Você está na página 1de 14

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS

EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Giovanna Carelli Felicio Clemente

Maria Lúcia Martins Cordeiro

Patryck Washington Moutinho Neves Fernandes

Sávio Batista Silva Rocha

O ENSINO PROFISSIONAL NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

RIO DE JANEIRO

2023
I. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)

Vivemos em uma sociedade capitalista, ou seja, vivemos em uma sociedade


voltada para o trabalho e com finalidade na venda da mão de obra, no dinheiro, as coisas são
extremamente mercantilizadas — inclusive a educação —, o mercado de trabalho exige cada
vez mais de seus empregados. Por isso, nós investimos em estudo e capacitação. Para ter um
diferencial dos concorrentes pela sonhada vaga de emprego.
Então, nós estudamos: estudamos durante toda a juventude, nos esforçamos para
provas e concursos, isso para ter um bom emprego, com a desejada estabilidade financeira.
Passamos anos nas escolas com essa mentalidade, enfrentamos provas duras como o ENEM e
os outros vestibulares, tudo para sermos bons profissionais. Apesar deste ser um discurso
bem problemático e meritocrático, ele é a dura realidade, vemos isso frequentando escolas de
ensino médio, onde se sair bem no vestibular é uma grande preocupação.
Por isso, muitos brasileiros optam pelo ensino profissional, uma formação além
da normalidade, uma especificação ou o início de uma caminhada acadêmica. Falando desse
último caso, existe um alarme: o ensino profissional tem sido motivo de evasão no ensino
superior, veremos mais adiante. Um fato é, o ensino profissional é visto, erroneamente, como
um concorrente do ensino superior e isso é mostrado no dia a dia de escolas técnicas.
Outro motivo para a escolha desta modalidade de ensino é a falta de
acessibilidade ao ensino superior, ou a falta do diploma do ensino médio regular. Nesses
casos, o ensino profissional ajuda na introdução de pessoas, que por algum motivo não
terminaram a escola na idade padrão, no mercado de trabalho. Além de significar um sonho
para alguns como aprender a ler, significa uma melhoria na vida financeira.
Como dito acima, o ensino profissional é uma modalidade de ensino, assim como
o ensino médio regular, educação infantil, Ensino de Jovens e Adultos (EJA). O que significa
que ele é independente, porém não em sua totalidade, para cursá-lo o aluno deverá ter
concluído ou possuir matrícula ativa em uma instituição de ensino médio, ou paralelo a tal.
O ensino médio técnico também serve para aumentar a perspectiva de área
trabalhista para os alunos, testando suas aptidões e/ou gostos pessoais, abrindo portas para
novas possibilidades de carreira, descobrindo novos talentos e realizando atividades que
desconheciam a existência.
Mas, uma coisa importante a se lembrar é que a educação profissional não
envolve só o ensino médio, existem também instituições fora da escola. Existem centros de
educação profissional em vários lugares e modelos diferentes. Como o SENAI e o SENAC
que promovem cursos somente deste nível.
E em termos legislativos, o que a Constituição diz sobre a educação profissional?
Em vigência se encontra a lei n.º 9.394 de 20 de dezembro de 1996: a LDB. A
LDB — Lei de Diretrizes e Bases da educação — foi sancionada durante o governo de
Fernando Henrique Cardoso. Essa lei possui medidas a respeito de universalizar e
regulamentar o direito à educação por todos os cidadãos brasileiros. Nela estão escritos
comandos e obrigações que regulam a implementação da educação, por exemplo, definem a
idade de cada segmento escolar, entre outros. Este documento é muito importante para todo o
nosso país, assim como a BNCC — Base Nacional Comum Curricular — ele orienta as
circunstâncias que a educação deve ocorrer. Em diferença, a BNCC se refere aos conteúdos
dados, enquanto a LDB regulamenta o processo legislativo que a educação necessita.
A LDB, sendo um documento federal, é válida em todo o país e diz a respeito de
todas as modalidades de ensino, mas aqui, nós vamos nos limitar somente ao ensino
profissional. Com suas relações com o ensino médio e com uma forma de ensino
independente, o ensino tecnológico.
Vamos começar a falar do ensino médio profissional, que hoje é uma das
modalidades de ensino que mais inspiram alunos a ter uma boa condição de trabalho. O censo
do Inep referente ao ano de 2022 revelou que houve um aumento de aproximadamente 13%
de matrículas novas. Um fato é que as estatísticas vinham caindo durante os anos
pandêmicos, anos que várias modalidades escolares tiveram uma grande evasão.
A LDB diz que suas atividades devem ser mantidas com o avanço nos estudos no
ensino médio, garantindo a continuidade dos alunos nas disciplinas comuns. O texto da lei diz
que o ensino médio é obrigatório, para a validade do ensino profissional é ter cursado ou estar
cursando, assim chamados de modelos subsequente e concomitante, respectivamente.
O modelo subsequente pode ser solicitado em muitas ocasiões, como o reingresso
de uma mãe de família nos estudos, ou qualquer pessoa que deseje ter uma renda extra.
Outro direito dado na lei é a obrigatoriedade das instituições abrirem cursos livres
para toda comunidade. Estes devem ser independentes de níveis de escolaridade. Este recurso
foi adicionado no ano 2008 pelo projeto do Plano de Desenvolvimento de Educação (PDE)
que melhorou o capítulo III da LDB, agora chamado de “educação profissional e
tecnológica”. O projeto visou melhorar a qualidade de trabalho e de vida dos empregados,
aumentando sua escolaridade. Esse plano também aumentou as áreas de abrangência dos
cursos, como, por exemplo, a tecnologia e ciências da computação.
A trajetória da LDB até os dias atuais marca uma série de modificações que vêm
sendo feitas até hoje, se atualizando, para acompanhar a sociedade. Nos últimos meses houve
um novo projeto de lei que mudaria o funcionamento da LDB a respeito da capacitação dos
professores para um melhor entendimento sobre maus tratos a crianças e adolescentes. A PL
está tendo aceitação sendo aprovada pelo Senado no dia 23 de agosto de 2023, proposta pela
deputada federal Benedita da Silva do PT.
A LDB, como foi mostrado, tem muito a oferecer em regras de ensino, auxiliando
a educação a seguir um caminho mais justo e democrático. Já o ensino profissional, é o “algo
a mais” que muitas empresas procuram. Além de ser uma ajuda a quem precisa de uma nova
formação.

