárdio, falência renal ou hepática e complicações respiratórias;

• Todos os pacientes que ingeriram pacotes de drogas (mesmos os assintomáticos),


devem ser hospitalizados para exames diagnósticos e evacuação dos pacotes
ingeridos.

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b) Elementos da Síndrome de Abstinência - (Protocolo Clínico 041- Manejo Clínico do
Usuáriode Crack)

É comum ser dividida em três fases:

1ª) Fissura intensa: desejo exacerbado pelo consumo da droga, irritabilidade e


agitação(crash) com duração de 2horas a 5 dias, seguida de hipersonolência, anedonia,
depressão e exaustão;
2ª) Abstinência propriamente dita: reemergência da fissura, depressão e ansiedade (até 10
semanas);
3ª) Redução gradativa dos sintomas.

Ansiedade e inquietação

Pupilas dilatadas
Coriza e lacrimejamento

Náuseas, vômitos e diarreia

Taquicaria e hipertensão

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3) Álcool

a) Elementos da Síndrome de Intoxicação Alcoólica (Protocolo Clínico 034 - Intoxicação


AlcoólicaAguda)

A sintomatologia é crescente a partir de níveis de alcoolemia acima de 20mg%. Inicialmente,


elação e excitação, com elevação da alcoolemia e sintomas depressores do SNC: euforia,
excitação, perda de coordenação motora, ataxia, fala pastosa, prejuízo cognitivo, náuseas,
vômitos, disartria, amnésia, anestesia, risco de aspiração, desidratação, hipoglicemia, hipotermia,
alterações de consciência, coma, alterações cardiovasculares podendo levar à morte.

Euforia, excitação, amnésia, Perda de coordenação motora, ataxia,


depressão, prejuízo cognitivo alterações de consciência, coma

Náuseas, vômitos, disartria,


fala pastosa

Alterações
Risco de aspiração
cardiovasculares

Hipoglicemia
Hipotermia,
anestesia,
desidratação

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b) Elementos da Síndrome de Abstinência Alcoólica (Protocolo Clínico 016- Síndrome de
Abstinência Alcoólica)

Tremor, hiperreflexia, inquietação, cefaléia,


Agitação, zoopsias, insônia convulsões, confusão mental

Alucinações auditivas transitórias Alucinações visuais

Náuseas, vômitos

Taquicardia, hipertensão

Alucinações táteis,
Mal-estar
sudorese

Diarreia

Fraqueza

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4) Maconha

a) Elementos da Intoxicação por Cannabis

Quadros ansiosos com disforia e palpitações ou psicóticos (sintomas leves de paranóia),


comportamento agressivo.

Quadro ansioso ou psicótico Comportamento agressivo

Alucinações auditivas transitórias Alucinações visuais

Náuseas

Dispneia Taquicardia

Mal-estar Sudorese

Diarreia

Polaciúria

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b) Elementos da Abstinência por Cannabis

Irritabilidade, perda de apetite e de peso, desconforto físico, raramente sintomas psicóticos.

Irritabilidade, sintomas psicóticos

Alucinações auditivas transitórias


Perda de apetite e de peso

Desconforto físico

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5) Benzodiazepínicos

a) Elementos da Abstinência aos benzodiazepínicos

Os benzodiazepínicos apresentam atividade depressora como a do álcool, podendo levar a


bradicardia e hipotensão, particularmente quando há intoxicação por múltiplas drogas, o que
é frequente. Apresenta ainda elevação da temperatura corporal, tremores, fraqueza,
hiperreflexia e hipotensão postural.

Cefaléia, desorientação,
Ansiedade, insônia, franco delírio alteração de nível de
consciência, convulsões
até status epilepticus

Anorexia, náuseas, vômitos

Elevação da
Taquipneia
pressão
arterial,taquicardia,
bradicardia e
hipotensão

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6) Avaliações

6.1) Avaliação do Enfermeiro

Ao dar entrada no serviço o paciente deverá ser recebido e entrevistado pelo enfermeiro em primeiro
lugar (APÊNDICE I). Após esta entrevista, deve ser encaminhado ao médico para ser avaliado.

