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EDUCAÇÃO EGESTÃO:

EXTRAINDO SIGNIFICADOS DA BASE LEGAL'


Sofia Lerche Vie/ra

Só existirá democracia no Brasil no dia em que se


montar no país a máquina que prepara as democracias.
Essa máquina é a da escola pública.
Anís/o Te/xe/ra

O interesse pela gestão no campo educacional tem sido crescente nos últimos
anos, refletindo-se tanto no incremento do número de publicações a respeito do
tema, quanto na oferta de cursos dos mais diversos matizes orientados para a
formação daqueles que, de uma forma ou de outra, estão às voltas com a direção
de escolas. O presente ensaio pretende contribuir para este debate, refletindo sobre
três dimensões da gestão - a gestão educacional, a gestão escolar e a gestão
democrática. Para tanto, recorre a elementos extraídos da base legal, situando
aspectos relativos a cada um desses temas. Em qualquer campo de atuação, a gestão
é atividade meio cuja existência articula-se a uma atividade fim. No caso dos sistemas
educativos, reporta-se sempre a iniciativas voltadas para o ensinar e o aprender em
espaços escolares. Compreender suas faces e interfaces é uma forma de situar •a
escola em relação a limites, possibilidades e desafios que lhe são postos.
Comecemos por observar algo bastante óbvio. A educação, tal como a saúde,
o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância e a assistência aos desamparados, é um direito social assegurado a todos os
brasileiros pela Constituição Federal (CF), promulgada em 1988 (Art. 6°). O direito
à educação se viabiliza por meio da escola. Embora existam manifestações e práticas
educativas as mais diversas no seio da sociedade, no mundo inteiro esta é a instituição
responsável pela transmissão do conhecimento e do saber sistematizado.
Escola, aqui , deve ser tomada em sentido amplo, significando o lugar
onde crianças, jovens e adultos reúnem-se em torno do cotidiano desafio de

Este texto foi publicado originalmente em Novos Paradigmas de Gestão Escolar. Secretaria da Educação
Básica do Estado do Ceará. Fortaleza. Edições SEDUC. 2005 (Coleção Gestão Escolar). sendo sua indusão
neste livro autorizada.
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r1hJnO'., t1;rna aprofundado por Da 11'.i & Grossbaum oo te-Ao ~Sucesso de todos,
wmprr1mt'/ÍJ d;,, (-;'í.rla" , no lr✓ro Gestio para o sucesso esr_o!ardesra mesrna ~
(JíX)5). Tendo r;m mr.:nt.r: e'iU: il'.:f.JP,..Ct/J fu('(Jarr~nt3J, pa5'lorl0'5 a OOJJtir o terna, situa,'ldo-
o nr; âmbítr., da orgiiním;,ão e d;i estrvwra d0 sí'Stffna OOI..K,31;:ícoal.

ELEMENTOS DA BASE LEGAL


r, los últímoí ano-: o Brasíl tem 11~1encíado mudanças significativas em diversas
cr,fcra,; da vída cconóm1c.a e '.'-ocial, A organização e a estrutura do sistema
cdurÃcíonal. como r,arte desse conte/lo ma.is amplo, também têm passado por
inúmcra.ç tran:;formaçõe5, e;;pressas tanto na base legal produzida a partir do final
d;i déG.tda de 80, r,orno nos contornos que a gestão escolar vem assumindo em
período recente.
Algumas das mudanças estruturais da educação brasileira têm origem na
Constituição Federal de 1988 (CF). Alguns anos depois, em 1996, modificações
foram introduzidas no capítulo da educação da Carta Magna, através da Emenda
Constitucio nal n.0 14/96. f\lo mesmo ano foi promulgada uma nova Lei de
Dirttrizes e Bases da Educação Nacíonal (LDB - Leí n. 9.394/96) e criado e
0