II. Políticas Públicas e mão de obra

No Brasil Colônia o Ensino dado aos caboclos, indígenas, escravizados e portugueses


pobres, ou seja, as classes desfavorecidas, era um ensino de saber-fazer. Neste momento,
Portugal tinha o Brasil colônia apenas como um arsenal mercantilista dividido entre cidadãos
e escravizados, os que pensam e os que fazem. As classes dominantes detinham o privilégio
do poder e do saber. Em 1549 nasce o primeiro projeto educacional de catequização trazido
pelos Jesuítas, com intuito de colonizar e civilizar os povos nativos segundo o ideal
português. A alfabetização em português e a doutrina cristã era dada aos povos nativos,
enquanto a gramática do latim e as bonificações por desempenho como estudos posteriores na
Europa, era dada aos filhos das elites.

Com o baixo empenho produtivo material da época, o único modo de manter um


desenvolvimento seria à base da coerção física e da correção das falhas por meio da
execução, através da pedagogia do medo, em que o modus operandi a base do medo
estendeu-se no sistema educacional por anos. Em 1759 Marquês de Pombal expulsou os
Jesuítas das colônias e desfez o modelo escolar implantado. Pelo decreto de 23 de março de
1809 é criado o colégio das fábricas com a ideia de praticidade e de gerar ofícios.

A Educação profissional gratuita de nível técnico surgiu no Brasil pelo decreto n.