6.2) Avaliação do Médico

A OMS indica o ASSIST (ANEXO I) como instrumento adequado para avaliação do uso/abuso de
drogas, mesmo para utilização em serviços de assistência não especializados, devido a sua
estrutura padronizada, rapidez de aplicação, abordagem simultânea de várias classes de
substâncias, facilidade de interpretação e a possibilidade de ser utilizado por profissionais de
saúde de formações diversas.

A versão brasileira do instrumento apresentou boa sensibilidade e especificidade para álcool,


maconha e crack. Os dados deste estudo indicam que o ASSIST é um instrumento útil na triagem
do uso abusivo de álcool e outras drogas.

O médico deverá realizar a aplicação do ASSIST, a avaliação clínica e psiquiátrica inicial e a


solicitação dos exames laboratoriais e de imagem conforme necessário para esclarecimento do
quadro clínico/psiquiátrico apresentado no momento (Quadro 1).
Competirá ao médico por ocasião da definição da conduta abordar novamente o paciente
conforme as orientações que se seguem.

Quadro 1- Indicações na abordagem inicial aos usuários de SPA


Oportunidade de abordagem

Exames HIV, Hepatite B C , Baar

Os usuários de SPA raramente buscam ajuda, portanto é


Entrevista de
possível que este seja o único momento para aconselhar
aconselhamento/motivacional
o abandono da droga

Levando em consideração a oportunidade, e possível


Encaminhamento motivação alcançada não deixe de referencir o usuário
a serviço adequado para o tratamento

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Quadro 2- Conduta clínica simplificada nos diversos quadros de intoxicação por SPA
Patologia Medidas ambientais Medicação Evitar
Diazepam10 a 20 mg VO ,
Clordiazepóxido50 a 100mg Hidratação
VO ou Lorazepam 2ª 4mg VO excessiva
1/1 h- Difenilhidantoína e
Intoxicação
clorpromazina
Alcoólica
Haloperidol am caso de Glicose sem uso
alucinaçoes. prévio de Tiamina,
oferecer álcool
Clonidina em caso de HAS
Diazepam 10 a 20mg VO, IM
IVde 1/1h, Lorazepam 2 a 4mg Hidratação
de 1/1h até sedação leve excessiva
Síndrome de
Ambiente tranquilo Difenilhidantoína e
Abstinência
Tiamina 200mg/dia IM,IV ou clorpromazina
Alcoólica com redução de
VO conforme quadro clínico Glicose sem uso
estímulos sensoriais prévio de Tiamina
Medidas de suporte
(auditivos e visuais),
Medidas de suporte/atenção
proteção contra Pulmão de Crack e
Precordialgia
quedas e se
Intoxicação por Agitação e S. Pânico- Diazepam
Cocaína/Crack agitado e e Lorazepam VO, IM ou IV.
Sintoma psicóticos –
necessário, contenção
Haloperidol 5mg VO, IM ou IV.
Over dose- Internação clínica
Tratamento sintomático e de
Abstinência por
suporte
Cocaína/crack

(Protocolo Clínico 033- Medidas de suporte


Intoxicação por
Antídoto Flumazenil (0,1 a
Benzodiazepínicos Contenção Física de 0,4mg/h)
Pacientes em Agitação Redução gradual de dose
Abstinência por
utilizando Diazepam
Benzodiazepínicos Psicomotora) Suporte psicológico
Usualmente não requerem
Intoxicação por
medicação, atendimento
Cannabis (Maconha)
sintomático
Abstinência por
Sintomático
Cannbis (Maconha)

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6.2.1) Manejo do atendimento ao usuário e dependente de drogas

Os usuários devem ser encaminhados para avaliação médica após a entrevista com a
enfermagem cujos resultados orientam para o diagnóstico inicial do quadro. É muito frequente
que façam uso de múltiplas drogas o que pode dificultar a avaliação inicial. Além disto, também
as comorbidades em psiquiatria são particularmente comuns e importantes trazendo questões
complexas quanto à melhor conduta a ser seguida.

São frequentes o uso e abuso de drogas entre os pacientes portadores de Transtorno Bipolar
e Esquizofrenia e Transtornos de Personalidade só para citar algumas comorbidades. Como
princípio geral deve-se tratar inicialmente os quadros clínicos devido ao uso/abuso de drogas
para, num segundo momento, abordar os quadros psiquiátricos cujo tratamento pode
inclusive demandar internação.

