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PRINCÍPIOS NORTEADORES DA PRÁTICA

PSICOLÓGICA NA ATENCÃO BÁSICA: EM BUSCA DA

INTEGRALIDADE
Professoras: Andréa Toledo
Mirelle Ivy
INTRODUÇÃO
• Campo da saúde abre suas portas à Psicologia:

• Contribuições na área da saúde mental;


• Compreensão do processo do adoecimento;
• A inserção do psicólogo em instituições de saúde: (Unidades básicas de saúde – UBS;
Estratégia Saúde da Família - ESF);
• Respondem à nova visão estabelecida sobre o processo saúde-doença;
• Não se refere à saúde apenas como ausência de doença, mas como fruto da relação entre
um conjunto de fenômenos físicos, psíquicos e socioeconômicos a que estão submetidos os
indivíduos.

(Rutsatz & Câmara, 2006)


REFLEXÕES – POLÍTICAS
PÚBLICAS

Brasil (1986): 8ª Conferência Nacional de Saúde:

• Sistema público de saúde:


Propõe atender a toda a população. Esse sistema se transformou no atual
Sistema Único de Saúde (SUS): princípios da universalidade, igualdade e
integralidade dos serviços, garantindo, através de seu reconhecimento na
Constituição Federal de 1988, a saúde como dever do Estado e direito de todos
os cidadãos.

(Feuerwerker, 2005)
DESAFIOS – POLÍTICAS
PÚBLICAS
• SUS:
• Estruturação de um novo modelo tecnoassistencial em saúde;
• Substituir o modelo individual-assistencialista.

• Modelo hegemônico (positivismo, objetividade da ciência):


• Prioriza a formação profissional voltada para o enfoque curativo,
• Desenvolvido com base na visão hospitalocêntrica e medicamentalizante (médico
como centro).
DESAFIOS – POLÍTICAS
PÚBLICAS

Portaria n. 154, 24/01/2008: Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF):


• Vários profissionais de diferentes áreas de conhecimento (assistentes sociais,
fonoaudiólogos, nutricionistas, educadores físicos, farmacêuticos, terapeutas
ocupacionais, psicólogos);
• Objetivos:
• Ampliar a abrangência e o foco das ações da Atenção Básica;
• Garantir a plena integralidade no cuidado dos usuários que compõem o SUS.
DESAFIOS – POLÍTICAS
PÚBLICAS
• Função dos apoiadores matriciais:

Promover uma relação dialógica entre profissionais e usuários e criar possibilidades de ações que garantam a
integralidade do atendimento.

Apesar de algumas unidades básicas de saúde já contarem com a presença de alguns psicólogos em seus
serviços, é nesse quadro de matriciamento e trabalho interdisciplinar que a Psicologia tem sido convocada,
atualmente, a participar.

O matriciamento ou apoio matricial é um modo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, num
processo de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica.

(Conselho Regional de Psicologia-SP [CRP- SP], 2009)


DESAFIOS – POLÍTICAS
PÚBLICAS
ATENÇÃO BÁSICA OU ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
É conhecida como a "porta de entrada" dos usuários nos sistemas de saúde
(atendimento inicial).
Objetivo: orientar sobre a prevenção de doenças, solucionar os possíveis casos de
agravos e direcionar os mais graves para níveis de atendimento superiores em
complexidade. Funciona como um filtro capaz de organizar o fluxo dos serviços nas
redes de saúde, dos mais simples aos mais complexos.
*Agravos a saúde: danos a integridade física, mental e social dos indivíduos, provocados por
doenças ou circunstancias nocivas, como acidentes, intoxicações, abuso de drogas e lesões auto ou
heteroinfligidas.
DESAFIOS – POLÍTICAS
PÚBLICAS
eMulti
Ministério da Saúde inaugura uma mudança na organização da atenção básica do
SUS. Sai a política dos Núcleos de Atenção à Saúde da Família (NASF) e entram as
Equipes Multiprofissionais na Atenção Primária à Saúde. As mudanças visam ampliar
as ações das chamadas Equipes de Saúde da Família, que reúnem uma gama de
profissionais que conformam o contato inicial do usuário com o sistema de saúde.

