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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DE SÃO PAULO – CAMPUS SERTÃOZINHO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

RODRIGO MATHEUS SIQUEIRA

As políticas públicas e os desafios da integração curricular do estudante


da Educação Profissional e Tecnológica: Perspectivas e desafios.

Artigo apresentado ao Instituto Federal de Tocantins para


a realização da disciplina de Políticas Públicas em
Educação Profissional e Tecnológica, como parte dos
requisitos para a obtenção do Título de Mestre em
Educação Profissional e Tecnológica.
Orientador: Profº. Drº. Jair José Maldaner e Profº Dr.º
Marcelo Rythowem

SERTÃOZINHO - SP
2022
RESUMO

O objetivo deste estudo é examinar de que forma as políticas públicas


contribuem para a integração curricular e para a formação integral dos alunos,
especificamente na educação profissional. O estudo foi realizado através de
levantamento bibliográfico e pesquisa documental, seguida de análise
qualitativa sobre as contribuições e desafios das políticas públicas para o
desenvolvimento de uma integração curricular na educação profissional.

Palavras chave: Currículo integrado; formação integral; políticas públicas;


contribuições, desafios.

1. INTRODUÇÃO

As origens da educação profissional remontam a 1809, com a criação do


Colégio das Fábricas, pelo então Príncipe Regente D. João VI (Brasil, 1999 -
Parecer nº 16/99-CEB/CNE), onde o objetivo principal consistia em ensinar um
ofício a crianças pobres, em situação de vulnerabilidade, órfãos e
abandonados. Portanto, o início da educação profissional tem sua origem no
assistencialismo e amparo aos mais desafortunados (RAMOS, 2014). Após a
criação do colégio, houve algumas iniciativas voltadas à educação profissional,
como as Casas de Educandos Artífices, instaladas entre 1840 e 1865, ainda
durante o império.

[...] no decorrer do século XIX, várias instituições, eminentemente


privadas, foram surgindo para atender às crianças pobres e órfãs.
Essas instituições tinham propostas direcionadas para o ensino das
primeiras letras e a iniciação aos ofícios como a tipografia, a
carpintaria, a sapataria, a tornearia, dentre outras. Nessa perspectiva,
pode-se inferir que a educação profissional no Brasil nasce revestida
de uma perspectiva assistencialista com o objetivo de amparar os
pobres e órfãos desprovidos de condições sociais e econômicas
satisfatórias” (ESCOTT & MORAES, 2012, p. 1494).

Em 1906, através do decreto n.º 787, de 11 de setembro de 1906, Nilo


Peçanha iniciou o ensino técnico no Brasil, com a criação de escolas
profissionais em quatro cidades, sendo destinadas ao ensino de ofícios e
aprendizagem agrícola.
O aumento da industrialização no Brasil na década de 1930 fez com que
a necessidade por mão de obra necessária ao processo produtivo se tornasse
latente. A constituição de 1937, pela primeira vez, abordou o ensino
profissionalizante no Brasil, e no mesmo ano as Escolas de Aprendizes foram
transformadas em Liceus Profissionais, destinados ao ensino profissional de
todos os níveis através da lei nº 378.
A evolução da educação profissional teve até então outros marcos
importantes, tais como a Reforma Capanema (Decreto-lei n.º 4.422) em 1942,
que instituiu os cursos médios com duração de três anos que tinham como
objetivo preparar os estudantes para o ensino superior, mas não os habilitava
para tal. Neste mesmo ano, iniciou-se o surgimento do sistema S, que foi
sendo criado para atendimento profissionalizante de diversos segmentos até o
ano de 1946. Em 1961 foi criada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), que estabelece a plena equivalência entre os cursos
profissionais e propedêuticos, e reconhece a integração do ensino profissional
ao sistema regular de ensino.
Desde então, este modelo educacional tem passado por diversas
mudanças e restruturações ao longo do tempo, até que se chegasse à Lei nº
13.415/2017, que modificou alguns aspectos da Lei de Diretrizes e Bases –
LDB publicada através da Lei nº 9394/1996, incluindo assim o itinerário
formativo de educação profissional e tecnológica no ensino médio.
Vale destacar o parágrafo 1º e 7º do artigo 3º da Lei nº 13.415/2017, que
respectivamente, estabelecem:

§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o caput do art.


