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ANÁLISE DA TESE “JUVENTUDE,

ESCOLARIZAÇÃO E PROJETO DE
VIDA: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
DOS JOVENS DE
BRAGANÇA/AMAZÔNIA PARAENSE”
DA PESQUISADORA DEGIANE DA
SILVA FARIAS
Jacyelle Karinne | Deane Taiara
O motivo da escolha do trabalho

Diante das orientações para a realização desta análise escolheu-se este estudo de
doutoramento por se tratar de uma pesquisa realizada com jovens estudantes do ensino
médio, que considera sobretudo os sentidos que eles atribuem às suas trajetórias na
escola.
O trabalho aborda questões sobre as representações sociais destes jovens,
entende-se que, de certa maneira, essas representações sociais perpassam pela relação
destes com o saber. Bem como, pela dimensão da tese, que foi realizada com 95 jovens
residentes no norte do país, representando uma parcela significativa da juventude
brasileira, corroborando o entendimento que se formou a respeito da sua diversidade
enquanto sujeitos singulares
Descrição da pesquisa
Trata-se de uma de tese de doutoramento, de
autoria de Degiane da Silva Farias, defendida no ano de
2018, vinculada a Linha de Pesquisa Educação, Cultura
e Sociedade, do Programa de Pós-graduação em
Educação (PPGED), do Instituto de Ciências da
Educação, da Universidade Federal do Pará, em Belém.
Teve como orientadora a Professora Dra. Ivany Pinto
Nascimento.
A pesquisa intitula-se JUVENTUDE, ESCOLARIZAÇÃO E PROJETO DE VIDA:
Representações Sociais dos Jovens de Bragança/Amazônia Paraense. Fez uso de 4 (quatro)
palavras-chave, sendo elas: 1. Juventude; 2. Escolarização; 3. Projeto de Vida; e 4.
Representações sociais. Com base na Associação Livre de Palavras aplicada aos 95
estudantes do 3º ano do Ensino Médio e nas respostas do grupo focal realizado com 13
jovens por adesão. Desta maneira, verificou-se que as Representações desses jovens da
Amazônia Bragantina se constituem a partir de uma lógica, que foram exibidas por meio de
um conjunto de fluxogramas definidos por temáticas. Os estudos foram realizados com
jovens que estavam concluindo a Educação Básica na Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio (EEEFM) Luiz Paulino Mártires (LUPAMA), no município de
Bragança-PA.
Identificação do objeto
de pesquisa, dos
objetivos e da questão
formulada
O objeto de pesquisa da tese analisada é a Escolarização de Jovens. A partir
desse objeto, o objetivo geral consiste em analisar as Representações Sociais (RS) de
jovens que estão concluindo o Ensino Médio na escola pública bragantina, sua
escolarização e as implicações em seus projetos de vida. A autora apresenta ainda
quatro objetivos específicos, sendo eles: caracterizar o perfil de jovens do Ensino
Médio de uma escola pública de Bragança (PA); destacar as imagens e os sentidos que
compõem as Representações Sociais de Jovens sobre seus processos de
escolarização; caracterizar o projeto de vida de jovens de escolas públicas do
município de Bragança (PA); e analisar as implicações das Representações Sociais de
jovens sobre a sua escolarização para os seus projetos de vida.
A pergunta norteadora da pesquisa questiona o seguinte: quais as
Representações Sociais de jovens sobre sua escolarização e as implicações em seus
projetos de vida? A autora divide ainda esta pergunta norteadora em outras
perguntas que intencionam alcançar as particularidades do objeto, sendo elas: qual o
perfil de jovens do Ensino Médio de uma escola pública de Bragança (PA)? Como se
constituem as imagens e os sentidos que compõem as RS de Jovens sobre seus
processos de escolarização? Como se caracterizam os projetos de vida de jovens de
escolas públicas do município de Bragança (PA)? Quais as implicações das RS de
jovens sobre a sua escolarização para os seus projetos de vida?