7.566, de 23 de setembro de 1909. Com o nome de “Escola de aprendizes artífices” criada
por Nilo Peçanha com intuito de dar oportunidade aos jovens de classes menos abastadas.
Foram criadas no total 19 escolas em todo país, com cunho político. O público alvo eram
crianças pobres, órfãs e sem perspectiva. A escola previa gerar ofício, em geral voltado para o
artesanato e possibilitar às crianças e adolescentes desenvolverem a própria forma de
subsistência e profissional.

Nesse período, instituições privadas de cunho filantrópico eram responsáveis por


gerenciar as políticas públicas, sem interferência governamental. A escola de aprendizes
artífices nasce e estabelece a separação entre as elites e as classes trabalhadoras. A Educação
propedêutica, voltada para as classes mais altas, desenvolvia o estudo das artes, da ciência, da
educação, obtinham cunho humanitário e além disso, preparava os estudantes para ingressar
nas universidades. Ou seja, o ensino intelectual era direcionado para os mais ricos, em
contrapartida ao ensino profissional cujos os ofícios aprendidos tinham como objetivo a
formação de trabalhos manuais, pragmáticos e repetitivos destinados às pessoas pobres,
negras, mestiças e consideradas vagabundas.

Pelo Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931, aconteceu a reforma Francisco


Campos no governo Vargas , a primeira reforma do sistema educacional do Brasil, em que
houve a estruturação e organização do ensino secundário. É neste período que as escolas
técnicas profissionais são deixadas de fora pois não havia interesse governamental envolvido.
Isto é, a elite brasileira não tinha interesse em investir no ensino ou na capacitação dos
trabalhadores, uma vez que o interesse primordial de manter o sistema se faz através do
domínio sobre a classe trabalhadora. O ensino técnico profissional não era utilizado como
ensino base para entrada nas universidades, quem escolhesse o ensino profissional - em
grande maioria pessoas pobres - não poderia ingressar nas universidades. Neste sentido,
apenas conseguiria manter os estudos formais quem não necessitasse trabalhar, como os
estudantes do ensino propedêutico, filhos das elites.

De 1942 a 1946 , o decreto-lei n.4.244 de 9 de abril de 1942, pela reforma do sistema


Capanema em que previa a reestruturação do ensino secundário, agrícola, comercial e
industrial etc. Onde ocorre a inserção do “Sistema S” (Senai, Senac, Senar etc) sistema
privado cuja ideia é criar mão de obra e solicitar as demandas da industrialização, êxodo
rural e pós Segunda Guerra Mundial. Desta forma, exime o Estado de aderir a políticas
públicas em relação à educação profissional. O Sistema Capanema enfatizou a dualidade
estrutural do ensino, onde o ensino intelectual (secundário) foi direcionado aos filhos das
elites e o ensino prático (profissional/técnico), sem qualquer poder de decisão, é direcionado
aos trabalhadores.

Em contrapartida havia o sistema público Centro Federal de Educação Tecnológica


(CEFETs) como evolução das Escolas Aprendizes Artífices. De um lado há um instrumento
do Governo com os CEFETs e por outro lado há um instrumento privado com o sistema S.
Com o Decreto nº 47.038, de 16 de outubro de 1959, em meio à ditadura militar, os CEFETs
criaram autonomia administrativa com intuito de tocar o negócio com venda de ensino
técnico profissional. Desta forma passa-se a ter um boom de escolas profissionais e
tecnológicas com amparo governamental.

Em 1961 com a LDB, surge uma equivalência entre o ensino técnico e o ensino
propedêutico, portanto, quem optasse pela formação no ensino profissional poderia utilizar
desta formação para ingressar em cursos superiores. Como sintetizado, o ensino propedêutico
preparava as pessoas para ingressar de fato nas universidades, enquanto a educação
profissional era especificamente preparar para o mercado de trabalho. Por exemplo, um
ensino profissional com enfoque em administração, não supriria conhecimentos como
filosofia, sociologia, artes etc.

