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Fatores de Risco para a Saúde do Trabalhador e Adoecimento no Trabalho

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Sarajane de Fátima Lima de Oliveira

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Fatores de Risco para a Saúde do
Trabalhador e Adoecimento no Trabalho

Fonte: Getty Images


Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Fatores de Riscos Psicossociais Relacionados ao Trabalho;
• As Consequências e os Fenômenos Psicossociais Negativos
Relativos ao Trabalho;
• O Adoecimento no Trabalho.

Objetivos
• Identificar fatores de riscos psicossociais em diferentes contextos organizacionais;
• Analisar criticamente as formas de adoecimento no trabalho.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Fatores de Risco para a Saúde do
Trabalhador e Adoecimento no Trabalho

Contextualização
De modo geral, as organizações têm se preocupado com a legislação vigente, dando
ênfase à prevenção de acidentes no trabalho e às doenças ocupacionais. Contudo, tais
aspectos dão conta das questões que se relacionam ao que é “objetivo” e esquecem do
“subjetivo”, que também permeia a realidade das organizações. Nessa perspectiva, é que
podemos citar os fatores psicossociais, os quais podem resultar em fenômenos psicos-
sociais negativos, causando sérios danos aos trabalhadores, especialmente no que tange
ao adoecimento no trabalho.

Não é de hoje que o estresse decorrente do trabalho, o assédio moral, o uso de álcool
e outras drogas, entre outras doenças relacionadas aos aspectos mentais, emocionais e
psicológicos acometem os trabalhadores. Da mesma forma que a preocupação com os re-
sultados, a produtividade e a competitividade vêm acometendo os dirigentes das empresas
a longa data. Portanto, é atual, emergente e necessário o olhar das organizações para com
a saúde mental de seus funcionários, uma vez que o adoecimento mental no trabalho vem
ganhando proporção e elevando o percentual de afastamentos das atividades.

Frente a este contexto é que fazemos o convite para que você reflita no modo como
poderá contribuir para a promoção de mudanças e melhorias, a partir de uma visão
mais humanizada e atenta, na busca de ambientes organizacionais saudáveis.

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Fatores de Riscos Psicossociais
Relacionados ao Trabalho
Antes de iniciarmos a explanação sobre fatores de riscos psicossociais relacionados
ao trabalho, é importante esclarecermos, primeiramente, alguns aspectos relativos aos
fatores e/ou agentes de riscos identificados no ambiente de trabalho.

Na década de 1980, mais especificamente em 1986, a Organização Internacional do


Trabalho (OIT) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), elaboraram em conjunto um
documento que apontou uma convergência de posicionamentos, referindo que o “[...]
crescimento e progresso econômico não dependiam somente da produção, mas tam-
bém das condições de vida e trabalho, saúde e bem-estar dos trabalhadores e seus fami-
liares” (INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION, 1986 apud FISCHER, 2012).
Nessa perspectiva, o documento enfatizava que não somente riscos físicos, químicos e
biológicos tinham relevância quando se tratava da saúde do trabalhador, mas também
diversos fatores psicossociais vinculados ao trabalho.

No entanto, em nosso país, conforme as Normas Regulamentadoras (NR) definidas


pelo Ministério do Trabalho do Brasil, os fatores e agentes de risco relacionados ao am-
biente laboral, são quatro: agentes biológicos, agentes químicos, agentes físicos e riscos
ergonômicos. Não estão associados os fatores psicossociais, os quais também contri-
buem para a determinação de acidentes ou danos (ZANELLI; KANAN, 2018).

Afinal, o que são fatores psicossociais? Buscando responder ao questionamento,


Zanelli e Kanan (2018, p. 35) trazem a definição de acordo a OIT, sendo a mais propa-
gada na literatura:
Fatores psicossociais referem-se a interações entre o meio ambiente, ao
conteúdo do trabalho, às condições organizacionais e às capacidades,
necessidades, cultura, condições pessoais externas ao trabalho, que
podem, por meio das percepções e experiências, influenciar a saúde,
o desempenho e a satisfação dos trabalhadores. (INTERNATIONAL
LABOUR ORGANIZATION, 1986 apud ZANELLI; KANAN, 2018,
p. 35)

Considerando essa definição, podemos dizer que a natureza dos fatores psicossociais
é complexa e envolve aspectos relacionados ao sujeito trabalhador, ao meio ambiente
geral e ao trabalho (FISCHER, 2012). Defendendo o mesmo ponto de vista, Zanelli e
Kanan (2018) referem que os fatores psicossociais relacionados ao trabalho podem ser
agrupados em três condições: fatores inerentes ao indivíduo, fatores internos e externos
ao trabalho.