rezulamentado o Fundo de Manutenção e Desenvoh,imento do Ensino Fundamental


e de Valorização do Magistério (Fundef - Lei n. 9.424/96). A essas orientações
0

veio somar-se um amplo conjunto de príoridades estabelecidas no Plano Nacional


de Educação (PNE), com vigência de dez anos, sancionado pela Lei n.º 10.172.
de 9 de janeiro de 200 1.
As mudanças no aparato legal brasileiro coincidem com transformações
amplas decorrente s do processo de reordenamento mundial mais conhecido
como globalização (Castells, 1999; Carnoy, 2003 ; e Vieira, 2002), intensificando
ex trao rdi nar iamente as demandas por e duc ação . Ao mesmo tempo .
correspondem a um cenário de redemocratização do país, onde aumentam as
reivind icações por participação ad vind as de diversos atores sociaís. Tais
circunstâncias geram pressões por formas de operacionalização mais abertas e
B:AS!-~: . LE-G.<J.~- - -- - - - -_j]
29
· º_E_GE_sr_Ã_o:_EXTJW
A_ÇA_ _ ~S-=IGN-=IF~lc:.,,J)Qs=~D:_"
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eficazes das política s educ acio · ·s, passan do a ges tão em seus diferentes matizes
nai
a configurar-se corno terna da ordem do dia.
ão de 1988 é o mais detalhaéo de
O capítulo da educação na Constituiç m da
, de uma forma ou de outra, tratara
todos os textos constitucionais que ,
, o esp1nto • da
educação no Brasil · A Le·1d e o·1retn·zes e Bases, por sua vez , ma.ntem
am inhar
ta Ma gna , det alh and o seu s prin cípios e avançando no sentido de enc
Car a base
cacional. A importância de conhecer
orientações gerais para o sistema edu ia do reaJ .
embora por si não altere a fisionom
legal decorre do fato de que esta ,
um cam inh o que a soc iedade des eja para si e quer ver materi alizado .
indica
como um direito de todos e dever
do
A Constituição define a educação ade.
incentivada com a colaboração da socied
Estado e da família, a ser promovida e a
intr odu z urn a prim eira noç ão imp ortante , a de que a educação é tarefa
Aqui se lico este
a Sociedade. Na esfera do Poder Púb
ser compartilhada entre o Estado e entais (a
re as diferentes instâncias governam
dever é uma atribuição repartida ent a
Dis trito Fed eral , os Estado s e os Municípios). A responsabilidade par
União, o eres,
também se concretiza por me io de dev
com a educação no âmbito da fam ília tir dos 7
end o aos pais ou resp ons áve is matricular seus filhos menores, a par
cab 0
l (LDB, Art. 6. ).
anos de idade, no ensino fundamenta
envolvimento da pessoa, seu preparo
A finalidade da educação é o pleno des
rcíc io da oda dan ia e sua qua lificação para o trabalho (CF. Art. 205 e
para o exe cação.
96 atr ibu i um sentido amplo à edu
LDB, Art . 2. º ). A Lei n. º 9.394/ v,da
inin do que est a abr ang e os pro ces sos formativos que se desenvolvem na
def
na con viv ênc ia hum ana , no trab alho, nas ins tituições de ensino e
familiar, e nas
e organizações da sociedade civtl
pesquisa, no s movimentos sociais ão
sta çõe s cult ura is. A edu caç ão esc olar é aquela disciplinada pela legislaç
mamfe soc ial,
ola , o mundo do trabalho e a prática
que define um vínculo entre a esc
1 • º).
importante inovação da LDB (Art. na
pri ncí pio s ori ent ado res da educação nac ional esta bel ec idos
Os (Art.
são reto mados e ampliados pela LDB
Constituição (CF. Art. 206, lnc. 1 a VII) es sobre
lnc. a XI) . É imp orta nte me nci oná-los , uma ve:z. que definem as bas
3.º, 1
e a estrutura do sistema educacional:
as qua is se orientam a organização

sso e permanência na escola:


1. igualdade de condições para o ace
quisar e divulgar a cultura , a arte
11. liberdade de aprender, ensinar, pes
e o saber;
s pedagógicas;
Ili. pluralismo de idéias e concepçõe
30 GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA: CONCEPÇÕES EVIVENCIAS

IV respeito à liberdade e apreço à tolerância:


V coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI. gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII. valorização do profissional da educação escolar;
VIII. gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da
legislação dos sistemas de ensino;
IX. garantia de padrão de qualidade:
X. valorização da experiência extra-escolar;
XI. vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

Tais princípios, definidos pela Constituição e explicitados na LDB, são


tr·aduzidos no corpo da Lei n. 0 9 .394/96 , por um conjunto de orientações
importantes para a educação. Tomados em sua essência, os referidos princípios
explicitam um modo plural, aberto e inclusivo de conceber a educação e as
modalidades de gestão que a ela se ariiculam. Tomemos como exemplo o
princípio da igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. Seu
espírito está na linha de uma sociedade e de uma escola onde todos tenham as
mesmas condições para usufruir o direito à educação e aos seus benefícios. No
mesmo sentido, está o princípio da !tberdade de aprender. ensinar. pesquisar e
divulgar a cultura, a arte e o saber.
O dever do Estado para com a educação está regulamentado em lei (CF,
Art. 208 e LDB , Art. 4. 0 ), sendo obrigatório e gratuito o ensino fundamental ,
assegurando-se também a sua oferta gratuita para aqueles que a ele não tiveram
acesso em idade própria. Isto quer dize r que o Poder Públ ico tem um
compromisso explícito com o ensino fundamental para toda a população. Os
deveres do Estado se estendem aos demais níveis e modalidades de ensino.
razão pela qual as tarefas do Poder Público incluem a garantia de que o ensino
médio gratuito seja progressivamente universalizado. São também deveres do
Estado o atendimento às crianças de zero a 6 anos e aos portadores de deficiência.
assim como o acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a capacidade de cada um; a oferta de ensino noturno
regular·: e de programas suplementares para o ensino fundamental, visando ao
atendimento ao educando.
Importante dispositivo da Constituição no sentido da construção da
cidadania refere-se ao direito público subjet/vo ao ensino fundamental (CF,
Art . 208 § 1.º) , sendo possível a qualquer ádadão, grupo de odadãos,
31

i,H woação rnm11mt,1na, orgt1m?c7Çt10 smd,cal, entidade de c/dsse ou ao M,msténo


í'l'Jbl1< o ;-icIo nar o Po cJ cr Público para dss1m o cx1g1r (LDB . Art § 5 º ) É
0 11° 1t I in o 'i tJblinh ar qu
e o direito p úblico sub;ct1vo d 1sc1pltnado
por le i
11
< r unscreve-se ao ensino fundamenta l, não sendo extensivo à educação ,nfanul
ou ilO ensino médio, ainda que estes configurem -se como deveres do Estado,
1sta sutil diferença não é nada trivial. vez que a obngatone dade do ensino
fundamental acaba por conferir-lhe status especial em relaçdo aos demais níveis
e modalidad es de ensino.

