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Resumo
Este artigo trata de Paulo Freire e da Educação de pessoas Jovens e Adultas (EJA) no Brasil e
apresenta esta modalidade de ensino como um fruto da Educação Popular e dos Movimentos
Sociais. Objetiva apresentar a história da EJA no Brasil mostrando que essa história não pode
ser desassociada da Educação Popular onde, inicialmente, a EJA foi pensada e a partir daí
conquistou seu espaço também na educação formal com leis especificas para este segmento.
Apresenta Paulo Freire como um divisor de águas na história da EJA no Brasil e da América
Latina com suas vastas produções bibliográficas além de sua prática pedagógica. Como
metodologia este artigo fez uso da pesquisa bibliográfica, de modo especial das obras
freireanas, bem como de autores nacionais e internacionais do campo da EJA e Educação
Popular. Para a reflexão e análise dessa temática foi necessário que se discutisse o conceito de
EJA e sua história no Brasil, destacando a significativa contribuição de Paulo Freire.
Posteriormente se discute sobre a Educação Popular bem como sua estreita relação com a EJA.
Conclui-se ao final do artigo que não há como discutir EJA sem considerar os pressupostos
1
Doutora em Educação Brasileira (UFC). Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Pará/ Campus Bragança. Membro da Cátedra Paulo Freire da Amazônia. Pesquisadora do Projeto “O Legado de
Paulo Freire na Amazônia”. Lider do Grupo de Pesquisa ETTHOS/IFPA. E-mail: nivia.costa@ifpa.edu.br
2
Doutoranda em Ciências da Educação pela UTAD/Portugal. Pesquisadora da Cátedra de Paulo Freire na
Amazônia pela UFPA e IFPA. Pesquisadora do Grupo Representações Sociais e Juventude pela UFPA/Belém, na
linha Formação de Professores. Pesquisadora do Grupo ETTHOS pelo IFPA, na linha Educação do Campo.
Técnica em Assuntos Educacionais do IFPA. E mail: alessandra.sampaio@ifpa.edu.br
3
Doutora em Educação. Professora Adjunta da Faculdade de Educação, UFPA/Bragança. Vice coordenadora do
grupo de estudos e pesquisa em educação de jovens e adultos e Diversidade Amazônica (GUEAJA) E-mail:
jdneves@ufpa.br
4
Doutora em Biologia Ambiental. Professora Adjunta da Faculdade de Educação, UFPA/Bragança. Pesquisadora
do grupo de estudos Socioambiental Costeiro (ESAC). Coordenadora do Grupo de estudos de educação
socioambiental (GUEAM). E-mail: normacosta@ufpa.br
ISSN 2176-1396
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teóricos de Paulo Freire à luz da Educação Popular, assim como se faz necessário que as leis
que garantam o direito à educação de todos no Brasil sejam plenamente cumpridas e assim se
possa dirimir as gigantescas distancias entre o desejar e o se efetivar. Que essas leis deixem de
ser programas governamentais e se tornem políticas públicas permanentes para EJA no Brasil
e que Paulo Freire, um dos maiores educadores brasileiros, se torne cada vez mais conhecido
nos currículos escolares de todo o país.
Introdução
Este artigo traz como objetivo geral refletir sobre a relação entre Paulo Freire, EJA e
Educação Popular. Para a reflexão desta relação foi necessário definir um breve histórico da
EJA no Brasil e destacar a presença marcante de Paulo Freire na história e até hoje,
posteriormente se discutiu a Educação Popular como o berço de nascimento da EJA. Ao longo
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do artigo veremos que muito já foi conquistado e muitos brasileiros e brasileiras puderam
alcançar o mínimo de cidadania uma vez que o acesso ao mundo letrado insere a pessoa no
mundo social, todavia, veremos também que há muito a ser feito e que não basta ter apenas
acesso às letras e palavras, será necessário que as utilizemos para a mudança e transformação
social pois a palavra é viva e produz vida, como afirmava Paulo Freire.
Com a indiferença à EJA durante décadas e sem nenhuma política nacional específica,
os números de analfabetos foram aumentando cada vez mais e em 1940, 55% dos brasileiros
com 18 anos ou mais não eram alfabetizados. (SOARES, 2002)
Os dados alarmantes nacionais e a necessidade sentida e vivida pelas pessoas por não
terem acesso e direito à educação mobilizou uma árdua luta pela garantia do direito das pessoas
jovens e adultas que não puderam, por inúmeros motivos, frequentar a escola quando crianças.
Segundo Paiva "a educação de jovens e adultos, em sociedades democráticas, assume a
perspectiva da inclusão e esta inclusão, inevitavelmente, passa pela conquista de direitos".
(2002, p. 520). Estamos falando de um direito que durante muitas décadas foi negado ao povo
brasileiro, um direito basilar que é o direito à educação.
