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Unidade 1:
O ensino médio brasileiro continua em busca de sua identidade, marcado por reformas
educacionais articuladas às demandas da sociedade e do mercado de trabalho. Segundo
Nascimento (2007), o ensino médio tem sido, historicamente, seletivo e vulnerável à
desigualdade social, sendo as mudanças quanto à organização e funcionamento deste nível de
ensino pautadas na divisão social do trabalho.
Desde o período do Brasil colônia, o ensino médio no país passou despercebido nas
discussões sobre sua caracterização e identidade, várias foram as tentativas de mudança, no
entanto, o que prevalecia em cada época eram as influências governamentais vigentes. Piletti
(2003) destaca que no período de 1759 a 1996 aconteceram 21 reformas direcionadas ao
ensino médio, sendo que a sociedade em geral teve pouca ou quase nenhuma participação na
tomada de decisão. Atualmente foi aprovada a reforma do ensino médio a reforma do Ensino
Médio, editada pela lei 13.415 (BRASIL, 2017), sendo precedida de outras reformas que ocorreram
de classes. Enquanto o ensino propedêutico visava (e ainda visa) o ingresso no ensino superior,
o ensino profissionalizante objetivou preparar mão de obra qualificada de maneira atender às
demandas dos setores da indústria e do comércio em nosso país.
Com a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei nº 4.024/ 1961, foi
decretado em parágrafo único direito de todos à educação, bem como a equivalência nos
ensinamentos ministrados no ensino profissional e acadêmico; sendo assim a reforma
Capanema perde o seu valor, quando essa lei considera concomitante esses dois tipos de
educação (CORDÃO, 2018). Deste modo, tornar-se possível o ingresso nos cursos superiores a
partir da finalização do ensino profissionalizante; contudo, tal possibilidade não garantiu a
ruptura dos dois ramos distintos de ensino para distintas clientelas, ou seja, a elite e as classes
populares, marcado pela legislação da época enfatiza da dupla finalidade do ensino médio no
país segundo as condições sociais e financeiras de seus estudantes (NASCIMENTO, 2007).
Na década seguinte, ocorreu nova mudança na organização do ensino médio conforme
a LDB de 1971, ou seja, com a criação do ensino básico em primeiro e segundo graus, o ginásio
(duração de quatro anos) desaparece e é integrado à escola primária, formando assim, o 1º
Grau; e o colegial (duração de três anos) torna-se o 2º Grau, tal etapa passa a ser
obrigatoriamente profissionalizante. Tal reforma visou atender aos interesses da época, tendo
em vista frear o crescimento da demanda de vagas aos cursos superiores, fazendo com que
grande parte dos concluintes deste 2º Grau finalizasse o sistema escolar e adentrasse no
mercado de trabalho (NASCIMENTO, 2007). Este cenário permaneceu até o início dos anos 80,
mais precisamente 1982, a escola secundária volta a ter um caráter dualista (propedêutica e
profissionalizante). A falta de profissionais para os cursos profissionalizantes, bem como a
necessidade de novos currículos foram determinantes importantes para a revogação da
obrigatoriedade.
A aprovação da Constituição Federal (BRASIL, 1988) foi um marco para a
redemocratização da educação brasileira, com destaque para o artigo 208, inciso II, que
estabelece o dever do Estado em assegurar a “progressiva universalização do Ensino Médio
gratuito”, possibilitando a ampliação da oferta deste segmento educacional (MOEHLECKE,
2012). A Emenda Constitucional no 59/2009, no inciso I do artigo 208, passou a prever a
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obrigatoriedade escolar dos 4 aos 17 anos, o que torna imperativa a frequência ao ensino
médio. O atual Plano Nacional de Educação (PNE) (2014-2024) prevê “universalizar o
atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos” (PNE, Meta 3); além de “triplicar
as matrículas da Educação Profissional Técnica de nível médio, assegurando a qualidade da
oferta e pelo menos 50% da expansão no segmento público” (PNE, Meta 11) (BRASIL, 2014).
Conforme aponta Noleto (2018), os compromissos com o ensino médio, previstos no
Plano Nacional de Educação, acrescentam desafios e exigem mudanças de um nível educacional
marcado historicamente por problemas que vão além da evasão e incluem a questão do
modelo curricular ultrapassado, da formação profissional e da integração ao mercado de
trabalho, além do preparo dos cidadãos para o século XXI.