26, definida em cada sistema de ensino, deverá estar harmonizada à
Base Nacional Comum Curricular e ser articulada a partir do contexto
histórico, econômico, social, ambiental e cultural.

§ 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a formação


integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho voltado para a
construção de seu projeto de vida e para sua formação nos aspectos
físicos, cognitivos e socioemocionais. (BRASIL, 2017).

A partir deste contexto, fica claro a necessidade e obrigatoriedade de


articulação entre os currículos, integrando as áreas de conhecimento
diversificadas ao conhecimento das bases comuns descritas na LDB e
contempladas nas DCNGEPT. No entanto, o caminho para a integração
curricular não parece ser de fácil aplicabilidade prática.
Para Ciavatta (2014, p. 189)

O tema da formação integrada, remetido ao conceito de politecnia,


tem sido objeto de polêmica e de divergências quando se trata de
pensar a educação articulada ao trabalho como instrumento de
emancipação humana na sociedade capitalista. Há divergências na
interpretação do conceito e da prática da educação politécnica na
implantação do socialismo pela Revolução Russa e na recuperação
desse ideário educacional no Brasil.
Aparentemente, estamos do mesmo lado, buscando manter a
coerência do compromisso com a transformação da sociedade
brasileira no sentido do direito de todos a uma vida digna. Mas
precisamos delinear estratégias para o presente. Politecnia, educação
omnilateral, formação integrada são horizontes do pensamento que
queremos que se transformem em ações.

A dualidade mencionada acima deu origem a esta pesquisa, pois como


profissional que atua como educador da educação profissional e é diretamente
impactado pelas práticas vigentes, constata-se a pertinência e a relevância de
buscar alternativas para a aplicação da integração curricular, de forma a
estimular a formação integral do aluno.

2. EDUCAÇÃO, LEGISLAÇÃO, EPT

A constituição que vigora nos dias atuais, Constituição de 1988, é a mais


ampla e acurada quando diz respeito aos direitos fundamentais e garantias
para exercício, colocando a educação como direito social e fundamental como
citado no Art. 205: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho”, onde juntamente com o Art. 6,
que define a educação como um dos direitos sociais, elevam explicitamente a
educação, pela primeira vez na constituição brasileira, como direito
fundamental ao ser humano. (RODRIGUES,2018).
Para tanto, a União, os Estados, Distrito Federal e municípios a fim de
cumprir sua parcela para plena formação do cidadão quanto a educação
formal, bem como sua inserção social e no mercado de trabalho, organizam o
sistema de ensino de forma em que municípios priorizam sua atuação no
ensino fundamental e educação infantil, enquanto Estados e Distrito Federal no
ensino fundamental e médio, levando em consideração a Base Nacional
Comum Curricular.

2.1 Educação Profissional e Tecnológica

A Constituição de 1937, de Getúlio Vargas, foi a primeira a abordar o


tema, em seu Art. 129: “O ensino pré-vocacional e profissional destinado às
classes menos favorecidas é, em matéria de educação, o primeiro dever do
Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse dever, fundando institutos de ensino
profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos Municípios e dos
indivíduos ou associações particulares e profissionais.