Para melhor elucidar esses fatores, facilitando assim o seu entendimento, segue a
Figura 1, a qual traz alguns aspectos concernentes a cada âmbito, embora os autores
esclareçam que não se pretende esgotar as possibilidades, uma vez que poderá ser com-
plementada, considerando a realidade específica de cada organização de trabalho.

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Fatores de Risco para a Saúde do
Trabalhador e Adoecimento no Trabalho

• Características demográficas
• Autoestima e autoconhecimento
• Locus de controle
Itens para • Capacidade para enfrentração e adaptação
Fatores do análise
indivíduo • Habilidades sociais
• Estilo de vida
(trabalhador)
• Significado ou sentido da vida
• Espiritualidade e transcendência
Fatores
Psicossociais Fatores • Condições do ambiente de trabalho
Relacionados internos ao • Condições das tarefas
trabalho Itens para
• Condições do grupo de trabalho
ao Trabalho análise
• Condições da organização
(e outros)
Fatores
externos ao
trabalho • Situação econômica familiar
• Relacionamento conjugal e familiar
• Qualidade de assistência à saúde
Itens para • Acesso à educação e à recreação
análise • Rede de apoio social
• Participação em grupos comunitários
• Situação política e econômica da localidade, do país...
(e outros)

Figura 1

Agora que já esclarecemos o que são fatores psicossociais, precisamos compreender


os fatores de riscos psicossociais. Antes, porém, cabe explicitar o conceito de risco, que
está associado à exposição a situações de perigo e/ou à “[...] probabilidade de ocorrên-
cia de danos provenientes da exposição ao perigo” (ZANELLI; KANAN, 2018, p. 41).
De acordo com esses autores, a dimensão do risco, que pode ser elevado ou baixo, está
relacionada à probabilidade e à magnitude destes.

Aguiar Coelho (2009, p. 63) refere que risco psicossocial é reconhecido como “[...]
uma interação psicossocial negativa que tem origem fundamentalmente na organização
do trabalho”, a qual provoca com frequência uma tensão, bem como outras repercus-
sões desagradáveis na vida do sujeito.

Tendo como premissa os conceitos acima citados, Zanelli e Kanan (2018) consideram
fatores de riscos psicossociais relacionados ao trabalho todas as condições, situações em
dado momento ou episódios que possam afetar os trabalhadores, os grupos e a própria
organização, potencializando a probabilidade de danos à saúde e à segurança dos mes-
mos, independentemente de sua durabilidade em relação ao tempo e à intensidade com
que acontece. De acordo com esses autores, apenas um item ou mesmo um grupo de
itens em interação pode agir diferentemente em qualquer um dos âmbitos, ou seja, indi-
vidual, grupal e organizacional, levando em consideração as características de cada um.

Para melhor compreender os fatores de riscos psicossociais relacionados ao trabalho, assis-


ta ao vídeo em que o professor doutor José Carlos Zanelli, um dos maiores expoentes da
Psicologia Organizacional no Brasil, responde a alguns questionamentos como: Quais são
os fatores de riscos psicossociais em uma organização? Como proteger-nos deles? Qual a
relação com o mundo do trabalho? Disponível em: https://youtu.be/8E8pkqbosyc

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Assim, as organizações precisam estar atentas aos fatores de riscos psicossociais que
apresentam, ou seja, reconhecer a sua existência e buscar meios para reduzi-los ou até mes-
mo saná-los, considerando como tarefa imprescindível. Caso contrário, poderão dar lugar
à ansiedade, por parte dos trabalhadores e com ela o sofrimento e o adoecimento. Zanelli
e Kanan (2018) enfatizam que é possível alterar os aspectos determinantes dos riscos psi-
cossociais e defendem que é responsabilidade das organizações, antes mesmo de acumular
capital, a preservação da saúde de seus trabalhadores e da sociedade em que estão inseridos.
Isso poderá ser feito por meio de práticas e políticas que visem ações, projetos, planejamen-
to e processos de monitoramento e prevenção de riscos de qualquer ordem.

