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Lei no 10.216, de 6 de abril de 2001.

Art. 1º Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que


trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor,
sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos
econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou
qualquer outra.

Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico
circunstanciado que caracterize os seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:
I - Internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;
II - Internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido
de terceiro; e
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.
Art. 7º A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve
assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de
tratamento.
Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do
paciente ou por determinação do médico assistente.
Art. 8º A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico
devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se
localize o estabelecimento.
§ 1º A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser
comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do
estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado
quando da respectiva alta.
§ 2º O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou
responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.
Art. 9º A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente,
pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do
estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e
funcionários.

O Movimento de Reforma Psiquiátrica Brasileiro - MRPB atualmente tem


pautado a lógica do cuidado e tratamento das pessoas com transtornos mentais, numa
perspectiva alicerçada nos direitos humanos, contrária ao encarceramento e crítica ao
modelo estigmatizante hospitalocêntrico, que desconsidera a história de vida do sujeito
e foca -se apenas na cura da doença. Em 2011, a Rede de Apoio Psicossocial (RAPS) foi
criada visando a garantia e ampliação do acesso aos serviços de saúde mental,
articulando-se com a rede numa perspectiva integral de cuidado. Cabral e Darosci
(2019) refletem a importância da RAPS para os cuidados em saúde mental e pontuam os
serviços ofertados por esta rede como sendo formados pelo CAPS (Centro de Atenção
Psicossocial), nas diferentes modalidades; Serviço Residencial Terapêutico (SRT);
Unidade de Acolhimento (adultos e infanto-juvenil); Enfermarias Especializadas em
Hospital Geral; Hospital Psiquiátrico; Hospital-Dia; Atenção Básica; Urgência e
Emergência; Comunidades Terapêuticas; e Ambulatório Multiprofissional de Saúde
Mental. É inegável que o MRPB moldou um novo olhar de tratamento e cuidado mais
humanizado para as pessoas com sofrimento psíquico, desvelando os estigmas sobre a”
loucura” e trouxe para cena um modelo de tratamento fundamentado nos princípios dos
Direitos Humanos, defendendo práticas que preservem a dignidade desses sujeitos e que
acima de tudo se contraponha a práticas de isolamento, repressão e controle.
A presença de transtornos mentais, relacionados ao uso de drogas, tem sido demonstrada por
meio de estudos nacionais e internacionais. Dentre as evidências verificadas, está o abuso de
substâncias psicoativas, que pode resultar em complicações para o meio familiar e social do
usuário, além de apresentar altos índices de morbimortalidade, especialmente quando
associado a complicações psiquiátricas. Quanto às substâncias psicoativas, o álcool é droga
lícita bastante utilizada pela população mundial, sendo que suas repercussões estão
relacionadas a sintomas de depressão, ansiedade e hipomania/mania, durante os períodos de
intoxicação e de abstinência. Pesquisadores apontaram a dependência do álcool com altos
índices entre a população, configurando taxa de 14,9%, seguida pela depressão maior (13%),
distimia (4,9%), transtorno bipolar e outros. Em estudo realizado no ano 2011, com 149
pacientes dependentes químicos, no Paraguai, foi constado que os principais transtornos
relacionados ao uso de substâncias psicoativas foram: depressão (17,4%), ansiedade (17,4%) e
transtorno bipolar (15%). O uso abusivo de cocaína é igualmente relacionado ao transtorno
depressivo, como constatado em estudo. O crack, variedade fumada da cocaína, tem sido a
droga preferencialmente escolhida por muitos, dada sua acessibilidade econômica, informação
também revelada neste estudo em virtude da elevada prevalência quanto ao desenvolvimento
de psicopatologias.