GESTÃO EDUCACIONAL
A gestão da educação nacional se expressa por meio da o rganização dos
sistemas de ensino federal, estaduais e municipais; das incumbências da União,
dos Estados e dos Municípios; das diferentes formas de articulação entre as ins1âncias
normativas, deliberativas e executivas do setor educacional; e da oferta de educação
escolar pelo setor público e privado,
No âmbito do Poder Público, a educação é tarefa compartilhada entre a
União. os Estados, o Distrito Federal (DF) e os Municípios , sendo organizada sob
a forma de regime de colaboração (CF, Art. 21 1 e LDB. Art . 8. 0 ), As competências
e atribuições dos diferentes entes federativos no que se relac iona às suas
responsabilidades educacionais estão determinadas em Lei (LDB, Art . 9 e 16, 1O
e 17, 11 e 18, 67), tendo sido objeto da Emenda Constitucional. antes referida
(EC n.º 14/96).
Nesse contexto destaca-se o papel coordenado r, articulador e redistributiv o
da União em relação às demais unidades federadas (LDB. Art, 8.0 ). situando- se
entre suas diversas incumbências também a responsabilidade pela educação dos
povos indígenas, tarefa a ser repartida com os sistemas de ensino (LDB. Art, 78 e
79). A lei parte do pressuposto de que a diversidade nacional comporta urna
organização descentralizada, em que compete ao governo federal definir e assegurar
as grandes linhas do projeto educacional do país ,
A educação básica é uma atribuição compulsória dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, A oferta do ensino fundamental é responsabi lidade
compartilhada dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, sendo o ensino
médio uma atribuição específica dos Estados e do Distrito Federal e a educação
infantil uma atribuição dos Municípios. As incumbências de cada esfera da federação
relativas aos sistemas de ensino, bem como a sua composição , podem ser mais
bem visualizadas no Quadro 1 (LDB, Art. 9º , 1O e 1 1):
crs rAO ESCOLAR DtMOC AAriO.: COM:"l"'~(~
''
f \ 'IV<'NU <>.5
• '

QUADRO 1- GESTÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL

Incumbências
---Composição dos Sistemas de Ensino
Organizar, manter edesenvolver osistem~ fede~I de Instituições de ensino mantidas !)'la
ensino edos territórios. Coordenar a política nacional União .
de educação, articulando níveis de sistemas.
Normatizar sobre cursos de graduação e p6s- lnstit~ições particulares de educação
graduação. Elaborar o Plano Nacional de Educação, superior.
em colaboração com os demais níveis de governo.
Estabelecer competências edefinir diretrizes curriculares Órgãos federais de educação.
para aeducação infantil, oensino fundamental emédio.
o ....J
1<{ Assegurar processo nacional de avaliação do ~
z rendimento escolar, no ensino fundamental emédio e w
:::, educação superior, em colaboração com os sistemas de o
w
ensino. Assegurar processo nacional de avaliação das LL

instituições de educação súperior, com a cooperação


dos sistemas de ensino envolvidos. Exercer função
redistributiva e supletiva em relação às demais
instâncias (Estados e Municípios) . Supervisionar
cursos das instituições de educação superior e
estabelecimentos de seu sistema de ensino .

Organizar, manter e desenvolver oseu sistema de Instituições de ensino mantidas ptlo


ensino. Assegurar oensino fundamental eoferecer, Estado .
com prioridade, oensino médio . Elaborar eexecutar
políticas e planos educacionais, em consonância Instituições de educação superior
LL
com os planos nacionais, integrando as suas ações mantidas pelos respectivos Hunidpios.
o eados seus municípios. Definir, com os Municípios,
(1) formas de colaboração na oferta do ensino Instituições particulares de ensino
V)
fundamental, assegurando distribuição proporcional
o de responsabilidades. Exercer função redistributiva
fundamental e médio.
o
em relação aseus municípios. Autorizar, reconhecer,
~
V) credenciar, supervisionar e avaliar cursos das
Órgãos estaduais de educação.
w
instituições de educação superior eestabelecimentos Instituições municipais de ensino e
do seu sistema de ensino. Baixar normas instituições particulam de ed ~
complementares para oseu sistema de ensino. infantil, quando os Municípios op~rem
por compor mm ele sistfma único de
eduação básia.

V)
Organizar, manter e desenvolver o seu sistema de Instituições de educação infantil e d,
o ensino, integrando-os às políticas eplanos educacionais ensino fundamental , médio mantidas ....J
da União edos Estados. Oferecer aeducação infantil,. l)'lo Hunidpio. <
u com prioridade, oensino fundamental. Exercer ~ a..
z redistributiva em relação às suas escolas. Baixar u
::J normas complementares para oseu sistema de ensino. Instituições particulares de ed~ o z
L Autorizar, credenciar e supervisionar os infantil. :::,
r:
estabelecimentos do seu sistema de ensino.
'-- -- '-- -- -- Órgàos municipais de ed~ o.
-- -- -- --- -1-__ __ __ _,.:___ __ _
G
[ DUCAçAo E GB-rAo ·
· [XTRAJNOO SIGNIFICADOS DA !!ASE LEGAL