Nesse sentido, as organizações que estiverem atentas e focadas na observação das con-
dições do ambiente, das tarefas e da própria organização poderão identificar problemas e
possíveis intervenções, de modo que possam prevenir e promover uma cultura de saúde e
segurança. É nesse contexto que os fatores de proteção psicossocial relativos ao trabalho
ganham visibilidade. Tais fatores referem-se a “[...] situações, eventos, contextos ou recursos
que atuam na diminuição ou supressão das possibilidades de ocorrência de resultados inde-
sejados e de uma evolução bem-sucedida e adaptada”. (ZANELLI; KANAM, 2018, p. 42)

As Consequências e os Fenômenos
Psicossociais Negativos Relativos
ao Trabalho
O impacto negativo que os fatores psicossociais podem causar contribui para o sur-
gimento de comportamentos inadequados, especialmente porque pode interagir com
a dimensão biológica, trazendo danos à saúde mental dos trabalhadores, resultando
no adoecimento. Com relação aos riscos psicossociais, esses têm consequências muito
negativas para as organizações, para a saúde e o bem-estar do trabalhador e para a so-
ciedade de modo geral (KORTUM; LEKA; COX, 2011 apud FERREIRA, 2015).

No que se refere às consequências dos riscos psicossociais, estas podem ocorrer tan-
to nos níveis individuais como nos organizacionais. No nível individual, as principais con-
sequências dos riscos psicossociais são: a irritação, o cansaço, dificuldade de concentra-
ção, insônias, agressividade e aumento dos níveis de violência, aumento do consumo de
álcool, tabaco e drogas, tensão ao nível familiar e pessoal. podem também associar-se
à incapacidade de realização de tarefas e/ou atividades frente as exigências do trabalho,
dificuldade na tomada de decisões e problemas de memória. Pode-se considerar, ainda,
o aparecimento de sintomas psicossomáticos como dores de cabeça, problemas de es-
tômago e queda de cabelo. Especificamente, com relação à saúde mental, acrescenta-se
como possibilidades as depressões, esquizofrenia e paranoias.

No que tange ao nível organizacional, os riscos psicossociais podem provocar conse-


quências para a organização, tais como: o aumento da desmotivação por parte dos tra-
balhadores, elevação do nível de absenteísmo, redução da produtividade, acréscimo de
acidentes de trabalho, ambiente psicológico nos locais de trabalho prejudicado, aumento

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Fatores de Risco para a Saúde do
Trabalhador e Adoecimento no Trabalho

dos conflitos e de agressões, menor dedicação ao trabalho, aumento das queixas dos
clientes e aumento dos custos diretos e indiretos (ACT, 2012 apud FERREIRA, 2015).

Para melhor ilustrar os efeitos psicossociais negativos, sejam individuais ou orga-


nizacionais, Zanelli e Kanan (2018) desenvolveram um comparativo entre fenômenos
psicossociais negativos e positivos no contexto organizacional, conforme a Figura 2:

Fenômenos psicossociais negativos Fenômenos psicossociais positivos

• Assédio e violência
no trabalho • Bem-estar no trabalho
• Adicção ao trabalho • Comunicação
Ambiente Externo

Ambiente Externo
(workaholism) • Conciliação trabalho-família
Não saudável

• Consumo de álcool

Saudável
• Práticas positivas
e outras drogas de liderança
• Corrupção corporativa • Reciprocidade, recompensa
organizacional e reconhecimento
• Estresse e Burnout • Relacionamentos
• Depressão • Satisfação no trabalho
• Ansiedade • Sentido do trabalho
• Suicídio (e outros)
(e outros)
Ambiente Externo
Figura 2 – Organização de Trabalho

Até o momento nos detemos em estudar o que são fatores de riscos psicossociais relacio-
nados ao trabalho, os níveis individual, grupal e organizacional que estes abarcam, suas
implicações e consequências de modo mais ampliado. Como o nosso foco corresponde aos
fatores de riscos psicossociais, elencaremos aqui os fenômenos psicossociais negativos que
acometem as organizações de trabalho e que levam ao adoecimento, considerando os mais
apontados pela literatura e aceitos pela comunidade científica.

