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DIREITO

EDUCACIONAL
DIREITO
EDUCACIONAL
Psicologia
Apresentação
da Aprendizagem 5

Apresentação
Um conteúdo objetivo, conciso, didático e que atenda às expectativas de quem leva
a vida em constante movimento: este parece ser o sonho de todo leitor que enxerga
o estudo como fonte inesgotável de conhecimento.
Pensando na imensa necessidade de atender o desejo desse exigente leitor é
que foi criado este produto voltado para os anseios de quem busca informação e
conhecimento com o dinamismo dos dias atuais.
Com esses ideais em mente, nasceram os livros eletrônicos da Cengage Learning,
com conteúdos de qualidade, dentro de uma roupagem criativa e arrojada.
Em cada título é possível encontrar a abordagem de temas de forma abrangente,
associada a uma leitura agradável e organizada, visando facilitar o aprendizado e
a memorização de cada disciplina.
A linguagem dialógica aproxima o estudante dos temas explorados, promovendo a
interação com o assunto tratado.
Ao longo do conteúdo, o leitor terá acesso a recursos inovadores, como os tópicos
“Atenção”, que o alertam sobre a importância do assunto abordado, e o “Para saber
mais”, que apresenta dicas interessantíssimas de leitura complementar e curiosida-
des bem bacanas, para aprofundar a apreensão do assunto, além de recursos ilustra-
tivos, que permitem a associação de cada ponto a ser estudado. Ao clicar nas palavras-
-chave em negrito, o leitor será levado ao Glossário, para ter acesso à definição da
palavra. Para voltar ao texto, no ponto em que parou, o leitor deve clicar na própria
palavra-chave do Glossário, em negrito.
Esperamos que você encontre neste livro a materialização de um desejo: o alcance
do conhecimento de maneira objetiva, concisa, didática e eficaz.
 
Boa leitura!
Psicologia Prefácio
da Aprendizagem 7

Prefácio
Não restam dúvidas de que a educação é a base que fomenta a cidadania e a dig-
nidade do indivíduo. A própria Constituição Federal de 1988 estabeleceu o acesso
à educação como direito básico do sujeito.
Em razão dos inúmeros protagonistas que o processo educacional envolve, não bas-
tou a existência de uma Carta Magna. Outros regulamentos, normas e legislações
tiveram de ser elaborados para que as relações entre professores, alunos, colabora-
dores, pais, psicólogos, mantenedores e demais integrantes do contexto educacional
pudessem ser regulados e o acesso à aprendizagem pudesse ser garantido.
Atualmente, há quem diga que o Direito Educacional é um ramo autônomo que se
solidifica na ciência do direito, tendo em vista a sua importância no cenário atual
e a quantidade de normas que o cerca.
Independente do ponto de vista, um fato é inconteste: o Direito Educacional é,
hoje, uma realidade que precisa ser compreendida por aqueles que estão inseridos
no cenário do processo de aprendizagem contemporâneo. Isso envolve as salas
de aulas, as residências, os ambientes virtuais que permitem a concretização da
educação à distância etc.
Dada a importância do Direito Educacional, a Cengage Learning preparou cuida-
dosamente este material, com os principais pontos a serem observados no âmbito
dessa área.
Na Unidade 1, o leitor encontra os conceitos principais acerca desse ramo e o seu
principal objetivo.
A Unidade 2 explora os fundamentos legais dos níveis e modalidades de ensino. Tra-
ta da importância de tal divisão e as características de cada um dos tipos existentes.
Já na Unidade 3, serão vistos os sistemas de gestão educacional, o sistema escolar
brasileiro e a administração no âmbito federal, estadual e municipal.
Finalmente, na Unidade 4, temas como as políticas públicas educacionais, as ba-
ses legais para as novas diretrizes educacionais e dos diplomas legais existentes,
como o Estatuto da Criança e do Adolescente, são debatidos.
O Direito é a ciência que orienta os passos do indivíduo inserido na sociedade. Não
poderia ser diferente no campo educacional. Conhecer cada uma das diretrizes le-
gais é primordial para que a educação possa ser assegurada e exercida por todos.
Desejamos uma excelente leitura.
Unidade 1 – Introdução ao Direito Educacional 9

