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EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL: AO MESMO TEMPO ADOECIDA E

ADOECEDORA.
Por: Rhayanne Crystynna dos Santos Marinho.

Introdução
Tem-se a noção de que a educação é a porta de entrada para um mundo
totalmente reconstruído e livre de todas as precariedades que nos assola, como se
ela fosse o novo Salvador da humanidade e que por meio dela, encontraremos a
salvação mundial. Sem dúvida alguma a educação tem um papel primordial na
mudança da sociedade e na produção de novas oportunidades para os sujeitos , ela
é sim um produto de transformação. Mas para isso, não se pode individualizar o
pensamento de educação, não se pode achar que ela por si só é uma ferramenta de
salvação, porque não é. Para que essa salvação aconteça, precisamos de uma teia
de comprometimento, de entrega, de compromisso, precisamos de ação e
mobilização para que ela venha exercer seu verdadeiro papel.
Não é de hoje que a precariedade da educação no Brasil é pautada em
textos, discursos e debates. Também não é de hoje que sabemos a justificativa para
toda essa precariedade e invisibilidade para com a educação brasileira. A elitização
do ensino e o desamparo do Estado são um dos fatores que influenciaram o
cenário da educação. A diferença social gritante do país também é outro fator que
ajuda no alto índice de uma educação enferma.
Neste ensaio irei pautar sobre os desafios enfrentados pela a educação para
conseguir manter-se de pé com quase nada de recursos e com ideias embasadas
na famigerada meritocracia. Abordando desde seus ideais de criação, até as
verdadeiras dificuldades enfrentadas ao decorrer dos anos para implementação de
uma Educação Pública no Brasil. E como este é um ensaio, meu posicionamento
crítico irá ser expressado de forma livre, sempre com pontuações textuais.

A base da Educação Pública no Brasil.


Quando me refiro à Educação brasileira, estou me refiro na verdade, a
Educação Pública Brasileira. Que desde sua base de criação enfrentou vários
problemas, principalmente advindos da elite que não concordava com um método
de ensino que abrangesse todos, de todas as classes e raças.
Foi no século 19 que a ideia de educação pública começou a surgir no Brasil,
por meios de debates e de uma possível implementação de um ensino base para
todos, o que não ocorreu, pois o governo seguinte a Independência do Brasil não
deu devida prioridade para a questão, fazendo com que a disseminação desse
projeto fosse feito pelos grupos escolares criados na época (SAVIANI, 2004).
A partir dos grupos escolares foi implementada a primeira e verdadeira base
da educação brasileira, a ideia de meritocracia. Com a divisão de grupos por turma,
os alunos foram divididos entre os mais desenvoltos com as matérias, e entre
aqueles que apresentavam mais dificuldade em aprender. Construindo assim, um
ensino com a ideia básica de competição de inteligência, fator esse, que se tornaria
mais tarde, um dos mais importantes para o adoecimento do sujeito em processo de
aprendizagem.

A relação Governo, professor e aluno.


Vamos imaginar uma competição, onde existem três competidores: o aluno, o
professor e o Governo. O aluno é aquele competidor novo, sem experiência, mas
que todos depositam confiança, pois tem-se na cabeça que ele recebeu treinamento
suficiente para estar na competição. O professor é um competidor respeitado, o
veterano, porém cansado, pois, na sua trajetória a maioria dos seus títulos não
foram reconhecidos, mas lhe é cobrado a não desistência. O Governo é o
competidor mais vistoso, o mais poderoso, o patrocinador de toda a competição, o
responsável pelo bem estar dos outros competidores, o que mais tem recursos, o
que poderia vencer qualquer competição e ainda tirar o alto peso de
responsabilidade do aluno e reconhecer todos os prêmios do professor. Ao invés
disso, o Governo leva o troféu que claro, ele ganhou, para comemorar com os seus
patrocinadores, deixando o aluno e o professor com mais responsabilidades que
deveriam e mais uma vez com o gosto da derrota.
Ao pensar desse modo, a tríade da educação não existe, os três lados não
entendem-se entre si, não há uma troca e a devolução dada pelo governo nunca é o
suficiente para cuidar da demanda vigente. Mas mesmo assim, continua-se a não
dar valor para os alunos e professores, deixando os dois lados mais fracos e
vulneráveis.
A competição citada acima, é na verdade o ensino público. Como já
sabemos, o ensino privilegia a alta classe, aqueles que estão mais próximos do
governo e aqueles que têm certas regalias. Fazendo com que a educação seja
elitizada e mais uma ferramenta para ressaltar a diferença econômica e social do
nosso país.
Numa relação que deveria ser consolidada, com base na confiança e no
respeito, o que vemos é uma relação altamente abusiva das partes mais
favorecidas, fortalecendo a ideia de invisibilidade por meio das autoridades. Pois,
quando o governo não dá reconhecimento aos professores e nem ferramentas de
capacitação profissional, o aluno sobre por consequência, onde lhe é cobrado algo
que não lhe é passado. E este é o nosso eterno looping de educação falida. Onde a
população cobra do governo, o governo cobra do professor e o professor por sua
vez, cobra do aluno. Sem nenhum dos meios ter a capacitação para a demanda das
cobranças.