Como se vê embo 'Ih


,1 d . '. ra comparti em responsabilidades, cada um dos entes
e erados tem atnbuiçõ , • . .
. es propnas
Assim, do ponto de vist d d fi · - no que diz resperto à oferta de educação escolar.
,• . . , .
a a e 1niçao de poht1cas educac1ona1s cabe a União um
papel de coordenarão rt. · .1 - , • •
s• e a 1cwaçao dos nwe,s de sistemas. Aos Estados e ao Distrito
Federal, por sua vez c t ,b ,
, ompe e eia orar e executar pol!ticas e planos educacionais,
em consonância com , · · ·
. . os pianos naoona,s, mtegrando as suas ações e a dos seus
mumcfp,os Aos M · ' · · .
· uniop,os incumbe orgamzar; manter e desenvolver o seu sistema
de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados.
As considerações acerca das incumbências das três esferas do Poder Público
evidenciam que a gestão educacional refere-se tanto às iniciativas integrantes do
regime de colaboração como àquelas afetas a cada um dos entes federados .
Éoportuno observar que a operacionalização das políticas educacionais comporta
diferenças significativas entre regiões e Estados, traduzindo peculiaridades que murtas
vezes transcendem ao campo da educação. Tomemos como exemplo o caso da oferta
de matrículas de ensino fundamental, atribuição que a LDB define como tarefa
compartilhada entre Estados, Distrito Federal e Municípios. Enquanto nas regiões Centro-
Oeste, Sudeste e Sul a distribuição de responsabilidades apresenta uma participação
relativamente equilibrada entre Estados e Municípios, no Nordeste a situação é diferente,
com franca predominância da oferta municipal no ensino fundamental. Tal situação oscila
entre Estados com oferta quase residual de matriculas, caso do Ceará, que em 2003
detinha apenas 16,70% da oferta, e outros que apresentavam uma oferta mais
homogênea, caso de Sergipe, com 39,80% das matriculas de ensino fundamental na
rede estadual. Enquanto isto, em Goiás, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do
Sul e São Paulo a rede estadual representa mais de 50% da oferta de ensino fundamental.
Tal situação gera um quadro bastante diferenciado no que se refere à oferta e aos encargos
educacionais, assim como a situação financeira das unidades federadas.
o exame das incumbências da União, dos Estados e dos Municípios toma
evidente que o regime de colaboração é uma forma de articulação capaz de responder
aos crescentes requisitos de uma oferta de educação básica em sintonia com as
demandas da sociedade do conhecimento. Se é simples entender os fundamentos do
regime de colaboração, seu exercício é complexo, em virtude de razões diversas.
Somos um país que convive com um poder de muitos donos, como tão bem alertou
Raimundo Faoro ( 1975), na magistral obra Os donos do {XXfer. A educação, em que
pese seu va1ori·rrefutável para a construção de um país,. nem , _tem sido encarada
. sempre
como patrimônio instituinte da formação para a odadania. Da, nao raro a~abar por
situar-se à mercê de interesses que osolam ao sabor dos gestores de ocas,ao.
GESTÃO ESCOLAR OEMOCRÀ TI CA : CON C EPÇ Ó ES E VIV~NCIAS

Construir uma agenda de colaboração mútua entre as instâncias do Poder Público,


portanto, é um desafio a ser inco rporado por todos o s que fazem a educação ,
independenteme nte da esfera em que se insiram . O sucesso da gestão educacional em
sentido amplo articula-se estr·eitamente com a construção de tal possibilidade, que, por
certo, repr·esenta importante passo na plena efetivação desse inalienável direito de todos.
Feitas essas considerações sobre a gestão educacional , passemos ao exame
dos significados que podem se r extraídos da base legal acerca da gestão escolar. Aqui
tam bé m há importantes aspectos a aprofundar.

GESTÃO ESCOLAR
A LDB de 1996 é a primeira das leis de educação a dispensar atenção particular
à gestão escolar, marcando um momento em que a escola passa a configurar-se como
um novo foco da polrtica educacional (Vieira & Albuquerque , 2002). O detalhamento
de suas incumbências pode ser visualizado a seguir:

QUADRO li - INCUMBÊNCIAS DA ESCOLA


Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
1. Elaborar e e.xecutar sua proposta pedagógica;
li. Administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;
Ili. Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas;
IV. Velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;
V. Prover meios para a recuperação de alunos de menor rendimento;
VI. Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola;
VII. Informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a
execução de sua proposta pedagógica (LDB, Art. 12)

A elaboração e a execução de uma proposta pedagógica constituem a primeira


e pri ncipal das atribuiçõ es da escola, devendo sua gestão orientar-se para tal finalidade .
Isto porque de sta definição dependem muitas outras. A proposta pedagógica é , com
efeito , o no rte da e scola , d e fin indo caminhos e rumos que uma determinada
comunidade busca para si e para aqueles que se agregam em seu entorno. Não por
acaso, o s educadores têm tido especial interesse sobre a literatura acerca dessa
maté ria , expressando um desejo de traduzir em ação aquilo que dispõe a legislação
educacional (Veiga, 1998; Resende & Veiga, 2001 e Sousa & Correa, 2002).
São tarefas específicas da escola a gestão de seu pessoal, assim como de seus
recursos materiais e fi nanceiros. Noutras palavras, cabe a ela gerir seu patrimônio
[OUCAÇÁO F GFH ÁO: EXl RAINDO SIGNIM
CADOS DARA\ ~ l.íGAl 35 J