UNIDADE 1
INTRODUÇÃO AO DIREITO
EDUCACIONAL

capítulo 1 Introdução ao Direito Educacional , 10

capítulo 2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)


n. 9.394/96, 19

Glossário, 32
10 Direito Educacional

1. Introdução ao Direito Educacional


Iniciamos nestas páginas uma caminhada em direção ao embasamento legal
sobre o qual se desenrola o atual cotidiano educacional brasileiro. Nesse
percurso procuraremos construir, passo a passo, compreensões importantes da
concepção de Homem e sociedade que permeiam os principais marcos legais e que,
consequentemente, se refletem nas políticas públicas educacionais.
Nesse contexto, serão discutidos nesta aula temas como o direito à educação, bem
como o suporte legal que normatiza o funcionamento da educação brasileira em
seus diversos níveis e modalidades.
Direito educacional é o ramo do Direito que trata do conjunto de leis e normas
legais que oferecem base legal à educação no país, normatizando as relações
entre os elementos que a constituem: os sujeitos (professor, aluno, técnicos), as
instituições (escolas/órgãos de supervisão), tendo por finalidade a garantia do
direito à educação.
O direito à educação se constitui como direito subjetivo explicitado pela
Constituição Federal de 1988 (CF/88). A Constituição Federal é a lei suprema
de um país, é o documento que reúne as leis fundamentais de estruturação
do Estado, formação dos poderes, formas de governo e direitos e deveres do
cidadão de um país. Assim, todas as demais leis estão a ela subordinadas. Por
isso, toda a legislação educacional deve estar em consonância com os princípios
constitucionais. Em toda a sua história, o Brasil já teve oito constituições: 1824,
1891, 1934, 1937, 1946, 1967, 1969 e 1988, sendo esta última conhecida como
a constituição da redemocratização, pois após vinte e quatro anos de ditadura
militar a Assembleia Nacional Constituinte promulgou a Constituição Federal em
5 de outubro de 1988, fruto das pressões sociais que objetivavam a retomada de
um regime democrático no país.

P ARA SABER MAIS: acesse o endereço eletrônico abaixo e compreenda um pouco


mais sobre o contexto sócio-histórico em que a constituição foi promulgada.
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1988>.
Acesso em: 18 jan. 2015.
Unidade 1 – Introdução ao Direito Educacional 11

Quadro 1 – Estrutura legal da educação no Brasil

Constituição Federal 1988

Estatuto da Criança
Lei de Diretrizes e Bases da Educação
e do Adolescente Lei
Nacional – Lei n. 9394/96
n. 8.069/90

DIRETRIZES DECRETOS (que RESOLUÇÕES


(que tematizam a tematizam a (que tematizam a
matéria educação) matéria educação) matéria educação)

Educação: Direito Constitucional


A Educação é tema constitucional presente no capítulo terceiro, seção um, que
abrange os artigos 205 a 214. Vamos, então, ao texto legal na íntegra, comentado:
Cap. III
DA CULTURA E DO DESPORTO
Seção I
DA EDUCAÇÃO
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.

Comentando...
O texto constitucional apresenta o escopo de um modelo educacional em que o
Estado, em conjunto com a família, assume o dever de criar condições para que
todo cidadão tenha acesso à educação pública e gratuita, em idade adequada. Essa
tomada de posição será a grande marca dos demais documentos legais sobre o
tema, principalmente na Lei n. 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Nesse modelo identificam-se, ainda, três objetivos da educação nacional, que
trazem em si três influências teóricas em relação ao papel que a educação passa
a assumir nesse contexto de redemocratização. Em primeiro lugar, anuncia o
compromisso com o pleno desenvolvimento da pessoa, ou seja, uma opção holística
de desenvolvimento. Ao citar a formação para a cidadania, recorrente nos demais
marcos legais que decorrem do texto constitucional, nota-se a presença de uma
pedagogia freireana, ao passo que a qualificação para o trabalho remonta à filosofia
de Gramsci.
12 Direito Educacional

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e


o saber;

III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de


instituições públicas e privadas de ensino;

IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da


lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de
provas e títulos, aos das redes públicas;

VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII – garantia de padrão de qualidade;

VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar


pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 53,
de 2006) Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores
considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para
a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Incluído pela Emenda
Constitucional n. 53, de 2006.)

