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Manifesto Por Uma Escola Pública Mais Humana

Marianna de Oliveira Lima

Introdução
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado
e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
(C.F., 1988).

Entre as mudanças ocorridas através da Constituição Federal de


1988, está a educação como direito de todos os cidadãos e, certamente
depois dela, um avanço significativo no que diz respeito ao acesso às
escolas que, até então, era restrito a uma minoria. Porém, não podemos
ser ingênuos ao ponto de acreditar que tal artigo seja o suficiente para
garantir, não só o acesso, como também a eficácia desta educação com
qualidade para todos.
Ainda nos dias de hoje, nos deparamos com a realidade educacional
em nossas escolas, um tanto distante do ideal de educação pública capaz
de suprir a demanda de educar para o pleno desenvolvimento da pessoa
humana.
Através deste manifesto, queremos levar, principalmente as pessoas
que compõem a comunidade escolar nas mais diversas realidades das
escolas públicas de nosso país, ou seja, gestores, professores,
estudantes, coordenadores, funcionários, famílias, enfim, todos os que de
alguma forma, estão ligados, direta ou indiretamente, à escola, a
refletirem de que maneira os direitos à educação pública estão sendo
garantidos, a fim de que as especificidades do ser humano sejam
colocadas em primeiro lugar.
Neste texto, teremos quatro pequenos subtítulos que irão nos ajudar a
pensar criticamente a realidade da nossa educação brasileira, no contexto
das escolas públicas. O primeiro, intitulado Direito de Todos, refletindo
sobre os direitos do ser humano em ter uma educação de qualidade,
seguindo com o Dever do Estado e como esse dever tem sido cumprido.
Logo após, o Dever da Família e a importância dessa relação com a
escola e, por último, a Colaboração da Sociedade, pensando de que
maneira a sociedade deve colaborar para que a educação aconteça.

Direito de Todos
Como já vimos, a Constituição se reporta à educação como “direito de
todos”. Pensar em educação como direito de todos, significa pensar numa
educação onde todos se sintam como parte deste processo e quando
olhamos para as nossas escolas, vemos que falta muito, desde a acolhida
às diferenças, até às questões estruturais, como acessibilidade,
atendimento especializado, etc.
Acolher a pessoa como ela é, demanda mais do que a oferta de
vagas na escola. Significa afirmar cada pessoa como sujeito, ser humano
capaz de se posicionar, de se apropriar da cultura e escrever a sua
própria história, sendo o papel da escola justamente, criar oportunidades
para que o conhecimento seja de fato, autêntico e libertador. Paulo Freire
nos explica:
A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não
é uma coisa que se deposita nos homens, não é uma palavra a
mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão
dos homens sobre o mundo para transformá-lo. (Freire, 1967,
p. 93).

O ser humano aprende na medida em que percebe a importância do


conhecimento para a sua existência. Se não tem sentido, aprender se
torna algo exaustivo e desinteressante e não leva à transformação.

Dever do Estado
O Estado, por sua vez, como principal responsável por garantir esta
educação, embora cumpra este papel em termos burocráticos, se
distancia do ideal de educação popular, quando não favorece a formação
do professor, não valoriza o trabalho docente, levando aos altos índices
de adoecimento e esgotamento dos mesmos, não cria políticas públicas
para melhorar a estrutura das escolas, enfim, trata as escolas com
descaso, como se a educação não fosse tão importante como os demais
direitos humanos.
A preocupação do Estado Brasileiro com a educação, ao longo da
história, se reduz aos resultados, em detrimento do processo. Prova disso
temos quando olhamos para as nossas escolas, passam longos períodos
preocupadas em preparar os estudantes para fazerem avaliações e
obterem resultados satisfatórios no SAEB, ENEM, Prova Brasil,
Olimpíadas, etc.

Dever da Família
Se a educação é um direito do ser humano, é lógico que também é
um dever dos pais e/ou familiares fazerem que com que esse direito seja
assegurado, mesmo por que a criança não tem maturidade para tal
iniciativa. Porém, o dever da família não se esgota em matricular uma
criança na escola, deixá-la e buscá-la todos os dias.
A educação, como todo processo, precisa ser acompanhada de perto,
dia após dia, para que seja plena, necessitando da presença constante
dos familiares, o que se mostra um dos maiores desafios da escola de
maneira geral, articular a participação da família no processo educacional
dos estudantes.
Esta participação deve acontecer portando, como uma parceria,
visando a melhoria e o bem comum, não apenas, idas à escola para tirar
satisfações ou culpar os professores quando os resultados não são os
mais esperados, como acontece por vezes.

Colaboração da Sociedade
Segundo Celestino Junior (1990), ao falar de escola, nos deparamos
com dois tipos de sociedade: a sociedade política, podendo ser
representada pelo Estado e seus interesses políticos e, a sociedade civil,
a qual estamos inseridos e somos seus membros.
Na escola, através da Lei de Diretrizes e Bases (1996), temos a
Gestão Democrática, a qual abre espaço para que não seja apenas feita
pela pessoa do diretor geral, mas que a tomada de decisões, elaboração
de projetos e outras iniciativas, passe pelo conhecimento e participação
da comunidade escolar, com representantes de cada segmento, bem
como estudantes, professores, pais, funcionários, coordenadores e até
mesmo, membros da comunidade que se encontra no entorno da escola.
Sabemos que a Gestão Democrática não funciona igualmente em
todas as escolas. Cada escola tem a sua maneira de conduzir e viver este
tipo de gestão. Porém, é importante ressaltar que, quanto mais a escola
se abre para a participação comprometida de todos, melhores resultados
ela terá, uma vez que entender o que é mais urgente na sociedade leva a
tomada de decisões acertadas, por uma educação mais comprometida
com o ser humano.
De acordo com Paro (2013), o que diferencia o ser humano dos
animais, é o ato de se pronunciar, ou seja, de se posicionar diante das
situações, expressar vontades. Desta forma, ele contribui para dar sentido
à sociedade em que vive, a escola deve existir para isto: fornecer
condições em que estas vontades sejam escutadas, para dar sentido à
sociedade como um todo.

Considerações Finais
Diante do exposto, percebemos que o Estado tem deixado a desejar
na efetivação de uma escola pública de qualidade em nosso país, sim.
Mais ainda, que devido ao seu descaso, temos como resultado a visão de
que a escola privada é melhor que a escola pública.
Porém, enquanto educadores comprometidos com o ser humano,
devemos desejar e lutar para que possamos transformar esta realidade e
formar sujeitos históricos, para uma sociedade mais coletiva e menos
autoritária.
Com isso, levemos em consideração a emergência de sabermos a
importância do nosso lugar na escola. Independente da função ou cargo,
é necessário entender que todos somos educadores, fazemos parte da
comunidade escolar e não podemos adotar outra postura, que não seja
para valorizar a vida humana.
Quando sabermos o que queremos e, quando querermos mudanças,
a nossa práxis será transformadora. Muita gente já faz isso, é importante
lembrar. O caminho do diálogo sempre será o melhor caminho para o
sucesso. Pensemos nisso!

Referências:

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do


Brasil de 1988.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB.


9394/1996. BRASIL.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e


Terra, 1967.

PARO, Vitor H. Gestão Escolar Democrática. YouTube, 22 de junho de


2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WhvyRmJatRs

SILVA JÚNIOR, C. A. A escola pública como local de trabalho. São Paulo: Cortez/
Autores Associados, 1990.

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