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CURSO PREPARATÓRIO

TÍTULO
Atuação do psicólogo no CAPS AD

Profª
João Vinícius
ESTUDO DIRIGIDO PSI CURSO PREPARATÓRIO

Introdução
A discussão sobre a atuação do psicólogo no CAPS AD será realizada a partir do
texto “A atuação do psicólogo no centro de atenção psicossocial voltado para álcool e
outras drogas (capsad): os desafios da construção de uma clínica ampliada” de
SCHNEIDER, CERUTTI, MARTINS & NIEWEGLOWSKI. O texto de 2014 foi
escrito por pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina e publicado na
Revista Eletrônica de Extensão. Tem como objetivo discutir a inserção do psicólogo em
um CAPS Ad a partir de uma experiência de estágio no CAPS Ad Continente em
Florianópolis.
As autoras iniciam o texto apresentando o Programa Nacional de reorientação da
formação profissional em saúde (PRÓ-SAÚDE) lançado em 2007 pelos Ministérios da
Saúde e da Educação com o objetivo de qualificar profissionais para a atuação no
Sistema Único de Saúde (SUS) e o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde
(PET- SAÚDE) que visa ser um instrumento de qualificação em serviço dos
profissionais da saúde, bem como aos estudantes dos cursos de graduação na área da
saúde. Ambos os programas tem como referência a integração ensino-serviço.

Reforma Psiquiátrica
As autoras destacam a influência da reforma psiquiátrica italiana e da “História
da Loucura” de Foucault na reforma brasileira. Situam a Reforma Psiquiátrica no Brasil
no final dos anos 1970 com a crise do modelo hospitalar de assistência e com o
surgimento de movimentos (como o Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental)
que lutavam pelo resgate da cidadania e dos direitos humanos dos pacientes
psiquiátricos, através de práticas de reabilitação psicossocial. Nesse contexto havia uma
séria de denúncias da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura e da
hegemonia de uma rede privada de assistência.
Dois marcos destacados no processo de Reforma Psiquiátrica é aprovação da Lei
10.216 em 2001 que redireciona o modelo assistencial em saúde mental no Brasil e
busca garantir a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais e a 3ª
Conferência Nacional de Saúde Mental em 2001 que consolidou a Reforma Psiquiátrica
como política de governo.
Nesse contexto a Política de Saúde Mental passa a propor a substituição do
hospitais psiquiátricos por uma rede de atenção à saúde mental formada pelos Centros

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de Atenção Psicossocial (CAPS), residências terapêuticas, ambulatórios de saúde


mental, centros de convivência e cultura, emergências psiquiátricas em hospitais gerais
e atendimento na atenção básica.
Os CAPS passam a assumir um papel estratégico na articulação de redes de
cuidado substitutivas ao manicômio e se dividem nas seguintes modalidades:
1) CAPS I: Atendem adultos com transtornos mentais severos e persistentes. São
os centros de menor porte, oferecidos a municípios com população entre 20.000
e 50.000 habitantes.
2) CAPS II: Atendem adultos com transtornos mentais severos e persistentes.
São serviços de médio porte, oferecidos a municípios com mais de 50.000
habitantes.
3) CAPS III: São serviços para atendimento diário e noturno de adultos, durante
sete dias da semana, atendendo à população de referência com transtornos
mentais severos e persistentes. São os centros de maior porte, oferecidos a
municípios com mais de 200.000 habitantes
4) CAPSi: São centros para atendimento de crianças e adolescentes com
transtornos mentais. São oferecidos para municípios com mais de 200.000
habitantes.
5) CAPSad: Atendem pessoas com transtornos decorrentes do uso de álcool e
outras drogas. Esse tipo de serviço possui leitos de repouso para desintoxicação.
São oferecidos para municípios com mais de 2000.000 habitantes.

Sistema Único de Saúde (SUS)


O SUS foi instituído pelas leis n° 8.080/90 e n° 8.142/90. Os princípios
doutrinários do SUS asseguram que a saúde seja um direito de todos:
• Universalidade (garante a todas as pessoas, sem discriminação, o direito
de atenção à saúde);
• Integralidade (o indivíduo deve ser visto como um sujeito integral, para
que todas essas dimensões possam ser atendidas com ações voltadas a
promover, proteger e recuperar à sua saúde);
• Equidade (certificar ações e serviços de todos os níveis de acordo com
complexidade e necessidade).

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As diretrizes organizativas do SUS visam garantir o funcionamento dos


princípios doutrinários:
• Regionalização e hierarquização dos serviços (os serviços devem ser
organizados em níveis de complexidade tecnológica crescente,
permitindo um conhecimento maior dos problemas de saúde da
população da área delimitada).
• Participação comunitária (visa garantir que a população seja ativa no
processo de formulação das políticas de saúde e do controle de sua
execução).
• Descentralização (redistribuição das responsabilidades entre as esferas de
governo – União, Estado e Município - com ênfase na municipalização
da gestão).

