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CRISE EDUCACINAL NO BRASIL: A ESTRUTURA EDUCATIVA EXCLUDENTE

DO SISTEMA NEOLIBERAL

Carlos Daniel Lopes da Silva1; João Wesley de Aquino Araújo2; Emanuela Rútila Monteiro Chaves3

INTRODUÇÃO

O presente resumo expandido é resultante do estudo e debate acerca da educação no


Brasil, promovido em turma durante as aulas da disciplina de Estrutura e Funcionamento da
Educação Básica. Temos como objetivo refletir acerca da crise educacional brasileira e
demonstrar os principais retardadores do desenvolvimento estudantil. Testemunhamos também,
que políticas autoritárias centralizam e manipulam o método pedagógico, erradicam a
autonomia crítico/racional, ocasionado a alienação da sociedade.
Para tanto, utilizamos como metodologia a leitura e analises de artigos como meio
orientador. Desse modo, esta produção textual inicia com a apresentação do sistema
educacional na primeira república que já demonstrava a desigualdade social no âmbito
educacional. No seguinte, analisamos e retrocesso durante o regime militar que dissolveu os
avanços educacionais. Por fim, apontamos a estrutura educacional proposta pelo neoliberalismo
que projeta a privatização das instituições escolares.

2 O PODER SUPRESSOR COMO EMPECILHO DA EDUCAÇÃO

A educação é o principal instrumento que uma sociedade pode utilizar-se para resolver
seus problemas de ordem social, político e econômico. É por meio dela que um país é capaz de
construir um estado mais justo, democrático e consciente. No entanto, com tamanho
conhecimento, implica dizer que a população possui autonomia crítica/racional e que, portanto,
governos autoritários e centralizadores não teria chance de consolidar-se. Nesse sentido, a crise
educacional do Brasil rasteja desde sua constituição, já que a educação era reservada para a
classe média/alta, deixando a classe baixa, sendo esta, majoritariamente negra, as margens da

1
Graduando em Filosofia na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais (FAFIC) pela Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte (UERN). E-mail: daniellopes@alu.uern.br
2
Graduando em Filosofia na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais (FAFIC) pela Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte (UERN). E-mail: joaowesleyaraujo@alu.uern.br
3
Professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN). E-mail:
emanuelarutila@uern.br
sociedade e servindo apenas como mão de obra barata. Esta desigualdade é apesentada por
Hellen Soares em sua afirmação:

Após a abolição, realizada para atender aos reclamos das novas políticas e
sociais, e não aos interesses dos próprios escravos, os negros haviam se
tornado cidadãos, todavia, praticamente jogados à rua. E sua quase totalidade
se encontrava sem terra, sem qualquer espécie de instrução, sem profissão,
sem teto e sem meios ou possibilidades de adquirir alimentos. Foram,
portanto, abandonados à própria sorte. Uma parte permaneceu nos campos,
outra procurava as cidades, em busca de liberdade e emprego. (SOARES,
2018, p. 7)

Nesse contexto, a educação brasileira sofreu grande abalo no período do regime militar
perdurante nos anos de 1964 a 1985. Isso, devido ao controle e manipulação da informação e
do conhecimento como forma de dominação. Como afirma Darcy Ribeiro, “rádios e canais de
televisão passavam a serem meios fundamentais de informação e doutrinamento da população”,
“sendo regidos por critérios cruamente mercantis e, por isso mesmo, irresponsáveis no plano
cultural, social e ético”, ao transmitirem uma “cultura ignara, violenta e dissoluta”. (RIBEIRO,
1994a, p.12). Nesse sentido, durante a ditadura militar a Faculdade Nacional de Filosofia foi
erradicada sobre a justificativa de ser uma organização de resistência ao governo e por
difundirem ideias comunistas. Essa dissolução confirma a ideia de que com o conhecimento
crítico as correntes da ignorância são quebradas, gerando uma sociedade que busca a
democratização dos setores. Com ações desse aspecto, a educação sofreu grande desmonte e
ainda nos dias atuais é perceptível os graves danos nos setores econômicos e profissionais,
como é demonstrado:

A ditadura militar interrompeu este processo de construção da cidadania no


Brasil. Apesar de consenso sobre a estrita relação entre desenvolvimento e
nível de educação, aceito por todos os dirigentes brasileiros, desde 1965 a
educação perdeu seu objetivo de instrumento de transformação. É com tristeza
que se observa os resultados desse processo, em que falharam até mesmo as
propostas de uma educação técnica tendo como base a distinção entre
produção e produtividade. Ou seja, a compreensão da necessidade que tem o
capitalismo de incorporar mão de obra ao processo de produção para a
realização do valor (lucro). (GADELHA, 2017, p. 169)