Em 1964, durante a ditadura militar, houve uma mudança na educação devido ao


chamado milagre econômico. Em 1971, a lei nº 5.692/71 obrigava todas as escolas de nível
médio adquiriam um ensino profissional, com intuito de gerar mão de obra para o mercado e
frear tentativas das classes mais baixas de acessarem o ensino superior. Naquele período era
urgente fazer girar a economia, por isso todos os estudantes foram formados em nível técnico.
Ao final da formação, cada estudante escolheria entre trabalhar ou ingressar em uma
universidade, por unanimidade e necessidade nacional, todos acabavam trabalhando.

Como dito acima, em 1996 a nova LDB configura nível técnico, que deixa de ser
obrigatório, dando direito a todos os estudantes autonomia e poder de escolha em qualquer
segmento e as escolas preparatórias para o vestibular e deixam de obrigar o direcionamento
dos estudos para uma área profissional específica. Com isso, o ensino profissional passa a ter
algumas vertentes específicas como o aperfeiçoamento profissional, cursos de qualificação
profissional, curso técnico profissional, tecnólogos profissionais e cursos de pós-graduação.
Cria-se um modelo paralelo de educação em relação ao propedêutico.
Cria-se a lei n.11.892 de 29 de dezembro de 2008, em que “institui a Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia”. Isto é, por lei estes institutos têm como premissa dedicar 50% das
vagas do ensino técnico integrado ao ensino médio. Durante a formação, o estudante tem
acoplados ao currículo ensinos generalistas como as artes, a cultura, a ciência etc. Os IFs
atuam como entidade unitária e integral, dispensando a proposta de ensino mecanizado e
direcionado apenas ao mercado de trabalho. Desta forma, o estudante cria durante o seu
desenvolvimento senso crítico e reflexivo sobre si, sobre o mundo e tem a oportunidade de
escolher o caminho profissional que deseja seguir por opção e não por falta dela.

III. Influência do Novo Ensino Médio

Não há dúvidas em que, para falar de Educação Profissional no Brasil, o processo de


elaboração e implementação do Novo Ensino Médio tem papel fundamental como política
pública para atualizar o ensino do país. Em dados de 2021, o ensino médio brasileiro
dispunha de 7,7 milhões de matrículas, sendo que 6,8 milhões estão nas escolas públicas e
935 mil nas escolas privadas. Esse número de alunos em todo o país está vivendo
reordenamentos significativos, o que tem foi denominado pelo então governo federal sob a
presidência de Michel Temer (2016-2018) como o Novo Ensino Médio. Na época o
Ministério da Educação, através do então Ministro José Mendonça Filho, anunciou os
resultados do IDEB 2015. Com resultados estagnados desde 2011, ele declarou que “[...] Os
resultados são uma catástrofe para nossa juventude. A reforma do ensino médio é urgente”
(MENDONÇA FILHO, 2016). A partir disso, o governo federal editou a Medida Provisória
746/2016 sob a justificativa de que até então “o ensino médio possui um currículo extenso,
superficial e fragmentado que não dialoga com a juventude, com o setor produtivo, tampouco
com as demandas do século XXI”.

E qual a influência dele no Ensino Profissional brasileiro? Na forma da Lei no 13.415/2017, a


reforma do ensino médio passou a ser vista como solução para tornar mais eficiente a
aprendizagem e evitar a evasão dos estudantes, bem como reduzir as desigualdades
educacionais e adequar os preceitos educacionais às demandas do mercado de trabalho (os
setores dominantes). Dentre tantos objetivos visados, o mais marcante nos discursos dos
apoiadores da reforma era a propagação de maior oferta de qualificação profissional aos
estudantes que desejassem ingressar imediatamente em relações de trabalho, trazendo à tona
noções-chaves da retórica empresarial para a educação, tais como responsabilização e
meritocracia, fazendo com que a gestão das direções escolares se constituam em meros
executores engendrados por mecanismos de coerção definido pelo Estado.