Ainda em 1937, as escolas de aprendizes e artífices mantidas pela


União foram remodeladas em liceus industriais e foram criados liceus para
disseminação do ensino profissional, de todos os ramos e graus (Manfredi,
2002).
No intuito de organizar o sistema educacional, com a Reforma de
Capanema, foi instituído no ano de 1942 um conjunto de leis, que passaram a
ser denominadas Leis Orgânicas da Educação, que trouxeram mudanças na
estrutura do ensino industrial, comercial, criou serviços, bem como mudanças
no ensino secundário, dividindo-o em dois ciclos: ginasial, com quatro anos, e o
colegial, com três anos. Nesse contexto dois decretos foram assinados um que
daria origem ao SENAI – Serviço Nacional da Aprendizagem Industrial, que se
encarregaria da “formação profissional dos aprendizes”, conforme desejava a
indústria e o Ministério do Trabalho e outro à Lei Orgânica do Ensino Industrial,
proveniente dos propósitos do Ministério da Educação, que dividiu o ensino
industrial em dois ciclos, sendo o primeiro básico voltado a aprendizagem em si
e o segundo o ensino técnico e pedagógico (SCHWARTZMAN, 2000, p.254).
No mesmo ano foi reorganizada a rede federal de ensino industrial, extinguindo
os liceus industriais que passaram a escolas industriais e técnicas, dispondo de
formação profissional baseada na nova lei (ROMANELLI, 2002).
O ano de 1961, foi marcado pela primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), a qual passou permitir que concluintes da educação
profissional pudessem dar continuidade aos estudos no ensino superior.
Seguindo o mesmo formato de serviços de aprendizagens anteriores,
em 1991 houve a criação do SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem
Rural.
Em 1996 foi promulgada a segunda Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), onde em seu Capítulo III, tratava da educação
profissional. Futuramente, em 2008, esse capítulo passa a ser intitulado “Da
Educação Profissional e Tecnológica”, onde é introduzido importantes
alterações acerca do assunto e é adicionada seção ao Capítulo II, para tratar
especificamente da educação profissional técnica de nível médio.
A partir daí vários pareceres, diretrizes passaram a estruturas a
educação profissional técnica e ensino médio, foram eles:
- Parecer CNE/CEB nº 16/99 que fundamentou e ajudou a definir a
Resolução CNE/CEB nº 04/99 - Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Profissional de Nível Técnico
- Parecer CNE/CP nº 29/2002, fundamentou a Resolução CNE/CP nº
03/2002 - Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
Profissional de Nível Tecnológico
- Resolução CNE/CEB nº 1/2004, trata diretrizes nacionais para estágios
supervisionados de estudantes de educação profissional e de ensino médio.
- Parecer CNE/CEB nº 39/2004, embasou a Resolução CNE/CEB nº
1/2005, a qual atualizou as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas para o
Ensino Médio e para a Educação Profissional Técnica de nível médio.
- Parecer CNE/CEB nº 11/2008, embase para Resolução CNE/CEB nº
3/2008, o qual disciplinou a instituição e a implantação do Catálogo Nacional de
Cursos Técnicos de Nível Médio – CNCT nas redes públicas e privadas de
Educação Profissional
- Parecer CNE/CEB nº 11/2012, embasa Resolução CNE/CEB nº
6/2012, que defini as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Profissional Técnica de Nível Médio
O ano de 2014, foi marcado para o ensino profissional com o novo Plano
Nacional de Educação, que almejava, segundo suas metas: Meta 10: Oferecer,
no mínimo, 25% das matrículas de Educação de Jovens e Adultos, nos ensinos
Fundamental e Médio, na forma integrada à educação profissional. e Meta 11:
Triplicar as matrículas da Educação Profissional Técnica de nível médio,
assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% da expansão no
segmento público. Porém, pesquisas recentes sobre o desenvolvimento do
PNE proposto e suas metas mostrou que até o ano de 2021 somente 2,2% das
matrículas realizadas no EJA foram integradas a profissionalização. Já as
matrículas almejadas na Meta 11 de fato cresceram na rede pública durante a
vigência do Plano, em relação ao ano anterior, enquanto na rede privada esse
número diminui. No entanto questões em relação a manutenção da qualidade
da oferta, proposta na mesma meta, deixam dúvidas, já que além do formato
questionável dos itinerários advindos da reforma, também se obteve a
possibilidade de profissionais sem formação docente lecionarem e a
possibilidade do formato de ensino a distância. (Campanha Nacional pelo
Direito a Educação, 2022)
Em 2017 a Lei nº 13.415, introduziu alterações na LDB (1996), incluindo
o itinerário formativo "Formação Técnica e Profissional" no ensino médio e
alterando sua estrutura. A nova redação da LDB refere-se aos critérios a serem
adotados pelos sistemas de ensino em relação à oferta da ênfase técnica e
profissional, aumentando a visibilidade sobre tal ensino.