De modo geral, os transtornos por uso de substâncias incluem padrões de


comportamento nos quais a pessoa continua a usar a substância (por exemplo, uma
droga recreativa) apesar dos problemas causados pelo seu uso.
As substâncias envolvidas tendem a fazer parte das dez classes de drogas que
normalmente causam transtornos por uso de substâncias:
 Álcool
 Medicamentos ansiolíticos e sedativos
 Cafeína
 Canabis
 Alucinógenos (incluindo LSD, fenciclidina, psilocibina, 3,4
metilenodioximetanfetamina [MDMA])
 Inalantes/Solventes (como solvente de tinta e alguns tipos de cola)
 Opióides (incluindo fentanil, morfina e oxicodona)
 Estimulantes (incluindo anfetamina e cocaína)
 Tabaco
Todas essas substâncias ativam diretamente o sistema de recompensa do cérebro e
causam sensações de prazer. Essa ativação pode ser tão forte que as pessoas sentem um
desejo intenso pela substância. Elas podem negligenciar atividades normais para
adquirir e usar a droga. Essas substâncias também causam efeitos fisiológicos diretos,
incluindo
 Intoxicação
A intoxicação se refere aos efeitos imediatos e temporários de uma droga específica.
A intoxicação prejudica a função mental e o bom senso da pessoa e pode causar
alterações do humor. Dependendo da droga, a pessoa pode sentir empolgação ou uma
sensação exagerada de bem-estar (ou euforia) ou podem se sentir mais calmas,
relaxadas e sonolentas.
Muitas drogas afetam o funcionamento físico e a coordenação, dando origem a
quedas e a acidentes com veículos. Algumas drogas levam a um comportamento
agressivo e a brigas. À medida que quantidades maiores da droga são usadas (chamada
de superdosagem), os efeitos adversos ficam mais óbvios, causando sérias complicações
e risco de morte.
A tolerância significa que as pessoas precisam de uma quantidade cada vez maior de
uma droga para poderem sentir os efeitos originalmente causados por uma quantidade
menor. A pessoa pode desenvolver uma enorme tolerância a drogas.
 Abstinência
A abstinência diz respeito a sintomas que aparecem quando a pessoa para de tomar a
substância ou toma uma quantidade muito menor do que a normal. A abstinência dá
origem a diversos sintomas desagradáveis que variam dependendo da substância
envolvida. A abstinência de algumas drogas pode ser séria e até mesmo trazer risco de
morte. A maioria das pessoas que sofre de abstinência sabe que tomar uma quantidade
maior da substância causará a diminuição dos sintomas.
A abstinência depende somente do tipo de substância e por quanto tempo ela tem
sido usada, e não se a pessoa tem um transtorno por uso de substâncias, se está usando a
substância de maneira recreativa ou se a substância é ilícita. Algumas drogas vendidas
com receita, principalmente os opioides, sedativos e estimulantes, podem resultar em
sintomas de abstinência mesmo quando tomadas conforme receitado para uma
finalidade médica legítima e por períodos relativamente curtos (menos de uma semana,
no caso de opioides).
Antigamente, as pessoas que apresentavam sintomas de abstinência eram chamadas
de dependentes físicos de uma substância. Contudo, a palavra “dependência” tem uma
conotação negativa que sugere o uso de drogas ilícitas; portanto, os médicos preferem
evitar usar esta terminologia.
Os transtornos de saúde mental induzidos por substâncias são alterações mentais
originadas pelo uso ou abstinência de uma substância que se parecem com transtornos
psiquiátricos, tais como depressão, psicose ou ansiedade.
Para que um transtorno de saúde mental seja considerado induzido por substâncias,
é preciso haver conhecimento prévio de que a substância envolvida é capaz de causar o
transtorno.
As características psicológicas não são um fator claramente importante, embora
pessoas cuja capacidade de autocontrole (impulsividade) é baixa ou apresentam altos
níveis de comportamento arriscado e que buscam por novidades podem ter um risco
maior de desenvolver um transtorno por uso de substâncias. Contudo, existem
pouquíssimas evidências científicas que oferecem respaldo ao conceito de uma
“personalidade viciante” que foi descrito por alguns cientistas comportamentais.
Diversas circunstâncias e transtornos coexistentes parecem aumentar o risco de
desenvolver um transtorno por uso de substâncias.
As pessoas com outros transtornos de saúde mental não relacionados, têm um risco
maior de desenvolver um transtorno por uso de substâncias (os médicos usam o termo
“diagnóstico duplo” quando se referem a pessoas que têm tanto um transtorno de saúde
mental como um transtorno por uso de substâncias).
O vício provavelmente tem muitas causas, algumas das quais são genéticas e
outras são epigenéticas (efeitos dos comportamentos e do ambiente transportados com
os genes). A pesquisa sobre anomalias genéticas específicas varia de acordo com a
substância específica. Os pesquisadores encontraram poucas diferenças bioquímicas ou
metabólicas entre as pessoas que desenvolvem e que não desenvolvem o transtorno por
uso de substâncias.
Fatores culturais e sociais são muito importantes para iniciar e manter o uso da
substância (ou voltar a usá-la). Presenciar familiares (p. ex., pais, irmãos mais velhos) e
colegas usando as substâncias aumenta o risco de a pessoa começar a usá-las. Os
amigos exercem uma influência particularmente forte entre os adolescentes. As pessoas
que estão tentando parar de usar uma substância têm muito mais dificuldade em fazê-lo
se estiverem ao redor de pessoas que também usam aquela substância.
Os médicos podem inadvertidamente contribuir para o uso nocivo de medicamentos
psicoativos ao receitá-los excessivamente para aliviar o estresse. Muitos fatores sociais,
incluindo a comunicação em massa, contribuem com a expectativa de que é necessário
usar drogas para aliviar todas as formas de perturbação.
O transtorno por uso de substâncias é diagnosticado quando as pessoas vão a um
profissional de saúde porque querem ajuda para parar de consumir a droga. Outras
pessoas tentam esconder que estão usando drogas e o médico pode suspeitar que existe
um problema de uso de droga quando percebem alterações no comportamento da
pessoa. Às vezes, o médico descobre sinais de uso de substâncias durante um exame
físico. Os profissionais de saúde também usam outros métodos (como questionários)
para identificar um transtorno por uso de substâncias. Exames de urina e, às vezes,
exames de sangue podem ser realizados em determinadas circunstâncias para detectar a
presença de drogas.
Critérios para diagnóstico
Os critérios usados para diagnosticar um transtorno por uso de substâncias estão
divididos em quatro categorias. Considera-se que uma pessoa tem um transtorno por uso
de substâncias se ela atender a dois ou mais dos critérios a seguir dentro de um período
de 12 meses:
 A pessoa não consegue controlar o uso da substância.
 A capacidade da pessoa de cumprir com suas obrigações sociais é prejudicada
pelo uso da substância.
 A pessoa usa a substância em situações fisicamente perigosas.
 A pessoa mostra sinais físicos de uso e/ou dependência.
 Incapacidade de controlar o uso
 A pessoa toma uma quantidade maior da substância ou por um período maior
que o inicialmente planejado.
 A pessoa deseja parar ou diminuir o uso da substância.
 A pessoa passa muito tempo tentando adquirir, usando ou se recuperando dos
efeitos da substância.
 A pessoa sente desejo pela substância.
 A pessoa não cumpre suas principais funções no trabalho, escola ou em casa.
 A pessoa continua a usar a substância apesar de ela causar (ou piorar) os
problemas sociais ou interpessoais.
 A pessoa desiste ou diminui atividades sociais, ocupacionais ou recreativas
importantes devido ao uso de substâncias.
 A pessoa usa a substância em situações fisicamente perigosas (p. ex., dirigindo
ou em circunstâncias sociais perigosas).
 A pessoa continua a usar a substância apesar de saber que ela está piorando um
problema médico ou psicológico.
Sintomas físicos
Tolerância: A pessoa precisa usar uma quantidade cada vez maior da substância para
sentir o efeito desejado.
Abstinência: Efeitos físicos desagradáveis que ocorrem quando a substância é
interrompida ou quando outra substância é usada para combatê-la