3 A DESVALORIZAÇÃO DO DOSCENTE E DISCENTE E O SUCATEAMENTO DA


ESTRUTURA

Outro fator indubitavelmente determinante para o declínio da educação no Brasil é a


falta de investimento. O tacanho salário dos professores demonstra a falta de compromisso do
estado com a educação e corrobora para baixa atratividade de profissionais qualificados e com
o abandono do magistério. Com isso, o docente possui baixo poder aquisitivo, sentimento de
desanimo e insatisfação do trabalho e ainda uma intensa jornada de trabalho. Tudo isso, fragiliza
o corpo de educadores, que consequentemente, instabiliza toda estrutura educacional, sendo os
estudantes o primeiro grupo a sofrer com esta desvalorização,

Uma organização que congregue docentes bem preparados intelectual,


emocional, comunicacional e eticamente; bem remunerados, motivados e com
boas condições profissionais, onde haja circunstâncias favoráveis a uma
relação efetiva com alunos que facilite conhecê-los, acompanhá-los, orientá-
los. (Moran, 2000, p. 14)

Ademais, os alunos também possuem grandes barreiras a serem enfrentadas. A principal


delas é questão financeira. Grande parte dos alunos da rede pública são de classe baixa e que,
portanto, dependem do estado para obterem os livros didáticos, transporte, alimentação,
material escolar etc. Como já foi demonstrado, o estado não coloca tais necessidades como
prioridade, intensificando a desigualdade de oportunidades. Além disso, a estrutura que as
escolas públicas possuem é extremamente sucateada, dispondo de poucos matérias para auxiliar
nas aulas. Instrumentos essências para as aulas, como projetores, carteiras, material didático,
computadores entre outros, não são disponíveis em quantidade e qualidade necessária para
atender as carências dos estudantes. Portanto, os alunos da rede pública gozam de uma estrutura
precária, com o mínimo de condições para o ensino-aprendizagem. A psicóloga Claudia Davis
demonstra a importância de uma boa infraestrutura em:

O espaço escolar não é apenas um continente, um recipiente que abriga alunos,


livros, professores, um local em que se realizam atividades de aprendizagem.
Mas é também um conteúdo, ele mesmo educativo. Escola é mais do que 4
paredes, é clima, espírito de trabalho, produção de aprendizagem, relações
sociais de formação de pessoas. O espaço tem que gerar ideias, sentimentos,
movimentos no sentido da busca do conhecimento, tem que despertar interesse
em aprender, além de ser algo alegre, aprazível e confortável, tem que ser
pedagógico. O aluno aprende dele lições sobre a relação entre corpo e a mente,
o movimento e o pensamento, o silêncio e o barulho do trabalho que
constroem conhecimento. (DAVIS, 1993, P.53).

4 A POLÍTICA NEOLIBERAL NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Com o atual governo regente, problemas graves já existentes no Brasil tornaram-se


nitidamente mais intensos e perigosos, colocando em riscos direitos universais dos cidadãos.
Isso, devido as políticas favoritistas que retiram ou dificultam direitos conquistados pelos
setores de luta. Está política facínora, prejudica diretamente os estudantes de baixa renda
dependentes do sistema público de educação, já que, a verba é direcionada a outros fins (bancos,
agronegócio etc.). Com um ideal neoliberal, o presente governo caminha para privatização de
setores públicos de extrema importância para classe baixa, colocando a dita classe
socioeconômica as margens da sociedade e em função dos grandes detentores do poder
econômico. Como é reafirmado no seguinte trecho:

Salientam Motta e Frigotto (2017), que os ataques orquestrados contra os


serviços públicos e seus servidores, os cortes de verbas para programas
sociais, para a educação e a saúde pública, a Emenda Constitucional 95 que
congela o teto de investimentos estatais por 20 anos, a reforma trabalhista, a
reforma da previdência em tramitação e a manutenção de uma parcela de
aproximadamente 50% do orçamento para pagar juros da dívida pública são o
início desta longa “desconstrução” dos direitos adquiridos no país. (DIAS,
Vanessa Gonçalves; MEDEIROS, Tanise Baptista, 2018, p. 2)

As políticas de cunho neoliberal, hoje é de grande problema para a população, por razão
de não ser apenas um sistema de questões monetárias, mas uma estratégia que modifica a
sociedade e suas diversas estruturas. Essa estratégia tornar-se uma ameaça para as universidades
e escolas públicas, pois, as ditas instituições podem cair no domínio de grandes empresas que
visam apenas o lucro. Essa ideia afirma que cada um é seu próprio capital, e assim, difundindo
a ideia capitalista. Esse conceito é preocupante, já que, as instituições de ensino são tidas como
investimentos, que por sua vez, devem produzir renda. Ou seja, a estrutura educacional
difundida pelo neoliberalismo, deve ser eficiente e rentável para o governo.
A ideia neoliberal, é tornar as escolas mais eficientes, e assim, induzir o corpo discente
a sua capacidade máxima de desenvolvimento. Se pensarmos como isso poderia acontecer, seria
basicamente a estimulação de competição entre os alunos, ocasionando muita disputa. Ainda
assim, essa estrutura seguiria parâmetros mais sistemáticos de ensino em busca de resultados
específicos e rápidos. Outrossim, tal concorrência também estaria dentro do corpo docente e
entre as instituições escolares, isso, em busca de alcançar os patamares de maior destaque. Para
ficar mais claro, vejamos como é dito na seguinte fala:

