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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA (IFBA)

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA


PROFESSORA: SUELÉN GONÇALVES Q DA PAIXÃO
DISCIPLINA: EJA E TEORIAS DE APRENDIZAGEM PARA A EPT
ATIVIDADE TEXTUAL DISSERTATIVA-ARGUMENTATIVA (RECUPERAÇÃO)
DISCENTE: AILTON DE SANTANA

APROXIMAÇÕES ENTRE EJA E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: DESAFIOS A


SEREM ENFRENTADOS

Como sabemos, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de


ensino permeada de desafios. Ela desenvolve-se no contexto brasileiro desde a
década de 1940, com o objetivo e preocupação de possibilitar e oferecer o
conhecimento escolarizado para parcela da população que não tivera acesso ao
ambiente escolar em idade convencional de escolarização. É interessante destacar,
portanto, que a EJA, sobremaneira, sempre foi destinada às pessoas mais
empobrecidas da população, uma vez que, parte destas, por diversos fatores desde
cedo não acessaram aos espaços formais de educação.
Desse modo, como bem ratifica a Constituição Federal de 1988, destacando
que a educação é um direito de todos, que deve ser assumido pelo Estado em
comunhão com toda a sociedade, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº
9.694/1996), também, consolida tal direito ao trazer, por exemplo, que ao acesso à
educação deve ocorrer de forma gratuita, universal e com qualidade. Assim, aduz o
texto da LDB, no seu artigo 37:

A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não


tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental
e médio na idade própria e constituirá instrumento de para a educação
e a aprendizagem ao longo da vida. § 1º Os sistemas de ensino
assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não
puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades
educacionais apropriadas, consideradas as características do
alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante
cursos e exames. § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o
acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações
integradas e complementares entre si. § 3o A educação de jovens e
adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a educação
profissional, na forma do regulamento (BRASIL, 1996).
Embora, historicamente, a EJA, tenha como pressuposto a concepção de
formação escolar ela também se alinha um modelo de educação cujas bases sejam a
constituição integral do sujeito, qualificando-o de forma que este possa construir bases
para participar ativamente dos processos sociais, do mundo do trabalho e que se
relacione com as aprendizagens constituídas ao longo da vida. Tal concepção faz com
que a EJA seja um espaço de reflexão que considere as trajetórias de homens e
mulheres marcadas pela exclusão e pelo preconceito e, que, retornam ao contexto
escolar. Por isso, segundo Arroyo (2006, p. 22) “não é qualquer jovem e qualquer
adulto. São jovens e adultos com rosto, com histórias, com cor, com trajetórias sócio-
étnico-raciais, do campo, da periferia”. Assim, o retorno a contexto escolar caracteriza-
se como um importante aspecto para a transformação de suas vidas.
A partir desse aspecto, observamos que a EJA é marcada por uma forte
heterogeneidade, tanto sociais quanto culturais. E isso exige dos educadores desta
modalidade de ensino um trabalho pedagógico diferenciado, a partir de ações,
projetos e programas que se alinhem, também, à formação para o mundo do trabalho,
ou seja, para a formação profissional – excluindo, portanto, práticas pedagógicas em
que os conteúdos sejam hierarquizados e fragmentados – via de regra, sem nenhuma
relação com as vivencias sociais, políticas e culturais do universo dos discentes da
EJA.
Nesse sentido, a integração entre EJA e Educação profissional e tecnológica
se faz de extrema relevância, tendo em vista que, na EPT, o trabalho é um princípio
educativo e ontológico, da criação, da apropriação, da inovação. Nas palavras de
Grabowski; Kuenzer (2016) a concepção de princípio educativo do trabalho e
educação refere-se a ações humanizadoras que são estabelecidas e vivenciadas
através do desenvolvimento das potencialidades do ser humano. Assim, portanto,
pensamos que nesta relação o currículo escolar deve se conceber de forma integrada,
em que as ações formativas integradoras se constituam como base para a construção
de saberes possibilitando a autonomia dos sujeitos (professores, alunos) inserido no
universo da EJA e da EPT (ARAÚJO; FRIGOTTO, 2015).
Ainda, na visão dede Araújo; Frigotto (2015, p. 64) os processos de integração
devem ser pensados numa relação em que o pedagógico seja um princípio
“orientador de práticas formativas focadas na necessidade de desenvolver nas
pessoas (crianças, jovens e adultos) a ampliação de sua capacidade de compreensão
de sua realidade específica e da relação desta como a totalidade social”. Daí que,
compreendemos que a totalidade social não está dissociada das relações que são
estabelecem entre trabalho e educação, sendo que essas fazem parte do cotidiano
social e estão em permanente relação, como elemento do próprio do ser humano
(Franzoi; Machado, 2021).
Portanto, pensar essa a relação entre EJA e EPT se faz de extrema relevância,
e esse aspecto é reafirmado através do Programa Nacional de Integração da
Educação Profissional à Educação Básica, na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos (Proeja) que se estabeleceu por meio do Decreto nº 5.540, de 2006. Segundo
Franzoi; Machado (2010, p. 44- 45):