E nesse sentido, pedagogicamente, podemos dizer que o Estado capitalista se trata de um


Estado cedente, na medida em que os trabalhadores organizadamente passam a contestar o
capitalismo e concomitantemente reivindicam direitos imediatos. O Estado capitaneado pelas
classes dominantes entende que é melhor conceder direitos. Daí emerge a característica
“camaleônica” do Estado capitalista que, diferente de outros modelos de Estado, se
metamorfoseia para manter o poder capitaneado pelos interesses das classes dirigentes. E isso
fica nítido na implementação catastrófica do Novo Ensino Médio nas instituições de ensino
do Rio de Janeiro. Um dos aspectos ressaltados pelas figuras públicas que tem espaço na
grande imprensa é a correlação entre educação e atividade econômica. Ou seja, trata-se
também do projeto formativo da força de trabalho brasileira, sobretudo a juventude.

Assim, a Portaria no 649/2018 instituiu o Programa de Apoio ao Novo Ensino Médio, que
trata-se de normatização para apoiar as Secretarias Estaduais de Educação (SEE) na
elaboração e execução do novo currículo que contemple tanto a formação geral da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) como os diferentes itinerários formativos. Em
conformidade com o acordo de empréstimo de US$ 250 milhões do governo brasileiro com o
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) para implementação do
Novo Ensino Médio, o valor emprestado compõem um processo de financeirização, fazendo
com que a dita reforma represente os interesses dos setores que visam impulsionar seus
negócios comerciais através da política educacional implementada. O ano de 2020 era para
ser o momento de começar a implementar o Novo Ensino Médio, segundo os parceiros
dominantes. Entretanto, o atraso do processo de discussão nos estados e a pandemia de
coronavírus foram os principais impeditivos desse processo. Esta breve contextualização
histórica é necessária pois, a partir daí, toda a execução dos trâmites finais para a
implementação do Novo Ensino Médio se deu por meios remotos, com limitada participação
das secretarias de educação e sem orientação às gestões escolares, docentes e estudantes. E
isso é importante pois o problema não é o incentivo ao Ensino Profissional no Brasil - que
muito pelo contrário, pode realmente abrir portas para muitas pessoas - mas sim a crítica a
como esse Ensino foi implementado, pois nesse processo é quase inexistente a participação e
capacitação docente para ministrar essas aulas, além de que em diversas instituições de
ensino havia falta de professores para alocação nas aulas dos itinerários.

Outro ponto interessante é que o fomento advindo de instituições privadas de ensino visam,
majoritariamente, o incentivo à apenas a formação do curso técnico daquele estudante. Um
exemplo disso, antes mesmo da Reforma, é o Programa Dupla Escola que foi oficializado em
2012 pela Secretaria de Estado da Educação do Rio de Janeiro (SEEduc-RJ), a partir de um
projeto de escolas da rede estadual com educação profissional técnica de nível médio em
parceria com empresas privadas, como o Instituto Oi Futuro e o Instituto Pão de Açúcar. À
Secretária de Educação caberia assumir as despesas e gestão em relação ao ensino médio, a
cargo das empresas privadas cabia o provimento de recursos para manter os cursos técnicos.
Para a burguesia, a educação é uma esfera a ser mantida sob seu controle, sobretudo, em vista
da produção social da força de trabalho. Afinal, uma qualificação que exceda as funções
demandadas pelas empresas se torna disfuncional para o capital, pois demanda um grau de
complexidade que desperdiçaria tempo e dinheiro para dispor de um contingente substancial
de força de trabalho; ou seja, a formação da força de trabalho deveria, a princípio, caminhar
passo a passo com a demanda das empresas. Por isso não é de se estranhar que essas
instituições privadas estejam tão interessadas em financiar esses experimentos de curso
técnico em escolas públicas. Em seguida, foi expedida a Resolução SEEDUC no 5508, em
fevereiro de 2017, que estabelecia um novo modelo de formação escolar: o Ensino Médio em
Tempo Integral com ênfase em Empreendedorismo, em parceria público-privada com o
Instituto Ayrton Senna.

