Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Nº do CPF da candidata: 548.972.462-53


Concorrência: (X) Pública
LINHA DE PESQUISA: Saberes Culturais e Educação na Amazônia.
ÁREA DE INTERESSE: Epistemologias e práticas de educação não escolar
SUGESTÃO DE ORIENTADOR: Prof. Dr. João Colares Mota Neto

TERRA FIRME (TF) LIVRE E O DIREITO À EDUCAÇÃO SUPERIOR: HISTÓRIAS E


PROJETOS DE VIDA DE JOVENS DE CURSINHO POPULAR DA PERIFERIA DE
BELÉM-PA

1. JUSTIFICATIVA COM CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO E


PROBLEMA

O acesso ao ensino superior no Brasil traduz as profundas desigualdades no


país e os processos de exclusão que jovens da periferia experenciam, sendo a
dimensão econômica uma das principais razões explicativas das assimetrias sociais
que atravessam a sociedade brasileira.
Nas décadas recentes do século XXI, diversas políticas públicas contribuíram
para a democratização do acesso ao ensino superior, especialmente o público, em
que se destaca a política de cotas, fortalecida com a Lei Nº 12.711, de 29 de agosto
de 2012, que dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições
federais de ensino técnico de nível médio.
Cury (2002) no início do século analisava a importância do direito à educação
escolar para muito além de uma exigência do capitalismo contemporâneo e de suas
dinâmicas produtivas, situando esse direito na confluência com valores da cidadania
social e política. Afirmava o autor “O direito à educação escolar é um desses
espaços que não perderam e nem perderão sua atualidade.” (CURY, 2002, p. 246).
É assim que reconhecedores da importância da escolarização e do acesso ao
ensino superior, que emerge no Brasil os cursinhos populares, dedicados ao apoio à
filhos da classe trabalhadora nos chamados vestibulares das Instituições de Ensino
Superior (IES).
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Castro (2005) em sua dissertação de mestrado contextualiza historicamente o


surgimento dos cursinhos, evidenciando quatro fases da gênese destas experiências
no Brasil, sendo o marco inicial a década de 1950 por meio da unificação dos
cursinhos da Faculdade Politécnica da USP e do Centro Acadêmico Armando Sales
de Oliveira, da USP de São Carlos. O período da ditadura militar marca a segunda
fase, em que experiências vinculadas à teologia da libertação e sua opção pelos
pobres são a tônica. Na década de 1980 e 1990, já na redemocratização do país, os
cursinhos emerge no bojo dos chamados “novos movimentos sociais” nas
universidades públicas e/ou com apoio de administrações públicas
progressistas. A partir da década de 1990 se expandem as experiências no
país, numa profusão de práticas de Educação Popular.
No decorrer da graduação tive a oportunidade de conhecer experiências de
cursinhos populares na periferia de Belém. Ao atuar como bolsista do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES) em escola pública,
me aproximei dessa temática que considero da maior relevância, sendo uma das
motivações para a presente proposta de pesquisa.
Neste contexto conheci a experiência do Curso Popular TF Livre, que se
autoidentifica como Organização do Movimento de Educação Popular, de ideal
freireano, que atua na comunidade do bairro, no caso, no bairro da Terra Firme, na
periferia de Belém, que abriga em seu território várias IES e instituições de pesquisa.
Ao eleger as histórias e projetos de vida de jovens que estão na luta pelo
direito à educação superior, oriundos de camadas populares, como objeto de estudo,
na confluência com a Educação Popular, propõe-se como questão de pesquisa o
seguinte recorte: como se configuram as histórias e projetos de vida de jovens da
periferia de Belém que vivenciam a experiência do curso popular TF Livre?
O objeto de estudo e questão de pesquisa foram formulados também a partir
de um estado do conhecimento empreendido no Catálogo de Teses e Dissertações
da Capes1, em que foram identificados 24 (vinte e quatro) pesquisas, sendo 20
(vinte) dissertações de Mestrado e 4 (quatro) teses de doutorado.