a em seu interior - e mate rial,


imaterial - as pessoas, as idéias, a cultura produzid ·
prédios e instalações , equipamentos, Iaborató nos,· 11vros
·
, enfim, tudo aquilo que se
· - esco1ar. Alé m dessas atnbu · - s, e aom
· 1çoe · a de
traduz na parte física de uma ,·nst1'·tu1çao
· mb'enc1a · de zelar pelo que const1tu1 · ·a
qualquer outra dimensão , porém, est'a a 1ncu
ndizagem . Assim, tanto lhe cabe
própria razão de ser da escola - o ensino e a apre
docente, como assegurar o
velar pelo cumpninento do plano de trabalho de cada
os, assim como prover meios
cumpninento dos dias letivos e horas-aula_ estabeleod
to (lnc. Ili, IV e V). Esses três
para a recuperação de alunos de menor rendtinen
des de uma escola. Ao exercer
dispositivos remetem ao coração das responsabilida
cia de sua proposta pedagógica.
com sucesso tais incumbências, esta realiza a essên
nsão da gestão escolar, a
O Art. 12 da LDB trata de outra importante dime
relação com a comunidade. Assim, cabe à escola
articular-se com as fámílias e a
e a sociedade e, ao mesmo
comumdade, cn'ando processos de integração entre esta
tempo, informar os pais e responsáveis sobre a
freqüência e o rendimento dos
pedagógica (lnc. VI e VII).
alunos, bem como sobre a execução de sua proposta
rtuno mencionar outro
Examinadas as inc~mbências das escolas, é opo
ia das escolas para prever formas
importante aspecto da gestão escolar - a autonom
regionais e locais, às diferentes
de organização que permitam atender às peculiaridades
gem (LDB, Art. 23). Do mesmo
clientelas e necessidades do processo de aprendiza
(LDB, Art. 24, Ili), aceleração de
modo, são previstas formas de progressão parcial
mento de estudos e recuperação
estudos para alunos com atraso escolar, aproveita
iadas às anteriores, têm por
(LDB, Art. 24, Inciso V, b, d, e). Tais medidas, assoc
para todas as crianças.
objetivo promover uma cultura de sucesso escolar

ESCOLAR
GESTÃO EDUCACIONAL VERSUS GESTÃO
lo espectro de iniciativas
Como vimos, a gestão educacional refere-se a um amp
e Municípios, seja em termos
desenvolvidas pela União, Estados, Distrito Federal
ensino ou de outras ações que
de responsabilidades compartilhadas na oferta de
A gestão escolar, por sua vez,
desenvolvem no âmbito específico de sua atuação.
ito da escola e diz respeito a
como a própria expressão sugere, situa-se no âmb
e sentido, pode-se dize r que a
tarefas que estão sob sua esfera de abrangência. Ness
como a proposta pedagógica está
política educacional está para a gestão educacional
a gestão educacional situa-se na
para a gestão escolar. Assim , é lícito afirmar que
iza-se na esfera micro. Ambas se
esfera macro, ao passo que a gestão escolar local
e a partir da segunda. Noutras
articulam mutuamente, dado que a primeira justifica-s
a escola e o trabalho que nela se
palavras, a razão de existir da gestão educacional é
0
TICA ' CONCEPÇÕES E v1vtNCIAS
GESTÃO ESCOLAR DEM OCRÁ ·

realiza. A gestão escolar, por sua vez, orienta-se para assegur~r ~~uilo que é próp~o
de sua finalidade _ promover O ensino e a aprendizagem, v1ab1hz~nd_o_a educ~çao
como um direito de todos, conforme determinam nossa Const1tu1çao e Lei de
Di retrizes e Bases.
No âmbito do sistema educacional há um significativo conjunto de atividades
próprias da gestão educacional, a exemplo de orientações e definições gerais que dão
substância às políticas educativas, assim como o planejamento, o acompanhamento e
a avaliação. Outras se inscrevem no campo da gestão escolar, de modo específico
aquelas que envolvem a tarefa cotidiana de ensinar e aprender. Nesta esfera da gestão,
situam-se professores, alunos e outros membros da comunidade escolar - funcionários
que trabalham na escola, docentes que ocupam cargos diretivos, famílias e integrantes
da área de abrangência geográfica onde se localiza a escola. Muitos dos que atuam na
esfera da gestão educacional são também educadores e fazem parte de organizações
como secretarias de educação, órgãos normativos do sistema ou outras instituições
integrantes do sistema educacional, nas diversas esferas do Poder Público.
Por vezes existem problemas de comunicação acerca das responsabilidades de
cada parte entre os integrantes da gestão educacional e os da gestão escolar. Éverdade
que muito pode, precisa e deve ser feito no sentido de aproximar essas duas esferas da
gestão, mesmo porque sua finalidade última tem um norte comum - promover a
educação de qualidade para todos, conforme definem a Constituição e a LDB.