CONCLUSÃO

É importante salientar que a princípio as políticas públicas devem levar


em consideração os interesses e necessidades da sociedade como um todo,
de forma que suas ações possam impactar de maneira positiva a vida das
pessoas que estão inseridas na sociedade, a fim de promover o
desenvolvimento coletivo e a melhoria da qualidade de vida, ou seja, devem
ser elaboradas para benefício coletivo e não apenas de uma minoria.
E no que tange às políticas públicas, especificamente elaboradas para a
educação, pode-se verificar que, embora os objetivos definidos caminharam
muitas vezes para a ideia de uma educação integral, emancipadora e de
qualidade, nem sempre isso ocorreu. Em muitos casos, houveram retrocessos
que prejudicaram de forma considerável a educação e prejudicou ainda mais o
sistema educacional. Dentre tantas políticas públicas para a educação, pode-se
entender que em sua maioria não foram considerados os interesses e
necessidades da sociedade em geral, e sim de uma minoria capitalista cujo
interesse maior é a expansão da sua força através da exploração de uma mão
de obra massiva para atender aos seus próprios objetivos, gerando assim
degradação das relações de trabalho e precarizando ainda mais a relação do
homem com o mundo do trabalho.
Como resultado, continuamos tendo como resultado das políticas
públicas a formação precarizada para trabalhadores precarizados, alimentando
assim o consumo predatório da força de trabalho, com ações articuladas de
caráter privado, populista e fragmentado, que estão inclusas exatamente nas
estratégias de disciplinamento necessárias ao regime de acumulação flexível.
Portanto, embora muito se tenha feito, as políticas públicas para a educação
ainda resultam em fragmentação do conhecimento para atender aos interesses
do capital, servindo apenas para atendimento das demandas por mão de obra.
Neste sentido, cabe às instituições e ao profissional docente, o papel de
reconhecimento das fraquezas das políticas públicas, ao mesmo tempo em que
utiliza-as para o fortalecimento do sistema educacional e promoção de uma
educação inclusiva, justa e que possa dar aos indivíduos conhecimento
necessário à sua emancipação e transformação da realidade em que vive. Para
isso, é fundamental a análise das políticas públicas e compreensão de todos os
aspectos que as cercam, para então traçar planos concretos de integração
curricular, interdisciplinaridade, emancipação daqueles que estão envolvidos
em todo processo educacional, tais como: diretores, docentes e alunos, para
então se colocar em prática tudo que é pregado na “teoria” das políticas
educacionais.
É claro que haverá muitos desafios, mas a união de todos pode de fato
fazer a transformação que tanto precisamos em nosso sistema educacional.

REFERÊNCIAS

Brasil (1909). Decreto nº. 7.566, de 23 de setembro. Crêa nas capitaes dos
Estados da Republica Escolas de Aprendizes Artifices, para o ensino
profissional primario e gratuito. Recuperado em 14 novembro, 2016, de
http://www2.camara.leg.br/ legin/fed/decret/1900-1909/decreto-7566-23-
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Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 10 de novembro. Diário Oficial da
União. Rio de Janeiro, 10 nov. 1937. Recuperado em 14 novembro, 2016, de
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
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Ensino Médio: Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília,
v.2, p. 15-42, 2006.
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de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho CLT,
aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e o Decreto-Lei
no 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei no 11.161, de 5 de agosto de
2005; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino
Médio em Tempo Integral. Portal da Legislação, Brasília, 16 fev. 2017.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm.
Acesso em 09 mar. 2022.

CIAVATTA, M. Ensino Integrado, a Politecnia e a Educação Omnilateral: por


que lutamos? Revista Trabalho & Educação, v. 23, n. 1, p. 187–205, 2014.
Disponível em: https://seer.ufmg.br/index.php/trabedu/article/view/9303. Acesso
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RAMOS, M. N. História e política da educação profissional Curitiba:


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SCHWARTZMAN, Stephan; MOREIRA, Adriana; NEPSTAD, Daniel. Rethinking
tropical forest conservation: perils in parks. Conservation Biology, v. 14, n. 5,
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