A solicitação de exames laboratoriais, radiológicos e de ECG além dos já padronizados precisa


ser avaliada neste momento.

Após o exame clínico e aplicação do ASSIST,o médico deve fornecer informações claras sobre o
resultado dos exames e da avaliação do uso de drogas e a relação entre eles. Explicar a
relação entre os níveis de uso, os problemas para a saúde, os riscos a curto e longo prazo de
continuar fazendo uso da droga e incentivar a descontinuação e abstinência:

 Discuta com o paciente rapidamente sobre as substâncias que ele faz uso;
 Se perceber disposição para interromper ou diminuir o uso da droga, discuta com o usuário
os melhores meios de atingir este objetivo;
 Se não, informe que é possível interromper mesmo o uso nocivo e encoraje o paciente a
buscar um serviço especializado caso mude de idéia ;
 Se for mulher e estiver grávida ou amamentando encaminhe para serviço especializado pois
se trata de gravidez de alto risco (MOV);
 Investigue as razões que a pessoa tem para usar drogas utilizando as técnicas de
Intervenção Breve;
 Aconselhe a interromper completamente o uso da droga e disponha-se a ajudá-lo;
 Pergunte à pessoa se está preparada para interromper o uso;
 Caso existam sinais importantes de intoxicação, encaminhar para serviço de atendimento
clínico capacitado.Em presença de sintomas psiquiátricos importantes, encaminhe para
hospital psiquiátrico e em presença apenas de dependência química encaminhe para
CAPS-ad ou serviço para dependentes (CMT).
 É muito importante que as informações sejam claras e que sejam fornecidos os endereços
para atendimento.

6.3) Avaliação do Assistente Social

A família e acompanhantes deverão ser entrevistados pela Assistente Social a fim de


esclarecer a história clínica e de uso de drogas. As intervenções com a família podem ser
determinantes do seguimento ou não do tratamento, portanto os acompanhantes devem ser
esclarecidos em todas as dúvidas. Devem ser fornecidas informações sobre os serviços de
atendimento ao dependente químico inclusive com os endereços. As Técnicas Cognitivo
Comportamentais fornecem ferramentas adequadas para esta abordagem e o técnico deve
buscar familiarizar-se com elas.

Se disponível, aplique intervenções psicossociais, tais como aconselhamento ou terapia


familiar, aconselhamento ou terapia para a resolução de problemas,terapia cognitivo-
comportamental, terapia de reforço motivacional, terapia de manejo de contingências.

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Os usuários de drogas precisam ser abordados em todas as suas necessidades. Portanto, é
hora de investigar condições de habitação, emprego, grupos de auto-ajuda, albergamentos
terapêuticos ou de reabilitação.

7) Atendimento aos Quadros Clínicos

 Em caso de sinais de Intoxicação Alcoólica, remeter-se ao Protocolo Clínico 034 - Intoxicação


Alcoólica Aguda;
 Em caso de Abstinência Alcoólica, remeter-se ao Protocolo Clínico 016- Síndrome de
Abstinência Alcoólica;
 Em caso de uso de cocaína/crack, remeter-se ao Protocolo Clínico 041 - Manejo Clínico ao
Usuário de Crack;
 Em caso de sinais de intoxicações por outras drogas, encaminhar ao Serviço de Toxicologia
do Hospital João XXIII.

ITENS DE CONTROLE

1. Número absoluto de pacientes encaminhados para hospitais clínicos / Número absoluto de


pacientes acolhidos nos serviços de saúde mental.
2. Número absoluto de pacientes encaminhados para serviços de saúde mental / Número
absoluto de pacientes acolhidos em serviços de urgência clínica.
3. Percentual de pacientes com quadros de intoxicação por álcool, cocaína, maconha e
benzodiazepínicos, separadamente.
4. Percentual de pacientes com quadros de abstinência por álcool, maconha, cocaína,
benzodiazepínicos, separadamente.

