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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

FACULDADE DE DIREITO
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Ana Julia Pina Brehmer

1. Referências:

Teoria Pura do Direito, “Direito e Ciência”, pp. 79-119. São Paulo, Martins Fontes,
1999

2. Fichamento:

O texto “Direito e Ciência" é um capítulo do livro “Teoria Pura do Direito”,


publicado em 1934 pelo jurista austríaco Hans Kelsen. Neste capítulo, o autor discute a
relação entre o direito e a ciência, argumentando que o direito é uma ciência e que
possui seu próprio objeto de estudo e metodologias para tal.
Kelsen começa o capítulo afirmando que o direito é sim uma ciência, visto que
tem o fenômeno normativo como objeto de estudo e os juristas como estudiosos, Logo
depois, faz uma distinção entre ciências normativas e ciências naturais, ressaltando que
enquanto as ciências sociais estudam as leis naturais, a ciência jurídica estuda as normas
e valores que regem a conduta humana. O direito é, segundo ele, uma ciência normativa,
pois estuda as normas jurídicas que regulam a conduta humana na sociedade.

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Segundo Kelsen, o direito é uma ciência diferente das outras por conter certas
características próprias. Uma dessas características é que o objeto de estudo do direito,
as normas, são ideais e não naturais, ou seja, são criadas a partir da escolha dos homens
e não existem na naturalmente. Além disso, elas são coercitivas, o que significa que
podem legalmente impor punições através da força caso sejam violadas, diferentemente
de, por exemplo, a moral, a política e a religião.
Kelsen argumenta também que a ciência jurídica tem seus próprios métodos de
investigação. Enquanto as ciências naturais usam a observação e a experimentação para
descobrir as leis originais da natureza, a ciência do direito usa a interpretação para
descobrir o significado das normas jurídicas, sendo a este um processo subjetivo que
depende da compreensão do jurista sobre o significado da norma em análise. Para
Kelsen, a teoria pura do direito consiste em uma abordagem científica que se dedica a
estudar o direito como um sistema autônomo. O objetivo dessa abordagem é estabelecer
um conhecimento objetivo e sistemático do direito, que permita prever e controlar o seu
funcionamento na prática, ou seja, defende que assim como as leis naturais, o objeto de
estudo do direito deve ser analisado de forma neutra e imparcial, visando o alcance do
verdadeiro significado das normas independente de estar ou não de acordo com a justiça
ou com outras ciências exclusivamente subjetivas como a moral.
Em seguida, Kelsen aborda a questão da objetividade, questionando se a teoria
do direito pode ser considerada uma ciência objetiva. Ele argumenta que a objetividade
na ciência depende da distinção entre o objeto e o sujeito, ou seja, entre aquilo que é
objeto de conhecimento e aquele que conhece. Na teoria do direito, o objeto é a norma
jurídica, que foi criada pelo homem, e o sujeito é também o homem. Isso leva a uma
subjetividade característica à teoria do direito. No entanto, o jurista defende que a
subjetividade presente na teoria do direito não impede que ela seja uma ciência objetiva.
Ele argumenta que essa objetividade está relacionada à sua metodologia, que é baseada
na lógica formal e na análise das normas jurídicas como sistemas de relações. Assim, a
objetividade na teoria do direito não está relacionada ao objeto em si, mas sim à forma
como ele é analisado.

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Por fim, Kelsen aborda a questão da validade das normas jurídicas, que é um dos
pilares da sua teoria do direito. Ele argumenta que a validade das normas jurídicas não
pode ser confundida com a sua eficácia e sim está relacionada à sua conformidade com
a norma fundamental, que é um dos fundamentos estabelecidos por ele em sua teoria
junto com o monismo normativo (interpretação das normas em conjunto como um
sistema unitário) e a pureza metodológica (autonomia do estudo do direito em relação a
outras ciências).

Em suma, o texto "Direito e Ciência" de Hans Kelsen discute a relação entre a


teoria do direito e a ciência, e enfatiza a objetividade da teoria do direito apesar da
subjetividade fundamentalmente ligada à norma jurídica. Além disso, o texto aborda a
validade das normas jurídicas de acordo com a teoria de Kelsen sobre os pilares para o
estudo do direito como ciência. A leitura é útil e agregadora tanto para estudantes como
para pesquisadores e serve para compreender melhor os pensamentos do jurista acerca
das características da ciência jurídica.

3. Questão problematizadora:

Como a análise das normas jurídicas como sistemas de relações pode contribuir
para a resolução de conflitos entre diferentes ordenamentos jurídicos?

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