Identificação dos
pressupostos
teóricos,
conceitos,
autores mais
utilizados
Segundo a autora, o referido estudo teve como campo teórico metodológico de sustentação a Teoria
das Representações Sociais (TRS), desenvolvida pelo romeno Serge Moscovici (1978) e consolidada a partir
das fomentações de Denise Jodeled (2001), Nascimento (2002), Celso Sá (2003), entre outros. A discussão
sobre Juventude, Escolarização e Projeto de Vida foi fundamentada a partir de Nascimento (2014), Spósito
e Carrano (2003), Dayrell (2016), Abramovay, Castro e Waiselfisz (2015).
Com base no referencial teórico da TRS, na perspectiva da abordagem processual, a autora constrói a
lógica das dimensões que compõem a rede temática do trabalho, sintetizados a partir dos seguintes
questionamentos: Quem diz e de onde diz? Sobre o que diz e com que efeito? A partir das imagens e
sentidos expressos nos discursos dos sujeitos foram construídas quatro temáticas de análises, sendo elas: A
importância da escola; Dificuldades enfrentadas pelos jovens para estar ou permanecer na escola; A escola
desejada pelos jovens; Planos para o futuro: Projetos de vida.
Descrição e análise
da metodologia
utilizada
Utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO, 2003, 2010; LUDKE E ANDRÉ, 1986), com
o tipo de pesquisa exploratório-descritivo (LAKATOS E MARCONI, 2011; SEVERINO,
2007). Foram utilizadas três técnicas de coletas de dados: Associação Livre de Palavras,
Questionário e Grupo Focal (GP) (NEVES, 2014; GIL, 1999; LEOPARDI, 2002;
CHARLESWORTH E RODWELL, 1997; GONDIM, 2003; PLACO, 2005; NÓBREGA,
COUTINHO, 2003; ANJOS, 2014; E BARDIN, 2008. Tendo como lócus de pesquisa
(MOSCOVICI, 1978; SÁ, 1993; JODELET, 2002) um espaço chamado de Amazônia Legal,
especificamente no município de Bragança, no Pará, na Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Luiz Paulino Mártires. Para análise das informações fez uso da
técnica da análise de conteúdo (BARDIN, 1977, 2011).
Representações Sociais dos Jovens da Amazônia Bragantina
Com base na Associação Livre de Palavras aplicada aos 95 estudantes do 3º ano do Ensino Médio e nas
respostas do grupo focal realizado com 13 jovens por adesão, verificou-se que as Representações dos jovens
da Amazônia Bragantina se constituem a partir de uma lógica (Essa lógica segue o grau de importância dada
aos jovens, a cada palavra, por número de frequência que aparecem), que foi apresentada por meio de um
conjunto de fluxogramas definidos por temáticas denominadas da seguinte maneira:

5.3 – A importância da Escola: Conhecimento 36; Educação 35; Aprendizagem 35; Estudo 18;
Formação/preparação/desenvolvimento/amadurecimento 21; Oportunidade/possibilidade/futuro 29;
Amizade/Convívio Social/Diversão 19; Trabalho/profissão/carreira/reconhecimento 10;

5.4 – Dificuldades enfrentadas pelos jovens para estar ou permanecer na escola: Paciência/Respeito 19;
Vida Financeira 6; Alimentação 3; Tédio/Monotonia 2; Seminário/Prova/Gincana 2; Transição 2;

5.4 – A escola desejada pelos jovens: Motivadora 3; Qualidade 3; Bons professores 2; Aulas práticas 1;
Cidadania 1; Liberdade 1;

5.5 – Planos para o futuro: Projetos de vida: Dedicação/esforço/responsabilidade 24; Conseguir 3; Superar 1;
Felicidade 1.
Identificação do processo de
pesquisa, se houve necessidade de
mudanças, de adequações, etc.
Segundo o que descreve a autora na metodologia da pesquisa a ideia em realizar o estudo na escola em
questão se deu por sua proximidade com a Escola, por ser técnica em assuntos educacionais da SEDUC e
desenvolver projetos com gestores e coordenadores pedagógicos desta instituição, como palestras sobre
juventude, construção de PPP e outros. Após entrada no doutorado, no programa de Pós-graduação em
Educação, na UFPA, em 2014, passou a participar de eventos apresentando seu projeto, bem como, o
apresentou a EEEFM Luiz Paulino Mártires, em 2016, e com isso estreitou os vínculos, o que facilitou a coleta
de dados.