Portaria GM/MS nº 635, de 22 de maio de 2023: estabelece as diretrizes para custeio


e implantação das equipes multiprofissionais: as eMulti, que serão classificadas em 3
modalidades de acordo com a carga horária, vinculação e composição profissional.
DESAFIOS – POLÍTICAS PÚBLICAS
eMulti

Serão divididas em três categorias:


Necessidades epidemiológicas, densidade populacional e
vulnerabilidade de cada território.
eMulti são classificadas em: Equipe Multiprofissional Ampliada
(300 horas semanais e 10 a 12 equipes vinculadas);
Complementar (200 horas semanais e 5 a 9 equipes vinculadas);
e Estratégica (100 horas semanais e 1 a 4 equipes vinculadas).
DESAFIOS – POLÍTICAS PÚBLICAS
eMulti

Equipes que podem contar com até 22 especialidades da área da


saúde.
São especialistas que estarão nas unidades básicas de saúde, no
bairro onde essas pessoas vivem. Em termos práticos, evita-se o
deslocamento das pessoas para atendimento e melhora-se a
capacidade de atender os problemas de saúde localmente, na
unidade básica do bairro dessas pessoas.
Mais dinamismo e qualidade aos atendimentos.
DESAFIOS – POLÍTICAS PÚBLICAS
eMulti

• Operam de maneira complementar e integrada às outras equipes que


atuam na Atenção Primária à Saúde (APS):
• equipe de Saúde da Família - eSF;
• equipe de Saúde da Família Ribeirinha - eSFR;
• equipe de Consultório na Rua - eCR;
• equipe de Atenção Primária - eAP;
• equipe de Unidade Básica de Saúde Fluvial - UBSF
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

- Décadade 60 (Brasil): reconhecimento da profissão;


- Atividades ligadas à prática psicológica no campo da saúde pública já eram
datadas dos anos 30 no País.

- Atividades psicológicas:
- Compromisso com a ideologia dominante,
- Ações voltadas para a aplicação de técnicas psicométricas e psicodiagnósticas,
- Controle e normatização dos sujeitos.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

• Medicina sanitarista (anos 40 e 50):


• Necessidade de educar a população: responsabilidade na aquisição de certas
enfermidades.
• Prática psi se estende à saúde das classes populares: saúde do trabalhador e saúde
materno-infantil.
• Psicologia adentra pela arena da saúde pública:
- Anos 60 (regulamentação da profissão);
- Popularização da psicanálise;
- Introdução e hegemonização do modelo assistencial-privatista.
- Fortalecimento da visão biomédica e do modelo hospitalocêntrico.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

- Anos 70/80:
Psicólogo, no SUS:
- Romper a dicotomia entre a saúde física e a saúde mental;
- Buscar diálogo com outros saberes (principio da integralidade do atendimento)
- Assumir novas posturas tanto em relação à sua ideia de sujeito, visto agora como um
ente ativo e participativo, como à ideia de sociedade, em que a noção de coletivo deve
permear suas práticas.

Crítica: arcabouço teórico e prático insuficiente e inadequado ao exercício demandado


por esse novo fazer em saúde.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

Estudo realizado com psicólogos que atuam em serviços de atenção primária à saúde

Motivos para atuarem no contexto da ABS:


Tanto os psicólogos das UBS/ESF (05) quanto os apoiadores matriciais (04):
- Interesse pessoal.
- Oportunidade de se inserir no mercado de trabalho.
(identificação, carreira e inserção laboral).

- Princípios que servem de guia à atuação nesse contexto:


1) princípios e diretrizes do SUS;
2) valores pessoais;
3) concepção de saúde.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL
Estudo realizado com psicólogos que atuam em serviços de atenção primária à saúde

Princípios e diretrizes do SUS:

- Grupo dos apoiadores matriciais apresentou pontuação significativa:


Possuem formação complementar à graduação, especialmente, em cursos que compreendiam discussões
sobre políticas de saúde e o SUS.

- Psicólogos das UBS/ ESF:


Maioria não apresenta nenhuma formação acadêmica com relação ao SUS;
Contato no dia a dia com discussões e reflexões pode ter acarretado certo grau de conhecimento desses
aspectos pelo grupo.
A consciência sobre a importância dos princípios para as atuais intervenções em saúde: relacionada mais à
prática do que a discussões científicas.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS
PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

Estudo realizado com psicólogos que atuam em serviços de atenção primária à


saúde

Soluções rápidas para o problema da má formação profissional para a atuação no SUS:

Ministério da Saúde lançou a Política Nacional da Educação Permanente em Saúde


(PNEPS):
Objetivo - produzir reflexão e análise crítica sobre os processos de formação e de
trabalho a que estão submetidos esses indivíduos, de maneira a promover
transformações e melhores qualificações nas práticas em saúde
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

Estudo realizado com psicólogos que atuam em serviços de atenção primária à


saúde

- Valores pessoais:

Mais significativa para os psicólogos das UBS/ ESF do que para os apoiadores
matriciais.

