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Publicado em NOVA ESCOLA 05 de Outubro | 2018

Constituição

Leve a Constituição para a sala de


aula
Ainda pouco presente na escola, estudo da Carta Magna ganha espaço em
Língua Portuguesa e História
Paula Salas

Manifestantes estendem bandeira do Brasil diante do Congresso Nacional em Brasília Foto:


Valter Campanato/Agência Brasil

Nascida na redemocratização do Brasil, em 1988, a Constituição brasileira completa 30 anos em 5 de


outubro. Apelidada de “Constituição Cidadã”, foi a primeira na história de nosso país a colocar o
cidadão e seus direitos em primeiro lugar. O Congresso Nacional preparou um dossiê para comemorar
a data.

Apesar de ser a lei máxima no Brasil, o documento ainda é pouco estudado na escola. A Base propõe
mudar esse cenário ainda durante o Fundamental 2. Antes de começar, porém, é preciso explicar a
importância desse conhecimento para a vida dos alunos. “Use as práticas e palavras dos alunos”,
explica Felipe Neves, advogado e fundador do Projeto Constituição na Escola. Um exemplo é aproveitar
o Artigo 5º para trabalhar o direito à livre manifestação do pensamento e a questão do anonimato nas
redes sociais.

Outras abordagens possíveis dizem respeito à organização do Estado e dos poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário - encontrado nos artigos 18 ao 43 e 44 ao 135, respectivamente. Aqui, é possível
relacionar o contexto da elaboração do texto constitucional para que o aluno entenda como se criam
as leis. “Faz parte de entender o conceito de cidadania ter consciência de todos esses processos
burocráticos”, explica Oldimar Cardoso, pós-doutor em História pela USP e assessor pedagógico de
NOVA ESCOLA. Para ajudar nesse trabalho, o Senado disponibiliza um glossário legislativo.
Em Língua Portuguesa, dá para explorar as estratégias discursivas empregadas no texto da
Constituição. “Buscar que o aluno perceba o estilo impessoal do texto como uma manobra de
linguagem que ele pode reproduzir em seus textos”, explica Rafael Palomino, professor e selecionador
do Prêmio Educador Nota 10 (veja ao lado outras estratégias de abordagem). “Desde cedo, é preciso
aprender que os direitos garantidos pela Constituição são necessários para que o cidadão tenha uma
vida digna”, conclui a advogada Alessandra Gotti, consultora da Unesco.

Como se estrutura a Constituição?

O documento é organizado em 9 títulos, subdivididos em capítulos e depois em seções. Neste último


encontramos os artigos (representados como Art.), que se desdobram em:

Parágrafos: Quando for um apenas um aparece como “parágrafo único”, quando for mais de um é
sinalizado com §.

Incisos: Sinalizados com algarismos romanos

Alínea: São subdivisões dos incisos e são representados por letras minúsculas

Ítem: dentro das alíneas, os itens aparecem enumerados

Em Língua Portuguesa, entender a organização do texto legal possibilita discutir a hierarquização das
informações e como acontece a construção de sentido a partir da maneira como são organizadas.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição.

Neste momento caberia trabalhar o léxico e explorar o significado implícito em cada um dos
fundamentos. Nas aulas de História, discuta o contexto da redemocratização pós Ditadura Militar
(1964-1988).

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

[...]

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

[...]

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
termos da lei;

Além de fundamental para a compreensão dos seus direitos, os alunos podem trabalhar em Língua
Portuguesa os termos utilizados. Ele deve perceber a diferença entre afirmar que algo é livre,
assegurado, inviolável ou vetado, por exemplo.

O inciso XLII, em especial, permite uma abordagem história da questão racial no país, além de uma
comparação com a Constituição de 1824 (quando a escravidão era permitida pela lei). Esse exercício de
comparação também pode ser feito com base nas alterações sofridas pelo documento de 1988 até
agora - é possível visualizar essas mudanças com a versão on-line da Constituição.

Fonte: Felipe Neves, advogado e criador do Projeto Constituição na Escola; Alessandra Gotti, doutora
em Direito Constitucional; Oldimar Cardoso, pós-doutor em História pela USP e assessor pedagógico
dos planos de aula da NOVA ESCOLA; e Rafael Palomino, professor do colégio Santa Cruz e
selecionador do Prêmio Educador Nota 10 de 2018.

NA BNCC

Língua Portuguesa (EF69LP27) Analisar a forma composicional de textos pertencentes a gêneros


normativos/ jurídicos e a gêneros da esfera política, tais como propostas, programas políticos,
propaganda política e textos reivindicatórios e suas marcas linguísticas, de forma a incrementar a
compreensão de textos pertencentes a esses gêneros e a possibilitar a produção de textos mais
adequados e/ou fundamentados quando isso for requerido.

História (EF09HI22) Discutir o papel da mobilização da sociedade brasileira do final do


período ditatorial até a Constituição de 1988.

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