Como Farias (2018) bem descreve sua aproximação com o lócus da pesquisa se deu em cinco etapas: a primeira,
resultante da relação anterior à entrada no doutorado; a segunda, a partir da apresentação do projeto de tese;
a terceira, por meio do primeiro projeto piloto desenvolvido na escola; no quarto, o acesso aos jovens para
apresentação do projeto de pesquisa e aplicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e
aplicação do questionário; e no quinto, a realização do grupo focal. No que tange à aplicação do questionário,
este foi dividido em duas partes.
A primeira, composta por 27 (vinte e sete) questões mais fechadas e que versam sobre o perfil
socioeconômico e cultural dos jovens estudantes. A segunda, intitulada “sentidos e significados
atribuídos pelos jovens à escola”, composta por 14 questões. A proposição do segundo momento do
questionário consistiu em traçar o perfil educacional dos sujeitos da pesquisa. A técnica de Associação
Livre de Palavras também foi aplicada aos 95 (noventa e cinco) jovens da escola. Assim, foi solicitado
que cada participante produzisse até três palavras, a partir de dois termos indutores. Já na aplicação do
Grupo Focal seguiu-se uma metodologia previamente construída. Teve início com um dinâmica,
novamente fez-se a leitura e explicação do Termo de Livre Consentimento, e também o Termo de
Consentimento de Uso de Depoimento e Imagem e devidamente assinado por todos. A fala inicial
caminhou no sentindo de explicar sobre o que é ser jovem, ressaltando marcos históricos e legais que
envolvem essa categoria.
No segundo momento, foi colocado um vídeo com a música “Somos tão Jovens”, do compositor Renato
Russo. O objetivo foi de relaxar o grupo e também dar continuidade ao questionamento posto acima. No
terceiro momento, assistiram a um vídeo sobre Juventude. O referido vídeo tratava das diversas
representações construídas historicamente sobre os sujeitos jovens. Ao final, houve debate, em que se
percebeu que as representações construídas sobre eles, nem sempre correspondem aos seus processos de
identificação. No quarto momento, foi disponibilizada a entrevista “Olho na escola: um papo sobre
juventudes”, com a teórica Mirian Abramovay. Nessa entrevista, a referida teórica comentava sobre uma
pesquisa com jovens que culminou no livro “Juventude na Escola: Por que frequenta?” Após assistirem,
novamente abriu-se para o debate e todos, indistintamente, fizeram suas colocações. E por fim, no sentido de
alcançar os objetivos da pesquisa, foram lançados cinco questionamentos para o grupo. Após realização de
todas as técnicas previstas na metodologia de pesquisa, seguiu-se para a análise dos dados coletados. Desta
maneira, não foi relatado no percurso metodológico nenhuma necessidade de mudança ou alteração durante a
realização da pesquisa.
Identificação se há ou não coerência
entre questão de pesquisa, pressupostos
teóricos, metodologia e resultados
Após nossa análise consideramos que a tese é coerente e alcança os objetivos geral e específicos
apresentados e alcança aquilo que se propõe a fazer. Antes da introdução a autora apresenta notas biográficas
que demonstram a maneira como o objeto de pesquisa se fez presente em sua vida e justifica o seu interesse
sobre a temática e caminho percorrido para a construção do trabalho. É interessante notar que durante a
seção VI concluindo, a autora explica minuciosamente cada ponto chave da pesquisa, relembrando o objeto de
pesquisa, os objetivos, as questões elaboradas, além da maneira que foi abordado os pressupostos
teóricos-metodológicos que possibilitaram a pesquisa. Os resultados obtidos são confrontados com a hipótese
inicial apresentada pela autora, sendo apresentados em forma de achados de acordo com o andamento da
pesquisa, mostrando os passos que delinearam a construção das considerações finais do trabalho. Outra
questão que devemos ressaltar, é que mesmo a autora apresentando resultados coerentes, ela afirma que a
pesquisa é inconclusiva, uma vez que a temática ainda possibilita outras discussões, não podendo ser
totalmente esgotada.
