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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS

Curso de bacharelado em Direito


Disciplina: Filosofia Geral e Jurídica
Docente: Elisaide Trevisam
Discente: Luiz Diego Felix Teodoro
Data: 11 de novembro de 2022

CORDEIRO, Adriano Consentino. A Norma Fundamental e as Influências


Kantianas na Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen. Pós-graduação em Filosofia,
UNIOESTE. Toledo, p.59 – 99, 2020.

“Hans Kelsen, ao tratar da Teoria Pura do Direito, enfatiza a importância do princípio


da pureza, segundo o qual o método e o objeto da ciência jurídica devem ter, como
premissa básica, enfoque estritamente normativo. Desse modo, o jurista deve encarar o
fenômeno jurídico como norma e, a partir dela, estabelecer sua busca e compreensão,
promovendo, assim, um isolamento do modelo jurídico em relação a outras formas do
conhecimento.” (p. 59)

“O pensamento de Kelsen, como se observará, será marcado pela tentativa de conferir à


ciência jurídica um método e um objeto próprio, superando assim confusões
metodológicas e permitindo ao jurista uma plena autonomia científica na constatação do
fenômeno jurídico.” (p. 59)

“Kelsen procura, por essas condições, tornar a ciência jurídica uma ciência pura de
normas, que investiga seus fundamentos próprios e mantém um compromisso de
valorizar seu rigor científico com o objeto próprio que é trabalhar o sentido das normas
jurídicas. Ou seja, com a norma, pela norma, e sempre a norma jurídica!” (p. 59)
“Essa busca, segundo Kelsen, por uma ciência do direito metodologicamente autônoma,
terá, como já se viu anteriormente, fortes influências em Kant, mesmo realizando
adaptações em seu pensamento e melhorando suas posições naquela dita abordagem
normativa.” (p. 60)

“O seu ponto de partida e o caminho a ser trilhado na pesquisa jurídica devem ser a
teoria do direito, ou como prefere o próprio Kelsen, como uma ‘Teoria Pura do Direito’
com acentuada influência kantiana em seus objetos. O conhecimento das normas
positivas se dá a partir de uma individualidade, e no conjunto analisado por Kelsen,
compreende, de
forma clara, que o direito se inicia e se conclui no mundo da norma jurídica. Em outras
palavras, o direito é e sempre será ‘norma jurídica’.” (p. 64)

“Para Hans Kelsen, o sistema jurídico é unitário, orgânico, fechado, completo e


autossuficiente, formando um conglomerado de normas hierarquizadas, sendo que as
inferiores buscam fundamento de validade nas normas superiores. O ordenamento
jurídico resume-se a esse complexo emaranhado de relações normativas representadas
numa estrutura piramidal, sendo a Norma Fundamental o pressuposto lógico do
sistema.” (p. 65)

“Nesse contexto, pondera Hans Kelsen uma defesa do positivismo jurídico contra o
jusnaturalismo, na tentativa de conferir ao sistema jurídico uma absoluta
autossuficiência.” (p. 65)

“A Teoria Pura do Direito tem, pelo princípio metodológico fundamental, a


incumbência de definir a construção de um conhecimento notadamente científico do
direito.” (p. 67)

“O enfoque estático dá ênfase às normas reguladoras da conduta humana, que tem por
objeto o direito como um sistema de normas em vigor, enquanto o enfoque dinâmico dá
ênfase à conduta humana regulado pelas normas, que tem por objeto o processo jurídico
no qual o direito é criado e aplicado.” (p. 74)
“Para Hans Kelsen, a ordem normativa não é diferentemente do que constata Kant,
fundada em um valor transcendental, mas em uma Norma Fundamental. Assim é que,
para Kelsen, o valor decorre da norma, não estando ela fundada num fator
transcendental a priori como ocorre em Kant. Para o filósofo prussiano, os valores
decorrem da lei moral, mas a lei moral decorre de um valor hierarquicamente superior,
vale dizer, a liberdade.” (p. 78)

“Nesse sistema dinâmico de normas, a Norma Fundamental fornece o suporte de


validade das normas inferiores e não propriamente o seu conteúdo. Ela atribui poder a
uma autoridade legisladora, ou seja, institui uma regra que determina como devem ser
elaboradas normas gerais e individuais de um certo ordenamento. O sistema jurídico em
seu caráter dinâmico assim se revela não propriamente porque tem um determinado
conteúdo, mas, sim, porque é criada de uma forma determinada por uma norma fixada
pela Norma Fundamental pressuposta.” (p. 78)

“Em Kelsen, ao contrário, a Norma Fundamental é que serve de suporte como


fundamento de validade do direito.” (p. 80)

“Assim é que, por exemplo, a consciência humana pode se deparar com duas formas
distintas de visualização de seus conceitos, vê as coisas como elas são (a mesa é
redonda) ou como elas devem ser (a mesa deve ser redonda). O intento de Kelsen com
tal diferenciação foi estabelecer que a ciência jurídica fosse uma disciplina puramente
normativa, tema este, aliás, já compreendido no estudo do princípio metodológico
fundamental.” (p. 82)

“A partir de Kelsen, portanto, os juízos do ‘ser’ são enunciados descritivos, suscetíveis


de verdade ou falsidade. Os juízos do ‘dever-ser’, todavia, são diretivos e sobre os quais
não tem sentido declarar verdade ou falsidade.” (p. 85)

“As ‘normas jurídicas’ possuem ainda uma motivação, que se caracteriza pelo fato de
que elas indicam a conduta desejável, pretendendo motivar as pessoas pela autoridade
ou pela racionalidade da norma. Da mesma forma, indicam a conduta desejável para as
pessoas se estabelecerem, na qual uma sanção ou premiação recairá, caso não sejam
seguidas segundo as intenções criadas pelo seu legislador.” (p. 90)
“Resta evidente que a transgressão da norma impõe determinar a conduta do agente ao
modelo estabelecido por ela compreendido como um universo de normas condicionadas
à disciplina do direito, valendo-se inclusive da força física, se necessário for, para que
suas regras sejam cumpridas. Em outras palavras, a norma jurídica é responsável por
transformar situações em atos jurídicos.” (p. 91)

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