Apesar de quase 20 anos para que a obrigatoriedade do ensino médio fosse
constitucional, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/ 1996) o
Ensino Médio passa a ter destaque enquanto etapa final da educação básica, com duração
mínima de três anos, com as seguintes finalidades:
A partir da nova configuração do ensino médio, prevista na LDB de 1996, este nível de
ensino passa a ter maior visibilidade dentre os pontos de pauta da educação brasileira. A
Resolução nº 3, de 26 de junho de 1998, institui as primeiras Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio (DCNEM), as quais definem princípios, fundamentos e procedimentos
quanto à organização pedagógica e curricular, tendo em vista a articulação das finalidades
previstas na LDB 9.394/ 1996 (BRASIL, 1998). Conforme apontam Moehlecke (2012) e Zibas
(2005), apesar do caráter inovador das novas diretrizes - que estabeleciam a
interdisciplinaridade e organização do currículo por áreas de conhecimento, contextualização
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Apesar das DCNEM de 2012 ter como motivação, dentre outros aspectos, a superação
do dualismo entre os ensinos propedêutico e profissional, e sim a articulação entre o Ensino
Médio e a Educação Profissional: a articulada (integrada ou concomitante) e a subsequente,
atribuindo a decisão de adoção às redes e instituições escolares; tais finalidades não foram
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Frente ao exposto, verifica-se que o cenário do ensino médio sempre esteve marcado
por críticas, sendo que as mudanças recentes requerem um período para verificação dos
resultados e impactos na escolarização dos estudantes. Conforme previsto no documento da
Declaração de Incheon (UNESCO, 2016) é ponto fundamental a continuidade dos esforços para
ampliar o acesso à educação secundária, tendo como tônicas em todo o sistema educativo a
inclusividade, a igualdade e a qualidade.
Nesta perspectiva, o período do Ensino Médio é um marco importante na trajetória de
vida dos jovens; sendo acompanhado por uma série de transformações e dilemas, busca pelo
autoconhecimento, novas experiências e formas de se relacionar como os amigos, família,
escola e sociedade. Os jovens tendem a adquirir maior autonomia e independência, à medida
que avançam para novas fases da vida. Para Silva (2021), é importante destacar a contribuição
que o Ensino Médio ocupa como um espaço de conclusão de uma etapa formativa; o que
requer a oferta de uma estrutura que permita aos estudantes a continuidade dos estudos, e,
que também, prepare para a carreira e trabalho (SILVA, 2021).
Inseridos neste contexto tem-se os estudantes público-alvo da educação especial, ou
seja, pessoas com deficiência, com transtornos do espectro do autismo, com altas habilidades/
superdotação. De acordo com os dados do Relatório Técnico do censo escolar de 2021, o
percentual de estudantes PAEE matriculados em classes comuns tem aumentado
gradualmente. A maior proporção de alunos incluídos é observada na educação profissional
subsequente/concomitante, com inclusão de 99,5%.
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Fonte: Elaborado pelas autoras a partir das Sinopses estatísticas (2017- 2021).
As informações apresentadas na Tabela 1 sinalizam o crescimento contínuo de
matrículas de estudantes PAEE no ensino médio nas Classes Comuns. Nota-se que em 2017 o
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ensino, os dados do INEP (2020) indicam a necessidade de ampliar a oferta do AEE para os
estudantes incluídos nas escolas regulares. Além disso, apesar das matrículas no Ensino Médio
estarem aumentando continuamente nas escolas regulares, ainda há necessidade de ampliar o
acesso dos estudantes PAEE para essa etapa do ensino.
No Brasil existem aproximadamente 9.289,5 de jovens entre 15 e 17 anos. Os números
publicados pela organização Todos pela Educação (2021) indicam que em 2021 cerca de 4,4%
desse total de jovens, o que representa cerca de 407,4 mil jovens com idade entre 15 e 17 anos,
estavam fora da escola sem ter completado o Ensino Médio. Destaca-se também a redução dos
estudantes matriculados no Ensino Médio Regular ou que já concluíram o Ensino Médio. No
ano de 2021, esse total era de 74,9% dos jovens de 15 a 17 anos, e no ano anterior, 2020,
77,0%.