REFERÊNCIAS

1. ASSIST, Brief interventions-linked brief intervention for hazardous and harmful substance use: a
manual for use in primary care and Self-help strategies for cutting down or stopping substance
use: a guide. – março de 2011
2. Intervención breve para o consumo de risco e prejudicial de álcool-Um manual para
utilizaciónen atención primaria-Organización Mundial de La Salud. Thomas F. Babor,Jhon
C.Higgins-Biddle,2001
3. Motivacional Interviewing: a systematic review and meta-analysis. Sune RubackAnneli
Sandbaeck, Torsten Lauritzen and Bo Christensen- British Journey of General practice 2005;
55:305-312

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Bibliografia suplementar

1. Brasil. Presidência da República. Decreto 7.179 de 20 de maio de 2010. Institui o Plano


Integrado de Enfretamento ao Crack e outras drogas e cria o seu Comitê Gestor. Brasília-
CETAD
2. Brasil. Presidência da República. Secretaria Nacional de políticas sobre drogas. Relatório
brasileiro sobre drogas/Secretaria nacional de políticas sobre drogas; IME USP; org.Paulina do
caro Arruda Vieira do Carmo, Vladimir de Andrade Stempliuk, Lúcia Pereira Barroso - Brasília
SENAD,2009
3. Diel, Alessandra; Cordeiro, Daniel Cruz; Laranjeiras, Ronaldo. Tratamento farmacológico para
dependência química: da evidência à prática clínica. Artmed, Porto Alegre, 2010.
4. Henrique, I.F.S., De Micheli D., Lacerda R.B.,Lacerda L.A., Formigoni M.L.S. Validação daversão
brasileira do teste de triagem do envolvimento com álcool, cigarro e
outrasdrogas(ASSIST).Trabalho realizado no Departamento de Psicobiologia da Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, e Departamento de Farmacologia da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR.
5. Instituto Nacional Sobre el Uso de Drogas-Institutos Nacionales de la Salud- Departamento
de Salud e Servicios Humanos de los EEUU. Principios de tratamiento para la drogadición-
Uma guia basada em las investigaciones. NIH Publicación No. 10–4180(S) Impresa en julio
del2001; revisada en julio del 2010
6. OMS, Comite de expertos de la OMS em problemas relacionados com el consumo de acohol
–Serie de informes tecnicos, 2007
7. World Health Organization- United Nation Office on drugs and crime.Principles of drugs
dependence treatment-Discussion paper-Mars, 2008

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APÊNDICE I
Avaliação do Enfermeiro

Nome: Sexo:

Prontuário: __________________________Data de nascimento:____/____/_______

DADOS VITAIS

Pulso_____ bpm PA___/___mm Hg Peso_____ kg Altura_____m IMC_____


Respiração_____irpm

Pele.

Sudorese_____ Palidez_____ Cianose_____ Vermelhidão_____ Piloereção_____

Olhos.

Midríase_____ Miose_____ Hiperemia_____ Lacrimejamento_____

Nariz.

Coriza_____ Espirros_____ Bocejos_____ Sinais de queimadura_____

Comportamento.

Ansioso____ Inquieto____ Comportamento de busca____ Violento____ Agressivo____

Paranóide____ Eufórico____ Irritável____ Pensamento acelerado _____

Neurológicos.

Tremores___ Confusão___ Desorientação___ Convulsão___ Obnubilação___ Coma___

Reação à estímulos.

Exacerbada_____ Reduzida_____

Gastrointestinal.

Náuseas_____ Vômitos_____ Diarréia_____ Cólicas_____

Cardiovasculares.

Arritmias_____ Dor pré-cordial_____

Respiratório.

Dispnéia_____ Tosse_____

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ANEXO I

ASSIST 2.0
Teste para triagem do envolvimento com fumo, álcool e outras drogas

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Fonte: VALIDAÇÃO DA VERSÃO BRASILEIRA DO TESTE DE TRIAGEM DO ENVOLVIMENTO COM ÁLCOOL, CIGARRO
E OUTRAS SUBSTÂNCIAS (ASSIST). IARA FERRAZ SILVA HENRIQUE, DENISE DE MICHELI, ROSELI BOERNGEN
DE LACERDA, LUIZ AVELINO DE LACERDA, MARIA LUCIA OLIVEIRA DE SOUZA FORMIGONI. Trabalho
realizado no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, e
Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR.