Tal diferença não surpreende, uma vez que, sem o domínio dos conceitos e com uma
formação deficiente no que tange ao SUS, é justificável que os psicólogos das UBS/ESF
baseiem sua atuação em aspectos pessoais e socialmente aceitáveis.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

Estudo realizado com psicólogos que atuam em serviços de atenção primária à


saúde

- Concepção de saúde:

1. Mais significativa para os psicólogos das UBS/ ESF que para os apoiadores
matriciais.
2. Saúde ligada à noção de bem-estar e de equilíbrio do corpo.
3. OMS: concebe a saúde como um estado de completo bem-estar, físico, psicológico e
social.

Com base em tal definição, compreende-se dever empregar, nas intervenções em saúde,
a noção de facilitadora e/ou provedora do equilíbrio entre esses fatores.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

Estudo realizado com psicólogos que atuam em serviços de atenção primária à


saúde

- Concepção de saúde:

1. Estática e dicotômica à doença: desconstruída quando se leva em consideração a


complexidade que envolve o fenômeno do adoecimento.

2. A utilização de conceitos como, por exemplo, promoção de saúde e qualidade de


vida vem resgatar não só a importância de se intervir na multiplicidade de elementos
que influenciam o estar doente (e não somente a cura do corpo) mas também de
ressaltar os próprios indivíduos como sujeitos ativos nesse processo.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

Estudo realizado com psicólogos que atuam em serviços de atenção primária à


saúde

Psicologia: atuação não pode se limitar às intervenções em saúde mental, mas envolver
todas as relações possíveis entre essa variável psicológica e as demais que envolvem o
processo saúde-doença.

No caso particular deste estudo: esses profissionais ainda se utilizam de práticas


ligadas ao pensamento individual-curativista, referente ao modelo biomédico,
entrelaçadas aos ideais de promoção de saúde pregados pelo SUS e ao seu novo
modelo de atenção em saúde.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

Estudo realizado com psicólogos que atuam em serviços de atenção primária à


saúde

Mesmo tendo todos os requisitos formadores e práticos necessários ao exercício


profissional em determinado contexto, o indivíduo precisa se sentir capaz de conseguir
realizá-lo.

Conhecer a percepção que os psicólogos possuem com relação à sua capacidade


profissional pode ser um fator crucial na tentativa de se compreender como esses
mecanismos internos poderiam estar influenciando o seu comportamento, no sentido
de motivá-los ou de acomodá-los em sua prática no contexto da ABS.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

Estudo realizado com psicólogos que atuam em serviços de atenção primária à saúde

Práticas fundamentais para os Psicólogos da Atenção Básica à Saúde:

• Conhecimento e experiências acumuladas em seu percurso profissional, somados às avaliações que
fazem dessas práticas.

Principais problemas relacionados à inserção do psicólogo no contexto da saúde:

• A falta de instrumentos e de direcionamentos técnico-metodológicos ao seu exercício.

IMPORTANTE: profissionais se apoiem no seu cotidiano e na suas experiências com colegas de trabalho/
profissão para construírem e apreenderem esse novo fazer psi.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

Estudo realizado com psicólogos que atuam em serviços de


atenção primária à saúde

Considerações Finais

• Reconhecimento das deficiências das instituições formadoras;


• Reestruturação dos cursos de graduação.

Profissionais de Psicologia:
• Reconhecerem a necessidade de mudança e se perceberem como
elementos influenciadores e de transformação.
A PSICOLOGIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL

“Atuar nos serviços primários à saúde


implica, assim, não só ter
conhecimento, capacidade técnica e
espaço aberto à atuação, mas,
principalmente, o desejo de lutar e
agir em busca de verdadeiras
transformações sociais.”

(FREIRE; PICHELLI, 2010)


REFERÊNCIAS

FREIRE, Francisca Marina de Souza; PICHELLI, Ana Alayde Werba Saldanha. Princípios norteadores da
prática psicológica na atencão básica: em busca da integralidade. Psicologia: Ciência e Profissão, [S.L.], v. 30,
n. 4, p. 840-853, dez. 2010. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1414-98932010000400013.

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