O funcionamento do CAPS AD Continente


Todos os usuários ao chegarem passam pelo acolhimento. Este tem como
objetivo de, através de uma escuta qualificada, transformar a queixa / problema em uma
proposta de tratamento. O acolhimento precisa favorecer a construção de uma relação
de confiança e compromisso dos usuários com o profissional, na atitude de acolher suas
diferenças e seus modos de viver.
O objetivo da avaliação Inicial é acordar o Projeto Terapêutico Individual (PTI).
Na construção do PTI, deve-se considerar a estratégia de redução de danos.
Há três modalidades de PTI:
• Intensivo (atendimento diário, o sujeito encontra-se em situação de crise
ou dificuldades intensas)
• Atendimento Semi-Intensivo (quando a dificuldade diminuiu, mas ainda
necessita de atenção direta)
• Atendimento Não-Intensivo (não precisa de suporte contínuo da equipe).

O papel do psicólogo na equipe do CAPS AD


A inserção da psicologia no campo da saúde é descrita pelas autoras como
recente e por isso ainda atravessada por muitas incertezas, ainda que com muitos
avanços. Para elas a maioria dos psicólogos que entra no campo de saúde tem como

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referência o modelo clínico tradicional que foi historicamente privilegiado na


graduação.
Há necessidade que os modelos teóricos que embasam a atuação no CAPS se
aproximem de referenciais prático-teóricos mais amplos como os da saúde coletiva. É
necessário que o CAPS não seja visto como uma especialidade da saúde mental, e sim
como um dispositivo que complementa a atenção integral à saúde.

O fenômeno do uso de drogas e a intervenção do psicólogo


Várias são as razões do uso social de álcool e outras drogas. A dependência pode
afetar diferentes pessoas, em diferentes contextos e situações. Diante disso, cada usuário
deve ser respeitado em sua diferença e a maneira que irá administrar seu tratamento.
É necessário ampliar uma compreensão de saúde que seja mais próxima da
realidade dos sujeitos para isso é importante incluir sua compreensão de saúde e de
mundo. “É preciso entender o contexto do surgimento e agravamento do alcoolismo
e/ou outras drogas; estar a par do contexto social e configurações familiares; e, além
disso, conhecer as condições individuais, materiais e culturais que determinam a
qualidade do acesso à informação e aos recursos de saúde, como por exemplo, o
trabalho precoce, abandono da escola” (p. 108).

A clínica ampliada
Na atuação no CAPS AD é necessária a construção de uma clínica psicossocial
que considera o sujeito em suas múltiplas dimensões, uma clínica ampliada. O
profissional que trabalha com saúde mental deve superar a visão de que as causas do
uso prejudicial de substâncias são apenas de ordem individual, separadas das diversas
relações que o indivíduo vive.
A clínica ampliada tem suas ações voltadas para o compromisso radical com o
usuário do serviço, assumindo a responsabilidade sobre ele e buscando ajuda em outros
setores. Para que esse cuidado em saúde mental vá ao encontro da perspectiva da clínica
ampliada, o profissional deve ter como instrumento de trabalho a rede de relações do
sujeito.

Considerações finais

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Os currículos da graduação não estão compatíveis com as exigências do contexto


atual, tendo como consequência a falta de conhecimento, por parte de alguns
psicólogos, sobre o papel e função que estes possuem dentro da rede pública de saúde.
O grande desafio está na tentativa de reformular e elaborar novas formas de atuação,
focando nas relações entre indivíduos, e entre estes e a sociedade.
É preciso abandonar o paradigma de perceber o paciente como um alvo único da
intervenção, e o profissional como o único recurso possível. O psicólogo deve trabalhar
visando não somente dar suporte a dependência de álcool e outras drogas, mas tendo a
preocupação com o fortalecimento da rede de apoio desse usuário.
O tratamento não pode ficar restrito à lógica da abstinência. É preciso estar
atento as demandas como necessidades de emprego, moradia ou resolução de conflitos
familiares, por exemplo.

Referências bibliográficas
SCHNEIDER, D.R.; CERUTTI, M.G.; MARTINS, M.T.; NIEWEGLOWSKI, V.H. A
atuação do psicólogo no centro de atenção psicossocial voltado para álcool e outras
drogas (capsad): os desafios da construção de uma clínica ampliada. R. Eletr. de
Extensão, ISSN 1807-0221 Florianópolis, v. 11, n. 17, p. 101-113, 2014. Disponível
em: https://doi.org/10.5007/1807-0221.2014v11n17p101

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