A partir de 1945, com a aprovação do Decreto nº 19.513, de 25 de agosto de 1945, a
Educação de Adultos torna-se oficial. Daí por diante novos projetos e campanhas foram
lançados com o intuito de alfabetizar jovens e adultos que não tiveram acesso à educação em
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Em sua proposta pedagógica à EJA o processo de alfabetização iria para além do ensino
metódico das sílabas e números - muitas vezes sem sentido nenhum aos alunos e
descontextualizados de suas realidades – propunha que essa educação fosse rica em sentido e
significado e que partisse do mundo conhecido e vivido pelos alunos, uma educação que não
fosse em si mesma um fim, mas um meio, uma espécie de ponte que transportasse os que a ela
tivessem acesso ao mundo desvelado e real, um mundo onde os próprios alunos fossem os
sujeitos e se sentissem responsáveis por ele de tal modo que desejassem transformá-lo e
melhorá-lo sempre que assim sentissem necessidade. Uma necessidade, é claro, não apenas
pessoal, mas coletiva, pois a educação também ensinaria o princípio da organização grupal e da
luta conjunta. Para Freire,
a educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação
não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres "vazios” a quem o
mundo "encha” de conteúdos; não pode basear-se numa consciência espacializada,
mecanicistamente compartimentada, mas nos homens como "corpos conscientes” e
na consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito
de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo.
(2002, p.67)
Essa proposta libertadora de Freire, com o golpe militar de 1964, não agradou muito aos
governantes da época e Paulo Freire foi exilado retornando anos mais tarde ao Brasil, mas suas
idéias jamais seriam esquecidas e até hoje, em grande parte do mundo, sua proposta é difundida
e respeitada por muitos educadores.
A partir de 1964 a EJA viveu um período de retrocesso e pouco ou quase nada se propôs
de forma realmente significativa para ela. Podemos citar, neste período, a criação do
Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL que ocorreu em 1967 cujo princípio era
erradicar o analfabetismo jovem e adulto ainda do modo bastante tradicional, sem o viés de
libertação que propunha Freire. Com a extinção do MOBRAL anos mais tarde surge a Fundação
Educar que trazia as mesmas propostas - no governo Collor - e também foi extinta em 1990.
A LDB 5692/71 que contemplava o caráter supletivo da EJA, excluindo as demais
modalidades, não diferia dos objetivos do MOBRAL quanto: a profissionalização para o
mercado de trabalho e a visão da leitura e da escrita apenas como decodificação de signos.
Com a constituição federal de 1988 a educação de jovens e adultos foi incluída como
direito público subjetivo e sua oferta se daria de modo gratuito e obrigatório na forma do ensino
supletivo. Movimentos sociais, de vários países, passaram a lutar pela ampliação da dos direitos
da EJA e inúmeras conferências internacionais foram realizadas e suas decisões assinadas por
vários representantes legais dos países. A década de 1990 passou a ser, desse modo, a década
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da luz para a EJA em todo o mundo, pois muito se discutia e já não se compreendia o
desenvolvimento do país se não pela educação do seu povo.
Com a nova LDB nº 9394/96, art.37 e art.38, se passa a contemplar as várias
modalidades de educação de jovens e adultos e uma melhor adequação as novas exigências
sociais. Dentre algumas alterações significativas podemos citar: redução da idade mínima (15
anos para o ensino fundamental e 18 para o ensino médio) com um atraso de pelo menos 80
anos em relação a divulgação das pesquisa do IBGE de 1910, suprime referências ao ensino
profissionalizante atrelado ao EJA, criando um capítulo único, capítulo 07, para esta
modalidade, defendendo uso de didática apropriada às características do alunado, condições de
vida e trabalho, incentivando a aplicação de projetos especiais que proporcione o alcance dos
objetivos desejados ( BRASIL,1996).
Ainda na LBD nº 9394/96, em seu artigo 3o, é prevista uma educação que garanta a
igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, o pluralismo de idéias e de
concepções pedagógicas, a garantia de padrão de qualidade, a valorização da experiência extra-
escolar e a vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais (BRASIL,1996).
Tais princípios estimularam a criação de propostas alternativas na área de EJA. Assim, embora
a Lei tenha dedicado apenas uma seção com dois artigos à EJA, os artigos 2o, 3o e 4o tratam
essa educação sob o ponto de vista do ensino fundamental, o que pode ser considerado um
ganho para a área. Além disso, ao determinar a identificação daqueles que não tiveram acesso
ao ensino fundamental, abriu um espaço de intervenção que criou possibilidades de confronto
entre o universo da demanda e o volume e qualidade da oferta, o que pode gerar um maior
compromisso do setor público com a EJA.
Do discurso e propostas à execução e implementação das mesmas existe uma lacuna
imensurável e apesar de novos programas surgirem como o Alfabetização Solidária – no
governo Fernando Henrique, Brasil Alfabetizado – governos Lula e Dilma, além da garantia
dos direitos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – LBD e demais documentos
nacionais e internacionais, reconhece-se que muito já foi feito no Brasil mas ainda estamos
distantes de alcançar a erradicação do analfabetismo e a inclusão de milhões de pessoas no
mundo da escrita e no mundo real e desvelado, como sugeria Paulo Freire.