Ponto crucial para a prevenção e/ou tratamento de transtornos mentais em dependentes


químicos se dá por meio da aplicabilidade do cuidado sistematizado e em parceria entre os
membros da equipe multiprofissional.

 aria dependendo da substância e das circunstâncias

O tratamento específico depende da droga sendo usada, mas


normalmente envolve psicoterapia e, às vezes, envolve o uso de
outras drogas. O suporte da família e grupos de suporte ajudam
as pessoas a não desistirem de parar de consumir a droga.

Os transtornos por uso de substâncias se tornaram generalizados


e têm causado um número crescente de mortes. Em resposta a
essa epidemia crescente, muitas organizações criaram programas
de redução de danos para oferecer educação, aconselhamento e
encaminhamento para tratamento. Seu objetivo é reduzir o dano
causado pelo uso de drogas em usuários que não conseguem
parar. Algumas oferecem linhas telefônicas diretas de
abrangência nacional.

Uma vez que o compartilhamento de agulhas é uma causa


comum de infecção por HIV, hepatite e outras infecções, alguns
programas de redução de danos fornecem agulhas e seringas
limpas para que as pessoas não reutilizem as agulhas de outros.
Essa estratégia ajuda a reduzir a disseminação (e o custo para a
sociedade) dessas infecções.

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