Comentando...
Todo o ensino em território nacional, independentemente de nível ou modalidade,
deverá pautar-se sobre os cinco princípios apresentados, que traduzem ideias
democráticos como a liberdade de expressão, a igualdade entre as pessoas, o dever
do Estado. Ressalte-se, ainda, a explicitação da valorização dos educadores como
um desses princípios, que encaminha discussões posteriores a respeito de novas
diretrizes para a carreira do magistério e a lei do piso salarial para o magistério.
Esses princípios serão analisados com mais vagar no estudo que faremos, a
seguir, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que retoma
cada um deles.

P ARA SABER MAIS: para conhecer de que forma está sendo normatizado o inciso
V do art. 206 da Constituição Federal, acesse o link:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11738.htm>.
Acesso em: 18 jan. 2015.
Unidade 1 – Introdução ao Direito Educacional 13

Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administra-


tiva e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio de indissocia-
bilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Comentando...
Novamente, a marca do ideal democrático aqui se imprime em relação ao geren-
ciamento da instituição, além de deixar claro que a universidade, enquanto tal,
deverá sempre produzir conhecimento, o que por outro lado requer financiamento
por parte do Estado.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos
de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria;
II – progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional n. 14, de 1996.)
III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de
idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 53, de 2006.)
V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,
segundo a capacidade de cada um;
VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional
n. 59, de 2009.)
§ 1o – O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo;
§ 2o – O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente;
§ 3o – Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental,
fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência
à escola.

Comentando...
São muitos e não pouco pesados os compromissos assumidos pelo Estado no texto
constitucional:
14 Direito Educacional

• Ofertade vagas para o ensino obrigatório desde a educação infantil (a partir


dos 4 anos) até o final do ensino médio (17 anos), zelando, com a família, pela
frequência às aulas;

• Inclusão de portadores de deficiência, preferencialmente, na rede regular de ensino;


• Garantia de vagas no ensino noturno ao aluno que assim necessitar;
• Garantia de suporte didático, de transporte, nutricional e de saúde a todos os
educandos;

• Admissão da responsabilidade pela autoridade competente, ou seja, secretários


de educação, prefeitos, governadores, de acordo com o nível de ensino em
questão, pelo não cumprimento do texto legal.
Diante do vulto do compromisso, constata-se a necessidade urgente de normati-
zação, bem como de investimentos que possam conduzir à exequibilidade da lei. O
texto constitucional, por si só, não garante que os objetivos sejam alcançados. Por
exemplo, como um município pode garantir vagas a todas as crianças a partir de 4
anos, se nem sequer concluiu a universalização do ensino fundamental, por falta
de recursos? Há que se normatizar, criar as normas legais para que alternativas
sejam criadas, como a implementação de sistemas de cooperação entre as diver-
sas esferas do sistema educacional. Entra em cena aqui o poder legislativo, cujo
papel é propor projetos de lei que concretizem os compromissos constitucionais,
de acordo com as possibilidades de cada esfera do sistema, seja ele federal, seja
estadual ou municipal.

Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições:


I – cumprimento das normas gerais da educação nacional;
II – autorização e avaliação da qualidade pelo poder público.

Comentando...
Em consonância com o princípio da pluralidade de concepções pedagógicas e da
coexistência de instituições públicas e privadas, o Estado admite a existência
das escolas privadas em todos os níveis e modalidades de ensino, desde que
ele próprio autorize seu funcionamento e supervisione sua atuação a partir da
legislação educacional, que é comum tanto às instituições públicas quanto às
privadas. Assim, as escolas de educação básica privadas estão subordinadas ao
sistema municipal ou estadual de ensino, enquanto faculdades e universidades
estão subordinadas à Secretaria de Ensino Superior, no Ministério da Educação.

Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira
a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos,
nacionais e regionais.
Unidade 1 – Introdução ao Direito Educacional 15

§ 1o – O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos


horários normais das escolas públicas de ensino fundamental;
§ 2o – O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa,
assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas
maternas e processos próprios de aprendizagem.

