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Universidade Federal Fluminense

Faculdade de Educação
Departamento: Sociedade, Educação e Conhecimento
Disciplina: Organização da Educação no Brasil
Professora: Angela Rabello M. B. Tamberlini

Prova:

Das cinco questões abaixo relacionadas, escolha quatro para responder :


Leia atentamente o enunciado e responda na ordem que preferir.
São 4 questões, valendo 2,5 cada (apenas 4 questões devem ser respondidas).

1) A partir da Constituição Federal de 1988 o acesso ao ensino obrigatório e


gratuito é direito público subjetivo. O que isto significa? Explique.
Quais são os níveis, etapas e modalidades da educação básica? Na legislação
atual quais são as etapas que constituem direito público subjetivo?
2) Destaque um aspecto que você considera positivo e um aspecto que você avalia
como negativo introduzidos pela atual LDB e suas atualizações posteriores na
organização da educação no Brasil. Explique porque os considera positivo ou
negativo.
3) A recente reforma do ensino médio alterou significativamente esta etapa
da educação básica (Lei nº 13.415/17). As mudanças introduzidas têm
potencial para reduzir as desigualdades sociais? Propiciarão uma formação
que cumpra os objetivos previstos para esta etapa na legislação educacional
atual, tais como a articulação entre teoria e prática, proporcionando acesso ao
conhecimento científico, à arte, à cultura e à tecnologia? Favorecem a conduta
autônoma e o pensamento crítico? Por quê? Explique.
4) O artigo 207 da Constituição Federal de 1988 dispõe que as universidades
gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e
patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão. Este dispositivo legal vem sendo cumprido? Por quê?
Em que a universidade se diferencia das outras formas de organização do ensino
superior e qual a sua importância?
5) A Educação de Jovens e Adultos, EJA, é concebida como direito social na
legislação brasileira a partir da Constituição de 1988. Esta concepção remonta às
ações empreendidas na década de 1960, em especial, ao trabalho e empenho de
um educador que se dedicou ao tema. Quem foi este educador e quais as suas
principais idéias? Qual é a importância e significado da EJA em um país com as
características históricas que temos? Explique.

Boa prova!
1- Significa que o acesso ao ensino é um direito efetivamente garantido pelo estado ao
indivíduo pela lei, e também concede ao mesmo o direito de exigir o cumprimento da oferta
apelando à legislação. A educação básica é formada por três etapas: Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Médio. Suas modalidades são: Modalidade Regular,
Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Profissional e Tecnológica (EPT),
Educação a Distância (EAD), Educação Especial, Educação Básico do Campo, Educação
Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola e Educação para Jovens e Adultos
privados de liberdade em estabelecimentos penais. Atualmente todas as etapas da educação
básica constituem um direito público subjetivo, mas na prática apenas o ensino fundamental
tem sido contemplado efetivamente.

3- Não. A reforma do ensino médio busca, através de suas medidas, atrelar o ensino cada
vez mais ao mercado. A construção de uma formação utilitarista, ignora o meio social em
que o aluno está inserido e acaba aprofundando as desigualdades sociais sob a fachada de
que o mesmo se encontra no controle de seu futuro, mas na realidade está a mercê dos
desígnios mercadológicos embutidos nos órgãos governamentais.
A reforma do ensino médio prioriza no currículo as matérias de português e matemática, as
únicas que são obrigatórias durante todo o período, e escanteia matérias de outras áreas do
conhecimento que são fundamentais para a formação intelectual e para expandir o horizonte
do estudante. Esse foco acaba priorizando a prática ao invés da teoria inferiorizando o
conteúdo curricular.
A promessa de deixar o aluno escolher seu currículo é uma premissa enganosa, porque na
verdade o sistema de ensino que escolhe qual quer ofertar. Sendo assim, isso demonstra que
ao eleger o currículo atual como responsável pelo desempenho ruim do Brasil no ensino,
desconsidera o meio social em que o aluno está presente, as dificuldades que as camadas
populares enfrentam, como a pobreza, racismo, abandono, dentre outros. Além disto, a
grande maioria da população brasileira não terá uma disponibilidade de diferentes escolas
para a escolha, tornando-se reféns aos currículos ofertados pelas escolas locais. Estas
também tornam-se impossibilitadas pela falta de recursos, que é um problema crônico do
ensino brasileiro, ao disponibilizar uma variedade de opções. Sem contar que a
responsabilidade de definir seu futuro tão cedo é algo muito inapropriado para um
adolescente.
4- Não, a história das universidades é marcada por conflitos com o estado desde que as
mesmas tornaram-se fontes fundamentais do desenvolvimento tecnológico e da produção
intelectual. Por este motivo tornaram-se uma grande força contestadora da sociedade e ao
mesmo tempo uma fonte de poder para os governos. No Brasil, temos um governo com
fortes tendências autoritárias e uma ideologia negacionista da ciência e das pautas sociais,
então pode-se compreender como a universidade é enxergada como uma das principais
adversárias as práticas políticas exercidas pelo bolsonarismo. Sendo assim, a
desestruturação das universidades e a supressão de sua autonomia são as ferramentas que
esse governo utiliza para eliminar a força contestadora da produção acadêmica.
O bolsonarismo é a “ideologia” do governo atual do Brasil; pode ser definido como uma
mistura de influências da extrema direita americana e da ditadura militar brasileira, que se
apoiam numa narrativa conspiratória de guerra cultural contra o marxismo, que está sendo
implantado secretamente através de pautas progressivistas para destruir os valores da
sociedade ocidental. Por este motivo são perpetrados diversos ataques às universidades,
como nomeações de ministros da educação completamente despreparados para o cargo,
cortes orçamentários, nomeações de reitores ilegítimos e aparelhamento das instituições de
pesquisa, com o claro objetivo de amordaçar a comunidade universitária e pô-la sob
controle.
As universidades se diferenciam das outras formas de organização pois não dissociam
ensino, pesquisa e extensão, indo além da formação profissional, produzindo conhecimento,
pesquisadores e agregando mais ao desenvolvimento científico do país, sendo assim a
forma mais completa de ensino superior.

5- Paulo Freire é um dos maiores pensadores da pedagogia mundial e também o Patrono da


Educação Brasileira. O método freireano foi fundamental na educação das camadas
populares em um país com uma desigualdade social profunda como o Brasil, tendo
atualmente a EJA como resultado de suas influências desenvolvidas com a educação
popular.
O método freiriano consiste numa educação levando em conta o aluno e seu meio social,
trazendo a sua própria realidade para o processo educacional em busca de um despertar da
consciência crítica. Além disso, põe o diálogo em foco numa relação horizontal entre
professor e alunos, ao contrário da tradicional verticalidade.
No Brasil, devido ao seu histórico marcado pela profunda desigualdade social, a EJA é
fundamental no processo da educação de adultos que não puderam completar a educação
básica na faixa etária adequada. A grande maioria das pessoas precisa conciliar trabalho e
estudos, sendo uma tarefa muito complexa onde a necessidade de sobrevivência,
logicamente, sempre vai prevalecer à segunda; sendo assim, essa oportunidade de
completar os estudos em um momento posterior é fundamental para a inserção das camadas
populares numa situação melhor.

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