A escola dentro do projeto neoliberal se curvou completamente a lógica


estrutural das empresas capitalistas, onde o objetivo principal é antes de tudo
o lucro e a produtividade. A educação é reduzida ao aspecto de mercadoria
[...] de acordo com o Laval a escola de hoje se confunde com a fábrica num
evidente viés empresarial, onde os alunos e os pais são vistos como
consumidores do conhecimento em si. (MONTES Fabio. 2020)
Um exemplo hodierno da necessidade lucrativa das escolas privadas, foi a pressão
colocada nos governos locais por parte destas instituições, visando a liberação das as atividades
escolares mesmo diante a pandemia Covid-19. Este é um exemplo claro da sanguinária
necessidade lucrativa desse sistema, indiferente com a vida e com as situações socioeconômicas
degradantes. Dessa forma, o conceito apresentado pelo sistema neoliberal acerca da estrutura
educacional, exibe-se de forma ameaçadora ao direito da educação com qualidade,
compromissada com o ensino humanizado e principalmente a acessibilidade de todas as
camadas sociais.

CONSIDERAÇÃO FINAL

Desse modo, torna-se perceptível que a crise educacional no Brasil se arrasta desde a
constituição da república e por motivo de descaso político, perdura até os dias de hoje. Os
governos opressores e controladores retrocederam por diversas vezes o desenvolvimento da
educação no Brasil. Pois, como foi explanado, a tentativa de controlar a grade curricular
segundo os princípios característico de governos ditatoriais, busca dominar e doutrinar os
estudantes para que sejam apenas mão de obra subordinada e alienada. Desse modo, áreas de
extrema importância para desenvolvimento intelectual, racional e crítico foram exoneradas das
grades curriculares, o que consequentemente, ocasionou mão de obra desqualificada.
Nessa peroração, evidenciamos também a estrutura educacional do neoliberalismo que
busca transformar o sistema público de educação em mais um setor privado da sociedade. Tal
estrutura visa apenas a formação do cidadão para o mercado de trabalho, por isso, busca ter
resultados rápidos e sistemáticos. Além disso, a ideia de educação privada como único sistema
de ensino, exclui a classe baixa das oportunidades de profissionalização e consequentemente
de ascensão socioeconômica. Desse modo, o sistema torna-se uma estrutura elitiza e exclusiva
a determinada camada social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

DAVIS, Claudia. Oliveira. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1993.

DIAS, Vanessa Gonçalves; MEDEIROS, Tanise Baptista. A Educação Pública em Tempos


de Contrarreforma: os Ataques do Ensino Básico à Universidade. Volume 10/Edição 2018.
P. 1-7, 18 jun. 2019.
GADELHA, Regina Maria A. Fonseca. Educação no Brasil: Desafios e Crise
Institucional. Revista Pesquisa & Debate, São Paulo, v. 28, n. 1, p. 165-178, 06 jul. 2017.
Semestral. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/rpe/article/view/33530/23123.
Acesso em: 29 ago. 2021.

LAVAL, Christian. TV Boitempo. Escola Não é Empresa! O Ataque do Neoliberalismo a


Educação. Youtube 23 set. 2019. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=PbKVCOKdjWg >. Acesso em 27 ago. 2021

MORAN, José Manuel Masetto. Novas tecnologias e mediação pedagógicas. São Paulo:
Papirus editora, 2000.

MONTES, Fabio. Senso crítico. Escola ou Empresa? O Ensino e Neoliberalismo no Brasil.


Youtube 21 jul. 2020. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=6hGAklkYbEg&t=8s >. acesso em: 28 ago. 2021
RIBEIRO, Darcy. “O estado da educação”. Carta: falas, reflexões, memórias. Brasília, DF:
Gabinete do Senador Darcy Ribeiro, n.3, p.11-22. 1994a.

SOARES, Hellen Cerqueira. A ESCOLARIZAÇÃO DO NEGRO NA PRIMEIRA


REPÚBLICA. 2018. 15 f. Dissertação (Especialização) - Curso de Pós-Graduação Lato Sensu
em Formação de Professores em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal da
Grande Dourados, Grande Dourados, 2017. Disponível em:
https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/prefix/1862/1/HellenCerqueiraSoares.pdf.
Acesso em: 30 ago. 2021.

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