O Adoecimento no Trabalho
Estresse Negativo
O estresse tem ganhado relevância, especialmente no mundo do trabalho. A globa-
lização e a competitividade têm levado as organizações a demandarem de seus funcio-
nários maior dedicação ao trabalho, implicando em sobrecarga e excesso de horas de
trabalho, tudo em prol da produtividade e da eficiência. No entanto, não é raro que estas
demandas venham acompanhadas de condições de trabalho inadequadas e de recursos
insuficientes para que o trabalhador possa executar suas tarefas a contento, resultando
em estresse no trabalho.

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Ferreira (2014) enfatiza que o estresse ocupacional possui diversos significados e não
é compreendido igualmente por estudiosos no assunto. Para a autora, o estresse é uma
reação do indivíduo a uma adaptação, e pode gerar sintomas físicos, psicológicos e com-
portamentais. Com relação ao estresse ocupacional, afirma que “[...] é um processo em
que o indivíduo percebe demandas do trabalho como estressores que excedem sua ha-
bilidade de enfrentamento e provocam reações negativas” (FERREIRA, 2014, p. 120).
Na visão de Rothmann e Cooper (2017) o estresse ocupacional é sentido pelo indiví-
duo quando as exigências do local de trabalho extrapolam as possibilidades de resposta
adaptativa por parte deste. Nesse sentido, o grau de estresse dependerá da percep-
ção do sujeito quanto às demandas de uma situação e a sua capacidade de atendê-las.
Em outras palavras, o estresse ocorre quando a pessoa não consegue efetivamente aten-
der às demandas do trabalho, tais como: sobrecarga de trabalho, conflito de atribuições
no local de trabalho e más condições de trabalho.

Figura 3
Fonte: Getty Images

Segundo Ferreira (2014, p. 120), existem algumas condições do trabalho que podem
contribuir para o aparecimento do estresse: desenho das tarefas inadequado, estilo de
gerenciamento esquizofrênico ou opressor, relações interpessoais ruins, papéis no traba-
lho mal definidos ou superpostos, preocupações com a carreira, falta de estabilidade e,
finalmente, condições do ambiente físico inadequadas ou perigosas. A autora acrescenta,
ainda, que outras condições existentes podem levar ao estresse no trabalho e também a
outros problemas de saúde e segurança, às quais ela denomina fatores psicossociais do
trabalho, que são: o clima e a cultura da organização, as atividades laborais, as relações
interpessoais no trabalho, a forma e o conteúdo das tarefas.

E você, anda estressado(a)? Vamos fazer um teste:


Assinale os itens que têm sido frequentes em sua vida nos últimos três meses:
1. Dores de cabeça? ( ) Sim;
2. Insônia? ( ) Sim;
3. Transtornos alimentares, comer demais ou falta de apetite? ( ) Sim;
4. Dor na parte inferior das costas (região lombar)? ( ) Sim;

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5. Problemas com úlcera ou gástricos? ( ) Sim;


6. Mau humor? ( ) Sim;
7. Extremidades (mãos e pés frios)? ( ) Sim;
8. Nervosismo e/ou agressividade? ( ) Sim;
9. Palpitações (aceleração do coração)? ( ) Sim;
10. Dores nos músculos do pescoço e ombros? ( ) Sim.
Quanto mais itens você tiver assinalado, maior a chance de você estar estressado(a). Caso
você tenha assinalado seis ou mais itens, vale a pena repensar a vida e suas prioridades,
identificando os principais estressores e sua forma de lidar com eles (FERREIRA, 2014, p. 122).