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ANEXO II

Princípios Gerais para o Tratamento das Drogadições (NIDA)

1. A drogadição é uma doença complexa, porém tratável que afeta o funcionamento do


cérebro e o comportamento. As drogas de abuso alteram a estrutura e o funcionamento
do cérebro, o que ocasiona alterações que podem persistir por muito tempo após a
interrupção do consumo das drogas. Isto explica por que as pessoas que tiveram problemas
de drogadição correm risco de recaídas, mesmo após longos períodos de abstinência e
apesar das consequências potencialmente danosas.

2. Não existe um tratamento que seja apropriado para todas as pessoas. É de suma
importância buscar uma combinação adequada de intervenções e de serviços de
tratamento que atendamaos problemas e às necessidades particulares de cada paciente,
para que se alcance, como êxito final, o retorno ao funcionamento produtivo junto à família,
trabalho e sociedade.

3. O tratamento deve estar facilmente disponível a qualquer momento. É importante a


disponibilização de uma rede abrangente e variada de serviços de fácil acesso, capacitados
a acolher o usuário e engajá-lo no tratamento já que a adesão aos tratamentos é sempre
difícil.

4. O tratamento eficaz abrange as diversas necessidades das pessoas, não apenas o


problema de abuso de drogas. Para que o tratamento seja eficaz, deve não só abordar o
problema do uso de drogas, mas também qualquer outro problema médico, psicológico,
social, vocacional e legal que esteja presente. Igualmente, é importante que o tratamento
seja apropriado para a idade, sexo, grupo étnico e cultura de cada usuário.

5. Para que o tratamento seja eficaz, é essencial que o usuário permaneça em


acompanhamento durante um período adequado de tempo. A duração apropriada do
tratamento depende do tipo e da severidade dos problemas e das necessidades de cada
pessoa. As investigações indicam que a maioria dos pacientes requer pelo menos três
meses de tratamento para reduzir de forma significativa ou interromper o consumo de
drogas, porém, que os melhores resultados são alcançados com períodos mais prolongados
de tratamento. A recuperação da drogadição é um processo a longo prazo, e que não raro
requer vários ciclos de tratamento. Como sucede com outras enfermidades crônicas, podem
acontecer várias recaídas no uso de drogas o que indica a necessidade de restabelecer ou
ajustar o tratamento. Já que muitas pessoas podem abandonar o tratamento prematu-
ramente, os programas devem incluir estratégias que comprometam e mantenham os
usuários no tratamento.

6. A terapia individual e de grupo, além de outras formas de terapia comportamental,


são as formas de tratamento mais eficazes para o abuso de drogas. As terapias
comportamentais variam segundo o seu enfoque. Podem focar e dirigir a motivação que o
paciente apresenta de mudança, fornecendo incentivos para a abstinência, desenvolvendo
habilidades para rechaçar o uso de drogas, substituir atividades de grupos onde se
consome drogas por atividades construtivas e gratificantes, desenvolvendo as aptidões para
solucionar problemas e propiciar melhores relações interpessoais. De igual maneira, a
participação durante e após o tratamento em terapias de grupo e outros programas de
apoio pode ajudar a manter a abstinência.

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7. Para muitos pacientes, os medicamentos constituem um elemento importante do
tratamento, especialmente quando são combinados com a orientação psicológica e
outros tipos de terapia comportamental. Por exemplo, a metadona e a buprenorfina são
eficazes para ajudar os aditos à heroína e outros opióides a estabilizarem sua vida e
reduzirem o consumo das drogas ilícitas. A naltrexona também é um medicamento eficaz
para certas pessoas aditas a substâncias opióides e para alguns pacientes que sofrem de
dependência ao álcool. Outros medicamentos para o tratamento da dependência ao álcool
são o acamprosato e o dissulfiram. Para as pessoas adictas ao fumo, os produtos de
substituição à nicotina como adesivos, chicletes ou pastilhas, ou um medicamento oral
como a bupropiona ou a vareniclina, podem ser componentes eficazes do tratamento
quando são parte de um programa integral de tratamento comportamental.