Identificar se há relações e/ou ampliação
entre as questões tratadas na pesquisa e
aquelas estudadas na disciplina.
Há muitas relações entre os conceitos estudados na disciplina e os que são trazidos pelo
estudo, principalmente a questão do jovem enquanto um sujeito possuidor de singularidades
bastante específicas, e que apesar das características que mantém em comum entre si, dentro do
que se entende por juventudes, há uma diversidade de outros grupos jovens, com ainda mais
especificidades. Na seção IV, Farias (2018), aborda aspectos sobre a Juventude e o novo ensino
médio, Juventude e Escolarização, enfocando o processo de transformação do Jovem em
Estudante, conteúdos que foram estudos na disciplina, bem como, o conceito de juventudes e as
bases sociológicos da construção do termo. Um dos pontos que consideramos ser uma ampliação
aos nossos estudos sobre Juventudes é a questão da Teoria da Representação Social e a de
Juventude e Projeto de Vida.
Principais
resultados
obtidos
A autora afirma que, contradizendo os frequentes estereótipos que circulam sobre as juventudes, tais como:
desinteressada, sem perspectiva, passiva, alienada; o estudo possibilitou o encontro com jovens que têm seus projetos de
vida circunscritos entre o trabalho e o estudo, sejam os trabalhos formais ou os informais. E se existem jovens que ainda
não trabalham, estes contam com o apoio da família que veem a educação, por meio da escola, como a mola propulsora de
mudanças possíveis e de concretização das suas projeções. São famílias que não hesitam em sair de seus espaços, para
garantir a seus filhos a formação necessária. Os jovens por sua vez, por meio dos seus discursos, expressam os desejos de
poder retribuir os esforços demandados por seus pais. Em muitos momentos do estudo, as unidades de sentidos apontaram
que as representações dos jovens sobre a escola e o processo de escolarização caminham no sentido de dar aos pais
melhores condições de vida. A autora considera que este estudo que trata sobre Juventude, Escolarização e Projeto de
Vida pode ser considerado como inconcluso, uma vez que os pontos problematizados na tese não dão conta da
complexidade e amplitude desta temática, afirmando ainda que outras produções precisam ser gestadas, para que cada vez
mais se fuja dos velhos estereótipos forjados sobre esse grupo social. A autora reforça ainda que as pesquisas que tratam
sobre as Juventudes precisam ser construídas a partir da fala desses sujeitos. Finalizando, os jovens precisam ser ouvidos
em seus anseios e projeções.
A autora nos diz ainda que a tese foi concluída mas, não as inquietações, e assume duas posições antagônicas, sendo
elas: da denúncia e do anúncio. Denúncia de toda forma de exploração, de desrespeito, da falta de políticas públicas para
as juventudes do Brasil, da Amazônia, de Bragança. Denúncia da implementação de uma “Reforma” para o Ensino Médio,
que finge desconhecer nossos jovens, nossas escolas, nossas necessidades. Denúncia dos negativos estereótipos
construídos sobre as nossas juventudes. Sobre a posição do anúncio. Anúncio da existência de juventudes plurais que
tecem seus cotidianos, fissurando um sistema que teima em negá-los. Anúncio da existência de uma escola pública, que à
revelia das condições que lhes são impostas, geram mudanças através da luta daqueles que, de fato, protagonizam um
projeto de educação emancipadora. Anúncio da existência de propostas de enfrentamento para o não fechamento das
escolas do campo, para que os jovens tenham a possibilidade de escolher entre “sair ou ficar”. Anúncio da existência de
uma juventude bragantina, oriunda de muitos lugares dessa região, que entre o estudo e o trabalho, percorrendo grandes
distâncias, acreditam e veem a escola como lócus privilegiado para a construção de relações de amizade, mas
principalmente, dos seus projetos de vida. Da EEEFM Luiz Paulino Mártires, bem como de outras escolas e de outros
espaços que promovem processos educativos, ressoam vozes de jovens que insistem em dizer.