Sem a participação de instituições acadêmicas e de representação sindical e estudantil nesse


espaço, em fevereiro de 2021, a SEEduc-RJ criou o Comitê de Implementação da Reforma do
Ensino Médio (doravante Comitê da Reforma), a cargo de preenchimento por pessoas da
própria secretaria. A fim de obter alguma interlocução com aqueles/as que estavam nas
escolas, no mesmo mês a secretaria disponibilizou um questionário pela plataforma Google
Formulários para profissionais da educação e estudantes sobre a oferta do Novo Ensino
Médio. Ocorreu, também, a etapa regional de discussão sobre a BNCC e o Novo Ensino
Médio por meio de lives promovidas pela secretaria, em que algumas escolas foram
convidadas a apresentar os debates em suas unidades. Não é uma novidade, as falas dos
participantes questionaram a reforma, tanto pela forma como estava sendo executada quanto
pelo seu conteúdo. Ainda neste ano, na Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do
Estado do Rio de Janeiro – ALERJ, se destacou a proposição e a aprovação do Projeto de Lei
no 4.642/2021 que adiou o início da implementação da reforma para março de 2023, em que
propunha etapas de discussão municipais e regionais com a comunidade educacional.
Contudo, mesmo após a aprovação em plenária, o governador Cláudio Castro vetou o projeto
de lei, alegando que a matéria era responsabilidade do poder executivo. Retomando a
definição de Estado Camaleão, ele representa o fato de o Estado mudar de face para
sobreviver, junto com o capitalismo, criando direitos sociais e estendendo os direitos políticos
à quase totalidade dos trabalhadores; por outro lado, faz tudo isso mantendo suas
características essenciais, como garantidor do pleno funcionamento da economia capitalista,
da exploração e da desigualdade que lhe acompanham. O seu real objetivo é garantir o pleno
funcionamento da reprodução do capital, das suas instituições e frear a luta da classe
trabalhadora. E essa atitude de não permitir a participação docente e estudantil na construção
dessa reforma representa nitidamente isso.

O início do letivo de 2022 na rede estadual foi extremamente bagunçado, pois havia
disciplinas que não deveriam mais constar na grade horária do primeiro ano e outras
deveriam ser incluídas como obrigatórias. Pelas matrizes curriculares, todas as disciplinas
sofreram redução de carga horária obrigatória nos 3 anos de ensino médio - com exceção de
Artes, que já não havia obrigatoriedade - mantenho somente Matemática e Língua Portuguesa
como disciplinas obrigatórias neste período de tempo. Sociologia e Filosofia foram as
disciplinas com maior redução, já que foram limitadas a um ano letivo com dois tempos
semanais. Por outro lado, disciplinas como Projeto de Vida são ofertadas nos três anos
letivos. Tem sido prática recorrente de que os docentes lecionam sobre aquilo aos quais não
tiveram formação ou qualquer experiência, sobretudo nessas disciplinas novas. Por meio de
suas fundações privadas, setores dominantes continuam atuando na definição da agenda da
educação pública. Vale ressaltar que organizações da classe trabalhadora e os profissionais da
educação constantemente são relegados a uma condição subalterna, a fim de se tornarem
pouco relevantes na definição dos processos, sobretudo porque, nesse caso, colocam-se
frontalmente contrários a essa política educacional.

Em nível nacional a interpretação que podemos tirar desta análise é de que se trata de nítido
projeto educacional que os sentidos da aprendizagem sejam como uma lista de competências,
sem acesso consolidado aos saberes e aos conhecimentos sistematizados, de modo a limitar as
trajetórias escolares e profissionais dos jovens da classe trabalhadora. Continuam cobrando
no Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) o mesmo nível altíssimo de conteúdo, mas
não ofertam aulas suficientes, sequer em todos os anos de ensino médio para os estudantes de
escolas públicas. Isso, sem dúvidas, acarreta em uma evasão escolar no ensino superior.
IV. Evasão profissional e superior

A evasão escolar no ensino médio, especialmente quando associada a cursos


técnicos, pode ter impactos significativos no abandono da continuidade escolar, incluindo a
desistência de cursar o ensino superior. Essa questão é multifacetada e está relacionada a
diversos fatores socioeconômicos, culturais e educacionais.