GESTÃO DEMOCRÁTICA
A gestão democrática é um dos temas mais discutidos entre os educadores,
representando importante desafio na operacionalização das políticas de educação e no
cotidiano da escola. Tal como os temas tratados anteriormente - a gestão educacional e
a gestão escolar - , sua base legal remonta à Constituição de 1988, que define a gest:ão
democrática do ensino público, na forma da !e,; como um de seus princípios (Art. 206,
Inciso VI). No mesmo sentido também se expressa a Lei de Diretrizes e Bases da Educação,
que detalha o caput do artigo da Constituição, que utiliza os termos na forma desta Le,:
acrescentando as palavras e da legislação dos sistemas de ensino (Art. 3, Inciso VIII).
O detalhamento da gestão democrática é estabelecido em outros artigos da
mesma lei , como se vê pelo texto:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão


democrática do ensino público na educação básica, de acordo
com a.s suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
rnu CAÇÁO í GEH Ao : EX-1
RAIN DO SIGNirlCADOS DA BASE
LEGAL
0

da educação na elaboração
1- participação dos profissionais
;
do projeto pedagógico da escola
es escolar e local em
li - participação das comunidad
tes
conselhos escolares ou equivalen
rarão às unidades escolares
Art . 15. Os sistemas de ensino assegu
integram progressivos graus
públicas de educação básica que os
trativa e de gestão financeira,
de autonomia pedagógica e adminis
ito financeiro público .
observadas as normas gerais de dire

e def ine m os artigos sup rac itad os, a LDB remete a regulamentação
Conform
emas de ensino,
ges tão dem ocr átic a do ens ino público na educação básica aos sist
da com
pla aut ono mia às uni dad es fed eradas para definirem em sintonia
oferecendo am
es for ma s de ope rac ion aliz açã o de tal processo, o qual deve
suas especificidad dades escolar
sid era r o env olv ime nto dos pro fissionais de educação e as comuni
con ação
am bos os cas os, a par tici paç ão refere-se à esfera da escola : a elabor
e local. Em ivalentes. Na
ação em conselhos escolares ou equ
de seu projeto pedagógico e a atu aspectos
ctiv a da LD B, por tan to, a ges tão democrática circunscreve-se a alguns
perspe s.
dispositivos referidos e comentado
da vida escolar, tal como se viu nos sentido
mia escolar. O legislador é claro no
Outro aspecto a observar é a autono trativa
ma r a exi stên cia de pro gre ssiv os gra us de autonomia pedagógica e adminis
de afir i, o
fina nce ira, a ser em tam bém def inidas pelos sistemas de ensino . Aqu
e de gestão não é algo
de que a autonomia de uma escola
entendimento orienta-se no sentido autonomia
âne o, ma s con stru ído a par tir de sua identidade e história. Os graus de
espont to ao
a dife ren tes form as de exi stir da própria instituição - dizem respei
correspondem
seu cor po doc ent e, à obs erv ânc ia às diretrizes estabelecidas pelo
seu tamanho, ao
e gestão de recursos.
sistema de ensino, seu desempenho oo
da base legal, cabe perguntar com
Feitas essas considerações a partir de
eto u o prin cíp io da ges tão dem ocrática definido pela Constituição
Ceará interpr tar sobre os
1996. Temos uma história a con
1988 e referendado pela LDB de de Conselhos
ces sos sele tivo s de ges tor es esc olares, a criação e funcionamento
pro a. Tais
grê mio s est uda ntis e out ras modalidades de gestão democrátic
Escola res, ionais e
têm me rec ido ate nçã o de formuladores de políticas educac
iniciativas
a sua rele vân cia e na imp oss ibilidade de abordar todos nos limites
estudiosos . Pel e eleição de
aspectos do processo de seleção
deste ensaio , discutiremos alguns erno de Tasso
struído a partir do segundo gov
diretores, importante legado con ).
issati, sob a ges tão do Sec retá rio Arltenor Naspolini ( 1995-2002
Jere
Ili 1 l

FlriçAo de diretores - um exercício de gestão democrática no Ceará


( mno v11nor,, " p.(;">l;;o de:mocr{lt1ca é maténa passível de regulamentação
pl·lo " 1,,o;tc mac., el e c nc;1no . O Ccarft co mpreendeu que a e le,ç.ão de dv etores
rc·pr c·<;e•nt,111;1 um Impo r1an1c e deC1'i1vo elemento de tal processo, razão pela qU2.I
,,pm vo u lcp,1,;lr\çào inlr oduzindo esta mo dalidade de acesso à direção de escoo.s.
O Q uadro 111 pe rmite o bse rvar os c1ife re ntes tipos de seleção de d,re to,.es escolares
C'Xistc ntcs na fcdcraçJo :
--
QUADRO Ili - FORMAS DE ACESSO AO CARGO DE DIRETOR NO BRASIL 1
-
formas de acesso Estados e Distrito Federal 1 Qtranóda~ :
- j

Indicação (técnica ou política) AP, AH, RO, RR, 11A, PI, RH, PB, SE, ES e SC 1 li 1
Eleição direta pela comunidade AC, PA, PB, AL, Rj, RS, 11S, 111 e GO 1 9
Eleição direta após cumprimento PR, HG, CE, TO e PE s
de provas de seleção técnica
Seleção técnica BA, SP e DF 3
Levantam ento realizado por M aria Aglaê M edeiros Machado. Consultora do C onsed. 2.;)<esen12Go no Semir.áno
sobre Liderança Escolar (São Paulo , 09/ 06/2003).