Novos programas federais que visam inclusive associar a EJA à educação profissional
surgiram e não podemos desmerecê-los ou negar sua significa contribuição para a inserção do
cidadão no mundo do trabalho e oferecer além da educação o ensino tecnológico. Precisamos
pensar, todos juntos, em novas formas de incluir o maior número de pessoas no mundo
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educacional para que possam como sujeitos de direito serem os protagonistas de suas histórias
e não mais meros expectadores.
A EJA no Brasil, e em muitos lugares do mundo, é fruto de muitas lutas e reivindicações
sociais. Nada chegou de “graça” ou a partir da pura percepção dos líderes governantes da
necessidade de oferecer educação aos que a ela não tiveram acesso em idade própria, houve ao
longo da história da EJA no Brasil muitos movimentos populares que lutaram pela garantia
deste direito que é para/de todos.
A EJA conquistou seu espaço na escola institucionalizada, mas nunca perdeu seu lugar
nos espaços não formais de educação, de onde surgiu, e onde possui grande demanda sendo
educada até os dias atuais. Para Freire, "a educação de adultos é melhor percebida quando a
situamos hoje como educação popular" (1995, p. 27), uma vez que com essa terminologia de
educação popular sua abrangência se estende e agrupa os mais diversos modos de oferta da
EJA.
Toda educação que atende as camadas populares, o povo, que de modo formal não chega
até ele ou não atende suas necessidades é uma educação popular. Feita, tecida e gerada pelo e
para o povo. Assim podemos afirmar que a EJA é um fruto da educação popular uma vez que
nasce das entranhas do povo e é resultado da luta destes para a garantia de um direito básico.
Em muitos lugares onde a EJA institucionalizada não chega a educação popular, através
dos movimentos sociais, as organizações não-governamentais e ações populares independentes
assumem a função de oferecer esta modalidade de ensino à população.
No Brasil ainda existe um grande abismo entre a escola e a educação popular, pois esta
é o processo do sujeito pensar e reformular sua vida a partir da reflexão e se dá sempre no
coletivo e aquela tem sido um espaço totalmente distante da realidade social e se constrói a
partir e para o individual, diferente da proposta de Freire.
Brandão (2002), descreve quatro posturas quando se trata de refletirmos a respeito da
educação popular. A primeira está relacionada ao não reconhecimento da educação popular
como escolha da educação que queremos, assim é compreendida como práticas não científicas.
A segunda postura relaciona-se à importância do viés cultural da educação popular. Encontra-
se mais associada ao campo dos movimentos sociais do que à própria educação, pelo fato e
como o senso comum prega não ser vista como tendo um viés político, militante, mas apenas
como prática profissional. A terceira postura está direcionada à educação popular como um
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Sabe-se que nem toda prática coletiva é Educação Popular mas esta se dá em processos
de troca; que não é apenas forma ou conteúdo que garantem a educação popular mas seus
horizontes e objetivos; que a participação em uma luta por si só não educa, mas a reflexão sobre
essa participação. Sabemos ainda que na Educação Popular tudo o que ocorre permite uma
reflexão crítica. Desse modo podemos afirmar que a Educação Popular é o instrumento de
conscientização na perspectiva da transformação social e seu objetivo principal é a organização
popular voltada para as conquistas de direitos sociais, culturais e políticos. Assim, a Educação
Popular é impulsionadora e ao mesmo tempo resultante dos movimentos sociais.
De acordo com Frei Betto(2000) existem cinco esferas de articulação do movimento
social brasileiro e quem não está em uma dessas cinco esferas não está na luta. São elas:
1) Pastorais e Comunidades Eclesiais de Base
2) Movimento Popular
3) Movimento Sindical
4) Partidos Políticos
5) Administração Popular
Além das cinco esferas mencionadas podemos incluir os movimentos de Cultura
popular, experiências educacionais de diversas denominações religiosas, entre outras.
A origem dos Movimentos Sociais surge a partir dos problemas concretos vividos pelo
povo, mas seu início se dá pela intervenção de um “agente de mediação social” (que também
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podemos chamar de intelectual orgânico ou educador popular) ou seja, por militância e não de
forma espontânea.
Os movimentos sociais têm a preocupação de articular as micro e macro transformações
compreendendo que toda ação tem uma reação e que tudo e todos estão inter-relacionados.
Retornando a questão da educação formal vemos que a escola pode ser um espaço de
Educação Popular, todavia estamos muito distantes dessa realidade pois a escola não promove
vivência e não insere os alunos nos problemas concretos da realidade. Está submetida aos
valores dominantes na sociedade, valores permeados pela mídia e pela competitividade. Tem
sido um ambiente parado, fixo e estático.
Uma característica que merece destaque na educação popular é a necessidade da
assunção do diálogo e da práxis como elementos estruturantes da prática educativa. Nos
processos educativos em que é predominante a “cultura do silêncio” e a “educação bancária”,
o diálogo é entendido algo descomprometido, demorado ou como não sendo capaz de responder
às necessidades educativas dos educandos.
Para Freire (1977) o diálogo é fundamental à prática educativa progressista, pois,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
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GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da educação brasileira. 2. ed. São Paulo: Cortez,
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GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª. ed. - São Paulo: Atlas, 2002
PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e educação de adultos. 4 ed. São Paulo: Loyola,
2002.