1. Contextualização da Evasão Escolar no Ensino Médio Técnico:


A evasão escolar é um fenômeno complexo que envolve fatores individuais,
familiares e institucionais. No contexto do ensino médio técnico, alguns estudos destacam
desafios específicos, como a falta de infraestrutura, a inadequação do currículo e a falta de
orientação profissional adequada (RIBEIRO et al., 2017).

2. Impactos da Evasão na Continuidade Escolar:


A evasão no ensino médio técnico pode levar à interrupção abrupta da formação
educacional, resultando na falta de preparo para o ensino superior. A ausência de conclusão
do ensino médio pode ser um obstáculo significativo para a continuidade nos estudos
(GARCIA, 2015).

3. Desistência do Ensino Superior:


A conclusão do ensino médio técnico é muitas vezes um pré-requisito para o
acesso ao ensino superior. A falta dessa base educacional pode desencorajar os estudantes a
buscarem uma formação superior, contribuindo para taxas elevadas de desistência (BRASIL,
2018).

4. Desafios Socioeconômicos e Culturais:


Fatores socioeconômicos, como a necessidade de ingresso rápido no mercado de
trabalho, podem influenciar a decisão dos estudantes de abandonar os estudos. Além disso,
questões culturais e a falta de apoio familiar também desempenham um papel importante
(RIBEIRO et al., 2017).

5. Estratégias para Mitigar a Evasão e Incentivar a Continuidade Escolar:


Implementação de programas de orientação profissional e acadêmica.
Melhoria na infraestrutura e qualidade do ensino.
Estímulo ao protagonismo estudantil e participação ativa dos pais no processo
educacional (GARCIA, 2015).

V. Conclusão
A evasão no ensino médio técnico está intrinsecamente ligada ao abandono da
continuidade escolar, especialmente no contexto do ensino superior. Compreender os fatores
que contribuem para esse fenômeno é crucial para desenvolver estratégias eficazes que
promovam a conclusão dos estudos e incentivem a busca por uma formação superior.

VI. Referências Bibliográficas

BATISTA, Eraldo Leme. Percurso histórico do ensino profissional no Brasil–da Colônia ao


início do século XXI. Revista Espaço Acadêmico–n, 2021.
GARCIA, E. A evasão escolar e a formação técnica. Educação & Realidade, v. 40, n. 3, 2015.

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria no 521, de 13 de julho de 2021a. Institui o


Cronograma Nacional de Implementação do Novo Ensino Médio. Diário Oficial da União:
seção 1, Brasília, DF, edição 131, p. 47, 14 jul. 2021. Disponível em:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-521-de-13-de-julho-de-2021-331876769.
Acesso em: 20 nov. 2023.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio.


Brasília: MEC, 2018.

GAWRYSZEWSKI, Bruno; PEREIRA, Natália Silva. A reconstituição do processo histórico


do Novo Ensino Médio no estado do Rio de Janeiro. Revista Espaço Pedagógico, Passo
Fundo, v. 30, e14355, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.5335/rep.v30i0.14355.

OLIVEIRA, Maria Auxiliadora Monteiro. Políticas públicas para o ensino profissional.


Papirus Editora, 2016.

RIBEIRO, L. M. et al. Evasão e retenção em cursos técnicos de nível médio integrados ao


ensino médio. In: XXIV Congresso de Iniciação Científica da UNESP, 2017.
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO. Versão preliminar
do Documento de Orientação Curricular do Rio de Janeiro – Ensino Médio. Rio de Janeiro:
SEEDUC-RJ, 2020.

Você também pode gostar