Comentando...
Aqui, o Estado intervém no currículo, ao “fixar” conteúdos que devem ser estudados
em todo o território nacional, ainda que não constituam a totalidade do currículo,
uma vez que a própria LDBEN indica a possibilidade de complementar o currículo
com conhecimentos específicos para cada localidade:
Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio
devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema
de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
economia e dos educandos. (LDBEN, 1996, art. 26.)
O parágrafo primeiro, por sua vez, traz uma contradição. Ao mesmo tempo em
que o texto explicita a liberdade pedagógica, de ideias, etc. se propõe a fixar
conteúdos mínimos, comuns a todo o território nacional. Trata-se, na prática, de
uma intervenção do Estado no currículo. Quanto ao ensino religioso, a contradição
é ainda mais contundente. Nesse caso, o Estado normatiza o ensino religioso
numa escola dita laica. Tal contradição, aliada à característica ecumênica da
sociedade brasileira, gerou grande polêmica, impossibilitando, até o momento,
uma normatização para o assunto. Como se daria a frequência facultativa na
disciplina? Em que horários seria oferecida: dentro do turno ou fora dele? Qual a
formação docente exigida para que não se transforme em doutrinação? Na prática,
o ensino religioso na escola pública não acontece.
Já no parágrafo segundo, a lei garante o ensino em Língua Portuguesa, como
língua oficial, inclusive para as comunidades indígenas. Só que, num esforço de
respeitar sua origem e preservar o que resta de sua cultura, o parágrafo reitera
o respeito à diversidade, ao preconizar a utilização de suas línguas maternas e
processos próprios de aprendizagem.

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em


regime de colaboração seus sistemas de ensino.
§ 1o – A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios,
financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em
matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir a
equalização de oportunidades educacionais e o padrão mínimo de qualidade
16 Direito Educacional

do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito


Federal e aos Municípios.
§ 2o – Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na
educação infantil. (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 14, de 1996.)
§ 3o – Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino
fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 14, de 1996.)
§ 4o – Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo
a assegurar a universalização do ensino obrigatório. (Redação dada pela
Emenda Constitucional n. 59, de 2009.)
§ 5o – A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular.
(Incluído pela Emenda Constitucional n. 53, de 2006.)

Comentando...
O texto aponta a necessidade de cooperação entre as esferas do sistema educacional,
a fim de garantir o alcance de objetivos da educação nacional, tendo como objetivo
a universalização do ensino obrigatório. Ou seja, a ordem é a de unir esforços
financeiros e técnicos para que toda criança e jovem brasileiro esteja na escola em
idade certa, apesar da divisão de responsabilidades.

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados,


o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita
resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na
manutenção e desenvolvimento do ensino.
§ 1o – A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos
Municípios, não é considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo,
receita do governo que a transferir.
§ 2o – Para efeito do cumprimento do disposto no “caput” deste artigo, serão
considerados os sistemas de ensino federal, estadual e municipal e os recursos
aplicados na forma do art. 213.
§ 3o – A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento
das necessidades do ensino obrigatório, no que se refere à universalização,
garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano nacional de
educação. (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 59, de 2009.)
§ 4o – Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde
previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos provenientes de
contribuições sociais e outros recursos orçamentários.
Unidade 1 – Introdução ao Direito Educacional 17

§ 5o – A educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento a


contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas na forma
da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 53, de 2006.) (Vide
Decreto n. 6.003, de 2006.)
§ 6o – As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do
salário-educação serão distribuídas proporcionalmente ao número de alunos
matriculados na educação básica nas respectivas redes públicas de ensino.
(Incluído pela Emenda Constitucional n. 53, de 2006.)

Comentando...
Este artigo trata do financiamento da educação, ou seja, de definir de onde
vem o dinheiro para manter escolas e universidades em funcionamento. Todo o
serviço público se mantém a partir da arrecadação de impostos. Por exemplo, um
município deve destinar ao menos 25% dos recursos advindos de IPTU, ISS, entre
outros, para educação. Além dos impostos, municípios e estados podem contar
ainda com recursos repassados pela União, oriundos do Fundo de manutenção
e desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb). Como a sigla indica, esse fundo se destina exclusivamente à
educação básica.

A TENÇÃO: o texto constitucional estabelece o percentual mínimo a ser utilizado,


e não o máximo. Portanto, o percentual que ultrapassar o mínimo estabelecido
pela constituição dependerá do plano de governo estabelecido pelos mandatários que
tiverem sido eleitos.

P ARA SABER MAIS: vale entender mais sobre o Fundeb visitando o endereço
eletrônico <http://www.fnde.gov.br/index.php/financ-fundeb>. Acesso em: 19
jan. 2015.

Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo


ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas
em lei, que:
I – comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros
em educação;
II – assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária,
filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de
suas atividades.
§ 1o – Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de
estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os que
18 Direito Educacional

demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e


cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando,
ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na expansão de
sua rede na localidade;
§ 2o – As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio
financeiro do Poder Público.

Comentando...
Instituições que não sejam públicas poderão receber apoio financeiro do Estado,
desde que não tenham fins lucrativos, bem como intenção de aquisição de
patrimônio que não seja em prol do atendimento à população. Por exemplo, uma
creche ligada a uma instituição religiosa ou comunidade de amigos de bairro
pode ser contemplada com recursos públicos a fim de complementar fundos que
possibilitem o atendimento à população, ainda que cobre alguma mensalidade
daqueles que se utilizem de seus serviços: basta que comprove não ter fins
lucrativos, ou seja, todo dinheiro recebido é empregado direta ou indiretamente
nos serviços prestados.

Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal,


com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de
colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação
para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos
níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos
das diferentes esferas federativas que conduzam a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional n. 59, de 2009.)
I – erradicação do analfabetismo;
II – universalização do atendimento escolar;
III – melhoria da qualidade do ensino;
IV – formação para o trabalho;
V – promoção humanística, científica e tecnológica do País;
VI – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação
como proporção do produto interno bruto. (Incluído pela Emenda Constitucional
n. 59, de 2009.)

Comentando...
O último artigo constitucional que se refere à educação reitera a intenção
e necessidade de cooperação entre as esferas do sistema educacional para
alcançar uma educação de qualidade para todos. Estabelece, então, que a cada
Unidade 1 – Introdução ao Direito Educacional 19

dez anos será organizado um plano para educação nacional que deverá balizar
as políticas públicas no decênio. Infelizmente, para os últimos planos não foram
alcançados os objetivos propostos e muitas metas têm se arrastado de um plano
para outro, ultrapassando o limite decenal. O artigo destaca ainda que deverá
ser estabelecido um percentual mínimo do PIB (produto interno bruto) a ser
aplicado em educação. Infelizmente, nos últimos anos o PIB tem diminuído e,
consequentemente, os recursos para a educação. Em síntese: se o país não
apresenta crescimento, gerando um PIB irrisório, a educação é prejudicada; e se
a educação não apresenta qualidade, o país também sofre as consequências no
que diz respeito ao crescimento econômico.

P ARA SABER MAIS: o Plano Nacional da Educação de 2014 estabeleceu como meta,
até 2024, que o Brasil invista 10% do PIB em educação.
Para entender um pouco mais sobre o que é o PIB, acesse:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,entenda-o-que-e-o-pib-e-como-
ele-e-calculado,82627e>. Acesso em: 18 jan. 2015.

Este breve contato com o excerto constitucional permite perceber que o texto tra-
ta de forma generalista os grandes temas nela contidos, pois a constituição define
uma moldura na qual se delimitam as possibilidades de ação. Institui normas que
deverão orientar opções possíveis da vida em sociedade, apresentando os princípios
e finalidades do Estado. Nesse sentido, as normas constitucionais para a educação
brasileira têm de ser traduzidas em orientações tangíveis aos diversos níveis do po-
der executivo, que devem executá-las. Portanto, derivam da constituição os demais
documentos legais sobre o tema: a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, decretos, resoluções, pareceres, que definem a estrutura legal da educação
brasileira. Vamos nos aprofundar um pouco no tema estudando esses documentos.

2. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional


(LDBEN) n. 9.394/96

Contexto histórico
Os princípios ditados pela CF/88, como a igualdade de acesso e permanência na
escola, a gestão democrática, o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas,
entre outros, já não encontravam eco na LDBEN então em vigor, a Lei n. 5.692/71,
fruto da ditadura militar. Nesse quadro, fez-se necessária uma nova Lei para a
educação nacional, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)
9.394/96, que passou por um longo processo de “gestação”:

• 1988 – Promulgação da Constituição Federal.


• 1988 a 1991 – Início de discussão do projeto Jorge Hage na Câmara dos Deputados.
20 Direito Educacional

• 1992– Darcy Ribeiro, apoiado por Collor, apresenta outro projeto de LDB no
Senado Federal.

• 1992 a 1993 – Os dois projetos são discutidos, ao mesmo tempo, no Congresso


Nacional.

• 1993 – O projeto Jorge Hage é aprovado na Câmara dos Deputados e vai para o
Senado Federal.