8. O tratamento de cada paciente deve ser avaliado continuamente e, se necessário,


modificado para assegurar que se mantenha a par com qualquer modificação em sua
condição. O usuário pode requerer distintas combinações de serviços e componentes de
tratamento durante o curso do tratamento e de sua recuperação. Além da orientação
psicológica ou a psicoterapia, pode necessitar de medicamentos, atendimento clínico ou de
urgência, terapia familiar, orientação para a criação dos filhos, reabilitação vocacional ou
serviços sociais e legais. O sucesso depende da sintonia entre as necessidades, o momento
atual do usuário e os serviços oferecidos.

9. Muitas pessoas com problemas de drogadicção também têm outros transtornos


mentais. Como o abuso de drogas e a adicção são ambos transtornos mentais, amiúde se
apresentam concomitantemente com outras enfermidades mentais. A avaliação psiquiátrica,
portanto, é parte fundamental do atendimento ao usuário. É necessária atenção para o
diagnóstico e tratamento das comorbidades em psiquiatria.

10. A desintoxicação é só a primeira etapa do tratamento para a adiccão e por si mesma é


muito pouco para alterar o comportamento a longo prazo. Ainda que através da
desintoxicação se possa manejar de forma segura os sintomas físicos agudos da abstinência
e, em certos casos, aplanar o caminho para o tratamento da drogadição eficaz a longo
prazo, a desintoxicação, por si só, rara vez é suficiente para ajudar os drogaditos a
alcançarem abstinência duradoura. Por esta razão, se deve insistir com os usuários para que
permaneçam em tratamento após o processo de desintoxicação. Se a motivação e as
estratégias de incentivo forem adequadamente trabalhadas quando o usuário ingressar no
tratamento é possível também melhorar a adesão ao tratamento.

11. O tratamento não tem que ser voluntário para ser eficaz. As sanções e os prêmios
provenientes da família, do ambiente laboral ou do sistema jurídico penal podem
incrementar significativamente o número de usuários que ingressam nos programas de
tratamento, o índice de permanência neles e o êxito final das intervenções de tratamento
das drogadições.

12. O uso de drogas durante o tratamento deve ser supervisionado constantemente, já


que podem ocorrer recaídas. O fato de saber que o uso de drogas é vigiado pode ser um
grande incentivo para ajudar os usuários a resistir ao impulso de consumir a droga. O
monitoramento também serve como indicador precoce de uma recaída, o que pode indicar
a necessidade de rediscutir o processo de tratamento redirecionando-o para que se adapte
melhor às necessidadesatuais do paciente.

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 53


13. Os programas de tratamento devem incluir exames para HIV/AIDS, hepatites B e C,
tuberculose e outras enfermidades infecciosas, além de incluir uma terapia
especialmente dirigida a ajudar os usuários a modificar condutas que os colocam em
risco de contrair ou transmitir enfermidades infecciosas. Tipicamente, o tratamento do
usuário de drogas aborda algumas condutas relacionadas aos rituais de uso das drogas que
colocam as pessoas em perigo de contrair ou transmitir enfermidades infecciosas. A
orientação psicológica especificamente dirigida pode ajudar os usuários a reduzir ou evitar
comportamentos associados ao consumo de substâncias ou outros comportamentos de
alto risco. Além disso, a orientação psicológica pode ajudar aos que já estão infectados a
lidar com sua doença. Por outro lado, o comprometer-se com um tratamento para o abuso
de substâncias ilícitas pode facilitar a adesão a outros tratamentos médicos. Os usuários
podem se mostrar resistentes à realização do teste de HIV, portanto, é primordial que os
profissionais fomentem e apoiem as provas de detecção de doenças infecciosas e forneçam
informações sobre a eficácia da terapia antiretroviral para controlar a evolução da doença,
inclusive na população com problemas de drogadição (Organização Mundial de Saúde).

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ANEXO III

Fluxograma simplificado

Uso de drogas
psicoativas

Dependência
Uso recreativo
Uso Nocivo
Uso abusivo

Aconselhamento breve Entrevista Motivacional


Grave
Leve / moderado

Internação clínica /
Serviço especializado psiquiátrica
CAPSad / CMT

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ANEXO IV

Fluxograma de Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

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