Síndrome de Burnout
O burnout também é conhecido como síndrome do esgotamento no trabalho e, mui-
tas vezes, é facilmente confundido com o estresse, pois compartilham de características
comuns, tais como o cansaço e a falta de energia, além do sentimento de desgaste.
O que diferencia um do outro é que o burnout trata-se de um “[...] fenômeno ligado à ex-
posição prolongada ao estresse do ambiente de trabalho e à inadequação nas estratégias
de enfrentamento de situações conflitivas”. (ZANELLI; KANAN, 2018, p. 64)

Conforme Bernal (2010), o termo burnout foi utilizado pela primeira vez por
Freudenberg (1974) para explicar o processo de desgaste nos cuidados e na atenção pro-
fissional aos usuários de serviços de saúde, de educação, de amparo social, de bombeiro,
entre outros, independentemente de serem públicos ou privados. Contudo, foi Maslach
(1977) quem difundiu o termo em um congresso anual da Associação Norte-Americana
de Psicologia, quando referiu-se à situação cada vez mais comum entre os trabalhadores
do Serviço Social, os quais esgotavam-se poucos meses após o início no trabalho.

Para Maslach (1982 apud BERNAL, 2010) e Zanelli e Kanan (2018), a síndrome de
burnout é caracterizada por três componentes principais:
• Esgotamento emocional: sensação de não conseguir mais suportar –, sendo iden-
tificados o pessimismo, a irritabilidade e o desânimo;
• Despersonalização: atitude impessoal e negativa com os usuários –, implicando
cinismo, falta de empatia e distanciamento em relação ao outro;
• Falta de realização pessoal: sentimento de que o que se está fazendo profissio-
nalmente não traz realização –, resultando em percepção depreciativa da própria
competência, infelicidade e insatisfação com os resultados do trabalho.

No Brasil, o burnout foi reconhecido como uma doença relacionada ao trabalho em


1999 e afeta profissionais da área de serviços, especialmente, quando em contato com
seus usuários e em atividades de cuidado. Destacam-se, nesse contexto, os profissionais
da enfermagem e médicos, professores, agentes comunitários de saúde, policiais, agen-
tes penitenciários e, em menor escala, gestores, motoristas e cobradores de ônibus. Se-
gundo Tamayo (2015), no campo da Psicologia Organizacional e do Trabalho, o burnout

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tem sido estudado associado com fontes estressoras do ambiente laboral – sobrecarga de
trabalho, falta de suporte social –; com consequências organizacionais – absenteísmo,
insatisfação no trabalho –; com características funcionais – tempo de serviço, lotação,
jornada de trabalho –; entre outras.

Sintetizando, sob a perspectiva de Tamayo (2015, p. 145), pode-se afirmar que o burnout:
• É uma síndrome multidimensional, de caráter psicológico, desenvolvida como re-
ação ao estresse ocupacional crônico, que ameaça o bem-estar e a saúde mental
do indivíduo;
• É um fenômeno identificado em diferentes culturas;
• Apresenta manifestações nas esferas afetivas, cognitivas, físicas, comportamentais,
sociais, organizacionais e do trabalho;
• É considerada uma doença relacionada ao trabalho;
• É explicada a partir de abordagens teóricas individuais, interpessoais, organizacio-
nais e sociais;
• É mensurada mediante diversos instrumentos de autorrelato;
• É um assunto de interesse das diversas disciplinas, como a Psicologia Organizacio-
nal e do Trabalho.

Para melhor compreender a síndrome de burnout, assista ao este vídeo em que o médico
psiquiatra Hamer Palhares, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ex-
plica detalhadamente a síndrome de burnout. Disponível em: https://youtu.be/84vLLoyEvoA

Assédio Moral no Trabalho


Na literatura sobre o assunto, é possível identificar várias expressões para descrever
o assédio moral no trabalho, sendo utilizados termos como: assédio psicológico no tra-
balho, mobbing, terror psicológico, porém, no Brasil tem sido denominado de assédio
moral a partir do ano 2000. Assim como não há unanimidade quanto ao uso do termo,
existem também várias definições para o mesmo. Desta forma, optou-se pela definição
de Soboll (2015, p. 85), a qual caracteriza o assédio moral como “[...] um conjunto de
atos hostis no trabalho, que acontecem de forma continuada e repetitiva, os quais atin-
gem a dignidade e ofendem aquele que é alvo das hostilizações”.

Bernal (2010) acrescenta que, o que torna o fenômeno eficaz em seu objetivo de ani-
quilar a vítima é o fato de todo o grupo colaborar, seja por ação ou omissão, deixando
a pessoa sozinha e sem apoio. Tal fato resulta na perda de confiança em si e contribui
para o seu isolamento, o que reforça o processo contínuo de desvalorização pessoal.
Barreto (2000) refere que o assédio moral no trabalho ocorre mais comumente nas re-
lações verticais, ou seja, chefia-subordinado, mas nada impede que ocorra em relações
entre colegas, as quais chamamos de relações horizontais. Contudo, cabe ressaltar que
também poderá ocorrer de forma mista, incluindo chefia-subordinado-colegas.