O programa caracteriza-se como uma política pública específica e


pode ser entendido como uma estratégia para a democratização do
acesso à Educação Profissional para jovens e adultos que vivenciaram
o processo de exclusão em outros momentos. Para entender esse
movimento contraditório, constituído emprocessos sociais de exclusão
e não exclusão, recorre-se às relações entre trabalho e educação
como essencialidades humanas, que têm passado por transformações
ao longo dos séculos e tem interferido na organização social.

Diante desse contexto, é válido considerar que em seu Documento Base, o


Proeja, destaca a concepção de educação em que seja priorizada a formação
integral dos sujeitos. Nesse sentido, a integração entre EJA e Educação profissional
exige um novo paradigma que envolve o reposicionamento de tempos e espaços do
contexto escolar. Uma vez que, além de permitir a esse jovem, adulto ou idoso o
acesso à educação, é necessário o realinhamento pedagógico para que o aluno
possa permanecer na escola. Assim, tais aspectos devem possibilitar-lhes a
compreensão e o atendimento às peculiaridades e individualidades, para que o ao
passo em que estudam também possam ser capacitados e preparados para o
mundo do trabalho e, por consequência, possam melhor viver em sociedade,
tornando-a mais justa. Por isso, ainda, um dos objetivos do PROEJA é romper com
políticas tão somenete se restrigem “à questão do do analfabetismo, sem articulação
com a educação básica como um todo, nem com a formação para o trabalho, nem
com as especificidades setoriais [...]” (BRASIL, 2007, p. 11).
Nesta ótica, acredita-se que a Educação Profissional alinhada aos
pressupostos da EJA é de extrema relevância para a construção de um processo
educacional qualificado e justo. Sendo, portanto, uma concepção de educação que
supere, estritamente, o viés compensatório, e passe a ser vista como política pública
prioritária capaz de interferir positivamente na educação dos sujeitos e no
crescimento da sociedade. Tais aspectos são de importante relevância e, com
certeza, mostram-se extremamente viáveis na garantia dos direitos sociais
(educação, trabalho). Um projeto de educação, portanto, que alinha EJA e EPT são
elementos contundentes para devolver a cidadania dos sujeitos que tiverem seus
direitos à educação, à vida em sociedade, a um trabalho digno negados. Com isso,
estaremos rompendo barreiras, estereótipos e oportunizando ao sujeito da EJA,
trabalhador, cidadão (jovem, adulto, idoso) possibilidade de formação integral, vida
digna, trabalho digno, convivência e bem-estar social.

Referências

ARAÚJO, Ronaldo Marcos de Lima; FRIGOTTO, Gaudêncio. Práticas pedagógicas


e ensino integrado. Revista Educação em Questão. Natal, v. 52, n. 38, p. 61-80,
maio/ago. 2015.

ARROYO, M. Formar educadores de jovens e adultos. In: SOARES, L. (Org.).


Formação de educadores de jovens e adultos. Belo Horizonte: Autêntica/MEC/
UNESCO, 2006. p. 17-32.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996).

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Programa Nacional de Integração da


Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio na
Modalidade de Educação de Jovens e Adultos -
PROEJA. Documento Base. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/setec Acesso 27.05.2023.

GRABOWSKI, G., & KUENZER, A. Z. A produção do conhecimento no campo


da educação profissional no regime de acumulação Flexível. Revista holos,
nº 6, p. 22–32, 2016.

FRANZOI, Naira Lisboa; MACHADO, Maria Margarida. Trajetórias de educação e


de trabalho na vida de jovens e adultos. Educação & Realidade, Porto Alegre, v.
35, n.1, p. 11 – 17, jan./abr. 2010.

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