Outros
comentários
A forma como a Juventude constrói seu projeto de vida, partindo da escola, materializa um novo sentido
para o tema projeto de vida, se comparado ao que se coloca nas orientações da nova lei do Ensino Médio e
BNCC (que focam na questão do futuro profissional, para atender as demandas do mundo do trabalho). Na
perspectiva deste estudo, a constituição do projeto de vida pelo jovem tem a ver não somente com o que ele
almeja para o futuro, mas com o que ele vive no presente e vivenciou no passado. Além disso, as suas condições
de existências, o contexto em que está inserido, suas relações afetivas, de parcerias e compartilhamentos, bem
como, sua história de vida como um todo, influenciam na maneira como ele irá conceber seu projeto e o que ele
espera como resultado. O interessante é que da forma como o estudo trata, a condição de se pensar em um
projeto de vida não significa um impedimento de vivenciar o presente, já que a juventude se faz nele, mas toma
como um dos pontos de partida o desejo de se estabelecer uma projeção, sem que esta seja imutável,
inalterável, fechada, e sim que ela possa ir se modificando de acordo com cada experiência, crescimento e
aprendizagem deste sujeito.
Diante disso, Farias (2018) expõe que “Nesses termos, entendemos o futuro no agora. Os
jovens não são e não estão no futuro. Eles são e estão no presente. Quando assumimos esse
presente viável, como expressão das juventudes, estamos entendendo que suas projeções
futuras estão relacionadas ao presente, [...]” (p.212). Ou seja, o que eles almejam para o futuro vai
de encontro com o que eles são e o que eles têm no presente, sem excluir do processo o que eles
já foram e já tiveram. Com essa base, mediada pelo o que lhes oferece a escola, sob suas próprias
concepções, passam a colocar seus projetos de vida como uma preocupação não somente deles,
mas também como uma necessidade da escola.

Se o que buscamos é a felicidade, e se no caso dos jovens ela está representada por uma
escola que oportunize a possibilidade de formação universitária, da conquista do mundo do
trabalho, a fim de proporcionar condições de vida aos familiares diferentes das condições
que possuem no momento, então a estabilidade é a expressão desse futuro que estão
construindo no presente (FARIAS, 2018, p. 216).
Conforme analisa as categorias, a autora da tese avança no entendimento do que há em comum entre as
colocações dos jovens da pesquisa. Sobretudo em relação a este projeto de futuro, o que a faz concluir que eles
buscam a estabilidade, de tudo aquilo que acreditam que possam alcançar por meio da escola, e que a esta
cabe lhes proporcionar. O que muitos deles expuseram é oferecer uma vida melhor aos pais, ter uma profissão,
viver bem com sua família, entre outros pontos, mas que na visão deles, sem a escola, uma escola de qualidade,
reformulada, provavelmente não conseguirão.

Em relação a Teoria da Representação Social o que observamos é que a autora constrói o pensamento
social dos jovens de Bragança em relação à escola. Nesse sentido, Farias (2018) apresenta quais sentidos e
significados os jovens desta escola atribuem ao processo de escolarização, como eles entendem e interpretam
a realidade que vivenciam na escola, como eles compreendem e dão voz ao que já sabem, são questões que vão
sendo respondidas por meio da representação social, do que compartilham.
O entendimento de que a TRS ‘reivindica a importância dos processos que têm
sua gênese no social, e critica a Psicologia Social individualista clássica’ (STREY,
2004, p 77), ou seja, a Psicologia Social de cunho psicológico fortalece a nossa
discussão, qual seja, a de um objeto de investigação que demanda a necessidade
de assumir as condições sociais dos sujeitos como ponto de partida e de chegada
para tratar das juventudes, seu processo de escolarização na relação com seus
projetos de vida, ou seja, ‘permite explicar as várias produções simbólicas
associadas às diferentes atividades, contextos e cenários sociais, inclusive de sua
própria definição de representação social’ (STREY, 2004, p. 93 apud FARIAS,
2018, p.130).