As Reformas Educacionais.
A educação no Brasil sofreu ao longo dos anos várias reformas, isso pode
ser explicado pelo fato de que o país passou por algumas formas de governo. Com
as reivindicações feitas pelos profissionais da educação e com os governantes que
passaram pelo país, leis educacionais foram implementadas, assim como
associações de educação também foram criadas para assegurar a eficácia dessas
leis.
O corpo do ensino foi mudado diversas vezes, ele foi sofrendo complementos
de acordo com a demanda gerada, conforme o político que estava no poder. Assim
alguns setores do ensino sofreram mais ajustes que os outros, como houve também
implementação de outras bases de ensino (SAVIANI, 2004).
Podemos constatar então que planos de educação nunca foram muito bem
estruturados com antecedência por meio das autoridades políticas. Como se visa
mais a mão de obra do que o pensamento crítico dos sujeitos, os governos
priorizam parte da educação que faz o sujeito trabalhar e não pensar. Por meio das
reformas os sujeitos vão se adequando aos métodos de ensino, que na maioria das
vezes são universalizados, sem ideia de sujeito único.
Várias Reformas Educacionais serviram para trazer mais aprofundamento nos
conhecimentos gerais, e possibilitaram também a inserção de temas antes proibidos
pelos antigos planos de ensino. Mas essas reformas que trouxeram nação critica só
foram possíveis mediante embates importantes entre estudantes-governo e
professores-governo.

Educação Pública atualmente no Brasil.


A educação pública foi muito bem pensada por alguns e mal executada por
quase todos que tentaram implementá-la. As dificuldades foram encontradas desde
o início, o que mostra uma relutância por parte da população por esse tipo de
ensino. Durante todos os anos seguintes da sua criação, o ensino público sofreu até
chegar a sua sepultura nos anos atuais.
Sem o mínimo para se sustentar, sem programas educacionais, sem
visibilidade por meio das autoridades, e sem reconhecimento o ensino foi
definhando, caindo numa zona que não conseguiria se recuperar facilmente . Pelo
fato de estar tão cansado, ele não consegue continuar sozinho, e não tem em quem
se apoiar.
E um dos agravantes dessa situação é a cobrança que é colocada no ensino
e nos estudantes, tendo assim o Brasil, uma educação afuniladora, onde os poucos
que conseguem aprender em meio ao caos são os escolhidos. E os demais são
mais uma vez deixados de lado. Mas como cobrar aprendizado educacional se a
própria educação oferecida é precária?
Quando falo da educação, também levo em conta o contexto social que os
alunos das redes públicas estão inseridos. Crianças, adolescentes e adultos que
fazem uso da educação pública na sua grande maioria participam de uma realidade
social de exclusão, de não oportunidades e de preconceitos. Tendo assim altos
níveis de analfabetismo e desistência escolar.
Na introdução do ensaio eu afirmei que não se pode pensar em educação de
forma individualizada, e digo isso pelo fato de que para que se tenha uma boa
educação escolar é necessário que se tenha outros aspectos funcionando
inteiramente bem, como alimentação, moradia, núcleo familiar, transporte e lazer. E
o mais importante, é necessário uma boa diretriz de educação, com métodos que
façam ensinar de verdade e não somente reproduzir conteúdos didáticos, é
necessário que a educação seja um suporte pra vida e não para o mercado de
trabalho, que se estabeleça um pensamento crítico para sabermos reconhecer
quando os planos de ensinos devem ser alterados.
Não podemos negar que há um aumento no número de pessoas no meio
escolar e isso se dá pelo maior número de escolas implementadas nas cidades e
zonas rurais do país. É notório também que o número de analfabetismo caiu,
também se vê um maior número de pessoas no Ensino Superior, e isso deve-se às
reformas que sofremos durante os anos. Mas o apontamento que faço nesse ensaio
não é a quantidade de pessoas que o ensino público conseguiu alcançar e sim, a
qualidade da educação que esses alunos têm nos meios escolares.
O que vivenciamos hoje no Brasil é a formação de “analfabetização”
funcional, onde tem-se um ensino básico precário e um ensino superior adoecedor.
Cobra-se na frente o que não é passado em toda a vida escolar básica, causando
um déficit na educação sem precedentes.
A educação pública no Brasil está falida, os programas não funcionam mais,
a escravização do ensino está adoecendo pessoas e o nível da aprendizagem só
vem caindo. É preciso se atentar aos sujeitos que estão envolvidos no processo de
educar, e fortalecer as diretrizes educacionais e reais com os alunos, não é possível
cobrar conteúdo que não é suportado pela as escolas. Melhorando o projeto de
ensino, se melhora a educação, melhorando a qualidade de vida, se melhora o
aluno.

Considerações finais.
Pude constatar nesse Ensaio que a Educação Pública do país é um dos
setores mais devastados e de menor visibilidade das figuras do Governo, por isso a
sua precariedade é visível em todos os âmbitos. Em contrapartida o Estado quer
fabricar um exército de máquinas que são incansavelmente produtoras de trabalho,
com isso cobram um conhecimento elevado das áreas do ensino, que ele mesmo
não deu o suporte para que fosse implementado.
Concluí também que à educação assim como todo o resto do mundo, é um
construto histórico, por isso as suas bases onde implementada à noção de ensino,
revigoram até hoje, por meio dos livros, das divisões de sala, divisões de disciplinas
e sua devida importância. Com tudo exposto, a minha visão crítica de uma
educação adoecida e adoecedora foi ainda mais consolidada.
Acredito em formas de ensino de aprendizagem e não de seleção, e a partir
do momento que essa concepção chegar nas bases educacionais, o ensino mudará,
e então, iremos enfim aprender sobre as coisas do mundo.

Referências
SAVIANI, Dermeval. A escola pública brasileira no longo século XX. Unicamp.
2004.p. 1-11.

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