1 https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

No levantamento empreendido pode se constatar que destes 24 estudos, a


ampla maioria tem como lócus experiências no estado de São Paulo com 14
(quatorze), seguido de 6 (seis) pesquisas no estado de Minas Gerais, 1 (uma) em
Santa Catarina, 1 (uma) no Rio Grande do Norte, 1 (uma) no Ceará. Há registro
ainda de 1 (uma) pesquisa no Chile. Constata-se então que nenhum estudo é na
Amazônia, portanto, experiências no estado do Pará, especialmente em Belém,
carecem de sistematização, podendo a presente proposta de pesquisa ser uma
oportunidade de tirar a temática da invisibilidade.

2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral: Compreender as histórias e projetos de vida de jovens de
cursinho popular da periferia de Belém-PA, na confluência com a Educação Popular
e o direito à educação superior.

2.2. Objetivos específicos:


2.2.1. Caracterizar o perfil sociocultural de jovens do cursinho popular da Terra
Firme, periferia de Belém-PA.
2.2.2. Analisar histórias e projetos de vida de jovens do cursinho popular da Terra
Firme, na periferia de Belém-PA.
2.2.3. Contribuir para a ampliação do corpus de conhecimento sobre Educação
Popular a partir da experiência de formação de jovens de cursinho popular da
periferia na luta pelo acesso à educação superior.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Na presente proposta de pesquisa algumas categorias teóricas são


fundantes, entre as quais juventude, sendo esta compreendida como como categoria
sociológica plural; forjada num contexto histórico, político, social e cultural, portanto,
é uma categoria ancorada num contexto concreto e não abstratamente universalista.
A Sociologia da Juventude tem muito a contribuir para a compreensão do objeto-
problema da pesquisa, com destaque para Pais (2003).
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Educação Popular é uma categoria teórica de base na pesquisa pretendida.


Para tanto, recorrer ao mestre Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira, é
imperativo. Na perspectiva do objeto-tema de estudo pretendido, a obra Pedagogia
da Autonomia de Freire (1996), aliado ao clássico Pedagogia do Oprimido (Freire,
1987), são dois pilares teóricos para as incursões da pesquisa.
A compreensão de histórias de vida requer o (re)conhecimento sobre
experiências vivenciadas, a labuta cotidiana. Na abordagem de Spindola e Santos
(2003) é a concretude das vivências e sua descrição pelos sujeitos protagonistas
que possibilitam tal compreensão. Josso (1999) é referência paradigmática sobre o
debate de histórias de vida, sendo estas reconhecidas em sua contribuição para a
pesquisa ora apresentada. Na interface com as histórias de vida, Schutz (1979) e
Velho (1994) são duas referências teóricas indispensáveis para compreensão dos
projetos de vida dos/as jovens sujeitos da pesquisa. Neste contexto, estudos sobre
trajetória de escolarização e experiências em cursinhos populares podem contribuir
para a compreensão da questão de pesquisa, a exemplo dos estudos de Dias
(2017), Machado (2020), Pereira (2021).

4. METODOLOGIA

A presente proposta está referenciada no escopo da pesquisa qualitativa, ao


considerar-se adequado tal enfoque para a compreensão do objeto de estudo e
problema de pesquisa, bem como o alcance dos objetivos enunciados. Chizzotti
(2000, p. 79) argumenta que neste enfoque o fundamento é de que há uma relação
dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e
o objeto. Para o autor, há uma relação de interdependência entre o mundo objetivo e
a subjetividade do indivíduo. (CHIZZOTTI, 2000).
Procedimentos metodológicos alinhados com o estudo de caso são
pertinentes para a pesquisa pretendida. Ludke e André (2013) são autoras clássicas
e atuais sobre a abordagem do estudo de caso, concebido pelas autoras como uma
estratégia de investigação qualitativa que possibilita diagnósticos detalhados sobre
um determinado problema social, podendo ser aplicável para investigar unidades
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