A representação social dos jovens da pesquisa constrói a visão que eles assumem a partir do que
recebem da escola, são sentidos comuns entre eles, mas que não estão aparentes a ponto deles
compreenderem claramente, pelo contrário, apesar de ser aquilo que eles acreditam, estava ainda abstrato,
sem ter uma configuração consciente das ideias e dos fatos existentes entre eles. Conforme a pesquisa foi
sendo desenvolvida e aplicada as técnicas, como o grupo focal, o questionário e a associação livre de palavras,
a autora consegue mapear alguns aspectos recorrentes entre eles. Nesse sentido, "É um movimento de
apreensão do novo, em um processo de acomodação a conceitos, valores e percepções já existentes e
compreendidas pela sociedade através dos tempos” (FARIAS, 2018, p.131).
Uma das questões desenvolvidas na análise diz respeito à construção da identidade desses sujeitos,
instrumentalizada pela participação social em grupos, pois segundo o que expõe a Farias (2018) a integração a
diferentes grupos sociais demonstra o sentimento de pertencimento de cada sujeito, que ali se insere
enquanto membro, proporcionando um sentido a mais à existência de cada um deles. Além disso, a inserção em
grupos é fundamental para as representações sociais, o que se confirmou quando constatados a participação
de 55% dos 95 sujeitos da pesquisa, o que corresponde a mais de 50 jovens vinculados a grupos de cunho
religioso, esportivo, social, político e de estudos.
Questões que emergiram da análise
para debate com o grupo
Como a escola pode contribuir para a construção do projeto de vida
tendo como base a realidade construída na interseção das relações que o
sujeito estabelece com o mundo, demandando habilidade acadêmica e de
vida, como dispõe Nascimento (2013)?
A autora também menciona a religião como impulsionadora da tomada
de consciência para a reinvindicação de direitos negados, como aconteceu
com ela (Pela religião, foi possível assumir-me como sujeito implicado com as
contradições sociais que atropelam as possibilidades futuras das juventudes)
e também como afirma Freire. Nesse sentido, como a escola pode atuar para
ser essa ponte entre educação e religião, não na forma de aprisionamento,
com seus dogmas, mas no sentido de libertação, de ter esperança, de engajar
na luta?
Como redefinir o cenário da educação pública brasileira para atender às
expectativas dos jovens em um meio educacional marcado por reformas
neoliberais? Com os níveis de autonomia que a escola atual possui, ela
conseguirá atender as demandas juvenis? de “relacionar o conhecimento da
sua complexa e diversificada realidade [...] com o conhecimento científico e
cultural” (FERREIRA, 2017. p. 184).
O projeto Mundiar expressa uma política de contenção de recursos e de
precarização da Educação. Onde um professor substitui pelo menos 10
professores, se pensarmos na Educação de Jovens e Adultos no Ensino
Médio, expressa aproximadamente 90% de recursos não destinados ao
pagamento desse grupo de profissionais, o que implica diretamente na
qualidade do que se oferece em termos de Educação. O professor é
apresentado como “apenas” o mediador do processo de aquisição do
conhecimento, no entanto, esse papel garante que um professor que tem
uma licenciatura é capaz de mediar esse processo em outras áreas? Quais os
impactos dessa redefinição do papel do professor em sala de aula? Como o
currículo é entendido dentro dessa concepção, uma vez que um só professor
transita em diferentes campos disciplinares apresentando aulas
pré-estabelecidas? O que essa questão provoca na formação da juventude?
Ao apresentar às tendências de escolhas de cursos dos jovens
participantes da pesquisa, a autora enfatiza a escolha do curso de Pedagogia,
que aparece entre aqueles que são vinculados a profissões com maior status
na sociedade a exemplo do curso de Medicina, ficando à frente, inclusive de
cursos como Psicologia e Direito, que também têm grande reconhecimento
social. O que essa escolha revela sobre os jovens participantes da pesquisa? A
relação que esse grupo de jovens tem com o mundo do trabalho, interfere na
escolha do curso?
Referências

FARIAS, Degiane da Silva. Juventude, Escolarização e Projeto de Vida:


Representações Sociais dos Jovens de Bragança/Amazônia Paraense.
Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED),
Instituto de Ciências da Educação, Universidade Federal do Pará, Belém,
2018.
OBRIGADA!
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