Como se vê, há distintas maneiras de conduzir o acesso aos cargos de


diretor de escola no país . O Ceará é um dos cinco estados brasile iros que vêm
construindo e consolidando uma experiência de eleição direta após cumprime nto
de provas de seleção técnica. Instituído em 1995 e aperfeiçoado ao lo ngo dos
anos. o processo seletivo já foi realizado quatro vezes ( 1995 , 1998 , 200 1 e
2004). Este percurso pode ser examinado no breve resumo apresentad o no
Quadro IV, onde se mostram a legislação e os destaques da matéria e m relação a
cada um de seus momentos.
O processo de seleção ao cargo de diretor foi e continua sendo um claro
divisor de águas na gestão das escolas cearenses. De início. não foram poucos os
que duvidaram acerca da sustentabilidade da iniciativa, pois a indicação re presentava
poderoso mecanismo de intervenção política na vida escolar. Hoje. passados quase
dez anos, sua importância é inquestionável para o Estado e para a sociedade. Sob
a vigência do governo Lúcio Alcântara, o processo não apenas foi mantido como
aperfeiçoado. Para tanto, inovações importantes, além daquelas referidas no Quadro
IV, foram introduzidas.
. Qlll OROI'\' - ELEIÇÃO OE 0lkITORES NO CEARÁ
---------- ----,
fffl \ ..l,.,.· 1..1· • • •
;~to pl!Olttl dt dtrttom de molas, seguida de escolha pela comunidade molar, com mandato de
-.1 >.t~! (l~ ne 11.442, de OB,\lS/95).

l99S S~ pública dt dirig-tntts molam (Lei nª 12.861, de 18/11/98): Diretor, Coordenador Pedagógico,
(oorden~~r- Administrat_ivo-Financeiro, Coordenador de Articulação Comunitária e Secretário
Esrolar. _E!Nçao s~et.1 ed1rm, com sufrágio universal junto à comunidade escolar, destinada ape~as
lO andid.tto a d1ruor, que pode retornar ao cargo uma vez consecutiva ou duas alternadas. Opleito
plru a ser organiudo pelo Conselho Escolar.

lOOI ~1.lirlÇào de novo promso seletivo para a escolha de dirigentes escolares nos mesmos moldes da
~ dt 1998 {Lei nº 12.861, de 18/11/98).
2004 ~u~o eaperfeiçoamento do processo. Omandato de dirigentes escolares passa a m de 4anos,
mtroduzmdo-se a,,aliação de desempenho anual do Diretor edemais membros do Núcleo Gestor (Lei
n"' 13.513, de 19to7n004, e Decreto nº 27.556, de 13/09n004).

Com a nova regulamentação do processo, buscou-se dar resposta à crítica de


OLt .as eeções ,inharn assumindo conotações político-partidárias que ultrapassavam as

iroi"ieiras escolares. Assim, definiu-se com dareza a natureza estritamente escolar do


:x-o..r-esso. como se pode ver nos artigos do Decreto nº 27.556/2004 sobre a matéria:

Art. 1O. O processo eleitoral restringir-se-á, única e


exdusivamente, à comunidade escolar.
§ 1º É vedada a participação de quaisquer organizações
partidárias, sindicais, associativas, religiosas, empresariais e
de qualquer natureza externa à comunidade.
§ 2º É vedada ao candidato a utilização de publicidade
procedente de recursos de órgãos da Administração Pública.
Art. 11. O não-cumprimento ao disposto nos parágrafos 1º
e 2º do Art. 1Odeste Decreto poderá acarretar a impugnação
da candidatura respectiva, pela Comissão Regional.

Uma rarti!ha ela.oorada sob a forma de perguntas e respostas- Gest.ão demcxrática


no Ce2.rá: escolha de dirigentes escolares (Seduc. 2004) - orientou a formação de
rri.egrdflteS de comssões eleitorais nos diversos nrveis (estadual, regional, municipal e
escolar) e esdareceu dt'.Nidas acerca do processo. As eleições foram realizadas em
dez.erroro de 2004. em dina de festa óvica. Em todo o Estado, o compromisso e o
errvotwnento das comissões regionais, municipais e escolares foram extraordinários.
dando íorrna e subst:ânoa à tese de Moo Teixeira, citada na abertura deste texto.
40 J 1

e id,1c-l:io p ;11 c1 ,1 n:.) rwivC-nc i., dcrnc.)