Além da questão da evasão escolar, historicamente o Ensino Médio apresenta
diferentes problemas em sua organização que atinge diretamente a participação e o processo
de escolarização dos estudantes, e com consequências que repercutem nos altos índices de
evasão escolar, alta proporção de estudantes em distorção idade-série, salas de aulas
superlotadas, escolas com infraestrutura insatisfatória e a complexidade do mercado de
trabalho. Neste contexto, é importante considerar que a inclusão dos estudantes PAEE no
ensino médio precisa responder a esses desafios estruturais presentes, e garantir que o sistema
educacional forneça recursos e serviços necessários capazes de atender as necessidades e
demandas que esses estudantes requerem nessa etapa de ensino da escolarização
(FERNANDES; BENITEZ, 2022).
buscam progredir e manter-se na escola durante esse período. “As desigualdades sociais
ascendem mediante as disparidades formativas e o distanciamento curricular das variadas
realidades vivenciadas por estudantes em todo país” (SILVA, 2021, p.2-3). Para muitos desses
jovens, a trajetória escolar não segue um fluxo contínuo, trata-se de um processo marcado por
permanência em um mesmo ano de ensino, reprovações, interrupção dos estudos, resultando
em muitos casos o abandono da escola.
Outro desafio da inclusão é a preparação dos professores. A formação inicial dos
professores nem sempre contempla os aspectos da inclusão especificamente de maneira
satisfatória. Muitos professores não se sentem preparados para atender às diversas
necessidades dos estudantes na sala de aula. A falta do desenvolvimento de competências
necessárias para a inclusão afeta o processo de ensino e a aprendizagem dos estudantes. Nesse
sentido, a inclusão educacional precisa de avançar na consolidação de uma formação inicial dos
professores que abranjam os processos centrais para enfrentar as barreiras da participação e
da aprendizagem dos estudantes.
A formação dos professores influencia diretamente em sua atuação e nas práticas
pedagógicas desenvolvidas. No nível ensino médio, promover práticas pedagógicas capazes de
atender as demandas e interesses considerando as individualidades dos estudantes é uma
tarefa complexa.
Felício (2017) em sua pesquisa de mestrado analisou as concepções e atuação de
professores do Ensino Médio frente aos alunos Público-alvo da Educação Especial. Os
resultados evidenciaram que a maioria dos professores se mostrou favorável à inclusão escolar,
porém apontaram a necessidade de melhoria na estrutura física e organizacional da escola;
profissionais especializados para acompanhar estes alunos; dificuldades na prática pedagógica,
principalmente ao que se refere à carência de conhecimentos sobre tópicos específicos da
Educação Especial; além da importância da participação da família no ambiente escolar, de
modo a contribuir para a aprendizagem de seus filhos, e de uma gestão escolar participativa
que acompanhe o trabalho docente com este público e que dialogue sobre questões referentes
à inclusão escolar.
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Acrescenta-se outro desafio, o fato que muitos professores que atuam no Ensino Médio
não contam com um professor especializado para o desenvolvimento do planejamento
pedagógico. Especialmente no ensino médio nota-se a insuficiência de docentes especializados
nas classes comum, e da precariedade do AEE (FERNANDES; BENITEZ, 2022).
Em muitos municípios do estado de São Paulo, o serviço da rede estadual que concentra
o maior percentual de matrículas no nível ensino médio dos estudantes PAEE está organizado
em salas de recurso funcional, e não, multifuncional, isto é, as salas são organizadas por um
tipo específico de deficiência, isso ocasiona um desafio maior para promover o acesso do
serviço para um número maior estudantes com diferentes deficiências, além de inviabilizar o
deslocamento dos estudantes, e consequentemente comprometer à frequência nesses
espaços. Embora no Brasil existem diretrizes que discorrem sobre a acessibilidade arquitetônica
dos ambientes públicos. A acessibilidade dos espaços escolares é um outro desafio que precisa
ser avançado na inclusão educacional. Para Fernandes e Benitez (2022) muitas unidades
escolares ainda não dispõem de estrutura adequada para atender as necessidades dos
estudantes no que diz respeito à acessibilidade arquitetônica, de mobiliários e equipamentos. A
inclusão dos estudantes PAEE nas escolas regulares requer a organização dos espaços escolares
com infraestrutura e recursos adequados capazes de atender as especificidades dos estudantes
e garantir a acessibilidade do ambiente.
Para Mendes, Vilaronga e Zerbato (2014) uma possibilidade seria pensar na proposta do
ensino colaborativo, trazendo o professor especializado como apoio para os professores da
classe comum. A proposta do ensino colaborativo, parte do princípio da colaboração entre o
professor de Educação Especial e o professor da sala comum. Ambos os profissionais assumem
conjuntamente a responsabilidade pelo planejamento, avaliação e demais procedimentos de
ensino para todos os estudantes, considerando a sala de aula comum como o espaço de
aprendizagem (MENDES; VILARONGA; ZERBATO, 2014).
As possibilidades de atuação do professor de educação especial junto ao professor
regente e estudantes PAEE, como exemplo a proposta do ensino colaborativo no contexto do
ensino médio, serão apresentados e discutidos na próxima unidade.
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