• 1995 – O projeto é considerado inconstitucional pelo Senado Federal e Darcy


Ribeiro reapresenta seu antigo projeto de lei.

• 1996 – Aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)


9.394/96, pelo Senado Federal, em dezembro.
É importante ressaltar que os oito anos em que se discutiu a lei foram marcados
por disputas ideológicas. Inicialmente, foi apresentado ao legislativo um projeto
baseado nas discussões desenvolvidas com vários segmentos da sociedade civil,
em especial educadores, durante a IV Conferência Brasileira de Educação de
1986. Esse grupo instituiu, ao longo das discussões, um fórum intitulado Fórum
em defesa da escola pública. Contudo, nas discussões do legislativo esse projeto
foi descaracterizado, abrindo espaço para a apresentação do projeto do então
senador Darcy Ribeiro, elaborado de forma muito menos democrática e que acabou
sendo aprovado pelo Congresso. A grande crítica ao projeto aprovado é o fato de
pautar-se em uma política neoliberal, segundo a qual o Estado não se apresenta
diretamente responsável pela garantia das proposições da lei, ficando a cargo do
próprio cidadão grande parte da responsabilidade pelo sucesso ou fracasso dentro
do sistema educacional.
Considerada a amplitude da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN) 9.394/96, que normatiza desde a educação infantil até o ensino superior
no país, destacamos nesta aula os princípios sobre os quais se assentam todas as
demais ações normativas da educação brasileira. Trazemos abaixo esses princípios:
Art. 3o – O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento,
a arte e o saber;
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII – valorização do profissional da educação escolar;
Unidade 1 – Introdução ao Direito Educacional 21

VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação


dos sistemas de ensino;
IX – garantia de padrão de qualidade;
X – valorização da experiência extraescolar;
XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais;
XII – consideração com a diversidade étnico-racial. (Incluído pela Lei n. 12.796,
de 2013.)
Passemos, então, a uma compreensão mais pontual sobre cada um desses
princípios.

Princípio I: Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola


Este princípio ressalta que o Estado deverá oferecer vagas para todos aqueles
que estiverem em idade escolar, garantindo, assim o “acesso” à educação pública.
Contudo, garantir uma vaga no sistema educacional não basta. É preciso, ainda,
garantir a permanência nesse sistema até o final, ao menos da educação básica.
Isto significa reduzir as taxas de evasão e de retenção escolar: nada mais nada
menos do que criar condições para que todos aprendam, na idade certa. É
importante atentar para o fato de que não estamos aqui diante de uma proposta
ideal do Estado voltada para a garantia do direito subjetivo, apenas. Esta seria
uma interpretação muita ingênua da lei. É importante ressaltar que altos índices
de evasão, bem como de retenção escolar, custam caro aos cofres públicos. Desse
ponto de vista, a partir do final da década de 1980, passaram a vigorar os ciclos
de aprendizagem nas redes públicas de ensino, sustentadas ainda com base nas
teorias de desenvolvimento que defendem ritmos individuais para a aprendizagem,
de base piagetiana e vygotskyana.

Princípio II: Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o


pensamento, a arte e o saber
Esse princípio deixa claro que instituições de ensino têm um papel muito maior
do que a reprodução de conhecimento, assim como explicita que não haverá
censura à divulgação e/ou à produção de conhecimento, seja ele de qualquer
natureza: científico, filosófico, artístico. Retomemos que esta LDBEN está calcada
sobre princípios constitucionais que têm como marca a redemocratização do país;
portanto, o fim da censura.

Princípio III: Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas


Este princípio indica que o Estado não intervirá nas opções ideológicas e
metodológicas feitas pelas instituições de ensino públicas ou privadas. Contudo,
esse mesmo Estado se pronuncia por meio dos sistemas públicos de ensino, na
106 Direito Educacional

DIREITO
EDUCACIONAL

Esta obra introduz o Direito educacional, a estrutura legal


da educação brasileira, o Direito educacional constitucio-
nal e os princípios e a filosofia da educação brasileira. Além
disso, são abordados os aspectos de gestão educacional, es-
trutura e funcionamento da educação e a legislação educa-
cional do ensino fundamental, médio, profissional, superior
e de educação a distância.
O autor comenta quais são as políticas públicas da educa-
ção e as tendências no projeto político pedagógico da escola
e suas bases legais para novas diretrizes em educação.

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