u .'lt1c., . e om
A esco b é, sim, lug,1r onde se forrn,1 o
)<1:?( Ú (S0d~1(,
H 110CO O; I , <'d llc ,ll)dO pel.1 d c'l))(
bem diz J h"71Sl:' sJ Se.' ec/11c. 1 p11; 1 cl d c
ocr.\ tic., ,1pre ndido n,, <'<;tc)l.1 {.• 11~.i o
f),)I·. ,
200 1, p. 8). O exercício de gest ão dem
toda a vida .
tivo ( 1998), .1 s~crct.1ri.-1 c.k rduc.1ç~o
Pou co antes do segundo processo sele
çôes
zou estudo quanto .10 imp.1eto d.is clc1
Básica do Estado do Cea r"á (Seduc) r·eali n6s
tr·abalho de pcsquisr1 riualitativ.) foi por
de 1995 sob re a gestão esco lar. O evrst,,s
pesquisadores que rc.1li z,1ra m 2-1 0 cntr
coo rden ado , envolvendo 12 outm s 1'":'I I.
es do Estado (FortalczJ, Mar,ic:.n.1ú, Sob
num a amostra de 30 escolas em 5 regiõ a de
ser publicada posterio rm ente sob ,1 form
Quixadá e Cra to). Sua síntese veio a 2001 ) .
res - o qué ,nud ou nd esco/.1! (Seduc,
livro, com o título: Eleição de d,i--eto
idos em um conj unto de const;it.1ções
Os "achados de pesquisa" fora m reun
ria dos
tiva sob re a comunidade escolar. i'I maio
que sintetizaram os impacto.s da inicia
cit. p. 22-3 1).
quais perm ane cem atuais (Seduc, op.
os aspectos positivos, tais com o: a
De uma man eira geral fora m destacad
ra do
unid ade esco lar; a legitimação da figu
imp ortâ ncia da elei ção para a com
isso com
unid ade , estimulando seu com prom
dire tor através da escolha pela com
para
la que ape sar das dificuldades cam inha
a mesma; a identificação de uma esco
xim açã o
rta à comunidade, embo ra esta apro
uma gestão mais dem ocrá tica e abe
ese ntou
ia de recursos na escola, o que repr
ainda se mostrasse tímida; a existênc
anê ncia
nomia; a mel horia do acesso e da perm
passo decisivo na conquista de sua auto
ico.
ente e do acompanham ento ped agóg
dos alunos na escola, da form açã o doc r
ente positivos, é opo rtuno obs erva
Mes mo tend o efeitos pred omi nan tem
. n5o
eleitoral prov oco u ruptur·as significativas
que em algumas escolas o processo
se ainda
icas assegurada pelas eleições . Not ou-
sendo a renovação de qua dros e prát
coletivas.
) eleito(a) não instituiu por· si práticas
que o fato de se ter um(a) dire tor(a
tica é processo em con stru ção .
evidenciand o que a gestão dem ocrá
sistemas educacionais, que hoje convivem
Com o o estudo de 1998 apontou , nos
muit o
de vida em construção que , emb ora
com diretores eleitos, há um processo
paradigmas
cultura escolar, descortinando novo s
lentamente, imprime novos rumos à
irma
(Seduc, 2001 , p. 3 1). A o bservaçã o conf
para a melhoria da qualidade da educação
uc nos
exp e,iê ncia exercida na direção da Sed
nosso entendimento referendado pela
enses.
em construção é visível nas escolas cear
últimos dois anos : o processo de vida
o
lha de dirigentes ado tado em noss
Entendemos que o mec anis mo de esco
cabe ndo
gestão escolar, razão pela qual, mes mo
Estado trou xe um mod elo fecu ndo de
o ptam os
sob re todo s os cargos de confiança,
ao Che fe do Poder Executivo a decisão
rnuc.11çAo I r,~sr Ao . Pí1 MINI 11 l 31(, Nlrl( AI lrJI IJ/\ M IE I rn111

por dar continuidade a esta forma de acesso à direção dJs escolas, Con1 <rrtr111 h:1
muitos aspectos a aprimorar em relação ao processo de gestJo dérnocr,'1 l1t r1 1,.tr 1, ,
todavia, não dizem respeito à polftica de escolha de dirigentes em si, m,,,, 1ir1tt", 11
questões operacionais relativas sobretudo ao desenvolvimento e rrif'lhbr i11 tif'
mecanismos de acompanhamento, fiscalização e avaliação que t dbém iJ(1 Podtr
Público num processo de descentralização gerencial. Para que as esCôliJ(, pródULt1m
os resultados delas esperados em termos de sua gestão pedagógit d e findnccir"a, fdl
se necessário o adequado controle de qualidade sobre suas atividadés meio e Ítrt1.
Embora tenhamos avançado muito em matéria de gestão, seu vfnculo com o
sucesso da aprendizagem ainda está muito aquém do esperado , por"qu f.! ô
desempenho dos alunos não melhorou na proporção desejada, como moWarn os
resultados do Saeb, analisados por Farias & Vidal no texto "Saeb no Ceará: o desafo
de definir o foco na aprendizagem'', no livro Gestão para o sucesso escolar dt::.lá
mesma coleção (2005), Toda a equipe escolar é responsável pelo sucesso dos alunos
e este é um elemento central da gestão. Como antes enfatizamos, sua própria
razão de existir,
Outro aspecto que requer melhoria diz respeito ao controle que o [ stJdo
deve exercer sobre a gestão e a qualidade dos serviços prestados, próprio de todo
e qualquer processo de descentralização dos serviços públicos. Ainda é possível
identificar no interior de um grande número de escolas uma arraigada cultura de
que a autonomia escolar pode furtar-se a um cuidado especial com a execução
financeira, desconsiderando questões relativas a responsabilidade fiscal. É preciso
lembrar que a devida prestação de contas de recursos oriundos do contribuinte f:.
um dever do gestor público para com a sociedade,
É verdade que ainda temos muito por fazer e que os problemas identificados
merecem cuidado especial. Mas, por outro lado , é preciso lembrar o quanto
avançamos. A experiência de um caminhar coletivo é algo que se constróí
cotidianamente. Passo a passo. Com constância e determinação, Assim, há uma
inspiração a buscar no provérbio chinês que diz: Se a cada dia apanhares um punhado
de terra, ao final terás construído uma montanha. A educação é palco de muitos
atores; se cada um apanhar a sua porção de terra, a montanha será de proporções
inimagináveis. Juntos, poderemos fazer isto. Ou melhor, já estamos fazendo,
-~
L__ ____ __ __ _~ a._s_r>_o_Esc___ s- - -
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ovR_DE_,_=_-_P_>_ro_:_c_°'_ic_E_PÇ_ôt:_~_E_'~__

do Fed eral C
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O 8·
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Dese nvolvimen to do ns1no un am s provi enc1as. Brasília , 1996 a .
- Conrtrtucronais Transitónas . e dá outra . .
7°. do Ato das D1spos1çoes , Bases da Educaçao·
d, de dezem bro de / 996 - Estab elece as D ,retnz es e
Le, n. 9194
0
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