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Fatores de Risco para a Saúde do
Trabalhador e Adoecimento no Trabalho

Leymann e Gustafsson (1996 apud BERNAL, 2010) constataram, através de estudos,


cinco tipos de sintomas em indivíduos que sofreram assédio moral no trabalho, que são:
• Efeitos cognitivos que representam desânimo, apatia, falta de iniciativa, irritação,
cansaço, agressividade, entre outros;
• Sintomas psicossomáticos que são os pesadelos, diarreias, dores abdominais, perda
de apetite, choro fácil;
• Sintomas relacionados com a produção dos “hormônios do estresse” que são dores
torácicas, sudorese, boca seca, palpitações entre outros;
• Sintomas relacionados com a tensão muscular que são dores na coluna, dores na
cervical e musculares; e
• Por fim, transtornos do sono como, por exemplo, insônia, despertar precoce
e pesadelos.

Para Davenport e colaboradores (1999 apud BERNAL, 2010), o assédio moral no


trabalho é visto como um processo e apresenta graus diferenciados, sendo o primeiro
aquele que o indivíduo consegue resistir, escapar ou reincorporar-se novamente ao pos-
to de trabalho ou em outro similar; no assédio de segundo grau o sujeito não consegue
resistir nem escapar imediatamente, sofrendo de uma incapacidade mental ou física, que
pode ser temporária ou prolongada, dificultando o retorno ao trabalho, e por último, o
assédio de terceiro grau acaba por afetar o indivíduo de modo que este não consegue
reincorporar-se ao trabalho, causando danos em grandes proporções, o que torna quase
improvável a sua reabilitação. Neste grau, os danos causados à vítima são extremamente
graves, sejam físicos ou psicológicos, incluindo depressão severa, violência a terceiros e
risco de suicídio.

Vários autores convergem para o ponto comum de que o assédio moral no traba-
lho afeta tanto a empresa quanto o funcionário. Segundo tais autores, trata-se de um
fenômeno sem benefícios, não há ganhos para nenhum dos lados. No que se refere à
organização, é possível apontar as despesas com demissões, afastamentos, baixa pro-
dutividade, rotatividade, absenteísmo, aposentadorias prematuras e exposição negativa
da marca da organização, entre outros (NUNES; TOLFO, 2013). Sob a perspectiva
individual, ou seja, para a pessoa agredida, segundo Hirigoyen (2010), existem poucas
agressões que causam danos psicológicos tão graves em curto prazo e consequências
em longo prazo que desestruturam tanto.

Assista ao programa Justiça do Trabalho na TV, produzido pelo Tribunal Regional do Traba-
lho de Santa Catarina, no qual o Prof. da Unicamp e um dos fundadores do site “Assedio-
Moral.org” José Roberto Heloani, discorre como o assédio moral ocorre nas organizações de
trabalho, disponível em: https://youtu.be/eGYA9ET_8_8

Considerando a realidade da empresa onde trabalha, no seu ponto de vista, você percebe
que o fenômeno do assédio moral poderá vir a afetá-lo(a) ou a seus colegas de trabalho?

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Uso de Álcool e Outras Drogas
O uso de álcool e outras drogas, sejam elas ilícitas, lícitas ou prescritas – no caso de
medicamentos como: ansiolíticos, analgésicos, morfina etc. –, são usadas de forma ina-
propriada por grande parte da população em idade ativa no mundo, ocorrendo em todas
as sociedades (ROTHMANN; COOPER, 2017). Segundo esses autores, o uso abusivo do
álcool é uma das principais fontes de problemas relacionados à saúde e de socialização.

Para Rothmann e Cooper (2017) o alcoolismo é uma síndrome que apresenta duas
fases: o problema com a bebida e o vício do álcool. A primeira fase vincula-se ao uso
repetitivo do álcool, sendo utilizado para reduzir a ansiedade e para aliviar algum pro-
blema emocional. Na segunda fase, trata-se de um vício real, semelhante ao que ocorre
logo após o uso repetido de outros sedativo-hipnóticos.