únicas ou múltiplas, seja sobre um indivíduo, um grupo ou uma organização,


entre outros elementos.
A pesquisa é preliminarmente pensada em três etapas interdependentes,
sendo a primeira focada na revisão de literatura sobre as categorias estruturantes do
estudo, aliado a uma análise documental relacionada ao objeto de estudo e à
experiência do TF Livre. A segunda etapa da pesquisa contemplará a realização de
Grupos Focais (GF) para a partilha de histórias e projetos de vida, com vistas ao
desvelamento da questão de pesquisa. Entrevistas complementarão o processo de
aprofundamento sobre a realidade de jovens do cursinho popular. A organização e
sistematização dos dados será objeto desta segunda etapa ainda. Na terceira e
última etapa o foco é a análise compreensiva dos dados e elaboração da
Dissertação. Os estudos de Neto O. C. et al (2002), Borges e Santos (2005) são
aportes para referenciar os GF.
É reconhecida a necessidade de aprofundamento teórico para a dinamização
dos procedimentos metodológicos pretendidos.

5. REFERÊNCIAS
6.
BORGES, C. D. e SANTOS, M. A. Aplicações da técnica do grupo focal:
fundamentos metodológicos, potencialidades e limites. Revista da SPAGESP, 2005.
Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rspagesp/v6n1/v6n1a10.pdf. Acesso em:
27 set. 2022.

CASTRO, C. A. Cursinhos alternativos e populares: movimentos territoriais de


luta pelo acesso ao ensino público superior no Brasil. Dissertação (Mestrado em
Geografia) - Universidade Estadual Paulista. Presidente Prudente - SP, 2005.

CHIZOTTI. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. 4. ed, São Paulo: Cortez,


2000.

CURY, Carlos Roberto Jamil. Direito à educação: direito à igualdade, direito à


diferença. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 116, p. 245-262, julho 2002.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
15742002000200010&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 8 set. 2021.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

DIAS, R. L. C. (2017). Trajetória escolar de estudantes das classes populares e


acesso ao Ensino Superior. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 248(98),
212-229.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 29ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

_________. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: SP. Paz e Terra, 1996.

LÜDKE, M. ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens


qualitativas. São Paulo: EPU, 2013.

MACHADO, S. X. A Democratização do Acesso ao Ensino Superior no Brasil e


os Cursinhos Populares da Rede Emancipa' 18/05/2020 127 f. Mestrado em
DESENVOLVIMENTO SOCIAL Instituição de Ensino: Universidade Estadual de
Montes Claros, Montes Claros Biblioteca Depositária: Biblioteca Central Professor
Antônio Jorge.

Neto O. C., MOREIRA, M. R., SUCENA L. F. M. Grupos Focais e Pesquisa Social


Qualitativa: o debate orientado como técnica de investigação; 2002. Disponível
em:http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2002/Com_JUV_PO27_Neto_te
xto.pdf

PAIS, José Machado. Culturas juvenis. 2. ed. São Paulo:. Lisboa, 2003.
PEREIRA, D. A. “FAZENDO O IMPOSSÍVEL”: o sobre-esforço juvenil diante das
desigualdades e a potência dos cursinhos populares' 24/06/2021 142 f.
Mestrado Profissional em Educação e Docência Instituição de Ensino:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, Belo Horizonte Biblioteca
Depositária: Biblioteca da FaE/UFMG.

SCHÜTZ, Alfred. Fenomenologia e Relações Sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.


Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4216051/mod_resource/content/0/AULA%20
09_Schutz%20%20Fenomenologia%20e%20Rela%C3%A7%C3%B5es%20Sociais.
pdf. Acesso em: 12 ago. 2022.

SPINDOLA, T., & Santos, R.S. Trabalhando com história de vida: percalços de
uma pesquisa. (Revista de Enfermagem USP. Vol. 37 (2), p. 119 – 126, 2003.

VELHO, G. Projeto e Metamorfose: Antropologia das Sociedades Complexas


(3a ed.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.

Você também pode gostar