Por outro lado, Zanelli e Kanan (2018, p. 65) apontam que a dependência etílica
ocorre quando se apresentam “[...] sinais de tolerância e reações à abstinência, aliada
à perda de controle”. Para esses autores, o alcoolismo pode levar ao uso associado de
outras drogas, especialmente as psicoativas, as quais causam alteração no estado mental
e levam a danos biológicos, psicológicos e sociais.

No que diz respeito à dependência, Rothmann e Cooper (2017) caracterizam em dois


tipos: a dependência psicológica e a dependência física. O primeiro tipo abrange desde
sentimentos de satisfação até o desejo de repetir a ingestão da droga na expectativa de
ganhar prazer ou evitar o desconforto. Já a dependência física consiste em um estado
de adaptação a um determinado tipo de droga e vem acompanhado do desenvolvimento
da tolerância e se manifesta por meio da síndrome da abstinência.

De toda forma, muitos autores compactuam com a premissa de que o uso do álcool
e de outras drogas ou de ambas, traz prejuízos nos relacionamentos e na socialização
dos usuários. De acordo com o ponto de vista de Zanelli e Kanan (2018), o uso de álcool
e/ou outras drogas trazem para o ambiente laboral resultados negativos tais como: o
aumento de afastamentos do trabalho, mau desempenho profissional e baixa produtivi-
dade, elevam a probabilidade de acidentes de trabalho e aumentam a rotatividade.

Para compreender melhor a evolução do consumo de álcool no Brasil e seu impacto na


saúde, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) lançou a publicação intitulada
Álcool e a saúde dos brasileiros – panorama 2019. Para conferir os principais dados e
baixar a publicação acesse este link e se inscreva: http://bit.ly/2OgCP76

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UNIDADE
Fatores de Risco para a Saúde do
Trabalhador e Adoecimento no Trabalho

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Leitura
Riscos psicossociais no trabalho que podem levar ao estresse: uma análise da literatura
CAMELO, S. H. H.; ANGERAMI, E. L. S. Riscos psicossociais no trabalho que po-
dem levar ao estresse: uma análise da literatura. 2008.
http://bit.ly/2Y3NKpa
Factores de risco psicossociais para a saúde mental
MARTINS, M. C. A. Factores de risco psicossociais para a saúde mental. [20--].
http://bit.ly/2XWZARM
Riscos psicossociais e incapacidade do servidor público: um estudo de caso
SERAFIN, A. C. et al. Riscos psicossociais e incapacidade do servidor público: um
estudo de caso. 2012.
http://bit.ly/2Y10JYP
Assédio moral no trabalho: uma violência a ser enfrentada
TOLFO, S. R.; OLIVEIRA, R. T. Assédio moral no trabalho: uma violência a ser en-
frentada. Florianópolis, SC: UFSC, 2013.
http://bit.ly/2Y2NBC8

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Referências
AGUIAR COELHO, J. M. Gestão preventiva de riscos psicossociais no trabalho em
hospitais no quadro da união europeia. 2009. 453 f. Tese (Doutorado em Ciências
Sociais) - Universidade Fernando Pessoa. Porto, 2009. Disponível em: <https://bdigital.
ufp.pt/bitstream/10284/4678/1/19879%20-%20Tese.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2019.

BARRETO, M. M. S. Uma jornada de humilhações. 2000. 273 f. Dissertação


(Mestrado em Psicologia) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,
2000. Disponível em: <https://tede2.pucsp.br/handle/handle/17175>. Acesso em: 27
jun. 2019.

BERNAL, A. O. Psicologia do trabalho em um mundo globalizado. Porto Alegre,


RS: Artmed, 2010.

FERREIRA, A. B. R. Saúde no trabalho: uma avaliação de riscos psicossociais numa


empresa do ramo industrial. 2015. 132 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) -
Universidade Fernando Pessoa. Porto, 2015. Disponível em: <https://bdigital.ufp.pt/
bitstream/10284/4678/1/19879%20-%20Tese.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2019.

FERREIRA, P. I. Clima organizacional e qualidade de vida no trabalho. Rio de


Janeiro: LTC, 2014.

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